Nas suas mãos, dedos finos e compridos de pianista.
Em seus braços pálidos envolvido arroxando
Como um corpo apertado lento inflamando
Brotou aquele olhar longo sem hora prevista.
A pestana agitou-se e a pupila se dilatou
No revés daquele instante fértil e inesperado
Quebrou-se aquele relógio de vidro contado
Onde aqueloutro miocárdio livre se delatou.
Que belo foi ver aqueles amantes propícios
Inauditos quanto alegres desconhecidos
Sem promessas, grilhetas ou mesmo vícios
Debaixo daquela ponte de quarto de hotel perdidos
Onde nessa noite se deitaram amenos a sonhar
À luz da Lua que souberam ali desenhar.
Filipe F. 2016
Como te desejo...
Ser dentro de ti...
A pele que acaricio o mais
Que o tempo me dá...
O rosto que admiro o mais
Que um olhar dará...
E sou dentro de ti aquilo que sou,
E saceio meus desejos
Tocando-te simplesmente...
Olhando-te...
Como me envolvo meu amor...
Filipe F. 2006 in "Os Poemas Que Nunca Leste"
Teus olhos belos infinitos de candura
Sorrindo abertos na perfeita inocência
Que te não merecia tamanha travessura
Muito menos qualquer delinquência.
Teus olhos nos meus sempre enquadrados
Nesse sorriso que te vê crescer numa lágrima
E te abraça cheia do amor que te firma
Em destinos unos à força da inveja quebrados.
Teus olhos que são parcialmente verdes
Como dos meus parcial esperança viva
Que além do que te dê de comer herdes
Pois o mais que te poderei dar é o que sei
E tal que o ensinado olhos nos teus olhos sirva
Para ganhares no dia em que não estarei.
Filipe F. 2016
À Caída do Breu profundo
Restando-se tão só os micropontos de luz
Em viagem pelo infinito espaço interestrelar
De cujas estrelas mortas o último brilho se reproduz
Despenham-se os meteoritos do passado
Das memórias mais vagas os detritos
Do vazio entretanto Buraco Negro criado
Entre o que se expandia e depois se absorveu
Pela esponja de giz que apaga o Universo
Desse conhecimento longínquo e disperso
Onde tão mais restou o rosto que prevalece
Do Big Bang que jamais acontece.
Filipe F. 2016
Esta noite sonhei aconchegado contigo
Que nos beijavamos adormecidos
Resguardados nestes lençóis compridos
Em que nunca te havias deitado comigo
Logo na volúpia dos teus lábios carnudos
Esta noite não sei quem eras mas estavas aqui
Entre estes cobertores de sonhos profundos
Aguava somente nesses lábios roxos de ti
Ao abrir doxolhos em busca do restante de teu rosto
Perdi-te os lábios e a formosura suave da almofada
Acordei! Deixei de te sonhar e escapou-se-me tosco
Como se de uma pintura impressionista imaginada
Aquele estado morno de quem beija o mosto
De uma mulher rubra que ainda não foi amada!
Filipe F. 2016
Amor é fogo que arde e se vê,
É instrumento da loucura
E do desejo, cavaleiro sem armadura,
Gladiador em que não se crê.
Amor é condição de vida,
Procura inata, dor destemida, alegoria,
Felicidade, alegria...
Filipe F. 2003 in "De mim para o Mundo: Poesia e Fragmentos"
UM POEMA MAL PARIDO
Vós não sabeis
O que é ter letras em vez de dedos
Palavras na vez de mãos
Frases na vez de braços
Estrofes em vez de coração
E poesia em vez de razão.
Vós não sabeis!
Não sabeis sequer quanta poesia
É preciso escrever para parir um filho!
Sim! Vós que zombais da poesia!
Vós que jamais haverieis sido paridos
Se não fora o acaso da epifania!
Sim vós!
Vós que não sabeis que foram bestas
Bestas como aquela que aqui vos escreve
Para parir a poesia de que um poeta ferve.
Que foram as bestas emanadas de raiva
De amor e de ódio
Da nostalgia e do Futurismo
Que vieram ao mundo para vos parir a todos!
Sim a Vós! A Vós mesmos meus versos!
Filipe F. 2016
Se há quem te diga que te deves amar a ti para que possas amar o outro, é quem te engana, jamais te amarás de verdade se não amares além de ti, pois amor não é próprio, é de ir além e não ficar aquém, o amor é por alguém. Amar é não recear que se te riam na cara, é assumir o risco de não se ser amado e para isso é preciso a verdadeira coragem. Amar-se a si próprio é petrificada vaidade, é de espelho, não é de verdade. Amar é sonhar ser-se amado, amar não é vaidade, vaidade é pensar que se ama no próprio espelho, vaidade é rir de quem diz que nos ama, vaidade é o desprezo de quem nunca soube amar. Vaidade, é nunca se ter a coragem de olhar alguém nozolhos para lhe dizer: Eu amo-te!
Filipe F. 2016
"No dia em que nascemos a primeira novidade é que estamos vivos, a segunda é que um dia morreremos. O que não contamos, é que ao longo da nossa vida iremos morrer muitas vezes, mesmo antes de falecer definitivamente e de termos os átomos que nos compõem dispersados por outras quaisquer formas, sejam de vida ou não, aliás, será pertinente questionar se a vida não é mais que a composição de cada átomo que forma a imensidão expansível do Universo, mas tudo será relativo ao ponto de vista de cada um e de como encara, a Vida."
