natalia nuno

trovas de improviso...


Já o sol triste se apagou...

Mas a esperança ainda resta

No meu peito o sonho ficou...

E meu coração anda em festa

****

O coração é quem sabe

A quem quer nesta hora

Neste meu verso não cabe

O amor que sinto agora...

****

Aperta o cerco...a solidão!

Logo a Saudade por perto

Vai apertando o coração

Que fica agreste  deserto.

****

Já fui estrela já fui ribeiro

Já fui sol que te aqueci

Hoje saudoso caminheiro

Já de saudade te perdi.

****

Está a azeitona madura

Já capaz de apanhar...

Morre o amor sem ternura

Que não lhe consegues dar.

****

Vou sofrendo minhas penas

Desde que te foste embora

Minhas noites são pequenas

Pra chorar por ti agora...

****

Deserdou-me este Outono

Deixou-me no meio da bruma

Com saudade e ao abandono

O coração não se acostuma...

****

natalia nuno

rosafogo

Serenem, serenem...


Não me julguem, nem me condenem
Trago o coração cheio de frio

Serenem...serenem...!
Que minha voz está por um fio.

Talvez
regresse na primavera
Mas esse tempo já não será o meu
Também o jasmim espera
cuidar do odor seu.

Não se pode reduzir a distância
O que lá vai passou...
Visita-me ainda a infância
óh minha mãe triste estou!
escuto-te no vento mágico que ocorre
Nesta tarde... manso e invasor

Tudo morre, tudo morre!
Menos por ti...o meu amor.

Tudo é tão belo, porém triste
Oculto em meu coração
Não abandono a esperança
que existe
E na dor te dou a mão.
Onde encontro consolo ainda
quase...quase menina,
para encurtar a distância
volto ao regaço da infância

Agora que o sol declina...
Eu sonho...ao mesmo tempo choro
e canto
E em solidão acesa
Hoje me sinto ainda tua princesa,
Enquanto durar o sonho...por enquanto!

rosafogo
natalia nuno

Amor quando me amas


Louca... louca queria ser!
Rio que desliza rumo
ao  mar,
fluir indiferente, sem cessar
Esquecer,
o futuro inverno  cinzento,
esquecer meu desalento.

Meus olhos são rios nascendo,
e  nem sei porque choram!
Talvez porque se estão perdendo
dos teus, que tanto os namoram.

Tão triste porquê, não sei!
O que procuro também  não
Tantas horas já passei
sem saber porque razão.

O tempo me foge e se  perde
A galope sobre meu rosto
Que já foi seara verde
E também luar de  Agosto.

Solta-se a lua sobre as águas
Em meus olhos faz remoinho
A  sombra das minhas mágoas
Se estende p'lo caminho.

E já o mundo  amanhece
Nas fronteiras do meu sonho
Logo o corpo padece
Nem ouve o que  lhe proponho.

Nas minhas mãos nostalgias
Trago no peito  ameaças
Neste amor terna me querias!
Ternura há quando me  abraças.

Ergo-me de fronte ao céu
Nas minhas mãos as  esperanças
Minha alma trago ao léu
Na memória as lembranças.

Corre  depressa meu sangue
no coração a arder,
numa rajada de chamas.
Louca...  louca queria ser
AMOR quando me amas!

natalia  nuno
rosafogo



poema efeméro


este poema que é meu segredo

e das minhas mãos a pureza

agora o partilho a medo

numa asfixiante incerteza

este poema é  meu espelho

minha sombra escurecida

um sonho velho

palavras trémulas... mas com vida!

este poema é meu desejo e

meu capricho, a minha sede

abrasadora

o privilégio de seguir vida fora

com o fulgor do sonho

faz parte de mim, voa no meu sangue

é o meu pulsar na palavra

o sopro da minha voz

meu rio a chegar à foz


este poema é a harmonia

do meu instante

é o meu mundo partilhado

o agasalho que me cobre

- o meu fado!


este poema tem asas na minha mão

traz com ele a minha história

e sua efémera glória

de tão vasta imperfeição

ouve-se nele o rumor da tempestade

e da palavra sente-se a inquietude

- é a minha bagagem da saudade.



natalia nuno

rosafogo


poema não lido


Só o amor dá continuidade
ao viver...
o que vale é o que é sincero.
Efémera a vida... irá morrer
num sopro de desespero.
Adormecerei no fundo de mim
com a solidão a crescer
e o rumor do meu passo
até cair...
será música pura,
pois é tempo de partir...

 Doce é ter-te a meu lado
sentir a ternura,
o tempo não podemos comprar, mas
amor não precisamos mendigar.
Há coisas de que não me lembro?!
dir-me-ás:
casámos em Dezembro!
À nossa volta um mundo em flor
somos como um poema
um poema de amor não lido
água do mesmo rio
correndo no mesmo sentido
somos conversa repetida
relembrada nos versos que escrevo,
 já de mim esquecida,
 no peito te levo...

rosafogo
natalia nu no

sexto sentido...


Embaciaram os vidros

ficou a memória confusa

e o caminho mais pálido

já não me arrancam sorrisos

andei léguas com passos indecisos

até chegar ao horizonte tão meu

onde a infância é já só uma fábula

onde os verdes já são pardos

turvo o azul do firmamento

e na penumbra o pensamento.


A manhã me oprime, o sol me ignora

a tarde me cega, logo a escuridão

e logo a aurora a urdir novo dia

e é mais um sonho que se abrevia

caminho já sem meus passos

fora de mim, distante,

amor já não é anseio

já não abraçam meus braços.


Ah...mas o sonho sempre germina!

E o coração envelhece mas não pára de amar

o amor a vida domina

e é sempre ele que ergue do silêncio

e nos vem embriagar...


natalia nuno

rosafogo

declinar do dia


DECLINAR DO DIA

Ando pesada de tanto passado
Mas não ouso fraquejar
Coragem trago ainda um punhado
Na torrente da vida, aprendi a nadar.

Olho o meu tempo redondo
Sou uma vaga sombra na parede
A luz enfraquece, vai-se a noite impondo,
Fica a saudade a matar minha sede.
E a bom rítmo me traz memórias
Surge agora o sino tocando à oração
Me vejo no altar das oratórias
Entregando a Deus meu coração.

Vai a vida deslizante
Vou eu fingindo prazer
Centelha que arde num instante
Sinto-a perdida a morrer.

Vivo nas teias da saudade
Deste lado sou bola de sabão,
Às margens da eternidade?!
Sou fiozinho traçado a lápis de carvão.

Assim, meu anseio não é de amanhã
Mas sim do ontem!
De ver os pássaros p'la manhã
Em liberdade a esvoaçar
Prefiro até que não me contem!?
Que viram o tempo, por mim a passar.

rosafogo

natalia nuno

retrato vivo...


De tudo o que resta vivo nela

o tempo apaga a cada passo

para continuar a viver

é preciso recordar

enganar a dor, o cansaço

deixar a mente da solidão desprender.

 

Às vezes o silêncio é uma oração

uma porta que se abre ao vento

uma brisa que põe de novo

o coração a pulsar, e bem

viva a semente do pensamento.

Na luz dos olhos dela

há recordações a brilhar,

ela e a sua lembrança!

 

Caminho que sempre começa

olhando para trás,

corpo quebrado,

mas no coração a paz...

Flui nela a tristeza

o sorriso vai voando

todo ele feito ave,

e a certeza de que precisa,

só Deus a sabe!

 

Mariposas eram seus sonhos

partiram amargamente

na noite escura,

procura sua semelhança e não encontra

só a sua fé perdura.

E no silêncio dourado da tarde

olhando o mar

ela vive da saudade, a recordar.   


natalia nuno

Quem sou então?


Por mais que me procure,

de mim não sei!

A imagem que vejo de mim

não pode ser esta... é apenas

o que resta!

Então quem serei?


Talvez a do retrato, aquela

mais antiga!?


Ah! Mas essa está na gaveta

das antiguidades...

Não sejais amáveis! Não sou essa

nem as outras, porque delas

só restam saudades.


Quem sou então,

que me procuro insistentemente?

Quem sou na realidade?!

Ora, sou simplesmente a que sonha!

Já sei... talvez a que escreve poemas

como se matasse a sede,

ou a que acorda e adormece nas palavras,

que traz a memória desarrumada,

que traz na boca pássaros chilreantes,

Não! Não sou esta também... assim de horror

tomada.

Nem sou mais a de antes...


Sou  a que se ouve num tempo distante

a que trago comigo na lembrança

sou a que leva saudade  na bagagem

e o perfume da criança que interiorizo

as palavras que me saem do coração

Assiste-vos a razão de julgar que

não tenho juízo...

Quem sou então?


natalia nuno

rosafogo

sinal de nada...


sinal de nada
tudo tão inquietante!
na mão da noite pela calada
um sentimento bem definido
a saudade,
que segue a minha estrada...

o passado erguido,
fico desabitada de mim
corro ao encontro do chamamento
ás recordações sem fim
ao profundo da memória
fica-me o coração a contento
perante mim as idades
da minha vida
desde o jogar ao pião
até à ameaça da solidão.

a infância gaiola dourada
o mel de flor da idade do amor
o fogo rubro da meia idade
agora horizonte de saudade

natalia nuno

deitei-me à estrada...


habitarão lembranças em mim,
até chegar meu próprio fim
sem saber nunca quando parar
umas perto,
outras nas sombras a agonizar...
deito-me à estrada nos ramos da noite
os sonhos vão-se amontoando
não ouso palavras,
estrelas urdem o futuro
e eu sonhando, o caminho é duro
mas o desejo arde até ao delírio
e como ave embriagada,
como estrela alumiada
com o olhar procuro
o amor, que minha alma quer
e o coração solicita.

dos meus olhos tranquilos
se apodera o verde da terra
ficam seara onde o vento ondula
o silêncio se impõe
e a vida dispõe...
quem inventou a ternura
aquele rio de amor vivido
até à loucura?
as nossas vozes derretidas, a entrega, a paixão
é agora o fermento e o pão
o fogo da felicidade
que hoje me trouxe a saudade...


natalia nuno

saudade de quem?!...




saudade de quem?!

ondulam fortes ventos numa melodia constante
e como eles meus pensamentos
num confiado sonho distante
como pássaros migratórios, levam de mim
saudade...
a vida começa como se nova fosse
numa plenitude difusa subtil e doce
entrego corpo e alma à brisa, à claridade
ao que nunca vem,
ao que não existe,
à saudade... saudade de quem?
caem folhas de outono moribundas
já mal me conheço,
chega a tarde declinante
é o fim do começo
aos meus ouvidos um ruído distante
passam os dias da minha vida
geme neles o silêncio e a escuridão
como se nunca mais pudessem ser
senão,
dias de solidão.

ficou para trás a primavera das amendoeiras
brancas,
que nostalgia!
extraviaram-se meus olhos
desse vínculo que me seguia,
permaneço com olhar de criança
perdido na lonjura,
e minhas mãos são asas de frescura

esqueço o outono da vida que se vai alterando
tento distanciar a pressa
e na emoção do caminho,
o amor sempre regressa
com tenacidade vou sonhando
e recordando o muito que vivi
pássaros ardentes, borboletas às cores
viajantes nas nuvens, amores,
boa parte das coisas simples que nunca esqueci.

natalia nuno
rosafogo

trovas soltas...perdida


d' meus erros não espanto
são ventos endemoinhados
pecadora fui tanto, tanto!
que trago os ventos mudados

despenho o sonho no vazio
torna-se a vida uma cascata
de repente já não é mar, é rio
ou ribeira que não se acata.

perdida andei...perdida!
lá no alto dum rochedo
andava de alma iludida
meu choro era segredo

posso dar asas ao vôo
quimérica onda, brancura
lá longe até onde eu vou
há oceanos de ternura...

memória já consumida
entre sonho e realidade
o tempo levando a vida
e eu morrendo d'saudade

caminhava à beira mar
gaivota olhou eu a olhei
ah...ter asas poder voar!
logo no sonho embrenhei

maré atrás d'outra maré
onda que vem, onda q'vai
ponho o pé retiro o pé
enquanto sussurro um ai

surgem notas ciciantes
vindas das ondas do mar
na praia beijam-se amantes
num leve e doce sussurrar

natalia nuno
rosafogo

trovas soltas...cântico à vida


a morte é parte da vida
é mar da nascente à foz
e é Deus quem nos habita
suas mãos tocam em nós

com a terra, fauna e flores
um sonho nos confiou
dávidas belas, esplendores
um sonho maior criou...

como a água deslumbrada
rasgando com seu caudal
desenlaça a vida apressada
despenha-se no vazio é fatal

a vida é como a trepadeira
que quer alçançar seu enleio
rebelde não conhece fronteira
nem tantas pedras de permeio

os nós enlaça e desenlaça
num acontecer constante
o tempo passa sem graça
e a graça passa num instante

assim a vida é uma viagem
nada, nem ninguém a detém
mar de lembranças, passagem
arauta... da morte também.

natalia nuno
rosafogo

trovas singelas...uma mão cheia de nada


trovas soltas....uma mão cheia de nada

palavras são tempestade
chuvadas e vento forte
são saudades da saudade
que persegue até à morte

lágrimas secam no rosto
a calma volta ao coração
no mais fundo o desgosto
vai mudando de posição

és o mel que me adoça
minha luz da madrugada
amar-te sempre que possa
e me queiras tua amada...

o teu olhar me rodeia
são teus beijos o fogo
és luz da minha candeia
que ao ver-te ateia logo

meu coração desespera
logo chegas sem aviso
no vazio à tua espera!?
partes quando mais preciso

logo a dor que o peito sente
clemente... vai soluçando
cada vez que estás ausente
morre um pouco esperando

a vida é feita de nadas
de solidões e tristeza
uns dias ensolarada
outros feita de incerteza

este tempo adverso
nem me deixa esquecer
ateia a saudade no verso
temo a solidão de a ter

nasci numa segunda feira
terrível dia de inverno
aqueceram-me à lareira
vim do céu para o inferno

são simples minhas trovas
falam com simplicidade
não são velhas e nem novas
nelas prolifera a saudade

as mãos cheias de nada
no coração a saudade
eu e os poemas dizemos
"Obrigada"
vosso apreço, nossa vaidade

natalia nuno
rosafogo

rendida ao teu amor...


Queria seguir a corrente
Das águas do teu mar
E aprisionar-me a ti únicamente
Rendida ao teu amor ficar.
E viver em ti e contigo
Desde o ressurgir ao morrer do dia
Até ao levantar das estrelas
Até que a lua sorria.

Dois corpos que se incendeiam
Que morrem no mesmo abraço
Queria ficar nessa teia
Seguir contigo teu passo.
Ser ave livre de repente
Nessa luz amanhecida
Ser tua água transparente
Ser teu poema, tua vida.

Ser a paisagem do teu olhar
O horizonte da tua memória
Ser a fuga e o aproximar
Renascer de novo na tua desmemória.
Percorrer o teu corpo, sedenta
Reacender o alento apagado
Esquecer as rugas, como quem inventa
Que o Sol entrou em nós inesperado.

Banhar as palavras em insanidade
Lançá-las do alto dos rochedos
Fazê-las brotar em fontes azuis de saudade
E rodopiá-las na febre dos meus dedos.
E eu continuo a querer!
Estar contigo até ao esquecimento
Deixar os anos decorrer
Em fantasias ébrias
Largar o pensamento.

Natalia Nuno

tempo ao tempo...


surgem mil sombras
entre a memória é
o esquecimento
a mente já tão puída!
e o tormento
de ficar de mim esquecida
fatigada, digo em jeito de despedida
adeus ...
dou tempo ao tempo
hei-de voltar á minha serenidade
suspirar e voltar a viver com vontade
a vida é mestra, dá-nos o mel e o fel
deixa-nos sonhar
escancara-nos a porta
de par em par
para depois a fechar duramente
com um gesto finito
como se não pudesse adiar.

natália nuno

tempo imóvel...


esvoaça a cortina
confusão traz-me a noite enlutada
o tempo mantém-se imóvel
no peito uma sombra desolada
da qual não quererei nunca fugir
ergueu muros à minha volta
e só o silêncio se faz sentir
vou sentindo na pele o medo e a orfandade
a noite e eu,
numa aliança que nos une
invento sonhos de felicidade
e numa resignação sem tempo nem medida
enfrento os dias cada vez mais indefesos
da minha vida...

natalia nuno

são rosas que trago na mão...


são rosas que trago na mão

abro-te o meu coração
com transparente lealdade.
meus olhos em nua claridade
se abrindo,
sinto o impulso do sangue
em tão grande ansiedade
sou amor em dávida plena
ascendendo em felicidade
trago um sorriso derramado
sou outono que não morre,
trago o aroma dos frutos maduros
e a sede dos sonhos em mim corre.

apesar dos dias duros
no coração há ternura
e há nele pássaro ardente
e um grande amor que perdura

no coração permanentemente
há cascatas de amor pra dar-te
nele um rasto de primavera
de amendoeiras brancas
que me protegem do esquecimento
onde o tempo range sem parar
e de tanto recordar-te
a vida foje...
como um sonho perdido para sempre
ou ventura que passou ao nosso lado
fica o coração como um poema rasgado
a renascer em mim, até ao fim.

natalia nuno

trovas soltas...nostalgias


Alguém anda à procura
duma dor para sofrer?
Ame antes com ternura!
Deixe o AMOR florescer


Deixa-me sorrir ao céu
ver-me de novo pequenina
que este sonhar meu e teu
é DEUS que assim destina


Na noite brilha uma estrela
Talvez seja minha MÃE...
Quem dera de novo tê-la
pra dizer lhe quero bem.

Versos bonitos, mas vazios
silabas são contadas a dedo
versos bonitos mas tão frios
são vida entre vidas a medo


Só olho para o céu
quando te dou a mão
logo meu olhar no teu
e o bater do CORAÇÃO.


do teu BEIJO sede trago
com simplicidade digo
se o último foi amargo
dá-me outro para castigo

resvalam-me por entre dedos
buscam caminho profundo
levam com elas m' segredos
palavras q'deixo p'lo mundo

natalia nuno
rosafogo

11/12/2001

trovas de amor-perfeito


Saber amar é tão doce
É mais que amor perfeito
É andar como se fosse
Com luz intensa no peito.

****
Ah meu amor, meu amor
Ó quimera d' algum dia...
Teu sorriso enganador
Com ele eu me perdia.

****
Esperei por ti sorridente
Com ramo viçoso na mão
Perfeito amor... fremente!
Que não passou de ilusão

****
Não sei que mal te fiz!
Que perdido já nasceu.
Amor perfeito que quiz
E de tristeza morreu...

****
Quero sonhar quimeras
Sonhar com amor-perfeito
Recordo amor dáoutras eras
Adormecido no meu peito.

****
Anémona, amor-perfeito jasmim
Sou tudo, passado e presente
Sonho que te quero pra mim!
E de tudo o mais estou ausente.

****
Procuro o amor perfeito
Todavia não encontrei!
Perfeito assim do meu jeito
Não achei... nem acharei.

****
Gosto de rimar a primor
Versos lindos um encanto
Eu cá digo que sim amor
Amor perfeito...amo tanto

natalia nuno
rosafogo

Sonhos que me navegam


Sonho que sou menina
Não quero nunca  despertar
Remonto à origem do meu caminhar.
Conquisto o azul celeste
As  asas me dão coragem
Visto-me de penas, de alegre plumagem.
Ando perdida  num mar de açucenas
Sei apenas...
No sonho sou menina
Perdida na  neblina.

Meu sonho!
Me reconforta a esperança
que em ti  ponho.
Salpica, saplica-me de alegria!
Não me fales de dissabor
Deixa  um sussurro em Poesia
Tira do meu coração a nostalgia
Abre novas janelas  ao amor.

Ajuda-me a dizer não
a todos os nãos
Sim á  felicidade
Deixa-me  agarrar com as mãos
Da vida a cumplicidade.
Porque  a vida é um trino ardente
E eu ainda me sinto  gente.

rosafogo
natalia nuno



sopros...trovas soltas



correm meus dedos trazendo
uma vontade enlouquecida
correm as saudades batendo
com saudades da própria vida

no rio reflexo dos salgueiros
cabelos agitados ao vento
das hortas me vem os cheiros
do fundo da alma o lamento

pássaros de peito inchado
e brancas flores abrindo
ao longe o som do arado
já as estrelas vão caindo

faço coro com a ventania
com as rãs e sua voz rouca
prende-me o choro da cotovia
e das cigarras a cantoria louca

não sei se deixe morrer...
o que hoje me atormenta
meus versos hão-de querer
livrar-me do q' m'apoquenta

natália nuno

pequena prosa poética... quase mágico seu rosto


quase mágico seu rosto, o olhar estendido labirinto de memórias, olhos que soletram o sol são a linguagem dum silêncio arrebatado, onde as sílabas são substituídas por música que vem do coração, jamais se é o que se foi, jamais se respiram as fragrâncias de Setembro, agora que o inverno se inicia e a vida nos fala em sua mudez, uma rajada canta no arvoredo da memória, que ainda palpita, voa e sonha....

natalianuno

longe de ser perfeita... trovas


venho de longe, cheguei
trago minha alma acesa
ao cair da tarde oscilei
já dobrada na incerteza

vim do ventre da nascente
trago comigo a saudade
de todos fiquei ausente
num tempo já sem idade

no rosto trago a certeza
de que já mal me conheço
se um dia teve beleza?
ao olhá-lo me entristeço!

trago memória da viagem
e a esperança ainda arde
estandarte da minha coragem
se Deus ma deu me a guarde

fui começo e sou o fim
depois desta caminhada
já que o destino quer assim
seguirei a minha estrada

lembro bem de onde venho
mas não sei para onde vou
a esperança a que me atenho
... o tempo não esvaziou!

de flores ladeio a estrada
canteiro de rosas e jasmim
venho da terra semeada
lá atrás a chorar por mim

- trago traços de utopia
- e longe de ser perfeita!
olhos marejados de maresia
a saudade em mim se deita

meu sonho então tropeçou
o olhar já pouco enxerga
a voz que não canta, cantou
mas a vontade não verga.

os versos são companhia
o espanto de querer viver
e a inocência se associa, a
esquecer, um dia, morrer.

natalia nuno

trovas soltas...2002


coração q'só quer amar,
e beijo de amor receber
quando a noite chegar
infinito será o prazer.

amanhã é que será!
se o destino entender
à minha porta baterá
para o amor me trazer.

calo o amor no peito
como cântico de sedução
trago no olhar o jeito
meu chão é teu coração

partem palavras aladas
bem fundo do coração
à poesia de mãos dadas
para viver sem solidão

teu coração porta aberta
pronto a dar e a receber...
a beleza em ti descoberta
meus olhos gostam de ver

vi de novo o sol poente
vou agradecer a Deus
que meu coração é crente
quando olho os olhos teus

natalia nuno

venho de longe, cheguei ...trovas


venho de longe, cheguei
trago minha alma acesa
ao cair da tarde oscilei
já dobrada na incerteza

vim do ventre da nascente
trago comigo a saudade
de todos fiquei ausente
num tempo já sem idade

no rosto trago a certeza
de que já mal me conheço
se um dia teve beleza?
ao olhá-lo me entristeço!

trago memória da viagem
e a esperança ainda arde
estandarte da minha coragem
se Deus ma deu me a guarde

fui começo e sou o fim
depois desta caminhada
já que o destino quer assim
seguirei a minha estrada

lembro bem de onde venho
mas não sei para onde vou
a esperança a que me atenho
... o tempo não esvaziou!

de flores ladeio a estrada
canteiro de rosas e jasmim
venho da terra semeada
lá atrás a chorar por mim

- trago traços de utopia
- e longe de ser perfeita!
olhos marejados de maresia
a saudade em mim se deita

meu sonho então tropeçou
o olhar já pouco enxerga
a voz que não canta, cantou
mas a vontade não verga.

os versos são companhia
o espanto de querer viver
e a inocência se associa, a
esquecer, um dia, morrer.

natalia nuno

hoje pus-me a pensar...trovas soltas



o que é mais importante
não é o que fiz ou não...
é ver a vida tão distante
o tempo ter sempre razão

do grão se faz farinha
que é pão para sustento
já minha vida caminha
sem vontade nem alento

bom mesmo era esquecer
q'a vida é pequena demais
tanto me foi dado saber...!
mas saber... nunca é a mais.

pra quê tanto amanhecer
eu na névoa mergulhada
vai-se a tarde e ao anoitecer
cabelos brancos são geada

trago os olhos sem sossego
os passos sem esperança
se mais à vida me apego
mais ela vem à lembrança.

natalia nuno

pensamento...


passam meus dias em suspenso, a memória estagnada, sinto que além do que sou e do que penso, que a vida parou, trago a alma angustiada...estou entre o ser e não ser nada!

natalia nuno

Hoje lembrei ...


Hoje lembrei a adolescente que conservo na lembrança com comovido afecto, e recordei-a feliz e descontraída, no seu sapato alto e saia reduzida. Orgulhosa da sua aldeia e da sua gente que apesar de pobre , era rica de sentimentos, sendo eles que deram sentido e esperança ao desabrochar desta adolescente. Hoje, lembrei também dos rapazes de mãos rudes e palavras desajeitadas e dos bailes onde sonhava ser princesa sem castelo. Há diáriamente uma história que conto a mim própria que jorra desta fonte que é meu passado, ora alegre ora sombria mas sempre viva. A aldeia e eu seduzimo-nos mútuamente, há recordações que acarinho e evoco nas minhas horas sombrias e assim me vou distanciando, sentindo-me agora um ponto ínfimo no fim da caminhada.Devora-me o tempo, só a Poesia me reconforta e a memória é ainda guardiã do arquivo onde guardo recordações.
 
 
natalia nuno
 
 
 

 

JÁ OS CHOUPOS SE VERGAM...


Já o trigo se dobra
ao amor p'lo vento
Também a vida me cobra
A plenitude do momento.

Já os choupos se vergam
sobre as águas do rio
Também meus olhos enxergam
Dias vindoiros de frio.

A ave voa peregrina
p'lo poente dourado
Esqueci tempo de menina
Que passou...é passado!

Corre o regato no vale
Pressa leva no caminhar.
A esquecer todo o mal
Chovem m' olhos ao te olhar.

Passa o vento e faz rumor
Esquece a tarde q' o poente dourou
Como pássaro abrigo-me... amor!
Que o tempo de mim te levou.
Andam pardais nos olivais
Decoram paisagem alegremente
À vida se foge jamais,
ao sofrimento, ao tempo inclemente.

Tudo nela são passos contados
É viver cada momento
Agradecer de joelhos prostrados.
Os dias cobertos duma certa claridade
são agora sombrios ,são a forma
que é nos meus olhos...a saudade.

natalia nuo 2011

queixume saudoso...


comove-se o olhar fica perdido
molhado de chorar e já vencido
caem as geadas no rosto
e o sol já no poente, é posto.
recolhem-se os pássaros enquanto
há folhas nos ramos
e, recolhemo-nos nós enquanto
é tempo e nos amamos...
o tempo vai passando e atormenta
a dor dói, o coração sofre, e o olhar
lamenta...
hoje o vento faz-me companhia
num chorar triste, nem ele traz alegria,
tem vindo a crescer p'la tarde acima
com o destino de entrar-me pela janela
o meu destino é encontrar uma rima
para que ele fale dela,
invento e visto-me de memórias
caminho neste entardecer
e lembro tudo o que ficou por dizer.

os meus olhos entretêm-se a olhar
mesmo sem saírem daqui
estão sempre em outro lugar,
há tardes de Setembro em que o pensamento
me embala o coração,
basta-me um pouco de ilusão
e a cada pensamento, invento
um sonho mais formoso, que valha a pena
e o coração resiste mais e mais
a este queixume saudoso, a que
me dou neste poema...

natalia nuno

tanta coisa...coisa pouca...trovas soltas


ai de mim, tão pouco sei!
olhos abertos ou fechados
tão pouco, conta me dei
meus versos aí espalhados

ai de mim, falta de senso
tanta coisa, coisa pouca...
queixas d' alma, ai imenso
da viagem q'me põe louca

assim me vou consumindo
não culpo a vida e ninguém
só este desejo advindo
faço versos... aqui e além

sem engenho assim dirão,
são ramos verdes sem flor
com loucura escritos à mão
hora a hora engenho e amor.

ai de mim com ou sem rima
vou escrevendo com tal força
não será uma obra prima...
mas m' querer não há q'torça

q' importa quem não admira
quem nada viu por aqui...
quem no meu peito desfira
quem ri por último melhor ri.

natália nuno

A menina do meu sonho... memórias


O outono ía adiantado com o sol no ocaso inflamado de vermelho, na eira recolhiam-se os últimos cereais que depois de malhados se lançavam ao ar para que o vento os joeirasse, via fazer estes trabalhos, apercebia-me de como a vida era difícil principalmente para quem ganhava o pão com o suor do rosto...ainda agora saboreio as lembranças que se multiplicam no meu pensamento...hoje posso ser uma filha estranha nesta terra que é minha, pois quem partiu já não está para me abraçar ou para se alegrar com a minha presença, mas na memória do meu sentir essas pessoas estarão presentes para sempre, há pessoas e momentos que se eternizam na nossa memória, assim, as emoções de lembrá-las são relíquia.

Já o sol cai a pique

Avé-Marias festivas
deixem que aqui fique
com lembranças vivas

Espreito o largo da igreja, sem que ninguém me veja, a lembrança surge imediatamente, de mim menina aqui brincando e logo se sobrepõe a tudo o resto, embora o passar do tempo deixe marcas no corpo e na alma trago sonhos a bailar-me nos olhos, os mesmos sonhos!... caídos agora no silêncio, quebrados pela voragem do tempo provocando em mim ansiedade que me oprime à medida que o tempo avança. Olhei a casa do lado de lá na banda de além, mergulhei numa escuridão interior, olhei o céu, depois o rio, as flores, as hortas sossegadas e tudo me pareceu tão deprimido quanto eu, embora num paraíso adormecido, onde só a aragem do vento fazia com que as folhas acordassem e eu perdida por entre a folhagem, na tentativa de equilibrar a mente de serenar o espírito para ganhar alento e continuar o sonho. Olho a menina de novo, esperançada que me dirija um sorriso, segue junto ao rio com a sua graciosidade inundada de luz como se se tratasse duma princesa, meus olhos ficam exaustos, o sonho me imobiliza...um dia eu e ela atravessaremos juntas a ponte, juntaremos os brinquedos quebrados com que brincámos, os raios solares sobre a folhagem virão banhar-nos o rosto e envelheceremos as duas como se não nos tivéssemos distanciado nunca.


natalia nuno

rosafogo

à vida...soltas 2014


Criei versos fui tecendo

ilusões, pois tudo passa

a mocidade fui perdendo

e com ela perdi a graça


Ondula no campo o trevo

Eu amor, que devo dizer?

Falar-te do meu degredo

Q' d'amar-te ando a morrer?


trago palavras maduras

e nelas trago a verdade

trago amores e ternuras

frutos da minha saudade


é fácil de mim perder-me

entro dentro dos olhos teus

fecho meus a proteger-me

com medo digam adeus


o astro sempre m' alumia

nesta  desolada solidão

exulta o coração de alegria

traz beleza à imaginação


e ardor aos pensamentos

esforço da minha vontade

esqueço todos sofrimentos

lembro só o que dá saudade


natalia nuno

rosafogo


cacho de uvas ao sol...


a inquietação do meu outono
é como um mar gelado
tremo a qualquer sobressalto
e me tira o sono
num profundo cansaço deito a cabeça
na almofada, e assim fico até de madrugada.
fiel à memória, sinto-me viajante
às raízes que fui perdendo num instante.
penso na morte, e também na vida
e nessa inquietação vou ficando adormecida
num delírio de descrença
não sou nada, nem de ninguém
só estou presa na saudade
que me leva sempre mais além.


além, onde a vida era despertar
e havia frenesim em mim
quando era cacho de uvas ao sol a amadurar
quando tinha asas de voar
e sonhos sem medida, nem fim!
entregava-me à paixão, sempre com nova ternura
e amor no desmesurado coração.
ergo-me contra o tempo
surge um fulgor entre meus dedos
ressuscito sonhos que ainda acalento
e sulcando a memória vou soltando medos.


natália nuno 
rosafogo

um friso de pó...


Meus olhos tremulam na escuridão
Uma noite cerrarão!
Embaciados pelo  luar
Levados por um vento morno
sem retorno,
enquanto a maresia  desce
sobre o mar.

Serei mais uma concha abandonada
Ou um grão de  areia no deserto
que não serve pra nada.
Por perto?
A vida escondida já  sem alma
por se haver perdido
De tantos anos ter vivido.
A  memória?
Ficou espelho partido
Já não ouve o coração
E o sonho já não  passa de ilusão.
Restará um friso de pó
Eu não voltarei nunca,
estarei  só.

rosafogo
natalia nuno

trovas...arrebata-me o tempo


assim foi tua companhia
teu coração, tua mão
tua presença, tua alegria
chave de meu coração

o nosso sonho verdade
bebi a frescura d' água
agora nos resta a saudade
o resto... levou a mágoa

alguma coisa quebrada
nestas tardes outonais...
estamos unidos na jornada
cada dia nos querendo mais

faço quadras de improviso
se alguma coisa por dizer
da tua cumplicidade preciso
o amor está, venha quem vier

o meu grito é poderoso
quando escrevo sobre a vida
apaixonado alecrim mimoso
de sonhos ando vestida


natalia nuno
rosafogo

meus poemas são pássaros...


Meus poemas são pássaros

ouço-os a bater as asas

partem tristes

deixam-me na saudade,

vê-los partir,

é um misto de tristeza e felicidade

um dia fugir-me-á o coração

quando a morte vier

e a vida se desprender

ficarão as palavras escritas

aflitas, o sonho e a recordação

sem eira nem beira.


Será possível morrer em paz?

é tarde, a vida me arrasta

os ponteiros do relógio não param

para quando a despedida?

Já tanto faz!

Estou gasta, igual ao tempo

deste meu viver,

quero em paz envelhecer

como o outono que se vai.


Meus poemas são pássaros

deles a saudade não sai,

são roseiras brancas

de caules outonais,

são rituais,

cataventos de saudade

na voracidade do vento,

pássaros do meu pensamento.




natalia nuno

rosafogo


O Poeta...


O amor é como incenso
Que acende e arde breve
Aroma que odora imenso
A alma de quem escreve.

Na verdade não me conheço
Tão diferente da que fui
Meu caminho eu atravesso
Lembrança que já dilui.

Já não há nada de verdade
Falo, falo, nem sei quem sou
Sou de mim já só a saudade
Saudade que em mim ficou.

natalia nuno

onda de alegria...


meio dia, meio da tarde
do tempo encruzilhada
a primavera de verdade?
é saudade relembrada.

olho no areal a gaivota
ao mar não vai mais voar
Deus meu sou tão devota
fazei meu sonho voltar

guardo as minhas penas
neste tempo de nevoeiro
saudades trago do cheiro
da minha terra de açucenas

na viagem bate o coração
Deus tropecei no outono
onde deixei o verão?
Anda o coração sem dono.

nos olhos as sardinheiras
que cresciam nas janelas
trago cheiro das laranjeiras
deixei por lá as estrelas.

e nos caminhos da utopia
minha saudade fez-se beijo
e numa onda de alegria
escrevo versos feitos desejo.

natalia nuno
rosafogo

um pouco de paz...


deixo-me pelo silêncio fora
não me obrigo
nem aceito mais recados
passou a hora!
não quero mais por castigo,
ver meus sonhos gorados.

meus dias são folhas caindo
são gaivotas de asas quebradas
bando de pássaros no céu sumindo
minhas noites estrelas espantadas.

sonhos, carumas levadas pelo vento
vento que ouço a gemer
saudade ´meu sentimento´
no rosto há linhas a endurecer.

ausenta-se meu olhar
no coração a mesma toada a bater
procuro-me sem alcançar
renasço para em seguida morrer.
me faço e desfaço
me volto a rasgar
e o sonho me foge
já não lhe apanho o passo
é como sombra a deslizar.

desfolho palavras dum jeito só meu
hei-de gritá-las
hei-de chorá-las!
porque o jeito de mim nasceu.
nos meus sonhos guardadas,
em pedaços rasgadas.

minhas vontades mirraram
são murmúrios de orações
que pra sempre se calaram
em jeito de quem implora
quase num sussurro rouco
meu coração só pede agora
um pouco de paz...um pouco!

minhas memórias renascem do nada
sou pelo temporal da vida levada.


natalia nuno

perto da foz...


faço balanço,
a vida foi passageiro instante,
hoje estou entre a luz e o chão
meu andar é hesitante
e a dureza do tempo varreu meu coração
como uma tempestade,
agora é nele rainha a saudade...
minha memória esconde recordações
como grilos que se escondem nas moitas
p'lo verão,
e, no meu coração
as saudades daqueles tempos primeiros.
meus sonhos besouros nos olhos verdes
dos salgueiros!
tudo me lembra a menina em mim cativa
sempre a minha mão escrevendo a afaga
quero-a sempre em mim viva
por mais saudade que me traga

queira ou não queira, quero-lhe demais
a saudade dela se funde em mim
é ela que escuta meus ais
é nela que me vejo nesta aventura
a chegar ao fim
faço o balanço e rememoro
nas horas lentas, mas que se esquivam
vivo, faço e desfaço, mas já não choro,
é inverno a estação a que me abeiro
deixei meus olhos no outono
para trás ficou um sonho inteiro.

corre a tarde a meu lado
a nostalgia habita o meu peito
tudo o tempo tem gerado, tudo me tem dado
mas nem tudo foi bom, nem perfeito.
olho para o dia que vai a meio
a solidão empresta-me um pouco de liberdade
não a temo, não lhe tenho medo
traz-me um gosto doce a saudade.

natalia nuno

 



 

ÓH! Que maldito poeta!




 Louco como ave inquieta

Que não cansa de gorgear

Oh! Que maldito Poeta...!

Que à Eternidade quer passar.

... Canta às vezes com voz triste

Anda em fracos versos iludido

Cativo, deles não desiste!

Conhece a desventura do poema perdido.



Vai sonhando, tomando notas

Todas de sonho e utopia

Perdido por ilhas ignotas

Buscando inspiração para a poesia.

Morre a cada instante vencido,

sofrido,

e a palavra vive ali defronte

diante dos olhos seus.

São pérolas, são sóis

Mas a memória desvaneu.



Ora vive no crepúsculo,

ora no resplendor...

É esta a sua forma de cruz

o seu amor

a sua luz.



Chega a odiar-se

Querendo rasgar o infinito

Por um poema maior

Um grito,

lhe sai do coração!

Sombras, sonhos. ilusão, desilusão.

Maldito Poeta...Mas,

Poeta que desiste, isso é que não!



natalia nuno

rosafogo

bateram à porta...


nenhum anjo bateu à minha porta
nem nenhum vento a derrubou
que importa a vida que importa?
que tão pouco já nela estou?
mas a vida tem beleza
e sempre alguma alegria
bateram tenho certeza,  à porta
será utopia, ou estarei morta?
vale a pena sobreviver
ainda que, com nostalgia
neste outono perpétuo
oceano de desespero
se já não há esplendor, nem florescer?
a vida é varrida, por ventos ferozes
meus versos nas cinzas morrendo,
já não ouço as vozes
dos pássaros no ramo,
nem sinto a presença de quem tanto amo.
há  em mim o nunca, o agora e o jamais,
há sorrisos e tristes ais...
será que ainda há frutos a colher?
no final da caminhada, há lembranças
que fazem sofrer..
e que silenciam logo de seguida
quando no coração está prestes a extinguir-se a vida.


a vida é ponte, entre nascer e morrer
é travessia, feita dia após dia,
apressado o tempo vai-nos silenciando
mas serpenteia em nós a esperança
que nos vai acalentando.
o dia nasce e logo se põe
também a lei da vida se nos impõe.


natalia nuno

tapo o sol com a peneira


Passei hoje pela Vida
Distraída nem me  viu!?
Tempestade enfurecida
Louca minh'alma a sentiu.
Já tapo o Sol com  a peneira
Finjo que tudo está bem
Não vá a Morte e não queira
Aparecer  por aqui também.

Pôs-se o Sol hoje à tardinha
Nem o vi, fiquei triste  a olhar
Tapou-o uma nuvem que vinha
E ensombrou o meu bem estar.
A Vida  a sinto perdida
Das minhas entranhas se rompeu
Já de mim anda  esquecida
Me perdi, ou me perdeu.

Dizem que a Vida é grande
Mas eu  acho grande a tristeza
Quando minha alma se expande
É a minha maior  riqueza.
A Vida é lição estudada
Prontamente lição sabida
Passei hoje  por ela, cansada!
E ela por mim, esquiva.

E assim  mais um dia passa
Tal como outros nada perfeito
É grande a mágoa que  grassa
E deixa a dor no meu peito.

rosafogo
natalia nuno



os crisântemos vão morrendo...


procuro apoio, o sono já me dobra
e o sonho já me convida
dou por mim jovem, sentada à lareira
e minha avó mexendo o café
na cafeteira.... o outono vai adentrando
como a querer chamar o frio,
e ela mulher do seu tempo
no rosto mantém o desgosto e
no olhar o vazio
assaltam-me as saudades destes momentos
dias cinzentos, com a chuva a bater no telhado
e eu com um ar descuidado, libelinha sempre
a crescer, na esperança de voar
tudo em meu redor se aquieta
apenas dos galhos secos o crepitar
lá fora os crisântemos vão morrendo
enquanto eu vou dizendo, o padre nosso a
avé maria, e minha avó agora o terço dedilha

acabada a reza, um ténue suspiro de alento
escutamos a noite e uma solidão sem par
no céu nem uma estrela, o povo recolhido
e eu desenho no bafo do vidro
sonhos de encantar
estou bem acordada ainda
e minha avó sempre com esta tristeza que não finda
degrada-se a lembrança do tempo que foi feliz
e como pomba sem ninho, a felicidade
ficou pelo caminho.
na parede quase nua, apenas um retrato
do homem jamais esquecido
em seu coração de sombra já vestido
à luz da candeia ali ficámos depois da ceia
mais um serão se passou e eu durmo na minha lembrança
adentro-me em mim mesma, vou onde posso sentir-me
escondo-me atrás das horas, deito a cabeça no regaço da avó
e nunca me sinto só...................no sonho deixo-me afundar
e apalpo palavras para a saudade embalar...

natalia nuno

o poema da desmemória...


Nada pode mudar o tempo
incessante, nem sua impiedade
só a memória procura claridade
em um ou outro instante que ainda
no peito me arde,
o tempo desdenhoso fere-me de saudade
e o horizonte do poema obscurece
e assim permanece triste
num estado de letargia.
Esqueceu de celebrar nossa festa
mais íntima, o teu falar-me
ao ouvido, de incendiar nossa hora,
falta-lhe o que sinto e o que sonho
a alma da saudade que chora,
a solidão de quem procura
um pouco de amor,
outro tanto de ternura.

Nada pode mudar o tempo
mas o Poema não esquece a verdade
do que guardo em mim mesmo
nem nosso amor vestido de simplicidade,
o riso ou a lágrima da minha saudade,
e as páginas que ficarem despidas
ainda assim me ouvirão,
apaziguarão minha alma e minha vida.

O Poema é o esconderijo, o abrigo,
a lágrima solitária que trago comigo.

natalia nuno

quem te sente já morre...


Ó tempo, fala a verdade?!
Senta-te aqui a meu lado.
Faz comigo amizade
Tem cuidado!
Sê prudente!
Te pergunto brandamente
Porquê me dás tantos danos?
São quantos mais os anos?
Neste instante que corre,
Quem te sente já morre.

Deixa-me limpar o pranto
Desta sentida saudade
Já não haverá outro tanto?!
Dá-me um pouco de felicidade.

Deste-me cabelos de prata
E mãos frias como a neve
E a formosura? Essa ingrata!
Deixou um traço ao de leve.
Quando olho o meu rosto
Nada já vejo com gosto!
Gela-se-me o sangue nas veias
- Vê por instantes meu desgosto
Tu que me enredáste em tuas teias.
- Ah...não me dês outro maior!
Deixa-me a imagem que fui
Já me basta esta dor!
De quem nada já possui.

Senta-te ao meu lado
Dá-me algum alento.
Faz-te meu aliado,
Sê minha estrela, meu vento.

natalia nuno

posto o coração em desafogo...sonho


dou asas ao sentimento
e toda a trama se desfaz
caída nos braços do esquecimento
a mente em branco
a realidade a rir-se de mim
e eu em paz...
chove a potes,
a emoção cansa-me,
o pulso altera-se
e o sono vence-me,
a recordação convence-me
e vou um pouco mais aquém
pois ela me leva sempre mais além...
frente a frente fiquei
com a frescura da brisa do rio
e ali me deixei...no sonho
ao passar a ponte o céu clareou
ficou limpo, as coisas ganharam cor
ouvi o ulular do vento nas canas
as rolas cantando ao amor
depois um estranho silêncio
o ânimo afrouxa
deixo-me pela saudade arrastar
pego na trouxa
e vou ao rio lavar...
ah...ser poeta é ser ninguém,
ser livre e ser vazio, é como
ser nuvem sem água,
ainda assim chorar de mágoa
ir sempre um pouco mais além
trazer os pensamentos à mão
pintar a vida com alma e coração
neste sonhar que minha alma adoça
não há mal ...que mal chegar lhe possa.

natalia nuno

poema...


o poema só vive
porque o poema sou eu,
meu corpo e meu destino,
minha vida
minha terra possuída
o fogo que em mim se alastra
a curva do meu seio
o delírio que me arrasta
meu rosto, minha afeição
minha luz, minha figura.
o poema só vive
no desejo do meu beijo
enquanto fôr criatura.

natalianuno

doce recordação...


é este o tempero da vitória
escrever palavras amanteigadas
lembranças açucaradas
retidas na memória...
solto-as como uma revoada de pássaros
por sobre as folhas do milheiral
e o sol que tudo doira
na minha imaginação
é mel, açúcar e sal
tempero do meu coração.

olho o dia de ontem
como doce recordação
mesmo se o destino parece adverso
eu canto a vida num verso
ponho todo o meu afã
e com pezinhos de lã
a palavra trato com fulgor
de esperança adoço os sonhos
basta-me só uma porção d' amor.

natalia nuno

lembranças...trovas


não há mais tempo é tarde,
nasce o poema roto e velho
morre com ele a saudade
do rosto que viu ao espelho

nunca fui eu por inteiro
essa é que é a verdade
só fui da flor o cheiro
logo se foi a mocidade

trago as mãos inda feridas
e afasto de mim o medo
sombras nunca esquecidas
trago em mim em segredo.

crio palavras de ilusão
até na hora mais cinzenta
ponho ao luar m'coração
o amor sempre me tenta

o poema nunca se rende
apesar de roto e velho,
acorda a lua e a desprende
alude meu rosto no espelho

rosto triste de saudade
que a mim já nada me diz
breve foi nele a claridade
e o tempo de ser feliz.

natalia nuno

tudo não passa de ilusão...


soltaram-se as águas dos meus olhos
testemunhas da minha solidão
de tanto que te esperaram
em vão...
são lágrimas que não pude adiar
pranto até chegar as madrugadas
com a saudade que não sei calar
noites de insónia atormentadas.
enquanto as noites envolvem a terra
e a minha alma pelo silêncio erra
- o vento chora
eu espero por ti tristemente
e vou escrevendo um verso dolente.
vou percorrendo meus dias à espera
talvez assome um pálido sol
o céu se tinja de azul
as aves voltem do sul
e o arco-íris fique ausente
mas a paz há-de chegar-me
e o teu amor incendiar-me
voltar a sentir o pulsar da vida
esquecer a hora que trago em mim adormecida
e depois será tudo ou nada ao mesmo tempo
beijar-me-ás os seios como da primeira vez
será tamanha a ousadia,
tuas mãos em rebeldia
deixarão meus sentidos em avidez
tudo não passa de ilusão
de mais um sonho caído ao chão,
o passado me perdeu ou eu o perdi
os anos não volverão
mas eu espero, com saudade de ti.

natalia nuno

amor louco...


meus olhos perdem-te de vista
no peito fica a saudade
lâmina que corta sem dó
que tortura sem piedade,
quase à dor me ofereço
e padeço,
se meu olhar não te avista
porque me sinto só.


sorri e chorei
sofri e amei
agora meus olhos sol não têm
lágrimas são vagaroso rio
que vão e veem
a vida presa por um fio
e como se a dor fosse pouco
dissolve-se a mente
a alma sente
o morrer deste amor tão louco.


natalia nuno
rosafogo
02/2005

nesta noite de solidão...


Nesta noite sem fim
Trago os passos num sonho
perdidos
Meu peito volta a doer
Mais uma mágoa desfolhada,
promessa de nada.
No corpo desejos a crescer.
Sentidos,
meus olhos cansados a esperar
a ver o corpo a suplicar.
Ah...se eu pudesse ter guardado
teus beijos numa taça de cristal!
Ao olhá-los matar desejos
E ser tudo assim tão natural.

Nesta noite imensa
Meus lábios esperam p'los teus
Finjo que não te espero
Mas sentir a tua ausência
Não desejo nem quero!
Peço a Deus,
que os sonhos que arborizo
Me tragam a tua mão
Que não me façam esperar
pois preciso
continuar a sonhar
Para que o sonho não seja em vão.

natalia nuno

confusa lágrima...


nos lençóis quentes
cai a noite deserta
e a recordação é ferida aberta
é fogo é ternura
é solidão e carência
é na noite escura
que sinto tua ausência
esvoaça a cortina
entra um ar frio
choro eu menina
na penumbra do vazio
lençois de sofrimento
nas noites sem fim
são já esquecimento.

do teu amor por mim
teu corpo era perfume
pétala de jardim
avalanche de beijos
despertando desejos.
para trás ficou
perdido entre si
tudo o que restou
de mim e de ti...

natalia nuno

atalhos de outono...pensamento


rastejam os sóis em busca de poentes... enquanto recolho os cheiros das maresias pelos atalhos do outono...

natalia nuno

de mim e de ti...


nos lençóis quentes
cai a noite deserta
e a recordação é ferida aberta
é fogo é ternura
é solidão e carência
é na noite escura
que sinto tua ausência
esvoaça a cortina
entra um ar frio
choro eu menina
na penumbra do vazio
lençois de sofrimento
nas noites sem fim
são já esquecimento
do teu amor por mim
teu corpo era perfume
pétala de jardim
avalanche de beijos
despertando desejos.

para trás ficou
perdido entre si
tudo o que restou
de mim e de ti...

natalia nuno

menina duma lenda...


há um marulhar de sons

neste silêncio que me invade

agarro o momento

este, que é de saudade

passam as horas e penso

na idade distante donde venho

desse passado imenso

e sinto-me

a menina duma lenda

passeando os sonhos

salpicados de nostalgia

ah...ser menina de novo

como eu queria!

