Da pena que escreve,
A amargura.
Lágrimas furtivas.
Olhos acabrunhados.
Almas sem afeto.
Cobiça que almeja o infinito
Da boca que grita.
A voz do faminto.
Filhos da miséria.
A frieza dos
Transeuntes apressados
Coaduna-se com os movimentos
Cálidos e cruentos da metrópole.
Há indiferença nos céus,
E os pássaros fugiram da fumaça.
No asfalto, máquinas ensandecidas.
Pelas ruas, putas, lixo, desespero,
Íncolas do chão.
Joias, luxo, ganância, soberba, ambição,
Símios do concreto em busca de ilusão.
Não sei se estão às avessas
Ou se é meu desatino
Que vai e vem na contramão.
O Poeta chora e ri o que escreve,
Em busca da palavra que liberta.
Solidão que não tem hora certa
Diante da vida, insondável e breve.
Os poemas nascem como as flores,
No silêncio, no descaso do relento.
Na paz, na guerra e seus horrores,
No bálsamo dos idílios que invento.
E se me faltar a beleza da estesia,
E as retinas desviarem do encanto,
Hei-de enxugar meu triste pranto,
No indomável poder da poesia...
Gostaria de levar comigo, até meus derradeiros dias, o encanto
permanente das crianças e a sensibilidade aguçada dos
poetas; e, mesmo diante de todos os absurdos cotidianos da
vida, que não me fosse roubada a capacidade constante de
espanto e indignação.
Deixaste-me aqui com a solidão
E a soberba da ciência traiçoeira;
Cheia de si, dona da razão,
A vangloriar sua glória passageira.
Volta, amada minha!
Sem ti a saudade avança
E o universo, antes infinito,
Vive só da tua lembrança.
Por ti, abstraí-me do desgosto
E fiz-me verso por um dia
Só para lembrar-me do teu gosto,
Minha amada poesia.
Haverá sempre um louco a exortar o poder da palavra e toda
indiferença será rompida pela força de um poema...