Zuca Sardan
Enigma Egypcio
"Decifra-me
ou te devoro ... "
"Mas devagarzinho ...
Bem devagarzinho ... "
In: SARDAN, Zuca. Osso do coração. Il. do autor. Campinas: Ed. da Unicamp, 1993. (Matéria de poesia)
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Zuca Sardan
Calote Metaphysico
A vida é curta
e a salvação difícil...
Além de que a salvação pessoal
parece um negócio
dos mais duvidosos...
conviria primeiro saber
se a salvação em si
existe.
E se não existe...
então aquela força
e os sacrifícios
só pra no fim levar
o calote metafísico!...
In: SARDAN, Zuca. Ás de colete. Pref. Alcides Villaça. Il. do autor. 2.ed. Campinas: Ed. da Unicamp, 1994. p.114. (Matéria de poesia
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Zuca Sardan
Naufrágio
Quem pratica a virtude
só pra ganhar boa média
está mesmo muito perto
do vício.
Mais prático, no caso,
logo começar pelo vício...
Não há força sem habilidade.
Mas, pra que força?
Habilidade, só, resolve...
Responde-me, oh Infortúnio,
grão parteiro do Gênio:
"É menina ou menino?"
Oh almas fortes
domadoras da voluptuosidade,
Pilotos hábeis e serenos
evitando os rochedos:
"HOMEM AO MAR!!"
In: SARDAN, Zuca. Ás de colete. Pref. Alcides Villaça. Il. do autor. 2.ed.ampinas: Ed. da Unicamp, 1994. p.19. (Matéria de poesia
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Zuca Sardan
Os Deuses Eles Mesmos Morrem
Deprressa
Zorra Morrena
é breziza amar
mais ligeirras cas Walkyrias
ki galopam no Céu
danzando nossas horras
no Espresso de Saturno
si vom emborra
e non foltam
o brrezo da bassagem
nem brra reklamar .
Os Deuses eles mesmos morrem
mas os vermes soberranos
demorram roendo
roendo ...
Os vermes son klientes
o koveirro kafeton .
Só sobrram no vento
velhos trrapos
nossas almas pendurradas
no arrame farpado
do kintal sburrakado
do Palácio de Pluton .
In: SARDAN, Zuca. Osso do coração. Il. do autor. Campinas: Ed. da Unicamp, 1993. (Matéria de poesia)
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Zuca Sardan
Veludosa Cantilena
"E você
minha fofa gordinha
como se chama ?"
perguntou
pra juvenil Mosquinha
cheio de manha
o ardiloso
Doutor Aranha ...
In: SARDAN, Zuca. Osso do coração. Il. do autor. Campinas: Ed. da Unicamp, 1993. (Matéria de poesia)
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Zuca Sardan
Crepúsculo
O Sol ia afundando,
pouco a pouco,
no oceano ...
Não se deixou, porém,
impressionar ...
porque sabia
que a Terra
era redonda ...
e ele não estava assim
propriamente afundando,
mas rolando
pro lado de lá ...
( Pelo menos,
foi o que lhe contaram ... )
In: SARDAN, Zuca. Osso do coração. Il. do autor. Campinas: Ed. da Unicamp, 1993. (Matéria de poesia)
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Zuca Sardan
Drama nos Bastidores
O palhaço afinal
muito sem graça
era mesmo
além de careca
ladrão de mulher:
Só numa matinê
sumiu com cinco
bem gostosinhas...
Chamaram o delegado
que prendeu por engano
o domador de leões.
O palhaço se esbodegou
de rir e rolou
no camarim dos fundos
com duas mulheres nuas
e um prato de goiabada...
até o macaco
andou tirando umas casquinhas...
Este mundo anda mesmo
uma falta de vergonha...
In: SARDAN, Zuca. Ás de colete. Pref. Alcides Villaça. Il. do autor. 2.ed.ampinas: Ed. da Unicamp, 1994. p.113. (Matéria de poesia
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Zuca Sardan
Mal Comparando
Se poesia fosse táxi
já arrancava
com o leitor pagando
bandeira dois.
In: SARDAN, Zuca. Osso do coração. Il. do autor. Campinas: Ed. da Unicamp, 1993. (Matéria de poesia)
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Zuca Sardan
Menino Precoce
Filho do dispéptico Desengano
e da cigana Astúcia,
o Tempo foi um bebê difícil,
muito manhoso e macambúzio
que fazia xixi
na barba branca ...
In: SARDAN, Zuca. Osso do coração. Il. do autor. Campinas: Ed. da Unicamp, 1993. (Matéria de poesia)
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Zuca Sardan