 

meu sonho é construído de betão

trago a saudade presa na mão

e uma luz nunca extinta...

no coração.

 

romã

natalia nuno

 

o que ficou para trás...


de repente há um aroma que me recorda o que ficou para trás, e as minhas palavras são as sombras onde me encontro perdida, lá onde a dor é mais forte e me deixa sem norte, sou agora a velhice e ao mesmo tempo a juventude, grito a dor num poema invisível que declamo amiúde, e num golpe de garra saio do silêncio dos versos e continuo a pulsar com uma força que não aceita derrube...e o amor é um agasalho que me cobre e me põe a sonhar...caio assim neste abandono de doçura vestida, adormecida na minha derradeira saudade.

natalia nuno

Quem sou?...


Eu me pergunto, quem sou?
Serei um grito aprisionado?!
Um coração de pedra que o tempo quebrou?
Ou um tempo de vários, sempre ignorado?!
Ou um feto no útero do nada?
Ou o aluimento em que o vento empeçava?!

Eu me pergunto quem sou?
E me renego! Como posso ser eu?
Esta memória turva que o tempo ameaçou.
Esta sombra perdida em noite de bréu?!
Serei terramoto, ou tão sómente alarme?
Serei premonição, ou assombração?
O hálito da morte que não tarde?!
Para que eu seja!Para que haja uma razão!
Para saber ao que vim e ao que vou!

natalia nuno

meu caminho, meu destino...


Percorro este meu caminho

nem depressa, nem devagar

Nem sei mesmo por que caminho!

Se não tenho pressa em chegar.

... Vou num passo vagaroso

Num interminável arrastar

Levo o coração saudoso

Pena não puder ficar.



Sigo um pouco à sorte

Não levo rumo nem destino

Trago o rosto voltado a norte

Sou como o sol... peregrino.

Levo o sonho no olhar

Nos cabelos estrelas de prata

Meu peito é barco a navegar

E no coração raizes que a vida ata.



A minha voz por aí se propaga

Em versos de saudade

Acordados na madrugada

Ansiosos de liberdade.

Versos da minha infância de ser

São a minha fragância, a minha respiração

A combustão...

Para o caminho percorrer.



natalia nuno



rosafogo

a melodia que alguém me assobia...


olho a tristeza das árvores
no seu jeito de morrer de pé
é forte a força da sua razão
agarradas à terra com firmeza
como se tivessem coração
e nele habitasse a fé,
renovo a minha esperança
num amanhã feliz
agarro-me à lembrança
do que houve e não volta mais
e em silêncio escuto a voz,
de meus avós,
e meus pais,
infantilmente me deixo aí
nesse lugar
da minha raiz
porque lá ou aqui
vou sempre recordar,
cheiros sabores e cores,
as enxurradas do rio,
o coaxar das rãs,
o cão latindo
a criança sorrindo,
as manhãs a desabrochar
mensageiras de sol e promessas
as janelas abertas sem mistério
e lá ao longe o cemitério.

assobiam agora os vendavais
na minha mente desgrenhada
o que houve e não volta mais
ainda sinto uma melodia soprada
ao ouvido, alguém assobia
e tento retê-la nos escombros
da memória e nos assombros
da poesia.

natalia nuno

se o relógio parar...


Meu grito se ergueu ao vento
Grito de perda e de dor
No dia em que morrer meu pensamento
Será um grito de furor.
Cruza-se a Vida com a Morte
Ouço o seu uivo além...
Serpenteia por aí à sorte
Acordando de medo alguém.

 Minha memória me liga ao tempo antigo
Às minhas raízes, ao meu povo
Já não me traz nada de novo
Me lembra o calor dum colo amigo
As histórias contadas à volta do sono
Onde hoje em sonho me abandono.
Lanço ao acaso o meu olhar
E a vista alcança o sol que ainda me sorri
Deitado no rio onde vou lavar,
o rosto que me tráz, atrás de si!

Declina o dia também ele sem vontade
Deixa-se morrer, jaz num desalento
Também me arrasto nesta saudade
Meu grito se ergue ao vento.

 natalia nuno
 poema de 2001

ainda é meu tempo de viver...


parti por não ter chão onde semear sonhos, cerro as palavras na boca, deixo-as na terra adormecida do meu âmago, talvez que as sementes germinem mais tarde em horas de saudade e, docilmente se entreguem em versos chorosos que embaciem os olhos, ou suspendam a tristeza e o vazio do tempo e venham dourar o verde onde a minha esperança cresce... é verão, mas, estranhamente o dia é de penumbra a memória apaga-se lentamente e eu fico de morte ferida, mas ainda vivo, ainda é meu tempo de viver...exausta parti de mãos vazias, levo os desencantos, vou palmilhando o chão e levo por companhia a solidão, voltarei quando fôr lua cheia, se ainda fôr capaz de aprender a primavera, e as folhas em mim caídas voltem a reverdecer em meus sonhos, eu possa moldar de novo as palavras a meu jeito, e nada impeça que me tragam a promessa de ser gaivota na planície...com olhos de madrugada.

natalianuno

auto-retrato...


são verdes teus olhos
tão vivos como os duma criança
na boca um sorriso pálido
quem sabe de amargura,
ou de esperança...
caracteriza-te
ternura
e afabilidade,
por isso tenho por ti amizade
coração sem rancor
onde só cabe o amor.

o nascer do sol te ilumina
não deixes que a nostalgia
se aposse de ti
menina que dia a dia
escreve poemas com princípio,
meio e fim
aqui
com entusiasmo enorme 
longe no tempo a escrever
se estreou
e prisioneira ficou

escreve com suavidade
e fala sobretudo de saudade!

natália nuno

pensamento...


escuta meu coração e, a mensagem incessante
que te passa meu olhar a cada instante...
natalia nuno
(sentidos)

labirinto...


cativa no tempo, enterrada na melancolia permaneço silenciosa, entre o labirinto que vai da distância percorrida ao presente, chegada aqui, nenhum sonho se anunciou, o pensamento abriu e fechou, ficou-se pelas sombras, as palavras batem na garganta, mas ficam-se pela ficção dum monólogo, que só as vozes das árvores conseguem julgar...tenso é o ar da espera!

natalia nuno

toda a ti me dou...


olha-me nos olhos firmemente
tudo neles te revelo
este amor que acalento
denso como as águas do mar
arco-íris no firmamento
que o tempo levará.
mas devagar,
toda a ti me dou
de ti tudo espero
como o moinho espera o vento
- é assim, este amor que acalento!

natalia nuno

Minha rua...


Vou correndo...vou correndo!
Deixei p'lo caminho a memória
Quantos  obstáculos vencendo
Já invento minha história.
Minha rua está diferente,
da que trago no coração.
Onde está a minha gente
Não a vejo
por aqui não!

Onde está o meu povo?
Que não o sinto por aqui
já!
Nada há aqui de novo...
Nem me sinto bem por cá!

Sorvo a sopa sem vontade
Fico sem pensar em nada
E o peso da saudade
Põe-me a vida desolada.
Roo as unhas de ansiedade
Só vestígios doutra lua.
Mas esta saudade minha,
me transporta um tesouro
Esta rua já não é a minha
Nem o sol brilha como ouro.

Faço pose de rainha
Contenho vasta lembrança
em mim.
Lembro a rua que é minha,
Colho flores uma por uma
Esta é a rua, mais nenhuma
Onde fui flor no jardim...

natalia nuno
rosafogo

morri por ti...


A vida chega onde chegar
não terá nem mais um dia!
A morte lá estará para a esperar
Num breve ou demorado adeus
E numa submersa solidão,
Sei apenas que nos olhos teus
Haverá a ausência dos meus.

Presente para sempre,
dizes, estarei no coração.
Sei apenas que dos olhos teus
A morte não me levará,
Apenas baterá à nossa porta
Num dia triste de Outono.

Encontrará a vida morta
sem sol e em solidão
E assim, levará o coração.
Forçando-me a deixar a vida
ao abandono.

Outono será a última estação
O Inverno será o grande ausente
Não será visto nem achado!
Também ele morrerá tristemente
P'lo nosso sonho abandonado.
Sei apenas que os olhos teus
Serão um lugar onde a tristeza ditará,
que aí também devo morrer.
Quererá Deus,
Que continues a viver?
Direi como Ele,
«quando a noite se aproximar
sabereis que morri».

Mas eu, morri...morri por te amar.
Morri por ti!

rosafogo
natalia nuno

Será luz a nova flor que se abre?


Será luz a nova flor que se abre? Permanece o silêncio... talvez só uma comovida flor que o orvalho resolveu golpear, num prazer desperto de levar para longe a semente, com a promessa de fazer tremer a gota de água que a fará germinar...se te amo, é porque deixas o teu perfume a cerejas silvestres! Dá-me a tua promessa, acende meu arco-íris de prazer antes que enferruje a minha esperança e as palavras me resvalem na garganta...como um tíbio raio de sol, onde a claridade já estremece.

natalia nuno

outono tardio...


já se perdem minhas folhas neste outono tardio assoladas pelo vento da saudade... hoje ouvi as harpas do canavial,e recuperei o sorriso, subitamente vieram-me as lembranças às águas da memória, e de lembrança em lembrança voei caindo no silêncio...sento-me no chão, sou agora um vaso quase vazio onde repousam flores sem vida... e a borboleta que voeja na desordem da minha folhagem caída...pergunta-me: que fizeste da vida? fico-me silenciosa, e olho a minha triste caligrafia, as palavras caem da boca como frutos maduros, e as sílabas já não querem mais voar...
natalia nuno

o sorriso voltou-lhe aos lábios...


o sorriso voltou-lhe aos lábios e depressa se desvaneceu, dissimulou os pensamentos, porém, vai assimilando as voltas que a vida deu... embrenhada na natureza, senta-se numa pedra frente ao rio com a pureza própria duma criança, e vai pacificando as emoções até aquietar o coração...da solidão nasce o silêncio, e como que por magia volta a sonhar e a manter viva a esperança, tem pensamentos líricos que viajam na corrente, são agora os olhos que sorriem e volta a sentir-se gente...cada paisagem, cada rosto, é alento do seu dia, e no rasto do silêncio vai crescendo um lago de palavras...onde um cisne branco se espaneja na memória deixando promessas de criar do nada poemas de paixão, procura nos caminhos do vento ou nas paredes prateadas da lua a inspiração...sonha em cada linha, e caminha indiferente à solidão.

natalia nuno

devagar liberto o medo...


chega do mar a brisa,
e o sopro azedo do vento
e a vida precisa
de novo, o encantamento.
chega o Outono silencioso
com luz bruxuleante quase cega,
e o tempo sempre atento
me pega!
a vida é vasta ventura
é sonho não demora,
ah...esse tempo, faz tempo agora!

é hora, 
surge a morte com sua trama
o reverso de quem sonha, de quem ama,
e é tão mais triste
o poeta em mim morrendo,
vive morto a ver a saudade crescendo...

e dói!
sobe-me a dor à garganta, sufoca,
devagar liberto o medo,
liberto-me da aspereza da morte
e à sorte em segredo, 
sinto-me como ave que não sabe onde pousar,
agarro-me à vida que tem outras vidas
que procuro entrelaçar.

quero o tempo reter
enquanto puder
e depois devagarinho
seguir caminho
sem lamento, nem sofrimento,
talvez numa tarde de outono
como hoje, tocada pelo vento
e pela brisa do mar
apagar tudo do pensamento
bater asas e voar.


natalia nuno

o clamor do amor...


agita-se o lenço de seda branca
o coração agita-se em ritmo apressado
rítmico os movimentos dos nossos corpos
pouco a pouco, o gemido
das nossas bocas, loucas,
verdadeiro frenesim
o olhar incendiado
um deslumbrado momento de paixão
em ti e o desejo em mim
sentindo em borbotão o clamor do amor
o outono, a nostalgia, o riso, o verão no coração
de júbilo incendiados como velhos amantes,
ou recém apaixonados.

natália nuno

Este é o poema...


Este é o poema onde tu me despes

como se fosse tua,

onde me sinto nua e crua.

Da tua boca saem palavras loucas

estremecidas de ternura

e loucura,

e tuas mãos sem paragem

seguem p'lo meu corpo viagem.

E o teu querer actua

num ritual de ir à lua

e voltar.

Nada sei de ti...

Que sabes de mim?

Tu és apenas o poema que li,

o amor que não vai acabar

porque te quero tanto assim!


Deixo-me ir na lonjura,

na entrega, na emoção...

Viajo no teu corpo, banhada

numa corrente de mel

onde com ternura

dirijo a tua mão

que arrepia a minha pele.


Nos meus olhos desejos

na tua boca beijos.

De repente o silêncio

como se estivessemos ausentes

Só nossos corpos ainda quentes.


Assim nos amávamos

enquanto o poema ía nascendo!


rosafogo

natalia nuno

na memória das tardes...


na memória das tardes 
há silêncio constante
e um olhar distante
repleto de saudades,
ouço o voo das abelhas
e o trinar das andorinhas
fazendo ninho nas telhas.
absorve-me o pensamento
aquele momento
em que me enlaçavas pela cintura
era eu uma folha leve levada p'lo vento.

fingia que me eras indiferente
mas quase o chão me faltava
quando sentia tua ausência
de tanto que te amava!
sonhava encostar-me ao teu peito
perdia-me na suavidade do beijo,
hoje fecho-me por dentro
para não sofrer o desejo.
já a noite tomba e eu vazia,
esqueço tudo, até de mim!
como se fosse fácil chegar ao fim
deste dia sem de ti me lembrar.

livro-me das palavras
para não cair na tentação
saudade dói, finjo não sentir
mas a dor assalta-me o coração,
deixo-me adormecer nas memórias passadas
tinjo de côr estes meus pensamentos
caminho com as feridas disfarçadas
amanhã ganharei asas e novos alentos.


natalia nuno

Apetece-me...


Apetece-me virar meu olhar para ti
Ver-te como da primeira vez te vi.
Apetece-me aqueles dias de amor
Do banco do jardim ao sol-pôr.
Ouvir-te juras de amor eternas
na tua voz rouca...
Apetece-me os beijos que me deixavam louca
O teu sorrir quando te chamo
e te digo que te amo.

Apetece-me, roubar à noite mais horas
Num completo sonhar de felicidade
Na minha memória moras...
A deleitar-me o gosto p'la vida com saudade.
Esqueçamos as rugas amarelecidas,
nos nossos rostos caídas.


E ainda com ânsia o amor desvendar.
E quanto mais loucura
mais ternura...
Apetece-me tocar-te, mais uma vez!
Mais uma vez te abraçar...
Tantas as vezes que amor já se fez
Que é bom lembrar o passado...
Apetece-me no presente,
este amor em mim enleado.

Apetecem-me teus lábios encendiados
Insanidade...loucura!
Tenho meus olhos cerrados
Meus sentidos a fazerem-se rogados
Na esperança da tua ternura.


natalia nuno

Que horas serão?


Marcas da idade
Sinal de cansaço
Cicatrizes que dão saudade
de voltar
atrás no passo.
No peito bate um coração
Tenho tanto medo
Que me deixo
levar p'la mão.

Sou ainda aquela menina
Do vestido de organdi
E a saudade repentina
Ressuscita, tudo o que já esqueci.
Olho ao longe e
vejo
Violetas no jardim
Sento-me no banco, cresce o desejo
E a esperança ainda te traz a mim.

O dia já envelhece
Morre o sol no parapeito
Que horas serão?
Não é que me interesse!
É apenas este jeito,
de querer o tempo parar,
meus lábios dos teus
aproximar.

Apaguemos as luzes...
não vá a vida querer nos separar.

natalia nuno
rosafogo

ouvindo o coração...


à noite a ausência de sono leva a mente a um rumor longínquo, um rumor de água que canta, canta no rio, no telhado batendo forte, cerca a memória com linguagem dum tempo de resignação...inventam-se sonhos, dispõe-se a vida no silêncio, ouve-se o uivar do vento com insistência e é difícil calar a memória... a noite traz as sombras, já tudo dorme, menos os olhos do poeta que vai criando seu vôo da imaginação nas palavras, ouvindo o coração, as veias que se negam a adormecer, que despertam e incendeiam um mundo de sonhos perfumados e estrelas resplandecentes, como colibri vai dando asas ao seu livre pensamento e vai envelhecendo com os sais do tempo sem se aperceber que das sombras não poderá mais fugir...

natalianuno

A ver o dia morrer...


Vejo tudo tão distante
já nem lembro da feição
é como abolir da mente
e guardá-la para sempre
no coração.

Nem um sinal de alguém
só a imensidade do mar,
e a saudade que ninguém
quer, só eu posso aceitar.
Mais um ano, mais um dia
vergada ao peso todo.
E os sonhos? Na maioria
quebradas utopias,
longa espera...
rosários desfiados
para aliviar os dias.
E voltam à minha ideia
os momentos de prazer
olho o mar, sentada na areia
nesta tarde quieta
a ver o dia morrer.

Esquecida da vida,
ouço o canto das ondas
sonhar é uma necessidade
sacode minha melancolia,
e desaperta a minha saudade
despeço-me do mar e da tarde
levo comigo o silêncio inteiro
e o persistente sonho onde
canta a primavera
e no esplendor do amanhã
serei andorinha à espera.
há em mim uma febre mendiga
que embacia minhas pupilas
onde uma lágrima se abriga
e me submerge de esquecimento

natalia nuno

poemas esquecidos...


trago poemas esquecidos
criados com desespero
alguns sonhos proíbidos
por outros ainda espero

imagens no pensamento
caminhos de poesia...
alguns passos são lamento
que chorei por mim um dia.

deixei minha porta aberta
nos versos que fiz para ti
poesia incompleta...
já que de ti me esqueci

ficou meu dia sem horas
e minha vida um fracasso
não sei se ris ou se choras
sei que choro de cansaço

vou cumprindo minha sina
parando aqui e além...
a descansar desta dor fina
que não desejo a ninguém.

trago o coração fechado
sem encontrar solução
e verso a verso arrancado
a esta atroz solidão...

natalia nuno

o silêncio do meu inverno...


inclino-me sobre o espelho das águas amenas e choro minhas penas, abrigo-me dos dias de frio, fico ouvindo o marulhar do rio, as águas desoladas pressentem minhas mágoas e eu, como pomba que arrulha no ramo, segredo-lhes que existo, porque te amo... fica a vida lenta e sombria, e a luz do sol amarelenta ao anoitecer do dia...lembranças saudosas, são rosas e malvasias no meu peito, há alegrias ingénuas e emoções mimosas, que quebram a solidão, as decepções e o desalento... as aves apagaram os gorjeios nas margens do rio que corre em mim, esvoaçam no meu céu cinzento, em sombra e silêncio do inverno que me esfria, e vão poisar longe no chão da minha doce ilusão...onde ainda se vêem estrelas e restos de sonhos da minha juventude, rasgam-se meus dedos em vão, em estremecimentos de primaveras passadas

natalia nuno

este nosso amor...


Dá-me o que tens

recupera o fôlego

eu sou o rosto da fogueira

o vento do desejo

e às vezes da saudade

cansa-te no meu corpo

que o tempo dos sonhos acabou

não esperes milagre

nem tão pouco eternidade

tudo acaba, já tanto se calou

dá-me o toque dos teus dedos

ouve os meus gemidos

labirintos de segredos

espevita o carvão,

ateia a chama

e eu serei o fogo

que não se vê mas sente,

a areia ardente escaldante

deste nosso amor.

 

natalia nuno

rosafogo

flor de orvalho...trovas


aquele estado de graça

tanta a sua simplicidade

ainda o sonho a enlaça

lembrando lhe dá saudade


bate o sol lá na vidraça

prende a alma e o coração

naquele estado de graça

ser feliz era intenção...


por detrás lá da cortina

ainda o sonho a enlaça

ao ver-se ainda menina

naquele estado de graça


não passa e não convém

ser feliz era a intenção...

lembrar a banda de além

sempre move seu coração


a conversa fica à solta

ser poeta é sonho seu...

quando olha à sua volta

a flor de orvalho morreu.


natalia nuno

rosafogo


pequena prosa poética...


às vezes afundada no aborrecimento, deixa nas palavras vestígios de dúvidas que são como enormes gotas de chuva a bater-lhe na alma, mas a vida flui sem poder voltar atrás... vieram estrelas, cruzaram relâmpagos no cenário da sua existência, faz agora um rescaldo da vida e insiste, agarra-se aos momentos de mel e amoras, aos floridos sonhos da mocidade, e toma de novo as rédeas...o relógio esse continua a contar o pulsar, a golpear numa fúria que não termina, enquanto as memórias ficam esmagadas nas sombras das horas como despojos em silêncio, de repente o olhar fica vítreo e a voz uma amargura, o tempo levou-lhe a leveza dos passos e vai enterrando todos os momentos que ainda lhe pertencem...


https://flortriste1943.blogspot.com/
natalianuno

as flores do campo...


com tão pouco e tão felizes as crianças da minha infância, tudo e nada tínhamos, porque o pouco era muito, o pãozinho do forno de lenha, as flores do campo, as canções dos grilos e das cigarras, as poças d'água para saltarmos, e um sonho a cada manhã, poder brincar na rua com asas pespontadas de alegria, com os cabelos ao vento correndo rua abaixo, rua acima, com a benção do sol e a ternura dos pássaros que nos espiavam para que deixássemos os ninhos em paz...fomos felizes sim, por isso ainda trazemos esta saudade fecunda em nós, nossos olhos roubavam a luz ao sol, enquanto ele nos dourava a pele, enquanto voávamos de pés descalços, com a gratidão ao rubro por tanta coisa boa.. a aldeia fermentava de sabores e cores tão nossos conhecidos e à noite o vento cantava por entre as frestas do telhado, enquanto no braseiro se aquecia o café e sonhávamos, sonhos fumegantes, até chegar o sono e adormecermos em paz... na manhã seguinte tudo retornava, as brincadeiras ébrias de alegria com os companheiros, os saltos e correria...hoje fecho os olhos apago-me no silêncio e rememoro as minhas raízes na aldeia onde sempre era primavera e os pássaros vinham pousar nas glicínias da mãe.


natalia nuno

nos meus versos...


nos meus versos há folhas

engrinaldadas

e trepadeiras em busca de luz

esperanças esverdeadas

onde se projecta a sombra

da minha cruz...

nos meus versos há chuva de

outono,

e o tempo divide-se em pedaços

por lá meu coração deprimido

fiadas de pequenas flores

que cercam meus passos.


nos meus versos, há um saboroso

tempêro

que transformo em deliciosa

guloseima

voltar a lê-los sempre espero

logo que a saudade teima

os meus versos ostentam meu amor

por Deus

para mim misteriosos

são os desígnios Seus...


nos meus versos há pedacinhos de

arbustos, mimoseira em flor

e passarinhos a chilrear

há amor, muito amor

e mais vontade de amar...

nos meus versos há um caminho já

estreito

onde o tempo corre e conjura

e um riacho em cujas águas me deito

e olho minha terra com ternura


natália nuno

rosafogo

a saudade e o vazio...


hoje só oiço o vento passando,
uivando,
amplia a saudade e o vazio
acabou-se o gozo do verão
e à minha imaginação,
vêm manhãs enoveladas
e cheirosas madrugadas
com aroma a flor de laranjeira,
e que bem cheira, na
memória que já perece 
mas parece que renova,
como pássaro que se liberta,
e esquece até vida incerta,
assim sou venturosa inda que pobre
tenho os pés assentes na terra
e o céu é cobertor que me cobre.

a vida que tanto me arrasta!
sinto nela sempre uma mais valia,
a paz e o amor a mim me basta
que seja a morte tardia.


natalia nuno

pensamento... solidão


às vezes surge o desanimo no obscurecer dos anos,
fica o voo indeciso, a vida um desconcerto
mas há sempre um oásis
no meio do deserto
para a alegria do passeante solitário

natalia nuno

a janela pequenina...memórias


a janela pequenina... memórias...

A minha história não faz parte do imaginário, é bem real, escrita com palavras simples, autênticas e animadas, é quase mágica a lembrança do céu azul da minha aldeia, trago o rosto queimado do sol que resplandece nesse céu imenso, meus pés caminham sobre o lodo do açude com cautela, agora vou atravessar a margem do rio para a outra da banda de lá , coberta de relva orvalhada, ali uma romãnzeira com frutos embriagadores e mais ao lado nos canteiros de flores e nos fetos à beirinha d'água voejam insectos coloridos obstinados a prosseguir a sua luta pela sobrevivência, diante dos meus olhos a pureza das coisas desse tempo, como que a convidar-me a sentar de novo ao colo da mãe, mas os anos passaram e só o azul do céu continua lá, é difícil separar o sonho da realidade, pois os meus mortos continuam na minha memória tão amados como então. Às vezes apetece-me ficar só sem pronunciar palavra e penso neles, com os olhos semi-fechados consigo vê-los e a sensação é a de que não estou sozinha...mas hoje a minha tarefa é a de percorrer a aldeia da banda de cá para a banda de além, e encontro tantas referências, na verdade lá continua a casa com a janelinha da cozinha pequena, e a outra do quarto da avó mais à direita, meus olhos ficam ali a repousar neste fio de tempo que não se quebrou, como se a vida dependesse deste sonho. Subo o carreiro com alguma ansiedade, me alivia saber que me aguardam, que não estou esquecida, já os oiço a tagarelar, permito-me seguir em frente antes que o sonho acabe, ou me falte a força nos dedos para escrever... e em palavras cunhadas de amor lhes grito... Óh céus! Estou aqui! Mas faltam-me as forças o sonho finda ... não chego a saborear este momento de felicidade.

natalia nuno
rosafogo
imagem da net

pensamento... sonho


no alpendre do meu sorriso, a saudade és tu...a memória corta o silêncio e os teus lábios colam-se aos meus...

natalia nuno

pensamento...


a beleza das coisas simples...dias há em que encontro a sede das palavras bem no centro das minhas mãos e no mistério das linhas, eu leio instantes inacabados, sem que alguém me escute...

natalia nuno
https://pensador.uol.com.br/colecao/nataliarosafogo1943/

liberto os versos...


posso queimar todas as folhas

há só um senão

nada restará, nem o sonho

que ainda ouço de noite às vezes,

que a seu tempo acabará

quando a respiração for sustida

ao final desta alameda que é a vida

aos poemas dou nova oportunidade

retiro a condenação,

mas há um senão

que faço da saudade?

poemas ilusões por mim geradas

fazem parte de mim mesma

são mais fortes que todas as razões

são minha carne, meu pão

meu prazer, minha paixão

ilusões? pois que sejam ilusões!


o bálsamo com que mitigo a dor

o azevinho com que enfeito o natal

a quietude e o vendaval

a corda que me prende ao cais

custa-me a acreditar

que os queimaria e não os sentiria vivos

jamais...

vou mantê-los em liberdade

como o perfume das flores pela campina

e dizer-lhes da minha saudade

desse tempo de menina.


as flores encherão a terra

os versos flutuarão alheados ao tempo

só o eco da adolescência passada

virá ao ouvido ainda

derradeiro eco

neste poema que finda.


natalia nuno

rosafogo


sonho...dá-me o que tens


era a tua mão que me agarrava

e me prendia

era o sonho  que me atraía

era a escuridão do caminho

o pesadelo

era o eco que  ouvia

da saudade

no meu coração rasgado

clamando por claridade,

por amor, por afecto

eram as primaveras esperando

era o silêncio dos corpos

o suicídio dos sonhos

era o pensamento circunspecto

 

meus olhos segredos são

de quem é este amor

que neles corre?

ai a saudade...

que vem em direcção a mim,

vagueio sozinha no tempo

neste tempo sem fim

embalo-me na ilusão

deste amor que ainda queima

e é jugo de sedução...


natalia nuno

rosafogo

 

tantas marés...


 a vida tem tantas marés
sinto-lhe o pulsar
minhas palavras sulcam terra e mar
audaciosas, sem temor,
vêm ao ouvido sussurrar
como é bom viver com amor
palavras que são orvalho da minha alma
são a chama que me aquece,
e «nunca se esquece que a vida palpita»
d'amor e saudade,
faço delas minha prece, enquanto
meu coração de exaltação grita.

lembranças duma data já sumida
vozes de vida perdida, olhares que deixaram de existir
desmaiados traços de rostos,
tudo desarvorado na memória a querer emergir,
nesta busca inefável dos sentidos,
lembranças numa infinidade de molduras
que o tempo não apagou,
ternuras e sonhos que o tempo calou.

há momentos sem idade, e
«nunca se esquece que a vida palpita»
só quem viveu, sabe, que a saudade
é luz que na aurora, alumia o caminho afora
é sentimento que no coração não cabe.
ah! esta dor de lembrar que me consome
sem nome, nem idade,
comparável ao desamor, que assim,
habitará para sempre em mim
envelhecida na saudade.



natalia nuno

rosafogo

 

escrito na aldeia 29/02/2014

 

trovas que não calo...


outro dia foge sem q'me apresse
outro virá quer queira ou não
é assim que a vida acontece...
e vai caindo na solidão...

de melancolia sou escrevente
poeta dizem,.. eu não sei não!
coisas trago no labirinto da mente
saudade que lhe chega do coração

se a poesia é meu alimento
segredos que só ao papel falo
o destino não seja mais cruento
que de dores e amores não calo

enfuno as velas do porvir
numa ilusão fugaz de calmaria
o mar encapelado olha-me a rir
eu sei...que amanhã é novo dia

sou mar no riso e na loucura
trago a boca gretada pelo vento
digo palavras d'amor e ternura
faço poemas ao firmamento...

trago a sangrar dentro do peito
numa insondável sede d'amar
um poema triste insatisfeito
de solidão que não sei calar

brotam poemas, dor e ansiedade
mas eu adoro, eu sei que adoro!
sou poeta d'amor e saudade
como voz do sino às vezes choro.

natalia nuno

Instantes que se esfumam...


Levantou-se o tempo enlouquecido

e a galope levou-me o coração

sem sequer me ter ouvido

levou-o por entre a multidão.

Afunda-se a minha vontade

na memória  o esquecimento

só permanece a saudade

por entre o silêncio...


Estremeço no pavor da hora

calaram-se os que me amaram

seus pensamentos são segredo

e enquanto o tempo me fustiga,

ondulo como uma árvore a medo

trago meus sentidos parados

o pensamento fugitivo

e o sonho já não faz ruído.


Desnudei a alma

mas o corpo trago erguido

como que amanhecido

esquecendo a fugacidade do tempo

e a felicidade volta a mim de novo

existo, crio forças, o sol brilha

como já o havia visto,

conservando-me um pouco de frescura.

Velho tempo saqueador

passou, e a tristeza

então levou...

Deu tréguas ao meu peito ferido,

me entrego à vida

não quero meu vôo tolhido.


natalia nuno

rosafogo




poema da desmemória...


Nada pode mudar o tempo

incessante, nem sua impiedade

só a memória procura claridade

em um ou outro instante que ainda

no peito me arde

o tempo desdenhoso fere-me de saudade

e o horizonte do poema obscurece

e assim permanece triste,

num estado de letargia

esqueceu de celebrar nossa festa

mais íntima, o teu falar-me

ao ouvido, de incendiar nossa hora,

falta-lhe o que sinto e o que sonho

a alma da saudade que chora,

a solidão de quem procura

um pouco de amor,

outro tanto de ternura.


Nada pode mudar o tempo

mas o Poema não esquece a verdade

do que guardo em mim mesmo

nem nosso amor vestido de simplicidade,

o riso ou a lágrima da minha saudade,

e as páginas que ficarem despidas

ainda assim me ouvirão,

apaziguarão minha alma e minha vida.


O Poema é o esconderijo, o abrigo,

a lágrima solitária que trago comigo.


natalia nuno

rosafogo



Ironia...


Hoje perdi-me na fonte
Longe, muito para lá de além
Deixei-me a olhar o horizonte
A ver o sol morrer e eu também.
Na memória a vida inteira
E a cântara ainda vazia
A fonte ali à beira
E eu com sede, que ironia.

De barro a cântara é feita
E quebra com facilidade
Quebrado meu coração se deita
Sofrendo de doida saudade.

Enquanto esta dor depura
Me deixo a olhar o céu
A memória já não tem cura
Uma teia de luz lhe valeu.
Vejo a fonte a secar
A noite é breve, o dia finda
Vem a morte celebrar
E a cântara vazia ainda.

Lembra-me a terra onde nasci
O chão pisado na infãncia
O caminho que percorri?!
Era de barro, quebrou
Não sobra um palmo,
só a distância...

E, saudade que restou.


natalia nuno
rosafogo

esquecimento...


perdi as lágrimas

na água solta do rio

que corre para qualquer parte.

no ar,

    vazio

        meu pensamento

viaja e esquece,

até de amar-te!

 

onde posso chorar?

meu coração é um oceano a sangrar

de ti sedento.

 

passo na dor unguento


natalia nuno

romã

 

enquanto nos amamos...


tão pouco me resta
olho o sopro do vento
que a árvore abraça,
e o meu pensamento
prende-se ao momento
que o teu braço m' enlaça
enquanto nos amamos
acrescentamos à realidade
um pouco de saudade,
partilhamos prazer
nosso amor é puro vinho
que bebemos com lentidão
saboreamos, para não esquecer
que a felicidade
está na nossa mão.

natalia nuno

onde me sei...


cada verso é a chave
da minha alegria
é como escutar uma melodia
é o resplendor da esperança
tudo o que ainda no meu sonho
cabe...
cada verso vem vestido de aroma
novo...
com a frescura do tomilho
a sensualidade da rosa
cada verso é um filho
que traz a força, que vive
e que ama
cada verso é a chama
é o recordar de tudo que amei
teu corpo despido
onde me sei...
natalia nuno

este afecto...


instante da entrega

serei tua se  me quiseres

meu coração do teu

não despega

este afecto que há muito nasceu

foi talhado no céu,

prevalece no tempo,

o destino o marcou...

foi Deus que assim destinou

 

romã

natalia nuno

 

meu caminho, meu destino...


Percorro este meu caminho
nem depressa, nem devagar
Nem sei mesmo por que caminho!
Se não tenho pressa em chegar.
... Vou num passo vagaroso

Num interminável arrastar
Levo o coração saudoso
Pena não puder ficar.
Sigo um pouco à sorte
Não levo rumo nem destino
Trago o rosto voltado a norte
Sou como o sol... peregrino.

Levo o sonho no olhar
Nos cabelos estrelas de prata
Meu peito é barco a navegar
E no coração raizes que a vida ata.
A minha voz por aí se propaga
Em versos de saudade
Acordados na madrugada
Ansiosos de liberdade.
Versos da minha infância de ser
São a minha fragância, a minha respiração
A combustão...
Para o caminho percorrer.

natalia nuno
rosafogo

diz-me tu...se fores capaz...


diz-me tu...se fores capaz.
olho o horizonte com lentidão
olho as sombras fatigadas da tarde
inquieta-se a minha imaginação
e nos meus olhos irresistível saudade
há um silêncio ensurdecedor
ao meu redor, sobeja um tempo duvidoso
os meus dias são folhas sem vida
e eu confundida nem lembro,
se é já Outubro ou ainda Setembro
se entrei no inverno e me sentei
à espera de lembrar tudo o que esqueci
nos dias lentos de Setembro
e se de mim não lembro?
- lembro de ti!
lembro do Maio florido
onde tudo era possível querendo,
lembro a ventura, o sonho apreendido
hoje olho o sol no horizonte morrendo,
e já não lembro porque de amor por ti
morri...
«dize-me se fores capaz»,
se ainda tenho o meu lugar
se não anda longe de ti meu coração
se o teu ainda vive para me amar
«dize-me se fores capaz», que já não
lembro não!

natália nuno
rosafogo
 
 
 
 
 
 

 

 
 
 
 
 

festim...


no mar do teu corpo me perdi

inteira diluí-me na tua corrente

no furor da rebentação

vales distantes percorri

entre o prazer e o sonho...

e os aromas da paixão


o sonho me enlaçou como uma hera

em horas de delírio e rendição

e o amor me rodeou com sua dança

em impulsos vorazes de desejos

assim prossigo inteira nesse teu mar

neste sonho que é tão meu e teu

prisioneira dos teus beijos

do nosso amor, nosso festim

certeza de ti e de mim.


na loucura dos instantes

mesmo aqueles que não tive

fui água amanhecida

sedenta

como riacho de verão

nos dias que se apagavam sobre si

numa lânguida lentidão

com saudade de ti.


natalia nuno

rosafogo


para sempre me amarás...


encosto-me aos dias, perdida
de mim, as horas passam devagar
faço romagem ao passado
relembro recantos de onde vim
e de tanto caminhar,
aperta-se um nó no peito
fica a alma um deserto magoado
já tardadas, mas esperadas surgem as inquietações
esqueço os sonhos e as ilusões
fico em silêncio, já não sou ave livre
sou sim a que vive
presa neste corpo para sempre
os passos já se me quebram
cumpriram tantos caminhos!
e em todos descobri
que não há rosas sem espinhos.
apaga-se a vida devagar
mas sobrevive o meu amor por ti.
que te posso eu oferecer a troco dum olhar?
ofereço-te o céu imenso, ou os raios do sol
sobre o mar
resta-me a a satisfação audaz
que para sempre me amarás.

natalia nuno

por te sentir e amar...


por te sentir e amar, sinto angústia por te perder, é dado amar sempre mais, não importa que um de nós adormeça primeiro, quem ficar agasalhará no peito a primavera deste amor...como se nada houvesse mudado...nada separa o que não pode separar-se...numa pequena barca atravessámos o rio, desatentos, não demos pelo tempo que caminhou ao nosso lado, breve, como a sombra duma ave que passa...

natalia nuno

o tempo me toma...


embalo sonhos junto ao peito, e por entre eles desdobra-se a vida.. prepara-se o voo, serei gaivota à espera da maré... na praia deserta marcas de saudade...

natalia nuno

volta de mansinho...trovas


ouvem a menina do baloiço

ainda no baloiço a baloiçar?

olho para trás e ainda a oiço

como que por mim a chamar

vêem como a mim se enlaça

protege-se da sua fragilidade

não a derrube o vento q'passa

e a menina chore de saudade

vêem como baloiça tão alto

como a querer chegar ao céu?

deixa em mim o sobressalto

se lhe dói, dói o que é meu

ouvem o ranger dos ramos

que suportam seus sonhos?

inquietantes dias, tamanhos

apanha amoras e medronhos

vêem-na n' ondas do centeio

nas tardes nuas de verão?

atravessou m'ha memória veio

adormecer no meu coração

vêem como é ave que voa

livre, de asas estendidas?

não há saudade que não doa

é ela bálsamo das feridas

natalia nuno

rosafogo

raízes soltas...trovas


as saudades do costume
perseguem meu endereço
trazem com elas o perfume
d' dias que eu não esqueço

quero estar ou ir embora
hesito, duas vezes penso
ainda não chegou a hora
é aqui que eu pertenço

dos meus olhos sou dona
e desta letra miudinha
Poesia não me abandona
nem esta saudade minha

tenho insónias e temores
mas tenho livre o pensar
se na vida tive... amores?!
hoje vivo para recordar

para aliviar meus dias
lembrar os que já lá vão
vou escrevendo poesias
que pão e vinho me dão.

natalia nuno
rosafogo

resta um sopro...trovas


o que falta ainda viver

aperta-se ao nosso redor

não há tempo a perder

é agora o tempo... amor


tudo ontem era nosso

nada temos a perder...

ao rítmo da queda posso

e quero ainda viver...


atearei ainda teu fogo

até que se esgote o ar

em tua boca me afogo

és lenha pra me queimar


nos olhos o céu se alaga

sem ti nada faz sentido

peço a Deus que nos traga

mais um tempo con(sentido)


somos raízes do jardim

lírios brancos esvoaçantes

vivo em ti e tu em mim

eternamente dois amantes


do jardim mesmo perfume

somos pétalas que restam

trazemos a vida no gume

mas sonhos se manifestam


natalia nuno

rosafogo

o riso...


o riso se entretém na minha boca

a saudade me aquece na solidão

neste tarde chuvosa e louca

gargalhamos dando a mão

enquanto sonhamos

já levamos a vida inteira

trazemos tudo na memória

onde até a alegria é ilusória

o sonho furtivo

porém ainda vivo.

 

quando a nostalgia é

nossa companhia

descanso o braço no teu braço

a vida é ainda generosa

e eu amo-te...

 

 

romã

natalia nuno

 

gota d'água...


Será luz a nova flor que se abre? Permanece o silêncio... talvez só uma comovida flor que o orvalho resolveu golpear, num prazer desperto de levar para longe a semente, com a promessa de fazer tremer a gota de água que a fará germinar...se te amo, é porque deixas o teu perfume a cerejas silvestres! Dá-me a tua promessa, acende meu arco-íris de prazer antes que enferruje a minha esperança e as palavras me resvalem na garganta...como um tíbio raio de sol, onde a claridade já estremece.

natalianuno

amor feito desejo...


Mas é pura e serena esta alegria 
em que me deixo perder!
Vivo e alguma coisa embriaga o ar
aqui, ali, a esperança, e sempre a fé,
não deixo de reconhecer
que ando agora mais devagar.

Posso olhar-me!
Alegrar-me...
Com olhos espantados
e a interrogação na boca,
depois de tantos passos dados,
ainda confio e estendo os braços á vida,
e vivo-a, louca.
Como a água viva que corre e canta

e é sempre  jovem!

Reconheço-me forte
avanço por entre a multidão
com o coração a pulsar,
acolho o amor e com sorte,
me entrego enlouquecida,
ao amor... a te amar.

Meu peito bate lento,
duma forma perfeita
não há solidão nem esquecimento,
quando a lua cai sobre nós
e aí se deita.

Há muito que meus olhos verdejaram
há a memória ainda fresca desses verões
quando os teus me olharam e amaram
e em uníssino bateram os corações.
Ainda que a vida nos fustigue
e nada seja como dantes
o amor será sempre a verdade
que crepita nos nossos instantes.

Este mistério que nos causa saudade
fogueira onde nos aquecemos
verdor dum bosque onde nos perdemos
amor feito desejos
vivos!
Sonho que não faz ruído
meu coração e o teu cativos
e as águas velozes correndo
no mesmo sentido.



rosafogo

natalia nuno

miragem...


uma miragem branca passa pela mente, e esta vai macerando o esquecimento, mas nas sombras dos teus olhos, consigo ver com os meus, que o amor é mais forte e tenaz que a confusão e o caos que às vezes quer apoderar-se do pensamento e apagar o odor a madressilva, o mel quente e o prazer que ainda nos atravessa...no oásis da memória continuam os sonhos como milagre, numa claridade distinta onde permaneces e eu continuo a amar-te...não fugiram de mim recordações que são astros vermelhos de verão a morar no meu coração.


natália nuno

o suavizar do dia...


Ah se não fosse o ponto
esse minúsculo ponto
donde parti,
pequenino, que me trouxe até
aqui,
me traçou o destino e é raiz
em mim.

Ah se não fosse essa linha
traçada, essa estrada
onde vive a minha liberdade
e a saudade
neste cair da tarde,
onde ainda mora em segredo
o sonho, sem medo.

Ah se não fossem os becos
da aldeia e o rio , lembrança
que à minha alma se enleia
tecendo teia
e é melodia ao ouvido,
vinda lá donde
era criança.

Ah se não fosse o salgueiro
a emprestar-me a raiz
e a suavizar-me a travessia
a destruir a barreira do tempo
até ser outra vez dia.

Ah se tardasse o anoitecer
como seria bom viver
renascer, habitar de novo
a vida em abundância
e voar, voar na estrada da distância.

Ah mas como tudo está longe,
longe e perto dos sentidos
ontem, hoje, aqui e agora
onde sonho acordada
onde agasalho como outrora
a vida.

natalia nuno
rosafogo

Quero II...trovas soltas


quero sonhos, são meus
quero-os roseiras em flor
quero sorrir aos olhos teus
dizer-te amo-te, com ardor

quero fazer versos à solta
semear letras ao vento...
quero alegria à minha volta
ser-me poesia chão sedento

só preciso dum abraço
me sustente a coragem
trago na alma o cansaço
desta tão longa viagem

as noites trazem perfumes
estrelas lâmpadas d'ouro...
trazem os dias azedumes
e aberto na face o choro

correm lágrimas a fio
sufocado é o soluçar
a inspiração é arrepio
deixa o Poeta naufragar

estas páginas são tristes
nelas vincos do passado
o que nos meus olhos viste
vem do coração agitado...

depois que importa morrer
se só memórias o que ficou
se só é triste o meu viver
e tudo depressa passou?!

quis o destino... assim quis
agora os dias venturosos
ainda que pobre mas feliz
memórias, tempos ditosos

natalia nuno
rosafogo

Maio 2005

não me encontrei...


não me encontrei
nem a lua me soube dizer de mim
e a primeira pomba
que avistei
vinda dos confins,
pousou no sonho
no céu vazio
e a noite nos cobriu.

não sei da saída
não me encontrei...
nem no berço mal nascida
nem na penumbra da tarde
mostrem-me a saída!
ou para sempre morri?
o meu sol já não arde?!
de lágrimas o sonho poluí.

não me levem a lembrança
deixem-me a doçura no peito
separem-me até da esperança
deixem-me neste morrer perfeito.

quando me encontrar!?
enfrento-me...
e se a agonia voltar
erguendo-se no meu sonho,
hei-de as lágrimas amordaçar
e como criança perseguida,
hei-de encontrar uma saída.
procurar-me-ei até à exaustão
nos escombros da luz
que ainda existe,
em meu coração.

rosafogo
natalia nuno

Como? Não faço ideia!


Gaivotas rasam o mar

o sol se ocultou

a bruma faz-se sentir

misteriosa

como o futuro por vir,

tudo passou

num passo de mágica,

fugaz, pouco mais que um tempo

dum beijo ou dum abraço.


E esta minha vontade de escrever

de fazer e não fazer

às palavras a satisfação,

mas se um sonhador destino

me traz este cegar divino

esqueço a inquietação,

o vazio

e assim, a tristeza, onde a sinto,

a alivio.

O meu sonho é gigante

e sorrio com ironia, minha vida

arquejante...

como foi que deixei morrer

mais um dia?

Utopia, a vida

castelo de areia que ruiu.

Como?! Não faço ideia!


natalia nuno

rosafogo

algarve 12/04/2014

gota d' água...


tantas mulheres q' me habitam
umas vão,
outras ficam
umas vivem fora,
outras dentro de mim
nunca tantas como agora
tantas que não têm fim!
o futuro já não as vê
já ninguém acredita,
só a presente ainda crê.
tanta em mim encarcerada
pensando que têm tudo
acabam não tendo nada!
uma deprime e me arrasa
outra vem e me contenta
outra vai batendo asa
fico só eu de amor sedenta
porque é de amar-te
que meu coração vive
e assim o sonho se vai
perder-se onde escondo a mágoa
e dos olhos me cai
uma lágrima, gota d´agua.

natalia nuno

lugar sem nome...


estou hoje num lugar sem nome
meu coração no silêncio entrou.
já a vida se some
de tanta ansiedade, triste ficou.
o pessimismo apaga a chama do meu olhar
neste lugar sem nome, aqui
onde a harmonia podia germinar
onde cheguei e tanta vez te senti,
hoje inquietação, o que posso vislumbrar.

e pensar que tantos sonhos tive
dentro de mim a esperança sempre acesa
e ainda a criança que em mim vive
vai sonhando esquecendo a vida e sua aspereza
os sonhos são ilusões perdidas
ocultam-se na mente com amargor
e nesta terra sem nome 
eu sinto a dor
da vida que se some.

não sei onde ir buscar mais vida, emoção
agora vive em mim apenas desalento
os dias jamais florirão
cairei como eles no esquecimento.


natala nuno

há sempre um final...trovas


há uma luz que se apaga
e outra luz se reacende
se o meu tempo se alaga
jaz a alegria lentamente

secreto é nosso futuro
mas é uma fuga talvez!
no tempo ainda procuro
morrer e nascer tanta vez

a vida é grande casulo
onde vivo enclausurada
e nem o tempo regulo
traz me a morte apertada

e é nesta minha lida
q' escrevo algumas trovas
assim renasço pra vida
trago sempre algumas novas

o que passou já não vem
dito isto, digo mais nada
para quê julgar-me alguém
digo à vida " Obrigada"!

e onde irei virar pó...
será um descanso final
lá não me sentirei só
nem o bem e nem o mal

ficarei, até ficar...
até que a terra me queira
seja o sonho sem acordar
a livrar-me desta canseira.

natalia nuno
rosafogo

há um sonho...


há um sonho

que me acorrenta,

outro me leva até ao infinito,

sonhos que o sono inventa

que me transformam numa ave

me enchem de  negrura

outros de felicidade

a sonhar com um amanhã feliz

tendo a vida algum significado

voar, cortar os ares,

ou a deixar-me no meu espaço fechado.


há um sonho

onde não há mais lugar

onde não posso chegar

mas onde sinto liberdade

para novas ideias para a verdade

caminho de felicidade,

agarro.me ao sonho

onde sou criança a brincar

apraz-me sonhar o passado

reaver os tempos da meninice

onde me sonho pássaro leve

que muitos mais sonhos não teve.


há um sonho

em que o tempo me foge

não é de ontem nem de hoje

sonho onde se avoluma a saudade

onde me sinto viajante

pisando o chão verdejante,

onde se enraíza meu coração

onde o vento é leve,

onde há silêncio e solidão

e vou ao encontro da minha loucura

onde circulam meus pensamentos

meus sentimentos, onde invento

minhas musas com ternura.


natalia nuno

rosafogo

meu sonho nasce onde?


Meu sonho nasce onde?

Sonho duma vida cumprida

sonho que se desfolha

como o cair de folha a folha,

na cena da lembrança...

Dou comigo a sonhar-me,

vejo-me criança

e vou para mim a correr

dou a mão à madrugada,

vou sempre ao mesmo paradeiro

fico de vida cercada

nesse longínquo Janeiro.