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ISBN
1523434864
O amor é vago e incessante
A luz que raia e penetra
Os olhares de suas vítimas
Em breve brota lágrimas
Escorridas de sentimentos
Equidistantes
Vagos e incessantes
Da alma tormentos
E no entanto além
Lá vai outro alguém
Que diz que ama
E mais além ainda
Vai outro dizendo
Que assim é feliz
Em amar
Vago e incessante
O amor distante.
Filipe F. 2016
Alerta aos poetas mais jovens,
As musas raptam poemas
Não os devolvem tal e qual cada leitor
O que dareis de vós abstracto terá sempre interpretação
Pois cada poema é como um quadro
Ou um retrato e até mesmo no abstracto
Uma simples mancha de texto
Que pode fotografar filmar ou pintar
Mas preparai-a para ser lida em voz alta
Pois só aí ela vive e só aí ela permanecerá vossa.
Filipe F. 2016
A noite cai e o Poeta está em clausura
Prepara um tacho põe dois pratos
Que a vida além da solidão é mais crua
O Poeta acende a lareira com antigos versos
Que apodreceram na gaveta de madeira
Essa contida fogueira da memória
Onde se recolhem nostalgias falidas
Oh noites em vão perdidas!
Sente-se o cheiro envelhecido dos papéis
De espasmos escritos ao vento
De maior loucura que sonheis
Pelo menor dos idos eventos.
O Poeta descreve a ementa ó se lhe agrada
E sopra-lhe o recomeço a brisa suave
Daquela inocência criança que a contém
E que ocupa todas as gavetas do quarto.
Esta a pura musa da vida reflexo
Da metade do Poeta Convexo
Que hoje em clausura se despede
Num até breve amargo e de sede.
Filipe F. 2016
Sonhei que via um militar de infantaria
Carregando as munições e a baioneta
Pronta a espetar num mero inimigo pária
Sem perdão nem pelo mais puro asceta.
Entre o nevoeiro ele caminhava com direção
Avistava o mais recôndito ermitério da montanha
Decifrando daquele estado gasoso em evaporação
Uma silhueta de um eremita sem senha.
E ó quem vem lá! Estremeceu o troglodita
Ao ouvir os passos enterrando-se na neve
Naquela gelidamente sonhada manhã maldita
Em que se lhe acabou espetada num instante breve
Aquela longa e afiada baioneta descriminante
De um nebuloso e ordenado militar andante.
Filipe F. 2016
Tantas vezes me lembrei de te procurar
Pero receei sempre que não recordasses
Do que já fomos sem poder voltar a ser
As noites infinitas de amor em que me amaste
Abraçando-me como se abraçasses o mundo inteiro
Para logo mudar os lençóis da cama em que te deitaste
Pondo os velhos e usados naquele tanque de lavar
Onde a água é sempre a mesma
Que não diria suja nem mesmo poluída
Simplesmente infecta daquele sabão-rosa
Que roçado naquela roupa de cama
Libertou o sebo e o suor que neles deixamos
Para se diluir e estagnar dentro desse poço sem fundo
Onde a água não é mais potável
E os lençóis ficaram inevitavelmente manchados.
Chegaram outros dias de os voltar a estender
Quando terei mesmo tentado manchá-los
Com outros sebos
Outros suores
Mas não era possível tirar o odor daquele sabão
Por mais que esfregasse naquele tanque de cimento
Desgastado pelo tempo
E pela contínua fricção
Que alisou aquele atrito e não mais desbastou
Aqueles lençóis onde deixamos a nossa infusão.
Filipe F. 2016
E entretanto o poeta foi silenciado
Seus dedos uns nos outros suturados
Sangrando das falanges inanimado
Os desejos reescritos em segredos.
A musa oculta despindo atrás do biombo
O que apenas do poeta se esconde
Ele grita: "Herege da paixão em assombro!"
Enquanto ela desnuda dita: "Onde?"
E detrás do biombo ela dança e sorri
A contínua valsa dos amantes jocosa
Onde a musa dá apenas imagem de si.
Entremeado o poeta compõe a fleuma
Cada semi-breve da sinfonia silenciosa
Sangrando dos dedos! Sangrando da alma!
Filipe F. 2016
Esconderijo Verdejante
De volta a este esconderijo verdejante
Onde somente ecoa a Natureza
E se pode estar degentando distante
Lembrando das amantes a beleza
Que aqui se despiu delirante.
Este recanto da solidão pacífica
Em que se enche de mágoas o açude
De cada paixão eternamente ilícita
Entre o verso a que se alude
E a corrente imensidão física.
Que te trarei agora então a seguir
Que não tenha já cá estado
Nessas águas que correram a diluir
As memórias vivas do passado
Que aqui não cessam de se confundir.
Filipe F. 2016
Back to the verdant hideaway
Where only Nature echoes thee
ó valente nau deste oceano perdido
Naufragada num banco-de-areia esculpido,
Teu casco de pinho flutuante arrombado
Te deixou aí abandonada ao passado
E já nem ondas te devolvem ao mar.
ó nau das altas velas correndo no vento
Com a tua proa erguida ao horizonte
Para tão somente um dia naufragar.
Tu, da descoberta do mundo de lés-a-lés,
Ficas aí agora jazendo as tuas cicatrizes
Do ego dos homens e das meretrizes
Que foram amadas no teu largo convés.
ó nau naufragada no silêncio dos tempos
Que jamais voltarás ao mar do horizonte
Restando-te na memória do teu Capitão somente.
Filipe F. 2016