lagaz

Quando criança


Quando criança,
corria da rua Marajoara
até o pátio dos trilhos
atrás dos quadrados
que eram taiados no alto
outros tempos
em que o mundo era pequeno
feito de linhas e cerol.
amava a correria
os perdidos nos terrenos baldios da vila
distante da cidade
e sua realidade
Quando criança
esperando o que viria
esperava o dia
em que o futuro chegaria
para todos..
para os que  morriam
na velha usina
para os que sofriam
sem saber o motivo
para os que sonhavam
e apenas sonhavam
com o que não é miseria
e o futuro
não veio
não como o prometido
mas promessas são tolas.
assim como são tolos
quem nelas acredita...

Quando criança
só pensava em correr atrás das pipas...

Poema


Poema cretino
esse que versa sobre o amor;

Porque não ama ninguém,
nem sabe ser amor.

Poesia mesquinha
essa que descortina o amor;

Porque não sabe amar,
e o que amar.

Se querem rima,
dizem paixão; Melhor esquece-las,
são falsas;
jóias infelizes.

Não sei muito sobre o amor,
nem amar quem sou;
A fogueira que me aquece 
é passageira.

Poeta fingido,
esse que escreve sobre a dor;
"que finge tão completamente.
que chega a fingir que é dor..."


Pensando na pessoa de Fernando.
A quem devemos todos os créditos.

Hoje em dia


Hoje em dia
não há mais poesia.
A palavra é a mesma
velha rima,
sobre a mesa;
É conforto;
É encanto;
Desacato nunca mais.

Hoje a poesia,
é sempre mais do mesmo;
É miséria em tratamento;
A mãe que chora sem pesar;
É uma garrafa vazia;
Vela sem altar.

Hai kai


Pudera ser eu
Outrora não fosse
Continuo ser

Mais sobre nos mesmos


Nem tudo o que se perde é defeito,
Nem todo sofrimento é tragédia,
Uma pequena porção do que nos resta,
e sobre os nossos próprios medos
O demais é ironia
Devemos andar pela mão esquerda,
sem que isso altere nossa essência,
Devemos enfrentar os demônios,
sem nós entregarmos ao divino,
Devemos saber mais...
mais sobre nós mesmos.

Nem tudo que se escuta
é uma bala perdida
Nem tudo o que se toca reluz ou brilha,
O exato instante de viver a vida é agora,
enfrentando nossos próprios medos
O demais é paisagem
Devemos amar o próximo, sem desprezar o profano
Devemos construir o mundo, sem dete-lo.
Devemos saber mais....
mais sobre nós mesmos.

Chega agora...
Lá fora,
se há chuva,
não muda meu semblante
Sendo sol,
não queima meu rosto.
Estamos sempre
a um instante
De sabermos mais ...
mais de nós mesmos.

Velha dor


Velha dor
companhia injusta
O quanto custa
esse amor?

Velha dor.
de antigos carnavais
O que queres mais
desse amor?

Que a tome
e leve para longe?

Velha dor.
chama inculta
Que alma oculta
esse amor ?

Velha dor
sem limites
Porque ainda insiste
nesse amor ?

Vicio itinerante



É domingo, e a dóis dias estou limpo.
É pouco eu sei,mas para quem não tem um instante,uma sobriedade a tanto tempo,essas quarenta e oito horas são de uma eternidade... maior que o momento.

Só me arrependo do que não fiz, estando vivo...

Inculta é a  sorte dos amantes


Inculta é a  sorte dos amantes
soubesse antes
teria recusado tal fardo
por mais obscuro que fosse.
E nesse mundo falho em que  não cabe o arrependimento,
nada mais valeria.
As alegrias são ilusões inúteis e perdidas
em um curto tempo.
E ninguém ajudaria
além de suas próprias forças
além  dos sentidos, 
em abstinência
aguçados elevados ao máximo
A língua sangra
e sabe
porque a angústia
é viver
e não ser completo
é lutar
e não ser livre
é acordar
e não estar limpo.
é amar
e não estar vivo.

A paixão é a terra sob nossos pés


Amar soa distante.
Quase impronunciável
Como a verdade que se prega absoluta.

O amor é vida e morte
Diluindo a existência
Nunca somos livres
Para amar completamente

A paixão é a terra sob nossos pés
Nela escondemos nossos medos
E instintos mais cruéis
Que alma primaz nos perdoe
E o o espírito livre nós dê a redenção

Contracapa do Caderno H


Encontrei esquecido na contracapa de um  livro,uns versos bacanas parafraseando
meu amigo Quintana:
"coisa de menino.."