Meu sonho é oração rezada

nele volto ao passado

e há frescura e perfumes

no ar

descubro meu olhar molhado

deixo-me de saudade chorar

Nesta dormência, volto lá

ao tempo da inocência,

lá, onde venturas sonhei

e é lá, onde me sonho

que sempre me acharei.


o amor já não arde...


estendo a colcha de renda
sobre a cama
ouço o bater do coração que te ama
os lençóis estão frios
e o poema ainda mal começou
inconformado com sonhos vazios,
angústia me causou.

dizendo-me baixinho:
segue, e deixa-me p´lo caminho!
um gosto amargo aflorou-me à boca
quase morri por coisa tão pouca.
ás vezes é um verso que desaba
por um  motivo qualquer,
logo o poema não acaba
queda-se em mim a sofrer.

se o amor já não arde
foi-se o tema, já é tarde!


natalia nuno

tempo abrupto...


este tempo que asfixia
que morre ao lusco-fusco
sem sol, sem risos, sem alegria
dias de amargor, tempo brusco
nem o céu tem côr
nem a vida mais oportunidade
floresce a dor e a saudade.

há flores a chorar p'los jardins
e rostos de olhos baços,
não florescem os jasmins
nem entrelaçam nossos braços.

não há pomba que traga a paz
anda por aí o sonho ausente
chorar ou não, já tanto faz!
chega a morte com a voz estridente.
remoto fica o passado, 
resigna-se o presente
o futuro já não há quem o sustente.
ferido e inseguro, passa e trespassa
a alma de quem padece,
tempo abrupto, que ninguém jamais esquece.


natalia nuno

pensamento




Sobre o mar sereno dos pensamentos. surge de quando em quando uma nuvem negra que se avoluma e faz bater o coração a um rítmo

quase doloroso.


natalia nuno

ao Deus que nunca vi...


dedilho o terço

ao Deus que nunca vi

mas que sei que está aqui.

aqui, nas macieiras floridas

nos ramos das nossas vidas

nas igrejas e catedrais...

caem meus pecados ao chão

sou humana,  vou pecar sempre mais


florescem arbustos no peito

viro terra sem mácula

crescem em mim os lilázes

viaja em mim a primavera

Deus quer-me ser perfeito

saber-me anjo quem dera!

mas faço parte da terra,

nem sempre a ventura me espera


Jesus me olha da parede

e eu com o terço na mão

ébria de sonho e de sede

nem vejo se me sorri ou não,

elevo meus olhos ao céu

pesa-me o peito o Seu rosto é triste

misericórdia...triste está agora o meu...


Há pregos espetados na nossa solidão.


natalia nuno

rosafogo


lenço da saudade...trovas


destas minhas mãos vazias
caem pétalas uma a uma
são cansaços de meus dias
s/ esperança de coisa alguma

trago na memória antiga
pássaro que m'estende a asa
trinando a mesma cantiga
q' trinava no telhado da casa

pra q' eu saiba donde venho
não me larga o pensamento
passado é tudo o que tenho
como estes versos que invento

outro modo de voar eu não sei
a vida só a sonhar faz sentido
morrendo já... nada aqui direi
já meu coração... é de vidro!

deixo-me ir antes que alguém,
sempre encontro uma saída
vou de jornada, e de ninguém
quero fazer minha despedida

aceno de longe um lenço
todo enfeitado de saudade
então percebo que pertenço
ali, onde busco minha verdade.

já q' o tempo me vai fugindo
a toda a hora... mingando...
fecho os olhos, vou fingindo
que sou eu... quem comando

a saudade é-me tão familiar
prende-me a coisas pequenas
leva-me no tempo e ao voltar
fica em meu coração a morar
pra que esqueça minhas penas.

natalia nuno
rosafogo
2011/6

teço sonhos...


há silêncio no meu peito
a noite vai madura
e o luar o meu rosto emoldura
trago a esperança a madrugar
na esperança de ver-te chegar.
a saudade cresce de mansinho
pressinto-te a cada hora
a estreitar-me nos teus braços
pela noite fora...com carinho.
então sou flor aberta
aroma que a ti se oferta.

quando o luar se esconder
vou-te dizer
- és tudo o que a vida tem
pra me oferecer
trago lembranças e saudades tuas
passaram por nós tantas luas
hoje já não temos noites de luar
os sonhos esses sim, inda são meus!
no peito, o mesmo coração para te amar
nos olhos, a cegueira de olhar os teus.

natalia nuno

 
 
 
 
 

 
 
 

 
 

 

anoitecem as rosas...


anoitecem as rosas,
que irão morrer de madrugada, 
e há sempre um verso que me foge
ele que era chão da minha jornada
sempre há um que me aguarda
e outro que regressa e se entrega
fiel e meigo, ternurento me pega.

vem o sol que dia a dia
traz promessas, e retrocede a tempestade,
acaba com a tristeza que em mim existia
e as rosas, que morrem deixam saudade
impossível o tempo travar,
como é frágil a minha estrada!
vêm meus pássaros entoar
cânticos na minha voz magoada.

doida por morrerem as rosas
digo-lhes adeus sem despedida
em mim secam palavras amorosas
com elas me foge a frescura da vida.


natalia nuno

miragem...


já não sei o que dissemos
de tanto que falámos
de tanto que vivemos
de tanto que amámos
já não sei dos afectos
nem do amor em voo alto
dos sonhos de amor repletos
só sei da vida em sobressalto.

não sei do amor que em mim se agita
que é como areia do deserto
ora certo, ora incerto
em desespero no íntimo grita...
amor feito de plenitude e liberdade
perfeito, amor que é agora saudade.

hibernaram as palavras entre nós
já não sei o que dissemos
a vida deu tantos nós
que com calados silêncios a pusemos.
no sonho que não fecundámos,
dos versos que não te li,
à tona de água naufragámos,
eu na dor da ausência morri.

nas horas amargas da solidão
sombras  adensam no pensamento
são tudo o que resta da paisagem
surgem com a força do vento
e rugem como trovão, 
são da vida, uma miragem...


natalia nuno

entrega...


viaja a boca até à boca
paixão, loucura feitiçaria
e já a mão se desloca
o desejo cresce esfuzia
nos rostos a alegria!
o entusiasmo redobra
coisa louca
os beijos da tua boca
e o meu corpo te cobra
que seja dia de festa
e o que tem de melhor?

-a entrega ao conquistador
e eu me entrego com amor
no sonho com sabor a mel
que arrepia nossa pele...


natália nuno
rosafogo
imagem pinterest

mais um abraço...


em delírio prendes-me num abraço
e o dia tem outra claridade
este sonho eu faço e desfaço
quando me chega a saudade
imagens instalam-se no labirinto da memória
sem que nada aconteça passa o dia
surge a desmemória
a saudade avança...traz a letargia.
o relógio continua a pulsar sem tempo
até que eu já mal me reconheça
no pensamento se tudo é cinzento!?
coloco um sorriso,
para que o sonho aconteça
o silêncio da noite é misterioso
e o amor ali se esconde
dentro de nós, tão perto, não sei onde!
há uma fonte que em mim murmura
que é como grito de aflição
na busca incessante de ternura
neste dia de infinda solidão.
sigo caminho dando mais um passo
enquanto sonho,
que em delírio, me dás mais um abraço.

natalia nuno
http://nataliacanais.blogspot.com/

ébrias fantasias...


apanhou-nos a lua em nosso leito
amando-nos do nosso jeito
em redor tudo se aquietou
o vento na varanda suspirou
e na penumbra do quarto
a ventura por nós guardada
os corações pulsando dentro
do peito, ébrias fantasias
a sede recuperada
e a felicidade conquistada.
o desejo vai e retorna
como uma audaz primavera
ou como uma luz que se estende
morna...
agora a quietude, depois o movimento
livre o corpo e o pensamento
da doce batalha, apenas
uma testemunha, a lua
fazendo-nos insistente companhia
num silêncio macio, até nascer o dia.

natalia nuno

trovas...


trovas...................

amor, amparo e abrigo
trago apertado ao peito
valeu a pena ter vivido
o sonhado amor perfeito

não sabe ao certo ninguém
se é infinito ou tem fim
quem vive tamanho bem
tem de acreditar que sim

vai andar sempre contente
sem ter lágrimas choradas
pois se coração não mente
serão doces, não salgadas.

natalia nuno

mais um abraço...


em delírio prendes-me num abraço
e o dia tem outra claridade
este sonho eu faço e desfaço
quando me chega a saudade
imagens instalam-se no labirinto da memória
sem que nada aconteça passa o dia
surge a desmemória
a saudade avança...traz a letargia.

o relógio continua a pulsar sem tempo
até que eu já mal me reconheça
no pensamento se tudo é cinzento!?
coloco um sorriso,
para que o sonho aconteça
o silêncio da noite é misterioso
e o amor ali se esconde
dentro de nós, tão perto, não sei onde!
há uma fonte que em mim murmura
que é como grito de aflição
na busca incessante de ternura
neste dia de infinda solidão.

sigo caminho dando mais um passo
enquanto sonho,
que em delírio, me dás mais um abraço.

natalia nuno

versos que são oásis...


andam os grilos por sobre as flores
 quando a luz do dia já se escoa
 volto à menina e seus amores
 e o seu riso ao ouvido inda me soa.

como levíssima brisa do mar
 na minha memória se eterniza
 trago esta dor no peito a latejar
 mas de lembrar a memória precisa.

nas asas frescas da madrugada
 andam pássaros tristes sem voo
 desesperam meus sonhos p'la calada
 e a seiva no meu peito secou

 interrogo-me sobre o seu destino
 destino da menina dos olhos meus
 que era de oiro... de oiro fino!
 o destino a coloca na mão de Deus.


 natalia nuno

teço sonhos...


há silêncio no meu peito
a noite vai madura
e o luar o meu rosto emoldura
trago a esperança a madrugar
na esperança de ver-te chegar.
a saudade cresce de mansinho
pressinto-te a cada hora
a estreitar-me nos teus braços
pela noite fora...com carinho.
então sou flor aberta
aroma que a ti se oferta.


quando o luar se esconder
vou-te dizer
- és tudo o que a vida tem
pra me oferecer
trago lembranças e saudades tuas
passaram por nós tantas luas
hoje já não temos noites de luar
os sonhos esses sim, inda são meus!
no peito, o mesmo coração para te amar
nos olhos, a cegueira de olhar os teus.


natalia nuno
2014

vento sem rumor...


ausência de palavras
traz-me inquietude
sinto-me enclausurada e ninguém
me entende
não há nada que mude
o que a gente sente
nesta bruma negra, neste instante
em que até a palavra anda distante

nos olhos trago cores de inverno
no pensamento sonhos amontoados
na memória a nudez, o vazio
como árvore sem vida de troncos queimados
e só silêncio, onde me refugio...

natalia nuno

A VIDA É FOGO (Natalia Canais Nuno)


A VIDA É FOGO (Natalia Canais Nuno)

a vida é fogo, viagem que não se detém
arvorada em gritos d'alegria também d'dor
apertado nó que ninguém desata, porém
vertiginosa trepadeira, onde existe amor

a vida é um sopro de sonoras subtilezas
nela se desenlaçam lembranças vividas
águas adormecidas, são trinados, belezas
umas recentes, outras há muito nascidas

a vida é água agreste, pura e cintilante
corre arrebatada como a querer escapar-se
enfeitiçada vive e é só mais um instante

numa melodia constante até ao sossego
pronta a cumprir destino a despenhar-se
ali onde a morte à vida não mais tem apego

EM - ESTREMECIMENTOS DE ALMA - NATÁLIA CANAIS NUNO - EDIÇÕES VIEIRA DA SILVA

meu nome...


meu nome alguém mo deu
lembro-me dele de tenra idade
dizem que foi meu pai que o escolheu
lembra inverno, lembra natal, lembra saudade
escrevi-o em cartas de amor mal sabia escrever,
quando a lua aparecia ou o sol me vinha aquecer.
escrevo-o agora ao ritmo dos meus dedos
às vezes como uma ave lenta
no lirismo dos meus versos
onde grito os sonhos, o desfolhar da rosa
os medos...e tudo o mais que a poesia
me tenta...

meu nome, rabisco-o de vez em quando
nem sei às vezes porque o faço
em letra miudinha e vou sonhando
com quem mo deu e seu abraço
e logo meus dedos lançam sementes à sorte
sonham com o apanhar das amoras
despidos de palavras aguardam a morte
que há-de vir cedo, ou tarde, ou a más horas

meu nome já não escrevo, porque me fugiram
as letras em noites de solidão
e os dedos já não cantam e errante anda o coração.
foi nas minhas memórias esquecidas
que deixei o nome, com as saudades de ternura
vestidas... perdeu-se no passado
como um vôo que se esvai num ai
ou como um grito que ecoa no infinito
e chega até mim já desfasado
deixei-o no cantar das cigarras, na solidão
do olhar, nas tuas mãos quando me agarras
na aliança que trazes nos dedos,
nas sombras por onde vagueio, em cada emoção,
nas marcas do desespero, nos medos
no silêncio a que me enleio para não enlouquecer
no chão da minha pele a envelhecer...

meu nome lembrará sempre saudade
não sei bem sua história, já não é de prata a memória
mas, lembro-me dele de tenra idade.

natália nuno........rosafogo.
https://nataliacanais.blogspot.com/

tenho sede de tempo...


tenho sede de tempo,
cai a tarde
como fruta madura
e à distância cantam os pinhais
o sol já não arde,
tocam os sinos dando sinais
e eu aqui oculta pela bruma
lembrando tudo,
tanta coisa uma a uma.

lembro o caminho da nascente,
com os risos de então
lembrança sempre presente
que não rejeito...não!

quero ser criatura
de alegria,
trazer à minha noite o luar
e eu e tu ser um só rio
a desaguar no mar...
extingue-se mais um dia
entre matizes amarelos
tenho sede de tempo
dum tempo primaveril
aquele que me vestia
a alma
e não este, que é prisão
e me corrói o rosto,
e esvazia o coração.

dá-me a mão,
vamos caminhar mais agéis
viver mais intensamente
onde o limite seja o céu
só tu e eu.
por algum tempo havemos de ignorar
o que de nós se perdeu
vivamos mais outro dia,
antes que a noite venha perturbar
ergamos nossa rebeldia

e quando a morte vier
num outro dia qualquer
pairando como um gavião,
sobre nós,
dá-me a tua mão
quando já nada haja para crer,
resta em mim a credulidade...
ainda assim vou sentir a doçura
da tua mão
na minha mão,
e levarei dela saudade.

natália nuno
rosafogo

falo de coisas simples


Minha memória é livre
Recordar depende dela não de mim
E é nesta liberdade
Que despertam recordações sem fim.
Surgem sempre trazendo saudade
Repetem-se sem aviso,
até à exaustão.
E sempre que é preciso
Surge lembrança que parecia enterrada,
na raiva dum grito, calada.
E é maior a solidão!

Um rumor já ouvido
Um odor já respirado
E nem o coração ouve o pedido
Do meu espírito cansado.

Trepa o sol pela parede
Sonho eu com a idade dourada
Assim mato minha sede
A dormir ou acordada.
Falo de coisas simples...
Das aves que sempre regressam do mar
Trago os olhos cheios de poesia
E nesta noite escura sem luar!?
Ergo a voz a um novo dia.

Falo das rãs que coaxam canções de amor
Dos pássaros soltando trinados
E se a lembrança me causa dor?!
Ficam meus sonhos desarvorados.

Vivo ao sabor da corrente
Já não me imponho à maré
Nascida dum pobre ventre
Dele mesmo trouxe fé.
Sou flor da maresia
Meu nome é rosmaninho
Cresço de noite e de dia
Meu destino é este caminho.

rosafogo
natalia nuno



murmúrios...trovas soltas


cansados vão os passos

enquanto o dia esvoaça

levo calados os cansaços

enquanto esta vida passa

'''''''''''''''''''''

levo os lábios sedentos

e a lembrança distante

em lágrimas pensamentos

o esquecimento, constante!

'''''''''''''''''''''

as palavras não se detêm

abrem em mim uma ferida

caem em mim, mas porém

são recordação trazida...

'''''''''''''''''''''

os sonhos me assediam

com silenciosos desejos

com fragrâncias q' existiam

com o sabor dos teus beijos

''''''''''

levam aos olhos ternura

com a linguagem das flores

sonhos orvalhados, frescura

dispõe-me a vida aos amores

'''''''''''''''''''''''

sonhos agora são brancos

como aves surpreendidas

maus olhados, quebrantos

com lamúrias incontidas...

'''''''''''''''''''''''

natalia nuno

rosafogo

serei eu uma lenda?!...


o sol afunda agora o rosto
nas águas profundas do mar
que arrebatado varre a areia
sem parar...
a terra harmoniosa, é Agosto
só uma lágrima se esgueira do meu olhar.
sol posto, saudade também no meu rosto
ao ouvir o sussurro das águas dos ribeiros
quando a memória já se apaga, tempo que é praga,
relembro amores primeiros,
tudo no meu âmago a acontecer
promessas de futuro falseadas,
passam velhos sonhos e a vontade de viver.
não será canto vazio este dos lábios saído,
se as palavras alcançarem a manhã vindoura
e o amanhecer...
valeu a pena ter vivido!
a maturidade da vida vai longa e amiúde
relembro os sonhos da juventude
no olhar um frio solitário
tudo o tempo dissipou
mas, só muito viveu quem muito amou!

afasto a cortina da janela para ver
se é já noite ou ainda é dia
na senda ilusória da minha fantasia...mas,
já o sol em mim não aquece
resta a dor estranha do porvir
e neste eterno sentir
só a esperança ainda floresce na minha senda
Serei eu uma lenda?!

natalia nuno

A infância feliz...


A infância feliz, se pudesse voltar e beber um pouco dessa doce eternidade, deixar verdejar o meu instinto de liberdade... ainda escuto a nossa alegria no subir e descer das árvores nessa infância harmoniosa...como entender agora a felicidade? Como inventar sonhos?Os dias apagam-se em si mesmo, nada se procura e pouco se espera, apenas o sonho insiste, éramos asas de vento num céu sem nuvens, meninos que traziam consigo o aroma da vida, unidos num nó que parecia inseparável, de risos repentinos e o coração cheio de lealdade...grato, foi envelhecer trazendo da infância saudade, de brincar livremente nesses dias lendários no meio da natureza com o aroma dos frutos e flores por perto, dos pássaros e trinados, das borboletas de mil cores e rostos tisnados pelo sol irradiando inocência...

natalia nuno

fantasio...


Entra o luar pela janela

a toldar-me o pensamento

nada mais para além da solidão

eu e ela

 e a obscuridade da noite

 tudo mais lá fora ao relento.


Saudade distância sem tempo

olho a janela o luar entra por ela

fantasio, deixo-me num faz

de conta, sorrio,

é hora da libertação,

dum sonho maior

ouço o bater do coração

ignoro o luar que atravessa a cortina

é meu companheiro

desde quando era menina

no meu mundo inventado

e dormia comigo, ali, lado a lado

surgia da fresta do telhado.


Hoje há uma teimosa vontade

e um sonho suspenso

de procurar na saudade

a menina em quem sempre penso

seus passos ficam martelando

minha mente

fecho os olhos, vejo os dela fielmente,

atravesso a ponte da lembrança

e no sonho cresce a esperança

saudosa de mim,

volto ao tempo de criança...


natalia nuno

rosafogo


pensamento....


reconheço as papoilas que habitam meus dedos...são quase tudo que carrego da madrugada, que já vai tão longe...

natalia nuno

os serões da minha memória...memórias


os serões da minha memória...memórias

Eram duas mulheres mais velhas, e uma jovem casadoira sentadas ao fresco nas noites de verão nas escadas da sua casa simples, feitas de adobos reforçadas de lages também elas frescas, ali ficava eu ouvindo com atenção as queixas e os ais do peso dos dias, do tempo que não corria de feição para o joeirar do trigo, dos seus homens que andavam fartos de cavar a terra, e o quanto era difícil dar conta da vida! A moça, ouvia e não dizia uma palavra, não esmorecia e não pensava noutra coisa que não fosse o dia do casório quase, quase a chegar... ía aprontando o enxoval com os parcos haveres, fazendo um picô, uma bainha, caseando uma almofada, para que tudo desse certo nos tempos que se aproximavam e que pensava ela seriam de eterna felicidade. Que teria sido feito dela? Chamava-se Cesária , o namoro só era permitido ao domingo sob o olhar da mãe que não arredava pé, por sinal descalço, creio que nunca a vi calçada, descia e subia vezes sem conta a ladeira que a levava ao rio ou à horta para colocar a burra à nora ou colher vegetais, seu nome Rosa cuja vida foi de espinhos tal como as vidas das restantes mulheres da aldeia. Tempos difíceis aqueles, ali passei muitos serões era ainda criança ouvindo muitas histórias, no céu um luar bonançoso e lá em baixo no rio o cantar das rãs que nos vinha aos ouvidos como uma música longínqua soando como se fosse uma harmónica incansável. Os vaga-lumes também nos faziam companhia ziguezagueando dum lado para o outro, enquanto a noiva suspirava pela noite de núpcias...eu, não arredava pé ouvindo as inquietações das mais velhas, até que a mãe da janela da cozinha erguia a voz chamando por mim e eu lá ía com meu perfume delicado e doce, flor pura sem inquietações e nenhum desejo em mim a não ser o conforto possível da casa onde nasci.Todo este aroma da infância o sinto nestas memórias neste recordar neste invocar o passado com todo o meu frenesim, passado longínquo mas não morto que recordo nestes dias que se apagam em si mesmo , tudo é visão presente, nada morre, continua pulsando o coração e o pensamento, e o sonho torna visível o invisível... cega de ternura me agarro a esse eco da infância, como um recém nascido se agarra ao peito da mãe.

natalia nuno
rosafogo

ilha perdida...


hoje a ladeira está sombria, e a tristeza me desafia, lá continua a saltitar de pés descalços a mesma de sempre, de sorriso nos lábios e com ternura no olhar verde, da côr das margens do rio onde chapinha tardes a fio dando gargalhadas para ouvir os ecos, tão feliz e sonhadora como D. Quixote... tudo se agita na memória e vai morrendo o sol no meu rosto, e o riso em botão esmorece, sou uma ilha perdida, onde joguei minha vida, sem bússola para poder regressar onde tudo já esquece...não me atrevo a ir mais além, murcharam as flores da mãe, já não brotam perfumes das laranjeiras, só as estrelas renascem por lá, em busca dos meus últimos sonhos perdidos. ninguém sabe de meus passos, ninguém segue minhas pegadas,  só a menina dos abraços mas não se ouvem as gargalhadas... é o vento que com uma estranha magia me leva, deixo minha lágrima fria na treva, estão as cortinas cerradas, já não há tecto nem chão, nem o pedaço de pão, apenas a figura esguia descendo a ladeira sombria...

natalianuno

viver o meu entendimento...


o dia cinzento, as árvores sombrias, esforço-me por dissimular a tristeza, tudo cabe no pensamento e ainda lhe acrescento coisas que pensava já não lembrar, a noite veio mais depressa do que eu desejara e toca-me a alma o tempo que eu choro só de recordar e, é sentimento sem remédio que vejo a mim chegar, quantas vezes te encontrei perdendo-te, e outras tantas andou meu coração entretido, até desesperar e andar perdido...queixoso de amor e com razão, mas a sorte é um momento, o amor faz e desfaz...coloco-me nas mãos do silêncio, a vida é tão remota que inquieta meu pensamento, mas o amor ficou, e não há razão para descontentamento, é ele o remédio para o meu mal...

natalia nuno

quadras à saudade...


Minha saudade se cansou
De tanto me apoquentar
Com saudades dela estou.
Saudade...podes voltar!

A saudade disse-me adeus
E até a Vida já me voa!
Nestes versos que são meus?!
- De saudade canto à toa.

Por onde passo deixo aroma
Da saudade que anda no peito
Saudade com saudade é soma
- Desta saudade sem jeito.

- Já não encontro saída!
- Já toda eu me embaraço,
-Troca-me as voltas a Vida,
-E eu à Vida troco o passo.

- Mas se a saudade voltar!?
E me disser quem ainda sou?
O meu coração vai ter lugar
P'ra saudade q' o abandonou.

natalia nuno

arrebatamento...


ante o teu corpo junto ao meu... vou sonhando
prossigo inteiramente tua, do sempre ao agora
descubro a tua força, enquanto tu me amando
segredo aos teus ouvidos, rogando mais na hora

a loucura, o sonho, esse que vive junto ao meu
é como uma cascata de sede, que nos aprisiona
vejo o mar no teu olhar, fica o meu preso no teu!
esse corpo desencaminha o meu que se abandona

e nessa loucura ... o sonho me leva com paixão
somos como um vendaval q' palpita aprisionado
a plenitude é um mudo instante, e logo é extinção

procuramos inutilmente o amor ainda em chamas
foi-se em longínquos dias, em silêncio devorado
resta lágrima que nos afoga, e o dizeres qáme amas.

natalia nuno
rosafogo

dúvida...


Dias cheios de nada

a porta aberta de par

em par

anda a vida agastada

gritando suas dores

algumas dúvidas algumas certezas

e eu amando até ao delírio

já esqueci

se me sorriste, se me olhaste

essa interrogação me ponho...

Será que me amaste?

Ou foi apenas sonho?

Neste tempo sério

o silêncio me envolve

já tudo é mistério

eu a vivê-lo porque te amo.

natalia nuno

romã

a palavra abandonou-me...


trancada a porta corro a cortina
a palavra passa por mim excitada
e eu recolho num sono profundo
sonhando comigo menina
acordando só de madrugada.
levantei-me tarde
e a palavra abandonou-me
mas a verdade, é que preciso
de me sentir vazia,
deixar-me elevar a um estado de serenidade
próximo do paraíso...

há giestas em flor pelas estradas
o vento levanta a frescura
sei de cor as melodias cantadas
e a sua singularidade
traz-me à memória a ternura
da saudade...

mas hoje, estou de espírito cinzento
há qualquer coisa que não bate certo
a palavra anda sem emoção, sem alento
a alegria há muito arredia
- é o deserto
a tentar-me o pensamento.
o vento continua a soprar à minha porta
que importa ?
continuarei na errância dos meus sonhos
mesmo com a ingratidão da palavra morta...

natalia nuno
rosafogo

um poema mais por aí...


sentada sobre os dias me consumo
coloco  palavras linha a linha
e sinto-me viagem sem rumo,
para um beco sem saída, caminha.
hoje estou ausente e indiferente
o poema escreve-se sem minha intervenção
é ele que quer ser surpreendente!
mas, ninguém ama sozinho, ele não tem coração.
audacioso, dormiu no meu regaço
fiquei de peito aberto, e passo a passo
saíu do labirinto da minha mente
é feito de sobras da minha solidão,
no tempo vai varrendo o pó
e sente-se absoluto, poderoso
deixando-me só.

mas a mim já não me ilude
nem tem qualquer virtude!
é apenas um poema a mais por aí
nesta caminhada sem rumo
nos dias que passam como fumo,
e, na bebedeira doce de cansaço,
já não acerto o passo...desisti!


natalia nuno

a cor do outono...


hoje não ouvi o pintassilgo, talvez porque o ramo verde onde costuma pousar se encontra nu, não houve acordes de violino, e nem a minha mão indigente e cansada quis escrever palavras macias no poema onde eu pudesse o sol emoldurar... mesmo com a coragem a desabar... retrai a mim o silêncio e o coração descompassou, minha voz voltou à mudez, também eu perdi o ramo, irreparável descuido de meus olhos sombrios, entre a folha de papel e eu... poema feito ao acaso, muito breve e muito raso, com memórias cheirando a alecrim, pedindo que não esqueças de mim...quase... o tempo outra vez de ternura, fecho os olhos e logo a nostalgia a fazer doer! - - com a cor do outono e a maldição do tempo a passar, como eu precisava ouvir agora o pintassilgo tocando os acordes de violino para o coração ressuscitar... e tu, ousasses vir de novo me abraçar... enquanto meu olhar se perde no ramo que era verde...

natalia nuno
rosafogo

pequena prosa poética...


por te sentir e amar, sinto angústia por te perder, é dado amar sempre mais, não importa que um de nós adormeça primeiro, quem ficar agasalhará no peito a primavera deste amor...como se nada houvesse mudado...nada separa o que não pode separar-se...numa pequena barca atravessámos o rio, desatentos, não demos pelo tempo que caminhou ao nosso lado, breve, como a sombra duma ave que passa...

natalia nuno

até de madrugada...


amar-te é meu segredo

amor é malha que teço

tua ausência me dá medo

e ao temer tanto padeço...

corre o tempo e faz-te meu

tu perdido, nunca chegas!

este amor por ti cresceu

e tu amor tanto te negas.

não querer-te assim,

eu queria,

é tanta a minha agonia

quanto mais te nego

mais te quero,

e no desespero

é grande o meu apego

apregoo aos quatro cantos

que um dia?!

perco o fio à meada

e nem com reza aos santos

farás de mim tua amada

romã

natalia nuno

pequena prosa...


hoje nem os pássaros saudaram o nascer do dia, e no meu coração a saudade fez ninho de mil maneiras... e trouxe até mim a nostalgia!

natalia nuno
rosafogo

0lho as minhas mãos....soneto


olho as minhas mãos, fiadas de rosas
e de memórias que pulsam no papel
efervescentes de segredos, tão nossas
laboriosas, trazendo-as à flor da pele

são m'nhas mãos estremecidas de amor
dois ramos debruçados sobre o muro
q' vestem meus versos de saudade e dor
sonhos... onde eu sempre me aventuro

mãos que tudo dizem de mim, as penas
e saudade que escrevem de madrugada
versos em pedaços, lembranças pequenas

fardo de lágrimas, sentida dor e saudade
mãos que de ilusão me trazem enganada
adivinhando nas linhas futura tempestade

natália nuno

bate-me à porta a saudade...


Todas as forças consumi
evoco agora recordações
contemplo ternamente o tempo
de quando te conheci
sinto um leve rubor com a recordação
era tempo terno, tempo de ilusão
agora as recordações já se sobrepõem,
minha expressão já envelhecida
já lhe escapam os traços,
tudo são interrogações e expectavivas
os sorrisos, os passos... que fez o tempo
da minha vida?
Mergulho no passado
docemente recolhida...


Erro ao acaso pelo cais da vida
bate-me à porta a saudade
e num sonho revejo
com felicidade, e súbita
iluminação interior
os melhores tempos, tempos d'amor


meu pensamento voa
levando meus olhos numa aventura
excessiva,
o coração ama,
o sentimento não extinto
porque é amor o que sinto
viva, viva apelando à vida
degrau a degrau me facilite a subida.


meu coração ainda existe
numa teimosa nostalgia
que me ata à vida...


natalia nuno
rosafogo








canto e cantarei...


Canto de noite e de dia
alegre é... meu cantar!
trago sonho e alegria
mais alguma nostalgia
de que me quero libertar

já o sol se recolheu
deixa a terra sombria
ficou de luto o céu
a lua me prometeu
decerto não dormiria

percorro oásis da mente
com uma estranha sedução
versos frescos água corrente
num desejo tão fremente
que desce ao meu coração

o mal que estou sentindo
quando te vejo partir...
se estás de mim fugindo
lágrimas d'amor carpindo
desilusão é meu sentir

ninguém venha-me dizer
que a culpa é minha, errei
esteja eu onde estiver
saudades de ti... terei!

no meu coração hei-de ter
sempre esta maldita dor
já nada tenho a perder
se perdi o teu amor....

natalia nuno
rosafogo

de mim e de ti...




nos lençóis quentes
cai a noite deserta
e a recordação é ferida aberta...
é fogo é ternura
é solidão e carência
e na noite escura, sinto
a tua ausência
esvoaça a cortina
entra um ar frio
choro a minha sina
na penumbra do vazio,
lençóis de sofrimento
nas noites sem fim
são já esquecimento
do teu amor por mim
teu corpo era perfume
pétala de jardim
avalanche de beijos
despertando desejos

para trás ficou
perdido entre si
tudo o que restou
de mim e de ti...


natalia nuno
rosafogo

quadras populares... soltas


Saia fora da corrida
Quem fôlego não tiver
Que alegre se quer a Vida
Enquanto por cá se estiver.


Já o tempo me arrasta
Não se apieda de mim
Já da Vida me afasta
Teimando levá-la ao fim.


Surge o clarão do luar
Quando a noite chega enfim
Mato a sede de te amar
Quando me apertas assim.


Mas então querem lá ver
És capaz de ter razão!
Deitei tudo a perder
Ao dar-te meu coração.


Havemos de ir à capela
Assim que a gente puder
Chegarei lá donzela
Sairei de lá mulher.


Mas não puxes p'la corda
Que eu posso tropeçar
Raios parta, raios me morda
Se não chego virgem ao altar.


Uma vontade que me anima
Subo, nem muito, nem pouco
Mas quero com esta rima
Meu amor deixar-te louco.


Vai bem boa a desgarrada
Num repente de repente
De amor fico rosada
Mulher morena, ardente.


Mandáste-me calar tremi
-Meus lábios abri a medo
Zangado porque descobri
Me enganavas em segredo.


A cerca de novo pulei
Mas sempre és o culpado
Ao crepúsculo te beijei
Deixei-te agora envergonhado


Ai aquele tempo de amores
Quando tudo era a nosso favor
Hoje o tempo é de desamores
Que angústia me dás amor.


De amores guardei segredo
Talvez te conte algum dia
Mas amor não tenhas medo
Paixão só tenho p'la Poesia.


Ai...ser jovem quem dera!
Ter inspiração e doce amor
Oh Mocidade, Primavera
Sinto-te em cada flor.


Já não sou rosa em botão
Mas abro ao sol isso sim!
Já fechei meu coração
Já secou o meu jardim.


A estrelejar passo o dia
Para que não me falte luz
Dantes tão bem que te via
Já te não vejo...ai, Jesus!


De sonhos ando despida
Só tenho um canto saudade
No meu jardim ela é vida
Flor trazida da Mocidade.


rosafogo
natalia nuno

prenhe de fantasias...


na tranquila tarde o sol ateia
meu coração pula alheio
ao que o rodeia...
meus olhos sem receio
despedindo-se das vidraças.
e no esgaçar da memória
lembro-me de momentos
em que me abraças.
foge-nos o tempo de sorrir
aproxima-nos o tempo de ir
dói-nos o peso da verdade
alguma amargura, esperança pouca
e tanta saudade,
tanta coisa por dizer
mas seca-se-nos a boca.

há um rumor de beijos no ar
que nos faz lembrar nossa primavera
quando contava os segundos para ver-te chegar
que feliz eu era!
agora, neste entardecer, há um eterno sentir
num canto do coração meio adormecido
que ainda nos faz sorrir
ao lembrar nosso amor colorido.

fico dorida a pensar 
no sacudir da vida
lançando-nos na poeira do esquecimento
como fruta que ficou no pomar esquecida
onde já nada germina,
onde não sou mais menina
nem brilha meu olhar como estrelas e o luar
hoje prenhe de fantasias
invento palavras loucas
que para lembrar-te são sempre poucas.


natalia nuno

a vida é uma roseira...


A Vida é uma roseira,
Trepadeira
Com mais espinhos,
que carinhos.
Sobe por mim, se enrola ligeira
Mas das rosas já a sombra se apodera
Morre a pouco e pouco a roseira
Viu passar por ela a Primavera.

Assim fica sem sentido!
Plantá-la foi tempo perdido.
Mas para meu sofrimento minorar
Invento mil razões para cantar.
Faço muros onde me abrigo
E a roseira se esgueira
Mas já com ela não brigo
Trago-a sempre à minha beira.

É a vida uma roseira
trepadeira,
Já sem espanto nem desalento
Deixamos correr os dias
Já se adiantou o vento
levou nossas agonias.

Meus versos estão de partida
O coração não quero acordar
Vou mentir-lhe, que é longa a vida!
Ou dizer-lhe a verdade?!
Que ele não quer enxergar.

Mas só lhe resta saudade.

natalia nuno
rosafogo



Leia mais: https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=130576 © Luso-Poemas

candura...


recolho a flor da melancolia
e a noite conspira contra mim
falaram-me as estrelas sem piedade
que é a saudade que pulsa no meu dia
das memórias que o vento me traz
surjo menina na candura da distância
volto atrás e lá encontro a criança
que fui, ávida de vida, riso saindo da boca
e o eco insistente na minha memória louca

vi obscurecer os anos de repente
fiquei como o vôo indeciso duma folha
que cai ao chão.................... e uma primeira
lágrima de resignação surgiu.

natalianuno
rosafogo

se a primavera esperar...


solidão sem sentido,
se abeira de mim
a que já me rendi.
longos silêncios,
tempos enclausurados
onde a vida se vai diluindo
junto a ti...

deixo-me ir numa lembrança
mas hei-de voltar!
quando o esquecimento abrir
passagem, depois do inverno
se a primavera por mim esperar

e em cada tempo hei-de reconhecer
no latejar do coração
se valerá a pena viver...ou não!

vazia a minha mão é nada
já não escreve como outrora
mas continua aqui, pelo sol acariciada,
trémula, como a flor dos laranjais ao vento,
vento que uiva lamento que se espalha
p'los canaviais.

nesta hora,
de solidão, aos versos vazios
sem palavras felizes e sem solução,
me rendo sem condição.

ignoro donde vem esta solidão
se do dia que está a morrer
ou da rosa que não chegou a nascer
aperta-se o coração
o dia não vai regressar
a noite está p'ra chegar
vai decidir do meu sono
resta-me a esperança para não
me deixar naufragar no abandono,
desta lembrança saudosa.

no céu...
uma constelação sombria
o dia sem esplendor,
mas amanhã é outro dia.
e eu....falar-te-ei de d'amor.
e da memória duma vida em seu ar distante
onde foste namorado, marido e amante.

natalia nuno
rosafogo

a pingar nostalgia...


quando me encosto à solidão
ninguém me pergunte nada
que irei permanecer vazia
de memória esfarelada
com pedaços de noite e ideias cegas
de nostalgia
na mão a folha do poema pronta
a boca de palavras inundada
o poema treme de comoção
pronto a nascer
ninguém nos faça afronta
que somos caudal de rio
pronto a correr...

a pingar melancolia,
nasce o poema quando ainda a noite
se prepara para dar vida ao dia...
fantasias na minha imaginação
palavras agitadas irrompem da minha mão
e num só instante o tempo passa pelo tempo
e tudo me é indiferente
e a palavra fica doce e inocente

surge a lua na janela desaba no vidro baço
e nem eu lhe mostro o que faço, nem ela
se quer retirar, mostra-me o seu rosto lunar
duma beleza sombria, pouco a pouco
uma chuva macia e o choro do vento louco
a minha sombra tomba na escuridão
choro os dias que sonhei então
e o rosto já não é o meu
e na minha essência de lua sou estrela
sem fulgor que emudeceu...

natalia nuno

este rio que sou...


este é o rio que sou
que ama e que chora
o riso... o tempo levou!

numa manhã de orvalho,
é rio que desagua e se evapora,
e ao anoitecer da minha vida
as coisas boas ficaram  perdidas
e no coração emoções doloridas,
os dias recolhidos
levam-me ao esquecimento,
deixam-me surda e dolente,
mas é perfumada a minha ilusão
quando te abro meu coração
e me sinto gente...
o coração já tropeça
numa saudade muda e fria
aguarda que o pensamento amoleça
e o deixe viver de fantasia.


natalia nuno

a menina em mim...


destilam as horas
escuto o seu silêncio
já se anunciam as estrelas,
murmura a noite e o vento
leva-me ao esquecimento
de mim...o relento
e a solidão, crescem às primeiras sombras
e a vida que às vezes parece mansidão
noutro momento se emsombra.
insegura, pergunto-me como será
quem fiel me recordará no tempo.
e a memória procura
na noite que se arrasta
a criança que em mim perdura,
caindo cansada do tempo prisioneira
e a noite cresce nos meus olhos,
o sorriso ainda de murta e jasmim
e é essa a criança que habita em mim.

-a menina que espanta o frio
que à minha vida chegou
espanta ventos e vazio
e os rouxinóis acordou, em mim adormecidos.
contente, como só as crianças se atrevem
porque à vida nada pedem e
nada devem...

natalia nuno

linha a linha...


Perscruto as profundezas
do teu olhar
E meu coração muda de lugar
Sem que dê pela mudança,
esquece o tempo, julga-se imortal
Cresce nele a esperança,
É seu destino amar
Assim, é fatal.

Para as tristezas afogar
Vai ocultando a sua dor
Seu murmúrio tem o som do mar
Quem o escuta ouve a voz do amor.

Ouve-lhe os segredos
Sente-o perdido em nevoeiro baço
Escondendo os medos
A vida do avesso
Procura acertar o passo
Ai...como eu o conheço!

Mas deste mal eu padeço
Olhar teus olhos bem fundo
E achar que os não mereço?
Se acaba o chão e o mundo.
Resta-me ainda a lembrança
Neste peito nu é ventura
Quando choro me traz bonança
Passa a dor, torna clara a noite escura.

E neste meu viver singelo
Recordo com natural tristeza
Não quero esquecer o que foi belo
Deixo em palavras de singeleza.
E à vida que eu amo tanto
Tanta vez ela me afronta!
Lhe deixo este meu canto
Na esperança,
que a vida não me interrompa.

rosafogo
natalia nuno

pequena prosa poética... memórias de mim


pequena prosa poética

os meus olhos percorrem a pequena divisão até aos recantos da janela, ao lado a pequena mesa de pinho onde se corta o pão, nada disforma a imagem que tenho perante o olhar, apenas uma névoa ao recordar das silhuetas e dos rostos aqui presentes, vejo- as sentadas à lareira cada uma com sua tigela de migas com café na mão, são elas minha bisavó e minha avô paternas, esta cena tornou-se definitiva na minha memória apesar da névoa, o lume está fraco e minha avó o espevita, sua expressão como sempre lhe conheci é dum amargor que ainda hoje me pesa na lembrança, recordo cada um dos seus movimentos, cada uma das suas palavras, num misto de doçura e pena ao mesmo tempo, eram mulheres sós, mas regiam-se pela honra e pelo respeito, eram os dois valores essenciais na vida delas...às vezes havia silêncios grandes onde só se ouvia o crepitar da lenha, enquanto isso cá fora surpreendente a manhã de orvalho se estendia trazendo a mensagem dum dia frio mas solarengo... e as gentes da aldeia saturadas da chuva abordavam a vida duma forma mais alegre, as conversas eram mais vivas e as tarefas por cumprir menos pesadas. as personagens aos meus olhos são agora as mulheres a chegar ao rio com o alguidar à cabeça, com um olho cobiçando a pedra onde iriam lavar, na estrada circundante ao rio os carros de bois levando a azeitona ao lagar, e seria infantil negar que tudo isto, toda esta humildade faz parte de mim, enche meu ego, dá-me serenidade e até um pouco de conforto. gostaria de saber escrever tudo o que me ocorre claramente neste momento ao pensamento, descrever afectuosamente, mas a memória é como o vento no meio das árvores, depressa se dispersa, o presente é real e me afasta cada vez mais do passado, e não há como escapar a esta situação...recordar é pois uma grande emoção! as horas e os dias se seguirão, novas lembranças serão redescobertas por meus olhos, e eu obstinada e ávida sempre por mais lembranças, vivo o sonho que de tão vivo, eu que me julgava longe afinal estou aqui tão perto da hora de chegada... quando estou já de partida!


natalia nuno

rosafogo

como da primeira vez...


Como da primeira vez

Sinto seus lábios no meu rosto
Amámo-nos com se fosse a vez primeira!
E no encanto do momento havíamos posto
Olhos nos olhos e silêncio na noite inteira.

O tempo parou é nosso o mundo!
Unidos no silêncio então nos amámos
Caímos num sonho belo e profundo
Cumpriu-se, num só corpo nos tornámos.
Fiquei vencida no teu corpo como frágil flor.
Aí é meu lugar, aí descanso e ainda habito
A mim te entregas com paixão e amor
E num louco desejo, soltamos um grito.

Surge uma tempestade, louca de efusão
Até nossos pensamentos ficam ausentes
Só os sentidos vivos como cratera de vulcão
Explode em nós o Amor como água nas nascentes.

rosafogo
natalia nuno

círios da memória...


Círios da memória

na cómoda antiga
havia sempre flores
e imagens de santos,
e minha avó em prantos
lembrando de seus amores
rezava uma ladainha
em voz baixinha.

grandes alguidares de barro
no forno
amassava-se o pão
benzendo-o com oração
"Deus te acrescente,
que és alimento de muita gente"
aqui ali um adorno,
uma sertã, uma cafeteira,
e na quinta feira
da Ascenção, um raminho de oliveira.

nas vigas da chaminé
penduravam-se os enchidos
e nas brasas fervia-se o café
enquanto a trovoada, zenia aos
nossos ouvidos.

a roupa mil vezes passajada
as iguarias poucas
às vezes imensa comoção
e todos os dias
a sopa e o pão.
na paz do alheamento,
se repousava em frente à lareira
deixava-se correr o pensamento,
e faziam-se contas duma vida inteira.

as silvas já formavam amoras
comê-las? Só quando maduras
em doce caseiro comido nas horas
de menos farturas...
a cor vermelha era como cilada
para atrair a passarada...
já se ouvia o barulho dos carros
o chiar dos eixos,
fugia a passarada, atordoada
abandonando os freixos.

e a lua aparecia e desaparecia
o sol nascia e morria
e assim a fé crescia
enquanto a vida corria..

natalia nuno
rosafogo

saudade de lã... trovas


giestas moram no peito
e um lírio me endoidece
porquê amar deste jeito
se o amor já me esquece

rompem estrelas no céu
rastejam sóis nos montes
em mim este amor só teu
imutável solidão d' fontes

vim alagada de suspeitas
fico a esperar os poentes
e o modo como te ajeitas
não me diz tudo que sentes

dói a alma na despedida
fica a ferida que não sára
coração é beco sem saída
solta-se a veia... não pára

esperança ao acaso sumiu
mal saem rosas do botão
bate a tristeza, alguém viu?
não sei do meu coração.

estrelas vão dando sinais
logo a verdade mais doeu
pousou pássaro nos m' ais
das minha lágrimas bebeu.

natalia nuno
rosafogo

o coração batendo ainda...


Já o sol vai sobre as montanhas
outras vidas o aguardam,
deixa saudades tamanhas
leva o calor nas entranhas
tempestades d' amor não tardam.

e lá vamos nesta labuta que é viver
aproveitando de Deus a oferta
deixando à esperança, a porta aberta.

levo a marcha dos meus pés por diante
o passado já vai distante
passou a vida num murmúrio,
ponho olhos no caminho
e sigo devagarinho
com meu passo já inseguro,
e as lágrimas que não chorei
hei-de chorar algum dia!
Quando o coração estiver deserto
e seco de alegria,
e o cobrir a noite escura,
lembrarei histórias antigas
e chorarei de ternura
ao lembrar quem me as contou
e que a morte já levou,
e depois do sol posto
com uma lágrima no rosto
olharei uma estrela riscando o céu
de breu, será a noite,
amparada numa esquina
a saudade... e eu menina
caminhando, para a eternidade.

natália nuno

sopros...trovas soltas...



correm meus dedos trazendo
uma vontade enlouquecida
correm as saudades batendo
com saudades da própria vida

no rio reflexo dos salgueiros
cabelos agitados ao vento
das hortas me vêm os cheiros
do fundo da alma o lamento

pássaros de peito inchado
e brancas flores abrindo
ao longe o som do arado
já as estrelas vão caindo

faço coro com a ventania
com as rãs e sua voz rouca
prende-me o choro da cotovia
e das cigarras a cantoria louca

não sei se deixe morrer...
o que hoje me atormenta
meus versos hão-de querer
livrar-me do q' m'apoquenta

natália nuno
rosafogo

pensamento...


ascendem lendários meus dias, percorrem o fundo da minha pele, e eu fico, como se já não fosse da terra nem do tempo prisioneira, disperso-me como se os sentidos não funcionassem mais...

natalia nuno

desfolho meus pensamentos...


O sol atinge o alto da ramaria
Espalha uma cor doce alilazada
Nem um movimento
Ou um sopro há!?
É só o passar de mais um dia.
Eu, meu pensamento,
e em mim a idade avançada.
Então já tanto se me dá!
Fico nesta eternidade
Aguardo da noite a obscuridade
Perco-me ao longe, a olhar
E chega a saudade.
Que vem a mim p'ra morar.

Logo meu coração
Se sente seguro e mais brando
Ele que aguentou mais uma estação
Recordando,tendo sonhos, ilusões
Lembrando do passado felizes ocasiões
Meu olhar de tristeza isento,
por momento,
tudo é encantamento
Mas a vida se desfazendo.

Os dias são já maiores
Passou o inverno lentamente
Na esperança de dias melhores
Quero contentar-me de contente.

Oiço os pássaros a recolher
Olho as arvores com novos rebentos
É mais um entardecer
Que prazer!
Desfolho meus pensamentos.

natalia nuno


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estendo o olhar...


um murmúrio perdido que ninguém ouve ela traz da infância, quando habitava um lugar de luz, hoje sombra escurecida... é pássaro que dá bicadas no vazio e ninguém dá pela sua presença. sussurra palavras trémulas e distantes que ninguém ouve e são como enfaroladas nuvens prestes a derramarem num chão com rumor a agonia, e ao mesmo tempo é ainda juventude ou apenas memória numa confusa dualidade... pôs o sorriso no esquecimento, por desejo ou capricho escreve poemas acariciando as palavras que despertam na sua memória, o sonho é a chave do seu viver... o seu corpo é a languidez da tarde onde o Sol já dormita, astro que sempre a acompanhará no silêncio turvo dos versos, numa solidão crescente, até que um dia o pulsar acabe...e nada mais perturbe o seu silêncio, nem lhe negue os seus desejos...um agasalho a cobre, feito de livros e folhas de papel onde a aguarda sempre um poema que quer conquistar...

natalianuno

quem espera alcança...


entro nas manhãs com pés descalços, caminho por entre vales de milho embandeirado, nos ouvidos o cantarolar das cigarras que são estrondo pelo meio dia, sento-me à sombra do salgueiro, respiro os cheiros das giestas que o vento me traz, e o céu fica ao meu alcance, limpo de nuvens e livre, para eu sonhar com as tuas carícias que tardam....

natalia nuno

aberta às palavras...prosa poética


Minha mãe continua remendando o lençol, enquanto a lareira crepita e se ouve o fervilhar da sopa.
Fecha a porta diz a mãe, olha a corrente de ar, e minha avó rabujenta e desesperada... já se encheu a casa de fumo, pois esta cachopa não sabe estar sossegada, anda numa roda viva o tempo todo, parece que tem fogo no rabo...
O principal pensamento estava na brincadeira, a dormir ou acordada sempre a mesma ânsia, a mesma excitação, a brincadeira era a magia que alegrava e fazia brilhar as pedras preciosas que eram meus olhos, de reflexos cor da terra e o verde dos prados, e nos lábios de água fresca sempre o mesmo sorriso.
E quando veio a primavera os pássaros pousaram no peitoril da janela, as sardinheiras deram-lhes as boas vindas, hoje o peitoril da janela vê-se privado dos pássaros, os olhos não brilham mais e o sorriso não tem o mesmo fulgor, só a saudade é que me traz um alívio bem vindo.
A avó rezava de face olheirenta marcada pelas rugas, de quando em quando abria a boca bocejando, e uma ou outra lamúria se lhe escapava dos lábios e ficava meditando na sorte de alguém que partiu para não voltar, esse avô que pairava clandestinamente pela casa como um fantasma.
Dizem os velhos da aldeia que me pareço com ele, como saber ao certo se apenas o conheço duma fotografia que não páro de olhar?
É agora tempo de medrarem as sementeiras, aspiro o cheiro dos campos, quem dera obrigar o relógio a andar para trás.
Às vezes se acerca de mim o pânico, o medo de esquecer, por isso me apresso a passar ao papel, a história dum vaso florido que o sol ergueu com narcisos de ouro e que hoje está quase quebrado, e só a poeira o cobre e a palavra o sente.
Recolho a saudade de mim
quando ao espelho me olho...

rosafogo
natalia nuno




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cais do sonho...


hoje o sol levantou-se derramando claridade
a vida está madura e a saudade
tirou bilhete de ida e volta
trazendo aos sonhos a magia
e a ventura desta hora,
tudo é perfeito e o coração se solta
dia em que a a aurora
traz ao mundo esperança
e tudo se recria.

a vida, retoma a suavidade
do cair dum véu
grácil, como um cisne a levantar vôo
a elevar-se ao céu.
acomodo-me no assento
esqueço a vida que se esvai
e o meu olhar fica atento
vou sonhando com emoção, aventura,
sonhando abraços
e nem sinto, o pisar dos meus passos.

bebo dum trago os tons de outono
sinto a monotonia da vegatação
aos meus olhos a emoção
que existe em cada fim...o abandono,
insisto em recordar-me o rosto
minha memória de vento em agonia
é agora sol posto...

desfolha-se o dia
o céu de estrelas pontelhado
a lua os caminhos prateia
respiro o perfume das trepadeiras
que sobem ao telhado,
a alma entre a manhã e a tarde
a felicidade rareia
mas de tudo o que sobrou
sinto-me em cada passo que dou
e à primeira luz do dia que avança
desembarco num cais de sonho
onde me sinto sempre criança...


