Quando eu disser adeus...
Quando disser adeus
Esvazio pra sempre todos os paladares fluindo e
Palpitando em cada beijo que deixámos coexistindo
Colhendo as essências de um vinculado adeus
Incompreendido, submisso...preterido
Quando disser adeus
Pode até o tempo parasitar nos meus silêncios
Que eu descobrirei como embelezar as falésias
De cada desejo latindo pernicioso
Infringindo todas as leis de amor moldadas
num beijo bruxuleando vertiginoso
Quando disser adeus
Refresco teus aromas intensos reflectidos
No calendário dos tempos
Primavera que chegará caudalosa
Verão aplaudindo a vida numa homenagem escandalosa
Outono depois sei que virá repercutindo o amor
De forma escrúpulosa
E depois de todos...o nosso Inverno escrutinando
O adeus frio, marginal alimentando o carrilhão
Das horas fugindo lentamente graciosas
Quando disser adeus
Relembro-te se puder aquele exaurido momento
Transladado no tempo
Embalo-te todas aquelas ilusões sapateando no
Palco de muitas insurreições
Quando disser adeus
Será definitivo...sem prazo de validade
Instante suspenso no tempo...intuitivo
Tácito lamento penitente e homogéneo
Paciente lágrima rolando no timbre de um eco conivente
Quando disser adeus
Nem o silêncio será fugaz nem a morte audaz
Pois ficaram por galardoar cada dia de vida
Aplacada felicitando e fitando a sintaxe das minhas
Preces estocadas com esmero ante um Amén
Exilado na arquitectura de tantas orações delicadas
Quando disser adeus
Tudo ficará igual, hoje, amanhã e depois
Na elasticidade dos tempos que se iluminem
As roupagens das nossas crenças e ilusões
Que se registem as dores renitentes...fardo
Da alma edificada num sonho assim penitente
Quando eu disser adeus...e tenho que dizer adeus,
Tombo até sobre a tumba dos silêncios ateus
Evoco a preceito o sentido deste verso
Expelido, converso...iminente descalço e plebeu
Suprema vénia esculpida na sintonia onisciente nos
Beijos que se apressam...antes do adeus...oh, meu Deus
Agora sei...tão impotente
Frederico de Castro
Albergue dos silêncios
O pranto autenticou
meus desalentos
albergando as saudades
estampadas
nestes versos
semeados na eira do tempo
onde perpetuamos a vida
despertando feliz emancipada
- É a face da tristeza já corroida
no tempo
marchando ao desencontro
dos silêncios deixados à
mercê de uma lágrima
que urge neste reencontro
Os dias vestiram-se de cinza
sufocando meus céus de melancolia
soluçando gotas de chuva
que desabrocham tentadoras
pela folia
- Oiço o tempo bater lá fora
na urgência condimentada
de um adeus caminhando
pelo marasmo dos dias
algemados ao longínquo destino
deixado entre os escombros de um poema
escrito à minha revelia
desembarcando no berço da existência onde
me eclipso pra sempre tão clandestino
Frederico de Castro