"...Não adianta
sou passional até o fim.
não acaricio o cão que me ataca
ignoro as pessoas que não me amam.
e simplesmente adoro a mulher que me despreza..."
2020/1989

Nada é melhor que a sorte


Nada é melhor que a sorte.
Nada.
A vida por um fio
Os dados que rolam infelizes
Nada é melhor que a sorte
Alguns dirão que o amor o é.
Talvez  nunca  o seja.
Mas, que é o amor,
sem a sorte como companheira ?
Toda sorte do mundo é pouco,
e também um exagero.
Só espero a sorte de um único momento.
E nunca  estar satisfeito.

Velho Quintana


Velho poeta,
versos são flores em um jardim de pedra,
Flores estas, que surgem do
coração,
e hoje ninguém mais observa,
quão lindas ou estranhas possam
ser.

E fazer o que ?

Essa é a vida, vida essa que o tempo consome, como a um poema.

Mas antes,
permita que lhe diga,que em um ímpeto narcisista,
escrevi rascunhos nas páginas do seu livro,
coisa de menino,que inspirado pelo fado
dos versos, ousou que poderia.

Velho Quintana
a vida encanta mais do que se imagina

E você sempre soube

Muito antes de todos nós
Que a imaginação
É uma flor em um jardim de pedra

Pedra está que consome a vida
Como um poema

Sobre nós o tempo


Seria a morte celebração
da vida
ou a vida
confirmação da morte?

Escreva seu tempo
sua vida
enquanto necessário
e preciso
aos  seus desejos.

A vida começa hoje ,e quando a noite a acompanha

seria esse apenas um
vislumbre ?

Não conheço paz
que não surja em sofrimentos
assim como desconheço guerras
que na paz  reflitam.

Estenda as mãos sobre a relva
faça amor e pense :
somos livres ?

Caminhe adiante
e verá,
mesmo  que por um momento
a imperfeição nostagica do tempo.

A mulher de ontem


Poucas coisas me agradam
e dão prazer
Aos meus amigos ,digo
Não sejam tolos a ponto
de saber tudo
O direito ao erro
é universal
E a mulher de ontem
Uma clave de sol

Contradições de um mundo e seus amantes


a sorte dúbia dos amantes
junto a sina indigesta dos refugiados
contrapõe a morte como último cenário
e o prazer em cada mínimo instante

suas mãos sobre a minha
sua voz sobre meu corpo frio
a sensação indiscreta que contamina
e conforta o semblante vazio.

agarre em meus cabelos
queime a bíblia que está sobre a mesa
recolha os cacos do espelho
e veja de novo e de novo a crua beleza

o destino acompanha os mais fracos
essa uma virtude esquecida
aos fortes resta senão os encantos
de contradições envaidecidas

O Palhaço quando dorme


O palhaço em seu coração
Não carrega mais um sorriso
Não pinta mais o rosto
Não demostra a emoção

Quer apenas descanso

O Palhaço em seu lugar
Não está em paz
Não é mais belo
E tão forte
E chora quando ninguém vê

O Palhaço quando dorme
deita o corpo sobre a grama
Não é mais a criança 
Nem o adulto do amanhã

Quer apenas descanso

Quando


Quando a vida
não é mais vida
é sofrimento
E o desejo
não é um desejo
mas ironia
E quando um beijo
é só mais um beijo
de despedida
E amar
quando for só amar
uma palavra

Mancha


Passei como um carro
Sobre as velas na esquina
Cuspi no pecado
Atirei em vidraças
E vi o céu sob um olhar errático
As mãos tremiam
O medo nos amortece
Juntos a sensação era de escárnio
E além do profano
Voltei aos seus braços
Construí barreiras
Pulei de altares
Nunca mais verei o sol com o mesmo olhar da criação
Decidi
Estarei em silêncio
Observando o mundo
Em seu infinita limitação

Cultive sonhos


Cultive sonhos
desde sempre
alimente
e os enriqueça
Ao ponto da colheita

Transforme-se
e faça valer a pena

Coisas tolas escrevem os poetas..