Itália, 21/11/2018

lembranças de menina...


já não ouço o galo de madrugada
nem o cão a ladrar ao vento
já não colho fruta nem flor plantada
mas trago ainda os gemidos do moinho
no pensamento,e as mulheres fazendo o pão
com a farinha e fermento
já não penduro cerejas nas orelhas
nem procuro passarinhos novos nas telhas
já não ouço o barulho dos alcatruzes
nem apanho goivos liláses
nem musgo do presépio entre as urzes
nem brinco com o pião como os rapazes

já não olho os peixes no rio
por entre os junquilhos
nem ouço o eco dos meus passos
na ponte,
morreram os homens que jogavam matraquilhos
enquanto morria o sol no horizonte...
há sombras pelos campos e a praça está deserta,
a fonte sossegada
já não há moças namorando à noite pela calada
aves já não páram aqui partiram para parte incerta
já só restam janelas fechadas nem uma fresta!
ninguém por elas espreita apagou-se a vida
nada mais resta...

na aldeia agora só toca o sino da igreja
a lembrar quem se foi
nada a minha fé almeja
e a saudade é muita e dói!

ausentes estão minhas mãos e braços
e de todos que partiram, perdi os abraços
no baú que herdei, está minha velha roupa
e da cozinha ainda me vem o cheiro da sopa
o tempo tudo corrói, tudo traça
só a aldeia continua cheia de graça

pretendo manter-me viva com esta paixão
dentro de mim. escrevo-te este extenso poema
olhando o firmamento e tudo perdura
até a saudade sem fim...no coração!
perco-me por entre os laranjais
e ouço as rãs na memória dos rumores
e o piso escorregadio lembro por demais
do açude, e da roupa branca no sabão
toco flores, num avanço e recuo doce
e de novo a saudade no coração
lembrando a menina como se ainda o fosse.
e aquele pássaro ainda me canta aos ouvidos
e à noite o luar devolve-me os sentidos
ouço um murmurar que me traz tranquilidade
o murmurar duma infinita saudade...

natália nuno

sonho-te...


não há dor
apenas a voz esmagada na tarde lenta
escrevo e meus dedos cantam ao amor
que a saudade inventa...
ouço o vento por entre os ramos da acácia
o que dirá ele às voltas p'lo jardim?
escrevo e hoje, chove dentro
de mim...

o vento no seu canto culminante
ousa interromper este silêncio puro
como voluptuoso amigo e amante
entra no meu corpo desabrigado
detém-se como centelha
num fogo apagado.

volto à minha mudez
deixo-o partir, num vôo lento
amanhã talvez...
consiga meu coração ressuscitar
esse vento amigo e amante
me dê um beijo na hora de deitar.

sempre que a solidão se insinua
sonho-te e encontro-te nas memórias perdidas
no vento, que me invade devagarinho
sou tua de novo nestas linhas contidas,
onde agora me aninho
ao sonho entrelaçada
até de madrugada...

natalia nuno
rosafogo

saudade...


cada palavra cheira a fruta
e a saudade,
arranca-me um suspiro das profundezas
do meu coração vigoroso
e mais outra palavra ao virar da esquina
volto a suspirar,
vendo-me ali menina.
natalia nuno
(rabiscos)

loucura...


mais um dia
sempre o mesmo
do começo ao fim,
ruidoso corrupio
sinto o desnorteio em mim
no sonho me refugio

deito um olhar derradeiro
ao rio e ao salgueiro
no vazio da madrugada
as aves livres no céu
cativo só o pensamento meu
apaixonadamente canto
ao romper da aurora
quando estou feliz
ou quando o coração chora

fantasio,
danço em campo de margaridas
me arrepio,
das rolas ouço o arrulhar
tornei-me louca
é nas lembranças que procuro
minha vida resgatar

natalia nuno

sonhos... quadras soltas


Corre meu dia apressado
Na pressa de ir mais além
E meu coração está fechado
Hoje não está p'ra ninguém.

Chega a noite e a escuridão
Transforma a vida em labirinto
Até meus sonhos são em vão
Já é triste tudo o que sinto.

Caem folhas secas ao chão
De meus olhos lágrimas caem
Saudades... são o que são!
Do meu coração não saem.

Que importa q'outros dirão?!
Se a vida é quem me desarruma?!
- Trago comigo a inquietação,
Peço à tristeza não me consuma.

De noite me chega a solidão
E eu fico serena à espera
Os meus sonhos regressarão?!
Pobre de mim! Quem me dera.

Hoje o céu está estrelado
Meus olhos surprendidos
Foi tanto o caminho andado
Tantos os passos perdidos.

natalia nuno
rosafogo

pequena prosa poética....


Vejo a lua pairando sobre os telhados, ela que me espiava nas noites da infância, temos uma p'la outra um amor fraternal, ajudava-me a adormecer aconchegada nos cobertores de papa como se ainda habitasse o ventre materno, fazia-me esquecer as lamúrias e as rezas de minha avó, (e eu sem saber o que lhe tolhia a vontade de viver!), o tempo não aplacava a sua tristeza, o luto vinha-lhe de jovem, sem sequer nunca ter sabido se aquele por quem suspirava, teria ou não morrido, lá por terras brasileiras. Tudo já lhe era indiferente, sempre com o pensamento ligado à morte do marido ía exaurindo de mágoa e no recolhimento da noite, a recordação crescia...e eu ouvia e apercebia-me que havia algo no passado que permanecia constantemente no presente.
Do relógio da igreja caía o bater das horas, e do açude noite e dia sempre a mesma melodia da dança das águas sem se preocuparem se perturbavam o sono da gente, enquanto isso, eu pregava os olhos nas tábuas do tecto, ou olhava o Cristo pendurado na parede até adormecer.
O silêncio cada vez maior e apenas o grito agudo da coruja de quando em quando, parecendo a vida agoirar, e ali dentro das paredes grossas bem antigas da casa, os adultos consumidos pelo cansaço do dia a dia também já se tinham entregue ao labirinto dos sonhos, quiça "pesadelos", perante a vida irónica que não acrescentava nada de bom, já não valia a pena sonhar, só eu menina ainda sonhava. Como me é familiar ainda a velha casa, a avó protectora, o crepitar da lareira, e tudo me aflora à imaginação, tudo me baila diante dos olhos sem esmorecer.

natalia nuno

Leia mais: https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=271830 © Luso-Poemas

chove na minha alma...


há arbustos que obscurecem minhas tristezas
sentei-me à janela a olhar o presente
sem certezas, cansada das madrugadas
enquanto meu sonho dormia
e na minha alma chovia.
passavam as nuvens no céu cinzento
deslocavam-se para o fim do mundo
enquanto meu pensamento por mim
passava moribundo...
a noite foi minha companheira
tudo ela silencia, traz no ventre um novo dia
de sonhos é mensageira
depois virá esse dia com névoa, que m' arrasta
e da vida mais me afasta...

tudo é absurdo nesta alma nostálgica
o corpo insiste em lembrar que não vale a pena
na expectativa de coisa nenhuma
continuo, meus passos...serena!
minha inspiração determina
que me sinta sempre menina, menina ágil
uns dias forte, outros dias frágil.

com minhas mãos toquei o céu
perguntei-lhe como seria a eternidade
desceu um pouco até mim e respondeu
vive a vida, vais ter dela saudade.

natalia nuno
rosafogo

prosa poética...


deixa-me o sabor da tua boca, acaricia meu rosto fatigado na tarde lenta em que as minhas mãos tecem palavras de loucura, como se rezassem!...olha-me com espanto, como se eu continuasse a ser o teu encanto, nua ou vestida percorre a minha pele, poro a poro, afunda-me no teu peito com aquele jeito, com que eu sempre coro...não me deixes neste silêncio estranho, ou no vendaval onde me dobro para não quebrar, o tempo cruzou-se comigo nestas longas caminhadas pejadas de partidas e chegadas, deixou sinais que não posso esquecer e restos de esperanças que quero reter...há lembranças que se vão desvanecendo tal como a tarde, percorre-me o sonho na claridade do teu olhar, onde a felicidade e a ternura são canção de embalar...os meus dedos de menina escrevem umas linhas de amor, e nas tuas mãos, esconde-se a lua vestida a rigor...

natalianuno

sem ti...


me abandono em ti
saio do meu casulo
és o espelho onde me deito
o porto onde eu acosto
contigo a vida regulo
sem ti,
eu morro...aposto!

cansei da palavra
a memória escura
trago fome de ternura.

natalia nuno

semeando palavras...


e estava ali de olhar longínquo
distante de si, a evadir-se
da máscara que os anos gravaram,
com o corpo sem esplendor a querer
encobrir-se...
e no sonho, um comboio de ideias...
na memória turva ainda aquele amor
aquele, que sempre lhe trouxe ansiedade
- sonho baldio o seu sem piedade
que insiste ser sua companhia,
dia após dia.

e estava ali escutando o vento
e as memórias lhe surgiam, não
sabia donde... quem sabe do infinito?!
e sem alento escutava o eco do seu
próprio grito...

e estava ali, escutava a alma errante
e comovida
perdendo a força e o rumo
distante de esperanças, envelhecida
desfeita como o orvalho da manhã
o fumo do fogo quase extinto
- alma que chora por dentro, enquanto o futuro
já perto, murmura,
tempo duro, desprovido de ternura
que o coração recolhe com dor
e tenta afogar num nó.

e estava ali lavrando versos com dó
de si mesma, memoriando os dias
tocando a estrela que ainda a encandeia
esquecendo o que a rodeia, desgastada
é tudo e é nada,
enquanto palavras semeia...


natalia nuno

e já não somos...


são intensos os momentos
que levo dentro de mim,
já a juventude envelheceu,
hoje sou só o canto do rouxinol,
a vaguear ao acaso nas ramadas da saudade...
caindo na agonia
como quem de tudo se despede
sem prisão, apenas com a paixão
p'la poesia...
que se arrasta ardente nas minhas veias
singela, sem peias,
às vezes envenenada
de saudade, de solidão
mas sempre a sonhar deter
o tempo fugitivo
aquele beijo cativo
o sonho que fomos...

e já não somos!
é a verdade e é tudo
nem o ar, nem a brisa
apenas o esquecimento mudo.

natalia nuno

a porta permanece fechada...




a porta permanece fechada
cá dentro os sonhos, restos de vida
espelhos tristes e a alma esquecida
a memória doutros dias pouco ou nada
a solidão não dá tréguas
na janela sem cortina
uma fosca neblina
uma ou outra voz distante
de quando em quando uma lufada de vento
e é neste dia após dia
que a hora de amar gela e esfria
atrás de mim um desejo a germinar
como o vento que desperta
e me grita...amar...amar!

sem que eu entenda nada
a porta permanece fechada
por detrás dos vidros molhados
restos, restos de vida com ardor
os corpos pelo tempo profanados
mas nos corações um tenaz amor

e é o amor que nos ocupa ainda
cá dentro o universo só nosso
onde teus braços me enlaçam com ternura
neste sentir que não finda
que é felicidade, tempestade, loucura.

natalia nuno
rosafogo

ave sem ramo...




andorinhas volteiam no azul do céu
os estorninhos abalam em debandada
olhar que em mim mudou, que fiz eu?
que pelo jugo do tempo fui apanhada

pensei que meu coração asas tinha
julguei-me feliz em doces encantos
viva, era a saudade que me mantinha
e sonhos eram mil ...eram eles tantos!

trago agora cabelos de neve extrema
logo a vida envolta em névoa escura
se é vontade de Deus... ela é suprema!

lá ficou para trás ... a tão florida idade
e tudo o tempo me trouxe, menos a cura,
apenas dos anos restam danos e saudade

natalia nuno
rosafogo

loucura de amar...


Quero decifrar cada momento
guardar-lhe o sabor
de ti, do teu olhar
do enlouquecer de amor
na hora de amar.
Guardar o teu perfume almiscarado
ter-te por inteiro em meus braços
totalmente apaixonada

deixar-me levar pelo sabor
dos teus lábios que me embriaga
e com a nudez da carne desejada

sonhar, e acordar assim,
com o rumor dos teus passos
voltando de novo para mim
e ali,
disfrutar de novo de beijos
e abraços...
A ti me dou
esqueço o mundo
não quero nem saber quem sou.

natalia nuno

viver será assim tão absurdo?!...


os dias morrem as noites também
e eu aqui a pensar na vida
é preciso caminhar e não deixar
de sonhar...
o vento uiva suavemente,
conheço-lhe a voz sonora, ora terna,
ora irritada e exigente
e logo o dia se vai embora,
morre a vontade no meu coração
chega a noite com sua altivez de rainha
aumenta esta solidão tão minha
a vida que era um pássaro livre,
é agora amarga como o choro dum violino triste,
e eu, velha árvore batida pela tempestade
que anda sem tino,
caminho p'las ruas da saudade.

os dias morrem e as noites também
caminho com um passo arrastado
como o lento navegar das nuvens p'lo céu
a morte espreita. e o corpo vai cedendo
quebrado... sem que entenda nada
fustiga-me o tempo e eu fico num pranto surdo
e nas janelas da insónia eu vejo como viver
é um absurdo....

e o que não entendo, é estar tão perto de mim
e tão de mim perdida,
no frio silêncio da tarde, deixo-me a pensar na vida,
com o bulir gritante da memória que não dá descanso
arrasta-me como um vendaval que não cede,
é na saudade que mato a sede, essa saudade
que me molha o peito
tatua em mim a ternura
de voltar a sentir a inocência,
e me enlaça com braços de frescura.
faz-me sentir andorinha da madrugada
ou primeira flor da primavera,
solitária e fugaz pincelada
de sol acariciante...
e aqui fico numa alegria transbordante
a relembrar a juventude, enquanto
os dias morrem e as noites também.

natalia nuno

recordação...


detem-se o tempo
minha vida é ainda jovem
como seara no verão...
no pensamento
saudades chovem,
procuro uma sombra
sabe-me bem a solidão.
lá de cima o sol olha o mundo
a terra observa sua magestade
enquanto isso...vivo de saudade.


natalia nuno
rosafogo

amar é mansidão...


gosto de em teus olhos me sentir
calar as minhas palavras e apenas olhar
aquele rio d'amor recordar
queimar-me no teu corpo, e o fogo repetir.
vivemos agora a vastidão do outono morno,
correndo ainda como criança alegre
sabemos que não haverá retorno
mas a chama sempre jovem connosco segue.
tudo nos deixou recordação
até alguma lágrima no rosto
amar é mansidão
que às vezes ateia e é fogo posto.

as sombras vão ficando em nós
e a inquietude no coração se fixa
trazida pelo medo de ficarmos sós,
basta-me olhar-te para ter alegria
mas, nada permanece o que era
e esta ventura, vai desaparecer um dia,
o amargo da vida nos espera.

puder olhar-te me prende à vida
és ainda a sede dos meus sonhos
olho-te de novo com doçura
amando-te na minha memória
já um tanto adormecida.


natalia nuno

basta saber-me viva...


Meu coração é uma gaiola dourada
Nela se solta o Amor e a Amizade
Branca, como o branco desta folha intocada
Nela um pássaro vai chilreando saudade.
Hoje lhe abri as portas
E a felicidade andou pertinho
E as lembranças já mortas?!
Fui deixando p'lo caminho.
Mas na verdade me doeu
E na garganta um nó ficou
Nas lembranças,também habitava eu
Se por lá fiquei, agora quem sou?

Apago-me como flor sem sol, tanta vida lá atrás
Já pouca coisa resta, o silêncio sobre mim se deita
Nesta descida entre a saudade e o frio, tanto faz!
Mastigo incertezas, já que a Vida não é perfeita.

Deixo-me a pensar com meus botões
Enquanto cai uma chuva enfadonha
Basta saber-me viva de ilusões
Minha alma malferida, ainda assim,sonha
Insistem os chilreios em meu coração
E há largueza por onde entra a claridade
Mas quando já não restar emoção?!
Serei como raiz sem apego, sem lugar
Morrerei de saudade...
Levada p'lo tempo, deixando-me por ele apanhar.

natalia nuno

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loucuras...


beijar teus lábios
cerrar os olhos
abri-los depois radiante
tingir o rosto de felicidade
ser mulher e amante
ouvir o teu clamor
a atracção do teu olhar
e deixar-me nesse beijo
doce
nesse licor
nesse ficar
nas asas do amor

fazer-te versos íntimos
de sílabas cantadas
com palavras poucas,
palavras loucas
de alma arrebatada

abrir-me ao desejo
como andorinha esvoaçada.

natalia nuno





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páginas do meu sentir...


As minhas poesias
São páginas do meu viver.
Da Vida contam os dias
Crescem nas minhas entranhas
São sonhos e quimeras tamanhas
Que no pensamento estremecem
E como rosas fenecem.
E ao morrer?!
Levam com elas, tristezas e alegrias.

Surgem das nascentes
da minha vontade
Dum rio que corre em mim
Suas margens e afluentes
São a saudade
Que vai crescendo assim.
Fazendo-me viver,
sem se importar ao que vim.

São como a força imparável do vento
São livres como nuvem passageira
São pássaros brancos em lamentos
Voando p'lo Mundo sem eira nem beira.

Minhas poesias são madrugadas
São tardes vestidas de azul
Relampagos, raios, trovoadas
São este, oeste, norte e sul.
Gemidos desde o dia em que nasci
Rumores, insistências, são pão!
Elas aí estão falam por si.
Atravessam a memória sem rumo
São a lenha, o fogo, o fumo
Ardendo em mim,
procurando seu chão.

Minhas poesias são palavras perdidas
Palavras achadas
Sentidas
Amadas.

São becos sem regresso
Caminhos onde a saudade tem crescido
São a distância que meço
Da criança que sonhou e
tem seu sonho perdido.

natalia nuno
rosafogo

o amor que invento...


o
amor ficou colado ao vento
que passou pelas letras do poema

em fuga, breve, breve sentimento
amor já não volta a ser o tema.
amor, sentimento que desencandeia
ciúme que magoa, tecida teia, sofrer à toa,
tempestade de areia
vento do nordeste...

amor tão pouco o que me deste!

natalia nuno

trovas antigas...soltas


A trova é para troar
Aos sete ventos pois então!
Se a trova queres travar?
vais morrer de solidão.

Trova-se na madrugada
Ao doce alvor da manhã
se a trova fôr travada
Enrusbece como a romã.

Ai...de que me serve a vida
Se há nela tanta mentira...
Trago a esperança perdida
Que até a crença me tira.

Vestígios, do que se foi
Prós quais não há remedio
É dor que existe e que dói
E traz à vida algum tédio.

S há dor que nunca passa
é tempestade ou bonança?
Sofrer pra nossa desgraça
é deixar morrer a esperança.

natalia nuno
rosafogo

chorem versos, chorem rimas...


chorem meus versos e rimas
chorem que vos abro o peito
d'minhas lágrimas sois primas
dormis amantes no meu leito

chorem versos, q' eu aguento
chorem, que nada vos impeça
vertam todo o vosso lamento
que na minha alma tropeça

chorem q'o tempo apressou,
tempo enfrento mas odeio...
frágeis, o fogo vos queimou
deito-vos as mãos sem receio

chorem meus versos por mim
que a dor não cura jamais...
chorai mostrando que assim
liberto estes meus ais...

chorem rimas, chorem firme
chorem com vontade e razão
que o tempo vem a seguir-me
e assim doendo, é solidão...

chorem versos q' me defronto
e vós rimas com mais furor
que o meu coração está pronto
...de meu rogo fazei-me o favor!

se nada já me é igual
já nem o sol é tão perto
chorem palavras que é fatal
já nada comigo dar certo.

natalia nuno
rosafogo
quadras soltas, 10/2008





murmúrios de meus dedos...


que me importa se mais não sei?
sonho é saída para a obscuridade
num barco de palavras eu rumei
inquietações e caminho de saudade

que importa quem a mim se afeiçoou
foram tantos sentimentos d'insatisfação
se alguém sentimentos me despertou
recordo-os ainda nesta imensa solidão

q' importa o ruído em versos esculpido
e no coração este ritmo frio, persistente
que importa o tempo ter-me envelhecido
e a morte sempre a rondar-me febrilmente

q'importa se sou pedra q' por dentro chora
ou a erosão que escrevo nesta página vazia
enquanto o tic tac do relógio der a hora
titubeante e confuso nascerá mais um dia

que importa sonhar, ilusão em cada linha
e plantar inquietude em versos de frescura
ordenar ao acaso que em mim caminha
que apague a melancolia e invoque a ternura?

natalia nuno

de céu em céu...


A solidão percorre o meu peito
sombreado
Só um raio de sol na tarde fulgura
Meu coração é um vale desolado
Onde a tarde se fez tarde é noite escura.
Só o silêncio ficou...
E um aroma suave a madressilva
Com minhas lembranças doces estou
E a memória para lá do tempo
impulsiva.
Ouço gorgeios, parece choro!
Canticos belos em coro
Deixo-me alheia a tudo
Nas brumas do meu outono mudo.

Trago risos nos lábios fatigados
E lágrimas a turvar minha melancolia
Andam meus pensamentos agitados
Mas em sorriso ou pranto, sinto
uma doce harmonia.

O vento me afaga o rosto
Enquanto o sol me ignora
Chega a lua o sol é posto
No paraíso me sinto agora.
Levam-me meus passos de caminhante
Em sonhos de amor até à aurora
Corro atrás dum misterioso amante
Em dedos enlaçados caminho fora.

rosafogo
natalia nuno




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à tua espera...


os dias parecem longos
sobretudo quando as flores morrem depressa
e logo a ânsia com que a saudade regressa...
espreguiçam-se as recordações na memória
e longas são as emoções.
vai a morrer a tarde, sigo contigo
de mão na mão, cabelos ao vento
e tu acendes em mim o desejo
dum beijo, outro beijo, e eu sonhando possuo o mundo
neste desejo tão profundo...
os dias parecem longos, passo por eles a medo
a dor não passa, a dor da saudade
desse amor, que vou recordando em segredo.

os dias passam... para mim minto
crendo que ainda plantarei flores na primavera
à chegada dos pássaros dir-te-ei o que sinto
e assim, remoendo o tempo, reenvento sonhos
à tua espera...
os dias não me trazem recados teus

por detrás das cortinas há lampejos de lua
deixam remediados os sonhos meus,
é a hora da loucura, dos abraços,
dias repetidos de saudade nua
da carne a envelhecer ...do sonho a morrer.

o tempo, vai agora bordando o silêncio
é tempo do coração quieto e sereno, da solidão
e dos dias que parecem longos, doridos, vazios,
onde adormeceram as emoções, uma ou outra dor ainda,
a saudade que não finda e
uma peregrinação de recordações.

natália nuno
rosafogo

liláses tardios...


amanhece, o quarto de sombra carregado
é a solidão dos dias cinzentos
em mim, lamentos, o pensamento calado
mergulhado num mar profundo
onde a luz não faz morada
penso na vida sem regresso
para a terra fria virada,
na manhã tropeço
no orvalho escorregadio
saio do submerso vazio onde perdida
vejo a vida a envelhecer
só o coração guarda a vontade de viver
a janela nem vou abrir
olho por dentro do vidro a lacrimejar
e não é nada, absolutamente nada o meu sentir
é o tempo... o coração a esquartejar.

como se pode matar as memórias de vez?
como pode este dia ser tão triste...
talvez, que os liláses tardios esquecidos
no jardim, falem por mim...
deito a cabeça sobre a almofada
sinto-me avezinha assustada
o vento ronda a janela fazendo alarido
fala-me uma língua estranha em tom comovido

ficam as horas penduradas
esqueço a janela a lacrimejar
foram-me as lembranças arrancadas
que faço da saudade quando ela chegar?!

natália nuno

MEMORIA DUM TEMPO ÍDO


MEMORIA DUM TEMPO ÍDO

Já choram de novo os beirais
Me embalo com o seu choro
A solidão pesa demais
Por um dia de sol imploro.
Cai a chuva como pranto
Desesperada no chão
Também o meu desencanto
Açoita o meu coração.

Já choram de novo os beirais
Lágrimas do céu em desespero
Cantam os pássaros seus ais
E eu à Vida que tanto quero.
Não levo pressa de chegar
Quem sabe numa madrugada molhada
Ou quando o tempo amainar
E a Vida p'ra mim fôr nada.

Já não choram mais os beirais
Se calam em descanso merecido
Já são memória nada mais
Memória dum tempo ído.

Agora sou eu quem chora
Porque já se encurta a Vida
Meus sonhos foram embora
Ando de sonhos despida.

rosafogo
natalia nuno



meus poemas são pássaros...


Meus poemas são pássaros
ouço-os a bater as asas
partem tristes
deixam-me na saudade,
vê-los partir,
é um misto de tristeza e felicidade
um dia fugir-me-á o coração
quando a morte vier
e a vida se desprender
ficarão as palavras escritas
aflitas, o sonho e a recordação
sem eira nem beira.

Será possível morrer em paz?
é tarde, a vida me arrasta
os ponteiros do relógio não param
para quando a despedida?
Já tanto faz!
Estou gasta, igual ao tempo
deste meu viver,
quero em paz envelhecer
como o outono que se vai.

Meus poemas são pássaros
deles a saudade não sai,
são roseiras brancas
de caules outonais,
são rituais,
cataventos de saudade
na voracidade do vento,
pássaros do meu pensamento.



natalia nuno

sentimentos à flor da pele...


trago o coração parado
nem o silêncio o consola
se amor não lhe fôr dado
não o pedirá por esmola

dói-me de tanta saudade
e desta vida agastada
se amor não é de verdade
imaginário...não é nada...

o coração vive fechado
num corredor de escuridão
a vida o traz agastado
e sofredor de paixão...

palavra vai... palavra vem
para ti com laivos de amor
para mim vens com desdém
mas não guardo rancor...



natalia nuno

do que fui sou a saudade...


Eu, sou aquilo que sou.
Que nem eu sei descrever bem!?
Só sei que a Vida passou.
Por mim com algum desdém!
Já não sou folha viçosa.
Sou lágrima dum adeus!
Mas já fui rosa, e que rosa!?
Apagaram-se olhos meus.

Sou então aquela que fui!?
Digo sem receio nem agravo
Sou como tudo o que rui.
Mas já fui livre que nem ave!
Fui labareda ao vento,
Fui chama que ateou...
Hoje só espero o momento
De perceber quem ainda sou!

Se calhar não sou ninguém?!
Ah! Do que fui sou a saudade!
Pois se houver por aí alguém?!
Me conte do que souber a verdade.

rosafogo

promessas d'amor...


a tarde empanturrou-se duma luz doce
luz que nos enche o peito de ternura
e aos ouvidos me embebedas
com juras e promessas d'amor
que me adoçam o coração...
o sol ainda brinca nas folhas do limoeiro
é rápida a paixão da tua procura
no fim do delírio, e da emoção
esquece-se o mundo inteiro
os corpos despojados de prazer
ficam num total abandono
até chegar o sono,
fechar os olhos é como renascer

na avidez do tempo
cada vez mais depressa a vida
e a cruel verdade
de que já tudo é só saudade

o tempo nos vai apagando,
com um ar cansado
me abraças sobressaltado
já só estamos sonhando.
rompe a manhã que será diferente
recomeçaremos tudo novamente
com a firmeza de seguir
até que os sonhos sempre regressem
e o amor não extinguir.

natália nuno

se o tempo por mim passou?!


Meu tempo está a chegar ao fim!
Nada trouxe, nada levo.
Passou o tempo por mim,
Neste fio da existência, já nem me atrevo,
A relembrar a que se perdeu numa miragem
Meus olhos já entraram em canseira,
Renegam ao espelho ver a imagem
Desta, que ainda é a verdadeira.

Vou-me deixando embalar em fantasias
Os vestígios do passado?!
São as memórias, dos meus dias.
Tudo vejo, ainda que de olhos fechados,
Habita na memória, a memória d'outra mulher
A outra que não voltarei a ver!

Deste destino, levo comigo escuridão
Pouca foi a claridade!
Quando morrer levo a ilusão
E presa a mim essa saudade.
Aguardo o vento do entardecer
Quero tudo no seu devido lugar
Das memórias vou querer
A luz, que dormitou, deixando meu rosto vincar.

A lembrança do tempo, mais antigo
Que não volta, eu sei!
Eu era vento que soprava, e agora digo:
Tudo era encanto, o amor sobrava
Nada era postiço, ser feliz era Lei!

As memórias são ruelas...
Baixo meus olhos , tudo se dissipou
Que faço agora com elas?
Se o tempo por mim passou?

rosafogo
natalia nuno

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sigo em frente...


meu poema é feito de vida
do aroma do cravo e da rosa
da água do rio vagarosa
do perfume que me corre no peito
de promessas ao vento
com pedaços do pensamento
e meu sonho a ele sujeito.

da razão, tempo e vontade
bens que trago da idade
e sempre me surpreendem
prendo-me a esta verdade
sentimento que nasce
em mim e é Saudade.
desajeitada,
bato asas de contente
e sigo em frente...

natalia nuno

só porque te olhei...


os sonhos são retalhos
os seios laranjas sob a blusa
no peito uma flor de organdi
já não se usa
eu sei,
pu-la só para ti,
meus olhos em espanto
só porque te olhei,
no olhar o ardor
lembrança que queima
quero ter-te amor
que a saudade teima
aconchega-te a mim
sem palavras
não preciso delas
meu corpo desabrigado
nas tuas mãos perdido
entrega-se a elas.

natalia nuno



sonho de saudade...


pelo meu corpo passeiam
tuas mãos
donas dos meus desejos,
dominam meus anseios
sinto-as, e vou
ora resistindo ora não,
enquanto de amor bate
meu coração, mãos que

nos meus seios viajam

a cada segundo...esqueço
o mundo!

meu corpo é lava acesa
areia em tempestade
sonho de saudade.

natalia nuno
rosafogo

escrevo o que sinto...


sem saber como
levo a vida esgotada
ainda agora era manhã
já é noite cerrada
passou o alvoroçer
já lá vai a madrugada
a tarde deixou de ser
fico nesta suavidade
fundo-me com a minha sombra
eternamente a saudade
no silêncio da alma
tudo acalma e serena
nesta estação amena
e o feitiço da lua
faz-me reencontrar a paz
escrevo o que sinto
e o coração se satisfaz.

na minha alma há musica
porque a esperança em mim germina
amanhã serei de novo menina...

natalia nuno

estremecem as madrugadas...


estremecem as madrugadas...

as tuas mãos são aves do paraíso
que voam na paisagem do meu corpo
percorrem os trilhos sem juízo
até às portas da madrugada
e o tempo é terno enquanto caminhas
ressuscitando a minha vontade
dos tempos de loucura
de que nos resta saudade,
mas voltas e é sempre nova aventura
e a tarde arde ao rubro
e é aí que eu descubro
que o nosso amor é de verdade

quando as tuas mãos se afundam
exprimo o meu desassossego
o tempo ri de mim e de ti
mas o nosso sonho ainda mora ali
o amor fica de sentinela
e a serenidade na alma
- o tempo o coração gela.
atormenta-nos ver a vida a cair
nossas mãos estão carregadas de doçura
e há estrelas nos nossos gestos
e infinitamente nos amamos com loucura

e amando-te assim infinitamente,
descubro que invento palavras meiguíssimas
esqueço tudo o que é triste dou um passo em frente
e carinhosamente voo no sonho enlouquecida
assim corre a vida,
estremecem as madrugadas
quando nos amamos...

natália nuno

amor é...


Amor é pássaro leve
fugitivo
Que canta numa acácia florida
Pássaro que não se quer cativo
Voa...voa num vôo obsessivo.

O amor é estrela perdida
no firmamento
É lua amarela, solitária e oca
Água fresca na boca
Nevoeiro onde se abriga o relento

O amor é um mundo despovoado
Doce batalha de paixão
Ave que não esquece caminho andado
Amor é seiva, floração.

Alquimia que nos deixa a levitar
Luz que não se deixa aprisionar.


natalia nuno

sonho doce...sonho louco...


a vida é uma corrida,
é uma passagem,
e a felicidade não é mais que uma
miragem!
para quê deixar embaciar o olhar
e pôr de negro o pensamento,
deixar tudo em desalinho,
de que serve o lamento?
se a vida é seguir caminho.

levo um rosário de cansaços
na minha estrada interior
prendem-me à vida os laços
a quem me entrego por amor

e na santidade das horas
do tempo que não volta mais
há um sonho onde sempre afloras
na saudade dos meus ais

e a vida que é corrida
feita suavidade e dureza
tem hora de tristeza adormecida
olhos cheios de encantamento e
beleza...
embranquece o cabelo como a neve no inverno,
mas nosso amor será eterno!
e o sonho onde sempre afloras
sonho doce, sonho louco
é a mistura de todas as horas
dum tempo que soube a pouco.

natalia nuno

 
 
 
 
 
 

 

 

 

que me importa?....


Que me importa que seja tarde?
Que esteja à mercê da vida
A mercê da saudade?!
Que me importa que me achem louca varrida?
Ando à mercê!
Deste tempo que me deprime, me faz sofrer
Aqui, onde anoitece e só eu vejo, ninguém mais vê
Aqui onde a esperança já não quer acender.

As horas vão passando!
E eu no assento me remexendo
Nesta viagem louca, mansamente caminhando
Ou dando caminho à Vida e nela me perdendo.

A quem importa se trago o coração cheio ou vazio?!
A quem importa que a noite que adensa me traga frio?
Que me importa se as lágrimas que chorei secaram
Ou se me esquecem até os que me amaram?!
A Vida quebrei! Estilhacei!
Quero lá saber se os cacos juntarei...
Ou voltarei a juntar!
Se ninguém vai saber, nem perguntar.

Cerro os dentes, calo a voz
Só eu e a melancolia no portal da minha porta,
esta me faz companhia, se senta comigo,
Estamos sós!
A Vida nos pôs de castigo.
Não me importa, já nada me importa.

Na garganta me ardem os gritos
Sufocados, p'la solidão desesperados
Já lhes ouço o eco, dentro de mim aflitos
Que me importa? Pois que fiquem também eles a um soluço confinados.

rosafogo
natalia nuno






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o amor é...


o amor é o aroma que vem até nós de estrelas distantes, e é tão grande que não cabe num só coração, queremos obstinadamente que ele fique cativo... nos dois!

natalia nuno ...

levo meu barco...


Em meu barco faço minha travessia
Sou capitã, não me deixo naufragar
Para as aventuras deste dia
Levo comigo quanto preciso e que hei-de amar.
Irei vasculhar todos os mares
Penetrar em àgua profunda
Abarcar em marés de luas e luares
E deixar ao longe a terra moribunda.

Sei de cor e salteado
Sou do Povo, dele venho!
Falo sempre assim e assado!?
Tenho a importância que tenho.

Melhor do que quem quer que seja
Sou bicho raro, sou ignorante?!
Pertenço ao Povo,sua voz em mim rumoreja.
Levo meu barco distante.
Não devo nada a ninguém!
Faz tempo, a pobreza enfrentei
Sigo sempre mais além,
Tempestades enfrentarei.

Deste barco não arrancarei pé
Sou marinheiro de fé.

Sou poeta desde a juventude
Bom poema não consegui escrever
Mas vou tentando amiúde
Quem sabe?!
No Céu quando morrer!?

rosafogo
natália

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confusão...


insisto em me esconder
como se do mundo não fosse
não consigo entender
por que é que .
é amargo e não doce

direis vós, direi eu
que a felicidade está por aí
que a vida é maná do céu
vezes sem conta repeti!

vós que passais pois vede
como é grande a confusão
meus olhos turvos, boca de sede
até o espelho me olha com provocação.



natalia nuno

euforia...


Hoje trago o Sol pelos ombros
Até o espírito trago tranquilo
Meu coração saíu dos escombros
Escuto-o em mim, voltei a ouvi-lo.

Trago ao pescoço uma cruz
Que a da Vida tirei da fronte
Na memória se faz luz
Cada dia vou viver e olhar o horizonte.
Mas falta-me talvez ousadia!?
E lembrar também já me cansa!
Dias há que de tristeza me sinto casa vazia
Os pensamentos, misturados na lembrança.

Ouço o que o coração tem p'ra me dizer
Procuro fazer minhas rimas puras
Que sejam elas belas como o Sol a romper
Ou tristes ais em noites escuras.

Mas hoje?! Meus olhos são como dois faróis
Com a luz do céu e a cor do mar
Com a intensidade de mil sóis
Decididos que à Morte?! Não me hão-de entregar.

natalia nuno


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nostalgia...


o fim do dia sabe-me sempre a despedida,
a beleza está na chegada
na desmedida alegria da alvorada,
- e não na partida!
há muito cheguei
deixo pedaços de mim
na bagagem levarei coragem e sonhos sem fim.

depois de ter partido!?
ficará a marca dos meus passos
a ausência dos abraços
um século da minha vida,
e a minha força represada na poesia ...
será mais um fim de dia
com sabor a despedida.

natalia nuno

tão quase nada...


horas mortas, que me abatem um pouco, meus olhos seguem a linha do horizonte, o mar em mim tão quieto, leito onde se abriga a nostalgia e a saudade, que sempre a ele regressa irrompendo a cada instante com a destreza do vento...demoro-me sobre as recordações a rememorar o passado, e na minha cabeça é domingo e há sinos e sinto-me a passear comigo, tranquila, num céu sem uma única nuvem e o mundo a escapar-se de mim...a vida parte, o tempo entristecido, as palavras fracassam, deixam uma chuva de ideias e coisas por dizer dentro de mim naufragadas...


natalia nuno
rosafogo

palavras soltas...


Amar-te é meu segredo
amor é malha que teço
tua ausência me dá medo
e ao temer tanto padeço...

corre o tempo e faz-te meu
tu perdido, nunca chegas!
este amor por ti cresceu
e tu amor tanto te negas.

não querer-te assim,
eu queria,
é tanta a minha agonia
quanto mais te nego
mais te quero,
e no desespero
é grande o meu apego
apregoo aos quatro cantos
que um dia?!
perco o fio à meada
e nem com reza aos santos
farás de mim tua amada

natalia nuno

cântico à vida...trovas soltas


a morte é parte da vida
é mar da nascente à foz
e é Deus quem nos habita
suas mãos tocam em nós

com a terra, fauna e flores
um sonho nos confiou
dávidas belas, esplendores
um sonho maior criou...

como a água deslumbrada
rasgando com seu caudal
desenlaça a vida apressada
despenha-se no vazio é fatal

a vida é como a trepadeira
que quer alçançar seu enleio
rebelde não conhece fronteira
nem tantas pedras de permeio

os nós enlaça e desenlaça
num acontecer constante
o tempo passa sem graça
e a graça passa num instante

assim a vida é uma viagem
nada, nem ninguém a detém
mar de lembranças, passagem
arauta... da morte também.

natalia nuno
rosafogo

trago sonhos nos dedos...


sonhei que era
mas sou a sombra do que fui
nada mais a não ser
o que de mim a vida espera.
restam os sonhos
coados pelos meus olhos,
plenos de nostalgia da infância
onde tudo era abundância,
onde a lua me tocava,
e a vida me prometia.
promessas de muito e nada.

hoje é noite no olhar
cansado
e os sonhos moram em versos
tristes
feitos dum braçado
de palavras estremecidas
da saudade nascidas,
partindo da memória, com paragem
obrigatória no chão
do coração.

sonhos alados de ternura,
lembranças que são águas velozes
no sossego do sono
onde procuro por mim
como louca ouvindo vozes

e me encontro,
MÃE...
na ternura da tua boca.

natalia nuno
rosafogo

à vida...soneto mar traiçoeiro


Que mar, o desta Vida! Traiçoeiro!
Onde vogo sem rumo, sem porto seguro.
Náufraga, o tempo se faz de mensageiro
Mas,apenas de saudade, já não me iludo.

Na fúria das ondas, onde me ergo e caio
- Morro à luz do dia, ouvindo meus ais!
Morreu o deslumbramento, nada bom atraio?!
Levo solidão da partida, digo adeus ao cais

Na palma da minha mão fechada a amargura
Tristes suspiros leva-os o vento nas velas
E no coração a coragem o resto da vida dura.

Nesta viagem sopram já ventos de tempestades
Sinto meu peito dorido, naufragando nelas.
E lá no fundo, repousam minhas eternas saudades.

natalia nuno


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que é feito do nosso amor?!!!!...


Escrevi-te todos os dias
gemidos a toda a hora
pensei que me enlouquecias
da amargura de ires embora.

Labirintos, vida perdida
desencontros obscuros
ficou a mágoa e a saudade
e os meus sonhos tão escuros.

Sepultaram a minha felicidade
e hoje o Amor já não arde!
fui sucumbindo à espera
da resposta que não chegou
anoiteceu já é tarde
já a mágoa em mim calou.
Das carícias esperadas
reprimi o que em mim era
as minhas lágrimas salgadas
hoje morri na espera.

Como um brinquedo velho
quero de mim própria fugir
na Vida já não há espelho
que volte a ver meu sorrir.

Escrevi uma carta de amor
deste bem querer que sinto
na falta do teu calor
eu para mim mesma minto
que é grande a nossa paixão.
que recebi lembranças e ouvi
confidências e bater do teu coração
amor, que é feito de mim e de ti

Mas trataste-me com frieza
fiquei de lamento em lamento
agora tenho a certeza
para ti, não tenho merecimento

Teu amor marcas deixou
rezo de joelhos no chão
mas o Santo me falhou
não me dando a tua mão.

Do teu corpo guardo as doçuras
e uma saudade infinita
tinhas prometido loucuras
que o meu ainda acredita

Mas o amor está desfeito
já esqueço até o sabor
o calor do teu peito
que é feito do nosso amor?

rosafogo
natalia nuno

palavras perdidas...


Perdem-se as palavras, sem objectivo
Como folhas caídas em dia de vento
Perdem-se timídas, sem lenitivo
E ficam perdidas na vida sem tento
È às vezes, não chegam para dizermos
Da imensidão do nosso querer
Outras saem da boca sem querermos
E dizem o que nos vai na alma, sem temer.

Difícil é encontrar as palavras certas
Para exaltar adormecidos sentimentos
Perdem-se em silêncios, em linhas desertas,
Desvanecem, entristecem de tantos lamentos.
São elas beleza, quem escreve não sonha, nem sabe!?
Acha sempre a última mais bela que a primeira!?
Quando esta é como o botão que se abre
Que o Sol sorrindo leva na dianteira.

Tanta palavra perdida e o poeta ao lado!?
Perdido também ele na sua canseira!?
Nem sabe se lembre... ou esqueça o passado.

rosafogo



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saudade bordada...


és sempre aquele sol que me falta
trazes de calor as mãos cheias,
és a minha saudade,
a vida que em mim ateias
meu mar, e eu tua sereia,
és meu sol feito poema,
hoje, és o meu tema!
«espanta-me o quanto ainda sou capaz»
de amar-te,
trago lembranças cingidas ao peito
e uma vontade louca de falar-te
com ingenuidade, assim deste meu jeito.
entrego-me a ti insaciada
num enlevo que sinto e não calo
nestes versos em que te falo
desta estranha força continuada
que me agita os sentidos
em noites sem fim...onde te falto e tu a mim.

natalia nuno

doce tempero...


Tempero
pão nosso de cada dia
que a mãe coze no forno
com esmero...
porque tudo se perdeu,
menos a hora de saciar
a fome na saudade.

hora que funde nas entranhas
saudades tamanhas,
realidade perdida
doutro tempo
doutro espaço
que ainda respiro, que ainda abraço

respiro o cheiro da terra
ouço as vozes nas ruas desertas
olho a mesma lua crescente
o mesmo sol ardente
as janelas abertas
a mesma sombra no chão deitada
a menina desajeitada
o mesmo chão fecundo
e ali é o meu mundo.

fecho a porta à chave
à saudade
e parto num vôo de ave
sonho...sonho... invento a fantasia
esqueço as rugas que me sulcam
o rosto...e,
enfrento mais um dia,
caminhos onde me cruzo
com a realidade.

natalia nuno

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as comadres pois claro...loucas...


Felicíssimas da vida, a criancice abeira-se delas e fá-las passar um bom bocado onde em crianças de divertiam...e estas brincadeiras servem para lhes apagar do rosto muitas horas de cansaço ainda que fiquem com a cabeça meia azamboada...que belo quadro este! Dizem umas para as outras corando mais que nunca, e aos olhos assoma-se um prenuncio de felicidade, estes sonhos de meninas completam suas almas, parece nem haver passado o tempo pois esta vontade de brincar tempera o presente e o torna eterno. Imbuídas deste espírito jovem e entusiasta as comadres exclamam: tão cedo não vamos esquecer! Ás vezes nas suas fases mais emotivas desfazem-se em lágrimas, lágrimas de saudade, então lutam contra as emoções, contra as ideias e sentimentos caídos em desuso e enquanto olham o mundo à sua volta imaginam que o tempo regrediu...

natalia nuno

entre ser e não ser nada...


há sempre uma hora que morre
deixa meu coração ermo
e minha face amadurecida
na solidão...
minhas mãos me parecem alheias
de rabiscos cheias
com poesia inacabada
entre ser e não ser nada.

ao redor a escuridão me cerca,
na mão a bagagem triste
percorro um corredor sombrio
meu tempo se enche de vazio
e frialdade...já nem sei o que existe
sou solidão e saudade!

mais uma hora morta
como impedi-la de passar?!
ouço os passos do tempo,
deste tempo que teima meu sonho
quebrar.
esta hora é tudo que resta
vejo passar os dias um a um
e já nem sei a idade
e como se não restasse nenhum,
meu sonho
permanece na obscuridade.

tudo parou na tarde que morre
parar o tempo como queria!
rente à sombra das àrvores a escuridão
a noite desce, não há saída
morreu o dia,
a noite traz-me o sonho p'la mão
amanhã haverá novo sentido
para a vida.

natalia nuno
rosafogo

palavras leva-as o vento...


Ignoro onde me levam meus passos
Devo porventura desculpar a vida?
Como recuperar se só restam traços?
Em boa verdade, me sinto perdida.
Rompo com a própria vontade
Sozinha com pensamentos a esmo
Deixo-me a rememorar com saudade
Para não me esquecer de mim mesmo.

O tempo amadureceu este sentimento
De prosseguir, de me apressar no caminho
Não vá acontecer meu desaparecimento
Numa noite breve, dar-se meu descaminho.
Já nem sei com rigor nada a meu respeito
Só sei que estou numa idade diferente!?

Se é dia ou crepúsculo, a hora a que me deito!?
Se muitos ou poucos os passos em frente.

Face ao desconhecido, a imaginação é que tece
Não é medo não, só mau pressentimento!
Mas a Vida já nem aquece nem arrefece!
"Palavras, palavras leva-as o vento".

rosafogo
natalia nuno



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há um não sei quando...


trémula a última estrela
soltam-se palavras na memória
a dor ri de mim
é tanta a sombra que me envolve
no escuro
debalde a claridade procuro
no tempo que me tem,
e só é, a saudade que vem
do tempo de além.


tiro da gaveta o linho
com o olhar turvado
morro como um passarinho
com seu cântico acabado.


trago o silêncio na garganta
e já nada me espanta
há um não sei quando
que me persegue
e um não sei onde me leva
há uma loucura de saudade imensa
uma coragem que se nega
e um frio que se faz presença.


natalia nuno

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restam as pedras que piso...


Dou meia dúzia de voltas
Tal qual como um pião
Pouso sobre o papel a mão
E as palavras me saem soltas.
Sobre a pressão dos meus dedos
Escrevo ora a medo, ora sem medos
Olho no céu as estrelas, mais de mil olho!
Mas não tenho ilusões!?
São minhas lágrimas guarnições
Com elas meu rosto molho.

- Fico neste meditar
Espicaço meus sentimentos
Coisas de ternura me vêem ao lembrar
Momentos...
Uns que foram como cristais
E outros partidos p'los vendavais.
Um dia e outro em fileira
Trazendo um tempo de obscuridade
E meu coração queira ou não queira!?
Deixa-me no aperto da saudade.
Mas não trago mágoa não?!
Desse tempo donde venho
Lembranças fantasmas são,
Do que tive e já não tenho.

Restam as pedras que piso
Pois se em mim já tudo desaba?!
Fico a pensar que já nada exijo
Mas até o nada se acaba.

natalia nuno




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tarde lírica...pequena prosa poética


tarde lírica...

