Desilusão
Alguém disse que a tristeza
é uma doença que nos destrói
por dentro. Por esses olhos
passam folhas amarelas
e nuvens escuras com
vagos versos nas algibeiras
das pálpebras.
Esse rio que corre das tuas mãos
e desagua no meu peito
não é senão a sombra do tempo
em que os meus olhos
se prendiam
na sombra dos teus lábios.
A tristeza
é um lugar desconhecido.
Uma pétala
Para A.
A baía, larga e doce,
Prende-me o horizonte.
Recorto na paisagem os teus olhos...
As rosas que te dei
Eram
De pétalas vermelhas
Como o sol de África
Ao fim da tarde...
Embrulha numa pétala
Um dos teus beijos,
Meu amor.
(in As mãos e os Olhos, Lisboa 2011)
Com as mãos
Com as mãos
componho o gesto
com a boca
descubro o silêncio
com a palavra
desfaço o tempo.
Foi com o olhar
que disse algumas
das coisas
mais importantes
da minha vida.
(in As Mãos e os Olhos, Lisboa 2011)
Aniversário
Anos alimentam a chama
que não morre.
Uma rosa vermelha
que não esquece
O vento
que marca a areia.Soletro, meu amor...
Soletro, meu amor, as tuas lágrimas
De palavras perdidas
De encontros e desencontros
Tuas lágrimas tão doces
Tão desvalidas
Que um pintor de vento pintou
Meu doce lamento.
Soletro, bebendo cada gota
As tuas lágrimas
Tristes e belas.
E no sal de cada pálpebra
Onde pousei um beijo
Deixo, meu amor, mais uma lágrima
Como se teus lábios
Fossem pálpebras doces
Em busca das minhas palavras.
Terna é a tarde
Quando o sol emudece de espanto.