... coisas tolas escrevem os poetas..
tens razão
não leia-os
acerca da vida e do amor
simples assim
odeio os auto criticos
que ignoram o coração

não tenho mais alma
para isso...
nem a paciência infinita
para anseios finitos

.... coisas tolas escrevem os poetas..
predadores infames
de ingenuidade juvenil
tenham certeza
mais fácil é passar pela vida
sem ser percebido

Lamento de um amor perdido


Siga em busca de um lamento sincero
esse que surge do peito e sangra
que salta do chão sujo e miserável
e não floresce na terra macia e no orvalho da manhã

Que lamento é esse..que não conhece a miséria da humanidade
a violência dos meandros mais torpes
e não chora a fome dos seus pares
não quer ser compreendido...
olha apenas para si.

Lamento de um amor perdido...
esquecido no tempo..
no concreto cozido...
nas janelas dos conventos...
melhor não seria
não se prive da verdade incômoda
do mal que ela incita
seja por uma tarde..
por um dia...

sentimentos altruístas morrem a todo momento..
e por muito menos.

O jardim da vida



O jardim da vida 
É tão pequeno quanto o céu
E incerto como o amor e o tempo
Algumas flores lembram o momento
Outras paixões antigas 
Mas, são flores apenas,
passageiras;
esquecidas;
Sobretudo fugazes,
assim como os olhares,
os perfumes,
 as cores.
E a beleza

Seda


essa dor
que não conhece cura
ou comprimidos
oferta nua
que mascara o tempo
não tem amigos
não conhece casa,
não encontra descanso
ou amores
apenas os dissabores da seda

Poema de poucas palavras



Começa a desvanecer o mundo
em sua cumplicidade

a única verdade
digna de admiração
e a que rompe impune
o coração

chamam isso 
           viver...

Retomando uma antiga conversa....


As vezes a morte nos dá razão, não é a hora certa.
E seguimos por mais um tempo nessa conversa.
.."-Fica um pouco mais ,e curta essa bagunça que chamam de vida."
Não existe pena maior que está,confundir-se com o mundo, enquanto adiamos o inevitável.

Corre como um menino


Correr assim feito um menino
com alma de menino
que não conhece guerra e paz

Viver assim feito um menino,
com alma de menino
sempre insolente e sagaz

Ah!
menino que não zomba,
menino que não vive
menino que não rouba
e quer ser livre

Não deixe que arranquem os desejos desse seu coração
Não deixa que afoguem a chama desse espírito

Quisera assim ser um menino
com alma de menino..

Crónica de uma vida perdida.


..escrevi os rascunhos de alguns versos de um poema e não lembro mais onde deixei.
Assim muito de improviso sem inspiração,mas necessário...sei lá...
talvez fossem tão ruins que devessem ficar esquecidos.

A tarde voltei ao trabalho,com um embrulho no estômago... inquietação... falta da nicotina com certeza...
perder um poema e deixar de fumar .... num único dia.... Vou enlouquecer...

As verdades que as ruas revelam sobre o meu passado


Sinto saudades
dos bares imundos
e fedidos
Das palavras sem nexo
Do rosto velho e cansado
ralado no muro de chapisco
Da tosse sem fim e preocupante
De quando dizia  que a verdade
é uma realidade incômoda
Agora parece distante,
quando penso a respeito.

Nas ruas da capital paulista,
as mulheres surgem nuas
gritam um nome qualquer
na liberdade
Andar pela Luz ,
ou largo de São Pedro
e ver os rostos com medo
De pessoas
que ninguém conhece
ou presta a mínima atenção

Vivemos agora
num mundo sem canto 
sem sabor
ou casa que  nos acolha
E novamente os bares
e putas lembram quem sou
Os campos de bola
as drogas e noites
E outra cidade
outros desejos
outras drogas
e dissabores
Queria escrever minha história,feliz como um dia que termina
Mas a realidade
é uma verdade incômoda
que demora a ir embora
Perdi os meus sonhos
e lancei-os na latrina
E o  câncer que ousava
ser menos

Me lembro dos olhos sem remorso
da graça em não ser feliz
das tardes em caminhos opostos
dos passeios no centro velho

Outros diriam
que o segredo
era se fazer invisível
Não sei
talvez fosse possível
Mas agora é noite e longe
para se ouvir o horizonte
ainda em construção...

poema3 - abstinência em libras...



homens de pouca fé
e amargura
de Gizé à America profunda
em seus discursos vazios
em seus astrólogos do ódio

infiéis
sicarios que valem-se
do medo

do homem do ano
ao arremedo atual
do primata
ao tradicional
do culto ao marginal

todos temos
nossos delitos
e vícios
de estimação

Banish



Nunca me furtei
ao medo
sempre me pareceu
mais sensato
entender
a ignora-lo
do pátio vazio da sinagoga
ao largo do bom retiro