Sinto-me agora na proa da vida, leva-me esta como um barco duma margem à outra margem, neste rio caudaloso faço travessia, dia e noite, noite e dia, ora em águas claras ora em águas turvas com redemoinhos no seu leito num murmurar sereno vou resistindo às intempéries de cada instante...
Ouço a canção do vento que se faz ouvir, as horas correm como se não tivessem cansaço nos pés e eu, à sua frente um tanto fatigada, tentando exaurir minhas forças e não me deixar levar ou cair nesta subida.
A saudade se encarrega de me trazer de novo recordações e eu poeta me sinto, vou criando com o segredo ou o mistério que só meu coração conhece e entende, também porque a esperança ainda não se fartou e o amor à vida não morreu...sinto-me agora com o peso dos anos nos ombros, meus braços pendem como os galhos das árvores ao peso da chuva e do vento, mas no meu horizonte há ainda raios de sol vermelhos que me aquecem a alma e meu corpo sente-se a saltitar com a agilidade duma cabrita montesa, entretanto escrevo, escrevo quando a lua se passeia p'lo céu, além , muito além, e o outono vai adiantado, o sol no ocaso inflama, avermelham as folhas que vão caindo atapetando o chão e o meu coração ama...ama...e as palavras vão amaciando meus dias, são como armas frágeis com que enfrento a monotonia, até que os pássaros regressem e cantem na minha boca ou até que o sol da manhã me traga de novo o desejo de voar.

natalia nuno

boa semana a todos que o ano que se aproxima traga muito de tudo para todos, essencialmente saúde e amor também.

trovas...


não me posso recusar
nasce de forma perfeita
vinda da terra ou do mar
poesia em mim se deita.

poesia de transparência
fluída, alegre... e vária
límpida é sua essência
surge às vezes solitária.

tão perto e tão distante
ando na vida à mercê...
só eu vejo num instante
o belo que ninguém vê.

doce e quente teu olhar
como gostava de possuir
conseguir sempre rimar
só para ver-te sorrir...

rimas trago no pensamento
rimas trago no coração
rimas faço cada momento
as rimas me dão a mão...

são pobres rimas coitadas
como elas eu pobre sou...
mas, não somos mal amadas
como por aqui se provou.

natalia nuno

eu sou...


sou aranha que tece a teia
sou folha levada p'lo vento
ou onda que avança na areia
sou ai dum extinto lamento
sou a lua que olha a terra
sou do rio a outra margem
ou notícia que anda na berra
buscam outros minha imagem
sou uma tarde abrasadora
trago interrogação na boca
uns me julgam sonhadora
e outros me acham louca
sou espelho onde me vejo
sou água a subir-me ao pé
sou mulher feita desejo
reconheço-me forte na fé
sou noite fresca de verão
a lua caindo nas águas...
sou esquecimento e solidão
um mar fechado em mágoas
sou a que fiz e a que faço
de rosas murchas, poemas
afirmo a vida e nela enlaço
num grito as minhas penas.

natalia nuno

pensamento...


"nada é para sempre, mas a gente pode fingir que não sabe disso".............................................................................

assim, desta maneira simples, como se transformássemos a verdade em mentira, ignorando, como se fôssemos crianças correndo em alvoroço sobre dias iluminados recordando a vida em seu ar distante, ou como se hoje fosse o primeiro dia que nos levará à felicidade dos tempos...

natalia nuno

pespontando sonhos...


minhas mãos ficam ávidas
em delírio, enquanto as palavras sobem
e afloram veementes
ganhando raízes no pensamento
em cachos dourados
provenientes
dos cinco sentidos,
ali me aguardam pacientes
como recém-nascidos
a refrescar-me os dedos
a calar-me os medos
a olhar-me como quem olha
um espelho quebrado
despido de sedas,
vestido de máscaras
espectáculo de outono sem cor,
acabado.

e logo as mágoas retornam como chuva
extraviada...
enquanto o vento frio esvoaça a cortina
e eu já de tudo despojada
numa ternura cega
às palavras me faço entrega
quase alegre como se as minhas mãos
fossem asas de frescura...

em serena felicidade
estou grata por envelhecer na saudade
ainda que seja longo o inverno na minha janela
e eu navio perdido entre a bruma
a palavra subirá sempre mais bela
e será meu sonho que p'la noite se esfuma.

natalia nuno

é solitária esta hora...


Da tristeza hoje me despi
Mas é falsa esta alegria
E falso o sorriso com que me vesti.
Não mudou a solidão que me desafia.
Há um silêncio profundo
Nem o esvoaçar dum insecto
Mais uma noite e o Mundo?!
Continua na mesma, inquieto.

Para mim é solitária esta hora!
Mas a esperança ainda vai tecendo
Um pouco de vida que insiste em ir embora
Sem tempo de acalmar a confusão
De estar vivendo.
Então:
A Vida é barco apodrecido
A cada dia sinto mais o seu açoite
E o tempo passa por mim despercebido
E assim me rouba mais uma noite.

Perco-me nos pensamentos em confusão
Velha esta tristeza, da minha idade!?
Em meus olhos insiste a recordação
Mas a Vida me rouba o sonho e a liberdade


Ponho meus olhos nas janelas
Janelas sem luz do olhar meu
Na esperança de ao debruçar-me nelas
Deus me diga que não me esqueceu.

natalia nuno
rosafogo

e tudo o vento levou...


sobre os socalcos ventosos
passa uma nuvem cinzenta
que me consegue distrair
assim, meu coração se aguenta
em mais um dia que há-de vir.

uma névoa de chuva densa
misteriosa e imponente,
lança tudo na escuridão
enquanto o medo fustiga
as paredes do coração.

respiro profundamente,
ouço o grito no horizonte
do ribombar do trovão,
e no cimo do monte
árvores inclinam ao chão.
apaga-se a candeia com o vento
reza a avó com devoção,
ainda no meu pensamento
ouço o farfalhar do rio
vejo a lareira meia acesa
esse dia longínquo o frio
amolgava meus olhos de incerteza.

o vento fustigava as janelas com cortinas
de pano puído, soprando livremente
até outro dia ter nascido
o verde das hortas brilhante e, novamente
o sol aparecia,
a avó à Santa Bárbara rezava
enquanto  o vento inda gemia,
mas já a lareira ateava
e na candeia a luz bruxuleava.

voltava ao campanário a voz
a água do rio era agora leitosa
e o chão da terra ficava ensopado
a vida continuava custosa
mas a resistência é grande éramos por Deus
um povo amado.  

a boca da mãe sorria, tudo volta a ter encanto
na do pai, nem um ai,
e eu feliz no meu canto, 
ao lume
ouço a reza do costume,
que tem a força que tem!?
a avó rezava seu rosário como ninguém.
hoje, resto eu!
tudo o vento levou e a morte se afadigou.


natalia nuno

porquê?...


porquê então tudo o que sinto
dentro desta noite morta?
este vazio maldito
que me vem bater à porta
sussurro tão em surdina
o que a memória me traz
por inteiro, o cheiro do pão
e eu menina, com as pestanas a arder
e no peito a saudade a conter
o ar da noite está abafado
e eu morta por viver.

que toda a noite brilhem estrelas
que avisto por cima do pinheiro
serão a minha companhia
enquanto não desponta o dia

nesta noite funesta
é um dó de alma
não poder sonhar
e tudo o que me resta
é este tempo velho desleixado
e os sonhos num constante vai-vém
e por recordar, já nada
nem ninguém.

natalia nuno

SAUDADES SÃO HERAS (Natalia Canais Nuno)


SAUDADES SÃO HERAS (Natalia Canais Nuno)

abro as gavetas às escondidas e meus dedos leves
dedilham memórias, e enternecida recolho palavras
debaixo da língua cheias de saudades de tudo que só
eu sei... saudades tão grandes que não cabem no peito,
respiro fundo e sinto o coração a bater, cada lembrança
faz ninho em meus olhos e cura-me da solidão... vim
voando desde a Primavera, até que o Inverno me tocou,
e poisei no chão da desilusão, morreu-me o tempo dos
sonhos, despi-me de papoilas, vesti violetas, esfacelei
o riso e agasalhei a saudade que é na verdade, a giesta
que desembacia a poeira do meu dia...

EM - ESTREMECIMENTOS DE ALMA - NATÁLIA CANAIS NUNO - EDIÇÕES VIEIRA DA SILVA

tanto amor...tanto tanto!...


é aqui no cais da saudade
onde meu coração aportou
que escrevo a simplicidade
do que fui e o que sou...

sinto o pulsar da terra
e o vento vai silvando
este meu verso encerra
saudade em mim sangrando...

fruto amadurece e cai
anda o destino à toa
a saudade que não sai
já a vida se esboroa...

raios de sol cativos
na noite fios de luar
andam meus olhos vivos
na sede de te encontrar

sou poeta ou talvez não
mas aos poetas sou igual
dizem louco e com razão
sou de ignorância total...

anda no ar cheiro a tília
aroma tão estonteador
meus olhos fazem vigília
aos teus olhos meu amor

estrada a perder de vista
levo os meus pés já nus
ainda que a vida insista
a estrada é minha cruz

não há palavras bastantes
que m' enxuguem o pranto
ao lembrar tantos instantes
de tanto amor...tanto, tanto!


natalia nuno

gosto de coisas simples....



hoje lembrei de um dos meus primeiros poemas....................................................


Gosto de coisas simples
simples e belas!
gosto dos raios do sol
que me entram pelas janelas.
e de ver os pinheiros a crescer
debaixo delas.

Gosto das flores silvestres
de velas de pavio aceso
gosto dos montes agrestes
e das capelas onde rezo
gosto de acácias em flor
da calma das noites serenas
amo tudo com o mesmo amor,
coisas simples e pequenas.

Gosto de cantar
à roda da fogueira
gosto da chuva lá fora,
gosto da lenha a crepitar
do gato a ronronar à minha beira.
das conversas à lareira.

E sempre que Deus queira
me hei-de lembrar,
das coisas simples da aldeia
da avó fazendo meia
do moinho rodando a mó
do milho ficando em pó
da colcha velha na relva a corar,
do cloreto pra branquear
do duche tomado no rio
do avô que partiu no navio.

Gosto das coisas simples, talvez
porque simples Deus me fez,
gosto do naperon sobre a mesa
da jarra de flores amarelas
gosto da natureza,
em tudo encontro beleza
gosto de cortinas nas janelas,
gosto de ouvir os galos cantar
duma concertina a tocar
gosto até dum arraial.
Há gente que acha tudo isto banal!
Talvez eu tenha enlouquecido
mas tudo isto me é querido.

Gosto do sino da torre da igreja
e gosto das sombras por onde leio as
horas,
gosto daquela amiga que me beija,
que encontro quando apanho as amoras,
Gosto dos telhados com pardais
gosto do mistério que traz o anoitecer
gosto por demais
das fotografias nas molduras
de relembrar as rapaduras,
nada morre na lembrança
nada passa dos meus sentidos
nem a presença da morte e os gemidos
tudo recordo de criança.

Por isso gosto de coisas simples,
como estes versos
ainda que não gostem deles, não me deixo
entristecer,
podem ser controversos
que me importa? Se é a minha maneira de ser!
E quando de todo enlouquecer,
ainda assim de coisas simples vou gostar
vou ficar silenciosa na minha rua
vou estar atenta ao chegar da lua
e vou fazer rimas com amor
como um bom trovador.

E meus sonhos hão-de vir pé ante pé
pois sou senhora de fé
que assim há-de acontecer!
Vou sonhar com o rio e os salgueiros
com os laranjais e os cheiros
do pão no forno a cozer...
e depois os meus olhos ainda hão-de ver
a madrugada a romper
e hei-de fazer versos
e mais versos
até os dedos ficarem com sono,
até ser de novo outono
onde meu coração ferido
seja um ramo de árvore despido.

Ainda assim estarei viva para escrever,
coisas simples é bom de ver,
e para fazer amor assim simples como
simples são as coisas da vida.
da vida...por mim vivida!

natalia nuno

a viagem...


A este caminho não voltarei
Nem depressa nem devagar
Nem perdida com ele me cruzarei
E nem rasto vou nele deixar.
Só palavras apagadas
No fundo dum velho poço
Em águas estagnadas
Gritando...ah, só eu ouço.

Serão meu uivo de dor
Resíduos da minha inquietação
Restos de lágrimas sem cor
Lava fria, cinzas da erupção.

Caminho cujo horizonte não sei
Ou finjo ignorar...
Só sei que nele sonhei
Ser nuvem sempre a avançar.
Não levo mapa nem destino
Levo no rosto a indiferença
Caminho qual peregrino
Com Deus e sua presença.

natalia nuno
Rosafogo

lembranças de tanto...tanto...


Morre o Sol, vagarosamente
Deixa-me e traz a noite de luto,
Levou meu pranto, levou
Deixou meu rosto enxuto.
E assim neste vai e vem
Minha saudade se soltou
Logo a Vida também
Mais um dia me resgatou.
Sem meus ais ter soltado
E tantos sonhos me levou
Este dia sem cuidado
Meu coração me quebrou.

Lembranças de tanto, tanto!
Lembranças de tantos abraços
Sonhos que ainda acalanto
Mesmo tolhidos meus passos.
Nem uma promessa aflorou
Este dia só tristeza semeou.

Encosto-me bem à vidraça
Meus anseios ficam sem norte
A Vida fica sem graça
Surge o amargo sabor da morte
E enquanto a chuva não cai
Ouço rumor, meu coração bate
Um grito forte me sai
A tempestade já se abate.

Agora na noite esquecida
Meu silêncio acarinho
Estou na imensa descida
Como esta chuva caída
Morrendo devagarinho.
Mas o Sol vai despontar
E neste meu Mundo a relembrar
Onde cheguei e hei-de partir
Muita esperança ainda a gerar
Dias de Vida a sorrir.

rosafogo
natalia nuno

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sem ti ...


me abandono em ti
saio do meu casulo
és o espelho onde me deito
o porto onde eu acosto
contigo a vida regulo
sem ti,
eu morro...aposto!

cansei da palavra
a memória escura
trago fome de ternura.

natalia nuno

pensamento...


resta o cheiro das amoras, e a tristeza de ser cântaro sem água, tocou-me o outono e fez de mim uma imagem desfasada...

natalia nuno

poesia que sou...


A poesia é a minha infinita
liberdade
Onde falo de vida , de morte
de alegria de tristeza
Falo de tudo um pouco à sorte
Falo da saudade
Do amor e sua beleza
A força me surge do pensamento
E sofro porque escrevo sentimento.

A poesia é o meu chão
o meu espaço
Esqueço até da vida as dificuldades
É a minha ilusão,
O fogo da minha imaginação
O meu cansaço
O rumo das minhas saudades.

A poesia é o meu desejo,
a minha ansiedade
A minha realidade,
O meu sonho incompleto,
A minha terra o meu céu
A poesia sou eu!

A poesia é o ar que respiro
Que guardo nos confins do coração
É a minha ambição
Por ela deliro.
E eu sou toda inquietação
Se não me sai na perfeição!

A poesia dorme sobre o meu peito
Eu a sinto a toda a hora
Com ela me realizo e deleito
Estará comigo até ao destroçar
da memória.

rosafogo
natalia nuno

a magia das palavras...


o poder mágico das palavras
sinto-o de forma intensa
é um caminho que leva aos céus
onde me sinto a sós com Deus
no silêncio, na noite estrelada
as estrelas são lembranças
passam na mente em procissão
fazem estremecer meu coração
palavras num tempo sequioso
de afectos, amor e esperança

passam os dias, nada descortino
a alegria é um ribeiro a secar
um pássaro voando é o destino
as horas são segundos a passar
e o futuro cada vez mais reduzido
mais decadente, mais incerto
trazendo a morte por perto,
mas, poeta quero cantar a vida
flores do jardim, levantar a esperança
colher o trigo, fazer do poema abrigo

há nas palavras recado para mim
embarco nelas sem regresso
falam-me dum tempo sem fim
aonde hei-de chegar e me encontrar
e aí recordarei tudo o que soube amar
efeito mágico da palavra me irá prolongar
para além da vida, para além do tempo
como raio todo o dia alvorecido,
como as aves que sempre voltam
revoando p'los ares alvas e leves se soltam.

natalia nuno

coração dividido...


nada há em mim de diferente
sou tudo... e o que de mim ficou
mas às vezes fico ausente
num disfarce
de que o tempo não passou.
os meus olhos não me vêem
mas não desmoreço
faço-me à vida
se ela me foi dada
Deus acha que a mereço.

e lá vou levando meu passo
em mais uma tarde que cai
vou escrevendo sobre o que sei
e de tudo falarei,
já que a vida assim abraço
ninguém me ouvirá um ai.

trago o coração dividido,
mas só hoje me lembrei
que depois de ter-te conhecido
metade dele te dei...


ouve bem o que te digo
assim p'la vida prossigo,
olhos nos olhos, mão na mão
trago o coração dividido
e uma lágrima furtiva
acordada na solidão.

o sonho que em mim respira?
é pra mim libertação!


natalia nuno

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se o relógio parar...


Enquanto na luz dançam grãos de poeira
e o relógio taquetaqueia
eu medito cansada e absorta
sentada, com o livro à minha beira
haja quem leia!
Que hoje não leio nada, estou morta.

Estou o tempo a controlar!
Ele que tanto me contraria
e se a poeira assentar
talvez escreva poesia.

Não faço ideia da hora
a vida está toda na minha mente
agora até ela me ignora
me dá sempre uma resposta diferente.

Gosta de me desencorajar
e o relógio continua a taquetaquear.

À minha frente minha chávena de chá
olho fixamente a janela
estou só, tanto se me dá!
Que ninguém se aproxime dela,
escrevo meias palavras e ao de leve
bebo meu chá, um suspiro me susteve,
de dar um grito, prefiro a serenidade
assim me deixo na sombra da tarde.

o tempo tanto me contraria
mas o relógio parou
a poeira assentou
e eu escrevi esta poesia.

Poesia de saudade!

natalia nuno





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haverá pássaro e flor...


lanço os anos ao esquecimento
deixo-me como a água errante
que segue perdida
cujo destino é desbravar
caminho
que a levará ao mar...
vivo a minha hora
aqui e agora
meu tempo sempre principia
já com séculos de nostalgia,
hoje brota prodigioso
e eu o acolho gota a gota
e a minha memória é
como uma gaivota
voando na ilusão
de manter a harmonia
em meu coração.

soalheiros estão os trigais
como o encanto da vida
ao passado volto uma vez mais
dou à saudade guarida.

e haverá pássaro, flor,
e do vento rumor
que isso não pode morrer!
serei a chama da distância
que me queima o coração,
e este sonho que é ilusão
o elo entre o presente e o
passado.
o pensamento recriado,
cada palavra novo caminho,
semeando sementes de carinho
e sempre na incerteza
serei tudo o que sou sem ser,
na surpresa de ver
o sonho dia após dia renascer.


natalia nuno

perto da foz...


faço balanço, a vida foi passageiro
instante, hoje estou entre a luz e o chão
meu andar é hesitante
e a dureza do tempo varreu meu coração
como uma tempestade, agora é nele
rainha a saudade...
minha memória esconde recordações
como grilos que se escondem nas moitas
p'lo verão,
e, no meu coração
as saudades daqueles tempos primeiros,
meus sonhos besouros nos olhos verdes
dos salgueiros...
tudo me lembra a menina em mim cativa
sempre a minha mão escrevendo a afaga
quero-a sempre em mim viva
por mais saudade que me traga

queira ou não queira, quero-lhe demais
a saudade dela se funde em mim
é ela que escuta meus ais
é nela que me vejo nesta aventura
a chegar ao fim
faço o balanço e rememoro
nas horas lentas, mas que se esquivam
vivo, faço e desfaço, mas já não choro,
é inverno a estação a que me abeiro
deixei meus olhos no outono
para trás ficou um sonho inteiro.

corre a tarde a meu lado
a nostalgia habita o meu peito
tudo o tempo tem gerado, tudo me tem dado
mas nem tudo foi bom, nem perfeito.
olho para o dia que vai a meio
a solidão empresta-me um pouco de liberdade
não a temo, não lhe tenho medo
traz-me um gosto doce a saudade.

natalia nuno
https://nataliacanais.blogspot.pt/

serenidade na noite...


Levamos séculos a aprender
tantas coisas desta vida
outros tantos a desaprender
o que nos fere e penetra no corpo
e de algumas jamais
nos conseguimos desfazer
agora trazemos nas mãos calosidades
e no coração saudades
o cabelo embranquece
o olhar toma um modo transcendente,
e quem se lembra da gente?
Mas há gente,
que a gente não esquece.

Tempos de namoricos e paixões
visões que nos marcam toda a vida
e na quietude da noite
no meio da serenidade
surge sempre a saudade.
A lua ilumina lá em baixo o rio
há uma ténue neblina
e lá estou eu ainda menina.
Contemplo a aparição
meu rosto lívido,
aos pulos meu coração.
Tempo de aprender toda a ternura
do mundo
tempo de balouçar o corpo ao andar
e aquele sorriso que dizia
sem nada dizer,
levamos séculos a aprender.
Hoje cravo o olhar no chão
e guardo, guardo a recordação.

natalia nuno
rosafogo

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palavras vestidas...


as palavras que tenho para dizer-te
hei-de vesti-las e embelezá-las
hei-de cantá-las
com verdadeiro amor
hei-de fazer crer-te
que o céu azula
e o sol tem mais calor
rimas hei-de criá-las com paixão
hei-de colocar joelhos no chão
prometer-te o néctar das delícias
gotejante em carícias...

e num poema de amor
numa tontura de prazer
hei-de dizer-te
palavras que valha a pena falar
de beleza vestidas, que hei-de
cantar...
e o verde dos meus olhos
deixar-se-à pelos teus enamorar
as mãos enlaçando, vivendo
e assim o corpo entardecendo.

natalia nuno

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sou tudo e nada...


Feita a Vida de pedaços
Agora falo de esperança, de saudade.
Da fé, do desalento, da ingenuidade.
Falo até da falta dos abraços!
Mais velha que o tempo, me sinto.
Às vezes sou tudo,
Outras vezes sou nada.
Sou assim e não mudo.
É o que sinto e não minto.
Sou aquilo que a Vida quiz
Agora me deixa abandonada.

É ela que sempre me diz:
"Tu, tu é que estás desmemoriada"
Não lembras os primeiros amores?
Nem das lágrimas que te sequei?
De te pôr sorrisos como flores!
Ah! E tudo quanto te ensinei?!

Tolerância, aceitação,
Lealdade...
Hoje?! Tens um coração!
Onde até cabe a saudade.

Desapontada, de responder incapaz
L ê-me nos olhos, que agora só quero
Paz!
Poder dizer que recordar
É o melhor que se possui
E no tempo de Amar!?
Que louca fui!
Agora já só posso partir
Levar comigo
O sonho na curva da estrada
E morrer
Numa tarde de chuviscos salpicada.

natalia nuno
rosafogo
2009

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tempo de poesia...


Chilreios abertos sobre a manhã...já cheira a Primavera, dispamos as tristezas das horas perdidas sem luz e deixemos entrar o sol vibrante em nossas vidas.

natalia nuno

pequena prosa poética...


pequena prosa

aqui na aldeia a linguagem é a da natureza... o rumor dos pinheiros, os pássaros girando por entre as árvores num rodopio, acasalando, emitindo uma orquestra de sons, o sol é presença em cada flor em cada arbusto, enchendo o campo de tapetes verdes, liláses, amarelos, brancos e tons de chocolate, a água desperta em cada ribeira, cada regato, cantando a mesma melodia que aprendeu desde idades remotas, não há nuvens no céu, e o azul é igual ao manto de Nossa Senhora da Vitória... aos nossos olhos saltam borboletas de todas as cores, numa luta pela sobrevivência, abrindo suas asas de fogo sem descanso, fresca é a aragem do vento que desce da serra e se derrama nas folhas dos loureiros que bordejam as margens do rio. Os trigais e as suas cabeleiras de fogo ondulam imponentes, tornando visíveis uma ou outra papoila vermelha, nas canas os sussurros da aragem invisível e o canto da calhandra ou da cotovia que por lá se abrigam, também o pintassilgo mostra a sua plumagem insinuando-se como o mais belo.
E até o destino em fuga, parece querer permanecer, vai rasgando devagar o arvoredo, olhando as giestas amarelas, como se quisesse desertar da sua corrida e deixar-se anónimo na ternura do crepúsculo que já vai amadurecendo,trazendo o eco da noite à alma das coisas.
O sol já se afunda, mas amanhã estará de volta trazendo o orvalho pela madrugada, e quebrará de novo o silêncio dos pássaros... uma légua mais adiante a fruta medra a olhos vistos nos pomares e os meus olhos irrequietos olham o universo para se certificarem que não estão sonhando ...

natalia nuno

verdes sonhos do meu dia a dia...


Hoje é a solidão
a fazer-se em mim tempestade
e a palavra que me abala, "saudade"
a perseguir-me até à morte
a deixar-me sem norte.
O outono não me larga a porta
por dá cá aquela palha
rio ou choro
não há poema que me valha
contra esta corrida desenfreada
que é a vida... apreensiva,
trago a alma mal vestida.

Hoje tudo me é indiferente
como se nada tivesse de meu
apenas a solidão da alma,
faço olhos grossos à gente
que passa por mim,
e deixo que rajadas de vento
me levem o pensamento.

Hoje ninguém é capaz de entender
porque viajo no tempo,
os desassossegos que é ver
meu olhos que arrasam por tudo e
por nada,
o esconder o rosto entre as mãos
as premonições (que adivinho)
as mudanças que em mim
fazem escalada
arrancando-me sorrisos derradeiros
o que mais queria...tudo contra mim
se alia...
- foram-se
- verdes sonhos do meu dia a dia.

natalia nuno

quadras perdidas...


O tempo é inquietação!
Sonhos tive noite e dia
Nenhum ao alcance da mão
P'ra quê o sonho servia?

Volto costas, vou deixando
Remo já contra a corrente
Na viagem, vou remando...
Levo raiva sigo impotente.

Fica a Vida cor de cinza
Remei milhas deixei atrás
Estou cansada embora finja
Que a mim, já tanto me faz!

Não sei para onde vou
Nem para onde quero ir
Já meu barco se soltou
Sem razão para partir.

Aumento o rítmo da remada
- Sou p'la Vida coagida!
Pela corrente sou levada
- Nesta tarde já caída.

Quero muito, muito pouco
Já nem do tempo dou conta?!
- Ando neste Mundo louco.
Já levo a Vida a uma ponta.

natalia nuno

descaminho...


Quanto tempo,
diz-me,
ouvirás o rumor das minhas pétalas
antes que a ânsia das estrelas
ou o desarvorado vento,
nos levem para longe
arrancando nossas vidas...

nataliarosafogo

no fundo do tempo...


é larga a rua dos anos que já levo
é tão grande o silêncio que nem
me atrevo, e levo apagada a voz
e a angústia desliza no peito
desfeito...
a noite enferma é violência atroz
perco-me nas sombras
desejando horizontes onde possa
prolongar meu vôo

sem jeito, assim me vou...
a vida empurra-me para o nada
o sonho distante, a realidade presente
as sensações batem obscuramente
e vão morrendo na mente soterradas
aquietadas na dor do dia
e da noite, numa frágil porfia.

lentas são as horas
palavras caídas são vento da recordação
e tu que demoras!... recordando-te
sinto o frio irremediável da solidão.

emerjo na firmeza de seguir
vou pespontando os velhos sonhos
de esperança...visto-os com traje de menina
e como se regressasse do fundo do tempo
invento-me como outrora e uma nova luz
me acaricia e ilumina ...dou-te de novo o
coração, e tu me dás a mão.

natalia nuno
rosafogo

sinto tão próximo o longe...


Deixo-me imóvel nesta noite de Outono
Tudo lá fora emudece
Meu tempo desvanece.
O silêncio me causa fastio
abandono-me,
ao meu ouvido o sussurrar do rio
que me traz arranhadas memórias
que surgem por atalhos ressuscitando
a infãncia.

Tudo se vai diluindo
Como areia engolida pelo mar
No esquecimento partindo...
O impiedoso tempo se apressou a devorar.

Encho-me de inquietação,
entre o ser e o já não ser
E a noite é para mim conspiração,
na dúvida do chegar o amanhecer.
Sinto tão próximo o longe 
aquele que fui e sei não sê-lo jamais
Por hoje?
Me dói por demais.

O céu está silencioso, estrelado
Nele ponho o olhar parado
Que foi feito da minhas ideias?
Algo para sempre mudou
Até o sangue que corre nas veias.
Estenderei uma ponte
Que me leve ao novo dia
Meu sonho será a fonte
Que amparará minha melancolia.
Nesta noite de Outono
na solidão dos astros me abandono.

rosafogo
natalia nuno


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trova...singela


venho subindo os degraus
subindo venho de pés nus
uns dias bons, outros maus
vou levando assim a... cruz.

natália nuno

nostalgia de doer...


m'nha alma anda ao sabor dos enganos
onde será que ela vagueia agora?
sofrida com o decorrer dos anos
nem de por força morrendo
arranja sossego nesta hora.

paira no ar um rumor de noite calma
por perto uma ave canta, canta
aos ouvidos da m'nha alma
lá em cima o resplendor da lua
que a terra envolve, já pensando
no cortejo da aurora
enquanto m'nha alma por onde andará
agora...

vem do campo o aroma do relento
meus olhos verdes olham em torno
uma brisa morna, que me traz o vento
o coração em desordem do sofrer
ainda morno...
pela boca da noite fala-me a saudade
como um pássaro que anseia pela madrugada
m'nha alma onde andará de verdade?
que se recusa no meu corpo fazer morada.

natalia nuno

teu amor...


rosto sépia sorriso fugidio
súbita sombra na alegria
horas de solidão
que só a saudade remove.
um suspiro lamentoso,
vindo do coração, que ninguém
ouve...
os sentidos em chamas
abraço-te no silêncio, sei que ainda me amas...
teu AMOR é minha manhã de luz
é sol nascente ocre doce, e forte
algo profundo, amadurecido
às vezes confundido no coração
aberto à sorte,
é folha que treme
onde pousa um pássaro cego,
pássaro que bate asas, num céu imaginário
repleto de estrelas
acalentando meu ego.

meus olhos mudam de cor
há muito deixaram o fulgor
anda minha vontade errante.
não sou sol nem lua
de ti meu desdenhoso amante
sou terra fresca, garça alada
entrelaço minha mão na tua
meu corpo é tua morada.

natalia nuno

fala-me de amor...


fala-me de novo com a voz de outrora,
diz-me palavras d'amor ardorosas de promessas
e eu dar-te- ei tudo inda que não peças,
que arda em nós essa antiga chama
mais rubra que a aurora...

procuro-te em mim e rasgo-me de emoção,
o amor é minha ventura, a mais bela memória
do passado, é ternura q' extravasa em m'coração
nesta última e efémera estação.
estás a meu lado e por vezes não te alcanço
sinto-me, como se fosse uma folha despida
que ninguém socorre, neste poema que escrevo
com o rumor da agonia,
poema que não morre... vive da minha utopia
é ele que me arranca à solidão e me dá vida
traz-me a chave do teu amor, o sonho do teu
leito, levanta o meu capricho, o meu desejo
e eu sei que vais amar-me do meu jeito.
e eu sei...que darei tudo inda que não peças
que as tuas palavras serão promessas que
se espreguiçam aos meus ouvidos,
para acalmar a sede dos meus sentidos,
desse fogo d'amar ainda não extinto.

fala-me... fala-me por favor...
palavras ardorosas d' amor.

natalia nuno
rosafogo

no vazio...


passaram os anos de maior vigor
agora amor...vamos acenando à vida
com um adeus animador
seguimos com coragem
esta viagem, incansavelmente
já que a vontade de viver
ancora ainda no nosso horizonte
e tudo faremos para a manter
às vezes, a taciturnidade se abeira de mim
e logo uma saudade sem fim
a querer perpetuar o horizonte dos meus sonhos.

o tempo invisível, partiu
apagando-se no silêncio, no vazio
num lamento doentio...a alegria já emudece
surgem , lágrimas e pensamentos de
resignação,
a este tempo que nos isola,
que à nossa pele se agarra como uma
prisão,
trago a sede no ouvido, do meu riso
trago sede de regressar ao calor do teu olhar
escondo-me num recanto da memória
e é aí que sei amar-te
ocupo os degraus da minha imaginação
fujo dos golpes e dos redemoinhos
levo-te no coração
e por atalhos vou sonhando à procura
de outros caminhos.

o tempo não abdica nem de ti, nem de mim
escuta os relógios e a sua pressa
sempre com a mesma obsessão... a de nos levar o coração
mas em nós habitarão quimeras sem fim.

natalia nuno
rosafogo

pequena prosa poética...almas penadas


falta apenas um passo para que o sol caia no mar, o céu está dum azul transparente, sem uma nuvem, apenas uma brisazinha a lembrar que ainda estamos em abril, nos montes as giestas estão em flor e a urze negra parecendo envernizada com florinhas brancas despontando, um ribeiro vai cantando, vem serpenteando por entre os freixos e medronheiros como se tivesse pressa de chegar a qualquer lugar ou viesse a fugir de qualquer coisa, mais ao longe um rebanho enfeitando a paisagem, as árvores agarram-se à terra com raízes fortes, ostentam galhos novos e folhas no seu verde esperança avisando que a primavera está por aí... também a passarada jorra a sua sinfonia, e outra bicheza tal como as perdizes perdidas nos matagais procurando com ansiedade correr os campos ágeis e felizes, é hora de pensar na prole de procurar um esconderijo onde os pequeninos seres possam nascer sossegadamente sem perigos, as carriças fugidias assustam-se com pouca coisa e escondem-se no caniçal, nas silvas e tojos andam os insectos numa roda viva, alheios a todo o resto. O entardecer vai ficando cada vez mais escuro, já se ouvem os guizos das ovelhas que retornam ao curral, ouvem-se os sinos tocando às orações da noite, os carros de bois rangem estrada fora de volta à aldeia, e na encruzilhada ouvem-se passadas e vozes baixinhas, dizem ser almas perdidas, penadas, almas do outro mundo que vagueiam sem que se saiba porquê... a noite traz a sua magia e a quietude, assim como a certeza dos sonhos, e a esperança num mundo melhor...olho com lentidão o horizonte e ouço bater o coração e no assombro do momento tudo me parece realidade mas, é só a saudade.


natalia nuno

quando o sol dorme...


quando o sol dorme
mato um pouco de desespero
falando com a solidão,
vou até à esquina de mim e assim
deixo que o coração
fervilhe de sentimentos, embora saiba de antemão
que a noite arrefece o corpo e os pensamentos.
logo o verde dos meus olhos vai até
onde começa o dia, e brilha deslumbrado
como se fosse um verde prado
onde crescem giestas,
e onde há linguagens em festa.

quando o sol dorme
há pássaros nos meus dedos
que sabem a direcção dos ventos
arautos dos meus pensamentos
e no verde dos meus olhos, vai-se apagando a neblina
logo ouço ao longe os trinados
que trago na recordação de menina

quando o sol se deitar mais cedo
e a vida a beber o ultimo trago, a esvair-se
o verde dos meus olhos fechar-se-á a medo
de não voltar a abrir-se
não voltará a sentir a opalescente luz matutina
nem recordará mais a imagem da menina
ah se o sol não tivesse adormecido
e o verde dos meus olhos empaledecido,
nem as opalinas luzes me entrassem na alma,
causando esta obscuridade
não morreria hoje de saudade!

natalia nuno
rosafogo

a dúvida...


Dias cheios de nada
a porta aberta de par
em par
anda a vida agastada
gritando suas dores
algumas dúvidas algumas certezas
e eu amando até ao delírio
já esqueci
se me sorriste, se me olhaste
essa interrogação me ponho...
Será que me amaste?
Ou foi apenas sonho?

Neste tempo sério
o silêncio me envolve
já tudo é mistério
eu a vivê-lo porque te amo.

natalia nuno

deixa-me sonhar...


senta-te ao meu lado
diminui esta distância entre
a tristeza e a felicidade
deixa-me falar-te da saudade
faz das tuas palavras meu sonhar
faz deste dia um dia perene
de alegria a transbordar,
deixa que me aninhe junto a ti
deixa que o tempo se detenha
que se incendeie meu sonho
e me extasie..
e depois se vier a morte
pois que venha!

natália nuno

pedaço de mim...


nada vejo, nada acontece
nem a respiração se altera
e é quando a saudade aparece
já o sonho, por mim não espera!
nem sei se rume ao sul ou rume ao norte
perdi meus cinco sentidos
numa velha barca andam à sorte,
de saudade e ternura vestidos.
encosto-me ao teu peito
e desvio os rios do pensamento,
talvez possas sentir a dor que depura
e assim desse jeito, 
haja um momento de ternura.
atravesso a vida buscando em vão
a chama possível ainda,
mas resta a solidão que não finda.

levo na bagagem um pedaço de mim
como se fosse pedaço nu do deserto
se a morte é um rio sem fim
eu quero ainda ter-me por perto.


natalia nuno

quero estreitar-te...


Nos meus braços, quero estreitar-te
Quero persistir nesta loucura
Nunca será demais amar-te
Ter-te cativo nesta ventura.
Aperto-te contra o seio
Não digas nada!
Aperta.-me sem receio.
Antes que chegue a madrugada.

Deixa-me suplicar-te com ardor
Uma carícia ardente
Sobrevivo sem o teu amor
Quero prazer, corre, é urgente!
Quero-te profundamente
O amor nunca foi embora
É água fresca... ainda agora.

A vida é um temporal
Só as palavras me confortam
Deixa-me amar-te,
ainda que pra meu mal.
Estas saudades que me cortam
Num suplício atroz
O tempo tudo tornou frio em nós.

Na minha face estragos a olho nu
Vacilo, tombo p'lo chão
Deixa-me amar-te
Entregar-te meu coração.
Por onde andas tu?
O tempo levou do peito a alegria
Deixou-me em triste inverno
noite fria.

Ingrato amor a quem me dei tanto
Vê as lágrimas choradas!
Em meus olhos sente o pranto
Em águas diluviais paradas.

rosafogo
natalia nuno




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trago um sonho...


trago um sonho inventado
pássaro que dorme em mim
na frescura da manhã
despertando meu silêncio,
trago-o do passado
promessa dum canto sem fim.

lendários os dias
tuas mãos macias
nas minhas entrelaçadas,
palavras doces apaixonadas
suspiros d'amor
sentimentos em flor.

feitiço de beijos,
no sonho me desejas,
acordo do sonho inventado
quando tu me beijas, e
este desmedido coração
entrega-se a ti com paixão.

natalia nuno

a ti me dou...


olha-me nos olhos firmemente
tudo neles te revelo
este amor que acalento
denso como as águas do mar
arco-íris no firmamento
que o tempo levará
mas devagar
toda a ti me dou
de ti tudo espero
como o moinho espera o vento
é assim este amor que acalento

natalia nuno

no vazio do verso...


a minha taça está cheia
cheia de mel e de fel
meu passado não é água nem espelho
é um cesto onde guardo vivências dum tempo velho
q' apaziguam meu coração
chão outonal sem folhas nem flores
raízes que crescem dentro de mim
onde só os sonhos tem odores
a jasmim...

os meus ombros dobram-se ao peso da idade,
enquanto o inverno estás prestes
a trazer-me a nostalgia
na última sombra do último dia
nos meus lábios há suspiros que a saudade
sustenta,
e me sinto menina que sonhos inventa,
mas na minha tarde já o sol declina
e os ventos avançam no corredor da mente
fustigam os pensamentos,
e quebram-me a alegria.
só o sol nascente
me trará com clemência, um outro dia

a minha taça está cheia
do ontem e do hoje
ficou meu rosto ausente
e já a vida me foge.
se insisto em ficar,
ela insiste em me desfolhar
despejo mais um cálice na estação que nada traz de volta
mas o sonho me impede de acordar
e no vazio do verso minha alma se solta...

natália nuno
rosafogo

poeta e a sua loucura...


A escuridão é envolvente
O frio entra-me na garganta contraída
A lua bruxuleia no céu
O mar ondula docemente
Enquanto meu tempo de vida
escasseia.

E eu
volto sempre à matriz
para não me deixar morrer
Busco o tempo das promessas
e me sinto feliz.
Morro sempre mais um pouco
para poder viver.

Ninguém pode julgar-me
por esta saudade louca
Sinto a vida a escapar-me
Tão passageira, tão pouca.

Ouço o murmúrio do oceano,
rumoroso
Das águas nocturnas parecendo mistério
Um escuro manto temoroso
De tantas vidas cemitério.
Trago a vida cumprida
E minha estrela escolhida
Minhas palavras resvalam para o mar
E eu sonho porque viver é sonhar.

rosafogo
natalia nuno

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melodia...


agitei os ares
com palavras de vento
emudeci a chuva
triste e sem alento
com minha ânsia invoco a primavera
resgato da memória recordações
recito versos de saudade
crio ilusões
um cântaro cheio de infância e
claridade...
no alvor da madrugada
desperto um pintassilgo
que me devolve a terra amada
por ser meu amigo...

bate o sol nas laranjeiras
de Mozart me chega a melodia
logo as notas... as primeiras!
que adoçam minha alma vazia

natalia nuno

olhar longínquo...




junto sorrisos na penumbra
e na face já adulterada
sinto a brisa da folhagem,
surge-me então a imagem que trago comigo
e a ninguém digo...o que sinto!
já não me amo inteiramente
trago o corpo desabrigado
já nada sente, cansado...
olho o espelho a que o inverno embaciou
o cristal, agora tão velho!
como posso levar-lhe a mal?
mas há uma luz que não se apaga
a mesma que às vezes os meus olhos alaga.

quiméricas lembranças vêm à minha memória
consumida...
de todo esse tempo que passou por mim
abre-se me o peito, e enternecida,
alargo o sorriso, o olhar longínquo
a cismar, a cismar sem fim.

procuro espantar o frio que chegou à vida
levo aves de sonho no meu caminho
e deixo a manhã em meus olhos crescer
a cada instante proponho-me a um
sorriso de murta e jasmim
sou um outono que não quer morrer
e assim renascem rouxinóis adormecidos
em mim...

e no sonho me perco e carícias teço
nele pé ante pé, com jeito
e de lá não regresso, tudo é perfeito
em sol e lua aninhada...
amanhã, talvez amanhã quando me sentir
amada!

natalia nuno
rosafogo

lembrança...


Hoje rolou uma lágrima sobre o papel
Manchando o sonho que descrevia
Lágrima gotejando sobre a minha pele
Sonho que deixei p'ra tras um dia.

Hoje abriguei os sentimentos
Escrevo ao de leve numa folha de rosa
Deixo a memória e dias cinzentos
E volto sorrindo à meninice gostosa.

Esqueço o tempo, e só levo o coração
Fico lá atrás a brincar às escondidas
E vou saltar à corda, viva de emoção
E na mão tenho as malhas preferidas.

Agora brinco de mãos dadas na roda
Soquetes branquinhos coração explodindo
Livre como pássaro e nada me incomóda
Quero ficar, deixem-me estou pedindo.

Aqui neste tempo, ameno e transparente
Sonhar, poder de pés descalços andar.
Que felicidade a deste dez réis de gente!
Princesa, só com a aldeia p'ra morar.

rosafogo
natalia nuno

amo-te na noite em silêncio...


Amo-te na noite em silêncio
Viajo p'lo teu corpo sem me deter
Me aquieto depois nesse abandono
E de prazer me deixo morrer.
Dos teus olhos surge meu dia
Das tuas mãos a minha serenidade
Das tuas palavras a magia
Que lembram d'outros tempos de saudade.

Entre a felicidade surge incerteza
A vida nos parece ainda jovem
Bela é a sua plumagem...a beleza!
Mas já nos meus olhos chovem
águas precipitadas
como rio transparente.
Que foi feito do amor da gente?
Amo-te na noite em silêncio
Meus lábios se encendeiam
Faço o sonho acontecer,
enquanto teus braços me rodeiam...
Em delírio me deixo morrer!
Lembranças acaricio
nesta tarde de estio,
enquanto o sol se põe no poente.

Que foi feito do amor da gente?

O amor apenas vive enquanto queima
Quero voltar a ser tão tua como agora!
A vida foge, a vida teima,
de tanto olhar atrás passou a hora.
Instantes passados me vêem á mente.
AMOR...
Que foi feito do amor da gente?
Num último beijo me abandono
Na doçura da memória, aguardo o sono.

rosafogo
natalia nuno




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amor é...


o amor é uma seara dócil que treme sob o vento tépido, e dança ao som do coração, deixando uma ternura transbordante, enquanto dura a ventura...

natalia nuno

poema de amor...


lanço a rede ao fundo,
para vislumbrar o poema
feito de palavra de nada
ou do que não foi dito ainda,
talvez da palavra calada,
duma porta fechada ou aberta,
alento de minha boca
uma dor que aperta,
memória dum tempo
ou da minha força, já pouca.

será o poema pássaro
que voa para o poente
de asas fatigadas,
tocando as águas do mar
rumando à eternidade
docemente,
levando com ele meu olhar?

este poema é cego
e causa-me calafrio!
os seus resignados olhos,
são os meus,
às vezes são rio
que já corria
no ventre de minha mãe,
num sussurro morno
onde não há volta.
mas, ainda assim me alegro,
porque este poema
é de amor também.


natalia nuno

quero falar-te de amor...




quero falar-te de amor
da longa viagem amadurecida
aventurosa, fascinante,
generosa, pouco a pouco aprendida.
quero falar-te de amor
do sentimento que fecho à chave
neste fluir do tempo
que passa por nós como ave,
estamos de passagem
juntos na viagem.
.
às vezes o desanimo me angustia
é-me indiferente o tempo
e o caminho já percorrido
emudece o vento e logo,
amanhã é outro dia.

perdeu-se a embriaguês da primavera
somos viandantes perdidos
mas as lembranças ocorrem-me
à mente e o coração dilacera.
o espelho tornou-se impiedoso
lembra que o tempo passou
pensar que não, é utopia
do tempo ninguém escapou, mas
amanhã é outro dia.

quero falar-te de amor
da felicidade transbordante
sentida em nosso redor,
quando caminhamos lado a lado
com nosso olhar deslumbrado
a ver morrer o sol nas colinas.
quanta melancolia,
mas amanhã é outro dia.

ouço o eco das tuas palavras
não pronunciadas,
e é por essa linguagem
que não quebra o meu encanto
seguimos viagem
olhando as estrelas
ouvindo dos grilos o canto.
em harmonia...logo,
amanhã é outro dia.

nosso amor é um secreto jardim
de lembranças e emoções
sentidas, flores do passado,
se enredam em mim,
como as horas que passam devagar
na solidão das noites,
quando invento o teu afago
e me ponho a sonhar.

natalia nuno

tanta coisa para te dizer...


tanta coisa pra te dizer
que seríamos sem as lembranças?
agora esta solidão sem par
esta luz que me cega
esta realidade a buscar-me
este tempo que me pega

tanta coisa pra te dizer
se te sentasses aqui por perto
falar-te deste frio onde me aquieto
do meu rosto que se apaga
morro-me na lentidão,
o tempo tudo leva e então
nada de bom há que traga.

tanta coisa pra te dizer
mas vou só falar-te de amor
aquele que resiste à sombra do tempo
aquele que é amor desmesurado
em mim
que levo no coração até ao fim
cantá-lo numa estrofe desolada
ou num canto novo
que apague a tristeza
e ter a certeza
ue sou ainda tua amada.

natalia nuno

trago sinais de nada...


longe vais meu rio d'água
onde minha sede se saciava
pergunto agora pelo meu rosto
que em ti se lavava...
hoje trago sinais de nada
envelhecidos p'lo cansaço
espelho gasto que não reflecte
vou adiante passo a passo
mas a vida já nada promete.

um dia termina,
e tu rio que me viste menina
dir-me-ás adeus, nessa tarde reclinada
sobre nós,
com um canto triste e sombrio
me despeço de ti ó rio
eu, tu e o salgueiro a sós,
levo nos olhos a tua límpida água
e deixo-te com minha mágoa.

o meu nome levará a dor
e um anjo selará o nosso infinito
amor...

já não posso remontar sonhos
esqueci o cheiro da alegria
e nossos segredos bem escondidos
sabes tu, da minha pele macia
sei eu, dos salgueiros que te olham embevecidos
há ilusões e há repentes
que sou ave entre a folhagem
e em ti revejo minha imagem
meus olhos janelas baças
já de tanta fragilidade
parece-lhes ver a jovem,
de quem trazem saudade...

natalia nuno

trovas...memórias incompletas...


de memórias sou feita
memórias na solidão...
saudade em mim se deita
vinca-me a pele e coração

as memórias no caminho
a trazerem-me sentimentos
são rosas e nelas espinho
que ferem meu pensamento

no meu corpo, corpo inteiro
um silêncio, silêncio d'amor
a lembrar, lembrar primeiro
que o silêncio afaga a dor

marcas largas de sorriso
que são como terapia
são a força que é preciso
prós momentos que antevia.

porventura é só ilusão
todas as dores d'hoje
gastam o meu coração
enquanto a vida lhe foge

no clamor da tempestade
anda o olhar moribundo
recordando com saudade
o que deixo p'lo mundo

natalia nuno
rosafogo

orvalhadasdesaudade.blogspot.pt

Baloicei a cadeira.Adormeci!


Não há caminho de volta
Uma hora mais e o Sol se vai
Ao longe a lua e a minha alma se solta.
Na monotonia, já cai.
Meus pensamentos fazem a travessia
A noite vem e cai o dia.
Foi como um pássaro que voando,
este dia, que a noite traz?!
Assim me fosse deixando,
Sem descanso, de relance, fugaz.

E assim a vida é como fio de cascata
Hesitante, ora de ouro, ora de prata!
Vou-me deixando embalar...
Hoje? Meu pranto não foi além dum soluço
Com sabor a passado, fiquei a recordar.
Em mais um sonho me debruço.
Fechei os olhos, baloiçei a cadeira
Bamboleei o pensamento devagarinho, devagar.
Até que chegou o momento em que à lareira
Ao colo de minha Avó,o frio chegou a passar
Chega o eco da sua voz aos meus ouvidos
Ainda sinto o calor dos seus braços
Ritual adormecido nos meus sentidos,
Retido na escuridão do meu espaço.

Enquanto meu coração bater
Esta lembrança, vou reter!
Este caminho está sem volta!?
Minha alma já se solta.
A meninice ficou para trás.
Hoje? Passou o dia,
por cima do meu ombro, fugaz!
Me encolhi...
Baloicei a cadeira, adormeci.

natalia nuno


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começo e fim...memórias


As minhas pernas, vão-se afoitando, pé ante pé seguem neste caminho e cá vou chegando, assim fiz o percurso do inicio até um não sei quando, um anoitecer em que me ausento perdida no tempo, numa monotonia e nela o corpo morrendo, volto então os olhos atrás de mim e já nada alcanço...que dor é esta oh tempo? Este é o meu desabafo de alma o momento de meditação. Corri tanto quanto me permitiram as forças, agora não consigo dominar o tempo, extraordinariamente diabólico que assenta em mim tirando-me o brilho do olhar, a impor no meu rosto a sua influência. de que serve o meu protesto? Ando agora ao acaso no tempo, esqueço as horas e fico apaziguada, e com o espírito menos angustiado. Na mente trago recordações de episódios de toda uma vida, um mar de ideias, que de vez em quando me sabe bem cantar em rimas com uma certa nostalgia quase como se se tratasse duma obstinação ou devaneio. A vida tem a força que a gente lhe der, e essa força nos faz caminhar, avançar sempre um pouco mais, até que a morte nos bata à porta.

natália nuno

nos teus olhos o céu...


beija-me como no sonho da juventude
olha-me com a plenitude desse teu olhar
e eu serei o aroma fragrante que esfuma
a labareda ou a queda
a realidade ou já só a saudade...
a dor ou a doçura, a noite que murmura
a memória duma vida em seu ar distante
tua mulher e amante.

o tempo vai quebrando laços
vai desfazendo nossos passos
vai espiando a ocasião
enlaça-nos numa intranquila solidão.
refugia-se nos meus olhos
este desmesurado amor...
enquanto a tua boca me entrega
o júbilo aceso duma flor.

o tempo todo vem perdurando em mim
a jovem chama, que me põe a mente
incendiada, traz-me a tua recordação e eu,
tropeçando, caída e cansada ainda assim.
vejo nos teus olhos o céu...
e no teu corpo o único destino meu.

natalia nuno
rosafogo

por hoje...


