Annarchya
Caixa
Não quero viver na caixa...
A caixa não me comporta mais...
Daqui não vejo a luz,
ou mesmo onde somos iguais.
Não quero mais essa caixa.
Que confina meu entender,
Que isola minha angústia,
que rouba todo meu poder.
Mas temo deixar a caixa,
lá fora monstros a enfrentar,
fome, praga , peste, morte...
Quem poderá rebelar...
Então saímos juntos da caixa,
de mãos dadas, o todo em um,
Assim nenhum mal nos afronta
não tememos perigo algum.
Mas se saio da caixa sozinho,
meu igual monstruoso ficou,
então foi a caixa ou o mesmo,
quem por fim nos aprisionou?
Correntes
E assim passamos os dias...
os olhos, as bocas e as mentes e as pragas...
são correntes... são os outros a falar,
e seguimos sem pensar... correntes ...
Bonecos e correntes nos dedos uns dos outros,
e correntes em quem importa, e palavras e afetos...
desfeitos.
Correntes e correntes...
seja quem eu quero, eu sou quem querem,
todos bonecos em correntes, puxadas por outros bonecos em correntes... alguém pode ser em paz? Ou morrer em paz...?
Olhos ,bocas ,mentes e pragas o alcançam no abraço frio...
Correntes que já não sente. Para quem há de importar...?
A quem fica, mais correntesCinza
Cinza se tornam...
amores , afetos,
o tido como certo,
caindo no abismo cinzento
Cinza se tornou,
a fé, a razão,
nem rancor, nem paixão,
restou o pesar...
então estão cinzentos,
e assim permanecem...
entre o pulso vazio surge
o nada...
nem caos, nem ordem nenhuma,
nada restou...
e quando finalmente se calar,
vai enfim encontrar...
Paz.Sejas escravo
Maldito sejas escravo,
Tu que fazes tudo como te ordenam
Tu, que te calas diante da opressão,
Tu que traz a dor por ordem alheia,
ou de devaneios das entranhas tuas,
escravo sejas maldito...
Maldito sejas, escravo,
Tu que lambe as botas do senhor,
Tu que lambe as próprias feridas à noite,
quando contra tua própria vontade açoitou,
Bateu e humilhou inocentes iguais a tu,
escravo sejas, maldito...
Maldito, sejas escravo
Tu , que derramaste sangue e lágrimas para aqui estar,
e logo logo esqueceste de onde vieras,
passando a pisotear aqueles que muito te amaram,
transformando em inimigo teus irmãos em sofrer,
escravo, sejas maldito!!!
Apenas
Apenas corra...
se suas pernas queimam,
se seu peito arde,
se lhe falta o ar...
não se permita falhar...
Apenas corra.
Apenas voe...
se lhe faltam asas,
se lhe tiram a fé,
se o sol lhe derrete,
não pare...
apenas voe.
Apenas sonhe...
Se o sonho é só,
se é só que se sonha,
se a visão e só sua,
não cale...
apenas sonhe.
Apenas lute...
Se lhe falta força,
se lhe sobra medo,
se transborda a dor,
punhos cerrados...
apenas lute.
E no fim de tudo,
se apenas tiver feito,
bem ou mal, bom ou ruim,
o apenas será o seu mundo!Pai
Eis que abro os olhos, o vejo por fim,
Nos céus me atira, um soco no ar,
Uma promessa tão bela a ecoar,
uma linda existência aguarda por mim...
Eis que cresço, e o que sobrou?
Promessas quebradas, humilhação,
como pode haver redenção?
Como tanto amor acabou?
És pequeno , és um fraco
estorvo incapaz,
sem um dia de paz,
naufragou esse barco...
E hoje ,cacos a reunir
nunca mais firmará a promessa,
a lição que passo seja essa,
nunca deixe uma infância ruir.Atômico
Deixa-me incendiar teu universo,
Com cada toque de minhas mãos,
e então, sedento pelo teu corpo,
te agarro, já louco de paixão...
Unirei minha carne ao teu espírirto,
pois como fogo me queima o coração,
rasgando em fúria incandescente,
crescendo como o sopro do Dragão...
A cada segundo, expande a chama,
o fogo eterno brilha rumo ao céu,
coram as estrelas, envergonhadas,
flamejante se torna o negro véu...
Por fim, derradeira explosão
a densa nuvem a envolver,
o poder de milhões de megatons,
que fez até o sol estremecer...Caos
Uma estrela nascente,
um sol moribundo,
uma jovem cratera,
um abismo profundo,
um nasce para riqueza,
outro no fim do mundo
caos
Uma galáxia distante,
do meu bolso a pobreza
um cão come do lixo,
um lobo mata sua presa,
por amor um canta alegre,
outro morre de tristeza
caos
Quem é certo ou errado,
para quem cabe a razão?
do mendigo daquela esquina,
aos "doutores" da nação?
uma mãe chora seu filho,
seja polícia ou ladrão...
caosChumbo, sangue e aço
Foi na curva...
O chumbo, o sangue, o aço...
e jamais vira igual,
foram 18 anjos de metal,
contra os cavaleiros do inferno,
que numa curva o esperaram...
O inocente rezou,
o valente acudiu,
o hábil salvou e conduziu...
E das 18 vespas ardentes,
uma o caminho perfurou,
a queda e o chão inclemente...
o monstro curvado em pavor...
O cavalo , a barreira, o caminho,
a carruagem fez parar...
o valente porém não tolo,
por prudência foi recuar...
E passos ligeiros se afastaram,
enquanto ambos aguardavam,
no escuro a se esconder,
sabendo que se voltar,
outros anjos virão ao encalço...