Por vezes pensei
um único tiro
seria a resposta

mas
não hoje

morrer a cada dia


Dela
me alimento
sou poeta
posso
tudo
sinto
sou profeta
louco
moribundo
e vivo
sua vida
a minha
e de todos
morro
a cada dia
e renasço
a aurora
para cantar
o deleite
os azeites
sabores
e delícias

Procuro a essência


Procuro a essência da vida  a todo o tempo
Eu sinto o vento
E olho para o céu
Procuro a essência que emana e culmina a alma
Procuro canções semânticas 
inóspitas e mundanas
que me tragam a verdade
Procuro a essência
Que me torne imperfeito e inoportuno
Eu olho para o céu novamente
Não vejo nada além do mesmo
onde estará a verdade?
Procuro a essência permanente
que faz com que todos sejam iguais
os esquecidos, os loucos, os poetas
os afortunados e infelizes
os enigmáticos, os trabalhadores
e senhores do templo
e nada muda a verdade.
Procuro pela essência
essa senhora de ombros fortes e largos 
própria dos viajantes
dos ourives e damas da noite
e quem mais ouse imaginar a verdade.
Procura pela essência acolhedora  e sagaz
que semeia vida e conduz o vento
procuro e procuro...a todo o tempo  a  verdade.

Simples


Todo o engano
é uma solidão
um salto involuntário

Mais simples seria
Se desprender
Soltar as amarras

Enquanto o homem
sonha em ser tolo
O tolo
nada preza

Triste ironia
Voltar as ruas um dia
E ver que nada é velho
Ou mesmo novo

Que o encanto
E a senha de um amor
Sem vencedor
Sem engano
Apenas solidão

Uma semana


Uma semana
E tudo muda
O mundo vira do avesso
E perde 
a sensatez
Sou um jogador
Afinal
Todos somos
Virar o jogo
Parece o preço
da estupidez

Paisagem em vergonha


Carrego no peito, uma solidão avassaladora.
E, no corpo, um ego em total desrespeito.
Dor e orgulho misturam -se e,
compõe uma ótica inquisidora.
Não fossem os olhos alheios e  obtusos, tudo nos seria lícito.

Desde o veto em presente ao verso em  infinitivo.

Ouro


Sempre acreditei que a escrita deve revelar o que temos de melhor ou pior .
Assim como o primeiro trago de cigarro do dia,deve ser adiado ao máximo até a náusea.
O ourives trabalha o ouro e o transforma em joia...
sem jamais adivinhar qual destino desse brilho.
Que assim seja toda a poesia
Nua,
nauseante
e transformadora.

Haja luz.


Você pode amar o homem,
e suas fraquezas.
Pode pensar que em tudo,
há um sentido raso de beleza
Pode manter as mãos limpas e secas .
Mas nunca terá a certeza.

Disseram então...
haja luz.
E no instante seguinte a ingenuidade
foi  surrada  e banida
Nada do que disserem
mudará o mundo.
Ele sempre será o mesmo
Sempre será pequeno.
Finito....

A quem interessa a verdade ?
Quem a usará entre os dedos ?
Suave....
macia...
Limpa...
e discreta
O veneno que saboreamos

Que haja luz..
Que venha a vida..
Que exista o abismo ...
Que mastigue a flor

Por hora
Nada devemos temer
O amor nos curou
Salgou as feridas ...
e nos curou
Trouxe-nos de volta ao início...
E alimentou
a besta
em nosso interior

Nota sobre um dia triste


Quando enfim,
tive a oportunidade
não me despedi.

Olhei em seus olhos

Simples

A última lembrança,
é sempre a mais triste,
e insana.

Em meu egoísmo sádico,
fingi ser indiferente.

E desde de então,
essa sombra é presente.

Estivéssemos em outro momento,
este seria apenas,
mais um dia triste.