Talvez me mortifique no vazio da espera, o sol hoje trouxe emoção a pequenas coisas, tocou o meu coração e eu toquei o horizonte azul dos sonhos, aos olhos voltaram pássaros de ternura, na mente o sussurro enfeitiçado da felicidade e nas mãos molhos de trevos avermelhados colhidos na aridez da alma onde brota sempre uma esperança...

natalia nuno

sonhos que sonhei demais...


o céu infinito está escuro
e o vento sopra desabrido
gaivotas voam em círculo
tempo de inverno duro!
o sol atravessa a madrugada, descolorido
o mar gélido e imenso
tempestuoso, ameaçador
louco como um grande amor.
as palavras vagueiam p'lo meio da tempestade
e ela ali no cais no mar da sua tristeza
morrendo de saudade.

os pensamentos sucedem-se uns aos outros
e a memória já se contradiz
a vida é como o mar, ruidosa
mesmo quando se procura ser feliz.
continuo à procura de conchas na rebentação
para fazer soprar a chama da imaginação
e numa forma sentida, falar de sentimentos
quanto mais neles procurarem
mais me acharão...

este é o poema onde deposito meus ais
um jogo de palavras, onde sou e não sou
sonhos que sonhei demais,
no perto que é tão longe
que o coração me quebrou.


natalia nuno

como tudo pôde mudar um dia?!...


à tardinha a terra é morna
rejubila o meu coração de outono
à memória sempre torna
aquele aroma da infância
onde a sonhar me abandono
trago a ânsia das estrelas
o delírio de voar
dou-me conta dos sentimentos
da saudade que não sei calar.

a vida outrora me dava alegria
como pôde tudo mudar um dia?
na memória sobrevive o que amamos
o que trazemos ainda no coração
o rio, o loureiro, o carreiro
o nosso chão...
cresceu o trigo, cheira a pão
lá vou eu criança levada p'la mão
cheiro a fumo, o fogo é lento
vejo as chamas a dançar
cresce-me um sorriso
afinal nada caíu no esquecimento.

natalia nuno

meu coração aperta-se...


meu coração aperta-se...

os olhos nas vidraças,
baças
o olhar distante
o ruído da chuva incessante
meia atordoada e feliz, na efémera
duração dum sonho...

os dias de outono tão melancólicos
soltam-se fragmentos de memórias,
inesperados,
sento-me na margem da tristeza
e vejo meus sonhos a preto e branco
desenhados.
sopra o vento da incerteza
olho o céu cinzento sem pássaros
meus dedos estão estéreis
acentua-se a solidão,
já não seguro meus ais
nem o vento segura as folhas outonais.
até um pássaro sonâmbulo, que a primavera levou
num destino incerto,
fez ninho no meu peito,
encoberto...
e a saudade voltou

e eu sem saber que rumo dar ao pensamento
abrigo-me da vida na memória distante,
a caminho do nada,
a alma cansada,
e é, a criança que em mim
vive que segura a minha mão
enquanto o vento lá fora vai varrendo
as folhas, que caem ao chão.

natália nuno
rosafogo

poema escrito na aldeia em 11/2017

rimas para quem gosta...




tanta quadra tenho feito
todas rimando a primor
se as escrevo a preceito
é porque lhes tenho amor

não crio com desleixo
eu nas rimas sou briosa
rimo como Poeta Aleixo
a meu modo... saudosa.

sustento assim o querer
inda que as achem sem côr
cá por mim... as podem ler
mas só eu lhes sei o sabor

alguns lhe têm rancor,
mostram-se bem alterados,
acham comuns... um horror
os defeitos encontrados

são esta saudade velha
que não consigo calar
sempre que me dá na telha
faço quadras mas a rimar.

junto as palavras e teço
saudade, também o pranto
páro agora e recomeço...
vagabundo é meu canto

canto como o passarinho
que de cantar não se cansa
faço quadras p'lo caminho
enquanto a vida avança

de modo simples misturo
inda que apontem o dedo
má criação não aturo...
rimo sempre e sem medo.

natalia nuno
rosafogo

lembranças...


fico à espera que o vento me encha as velas de coragem, que retire as nuvens da tempestade, me deixe a mente tranquila e o coração corajoso, e no meu âmago uma fonte de doçura para poder navegar no meu quotidiano em paz...neste rio infinito que um dia me canta uma canção melodiosa e noutro me deixa a alma inquieta, rendida e numa situação dolorosa...fico a flutuar à tona, e quase parece que a vida me abandona... marés infinitas e eu presa nas ondas deste tempo morto, onde só o vento rumoreja e um pássaro canta uma estranha canção triste e melancólica na minha mente atulhada de pensamentos...embrenhada, esqueço a sordidez do mundo e, amanhã voltarei a renascer das cinzas...

natalia nuno
http://flortriste1943.blogspot.pt

meus dedos, bailarinas...


os gemidos que saem dos
meus dedos, ninguém sabe
ninguém ouve...são segredos.
impulsos que não venço
e cada vez mais me convenço
que me hão-de levar à loucura,
dedos que deslizam em pontas
como bailarinas, ternura
meninas... sempre prontas
a esboçar um vôo, leves plumas
ingenuidade de quem sonha
sem certezas nenhumas...

orquestram verbos de desejo
possuem fogo do coração
meus dedos pássaros de ilusão,
espalham aos quatro ventos
acordam meus pensamentos
escrevem palavras de amargura
outras de prazer,
sorrio à minha loucura
minha alma ruindo
e meu coração partindo.

natalia nuno
rosafogo

uns dias acordada...


canto canções sem fim
imitando o rouxinol
ao sol e em liberdade,
trago-as dentro de mim
do amanhecer
ao fim do dia,
causam-me saudade, alegria
ou até agonia...

se é bom ou mau nem sei!?
é como um clamor
ou a ilusão dum grande amor.
tão pouco tenho a certeza
se me preenchem o vazio,
mas encontro nelas a pureza
do meu encontro com o rio.

rio que em mim corre
quanto mais só, mais o sinto,
que é em mim tranquilidade
é o sonho que não morre,
é a grande necessidade
de me agarrar à vida...

como uma esmola recebida,
que é na boca sabor,
o que mais espero
e quero
nesta ilusão consentida,
que me satisfaz e
me deixa cativa...
é viver com amor.

na minha solidão em paz.
sempre lembro
e bendigo DEUS que é meu amigo
e prossigo cantando canções sem fim
que trago dentro de mim
e sonho-me menina ainda,
me conheço e me desconheço,
uns dias aurora
outros sol-pôr
brisa que a terra namora
ou duma ideia o fulgor.

barco partindo não sei para onde
folha em branco abandonada
mas sempre...sempre à vida afeiçoada.


natalia nuno

como se olha a quem se ama...


Encostava a concha ao ouvido
E ouvia o tempo das marés
E no meu sentido
saboreava a fantasia,
de correr o mundo de lés a lés,
contigo um dia.
Era um sonho,
onde dava largas à loucura
Já sentia em mim o calafrio
da Poesia
e no meu rosto a frescura,
e a chegada do navio
atracando.

E eu te amando!

Cabelos em desalinho
Uma forte gargalhada
Me ías dizendo baixinho...
Anda comigo mulher amada.

Mas só sonho era!
A vida real à minha espera.

Vinhas beijar-me
Caminhando num passo miúdo
Na demora de estreitar-me
Quando nosso amor era tudo.
E éramos dois rios de ternura
E nas margens pássaros cantando ao vento
Chama do corpo e da alma...loucura!
Leito de amor, nosso momento.

Não voltarei a estar triste
Respiro a fragância deste sonho
Solto-me do torpor!
Releio tuas cartas de amor.
Hoje quero viver,
fechar os olhos e renascer.

rosafogo
natalia nuno

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silhueta esguia...memórias de mim...pequena prosa escrita faz tempo...




hoje envolvida pela brisa do mar e o grito das gaivotas, despertam em mim gratas recordações da praia da minha infãncia a Nazaré, tudo o que possuía nessa altura era poder desfrutar de quinze dias de férias que a mãe tinha geralmente em Agosto, esforçava-me por aguentar a camioneta que nos levava até lá mas sempre ficava com o estômago dando voltas, passava todo o dia na praia de manhã à noitinha, vejo-me ainda criança silhueta esguia, olhos verde alga, cabelo aos caracóis, rosto magro, pernalta como ave da planície, dessa idade restam algumas fotografias a preto e branco, já desmaiadas mas onde eu imagino o infinito mar à minha frente a perder de vista, azul e verde esmeralda. As vozes das mulheres da praia elevavam-se em oração quando o mar embravecia e os homens andavam na faina, os verões por norma eram bem soalheiros e as pessoas aglomeravam-se na areia junto às barracas de lona a conversar umas com as outras sobre as suas vidas e também porque não sobre a vida dos outros, eu deixava-me ficar de lado na esperança de arranjar amizade com alguma criança para poder partilhar a minha alegria, as brincadeiras e repartir afectos. Na pacatez da aldeia, aí sim, tinha as amigas de sempre com quem contava, pois na aldeia não há estratos sociais, todos estamos no mesmo patamar, daí que a amizade e a partilha sejam um bem comum, ali não há ilhas humanas somos demasiado unidos. Não tinha consciência de mais mundos, o meu era aquele, onde existia um rio com margens frondosas e açudes cantantes, uma praça aos meus olhos de criança enorme, um adro onde adorava jogar à malha, uma igreja onde gostava de ir à oração das seis e duas ou três mercearias onde gastava os tostões em chocolates envolvidos em pratas coloridas. Os meus bisavós já tinham nascido na aldeia, meus avós, meu pai e eu também tivemos esse privilégio... orgulhosamente, aprendi muito com eles, era frágil como um ramo de salgueiro, mas forte de raiz e sentimentos, apesar de nesse tempo os afectos serem comedidos, sentia-me menina mimada... a mãe comprou-me um vestido branco com bolinhas rosa-pálido, e um laço para colocar no cabelo também ele rosa...como me lembro bem! Ai a força que a saudade tem...

natalia nuno
do meu blog http://fiodamemoria.blogspot.pt/

trago um rio dentro de mim...


Trago um rio dentro de mim
Vem de longe, faz tempo este rio
Trago um sonho danado sem fim
E vou recordando para esquecer o vazio.

Trago um rio dentro de mim
E o caudal é a saudade
Brota nos meus olhos sem fim
E é sonho entrelaçado com a realidade.

Trago as mãos cheias de nada
E meu coração palpitante
Desfolho palavras desinteressada
Que são pégadas numa areia distante.
Trago a vida transmudada,
De alegrias em tristezas...poesia fora de moda
Assim sigo ignorada, desta terra despegada
Perdida num vento que me tráz à roda.

Poesia amarga a minha, mas sentida
Com o perfume campestre, selvagem,
que é meu predilecto, cheiro de rosa atrevida
espalhado pela aragem.
Desenterro recordações, nevoentas
Que são de todo o tempo por mim achadas
Junto as pontas da vida, já poeirentas
E escrevo, escrevo, sobre pequenos nadas.


natalia nino
rosafogo

aragem...


É fina aragem que corre
A vida,
me persegue numa pressa amarga
Já o sorriso em mim morre
Com este tempo que não me larga.
Como flecha me mata
Me tira do meu encantamento
Tempo que não ata nem desata
Me destroça,
e me deixa em desalento.

Diáriamente invento uma alegria
Retiro qualquer pedra do caminho
E procuro de ti uma carícia
Um momento íntimo, um carinho.
Já o desânimo me cerca
Quase o nada me aniquila
Já o tempo faz com que me perca
Minha visão me mutila.

Assim vou fazendo a travessia
Deserto e mais deserto
Já se me priva o dia
Já a noite vem por perto.

natalia nuno

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desejo...


desvario do corpo abandonado
na cegueira do desejo,
coração que de paixão
estremece, é a doçura dum beijo,
é paixão tão grande como o mar
no olhar...
é o arrepio secreto da pele
é o sortilégio do amor
é do pulsar do sangue o rumor
é o estarmos a sós
num encontro cúmplice
é em nós
o extase do enamoramento.
canta em nós a felicidade
e já nos comove a saudade
é belo reviver com arrebatamento
amando-nos livremente e na memória
guardarmos a nossa história.

natalia nuno

o acordar do tempo...


passam andorinhas
voam rasteiro em bando
chega a mim a saudade
a infância vou recordando,
corre o rio de mansinho
cantando com simplicidade
a música que é gemido
e o soluçar me entra no ouvido.

a terra molhada
brilha com o orvalho da madrugada,
as flores abrem viçosas
e as laranjeiras espalham
o odor...generosas.

como é bom correr pelo carreiro
estreitinho,
o tempo acorda-me
e me traz o passado,
assalta-me o vento pelo caminho,
a velha árvore me olha
bordadeira de saudade,
canta a cotovia
com seu piar de tenor,
esqueço a dor...
fios de tempo, fios de amor
sobram ainda em demasia.

o sonho é de esperança!
o vento varre a solidão
em alvoroço as asas da criança
planando com mansidão...

natalia nuno
rosafogo

passo o tempo a desejar-te...


passo o tempo a desejar-te
como se tivesses partido...
e o tempo sempre a chegar-se
a ofuscar-me o sentido.
volto à felicidade d'outros tempos
a ver-te chegar
recordações fugazes como pirilampos
voejam nos lençóis quentes
onde os nossos corpos de desejos
se entregavam em rasgadas carícias
e beijos...
escuto o silêncio, as horas deslizam
e a lembrança daquele tempo me põe louca
passa um doce vento e num beber lento
teus lábios entreabrem minha boca
mordo a polpa fresca que me ofereces
a recordação é agora ilusão que
se aperta contra o meu peito
e como naufraga, persigo o ar
para no teu beijo me afundar.

verdeja o meu instinto, não minto!
como sonhos inventar?
passo o tempo a desejar-te!

natália nuno

sonhos que me navegam...


Sonho que sou menina
Não quero nunca despertar
Remonto à origem do meu caminhar.
Conquisto o azul celeste
As asas me dão coragem
Visto-me de penas, de alegre plumagem.
Ando perdida num mar de açucenas
Sei apenas...
No sonho sou menina
Perdida na neblina.

Meu sonho!
Me reconforta a esperança
que em ti ponho.
Salpica, saplica-me de alegria!
Não me fales de dissabor
Deixa um sussurro em Poesia
Tira do meu coração a nostalgia
Abre novas janelas ao amor.

Ajuda-me a dizer não
a todos os nãos
Sim á felicidade
Deixa-me agarrar com as mãos
Da vida a cumplicidade.
Porque a vida é um trino ardente
E eu ainda me sinto gente.

rosafogo
natalia nuno


a sós comigo...


Deixo-me ir ao sabor do desejo
Esqueço o futuro que há-de vir
Esqueço, nada de mim sei, nada vejo!?
E assim me deixo ir...
Fico num êxtase adormecida
Agora tudo me é indiferente,
Deixo-me da vida esquecida,
Só conta a hora!
Na velhice, docemente,
vivo o agora.
Mergulho em mim me abrigo
Minha memória ainda tem vontade
E a sós comigo,
Faço romagem da saudade.

Sem presente nem futuro
Minha alma?! Indiferente!
Nada me falta mas tudo é escuro.
Anda o Sol distante, neste dia dormente.
Não estou triste!? Nem sei o que quero!
O quê, da vida ainda espero?
Apenas uma noite enluarada.
Que me traga uma triste poesia
Que em mim a faça nascer
Como eu!Sombria.
Predestinada a morrer...
Pensei que o Mundo me entendia
Não julguei bem, p'ra meu mal?!
Só eu vejo a magia!
Que há na tristeza afinal.
Deixo que achem meu sonho louco,
nem eu já me entendo tão pouco.

rosafogo



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entardecer...


é doce ...chega contigo
até a brisa do salgueiro
entardecer q' és abrigo
hoje a lua veio primeiro

volto a sentir o pulsar
com ternura serei ave
doce andorinha a voar
serei do amor tua chave

esquivo poema a rimar
o céu é polpa de rubi
andam melros a trinar
nas palavras que eu urdi

tarde obscura de estio
olho agora a quietude
tu o mar ... e eu o rio
correndo pra ti amiúde

no riso do amanhecer
ou no mistério da tarde
em ti me volto a perder
êxtase q'é minha verdade

e logo a luz da aurora...
- as tuas carícias de mel
chegada do amor a hora
arrepia-se a nossa pele

natalia nuno
rosafogo

menina...trovas


lábios são cor de amora
belos sorrisos de romã
o cravo a rosa namora
logo cedo... p'la manhã

luz dos olhos são estrelas
a realçar na face bonita
é um regalo só de vê-la
q' ao ver nem se acredita

nas mãos papoilas trazes
no teu coração um trigal
e é com beijos que fazes
que o sol seja o teu rival...

cintura é de primavera
delgada e de pele tão fina
Ai quem te dera quem dera
Pra sempre seres menina.

natalia nuno

odor a jasmim...recordar o passado


são poucas as palavras por dizer
sinto-as imóveis na garganta
numa desolada hesitação
e o olhar vai-se a perder
esgota-se na imensa vastidão,
insegura é minha presença
os passos o vento arrasta
a saudade de ti é imensa
cerca-me a solidão...
refugio-me na noite silenciosa
sinto na pele a falta da tua mão
como uma orfã com medo
que cresce em mim e é obsessão.

o silêncio leva-me distante
enquanto a água me ensombra os olhos
deixa em mim a tua recordação
e aquele rio de amor...
odor a jasmim nas margens, é
ternura com que te abraças
ao meu corpo incendiado,
contemplo agora teu rosto
e sonho, com o sorriso nele derramado

prende-me o sonho colorido
por ele passam os dias da minha vida
perante meu olhar comovido
e a memória quase esquecida

natalia nuno
rosafogo

poema d'amor...


reviver meus versos abandonados
carregados de sonhos dourados
ouvir com alegria ou tristeza
ecos do passado
um caudal na memória
esquecer os temores e ansiedades
e morrer feliz nas saudades
estancar a tristeza
e ter a certeza
que amanhã será um novo dia.
esquecer tudo o que me obscurecia
e num poema d'amor
cantar minha alegria.

natália nuno

vivo do sonho...


os que não sonham nada sabem
movo-me à volta dum sonho
onde horas solitárias cabem
e já não sei
se vivo de sonho
ou se ele vive de mim
repito cenas eternamente
quase todas vindo de longe
vivas,
trazendo das rosas o carmim.

vão morrendo as pétalas finais
do meu rosto vazio e só
são pássaros os meus ais,
numa árvore adormecida
dança de sombras na poeira
duma memória já sem vida.

hei-de voltar-me para trás
escrever novo poema de amor
e se fôr capaz!?
escrever sobre o presente
o futuro...e o passado que jaz
adormecido.
hei-de voltar em outras primaveras
e sentir o sangue vivo
a arder!
para puder amanhã em paz morrer.

bate a chuva nos vidros
persegue-me a sombra da noite
sem luar
não quero meus sonhos cativos
quero amar, quero cantar
queimar de amor minhas palavras
com paixão,
esquecer a noite que é solidão.
sentir o solo, este chão
que é esperança,
alvorada do meu destino
manhã entreaberta
onde sou ainda menina sem tino.
com os pés nas sandálias
por entre jasmins de orvalho.

natalia nuno
rosafogo

nos dedos da solidão...


as palavras podem ser fogosas

e cristalinas, escritas com o coração

tranquilas ou fugazes

capazes, de se soltarem da nossa mão

com vogais de cor

resolutas,

ao encontro do amor

são sementeira, grão a grão

crescem frescas em seu verdor

palpitam, crescem voam e sonham

fazem da folha branca seu chão



decididas, são guerreiras

às vezes frias labaredas

as primeiras, a encher o nosso tempo

surgem dos labirintos e veredas

murmuram a infância perdida

nos dedos da solidão

às vezes ciladas de aflição

na minha memória preterida.



natalia nuno

palavras amargas...


amarga alegria
coberta de pó
sonho rasgado
numa noite fria
e há os que riem
fingindo ter dó.

amarga ausência
de tudo e de nada
deprimente a morte
que feia e forte
um dia sem sorte
se fará anunciada.

amarga desilusão
dia a dia a crescer
sabendo de antemão
que não é nada afinal
tudo tende a desaparecer
e é tudo tão natural.

amarga decadência
do sangue da gente
e leva à desistência
gargalhada deprimente
de fel e cansaço
lento, muito lento o passo.

natalia nuno

como escapar?...


como escapar?
o fundo é negro de carvão
tenho a certeza que o dia morreu
morreu... e chegou a escuridão,
todos os meus dias morrem
duma forma atroz
nada se alterou...nem minha voz!
ninguém se interessou...
ninguém fez grande alarido
só em meu peito ferido,
a ferida não fechou.

Santo Deus, como passou depressa,
trocando-me as voltas,
para viver precisei folhear
folhas soltas
do passado...
posso pôr-me a recordar
sem deixar de ser a que sou,
o caminho não mudou
é apenas atalhado.

morreu o dia num trémulo rasgão
deixou em mim
uma febre de solidão.
á procura de sonhos nas saudades
perdidas
nas horas espremidas
p'la ansiedade,
mas acolhida
p'la saudade molhada
de bondade.

solidão é feita do cansaço
de não ver
o que me arrasta e não me deixa voltar,
inquieta tortura de não ter
como escapar
às malhas deste dia a morrer.


natalia nuno

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indícios...


há uma neblina a circundar-te o olhar,
a luz está longe e no rosto há girassóis em fim de verão a morrer de cansados,
viver um pouco mais será um caminho por descobrir,
encontrar algum consolo,
deixar o tempo cair por terra,
seduzir o sonho e tê-lo por companhia para que arda tudo o que ainda arde dentro dele,
e se à noite vier a solidão que dói,
recorda a criança correndo pelos teus anos,
ávida de esperança, tão livre no seu vôo...
faz renascer em ti o universo
e cria mais um verso...é vida a Poesia.

natalia nuno
rosafogo

meu pé descalço...


meu pé descalço

vamos passando os dias a sonhar, vamo-nos rindo nos momentos de ilusão, e, há momentos em que cismamos que havemos de ser felizes, é que nem sempre a felicidade está presente... então, tomei ao tempo um tempo para sonhar, sem deixar que ele perturbe os meus sentidos...e na poesia quero soltar o que me vai na alma...minha história é tão antiga que algumas coisas já esvaziei da memória, sou então como uma jarra antiga onde as flores foram morrendo enquanto o pó foi crescendo sobre os móveis, agora tenho os cabelos brancos e a solidão me pegou. Mas, neste tempo que tomei ao tempo vou arrumando sentimentos e deixo que a tarde caia sobre meu rosto, tomo o atalho do meu coração que me leva às lembranças, revisito os cantos da minha aldeia e sinto-me uma andorinha acabada de chegar, trazendo nos olhos a primavera, estou descalça para não chegar tarde que o sol está a cair, já avisto o vermelho dos telhados, ouço o eco dos sinos e ao longe o verde dos frondosos salgueiros da beira rio...já ouço o cão ladrar dando sinal que alguém está para chegar, ele que foi testemunha da minha alegria de criança, lá está o portão que ainda chora o meu adeus, não sei se entre!? É que as paredes do meu quarto devem ter humidade, o tempo não se esquece de fazer danos, mas a saudade obriga-me a entrar, dou volta à chave, lá está a minha cama estreita nela já ninguém se deita, abro a janela espreito por ela o rio que canta a mesma melodia... e ele me olha como se visse ainda a menina esguia que nas águas se banhava e lá em baixo a horta que eu pensava estar morta de sede, e qual não é minha surpresa... meu pai a regar, olhou-me, e afagando-me com o olhar deixou-me saudosa no tempo...

natalia nuno
rosafogo
do meu blog "Memórias de mim"

entre ser, e não ser nada...


há sempre uma hora que morre
deixa meu coração ermo
e minha face amadurecida
na solidão...
minhas mãos me parecem alheias
de rabiscos cheias
com poesia inacabada
entre ser e não ser nada.

ao redor a escuridão me cerca,
na mão a bagagem triste
percorro um corredor sombrio
meu tempo se enche de vazio
e frialdade...já nem sei o que existe
sou solidão e saudade!

mais uma hora morta
como impedi-la de passar?!
ouço os passos do tempo,
deste tempo que teima meu sonho
quebrar.
esta hora é tudo que resta
vejo passar os dias um a um
e já nem sei a idade
e como se não restasse nenhum,
meu sonho
permanece na obscuridade.

tudo parou na tarde que morre
parar o tempo como queria!
rente à sombra das àrvores a escuridão
a noite desce, não há saída
morreu o dia,
a noite traz-me o sonho p'la mão
amanhã haverá novo sentido
para a vida.

natalia nuno

esta dor que não sára...


inquietante poema de paredes brancas
onde procuro o rosto que não encontro
poema onde me sinto borboleta ferida
levada por um vento que não pára,
poema onde consta que já fui
e hoje é dor que não sara
o que sobra duma vida

poema onde me deixo pensativa
onde dou a mão à dor
pela tristeza acometida...
poema duma dor que sopra fina
e me traz a saudade de menina
e do tempo que agora apoucou
mal ela se descuidou
já tudo é passado
só a saudade a meu lado
me faz companhia
tal como esta poesia
que deixo no umbral do meu sonho.

natalia nuno

trovas... me atrevo ou não atrevo...


já o vento molda a areia
e o tempo a face do rosto
não sou bonita...nem feia!
madrugada ora sol-posto

ficou o tempo embaciado
novelo em emaranhamento
tal qual o amor cansado
no coração feito tormento

vou revisitar os lugares
e as aves ocultas no ramo
que lembram de m'amares
tanto quanto eu te amo...

vão-se as horas somando
e o papel onde eu escrevo
sempre para mim olhando
se me atrevo ou não atrevo

dei-me ao tempo sem exigir
que me deixasse ficar assim
deixou marcas pra me ferir
levou tanta coisa de mim

escrevo de dentro do coração
à folha vou-me revelando
pode até parecer que não
nela os olhos vão pingando.

natalia nuno

amor....soneto


Quem disse ou crê que o amor é só agonia?!
Amor é uma bela rosa com pétalas de emoção
São cândidos os minutos ao amar-se dia a dia
É o madrugar dos olhos, saindo da escuridão.

Amor é uma chama ardendo, é puro incenso
É a dor real que não se vendo está presente!
É chama que ateia em delírio em fogo denso
Brasa que dói que se deseja de tão contente.

Assim quanto mais arde , posto que é chama?!
Mais inflama e não importa de amor morrer-se
Desejo na hora, coração sofrendo, assim se ama.

Ponte do amor à saudade, da saudade à agonia
Mais vale a ferida lenta do que amor perder-se!
Amor, sonho e emoção, entre um dia e outro dia.

rosafogo
natalia nuno

choviam ventos no pensamento


pequena prosa poética


Quem me dera fechar os olhos, deixar-me adormecer naquele lugar onde os sonhos parecem reais, a escrita é o meu espaço, as palavras por vezes são hesitantes, outras deixam de ser minhas amigas, mas também me fazem reencontrar emoções e eclodem em mim visões daquele outro espaço, daquele outro tempo que eu gosto de voltar a sentir. Lúcida carrego dia a dia o fardo de ver-me envelhecer que é assim uma espécie de tortura, e à medida que escrevo minhas lembranças, os pensamentos carregados se atenuam e eu com subtileza aproveito esses momentos, e é então que crio um elo mais forte com o passado e com o lugar onde nasci.
Absorvo-me na contemplação, de coisas infantis algumas bem insignificantes, como por exemplo quando ficava seduzida pelo vento que passava por mim e me dizia coisas ao ouvido, inventava conversas com ele e com leveza me deixava ir, sonhando ser pássaro voando no imenso céu azul, ou então abrindo pequenos botões de papoila para ver se eram meninos ou meninas consoante a cor com que me deparava, se rosa menina, se branco menino, ingenuidade atravessada de alegria, trazia o sol na boca, meus anéis e colares eram de flores, e meu coração era um barco que navegava no sonho.

Tocava as estrelas com os olhos, apaixonava-me pelas cores do arco-íris, era maré inquieta em rebentação, trazia em mim o odor da maresia e a poesia já p'la mão.



natalia nuno

conto infantil... «truz, truz, truz...


Ai Jesus!!!
Tanto carinho que eu recebi,
truz...truz...truz
batem à porta
mas primeiro vou compôr a toalha
que está um pouquinho torta.
Pensavam que era cedo para colocar
na mesa o bolo e os sumos?
Não, não!!!
Está chegada a hora, nos convites
dizia às dezasseis em ponto
Ai o meu coração!!!
Que explode de alegria,
por falar em alegria, recebi um livro
com um conto,
sim um conto ou uma estória da avó
assim quando todos forem embora
eu leio e não me sinto só.
Mas vou ver então quem lá vem
se é o Rui ou a Rosa ou será o Serafim?
Cá por mim,
viriam todos duma vez
que eu mal posso esperar
que os amigos os parabéns venham cantar.

Agora sim chegou o momento esperado
a mãe acende as velas
o pai apaga a luz,
e na porta...truz...truz...
é o amigo atrasado, o Florentino
mas é um bom menino, só que não olha
o relógio para ver as horas,
bem mas cantemos sem demoras
que o bolo é de se lhe tirar o chapéu
e os presentes mal podem esperar
vou os embrulhos rasgar
e os amigos abraçar. de contente
estes amigos são sábios sabem sempre
do que gosta a gente,
e eu até parece que tenho muitos olhos
e muitas orelhas, para ver tudo
e ouvir cada explicação, alegre
que lhes vem do coração...
Parabéns Francisca...parabéns Francisca...
e lá atrás de todos o Florentino
que é um bom menino, um pouco acanhado
cá no meu entendimento ele vai melhorar
depois do bolo provar...

Amanhã na escola todos vão lembrar
do dia de hoje, e lembrar aquele doce
que as mães sempre fazem para o seu filho
amado, com todo o amor e cuidado.

Quem não tem presente para levar aos amigos, é bem recebido na mesma, basta levar amor no coração e distribuir por todos os presentes, não há melhor presente que a presença dum amigo ou uma simples flor dada com muito amor, digo eu que criei esta estória com muito carinho e só espero um sorriso como agradecimento...adeus meninos até outro dia...

natalia nuno
https://natalia-nuno.blogspot.pt/

mãe...trovas


Igual à espiga de milho
que cresce no campo livre
livre quer a mãe o filho
vê-lo a crescer, feliz vive.

Mãe é doce... é rebuçado
que filho não vai esquecer
mãe cuida dele com cuidado
seu menino sempre há-de ser

Os olhos da mãe são belos
naturais como uma fonte
quem me dera ainda vê-los
à minha espera na ponte

Choro com alegria secreta
ao relembrar minha mãe
ai se eu fosse poeta...
fazia-lhe versos também

Igual à espiga de milho
que o sol ajuda a crescer
também a mãe p'lo filho
amor eterno há-de ter...

natalia nuno
rosafogo

momento...


Já foi primavera no meu jardim, já brilhou o astro-rei... agora na sua ausência, uma infinita paciência e a saudade a perfumar, o lento colapso deste caminhar...

natalia nuno

sonhos e pesadelos...memórias


Vejo a lua pairando sobre os telhados, ela que me espiava nas noites da infância, temos uma p'la outra um amor fraternal, ajudava-me a adormecer aconchegada nos cobertores de papa como se ainda habitasse o ventre materno, fazia-me esquecer as lamúrias e as rezas de minha avó, (e eu sem saber o que lhe tolhia a vontade de viver!), o tempo não aplacava a sua tristeza, o luto vinha-lhe de jovem, sem sequer nunca ter sabido se aquele por quem suspirava, teria ou não morrido, lá por terras brasileiras. Tudo já lhe era indiferente, sempre com o pensamento ligado à morte do marido ía exaurindo de mágoa e no recolhimento da noite, a recordação crescia...e eu ouvia e apercebia-me que havia algo no passado que permanecia constantemente no presente.
Do relógio da igreja caía o bater das horas, e do açude noite e dia sempre a mesma melodia da dança das águas sem se preocuparem se perturbavam o sono da gente, enquanto isso, eu pregava os olhos nas tábuas do tecto, ou olhava o Cristo pendurado na parede até adormecer.
O silêncio cada vez maior e apenas o grito agudo da coruja de quando em quando, parecendo a vida agoirar, e ali dentro das paredes grossas bem antigas da casa, os adultos consumidos pelo cansaço do dia a dia também já se tinham entregue ao labirinto dos sonhos, quiça "pesadelos", perante a vida irónica que não acrescentava nada de bom, já não valia a pena sonhar, só eu menina ainda sonhava. Como me é familiar ainda a velha casa, a avó protectora, o crepitar da lareira, e tudo me aflora à imaginação, tudo me baila diante dos olhos sem esmorecer.

natalia nuno
rosafogo

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sou...


sou feita de velhos dias, sem brilho
turvam-se já meus olhos de tristeza
um sopro de inspiração, é meu trilho
sou água a tocar no fundo, incerteza!

sou aquilo que escrevo e pouco mais
sou a que fala de tudo, e até de amor
sou a que o poema manifesta, até os ais
choram os meus olhos se falam de dor

sou por fim a manifestação da loucura
sou saudade da primavera, já sem brilho
feita de velhos dias, q' ninguém procura

sou a rapariga que tempo velho ocultou
sou sem qualquer ironia, trapo andarilho
serei curso de água parado ou rio q' secou.

natalia nuno

quimeras...


Guardei os sapatos de cetim
E o vestido de levar ao baile
Juntei-lhe perfume de jasmim
Ficou na memória o xaile
Pobre do xaile e de mim!

Desvanecem-se os pormenores
A saudade é tudo o que resta
Dos bordados e bastidores
Dos meus primeiros amores
Quando a Vida era uma festa.

O futuro é corredor escuro
E o amor fogo que ardeu
E não há nada mais duro
Que na Vida o que se perdeu
Vejo-me ao espelho não sou eu
Já nem sei o que procuro.

Olhos às nuvens erguidos
Lembram mãos que se apertavam
Lembram os beijos furtivos
Os abraços que se davam
Cartas escritas se rasgavam
Mas já esqueci os motivos.

Tenho que dar ordem à Vida
O tempo é quem tem a culpa
De me trazer esquecida
Sem sequer me pedir desculpa.
Dor sem peso nem medida.

Tardava em adormecer
Amar era um trinta e um
Mas pior era não ter
Na vida amor nenhum.

Que importa!?Que me importa!?
O que lá vai é esquecimento
Trago a viagem já morta
Promessas leva-as o vento.

natalia nuno

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se adormeço...


O meu Mundo acaba, quando surge o desalento
Os sonhos deixam de esvoaçar, mas os reenvento.
Cresce em mim uma dúvida e é tal a obscuridade
Que adormeço num sono de morte
Aí imploro imortalidade.
Abandono-me neste sonho, caminhando sem norte.
Ao longe já as estrelas se apagaram.
Restam na minha alma rumores de vento
No seio do sonho, seres que me amaram
Tudo eu carrego para meu tormento.

Entro num rio de margens pouco seguras
Que me atraem na sua direcção
E lá volto às minhas loucuras
E a sofrer de novo, fica o coração.

Quando alguém me acorda para que regresse
Volto ao mundo real de onde minha vida depende.
Por ele passa o tempo a galope e me esquece.
E tampouco, nem ele, nem ninguém me entende.

natalia nuno


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condão...


trago este condão de vida
que é luz que me ateia
se ando um pouco perdida
só teu amor me incendeia,
memórias e afeições
que em versos lavro
há nelas indagações
do que poderia ser diferente
mas nada altero...
no universo da minha mente
é teu amor que ainda quero.

natalia nuno

é minha vontade...


trago páginas impressas
no coração,
que te hei-de deixar
como um juramento de amor
quer leias ou não,
os sentimentos de saudade
que a alma me reconforta
terão sentido e razão
ainda que depois de morta
é que ao partir
meu coração ainda diz
que bem sempre te quis
é pois a minha vontade
falar-te deste afecto
transparente como água
e depois os olhos fechar.

Só Deus pode quebrar o laço
nessa hora inquieta
restará o nosso abraço
e minhas palavras de Poeta.

natalia nuno

pedaços de mim... prosa poética


No meu país há uma aldeia como não conheço outra, aos meus olhos surge sempre a velha ponte sobre o rio tão velho quanto ela, sempre lá volto todas as manhãs a fio em pensamento, olho as mulheres lavando no rio, os homens levando a carroça o burro o carro de bois, mas tudo isto só existe no meu pensamento, no entanto tudo o resto lá está inalterado, as margens com os velhos salgueiros, as flores que brotam livremente, as águas correndo transparentes, os moinhos moendo, volta não volta até as mesmas andorinhas nos beirais.
No trajecto vou escrevendo páginas da minha vida, como se fossem um chão de estrelas que me alumiam no caminho, ou contas dum rosário que por mim reza e me salva.
As notícias locais passam de boca em boca sem jornais, o sino avisa dos que estão de partida, os que nascem logo a velha "curiosa" espalha a notícia, os que casam têm seus pregões colocados na porta da igreja, e assim se vive na paz do Senhor.
Por debaixo do casario a aldeia assenta em filas de grutas que são labirintos tão extensos que há quem diga que vão até à cidade próxima...seriam os mouros, ou os celtas que teriam feito estes esconderijos subterrâneos? Para mim em criança eram povoados de fantasmas e no meu imaginário criava longas histórias com o dom de coisas secretas, gemidos, procissão de passos, olhos incendiados, mãos arrependidas, e depois na minha inocência concluía que eram almas penadas.
Às vezes ainda me espanto com a facilidade que a criança tem de inventar, dava comigo a cantar e a imaginar que estava perante uma assistência a ovacionar-me desencadeando em mim um grande triunfo, tudo sonho na minha imaginação.
Tantos sentimentos que se vivem, o amor a alegria, e outros que nos enchem de força, tomo sempre fôlego e desato a falar de saudade numa esperança cega de que não me fuja a memória.

natalia nuno
rosafogo

renego o tempo...


Forço-me ao silêncio
e imobilidade,
desvio meus olhares
Quero deles furtar-me
Deixar-me na tranquilidade
Renego o tempo,
que quer de mim afastar-me.
Numa ofensiva perseguição,
sinto-me à beira duma tempestade
E sem ouvir minha razão
Desespero... e, tudo é saudade!

Louca ilusão
quando se corre atrás!
Louco é o coração
Só desiste por cansaço
Apagam-se os sorrisos, perde-se o passo
Tudo se apaga menos os sentimentos.

Pressinto intempéries e desalentos.
Dias amargos virão
Ninguém chorará por mim
Parará suave meu coração.

Viver é fácil, morrer é o fim.

Choveu
Nos olhos meus
Resta uma pégada
É minha memória se arrastando na tarde
Nenhuma notícia, nem a esperada
Resta apenas minha saudade.


rosafogo
natalia nuno

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sonho ou pesadelo?...


Desenlaça-se da tua a minha mão
Ficam para trás os sorrisos
A dor chega ao coração
A saudade vem sem avisos.

Desfazem-se os ùltimos abraços
A despedida é lenta e dolorosa
Já ao longe ouço passos
O gemido duma alma silenciosa.
Sufocam-se os gestos
Ao rubro emoções
Só nos sobram restos
Prevejo angústias e provações.

Olho os retratos a sépia de outrora
Recordo momentos p'la vida fora
E a vida a nos deixar, bem chegando a hora.

Pesadelo, que me castiga com maldade
Ou sonho onde desfolho lembrança!?
À minha alma chega o bálsamo da saudade
Enquanto me debruço na janela da infancia.
Uma gota de àgua faz transbordar
Uma nuvem cinzenta do meu interior
E as minhas faces ela vem regar
Levando-me ao meu infantil frescor.

Não sei do meu tecto,
do meu chão
O meu silêncio é tudo o que sei
Nem onde perdi afectos,
onde tenho o coração
Sei apenas da saudade, esta que guardei.

natalia nuno

abraço...


Tento decifrar a Vida
À hora do Sol no poente
Poesia na aragem perdida
Saudade, bem estar, dentro da gente.
Lembro a frescura do rio onde me banhei
E o colo terno onde me aninhei.
Andam em revoada aves p'los ares
Aos meus ouvidos palavras fazem toada
Poesia nos meus choros, nos meus cantares
Para quê estar com a Vida magoada?

Vou minhas poesias joeirando
Nas lágrimas dos olhos e minhas fontes latejando.
Meus versos têm Poesia!
Posso até esquecer a métrica!?
Mas meus versos têm Poesia!
E será sempre verdadeiramente poética.
Não sei da mecânica da palavra, não!
Mas sou poeta de coração.
Dou-me a cada verso, deixo de mim um pedaço
E com este poema inteiro,
meus Amigos vos abraço.



natalia nuno


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este poema...


neste poema há o rosto
duma mulher triste
nas palavras abriga-se assustada
tem a idade dum tempo sem idade
e o bocejar cinzento
quando o pensamento se passeia
pelos labirintos da saudade.
neste poema há ainda outros sinais
palavras surdas de consoantes e vogais
que ora são rios de mel
ora são agitações e fel...

este poema é feito
de cicatrizes, rugas e sonhos
e insónias que não deixam adormecer
encantos e desencantos
memórias de momentos de prazer
de ternura, de dureza e insensatez
de palavras surdas providas
da minha surdez...
palavras encostadas aos meus lábios
alheias ao tempo
surgem em ventos de desejo
recordando o tempo que me agasalhou
outrora...
e eu acalento o sonho...hora a hora...

natalia nuno

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não me falem do tempo...


Não me falem do tempo
Atormentam-me os receios
A saudade entranhada em
mim vive
Não me falem do tempo
Povoa os meus sonhos,
os meus devaneios.
E se ilusões tive?

São agora rios de desespero
Partiram as esperanças
Mas eu espero
Pelas folhas que hão-de verdejar
As lembranças, hão-de voltar!

E hão-de rebentar flores
Passarão rios a cantar
Hei-de lembrar todos os amores
Até o derradeiro olhar apagar.
É grande a minha esperança
Meus olhos são ainda os da criança
Onde habitam assombros

Ainda acreditam na felicidade
Ainda que carregue nos ombros
Uma menina morta de saudade.
Se meus olhos partirem
Minhas mãos caírem
Com tantos cansaços
Não me falem do tempo
Deixem que siga meus passos
Que mais dias possa colher
Que sejam seara de trigo a
crescer.

rosafogo
natalia nuno

passos...


Dou passos silenciosos!
Cumpro porventura o destino?!
Acham que enloqueci, desdenhosos,
No silêncio, mais um passo pequenino.

Quem pode deter o destino?
Cujas agruras só eu conheço?
A vida é curso de água pequenino
De águas límpidas onde aconteço.

Dou passos e vou esquecendo
Esqueço até os passos que dou
Deslembrada acabo não sabendo
O que fui, nem o que sou!

Já não vou puder parar
Meus passos, são pés de dança
Quero sentir, quero me encontrar
Cantar à vida e ter esperança.

rosafogo
natalia nuno



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a sorte e o norte...


tanta ternura adiada
como se tempo tivesse
quando o tempo é
pouco mais que nada!
depressa ou devagar
sempre o destino a traçar
a sorte e o norte
a teia perfeita
e um lento desabar...

natalia nuno

agora é tarde de mais...



Agora é tarde demais!
Sabe-se lá quem bateu?!
Com certeza foram meus ais
Que tantos a Vida me deu.

Agora? Agora é tarde demais!
Podem bater à vontade
São com certeza meus ais
Que ainda vivem da saudade.

Quis o acaso que batessem
Tarde demais a esta porta
E de saudade, sofressem!
Sabendo que já estou morta.

Batem loucos morte certa?!
Ninguém os ouvirá jamais!
Nesta tarde quase deserta
Sepultaram os meus ais.

rosafogo
natalia nuno



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nego que te amo...


Nego que te amo obstinadamente
Nego que te quero à boca cheia
No meu olhar o amor é transparente
E meu coração ao teu se enredeia.

Como é ingrato envelhecer!
Ver-me nos teus olhos e sentir
Que sou água que corre por correr
Não aquele rio de verdade
Que se perdeu no tempo e é saudade.

Nego que te amo arrebatadamente
E o tempo já não sorri pra mim
Trago sede do amor de antigamente
Que enchia os corações de odor a jasmim.
Agarro-me à lembrança do teu rosto
E meu coração ainda vibra e clama
Para mim o amor é ainda uva em mosto
Há fogo nas entranhas de quem te ama.

E a vida é chuva derramada no olhar
É noite em mim, apagada a esperança
Já os sonhos partem do cais, deixei de sonhar!
Sonhos são apenas minhas relíquias de criança.
Cantam nas minhas mãos melros em liberdade
Encandeio-me no sol que me queima
Meu pensamento fica inacabado
Só a saudade,
Teima
Neste amor engendrado
Nos teus braços,
ficou tudo o que sonhei
Ainda sigo teus passos
Deste amor não me libertei.
Vou lembrando-te, entre os aromas da tarde
E de pés descalços corro na saudade.



rosafogo

natalia nuno

no ocaso da vida...


Ando nas coisas do tempo perdida
perdida como o jorro duma fonte
que canta...canta ferida!
no esquecimento do monte.
numa noite qualquer
com ou sem luar
hei-de gritar
o que não pode morrer!

Abrir de par em par
a alma, erguendo-me com rebeldia
e meu grito há-de ressoar
melhor do que a palavra faria.
quando a minha mão cessar
e não haja mais que esquecimento
e seja um longo calar?!
meu tempo será apenas um momento
e na mão que palavras escrevia
não creio que haja mais nada
só resignação fria e sombria.
ou uma esperança desolada.

Ando nas coisas do tempo perdida
vão-se as horas os minutos vagueiam,
pela minha atenção distraida.
na mente lembranças se passeiam,
no ocaso da vida.
e o olhar permanece atento,
aberto de par em par
com a suspeita da morte
que um dia vai chegar.

A vida foge para um sítio
onde nos resta esperar.

rosafogo
natalia nuno

acordou em mim lembranças...


O dia hoje recolheu cedo
Ficou em poucas horas encolhido
Pardacento, apareceu a medo
Lentamente se foi sem se fazer ouvido.
Acordou em mim lembranças
Nas dobras do meu coração escondidas
Meu momento ficou prenhe de esperanças
Fugi de mim, fiquei-me nas horas perdida.

Minha memória o dia desafiou
Levou-me até à minha aldeia amada
Nos fins de tardes invernosas, me deixou
Ao pé de minha mãe fazendo marmelada.
Meu mundo era ali, não precisava de mais nada
Ali se rezava o terço, se teciam conversas sigilosas.
E o Mundo desconhecido, lá fora
Bem longe dali, distante
E sem querer saber da hora!?
Saltei a lareira num instante.

Aninhei-me de mansinho no meu canto
Espevitei o lume que ainda ardia p'ra meu espanto.
Depois, depois tive direito à minha tijela
De café com broa de milho esfarelada
E açucar mexido com colher singela
Ouvi o ranger das telhas, era a trovoada.
A luz da vela tremia
P'la chaminé entrou o vento
Mas ouvi a mesma melodia
Ainda a ouço agora, neste momento.

Acabou o dia, hoje recolheu cedo
Cinzento chorando, sentindo como eu o medo
Amanhã voltará, talvez com mais alegria
E eu lhe contarei a história da minha alma vazia.


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aniversário do Francisco... «estorinha para criança»


Hoje é um dia especial, o Francisco amiguinho sempre presente nas nossas brincadeiras faz anos, então resolvemos juntar um grupo de amigos e cantar-lhe os PARABENS,
uma bela surpresa que ele não vai esquecer...com toda a certeza!
Aqui estou eu a Margarida, logo atrás o Miguel, o João, a Filipa, a Mila, a Ana, o Jorge e a do gorro amarelo que mal se vê porque é muito envergonhada, chama-se Catarina, estamos todos muito felizes, pois somos muito amigos uns dos outros.
Mais daqui a nada vai haver bolo de anos para apagarmos as velas e outras surpresas doces que todos adoramos.
-O Francisco, ganhou uma fatiota nova e umas botas de fazer inveja, ali em cima da secretária tem também um telemóvel novo para podermos comunicar, além de outros presentes que eu sei ele vai partilhar connosco, como as estórias da avó TáTá, o skat para corrermos nos recantos da praça onde moramos, ah ,e já me esquecia do presente principal que foi um lindo animal de estimação, um cãozinho pequenino que o Francisco ganhou da avó e a quem deu o nome de Tó... vamos então, todos amanhã passear pelo jardim com ele, levado pela trela, não vá querer fugir dado que é muito inocente, levamos também um saquinho com a gente, para apanhar as necessidades que ele fizer, assim vamos ter todos os dias um amiguinho novo à nossa espera para quando voltarmos da escola.
O Francisco está muito feliz, todos lhe queremos muito bem e ele também diz que é muito nosso amigo, e hoje vamos ver se ele tem muito folego para apagar as velas do bolo muito colorido que a mãe lhe fez porque ele é um filho muito querido...
- vou dizer-vos como é o bolo para sentirem que é lindo, então é assim: de formato rectangular, como se fosse a foto dum campo de futebol, o relvado verdinho, desenhado também o sol com muito carinho, colocados os jogadores e tudo, duas equipas rivais já se vê, e, deixa ver o que tem mais, uma bola bem ao centro e para quê? Perguntam bem é só para enfeitar porque depois é muito docinho mas é por dentro.
Também há bebidas, mas a que mais gostamos é o sumo natural, é que as outras fazem mal, por isso a mãe do Francisco só o sumo vai colocar nos copos que são de usar e deitar fora, logo, logo chega a hora de termos que nos ir embora, porque o dia chega ao fim, eu cá por mim gostava que houvesse muitos dias assim, de confraternização, para demonstrar aos meus amigos a amizade que me vai no coração.
Ah...agora ficamos todos à espera do próximo aniversário, vamos apontar no calendário para não esquecer, e hoje como já começa a anoitecer, vamos às despedidas e que grande alvoroço, tudo grita minha gente e só o que ainda ouço são as nossas gargalhadas de felicidade....
PARABENS...foi muito lindo teu dia de aniversário Francisco.

