augusto_piva

Confissão


Se fosse a última folha de papel branca
E a caneta à me negar sua tinta
Escreveria, sobre teu corpo, teus olhos ou sua boca?
Sem saber quando, no meio da sentença,
Acabaria a folha ou se recusaria a caneta
Por mais brutal que o movimento lhe peça

Se fosse a última hora eu me curvaria
E esquecendo a grafia
Me perderia nas palavras, no nexo e [...] confesso,
Tecnicamente não seria considerado texto,
Um amontoado de palavras que tentam
Outro tanto de palavras que lamentam

Se fosse ... como haveria de ser?
Padeço com a angústia no pensamento
E em ti buscaria viver
A alegria e tristeza de cada momento

Amor Complexo


Me desfaço e mergulho em sentimento
Sinto o desejo profundo de estar ao teu lado
Participar desde seu nascimento
Vendo seus dias felizes na infância
Podendo mudar suas lembranças tristes
Ou simplesmente te acolher em meus braços
Oferecendo um colo para chorar

Queria te ver na escola chamando todos para brincar
Estar nos seus momentos mais íntimos
E sentir seus primeiros amores da adolescência.
Ver você em amplitude e profundidade
Existir dentro de ti, num lindo espetáculo
Poder sussurrar algumas qualidades quando você não as via
E incentivar suas loucuras

Hoje te vejo mulher e há tantos mistérios a descobrir
Cabe ao acaso me ajudar, mas se
Imerso em ti sou somente versos do avesso
Como posso interpretar seu amor complexo?

Aquarela


Aquele beija flor azul
Doce, o néctar lhe escorre do bico
Chamo a todos, sub o sol amarelo
Sou todo atenção, ao tempo não ligo
Até ele nos avisar em seu vermelho
Amargo, mais um dia cai e eu fico
No chão armado com um lápis verde
Numa vigília a espera que chegue logo
Mais um dia na manhã violeta
E em cada promessa de novidade me perco
Durmo e sonho, meu mundo rosa
Reflexo das minhas memorias arco íris
Que partilho com esse papel branco
Agora que cheguei a esse pote preto
Tudo que vejo possui o mesmo cinza

Colecionadora


Sou uma observadora do acaso
Como quem enamorada pela rotina
Acha belo o regar de um vaso
E a luz que lhe queima a retina
Obstinada a encontrar coisas extraordinárias
Como o riso do moço na sua leitura
Procuro nas mais simples ações diárias
Felicidade em capsula, fragmentos de loucura
E num dia de sorte eu volto toda alma
Como se meu corpo tivesse ficado na areia
Me vendo mergulhar, no mar ou em mim mesma?
E eu completa, totalmente cheia
Corro os olhos pôr tudo a minha volta
E os deixo recolher aquele momento infinito
Onde percebo que mesmo o mais bonito
Não é essencial à beleza

Conta Gotas


Que a pressa, não desperdice a ponta do meu lápis
Na ânsia de demonstrar sentimento urgente e passageiro
Me cegando de tanta saudade, torna-me sujeito infeliz
Há andar assim meio torto, e despreocupado sigo
Descaminhando por uma rota invisível que nunca quis
Se essa ausência colocar em meus lábios o doce da loucura,
Quero ser louco, à sonhar aqueles momentos de ternura.

O instante flui, me seduzindo lentamente na promessa
E pedindo para eu percorre-lo até o clímax do momento
Dramaticamente adiado pelo odioso escritor dessa peça
Que ri ao ver seus próprios personagens no tormento
Deixando a plateia aguardar o desfecho com esperança
Por que não evita-lhes a preocupação, jovem escritor
Tira deste personagem o desfecho de morte e dor

Já chega de alegorias, sabes bem leitor
O grande mal que me acompanha
Ser plateia, ator e também escritor
Numa peça com tanto amor e drama
Não que seja grande coisa, mas causa furor
Quando um simples excessivo apaixonado
Busca amor e o encontra em outro estado

E se detesto a distância entre nosso corpo
É por ela, em alguns momentos, me fazer mal
Então eu peço que me preencha como um copo
E despeja por completo teu corpo, remédio vital
Que tenho por necessidade, vício que mantenho,
Pois o desespero espera a ausência da sanidade
E me fará ingerir a dose letal, por pura vontade