Amor de esteio


Tantas vezes,
morri.
Por amar demais.
E por amar demais,
vivi demais,
E viver é muito mais,
que um desejo.
Um breve momento,
na brisa da manhã.
Um esteio;
Que nos faz pensar,
e sentir o amor por inteiro.

poema 2 - quarta parada



ria da ausência
displicente e sem compromisso

aquele de quem você ignora
ou que 
despreza

vou embora
melhor
é a solidão

Trago verdades


Trago verdades
sobre a vida e a morte,
e a violência contida entre elas
sobre as novas e velhas formas
de aceitação,
e a vergonha oculta neste fato
sobre o sangue vil ou inocente
que jorra nas calçadas,
e o incomodo que já não nos causa
sobre a sorte
des miseráveis esquecidos
e o silêncio alheio e disfarçado
em cada imagem
sobre o paraíso perdido
a cada frase suja e solta por
desrespeito
sobres os caminhos de pedra
ignorados por conveniência
sobre a falha humana
em lidar com a verdade.

Poema maldito


Maldito
o poema que contorna
a alma
sem toca-la

Consome o âmago febril
em
texto
porém
sem corpo
e essência

Hoje vi a mãe negra chorar


Hoje vi a mãe negra chorar a miséria dos seus filhos.

Sem nenhum lirismo ou esperança, que conforta-se alma.

Seu choro era de desespero e revolta.

E a crença.

De que nenhuma criança sofresse além do seu destino.

E que cada pessoa tivesse uma vida plena.

Choro de mãe.

Viúva e negra.

Que conhece a dor, desde antes de nascer.

E não entende a pobreza,num mundo tão farto.

Hoje vi a mãe negra chorar suas mágoas.

Um choro tão forte, que cortava a alma.

Sangrava o peito,sem devaneios.

Era choro de mãe.

Viúva e negra.

Que conhece a realidade e muito além.

E sabe tão bem,o que é lutar e lutar e lutar,sem vitória.

Sem mais palavras


Nesse mundo confuso
em que nada é muito certo
Como pode haver tanto valor?
Quando há tanta miseria
por perto
Tão proxima que pode sentir-se o cheiro o gosto,o hálito...
Herança maldita,
esta que financia riquezas
escraviza seus filhos
maltrata suas crianças
ignora e assassina pessoas
que deveriam brilhar..

Sem mais palavras....

militares ainda estão no portão de casa...


Naquele dia,
Eu soube que meu pai não voltaria
assim que ele desceu do ônibus da linha Carrão
foi avisado por um conhecido
de que seria preso ao chegar em casa
os militares já estavam de prontidão,
e com a sua família.
Na verdade segundo diriam, tudo era um pretexto
Meu pai caiu na clandestinidade
Foi preso e exilado
Esteve em Cuba,
notícias nos chegavam
Já de certa idade,
a saúde e a saudade
Fizeram que ele morresse longe de nós.
Longe da família.
Seguimos e vivemos
Agora sei o preço e o peso da liberdade
E o quanto custa ouvir toda sorte de besteiras que são ditas nesse momento.

Os militares ainda estão no portão de casa...

Flor da América


Flor da América,
         absoluta e histérica.
                       Os seus novos rumos são de fronteiras intransponíveis.

A salvaguarda do mundo,
         que esmorece e ressurge em forma,
                       contornos e matizes.

E advém os velhos
        e novos navios negreiros
                       que revelam a natureza perversa em seu nascedouro.

Da terra esganecida
       em extrapolo voraz,
                        ao machado de pedra.

Dos hinos entoados
       de modo absolutamente frio,
                       ao símbolo máximo escravagista.

As miragens esquecidas,
        aradas em campo aberto e,
                       vulgos silenciosos

Presos a postes em carne viva
        e favelas enegrecidas,
                      os olhos vigilantes apuram o corpo cansado.

A história deve ser estendida,
        a tantos quantos forem
                      os vivos e fortes

A promessa em martírios,
        perseguidos em chamas.
                      No semblante de um novo mundo.

Suas cidades são imensas,
        seus crimes recompensas,
                      seus senhores caudilhos.

Estranhos surgem em estandarte,
        o ouro,a fome,a relva,o mar,
                      a sim ,o mar, oceanos Atlântico e Pacífico.

Escreveram sua história
        em um hino estendido?
                      Em lugar demarcado

Qual o seu limite?
        Flor esta ,que máscara a terra,
                      que derradeira ocupa um continente.

Nada é verdade, sonho ou realidade.
         Rota singular que um dia
                         surgiu impune

Seus filhos morreram em chamas.
          Seus Deuses por vaidade.
                        No horizonte de uma América fria e covarde..