Os nossos gestos calorosos, fazem a diferença numa boa amizade, não são só os presentes que são importantes, é importante sim, demonstrar nosso afecto, através dum sorriso, dum abraço ou dum beijo...fazer feliz os nossos amigos em dia de aniversário e também nos outros dias até nos menos alegres um amigo verdadeiro é para as horas boas e menos boas...divirtam-se amiguinhos, eu vou ver os peixinhos ao rio mas volto para vos contar outra estória...

natalia nuno

deixou-se morrer...trovas


o coração é como um berço
que vai embalando a saudade
amo a vida e até me esqueço
que a morte é uma realidade

faz tempo q' o coração abria
pronto, pronto a desabrochar
passava o tempo e a fobia
era em teu coração morar

grande, a paixão se perdeu
agora coração tão cansado
amor q' no peito adormeceu
a morte dum sonho calado

é um velho piano sem dono
este coração que ainda bate
do amor ficou ao abandono
que venha a morte e o mate

assim vai escondendo a dor
deixou de reclamar mas dói
dá-se à lembrança do amor
e um sopro é tempo que foi

natalia nuno
rosafogo

lugar da minha querença...


Trago na alma o canto dum regato
e os pássaros cantam no coração
olho as estrelas as saudades mato
vou lembrando a terra c' emoção

- trago na alma, ainda que vago
o toque dos sinos que dobram
um sonho precário em mim trago
neste resto de dias que me sobram

quero-me assim bem saudosa
do meu chão paraíso sonhado
foi lá q' cresci rosa tão formosa
e por lá ficou m' sonho inacabado

nas paredes azedas da m' tristeza
há uma lágrima que sempre desliza
e perante o vazio e a incerteza...
voltar ao meu chão m'alma precisa

natalia nuno
rosafogo

aconchego familiar...


Cada qual ocupava o seu lugar à lareira, quando o frio apertava e aconchegava-se o lume com mais uma cavaca e assim durava o serão que nunca ía muito além do jantar pois no dia seguinte o trabalho duro esperava e a manhã depressa chegava. A mãe conduzia a conversa cujo tema era geralmente os afazeres e as resoluções do dia seguinte, falavam pouco, parecia quererem guardar as forças para o trabalho que tinham p'la frente...o pai era sempre o primeiro a ir à deita e então lembro bem, perguntava à mãe: a cama está aberta? Há coisas que não se esquecem, tal como: o jantar está pronto? A mulher trabalhava por dois, a mãe trabalhava na fiação e tecidos onde era chefe de armazém de linhos, e chegada a casa tinha os filhos a sogra e o marido que não perdoava a hora certa desta refeição nocturna...lembro que a comida era feita num fogareiro que trabalhava a petróleo, ou então nas brasas da lareira e tudo levava imenso tempo, ali, mesmo na lareira também se aquecia água para o banho e para lavar a loiça, o banho era semanal dentro dum alguidar de zinco, não se apaga de facto mesmo nada da memória ... entretanto enquanto durava o serão eu era a rainha dos sonhos e numa embriaguês tamanha, numa exaltação meu coração transbordava de alegria, tudo me parecia ser verdade, via-me no trapézio, onde tudo me era fácil, enchia meus sonhos de figuras ágeis e animadas e eram intensas as sensações, ousada representava só para mim peças de teatro que eu própria criava e era extraordinário... como era bela a infância! Achava ter muitos admiradores, era uma comediante infantil cheia de sucesso e vivia numa alegria contínua...a alegria era fundamental...ou seria uma tristeza alegre? Apenas a pureza de coração e uma alegria ingénua e deliciosa...não posso dizer com certeza, que foi uma infância muito boa, mas foi com toda a certeza uma boa infância.

natalia nuno

flor nascida na terra...


Sou flor nascida na terra calada
Trago em mim o orvalho da madrugada
E um Sonho que em mim aflora
Latente vibrando a cada hora.
Mesmo por atalhos estou de chegada
O dia desmaia, e eu, de tanta jornada.

A brisa trouxe comigo!
Também a saudade doída.
Trago tudo dentro do peito,
Tudo o que é meu por direito
É tarde já surge a fadiga.

Não há motivo que apague
Lembranças da minha memória
Nem que no olhar se alague
Páginas da minha história.
Nasci longe do progresso
No seio de gente boa de coração
Um dia estarei de regresso!
E que os pássaros não me estranhem,não?!
Porque eu sou a mesma de então.

Nasci cheirando a terra molhada
De madressilvas perfumada
Bebi das fontes, àgua clara
Me senti uma criança rara.
O Mundo já era Mundo
Chego por fim!
Alguém me estendeu os braços
E num desejo bem profundo
Minha terra, tu me acolhias a mim.

Deixei teu cheiro a rosmaninho
TERRA que hei-de sempre amar!
Ao regressar vou encontrar o caminho
É no teu chão que quero descansar.

rosafogo
natalia nuno




flor nua...


Olhei-me no rio
e o espelho das águas
deu-me uma imagem tão pura
que ao rosto veio lágrima magoada
senti por mim uma enorme ternura.
Meu corpo é bagagem triste
que carrego até à última morada,
vestido da dor que o tortura
e insiste, até que seja pó
e esteja em mim a morte ancorada.

Na madrugada senti-me flor nua
sem preconceito
flor bela e frágil
como um amor perfeito
e, este corpo que julguei
para sempre infinito
não o ouço nem o sinto!
Onde está? Onde o deixei?
Os movimentos reflectidos
na água do rio
fazem-me crer que estou viva,
mas meus sentidos
o que dirão entre si?
- Temo-la cativa!
Sinto nos ossos a morte,
talvez ela seja apenas um rio,
um espelho onde me olho
neste tempo velho
onde com sorte
as mãos do tempo segurem
ainda minhas raízes,
aqui onde estou, onde sou,
na esperança de dias felizes...

natalia nuno

no coração da noite...


quem minha voz silencia
quem põe meus olhos vencidos
quem tal golpe me daria!?
os sonhos trago esquecidos
minha esperança apagada
o corpo esquartejado
certeza desterrada
memória sombreada
e meu rosto calado...
depois de tanta jornada
tudo me devolve ao nada

quem tal golpe me daria
quem minha voz silencia?!

minhas mãos em esquecimento
meu pensamento um labirinto
o coração em pranto, nem sinto!
recolho cada lágrima furtiva
não quero perder esta luta
insurjo-me contra o tempo e a vida
e contra o assédio da morte.

essa filha da puta.

natalia nuno

descalça pela verdura...


É difusa a luz do meu dia
Suave é hoje meu viver
De amor talvez...de alegria
Ou o prenúncio dum doce morrer.
Contemplo a lua no céu
A noite que se aproxima
Me afaga o rosto e eu?
Revelo-lhe o amor que me anima.

Me despedi da tarde
Terei outras que o futuro me der
Desta já tenho saudade!
É assim este meu coração de mulher.

Há dias que ando triste, sem sentir,
nem presente nem passado.
Mas trago na alma o pressentir
Dum tempo mais sossegado.
A vida é tão inconstante
Nos confunde sem ter dó
É mar sereno e num instante?!
Nos põe na garganta um nó.

Mas hoje deixo minhas penas
Que é suave o meu viver
Na estrada que trilho apenas
Esperança e amor quero ter.

Hoje, sou criança correndo p'la vida
Descalça pela verdura
Sonho com a infância querida...
Quem sonha é como quem procura!

natalia nuno
rosafogo

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pulsa meu coração...


sigo a desvendar o tempo
olhando e abandonando-me na memória do sol...
surpresa dia a dia
pulsando meu coração na primavera
como jovem enamorada
vou lembrando rostos amigos
aqueles,
que nunca nos abandonam por completo...


natáliarosafogo

os serões da minha memória...


Eram duas mulheres mais velhas, e uma jovem casadoira sentadas ao fresco nas noites de verão nas escadas da sua casa simples, feitas de adobos reforçadas de lages também elas frescas, ali ficava eu ouvindo com atenção as queixas e os ais do peso dos dias, do tempo que não corria de feição para o joeirar do trigo, dos seus homens que andavam fartos de cavar a terra, e o quanto era difícil dar conta da vida! A moça, ouvia e não dizia uma palavra, não esmorecia e não pensava noutra coisa que não fosse o dia do casório quase, quase a chegar... ía aprontando o enxoval com os parcos haveres, fazendo um picô, uma bainha, caseando uma almofada, para que tudo desse certo nos tempos que se aproximavam e que pensava ela seriam de eterna felicidade. Que teria sido feito dela? Chamava-se Cesária , o namoro só era permitido ao domingo sob o olhar da mãe que não arredava pé, por sinal descalço, creio que nunca a vi calçada, descia e subia vezes sem conta a ladeira que a levava ao rio ou à horta para colocar a burra à nora ou colher vegetais, seu nome Rosa cuja vida foi de espinhos tal como as vidas das restantes mulheres da aldeia. Tempos difíceis aqueles, ali passei muitos serões era ainda criança ouvindo muitas histórias, no céu um luar bonançoso e lá em baixo no rio o cantar das rãs que nos vinha aos ouvidos como uma música longínqua soando como se fosse uma harmónica incansável. Os vaga-lumes também nos faziam companhia ziguezagueando dum lado para o outro, enquanto a noiva suspirava pela noite de núpcias...eu, não arredava pé ouvindo as inquietações das mais velhas, até que a mãe da janela da cozinha erguia a voz chamando por mim e eu lá ía com meu perfume delicado e doce, flor pura sem inquietações e nenhum desejo em mim a não ser o conforto possível da casa onde nasci.Todo este aroma da infância o sinto nestas memórias neste recordar neste invocar o passado com todo o meu frenesim, passado longínquo mas não morto que recordo nestes dias que se apagam em si mesmo , tudo é visão presente, nada morre, continua pulsando o coração e o pensamento, e o sonho torna visível o invisível... cega de ternura me agarro a esse eco da infância, como um recém nascido se agarra ao peito da mãe.

natalia nuno

para quem escrevo?...


Olho-me ao espelho e
a interrogação fica na boca
porquê esta pressa louca?
Há sempre uma hora a morrer
um dia a desaparecer
e eu aqui entre os outros
julgando-me forte
olho as minhas pegadas sobre a terra
caminho, sonho
e esqueço a morte.

E escrevo para quê?
E para quem escrevo?
Certamente para quem lê!
E para quem não lê,
e todos são uma multidão.

Para ti, são as palavras
que sem quereres lê-las
te vão entrando no coração,
se não te forem indiferentes
terás a minha gratidão
gratidão dum
coração que não pára
como o mar,
pois há nele memória e solidão,
enquanto o poeta caído
continua a sonhar...

Escrevo a palavra quotidiana
e o que digo é pouco ou nada
falo do tempo e da saudade
nesta língua por mim amada.

natalia nuno
rosafogo

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raia sempre um novo dia...


Porque me sinto saudosa?
Eu que nem tive um brinquedo?
Mas a Vida foi generosa
Inventou-mos em segredo.
De dia movia meu passo
De noite me dava um abraço.
E assim, filha do povo
Tinha sempre brinquedo novo.

E tudo era tão pouco,
Mas o tempo corria louco.
E o nada era meu tesouro
E a pobreza era meu ouro.
E quando a vida assim se namora
É a felicidade que em nós mora.

Não lembro da Fome o nome,
Nem quero que DEUS por ingrata me tome.
Não sei se lembro, ou se ouvi dizer,
Se foi verdade ou mentira!?
Não lembro nem quero saber,
Talvez lembrar, ainda me fira.

Por não ser rica não morro de pena
Raia sempre um novo dia!
Vou subindo os degraus serena
E agradeço à mão divina que me guia.



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TARDE QUIETA...


Até o pássaro cessou o canto
Adormece na tarde quieta
No meu coração um silêncio agitado
Um desencanto
Que me aperta!
Meu pensamento perturbado.
Emoções reprimidas
Nos olhos uma ansia agreste
Deste Outono de tardes esquecidas
No restolhar das ideias, nenhuma que preste.

Tenho nas mãos o vento
No coração uma alegria inusitada,
da solidão retirada
Meu corpo, casa abandonada
No meio do desalento,
um triste contentamento,
pouco mais que nada.

Neste ritual diário
Desenboca meu olhar no vazio
Vou magicando a eternidade
O tempo como eu sombrio
E uma nostalgia profunda que me dá saudade.

Amargos anos calcorreando a vida
Encurtam meus passos
Criança perdida
Sombra encolhida
Restam os traços.
Atravesso a tarde como um milagre
Nesta minha idade cansada!?
Uma chuva miúda me devolve a saudade
Deixo-me melancólica e ensimesmada..
Guardo as emoções no peito
Com a saudade me deito.

natalia nuno
rosafogo

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dói-lhe a recordação...


tende seu sonho
como se tende o pão
e deixa a alma a navegar
em ondas de espuma
mas dói-lhe a recordação
de tudo e de coisa alguma,
sorri à menina das tranças
dependurada no baloiço
de saia rodada ao vento
a menina que ainda oiço,
na brisa do arvoredo
num quimérico lamento.

já o sonho se esfuma
gargalhadas caem ao chão
acata o destino e em suma;
dói-lhe a recordação...
uma linha azul côr de céu
na palma da sua mão
mistério que aí se esconde
rastos ainda não escritos
que a vão levando pra onde
vai vivendo de seus mitos...

natalia nuno





estado d'alma...


toda a água que cabe num cântaro
não cabe nos meus olhos
é este o meu estado de alma.
as nuvens se desfolham
geladas de amargura
jazem na terra dura,
e a dominam,
tal qual meus sonhos
me levam à loucura,
fico na sombra
sou fantasma de mim
sou a infância que me corre
nas veias
sou o vai vem entre o presente
e o passado
sou o vivido e o sonhado
sou o sonho e a quimera,
sou por quem o tempo
não espera...

sou a imensa solidão
o medo do vazio
a despedida do verão
sou agora... o inverno frio.


sou o fim da viagem
sou a que segue de mão estendida
a que se perdeu da imagem
sou lembrança duma vida.


natalia nuno
rosafogo

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na serenidade da noite...


Levamos séculos a aprender
tantas coisas desta vida
outros tantos a desaprender
o que nos fere e penetra no corpo
e de algumas jamais
nos conseguimos desfazer
agora trazemos nas mãos calosidades
e no coração saudades
o cabelo embranquece
o olhar toma um modo transcendente,
e quem se lembra da gente?
Mas há gente,
que a gente não esquece.

Tempos de namoricos e paixões
visões que nos marcam toda a vida
e na quietude da noite
no meio da serenidade
surge sempre a saudade
a lua ilumina lá em baixo o rio
há uma ténue neblina
e lá estou eu ainda menina.
Contemplo a aparição
meu rosto lívido,
aos pulos meu coração.
Tempo de aprender toda a ternura
do mundo
tempo de balouçar o corpo ao andar
e aquele sorriso que dizia
sem nada dizer
levamos séculos a aprender
hoje cravo o olhar no chão
e guardo, guardo a recordação.

natalia nuno

o inverno da vida...


Hoje não vou à fonte
Deixo-me ficar neste entretém
Fico a olhar o horizonte
No silêncio eu e ele, mais ninguém.
Mais logo as estrelas vão surgir
Vou agarrar uma se puder
Para quando a solidão vier
Iluminar o meu existir.

Escondo-a num abrigo do coração
Bem ao pôr-do-sol da minha Vida
Ao anoitecer deste meu céu escuro!?
E assim a Vida não terei ainda perdida.
Pode o Mundo parecer-me duro.
Ser até meu caminho feito pó
Colherei ainda o que semeei
E assim não me sentirei,
Nunca só.

Deixo a fonte lá bem distante
Ouço-lhe apenas o rumor!
Que a Vida é um só instante
Nesta hora, como o sol, perde calor.
A Vida é uma migalha
Não penso que é eterna!?
A morte chega não falha.
A noite é fria, e a vida já inverna.

natalia nuno


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sob um céu vazio...


liberto-me da angústia
deixo-me p'la música inundar
oiço o farfalhar vindo dos pinhais
os pássaros a baloiçar
e a brisa a enlaçar-me o pensamento.
esqueço os sonhos sombrios
fico leve como o ar
ouço rumores,
acariciam-me os odores das flores
com a minha mão inocente
escrevo palavras da vida
que nos talha
que são sede de água pura
nascente, que brota sem cessar
lembrando as raízes,
a ternura
os dias felizes...
e canto até que este dia
se extinga
e a poesia seja flor
que em mim vibra.


e se não me entenderes
neste pulsar do tempo
é porque a poesia não faz para ti
sentido
e depois, já meu tempo terá
apodrecido
e se erguerão roseiras
e ciprestes ao meu redor
e uma calhandra rasgará o céu
muda como eu...


natalia nuno

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solto a alma...


Sonhei que meu livro da memória
se fechava...
E o céu passava de azul a vermelho
e sangrava.
Os amores perfeitos e as violetas
continuavam no jardim,
E me procurava, mas nada sabia de mim.

Tudo é tão vago e tão breve
Saio do sonho à procura
Ansiando que me seja leve
O limite dessa brevidade.
O tempo já nada cura
E só me permite a saudade.

Não sei se foi de tarde ou era aurora
Ou de noite que sonhei em desatino
Mas lembro do sonho agora
Da certeza que é senhor do meu destino.

As violetas continuam no jardim
Os amores-perfeitos pulsam-me nas veias
Só não sei pra onde vou, e de onde vim?
Sonho utópico, envolto em teias.

natalia nuno

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sonho que o dia sustém...


a lucidez sempre te interroga...
porquê esse vôo até ao obscuro?
porquê esse abismo inesperado
essa inquietude...que é fogo
esse contar de rugas novas...
deixa que te acompanhe a formosura do vento,
a ternura do correr das fontes azuis,
a verdade dos sonhos
nas trovas
despoja tudo o que é dor,
e deixa-te levar num passo doce,
com olhos de criança
como se ontem, ainda hoje fosse

abre as pétalas vermelhas do sorriso

retira os olhos da penumbra
deixa ver o verdor desses gerâneos
trazes a esperança delapidada
acalma a ânsia desolada
atreve-te a sonhar,
avança um pouco mais
e deixa a tristeza nos umbrais
deste poema...

natalia nuno

sonhos...trovas


Corre meu dia apressado
Na pressa de ir mais além
E meu coração está fechado
Hoje não está p'ra ninguém.

Chega a noite e a escuridão
Transforma a vida em labirinto
Até meus sonhos são em vão
Já é triste tudo o que sinto.

Caem folhas secas ao chão
De meus olhos lágrimas caem
Saudades... são o que são!
Do meu coração não saem.

Que importa q'outros dirão?!
Se a vida é quem me desarruma?!
- Trago comigo a inquietação,
Peço à tristeza não me consuma.

De noite me chega a solidão
E eu fico serena à espera
Os meus sonhos regressarão?!
Pobre de mim! Quem me dera.

Hoje o céu está estrelado
Meus olhos surprendidos
Foi tanto o caminho andado
Tantos os passos perdidos.

natalia nuno
rosafogo

vontade...


a voz afogada
mergulhada num mar de solidão
a mente agitada,
e o coração
como se fosse de vidro.
um nó apertando no peito
cortando a respiração
sem sentido...

do tempo a ficar refém
com medo de quebrar..como se alguém,
quisesse silenciar memórias,
sozinha, do lado do deserto
o rosto inexpressivo sem idade
e a vida ali tão perto
tantas reminiscências,
tanta saudade...
sonhos que não voltarão a nascer
o tudo e o nada a razão de ser
para a vontade de viver.

natalia nuno

doce recordação...


é este o tempero da vitória
escrever palavras enzeitadas
lembranças açucaradas
retidas na memória...
solto-as como uma revoada
de pássaros por sobre
as folhas do milheiral,
e o sol que tudo doura
na minha imaginação,
é açucar e é sal
tempero do meu coração

olho o dia de ontem
como doce recordação
mesmo se o destino parece adverso
eu canto a vida num verso
ponho todo o meu afâ
e com pezinhos de lã
a palavra trato com fulgor
de esperança adoço sonhos
e basta-me só um pouco d' amor.

natalia nuno

ilusões...


o punho da vida me esmaga
forte, cheio de energia
eu grito à saudade me traga
o sonho
libertando-me desta agonia
enquanto tudo dorme
nas sombras da noite tomo alento
liberto meu pensamento
uma estrela resplandece nos meus
olhos queimados
e os sonhos surgem em cachos dourados
vejo agora o mundo melhor
sou uma mulher palpitante d'amor
com os sais do tempo no rosto,
riachos de água enfurecida
que atravessam estações
criam em mim ilusões
que já não procuro
mas elas me dão um pouco
de esperança e alento
no futuro...

natalia nuno

memórias de mim ...


Vinha aquela chuva pela tarde cinzenta, o ar abafado que mal se respirava, o trigo nas eiras perfumava a aldeia e mais à noitinha um enxame de pirilampos aparecia de todos os lados por sobre a folhagem das árvores vindo até à beirinha das nossas casas a testemunhar o silêncio e preocupação das gentes da aldeia que à soleira da porta descansavam da fadiga do tormentoso dia, mas a trovoada passava o eco dos trovões desaparecia e o dia voltava a ter uma insólita beleza já mostrando o entardecer...ali ao lado mesmo na esquina do quintal uma buganvília agradecida por ter saciado a sede, crescia a olhos vistos como querendo cumprimentar a lua, enquanto nos loureiros lá mais em baixo os pássaros já se aninhavam para passar a noite...no destino da tarde quantos segredos, quantas preocupações e quantos sonhos acariciados pelos jovens com tanto amor para dar. Nestas horas cresce a nostalgia e a lembrança traz-me o assombro daquela moça perdendo-se nos sonhos com perfume a rosa nos inolvidáveis dias da juventude...o dia chorou comovido mas, resplandece prontamente, só na minha memória solitária há sonhos perdidos para sempre. O tempo range nos meus ossos, e coloca uma subtil névoa nos meus olhos, com o seu sorriso hipócrita me deixa ainda sonhar, voltar no sonho à infância onde sou feliz com algo tão simples, às vezes traz-me uma mão cheia de recordações e me deixa num frenesim, recordações que zumbem aos meus ouvidos como abelhas em volta dos laranjais em flor e eu num tímido vôo lá vou lembrando a vida distante numa cega ilusão de matar o tempo permanecendo para sempre criança com a vela acesa na mesa verde onde para lá dos trabalhos de casa, sonhava! No quarto ao lado sinto ainda a ditosa presença de minha avó, lembro o seu rosto sulcado de rugas e só de lembrar me quedo numa nostalgia e os olhos de água se rompem.
Acordar o passado é amar o rio, a aldeia, aceitar a ausência dos que partiram, e trazê-lo ao presente com palavras de frescura e luz.

natalia nuno
do meu blog ... aqui...https://fiodamemoria.blogspot.pt

serei contradição...


Meu caminho é já uma imensidade
Trago nele um cheiro a terra molhada
À noite, descanso na saudade
De dia sinto a vida a fugir, lembrança passada.
E há lembranças no meu peito em brasas
Me abandono nelas como se fossem tempo presente
Lembranças chegadas de longe, trazem asas
Impossível é o regresso é sonho sómente.

As desenrolo nas insónias, e me deleito
E nasce um sonho imenso maior que o mar
Sou livre nesta morada onde me deito
E onde fico livre só para amar.

Estas lembranças mantêm vivo meu caminho
e meu querer.
E eu persisto que meu corpo há-de resistir
Hei-de desdobrar o tempo vizinho
hei-de viver
O tempo esse ignora o meu querer,
serei contradição, saberei fugir.

Memórias que são lenha p'ra me aquecer
Que ao recordar me deixam enfeitiçada
De madrugada me deixam adormecer
Para redobrar forças nesta minha caminhada.

rosafogo
natalia nuno



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sonho de primavera...


um tímido vôo,
porque as asas já são estorvo,
a PRIMAVERA da vida
deixou de ter amendoeiras em flor,
agora tem apenas nostalgia,
ergo os olhos ao céu e agradeço
por ela ainda em certos dias me visitar...
horizontes que despertam da obscuridade,
fecho minhas pálpebras
cativa em mim a felicidade
cedo ao desejo de sonhar...
ser falcão atravessando o céu,
e deixar
a solitária flor de sempre ao agora...


natalia nuno

na poeira do tempo...


na poeira negra do tempo
há flores que se desfolham
num torpor sonâmbulo e gelado,
já nenhuns olhos as olham
com olhar apaixonado
foram flores de verde pino
de olhos verdes expressão bravia
suave ou triste foi o destino
de melancolia hoje seu dia a dia.

o tempo cria caricaturas sem dó
tira-lhes o brilho que tinham outrora
e o sorriso que as faces iluminava
pétala a pétala lhe deixam só
a saudade, que as persegue hora a hora
a saudade magoa-as, quebram-se num
silêncio cismando em tudo e nada
e há lembranças que nem chegam a abrir
quando a memória é já de si delicada

flores que teimam em não morrer
expostas ao inverno e às nortadas
alimentam-se de sonhos, querem ser amadas
ressuscitam sentimentos de tanto querer.
um murmúrio de água na voz perdida
no âmago ainda a idade de ouro
e os olhos desencantados a prender-se à vida
quando a noite é já pálpavel

natalia nuno
rosafogo

no vai-vem do amor...


Espero que apareças...
Espero-te aqui na esquina
mas não esqueças!
Traz contigo o perfume campestre
o mesmo que me ofereceste
quando era menina.
Chorei,
no dia em que nos despedimos
só eu sei!
O gosto das lágrimas salgadas
as vozes enamoradas
o beijo exasperado
a lembrança de mão na mão
O coração trémulo, calado.

A nossa sede, o nosso abraço
A minha oração sem esperança
O meu rosto sem traço
Aquele que me viste em criança.

Sangue sem sangue, sem pulsação
E a noite, a mansidão?
Meu vestido branco, flores no cabelo
louco, louco este meu desvelo.
Com meus olhos digo que amo
Meu andar fica cativo
No meu sonho por ti chamo
Amo-te, amo-te!
Docemente te digo.

Espero que apareças
Recolhe-me no teu olhar
e não esqueças
traz contigo a magia do luar,
e uma ou duas lágrimas para às minhas juntar.
Faremos um lago a soluçar,
e dos meus olhos cairão rosas
que crescem ainda, por entre pedras preciosas.
E nossos dias serão de marfim
Falaremos de magnólias, de jasmim
enquanto os nossos sonhos adormecem.
E depois, por fim...
o tactear que buscámos tanto
Milagrosos sonhos que permanecem
E vamos sonhando por enquanto.

rosafogo
natalia nuno




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sou ainda jovem...


sou ainda jovem
como jovem é a primavera
sou águia que espera
pelas ondas do vento
que me levam ao sonho
caindo lentamente no azul
desprendida do pensamento.
ave distante que desvanece
na linha do poente,
em mar transparente,
na quietude do entardecer
e nos sonhos se deixa perder.


e a vida como se nova fosse
bela e doce
toda ela felicidade,
como se nunca mais
pudesse ser
apenas saudade...


natalia nuno
fuseta 4/2015

um poema atrás do outro...


Reuni coragem
deixei de implorar, de chorar
não vou deixar de lutar
até ao fim
se a morte me aguardar
pois que aguarde...
Ter medo não faz mal
ter medo é tão natural,
o coração bate no peito
como pássaro preso numa gaiola
mas eu não peço esmola
hei-de morrer com dignidade
todos morremos mais cedo
ou mais tarde
essa é que é a verdade.

O entrechocar de ideias
me revigora
às vezes preciso duma oração
um poema atrás do outro
até chegar a hora.

Às vezes também me estremece a mão
quem sabe se este dia é o último?
Em remoinhos de vento
trago o pensamento
como uma tempestade
onde se precipita a saudade.
Seja até que Deus quiser
a vida é como o vento de nortada
com a força que me levará cansada
ofegante.

A morte... aproveitará o instante.

natalia nuno

entusiasmo de outrora...memórias de mim...


A memória é um fiel espelho, guarda tudo num cofre profundo e duradoiro e põe o coração no peito a bater melodiosamente com as reminiscências de muitos anos passados, fazendo com que seja abolida a distância quando recordamos...às vezes penso ter tudo perdido, mas num instante volto a reviver tudo de novo e são relíquias as recordações que amo, porque amei outras pessoas, outras coisas, que não passaram por mim em vão, mas que partiram fustigadas pelo vento da vida, são realidade passada, mas duradoiras dentro de mim para sempre.
Ressuscito o passado nas mais pequeninas coisas e aí a imaginação também se liberta e eu fico fora do tempo, descobrindo assim a minha essência e arragando-me às lembranças, às raízes, e tudo isto é como pão com manteiga para mim, saboreio cada instante que a memória me permite com entusiasmo e sinto a inspiração brotar com palavras maleáveis, doces, sem barreiras, como flores abrindo-se ao sol do meio dia e assim escrevo com entusiasmo as vivências de outrora...encarcero-me de livre vontade na solidão, quieta, feliz por dentro, arrepiando caminho ao encontro de cheiros e afectos, puxando forte pela memória.

natália nuno

sonhos cor de rosa...


contemplo ao longe
a juventude passada
lembro o beijo recusado
o renunciar ao beijo
e ao desejo
hoje evoco o momento
remoto e perdido,
passado mas vivo
felicidade vivida
que satisfaz o espírito
que é bálsamo
que fala de nós
que é vida
tudo latente na memória
tempo de vida inocente

cheio de promessas
e de alegria constantemente
renovada
e eu, rapariga desajeitada
insegura e ansiosa
mas com sonhos cor de rosa.

natalia nuno

amor...saudade...


já não tenho mais palavras para dar-te. guardei-as nos teus olhos como se as sepultasse, para escrever mais tarde um poema que me amasse, me fizesse sentir viva, me falasse a tua língua e não esquecesse de me deixar ao teu beijo cativa...amor perfeito este que trago a latejar no peito, como uma festa de estio, amor que é rio, e é ponte que atravessa meu horizonte, tempestade e serenidade... amor que é saudade!

natalia nuno

meu pé descalço... prosa poética


vamos passando os dias a sonhar, vamo-nos rindo nos momentos de ilusão, e, há momentos em que cismamos que havemos de ser felizes, é que nem sempre a felicidade está presente... então, tomei ao tempo um tempo para sonhar, sem deixar que ele perturbe os meus sentidos...e na poesia quero soltar o que me vai na alma...minha história é tão antiga que algumas coisas já esvaziei da memória, sou então como uma jarra antiga onde as flores foram morrendo enquanto o pó foi crescendo sobre os móveis, agora tenho os cabelos brancos e a solidão me pegou. Mas, neste tempo que tomei ao tempo vou arrumando sentimentos e deixo que a tarde caia sobre meu rosto, tomo o atalho do meu coração que me leva às lembranças, revisito os cantos da minha aldeia e sinto-me uma andorinha acabada de chegar, trazendo nos olhos a primavera, estou descalça para não chegar tarde que o sol está a cair, já avisto o vermelho dos telhados, ouço o eco dos sinos e ao longe o verde dos frondosos salgueiros da beira rio...já ouço o cão ladrar dando sinal que alguém está para chegar, ele que foi testemunha da minha alegria de criança, lá está o portão que ainda chora o meu adeus, não sei se entre! É que as paredes do meu quarto devem ter humidade o tempo não se esquece de fazer danos, mas a saudade obriga-me a entrar, dou volta à chave, lá está a minha cama estreita nela já ninguém se deita, abro a janela espreito por ela o rio que canta a mesma melodia... e ele me olha como se visse ainda a menina esguia que nas águas se banhava e lá em baixo a horta que eu pensava estar morta de sede, e qual não é minha surpresa... meu pai a regar, olhou-me e afagando-me com o olhar deixou-me saudosa no tempo...

na paz dos versos...


a minha vida é um suspiro
com palavras ao vento
e silêncios da memória,
um cântaro cheio de saudade
uma manhã de luz e claridade
um raminho fresco de hortelã
recordações em delírio
que disparam e incendeiam
esta minha manhã...

a minha vida tem a medida
exacta dos sonhos
lágrimas e risos, desertos e oásis
paraísos, e promessas de tudo capazes
e sempre uma interrogação...
até quando meu coração?
na paz dos versos, resumo a vida
com imaginação, numa utopia
que me aquece os sentidos
e me desafia, como se fosse meu
lampião...

a vida traz-me enfeitiçada, rendida
às vezes desiludida,
recorda-me o tempo que resta
como sentença, sem rancor
saio da luta, sigo com audácia
incendeio em mim o amor.


natalia nuno

range o tempo...


trago um poema a rasgar-me
o peito sem luz nem brancura
perturbador, perdido
num choro sentido,
traz-me presa à solidão
e o coração é um cavalo desbragado
neste poema que eu sonhava dourado
poema que se evade e me deixa
na saudade,
um dia sonhei o que nunca veio
e a felicidade perdeu-se p'lo meio

folhas moribundas morrem já na
obscuridade ali na terra fria,
no meu sonho sou um instante já perdido
saudade morrendo dia após dia...

natalia nuno

se triste me vires...


não sei até onde poderei ir
também é verdade que não
me interessa isso agora,
vale tão pouco minha memória pequena
que chega a hora,
que até lembrar de mim me dá pena.
há lembranças que me deixam triste
por isso choro quando a saudade insiste,
hoje não quero mesmo lembrar-me
de coisa alguma,
chegaram demasiado tarde as palavras
hoje não escrevo nenhuma,
secaram-me a alma, mas também me deram
conforto e alegria, fico a chorar baixinho
lembrando a cada momento que tenho
de seguir caminho e esquecer a melancolia

não sei até onde poderei ir
sei lá da alegria que tinha de vencer,
lembrar ou esquecer?
um dia, um dia vou ter de partir!
não sei quem me roubou meu arco-iris
pinto agora meus dias de negro
se triste me vires, ou de qualquer jeito
lembranças e sonhos adiados,
é o tempo a doer no peito
e a névoa nos meus olhos toldados.

natalia nuno
rosafogo

trova...brejeira


já pressinto a rendição
minha sensatez perdida
com o mover da tua mão
na blusa que trago vestida

natalia nuno

isto é amor!...


lábios movem-se suplicantes
a respiração rasga a garganta
a excitação, a troca de olhares
a pulsação acelerada
e uma emoção tão pura
como água doce...
que o momento se eternize
de ternura infinda...

e que é isto ainda?
Isto é amor!

natalia nuno

http://flortriste1943.blogs.sapo.pt

nosso amor...


Enquanto o rio se perpetua
no mar
enquanto a nuvem desliza
suave no céu, eu
sou a brisa trémula que passa
e tu o pássaro por entre a
folhagem
cantamos a mesma linguagem
buscamos uma ilusão já velha
a chama do amor espelha,
ainda em nós ateia
mas nosso amor é onda
prestes a morrer na areia.

Entre a saudade e a dor
o silêncio do nosso amor.

natalia nuno

procuro o significado...


Para o passar das horas
procuro o significado
Palavras me vêem à mente
Trazendo-me sempre o mesmo recado.
Há ainda um Amor orvalhado
E uma saudade premente
Sei porque choro,
Só não sei porque me entrego
No frio dos meus dias
Nas minhas manhãs sombrias.

Ficam as palavras, que não me deixam só
São minha realidade, meu Universo
São o sabor da Vida,também a poeira o pó
Que deposito no fazer de cada verso.

Pó para onde meu corpo escorrega
Já me deixo ir,de mim faço entrega.
É esta a minha realidade.
No passar das horas, este tempo me pega
Me leva p'ra onde não há regresso
Só a saudade!
Então estrelas serão minha companhia.
A ti Vida já nada te peço
Já tão pouco te pedia?!

natalia nuno

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se me entendesses...


A sair de mim teimam
estas palavras que me atiçam
e queimam
deixo-as em versos,
incertos, como a brisa
ao fim do dia, na hora derradeira
são canto saído dos lábios,
palavras sonho duma
vida inteira...
Palavras que me ocorrem
canto de sonhos que não morrem.

Como queria que m'entendesses
sem palavras
como eu entendo o mar
apenas com o olhar
que m'entendesses como os pássaros
que me cantam
como a flor que se abre no campo
ou como a água que brota da nascente
sem palavras, apenas com o sorrir
somente...
Correria então a dizer-te
que é fogo incandescente
o meu amor por ti.

Sem palavras, tudo assim
simples como vôo de rouxinol
abrigar o amor no peito delicadamente
alcançar manhãs vindouras
e novos amanheceres
e sem palavras, renovar
a arte do prazer.

natalia nuno

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solidão feroz...


o tempo se esquece
e eu esmoreço
tanto o esquecimento
já mal me conheço
foi tanta a flor
e tanto o aroma
harmonia de sobra
agora o tempo
que tudo me cobra

viver por viver
na incerteza ficar
se o sonho perder
breve seja o agonizar.

natalia nuno

agora nada descortino...


Sabendo que não vim para ficar
O meu apego à vida não tem medida
Minha alma se perde de tanto a amar
Em certos instantes a julgo perdida.

Minhas palavras são brasas na garganta
Solto-as quando o tempo me faz medo
Quando me sinto frágil como uma planta
E pouco a pouco entorpeço na solidão do degredo.
Às vezes me invade um infantil contentamento
Vou desfolhando sonhos em confidência
Outras surge em mim a descrença e o a desalento
Acaba-se a harmonia do madrugar da existência.

Agora nada descortino para além do tédio
De caneta na mão deixo vaguear o pensamento a monte
Se a vida é treva cerrada sem remédio?!
Corro atrás da luz do Sol que se queda no horizonte.

A Vida é carta de mão em mão que não pára
Ai de mim que já de tudo me esqueço!
Na neblina dos meus olhos uma tristeza que não sara
Teimo em prender-me à Vida mas já anoiteço.

rosafogo
natalia nuno

alma da saudade...


momentos sem ti
sinto bater o frio, ou de esperança
tremi?
até a noite se esconde
ao ver-me esperar-te
e meu coração é como um cão cego
a chamar-te
sigo errante, dói na memória
lembrar-te
já não é límpida a minha visão
já meu mundo está perdido
só trago na lembrança
um sentido...o de amar-te
guardado como milagre
trago esse amor na minha saudade
ao recordar-te...
uma tremura na pele
e uma estranha inquietação
na folha de papel.

natalia nuno

fito a folha...


o coração pulsa sobressaltado
sempre que lembro o passado
fito a folha em branco, o tempo aborrece
já nada acontece
a vida é apenas um segundo
deixo-me no meu recolhimento
profundo ...
nesta já longa jornada
há um oceano a jorrar em mim
de saudade,
trago a vida presa a nada,
e esta sede que não passa
sinto-me assim saudosa
parte de mim deseja gritar
de contentamento
outra me desafia à solidão
e um mau pressentimento
se instala ... no coração
que insensato,
na ilusão bate
forte... fugindo à morte.

natália nuno

lembranças louca companhia...


lembranças movem-se
na mente
numa louca orgia
e eu mudamente
finjo não sentir
tão louca companhia,
estreitam-me em seus laços
e cada uma me fala diferente
trazem-me saudades dos teus abraços
galopam dia e noite doces e constantes,
recordam-me teus passos
uma morre, logo outra nasce,
instante a instante...e o sonho
faz-se.

lembranças nostalgias aos molhos
trazem-me alegrias ou lágrimas aos olhos
engendram-se em mim
e em mim se abandonam
com voz desvelada,
que hei-de eu fazer
se me sinto lembrada
numa saudade que não consigo
esconder?!
saudades trago uma braçada
que acabei de colher.

as horas sucedem-se
e eu neste viver
o sonho, tão perto e se foi
fez-me feliz, como tive esperanças
de o ser...hoje nos meus olhos
a sombra que dói!


natalia nuno

memórias de mim...pequena prosa poética


meu coração se abre ao sol e deixa penetrar nele o calor da vida, tal como um passarinho que abre asas e vai voando na expectativa de respirar em liberdade o perfume da terra quente, a minha alegria também renasce a cada manhã clara olhando as giestas ou avistando as sarças por entre o trigo, de tal forma que minha tranquilidade se alheia ao tumultuar da vida e eu fico num mundo diferente ladeado de muralhas de coisa nenhuma...daí que nas minhas dúvidas reste sempre um pouco de certeza, de que ainda corre uma fogueira dentro do coração cuja chama nada nem ninguém consegue apagar. Meu mundo de criança era um mundo de fragrãncias, coisas que não voltam, mas que recordo com saudade... pois o sol é promessa de cada dia, a esperança sempre um recomeço e são novas as forças a voltarem-me aos braços e às mãos que não cansam... como as gaivotas que seguem os barcos...com uma beleza sempre densa aos meus olhos, apesar da minha timidez infinita, continuarei por aqui a deixar-me sonhar.

natalia nuno
rosafogo

pobre coração...


Meu coração selvagem
Potro enlouquecido
Sofrendo na viagem
Até já de si esquecido.

Galopa sem perceber
Que o sonho não alcançou
Cavalo solto a abater
Para não morrer...parou!

Corria veloz como aragem
Com raiva, num desafio.
Viandante de coragem
Traz a Vida por um fio!

Pobre coração tão desolado
Parou à sombra do caminho
E de cansado, tão cansado!
Ali espera morrer sózinho.

natalia nuno
rosafogo


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sentimentos à flor da pele...trovas


trago o coração parado
nem o silêncio o consola
se amor não lhe fôr dado
não o pedirá por esmola

dói-me de tanta saudade
e desta vida agastada
se amor não é de verdade
imaginário...não é nada...

o coração vive fechado
num corredor de escuridão
a vida o traz agastado
e sofredor de paixão...

palavra vai... palavra vem
para ti com laivos de amor
para mim vens com desdém
mas não guardo rancor...



natalia nuno

a ilusão do eterno...


em mim tantos Janeiros
de abençoados sonhos
bons decerto os primeiros
hoje meus dias tristonhos

rumoreja baixinho o vento
passa a lua, tão prateada
inconfidente o pensamento
no coração nova toada...

mastigo as horas, teço fios
tudo dou, tão pouco recebo
semeio palavras em vazios
se florescem nem m'apercebo

meu retrato, retrata a dor
agora de tristeza me visto
sou despetelada flor...
na moldura onde m'avisto

uma esperança feita de nada
rosa rubra, já sem alento
gestos indolentes, agastada
dor q' não se vê e é tormento

é agora outono nos m'braços
afogo-me num lago de emoção
de nada serve apressar os passos
nem apressado trazer o coração

natalia nuno

GRATO É RECORDAR...EM - ESTREMECIMENTOS DE ALMA - NATÁLIA CANAIS NUNO - EDIÇÕES VIEIRA DA SILVA


GRATO É RECORDAR (Natália Canais Nuno)

o passado vai caindo para um lugar que é o esquecimento, estilhaçado em bocados, numa névoa perdido... extinto no nada, conto agora com um futuro incerto e um presente inquietante entre a luz e a tristeza... lembro noites de ternura e o meu sorriso detém-se enquanto o sono não chega, na memória cruzam-se e inquietam-se os pensamentos, vendo-te deslizar de súbito pelos lençóis, o teu olhar a reflectir-se no escuro e o contínuo desejo de nada perder, perto dos sonhos ébrios ainda a vontade de me deixar quebrar entre teus braços...

EM - ESTREMECIMENTOS DE ALMA - NATÁLIA CANAIS NUNO - EDIÇÕES VIEIRA DA SILVA

já mal me lembro...


nuvens vieram sombrias
nada me dizem afinal
promessas de melhores dias
neste meu tempo outonal
não está distante a entrega
meus sonhos são o que são
na alma folhas secas, no coração
a vida que dele já despega.

cantei às flores da primavera
chorei com o som do ribeiro
por ti meu coração ficou à espera
à tua espera o tempo inteiro...
amadurecem os frutos na horta
e eu no meu destino solitário
mas o coração não fecha a porta
e vou desfiando este meu rosário

trago de prata meus cabelos
e na saudade vou caminhando
e se me vires a desprendê-los
é porque m' sinto ave d'céu voando
voando entre um nevoeiro espesso
por entre cedros e abetos
à procura de quem nunca m' esqueço
em busca do amor... e de afectos!

rugas do meu rosto são bofetadas
que vou levando a torto e a direito
há nele risos e lágrimas escancaradas
enquanto o coração bate no peito
desenfreado tempo que tudo arrasas
por isso são tristes minhas razões
vontade esta de voar já sem asas,
aceito este viver de sonhos e ilusões.

natália nuno

sentidos...trovas


Tudo que escrevo eu sinto
São como lamentos reais
Às vezes para mim minto
Porque me doem de mais!

Há dias em que não escrevo
Para não usar o coração
Tão cansado que nem atrevo
A causar-lhe desilusão.

natalia nuno

tempestade em mim...


hoje meus gestos são lentos
as palavras sem falar
sou como árvore nua com os braços a chorar
de frio, neste silêncio... silêncio
e lá se foi minha alegria, bateu-me à porta a
melancolia...
como é difícil esta melancolia!
e de repente, uma saudade a bater na luz do poente
saudade, saudade que faz doer na gente!
afunda-se o sol no horizonte
meus pensamentos andam a monte
desliguei do tempo, meu rosto amareleceu
fruto da viagem que há tanto dura,
e meu espírito... esse também se perdeu
meus olhos d' água entupiram
e nem os sentidos sentem mais, se é que
algum dia sentiram...

hoje meus gestos são lentos
as palavras sem falar
tudo o que era meu por direito, ficou sem efeito,
desapareceu, sustem-se frágil meu corpo
como barco em tempestade
morrendo a pouco e pouco,
numa dor velada
o coração, lentamente batendo
e o pensamento, não querendo lembrar de mais nada.

num vôo cego sigo adiante,
por entre maduros trigueirais
nas ervas daninhas, deposito meus ais
despenho penas minhas,
que me habitam o pensamento...e esqueço, este meu
desvanecer lento...

natalia nuno

é bom sonhar...


o amor salpica a vida inteira rodeando-a com uma auréola da côr da felicidade...é como um pássaro que constrói o ninho em nosso coração...e ali se abriga.

natalia nuno
www.pensador.com/colecao/nataliarosafogo1943

hoje pus-me a pensar...trovas


o que é mais importante
não é o que fiz... ou não!
é ver a vida tão distante
o tempo ter sempre razão

do grão se faz a farinha
que é pão para o sustento
já minha vida caminha
sem vontade nem alento

bom mesmo era esquecer
que a vida não é senão...
nascer ...viver e morrer
Que... dolorosa desilusão!

diamantina é a madrugada
vai-se a tarde já escurece
cabelos brancos são geada
tranquila solidão aparece

trago os olhos sem sossego
e os passos sem esperança
se mais à vida me apego
mais s'afadiga a lembrança.

natalia nuno

leva-me ao jardim...


hei-de ver chegar a primavera
hei-de cantar
colher malmequeres
e assim, perdida de amor
num tempo sem tempo
se tu quiseres,
leva-me p'la mão
ao jardim,
que tenho medo da solidão.
sem destino
eu menina e tu menino
pensaremos que nosso tempo
jamais foi começado
vamos no caminho certo
esqueçamos o errado
tempo corrói
iludamos a distância
serás o meu perfume
e eu a tua fragrância
caminharemos clandestinos
num sonho só nosso
onde somos meninos...

natalia nuno

meu pai....soneto


MEU PAI

Sempre em mim o sonho de menina
Querendo dar-te um carinhoso abraço
Como fazia quando era pequenina
Quando aprendia o meu primeiro passo.

Hoje, trago-te nas minhas lembranças
Neste escrever triste sem esperanças
Recordo que partiste uma tarde,foi duro
E a custo ainda agora meu pranto seguro.

Num mar de lágrimas banhada
Minha alegria já é quase nada!
Lembro-me de ti a todo o instante.

Teus olhos azuis que não voltarei a ver
Oprime-se me a garganta só de te dizer
Que nosso encontro pode já não ser distante.

natalia nuno

O meu pai era um homem do campo, analfabeto, mas
nem por isso e apesar das mãos calejadas me deixou
de acarinhar, hoje o recordo com saudade.




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No exílio da memória...


No mar alto da minha vida
Há um marulhar incessante
Que me deixa esquecida
Numa solidão gritante.
Minhas horas solitárias
e fugidias
Povoadas de sombras
e agonias.

Mas as sombras se vão!
Foi apenas um sonho ruim,
agora tudo é leve.
Tudo floresce nos canteiros
secretos de mim.
Lembrei meu riso inundado
de pureza
Adormecido numa fotografia
Trazendo a mim a certeza
Que a vida já foi macia.
Se agora a vida definha
desabrida
Semeando no meu corpo
sinais.
Deixando minha pele ressequida
Já me iluminou o coração
por demais.

Confesso que sonhei
E nada mais há para ser contado
Neste meu silêncio entardecido
Da saudade não falarei
Fechá-la-ei no coração a cadeado.
Já nada do que escrevo faz sentido.
E à medida do que esqueço
No exílio da memória adormeço.

Neste silêncio empedernido,
nas palavras me aninho.
Sou como um menino perdido,
Ou pássaro sem ninho.

rosafogo
natalia nuno

pensamento...


confundida às vezes me afasto de mim e choro, mas logo depois o sonho me move e apaga qualquer vestígio de turbulência...

nataliarosafogo
https://pensador.uol.com.br/colecao/nataliarosafogo1943/6/

certezas...


abundam os odores que se misturam,
trazendo-nos recordações da infância
sente-se o odor e a branca nudez,
parece até aparição
que se cruza na nossa mente
a esteva enche a serra com a sua beleza,
até o verdor fica mudo
perante a surpresa....
assim palpita m'coração
se do teu amor tem certeza.

nataliarosafogo
palpavelsilencio.blogs.sapo.pt/

desencanto...


O sol espelha é meio dia
Olho as bagas vermelhas
da amoreira
O destino destece o que tanto queria
Agora sou só poeira
Quer queira ou não queira!

E quando o sol se apaga
Meu coração naufraga...
Diga eu o que disser
Vivo a vida a recordar
Não sei se é fado ou destino
Ou apenas meu querer
Em qualquer caso... desatino.