Verbo incompleto


Em meus braços você é perfeição.
Nunca diria o oposto, mesmo que me custasse a sanidade.
O calor que me provoca ,cessa a dor, a agonia e ansiedade.
E por um breve instante,cada vez melhor,me sinto um verbo incompleto.
E felicidades não são itens fáceis de encontrar, sem preço ou valor.
Sujeito incorrigível, e assim me sinto, comendo o tempo pelo beiral.
E no quintal de concreto , escondido estico a corda, e seu amanhã é um futuro imperfeito
Feito as preces para derreter ,o amor de rajada escura.
E a semi cura de sensações que induzem o erro.
Quando tenho essa cor de fuligem em meu sangue e veia estufada de um sopro comovido,aquecendo cada poro,cada linha e limite ,sei então que não chegou ao fim.

Ah! Esse cotidiano...


Um mendigo
me pediu um cigarro.
educado,
acendi.
E indiferente,
segui em frente.
- "A vida é assim..."
..pensei distraído.
Nenhum remorso,
ou culpa que fosse
- "Era apenas um cigarro.."
Mas adiante,
quem sabe.
Eu ofereça também
um abraço.

Finis


Se espera é dor
e dor é vida.
segue a sina nefasta
que compõe
o céu
e tudo é finis e
permissivo
abstração incomum
e ampla
quando a espera é dor
e dor é toda fome
paixão
mistério
e dúvida

Ofertório


O amor é um desprendimento involuntário
&
Afeito
as interpretações mundanas.

Quem conhece seus desejos mais obscenos?

E quão sórdido levanta-se em ofertório o seu gozo?

Verbo latino
dicotomia rítmica,
complexa ironia, policialesca,
de putas e varões imbecis.

Sua lira é a liberdade
Com o arroto das mentes torpes

Mal gosto e,silêncio
seu contexto básico é a vida
que insisti arrefecer em discrição.

O último poema


O último poema será escrito, precedendo a arrebatadora chegada da beleza.

E, de modo algum será avesso, desdenhado e preso,esquecido impune em um  canto rude da memória.

Antes que o esperado,seria lançando em correntezas frias, e assim partiria.

&

Suas lágrimas desceriam lentas, próximas da morte, parecendo não existir.

Trariam em si, 
a desculpa fúnebre do prazer,de um tempo em silêncio.

Teriam a incerteza de olhos belos e feridos, como a sorte sem destino,
Próprios de um anjo caído

&

Poetas!
Que somos nós ?
Nessa terra sem pão, justiça e sabor.

O que nos reserva o futuro ?

E a todos os seus filhos néscios,?

Enlouquecidos por um sentimento, esquecidos por conveniência e 
embrutecidos pela violência instigante,
que ronda o por vir.

&

Chorem poetas.
Os seus lamentos.
Augusto dos Anjos...
Charles Baudelaire,
e outros tantos 

Poetas
Que infernizam a alma
Que maculam os santos
E se mostram tão humanos
Quāo semânticos.

Poeta louco...
Levante as mãos ao declamar.
Este  poema inverso,
que é a vida
Vida esta, que é ensaio

Poeta morto.
Não há fim para a beleza
E mesmo a morte
Não é a palavra derradeira,
quando é falsa a covardia

Me tragam...
Shelley
Corso
Vinícius 
Mallarmé

Poeta louco
Lance os versos ao seu prazer.
Trabalho...
Palavras de uma vida.
Escrevo jovem para não
mais morrer.

&

Toda palavra é dor, mesmo a mais banal.
Desse modo funde-se  a vida,e também a morte.
Julgam-nos em nossos defeitos,o fazem o tempo inteiro.
Nunca esqueça que é a derrota que define o homem.
A vitória é tola,pois, transparece  uma irrealidade
,um fim que existe apenas ao morrermos.
Vai chegar o dia em que saberemos tudo,
mas, até esse momento,
a verdade será apenas um pano imundo, jogado ao relento.

&

Escrevo para explorar as verdades,
celebrar as angústias secretas,
e  impróprios desejos.

Como a chuva morna de primavera,
que cinge as ruas e medos.

Que transforma e invade 
mentes e cidades,
e semeia a desgraça e,transmite a febre mundana.

copulam o tempo e vaidades urbanas,
e distorcem o silêncio









Sesmarias


O tolo
dança furtivo em tristeza
                                    e vício.
  As vezes a beleza
                             é apenas um poema.
 vaidade que teima
 em fragilizar o rancor.

 Já o amor faz  vítimas
                     e cria  indolentes
 tão dependentes
 que desbotam ao calor

 A verdade
                               é uma palavra  mensagem dúbia
  desbotada
 equidistante