O tempo que é agora agreste?
Já foi tempo de prata!
Não há dia que não se manifeste,
na saudade que quase me mata.
A batida das horas é ameaça
Como fugir ao cativeiro?
Assim é o tempo que passa!
Rasgando meu corpo inteiro.

natalia nuno
rosafogo

hora marcada... trovas


relógio já marca a hora
momentos de despedida
parte a vida sem demora
chega a hora da partida

há alguém a dizer adeus
com olhar lacrimejante
até quando só sabe Deus
já o sol baixa lá adiante...

fica a vida indiferente
que Deus a abençoe
a tristeza é permanente
já que a alegria se foi

assim se vai cumprindo
o destino que Deus dá
saudade de quem partindo
deixa saudades por cá...

bem guardado na memória
um mar de dias de outrora
a vida uma longa história
o relógio a marcar a hora..

natalia nuno

o estremecer dum sonho...


a Poesia é sempre admirada
ora por uns ora por outros
é olhada com olhar perscrutador,
tem encanto, é delicada
e é escrita com amor,
com sensibilidade e arte
fala de saudade e do tempo
que parte.
brilha, é nobre no seu doce canto,
eu lhe quero tanto!
Poesia filha do coração
canto de felicidade
e gratidão.

venero-a permanentemente
canto-a como se fosse Poeta
a minha ternura por ela é maternal
componho-a com rima natural,
quero-lhe demasiadamente
depuro-a, dou-lhe verdadeiro rumo
com os olhos rasos de lágrimas
nem sempre surge talento
assumo!
a saudade é a essência
geme e soluça nela a toda a hora
palavras correm em eterna
florescência...

fascina-me o olhar,
faz-me esquecer o inverno que há-de vir
e lembra a primavera a chegar,
leva-me a sítios
onde não posso mais voltar,
faz ressurgir o passado
e tudo quanto no coração
trago gravado,
resta viva nela a certeza
de viver
sem ela...sou grão de areia perdido
sem ela, não tem a vida sentido


natalia nuno

simples, assim como quando brincava...


na memória
um tempo de passagem,
adormeço e acordo
deixo o poema em liberdade
ele é de meu rosto a imagem,
do coração a saudade,
da minha esperança um vôo maior,
a alegria que toma posse de mim,
o som da noite que ouço melhor.
é ponte onde atravesso o ribeiro
é dos desejos o meu desejo primeiro

e tudo o que é lonjura
se torna perto...
perto na recordação,
que faz frente ao tempo
às minhas veias diz que não
e põe o pensamento em contradição.

vou fiando o fio do destino
neste tempo de passagem
sou entre o nevoeiro um peregrino
que deixa poesia na aragem.

meus pés ensopados no chão
e o poema a abrir-me o coração
vou bebendo o vento,
e gritando
um grito que não se ouve,
mas que alivia o pensamento
e nestas palavras agitadas
a emoção se move e me atrai
como uma chama
e por instantes me alucina
e lá volta a saudade
dos meus sonhos de menina.

e é desta substância que faço
o poema, simples assim como
quando brincava
e nada me aprisionava.

natalia nuno





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trovas à vida ... soltas


Sorvo a Vida... e palpito
Vai a Morte colher-me breve
E logo meu coração aflito!?
Queixoso vai batendo leve.

Com o decorrer dos anos
Fiquei de sonhos despida
E com tantos desenganos
Minha barca anda perdida

Saudade de coisas perdidas
Brasas em conbustão lenta
Minhas esperanças ardidas
Minha alma vazia e cinzenta

natalia nuno

trovas...à deriva


Rói-me no peito a dor
fechando a minha vida
aventura, paixão amor
saudades em despedida.

Já os lilases floriram...
p'los campos, p'lo jardim
dias de inverno partiram
e o desassossego em mim.

Numa doce melancolia
passam nuvens no poente
olho a noite olho o dia
passa o tempo indiferente.

Pego os sacos da viagem
sigo e vou dizendo adeus
vou por aí fazer romagem
levo sonhos meus e teus.

Sol posto de cores liláses
e as laranjas já tão doces
ai...a falta que me fazes
Quem dera doce tu fosses

Os momentos de donzela
entre flores de laranjeira
acenei beijos da janela...
Não te quis à minha beira

Sou eu tão pequena ao pé
do vento que vem soprar
faço súplica com fé...
por amor maior que o mar.

natalia nuno
rosafogo

a Laurinha despede-se da tia... «estorinha para criança»


Olá meninos e meninas, volto já, vou fazer uma visita à minha tia que me aguarda na sala, é irmã do meu pai e eu vou pedir-lhe a benção, e depois delicadamente retiro-me e venho brincar com todos, prometo! Minha tia agarrou-me por um braço e beijou-me afectuosamente, ah...mas eu tinha em mente a brincadeira e de livrar-me dela não havia maneira...perguntou-me pelos estudos pela leitura e eu, dei-lhe um beijo com ternura tranquilizei-a, compus a meia e envolvi-me na cortina da janela, para ver se ela se esquecia de mim, daí a nada esgueirei-me para o jardim, não cheguei muito tarde pois não? Esperaram por mim, são mesmo meus amigos do coração.

Hoje está um nevoeiro muito grande, vindo do mar, e um ar gelado, mas as brincadeiras vão-nos animar, reparei que as árvores também estão a perder as folhas e a terra e o céu desolados, vamos cantar e fazer um coro bem alegre, hoje não precisamos de chapéu na cabeça, ai que emoção, vamos depois também ao jogo da apanhada...
E assim todos os meninos e meninas embriagados com o cheiro a perfume que vinha do jardim sentiam uma profunda alegria, todos juntos era como se vivessem num país desconhecido e maravilhoso ouvindo o canto das aves, cheirando o aroma das flores, e ali mesmo ao cantinho um gatito que se aninhava no canteiro dos crisãntemos espreitava curioso e ficava a tremer sempre que algum menino passava por ele a correr.
O tempo passou, distraídamente e com tanta agitação nem deram por isso, cada um regressou às suas casas, e a Laurinha voltou com toda a docilidade à sala para se despedir da tia prometendo dar-lhe notícias, escrever-lhe uma carta, e um dia quem sabe ir visitá-la à montanha.
- Oxalá a tia faça boa viagem, eu gosto muito dela, mas também gosto muito de brincar!
- Amanhã vou iniciar um diário onde vou contar mil e uma coisas como por exemplo, como é bom ter uma família, muitos e bons amigos, poder ir à escola aprender a ler e a escrever, e lá pela tarde sentar no sofá a ver os desenhos animados ...ai como sou uma criança feliz!

Gostaram da estória, também eu hei-de trazer-vos notícias da Laurinha brevemente, mas desde já vos conto um segredo, é que ela vai aprender a tocar piano...então adeus meninos pode ser que eu volte antes do fim do ano.
natalia nuno

a música que me habitava....


A minha história é uma história comum a qualquer criança que nasce no campo coabita com a natureza desde logo que abre os olhos, e repara nas peónias a rebentar no canteiro, olha as árvores que se enchem de folhas verdes porque rebentam na primavera e esta acabou de chegar, olha o sol iluminando a relva verde dos campos, mastiga um pouco de pão cozido no forno comunitário e quando assim é, nada pode esquecer-se p'la vida fora, nem nada pode mudar-se tal qual não se muda a cor dos olhos ou o perfil do nariz.
A carroça já está pronta para se pôr em marcha, hoje há feira na Golegã e lá vamos todos, com um bom farnel passar o dia, meu pai deixa-me pegar nas rédeas e conduzir a carroça sob o seu olhar atento, e pelo caminho as flores silvestres são um acontecimento para mim, assim como a chegada à feira ao olhar outras crianças de lugares vizinhos. Recebo como mimo duas fiadas de pinhões que penduro ao pesçoço, um algodão doce delicioso e nas trémulas portas do meu olhar surge um brilhozinho de alegria.
À volta venho contente, chegamos já noite apresso-me a descer mas com cuidado da carroça, o sono chega, faço a despedida com um abraço a meu pai e vou descansar num colchão feito de palha de milho bem escamisada e limpa pela mãe.
Era nesta idade que eu tinha um segredo, possuía um piano onde dedilhava enquanto não adormecia, piano que fazia as minhas delícias, não ousava partilhar com ninguém, tinha até medo que mo tirassem, era um tesouro que guardava e era testemunha do meu encanto pela música que misteriosamente se fazia ouvir dentro de mim.
Segredos acumulados a fazer-se no interior da menina...pela fresta do telhado, uma estrela lhe vinha ler a sina e desejar bons sonhos.

natalia nuno

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aqui sentada na cadeira...


AQUI SENTADA NA CADEIRA

Arremessei o livro para o lado
Hoje não me apetece ler
Nem ler, nem escrever!
Faço este gesto desusado
Num impulso de mau humor
Bate-me o coração além do seio
Lia eu uma história de amor
Quando esta impaciência me veio.

Mas a contrariedade passou
Era a saudade outra vez!?
E a emoção a mim voltou
Vou ler, de novo, e talvez?!

É que tudo prevalece
E um grande Amor não se esquece.
Será a saudade um engano?!
Hoje eu vi o resultado...
Bastou ler história de Amor
E logo me causou este dano
Deitei o livro para o lado
Mas é Inverno e está frio
Porquê tão vivo calor?
Lia eu história de Amor...

Vou o livro ler e guardar
E nesta lenga-lenga costumeira
Já me encontro de olho a fechar
Aqui sentada na cadeira.

rosafogo
natalia nuno

escoam-se os dias...


Como um rosário de contas
escoam-se os dias sempre iguais
como é inconveniente pensar demais!
o coração é uma hera que sobrevive
ao tempo, à geada,
trago ainda o aroma a terra molhada
e a saudade como recompensa
galopando no meu peito...imensa!

o tempo passa resmungando
escapa-se por entre os dedos
enquanto o coração se apressa
a bater palpitando...
aos ouvidos,
surgem meus medos
emoções, nostalgia dolorosa
momentos de alheamento, desprendimento
passa por mim a brisa morna do outono
morre-me a voz na garganta
fica ermo o pensamento.

ao despertar do sono
é como se tudo, não existisse mais
escoam-se os dias sempre iguais
eu pássaro sem orientação
perdido, voando até à exaustão
ainda assim vou sonhando, pois
do sonho não posso nem quero abrir mão.

natalia nuno

graça divina...


seu papel representa dia a dia
os olhos revelam melancolia
olham todas as coisas
não se fixam em nenhuma,
o riso já não é luminoso nem cristalino
olha as estrelas uma a uma
vai seguindo o destino

as horas vão passando
remexe-se no assento
sonha com serafins e querubins
ai fica suspensa indefinidamente
sonhando ser seara à mercê do vento
reflecte longamente
ai a força do tempo...
e o esforço do coração para se libertar
querendo a vida aprisionar.

as mãos nervosas
vão enchendo folhas
as ideias multiplicam-se no pensamento
apenas o céu azul, o odor das rosas
o espírito e o corpo livres
e por graça divina
volta a ser menina.

natalia nuno
rosafogo

mestras perfeitas...


trago recordações amontoadas
no fundo de mim mesma
lá fora os saramagos
e as papoilas orvalhadas
aqui as minhas mãos ainda vivas
esrevendo sonhos impossíveis
alheias ao dia
sem acatar esta canseira
correndo com destreza no papel
minhas mãos de secreto mel
mestras perfeitas em escrever
nostalgia e tristeza.


mãos orvalhadas de medo
onde já há becos sem saída
e pontes de despedida


vertem no papel labaredas antigas
mãos de poeta, mãos de jardim
mariposas que voam sem fim
felizes
e largam pétalas pelo chão
poemas feitos de solidão
nesta tarde leda,
vestidos de pura seda.



natalia nuno
rosafogo



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sonhando asas...


meu sonho sonolento
o pensamento se evade
e chega sempre o momento
que é tempo de saudade
- meu céu anda tristonho
já não escrevo palavras com paixão
já não há danças em meu coração
o sonho já não é sonho
meu céu já não tem luar
foi-se o tempo em que tudo
era chegar...chega a hora de partir,
outro tempo, outro lugar.


natalianuno

a alma em devaneio...


quantos lírios e quantas rosas
quanto amor ardente, frenesim
tantas noites d'amor generosas
passadas, que te dei e tu a mim

foram doces as voltas do amor
hoje as descrevo com saudade
beijos, o cheiro do amor ao redor
o fogo quente que era eternidade

ai... se fosse esse tempo agora!
em teus braços feliz, cada aurora
ver o teu olhar brilhar sem fim

este amor que o tempo invejou
pra longe dessas noites nos levou
passadas, que te dei e tu a mim



natalia nuno

a minha musa... trovas


É minha musa a saudade
Por causa dela chorei
E logo depois mais tarde
Tive saudade e cantei.

Nostalgia me afaga a vida
Deixa embalar na esperança
Lembro a infância querida
E o riso solto de criança.

É minha musa a saudade
Tive saudade e cantei
E logo depois mais tarde
Por causa dela chorei.

Saudade da Mocidade
Saudade que não sarei
Na madureza da idade?!
Só a saudade cantarei.

Saudade exala o perfume
Das folhas do madrugar
Ela ouve meu queixume
Faz-me rir, faz-me chorar.

Na noite a saudade vem
Prende-se no meu cabelo
Eu e ela e mais ninguém
Sabe que ardo no seu gelo.


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esperança...


pode não ser hoje
nem amanhã
podem adiar
podem até negar, mas
nos meus versos
encontrarão o que
a saudade me diz,
o aroma da infância feliz!

a claridade que fui
o rosto da primavera
a dor da recordação
dos lábios o murmúrio
o tempo que talha em mim
a tristeza, a saudade
e seu mistério
o amar até ao delírio
meus versos serão
levados a sério...

pode não ser hoje
nem amanhã
mas a minha certeza
não é uma certeza vã
minha poesia
permanecerá no trinar
dos pássaros
na linguagem da natureza
com uma força
que o tempo amadurecerá
e assim a poesia permanece
e sobreviverá fresca a quem
se oferece
pode não ser hoje
nem amanhã, mas dirão
escreveu e morreu
seus dedos doendo
inventou sonhos e felicidade
e levou da vida
SAUDADE...

natalia nuno


estrela... perdida


num tempo emprestado
permaneço a ele atada,
minha estrela perdida
num céu de tudo e de nada.
meu sorriso é
uma envergonhada manhã
nasce e morre cinzenta,
trago saudade de mim...
uma dor fina no peito, que
mal se aguenta
e parece não ter fim.
num vazio tropeço
o pensamento fantasma
que mal conheço.

sou eu e não sou!
o que tenho a perder
se nada restou?!

natalia nuno

já foi tempo de amor...


Falar mais no assunto?
Não sei que fazer com ele!
Já às vezes me pergunto
Porque me perco a pensar nele.
É pretensioso e adulador
Este tempo que me compromete
Que já foi tempo de AMOR
Como negá-lo?!Agora em tudo se mete.

Deixa-me assim perturbada
Sempre lhe digo, o que me vai na cabeça
Pois se não lhe digo nada
Tenho medo me entonteça.
Acho que ele tem ciúme
Não lhe dou importância alguma.
Ainda ponho meu perfume
O que é que ele quer!?Em suma
Ainda sou fogo, ateio lume

Não preciso dele, não preciso
Recomeço, ressurjo dos escombros
Murmuro-lhe com um sorriso...
Olho-o por cima dos ombros.
Mas que tempo, de natureza aborrecida
Que me põe cheia de ira
Quero morrer dele esquecida
Tormento! Até a memória me tira.

Sempre aos ouvidos fazendo ruído.
Espião, que deixa a Vida sem sentido.

rosafogo
natalia nuno

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sem grades...soltas


trago este condão comigo
é herança que eu herdei
o caminho por onde sigo
nunca dele me apartarei

levantei-me com a alvorada
esperança de te ver chegar
já é noite mais que cerrada
perdido o meu esperançar

uma mão cheia de nada
mas no coração o amor
já me sinto a tua amada
chega até mim teu calor

abri janelas ao mundo
para não me sentir só...
solidão calou bem fundo
na garganta desatou o nó

grandes são minhas penas
não quero eu nem pensar.
tenho tantas...às dezenas!
que nem sei como calar...

minha dor, minhas penas
tantas que quero esquecer
quero minhas horas serenas
que já chegou o entardecer

vindo amor puro e sincero
que em abismos se desata
um sentimento que espero
seja de ouro ou de prata

natalia nuno
rosafogo

sentimento...


no coração trago giestas doadas duma vida inteira, do amor que te dou e tu me dás...

natalianuno

é primavera...


a ave...chega, mas já traz com ela um adeus no olhar, parte, e pousa noutro lugar,
são as pupilas da primavera,
as meninas dos nossos olhos,
fazem um traçado de comoção e confortam-nos o coração...

natália nuno

ébrias fantasias...


o olhar é um poço sem fundo,
verde como o esplendor do mundo
vibrante e quente o coração
inundado de emoção,
e nos corredores da mente ébrias fantasias
onde a felicidade é agora saudade.
o inverno dita o rigor dos dias
mas a vida agita.se feliz diante do nada,

cansada, assim vai vivendo e morrendo
na dor que dói e permanece,
mas ainda sonha a mão que escreve,
e a dor esquece...
a palavra percorre-lhe o sangue
molda-se e cresce no papel
vogais, consoantes, acariciam-lhe a pele.
dos sonhos nascem adjectivos
que tece e destece
memórias e desmemórias,
sonhos que se agitam vivos
vindo do seu desmesurado coração
metáforas brotam-lhe dos dedos
mais formosas que o vento batendo na ondulação
sem medos, uma alegria antiga
traz ao seu sossego,
sonhos de amor e paixão...

natália nuno

ebriedade...


no rosto a indolência da bruma
o sonho em chama a surpreende
a saudade, já de coisa nenhuma
um vendaval que ninguém entende

do tempo traz nela a voracidade
entre os lábios a quente labareda
os desejos transbordam de saudade
no olhar tristeza que ninguém arreda


natalia nuno
rosafogo

Há uma lágrima que seco...


Há uma lágrima que seco.
Angústia que só o coração conhece,
e no peito faz eco,
dum bater que esmorece.
Na lembrança de cada beijo,
o tempo retrocede como por magia.
O amor atinge o cume,
e o desejo.
E a dor no peito se abrevia.

O tempo é uma infinidade,
tempo sem medida...
Enorme nostalgia é a saudade
Que é no peito, ora um sol,
ora uma ferida.
Agonizam as minhas mãos de
cegueira,
a tremer de acarinhar o nada.
Repousam da canseira,
são sombra duma vida desfolhada.

Minha solidão se multiplica,
como pássaros em bando.
É a sorte que dita
o destino que não comando.
Brinda-me a vida com mais um dia,
e o sol vem até mim feito ternura,
numa cândida doçura,
a reconfortar minha solitária nostalgia.
E meus olhos prometem sorrir!
Serena-se meu rosto, preciso sentir,
que a vida não está de partida.
Que depois de tanta lida
A sinto ainda de chegada!

Pois sempre que a noite vai,
vem a alvorada.

rosafogo
natalia nuno

memórias...


com cerejas enfeitava as orelhas
...sentia-me uma princesa
...tranco o portão da memória,
para não esquecer.

natalia nuno
https://pensador.uol.com.br/colecao/nataliarosafogo1943/6/

não demores...


não demores
vem ver nascer os lírios
não pode haver tempo perdido
vem olhar o alecrim
a rosa brava,
está amarela a giesta
tudo faz sentido
até nosso amor está em festa.
não demores
para não me sentir só
vem sem demora
já está raiando a aurora.

o sol ilumina as frontarias
sabe tudo sobre nós
do pranto em que nascemos
da viagem dos nossos dias
das cicatrizes da viagem
anda não demores
antes que esqueça tua imagem

quero suportar a travessia
quero ter-te por companhia.

natalia nuno

nostalgia...


o fim do dia
sabe-me sempre a despedida,
a beleza está na chegada
na desmedida alegria
da alvorada,
- e não na partida!

há muito cheguei
deixo pedaços de mim
na bagagem levarei
coragem e sonhos sem fim.
depois de ter partido!?
ficará a marca dos meus passos
a ausência dos abraços
um século da minha vida,
e a minha força represada na poesia ...
será mais um fim de dia
com sabor a despedida.

natalia nuno

pensamento....


apercebo-me que o meu tempo é de nostalgia, a vida é um salto enorme se os degraus estiverem ausentes...anda o tempo a recolher-se e saudade na linha tangente do meu olhar...

natalia nuno

poesia amantíssima...


Um poeta toma refeições ligeiras
um bom poema é a sua dieta
predilecta...
uma fatia de nuvens, salpicada de nevoeiro
ou uma fatia de neblina matinal
salpicada de orvalho, e impregnada
de cheiro a flores...
e a adoçar uma luz sobrenatural.

e no rosto dos demais,
porque os julgam loucos
é visível o desprezo,
mas as estrelas não são mensageiras do céu?!
no caminho de vento agreste e de escuridão cerrada
só a poesia têm de seu,
assim retomam a caminhada,
o sol rompe o nevoeiro, volta ao poeta
a quimera, e a sua vida
é urdida por um destino maior,
a poesia que é um acto de amor!

natalia nuno

poeta d'alma... trovas


tem a alma expressiva
fica dela a recordação
poeta de alma emotiva
de anseio e inquietação

faço m'versos doloridos
os sentimentos espaireço
dolentes ficam os sentidos
em devaneio tudo esqueço

poesia do poeta expressão
som do grito ou do rumor
ímpetos que vêm do coração
elegias, essência do seu amor

que será?sonho, delírio, amor
momento de êxtase ou saudade
quem sabe, talvez seja só dor
o que o Poeta sente de verdade.

natalia nuno

quero...trovas soltas


quero sonhos, são meus
quero-os roseiras em flor
quero sorrir aos olhos teus
dizer-te amo-te, com ardor

quero fazer versos à solta
semear letras ao vento...
quero alegria à minha volta
ser-me poesia chão sedento

só preciso dum abraço
me sustente a coragem
trago na alma o cansaço
desta tão longa viagem

as noites trazem perfumes
estrelas lâmpadas d'ouro...
trazem os dias azedumes
e aberto na face o choro

correm lágrimas a fio
sufocado é o soluçar
a inspiração é arrepio
deixa o Poeta naufragar

estas páginas são tristes
nelas vincos do passado
o que nos meus olhos viste
vem do coração agitado...

depois que importa morrer
se só memórias o que ficou
se só é triste o meu viver
e tudo depressa passou?!

quis o destino... assim quis
agora os dias venturosos
ainda que pobre mas feliz
memórias, tempos ditosos

natalia nuno
rosafogo

Maio 2005

transparências...


guardo palavras num frasquinho
como se fossem doce ou vinagre
as vou espalhando pelo caminho
vivendo esp'rança em tempo agre

e assim entre beijos inacabados
o olhar repouso, acalmo o desejo
trago os sonhos com nós atados...
e a esperança na promessa d' beijo

é já na hora tenra da madrugada
q' gritam os pássaros com ternura
na luz que avança leitosa azulada
a gente se ama, é nossa a ventura

amor me fio, janelas escancaradas
deixam entrar os ventos da aurora
e as vestes p'lo chão amarrotadas
é hora do amor... é do amor a hora!

tudo que tem sombra é sombrio
quando não se alcança o sol à mão
e a vida ás vezes presa por um fio
e aí nos amarra d' dor e solidão

no pomar tão brilhantes as cerejas
nas moitas sol aceso nos azevinhos
brilham mais m' olhos se os cortejas
acolho o cortejo dos teus carinhos

natalia nuno

corro à janela...trovas soltas


corro, corro à janela
a ver se alguém me espera
e as duas... eu, e ela
somos lenda d' outra era

surge o inverno desfeito
meu coração se comporta
fecho a janela e o jeito
é de esperar-te à porta

corro então a cortina
encho o peito de alegria
vibro como quando menina
rouxinol espreitando o dia

manhã clara como não vira
agora tarde cresce o dano
meu coração já suspira
foi tudo sonho...ou engano?

trazem-me as flores o odor
vêm florir-me o coração
trazem-me tempos de amor
aos olhos verdes que são

trago em mim o desafio
do tempo querer parar
meu corpo é água de rio
pronta a entregar-se ao mar

natalia nuno
rosafogo



hora de recordar...


semeio palavras na aragem do vento
palavras com aroma de infância
passeiam-se pelo firmamento,
crescem na claridade do meu olhar
na saudade ao lembrar
sussuram por entre os lírios do campo
palavras onde me encontro brincando
e nelas meu coração pulsando...

minha alma segue nesta melancolia
a vida fugidia e
cada paisagem me lembra um rosto
amigo, cantam as papoilas, o rio
e os melros seu assobio
palavras rasgam o arvoredo
e seguem do meu coração sem medo

natalia nuno

oscilam os pensamentos...


afoga-se o seu dia num espesso relento
obscurecendo-lhe o alento
e há reinos de mel a que abdica
e ela ali fica...
sorvendo o que lhe resta
acostumando-se a calar
para não se despenhar
nos oásis da sua loucura
onde o vazio lhe devora a memória, sem cura,
permanece pensativa e certa que lhe vão
fugindo as recordações, meras ilusões
dos anos que passaram...
o tempo gravou-lhe lentamente
sombras nos olhos, retirando-lhe sensualidade
o odor a espessa madressilva ou mel quente
enlouquecida na saudade,
esqueceu-se gente

olha para trás e pressente
o rumor da queda na tristeza
segue a orla do seu mar silenciosa
esquece os ecos que a atormentam
escreve palavras implorantes, desejosa
duma promessa de vôo até nova quimera,
e pelo sonho espera...sonha e extasia
e aos seus olhos embaciados volta de novo a alegria.

natalia nuno

outono da minha memória... trovas


Outono ruivo menino
de tons embriagado
olhar brilhante irritado
de caminhar sem destino

o tempo em agressividade
pergunta: que fazes aqui?!?
quero usufruir da saudade
dos tempos que já vivi!

vou vestir-me de giestas
calçar sapatos de jasmim
pronto para ir às festas
não queiras tu ir sem mim

outono assumes mil faces
morrem dias enrubescendo
agasalhos esperam q'passes
e as saudades vão crescendo

de névoa se põem cortinas
vais morrendo aos pedaços
e já nas horas matutinas...
o inverno em teus passos

vão-se cores e o fascínio
ficam ninhos ao abandono
fica o silêncio que é domínio
cigarras em chão de sono

outono de olhar verde
já meu sonho esmorece
em teus dias matar a sede
mas o amor não aparece

e há sol que não caminha
e há abraço que não vem
e na memória redemoinha
sempre a saudade de alguém

natália nuno

saudade...trovas


O amor é como incenso
Que acende e arde breve
Aroma que odora imenso
A alma de quem escreve.

Na verdade não me conheço
Tão diferente da que fui
Meu caminho eu atravesso
Lembrança que já dilui.

Já não há nada de verdade
Falo, falo, nem sei quem sou
Sou de mim já só a saudade
Saudade que em mim ficou.

natalia nuno

trova singela...


singela...

aonde vou eu peregrina
a algum lugar sagrado?
talvez lembrar da menina
que sempre trouxe ao lado.

natalia nuno

ah... sei lá eu amor!


sonhos que invento
de fogo e ternura
em atiçado vento

abro-te os braços
e deixo-me amar
teu amor é cura
deixa-me a sonhar.

sou feita de chama
tenho sede de entrega
no linho da cama
meu corpo não se nega
e p'lo teu chama.

com louca vontade
caindo no cansado
quando chega a saudade.

amor eu não sei
se amor imploraste
ou fui eu que to dei,
ou coisa que inventaste,
se é uma canção gasta
que de mim te afasta...

ilusão ingénua
ou encantamento
despertando ardor
os sonhos que invento
ah...sei lá eu amor!

natalia nuno

lugares...


todo o tempo que perdurou em mim,
deixou recordações
dos lugares onde ainda
a minha memória procura
os dias iluminados da minha infância...

nataliarosafogo

o último sonho...


solicito o meu quinhão de felicidade
abro o peito aos abraços
saboreio as lágrimas da saudade
crio à minha volta laços
de amizade e afeição...
separo das recordações os dias sombrios
cruzo comigo enternecida
e nego à amargura a entrada no coração
e sem saber porquê faço-me de novo à vida

cruzo com o enternecimento
poiso os olhos no papel e escrevo
com mãos de poeta e encantamento
de madrugada ergo-me do leito
os pensamentos ajeito
do travesseiro trago o último sonho
e de novo a sonhar me ponho

a aldeia está silenciosa, quieta
e a noite perfumada de luar
aqui sozinha eu e o Poeta
ouvindo apenas a os pios da aves
os murmúrios das folhagens, suaves
os soluços duma flor desfolhada
e eu devaneando no sonho, nesta hora
calada.

meu coração agita-se nas folhas de papel
o sonho é ilusão mas é amor que arde
sinto-o na pele,
e antes que seja tarde,
que o tempo tudo consome
deixo-me afagar pelo luar
deixo que nasçam na mente como flor
os versos que trato com amor...

natalia nuno
rosafogo

http://nataliacanais.blogspot.pt/

outono da minha memória...


Outono ruivo menino
de tons embriagado
olhar brilhante irritado
de caminhar sem destino

o tempo em agressividade
pergunta: que fazes aqui?!?
quero usufruir da saudade
dos tempos que já vivi!

vou vestir-me de giestas
calçar sapatos de jasmim
pronto para ir às festas
não queiras tu ir sem mim

outono assumes mil faces
morrem dias enrubescendo
agasalhos esperam q'passes
e as saudades vão crescendo

de névoa se põem cortinas
vais morrendo aos pedaços
e já nas horas matutinas...
o inverno em teus passos

vão-se cores e o fascínio
ficam ninhos ao abandono
fica o silêncio que é domínio
cigarras em chão de sono

outono de olhar verde
já meu sonho esmorece
em teus dias matar a sede
mas o amor não aparece

e há sol que não caminha
e há abraço que não vem
e na memória redemoinha
sempre a saudade de alguém

natália nuno

somente sonho...


Imagens do passado já imprecisas
Como a luz que empalidece minha parede
Tempo meu, minha vida também ela indecisa
Resplandecente, real, a luz da lua
Lambendo a nostalgia minha e sua
Água dos sonhos da minha sede.

Estilhaça o coração o tempo finda?!
É um galopar de saudade
Virá outro dia e a vinda
Será uma pesada continuidade.
Virá um vento sem razão
Que me trará de novo a saudade.
O cheiro da terra, a verdade.

É nesta hora que fico menina, traquina
Esquecida da VIDA, como criança sonho!
Canso o sol de o olhar a repousar na colina
Parte, e me parte o coração deixa o olhar tristonho.

Desarmada pelo tempo, já perco meu pé
Mas reforço a minha fé.

No ventre trago a força e o querer,
que é o leme e as asas, com que rumo
E mesmo que não haja nada a acontecer
Remo e vôo à infância, da realidade sumo.

A vida já não me traz rumores
Nela não acontece nada!
Tantos sonhos e velhos amores
E eu menina já tão desasada.

rosafogo
natalia

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ao nascer da aurora...


adivinha-se o nascimento irresistível
da alvorada no imenso horizonte campestre
o meu pensamento relembra o tanto amor
que me deste,
perscruto a paisagem como que à espera
do eco da voz conhecida
do amor da minha vida...
ao fundo da colina,
vejo-me ainda menina
a aurora cresce hora a hora
enquanto o meu pensamento relembra
as minhas mãos perdidas nas tuas mãos,
nossos dedos entrelaçados
dois corações que se encontram enamorados
sinto até medo de espantar a felicidade
rezo para fazer o tempo parar
e com os olhos húmidos de ternura
lembro-te com saudade
enquanto teu braço m' rodeia a cintura

de repente fica o sonho nublado
sinto o peso da idade os dias de solidão
tremo como um pássaro apanhado
e olho longamente com olhos de sonho
a querer abraçar-te, para que o sonho não
seja mais um para sempre perdido
e num gesto de ramo florido
de tília ou de jasmim
dizer-te que ainda te amo tanto
quanto me amas a mim...

natalia nuno

Este tempo que me toma...


Transfigurou-me o tempo, me abandono.
Fiquei do outro lado das despedidas
Com tanto silêncio, já me chega o sono
Trago gestos e palavras repetidas.
Goteja o orvalho é já madrugada
E eu indiferente à minha vontade
Trago da vida, a esperança estilhaçada
Sou no tempo a comoção da saudade.

Trago a fronte a latejar
Palavras me saem imprecisas
Este tempo me toma, e eu a deixar
Minhas raivas, em lentidão, indecisas.
Se ando fora do tempo é ousadia
Suspiro p'lo sol que me foge!
Vivo de sonhos e utopia
E peço ao dia que não me deixe por hoje.

Largo meu coração aos ventos
Palavras se estatelam no chão
Borbulham na minha cabeça pensamentos
E insistem as batidas do coração.
E assim, estala de novo em mim a vida
Um tesouro em silêncio abandonado
Como se voltasse ao ponto de partida
Ao final deste caminho traçado.

natalia nuno

minhas mãos... soneto


olho as minhas mãos, fiadas de rosas
e de memórias que pulsam no papel
efervescentes de segredos, tão nossas
laboriosas, trazendo-as à flor da pele

são m'nhas mãos estremecidas de amor
dois ramos debruçados sobre o muro
q' vestem meus versos de saudade e dor
sonhos... onde eu sempre me aventuro

mãos que tudo dizem de mim, as penas
e saudade que escrevem de madrugada
versos em pedaços, lembranças pequenas

fardo de lágrimas, sentida dor e saudade
mãos que de ilusão me trazem enganada
adivinhando nas linhas futura tempestade

natália nuno
rosafogo

o poema...


o poema...
poema dirige-se a toda a gente
não traz com ele estranheza
dialoga com o passado docemente
e afirma estar vivo de certeza
por vezes conta uma história
e alarga-se até ao infinito
a partir do vivido a memória
molda o poema q'nasce aflito
as palavras o vão polindo
cresce o poema com precisão
e como flor se abrindo
nele o Poeta põe alma e coração.

natalia nuno
(rabiscos) 1996

sonho maior...


sobrevoando os verdes da mente
viajo entre memórias embriagadas
num céu azul transparente
ou de nuvens pelo sol talhadas
vôo, ao compasso duma música que só eu escuto
na tranquilidade do sonho que me leva em desejo
até ao delírio... sussurra-me um canto confidente
esqueço até o rosto enrugado
essa verdade veemente,
que em mim se tem arvorado.
como abertas flores, os sonhos ou alucinações
rodopiam como se fosse um acontecer constante
e eu desço do tempo, deixo-me nesta cegueira
por um instante...
lembranças desejadas há muito detidas,
algumas, talvez ainda não nascidas!
mas destinadas a acontecer...
busco-as nas minhas entranhas
em sobressalto, como uma música ferida

procuro nelas enlear-me num sonho maior,
que não quero perder...lembranças
são minha vida...

e num confiado sonho vivo,
igual sempre a mim mesma
as horas vou abraçando num absoluto abandono
na escrita meu coração palpitando, aos ouvidos
sempre aquela incerteza que parece falar-me
deste outono que me rasga,
que me traz de repente um aroma
a recordar-me...há um vazio, carente de vazio
onde nada acontece, um espaço surdo e fechado
um rio que quer correr no meu coração parado

sou a mesma... saudade e inquietude
sou a criança que avançou na idade
e ao mesmo tempo sou por ora a juventude.

natalia nuno

assim te quero...


assim te quero... apesar da proximidade, morro de saudade...
um sol pequenino desprende-se do teu olhar e vem aquecer a sombra outonal do meu peito,
e num abraço, um delírio percorre a nossa pele,
neste sentimento firme só nós o silêncio e o desejo sedento de mel...
nada se desperdiça deste amor que fala a nossa língua,
que traz o cheiro dos nossos corpos,
a ternura das nossas mãos,
os sonhos e afagos, num perpétuo suceder...
que dá sentido ao viver!

natalia nuno

EM - ESTREMECIMENTOS DE ALMA - NATÁLIA CANAIS NUNO - EDIÇÕES VIEIRA DA SILVA

hoje atardei-me...


extingue-se a luz do crepúsculo
e os aloendros já adormecem
caem as trevas da noite
sobre o salgueiro abandonado
e a minha mão caída sustém
um livro fechado...
meu olhar permanece quimérico
olhando o poente vou sonhando
as recordações sobrepõem-se
quando mergulho no passado...

os traços escapam-se e as interrogações
se apoderam de mim, que fiz eu deste meu tempo,
que fez este tempo de mim?
debato-me em meditações

hoje atardei em chegar
fiquei-me pelo sonho... a sonhar
para não sentir o declínio das próprias forças
crio ilusões,
estendida numa álea florida
tocando as cordas da memória
agora já sem gestos de doçura
a voz sem melodia
a fazer-se sentir o silvo da agonia

mas habita-me ainda a saudade
e no coração a agitação
ainda, de alguma felicidade

natalia nuno

já nada me derrota...


memórias....infância,
o pulsar do tempo alucinado
e cego de obscuridade
como o rumor de palavras que se perdem...
saudade... saudade
vôo lento duma gaivota
silêncio e nostalgia
já nada me derrota!
nem o rosto reflectido nas águas
nem a noite nem o dia
nem as mágoas
nem a morte,
nem sonhos nem pesadelos
nem o medo ou a loucura
faço de tudo aceitação
enquanto palpitar o coração

nesta avidez do tempo
dentro de mim um apagão
a memória foge como o vento
ficam só, pedaços de recordação.

natalia nuno

o gatinho Jimmy... «estorinha para criança»


Sou gato mimado
não sei nem andar no chão
adoro andar embalado
às costas, ou juntinho ao coração
faço rom rom, sou feliz
tenho uma dona bonita
e o que eu sempre quis
é ser um gato catita..

pela manhã faço miau
salto e pulo pelo meio dia
à noite levo tau-tau
se minha dona se arrelia
é que afio as unhas no sofá
se ela não me está a ver
porém, ela é boazinha
só finge que me vai bater

encho-lhe tudo de pêlo
mas ela escova-me com carinho
banho, não quero nem vê-lo
fujo logo para o meu cantinho
vem o dono de soslaio
meter-se também comigo
mas eu finjo que desmaio
mas eu sei que é meu amigo

diz-me que arranja um irmão
mas já tenho o Nô e o Naruk
não me dão muita atenção
porque eu arranjei um truque
quando aqui por perto
não saio da minha cama
e estou sempre deserto
quando a minha dona me chama
é sinal que foram embora
e me deixaram em paz
vou então comer na hora
sem saudades, deixá-los ir
tanto me faz...

natalia nuno

poeta nas nuvens...


O poeta é uma espécie de doido varrido
Vive e morre cantando dores sem cura
É como um mendigo esquecido,
Feliz, eleva a sua musa às alturas.
Canta a tragédia, vive suspirando
Às vezes não cala a sua indignação
Dia após dia se resignando
Repetidamente se apodera dele a emoção.

Chora e soluça, também sonha, sonha...
O Poeta é um sonhador sem vergonha!

Delicia-se a sonhar, carícias e doçuras
Às vezes sente-se ave acorrentada
Outras solta-se nas alturas,
Ou fica errante p'la estrada
É veloz, tem asas de condor
Tudo ama, tudo o cega, vive de amor.

O Poeta cria seu Mundo à parte
Não se conforma em perder
Com muito engenho e arte!?
Escreve de manhã ou ao anoitecer.
De voz clara fala de outrora
Da distancia infinda, lembranças!?
Fala da flor que murcha agora.
Fala da velhice e da mocidade
Fala dos sonhos, das esperanças
E porque sofre fala também da saudade.

Murmura suas preces sem pausas
Na esperança de respostas receber
Suspira amargurado, indiferente às causas
De tudo julgar ter... e nada ter.
Canta seu Deus, e a Natureza
É fanático p'la liberdade
Mas no seu coração vive a certeza!?
De que um dia morrerá de saudade.

Tem sempre saudades dum bem
Seu coração é de criança sem maldade,
Mas só desse bem lhe vem,
A Poesia com vontade!


Desfia seu rosário em ritmo lento
Finge que a linguagem não é sua
Retém lágrimas ou sorri a cada momento
Imerge da tristeza, e também amua.
Não pára de saciar sua sede ardente
Como um rouxinol, cantando, cantando...
Nas alturas celestes se deixa voando.
Ora se sente ninguém, ora se sente gente.


natalia nuno

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rimas quero distantes...




na minha mente saltou
mais uma lembrança viva
em caudal a mim chegou
e dela fiquei cativa...

brilham as consoantes
ao lado fulguram vogais
do passado trago instantes
de risos e também de ais

nos corredores da mente
metáforas em cristaleiras
adjectivos estão presente
as rimas são as primeiras

em colunas de linguagem
logo palpitam meus dedos
soltam-se como a folhagem
lá de trás trazem segredos

- sobrevôo anos a fio...
morro renasço, agonizo
em criança lavei no rio
em sonho a terra piso

e do povo trago o brio
em mim nada se alterou
só m' semblante sombrio
que de rugas enrugou

na mão algumas vogais
uma ou outra consoante
as rimas levam-me os ais
q' fiquem de mim distantes

natália nuno

sonho meu...


é o passado que se desenha na aura deste pensamento em vôo nas minhas mãos... enquanto os meus olhos riem, treme a água no açude e eu criança, com um tremor de asas no sangue...no reino da minha infância o silêncio, e o vento rondando nas ramas, logo o chilreio lânguido do pássaro, ignoro quem voa melhor, se ele, se eu... juntos pelo acaso deste sonho meu.

natalia nuno

súplica à Primavera...


Abre o manto Primavera
Sobre o chão que me viu nascer
Não negues ao meu coração que espera
as flores ver crescer...
Pede ao sol seu hálito ardente
Que alivie o pensamento sombrio
da sombra que sou
Me faça esquecer o tempo fugente
Que os céus ouçam o eco do meu grito vazio.
E me dê um pouco do brilho que a vida
me tirou.

Primavera que te hospedas no meu peito
Quando a oliveira já ostenta o candeio
Nas horas solitárias já sem jeito
Quando ainda aninho o amor no seio.
Estende-me os braços
Traz-me o calor do sol que fecunda a terra
Reconforta meu coração da tristeza que encerra.
Leva aos ausentes de quem lembro meus abraços.

Primavera faz sonhar quem vive
O pouco que tenho... é pouco é nada!
Traz-me a primavera que já tive
Antes que se renda o dia e eu cansada.
Volte eu a a relembrar e a pousar a vista,
esquecendo os dias de viver já gastos.
Aos anos que passam, não há quem resista!
Não voltarão os sonhos castos
que eram como uma benção ou alento,
e já se dissipam como água que corre.
Não sei se acredito ou se invento
Mas enquanto o coração não morre
sonhar será meu doce entendimento.

natalia nuno

cerca-me a saudade...


cerca-me a memória a saudade
que não me abandona
como brisa que me traz a linguagem das flores
e o harmonioso tempo da felicidade,
e dos amores,
atravessa esta paisagem de estio que é meu corpo
e é como rio que corre,
oscilando entre o silêncio e o rumor
nada cala a dor
nada procura nem espera
diz-me apenas palavras por dizer
cresce com os anos,
com o maduro sentido de viver

é testemunha do meu silêncio
do meu entardecer...

enquanto a tarde se põe no poente
e as rosas desfolham com o vento
escrevo linhas misteriosas com o coração que sente
enquanto da terra escuto o alento.
o eco da infância é ventura
de voltar a sentir e a contemplar
a frescura... da minha origem
e com inocência poder a sede, da saudade saciar.

natália nuno
rosafogo

dia azul...


onde quer que eu vá
o fascínio me vence
olhando o mar, olhando
os céus...
e os lábios teus
pousados nos meus
uma festa para mim
tudo o que me resta
povôo de sonhos

assim:
se o dia é azul
e o amor romance
ponho o sol de permeio
onde quer que eu vá
ao sonho me enleio.

natalia nuno

faz de conta...trovas


sonho num faz de conta
trago alegrias penduradas
lembrança que desponta
em alegres gargalhadas

minha porta tem postigo
e uma cortina de renda
cá dentro é meu abrigo
abriga quem eu entenda

à minha janela encostas
eu te aguardo em segredo
dizes que de mim gostas
acredito mas tenho medo

a porta hoje é só saudade
saudade nela a não caber
solidão é ... crueldade...
por dentro já vou morrer

pus na porta fechadura
na saudade pus batente
fechei lá dentro a ternura
e todo o amor da gente...

agora não se pode entrar
nem sentimento mui forte
se a saudade se aproximar
decerto... perderei o norte.

natalia nuno
rosafogo

folhas caídas...trovas outonais


folhas caídas é outono
e é outono no m' destino
caem folhas ao abandono
meu destino não domino

ouço uma voz q' se eleva
como o cantar da cotovia
mas o meu dia é de treva
e a morte já me espia...

a vida então se distancia
sonho faz de mim escrava
primavera q'então floria?
o tempo em mim apagava

deixo um suspiro quebrado
como grito de dor profundo
o passado é já passado...
na mente é inda meu mundo.

faço do m'olhar um navio
que da tristeza me afaste
trago a vida por um fio...
tempo, a alegria me tiráste.

nesta madrugada estranha
chora o vento e choro eu
se raio de sol não me banha
surda a vida me esqueceu!

a vida é rio que se desvia
sigo-a agora com cautela
pobre, morta quase se esfria
a alma... ao encontro dela.

natalia nuno
rosafogo

horas incertas...


na minha mente
há sempre uma trémula lembrança
uma palavra a pulsar de esperança
no meu íntimo,
há uma voz em alvoroço que só eu ouço,
minha mão insegura
perante a incerteza... escreve!
escreve em desvario,
com loucura
o que deve e o que não deve
e o Poema é brasa que estremece
de emoção no meu caminho
é tão íntimo e intenso
o que escrevo, o que penso
e o que não penso...
que a vida é rosa e é espinho.

natalia nuno
flortriste1943.blogs.sapo.pt/

pedaço de vida...


O caminho desce abruptamente
Vou descendo por entre penedos
De quando em quando uma estrela reluzente
Para alumiar meus medos.
O lugar é escuro e cheira a frio
Caminho agora por uma vereda
E o coração bate-me no peito,
vadio.
Sem jeito!
Nem medo de alguma queda.

Tantas ervas daninhas,
desvio o olhar
Das tristezas minhas,
desta vida turbulenta.
Na esperança de a ver espelhar,
depois de alguma tormenta.
Perco o sentido do tempo
e do espaço
Com um pedaço de vida emprestado
Deito contas à vida,
as mangas arregaço.
E um pouco perdida,
Levo por diante este meu fado.
Enquanto o tempo?
Esse continua emsombrado..

rosafogo
natalia nuno





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quietude...


comovido fica meu olhar
pulsa o coração,
desperta uma lágrima à beira do vazio,
na hora em que os regatos
oferecem a mágica melodia
como quem interpreta sentimentos.

nataliarosafogo

sentimento travesso... trovas


fica tudo claro ou escuro
ao pé do fim o começo
trago o coração seguro
mas o amor é travesso

gosto de andar em perigo
sem nunca saber o fim
fugir do amor não consigo
quero-o sempre perto de mim

se tanto é o mal que faz
mesmo assim ainda o quero
fugir dele não sou capaz
sem amor eu desespero

fica a vida como cega
não atina, não sei porquê
se à mingua o amor chega
baça névoa o olhar vê


natalia nuno
rosafogo
1995

gota de saudade...


pequena e delicada lágrima
cai sempre no poema
se de saudade é o tema
inunda a praça da poesia
e meu coração se alivia
canto à terra
lembro a enxada
e a terra arada
e as palavras vão crescendo
boquiabertas com a beleza
pois também canto a natureza
canto a minha aldeia
ao meu lugar
onde um dia vou retornar.

natalia nuno

loucura... II


fria obscuridade que me está
levando, constante e cega
no silêncio da tarde onde só há
um fio de sol no horizonte
meu pensamento anda a monte.
perdido, sem saber por onde
querendo romper a solidão
à procura da felicidade
buscando-a em vão...

meus olhos não sabem porque choram
não sabem o porquê do pranto
já sorriram de júbilo
só o coração sabe quanto!

natalia nuno

meu coração é um baú...


Cada palavra pode desplotar um feitiço
Ou o descontrolo de emoções
Anda o meu coração em derriço
Vivendo de ilusões.
Flutuam em mim acordes musicais
Meu coração é um baú
De onde a saudade não sai mais
Com a vida me apaziguo.

Dormito, alheia ao mundo
Já esmorece a luz do dia
Uma coruja algures piou
Negrume celeste profundo
A cor com que minha alma ficou.
Encostada na solidão...
À memória surgiu a infância
Saboreio em lentidão
Tudo o que para mim tem importância.

E é regalo aos meus sentidos
É então que as palavras me escorrem p'los dedos
E escrevo sobre tudo e sobre nada
Meus pensamentos são veleiros perdidos
por mares onde se escondem segredos
e sempre se solta uma lágrima
p'lo rosto derramada.

Mas volto sempre ao meu sonho de poeta
Com desejo da palavra continuada
Neste caminho a percorrer
É a minha meta,
nascer de novo se tiver que ser!
Para morrer nos teus olhos afogada.

natalia nuno

outono...


aproxima-se a monótona chuva de outono
os vidros das janelas embaciados
a surpresa dos tons embelezados
folhas caídas ao abandono
e nós viajantes nesta estação
num silêncio insistente
aprendendo a sobreviver
com a vida a desaparecer,
às vezes com o coração
aos ais...
o vento faz-se ouvir nos ramais
como mensageiro da intempérie
expectantes nos deixamos ficar
no aconchego do lar
levanta-se a noite
quem sabe amanhã o sol nos espera?
transbordando ardente
trazendo-nos de novo o sonho...a quimera.

natalia nuno

pássaro livre...


teço em cada manhã um par de asas
embrulho os sonhos e sigo caminho
como um pássaro voando sobre as casas
a rasgar o vento que sopra p'lo rosmaninho
sina minha,
ave assustada cruzando montes
sem saber do rumo , sem horizontes...
num vôo cego, sigo adiante
por entre trigueirais loiros
aguardo o nascer do pão,
faço companhia aos besoiros
alimento corpo e alma
arranco ervas daninhas do coração
e seco as águas que os olhos entopem
dizem-me os sentidos que no fim estão,
sem perder tempo,
dou ouvidos à saudade
e grito aos sete ventos, que sou pássaro livre
dona dos meus pensamentos,
companheira da criança que em mim vive...

inventarei novo caminho que este está gasto
tanto silêncio sobre as palavras espalhei
que delas me afasto
deixar-me-ei na infância, perto das estrelas,
do agitar das folhas, das flores e amores
e no peito nem vestígio de tristeza
esquecendo do mundo a bofetada
suspensa num fio de eternidade
e a saudade no peito pousada.
verei os primeiros sinais da primavera,
os versos ressurgirão com o murmúrio
das águas, e no coração, amor à vida
que a morte... espera!

natalia nuno

perdida perdi o norte...trovas


se não há quem me entenda
a ninguém quero entender
n'venha então quem pretenda
que lhe vá a mão estender...

o pensamento eu mantenho
pois venha lá quem vier
 se é de longe que já venho
trago a saudade a crescer

deixem dizer em segredo
que o q' parece nem sempre é
desejo de desejar, traz medo
mas ao amor o peito, bate o pé

as lágrimas que não chorei
libertei-as na escuridão
perdi-me de mim, já nada sei
são rasto em meu coração

dei comigo a sonhar d'alto
com o teu abraço forte...
ai de mim em sobressalto
perdida, perdi o norte

natália nuno
rosafogo
1999

saciar da saudade...


cerca-me a memória a saudade
que não me abandona
como brisa que me traz a linguagem das flores
e o harmonioso tempo da felicidade,
e dos amores,
atravessa esta paisagem de estio que é meu corpo
e é como rio que corre,
oscilando entre o silêncio e o rumor
nada cala a dor
nada procura nem espera
diz-me apenas palavras por dizer
cresce com os anos,
com o maduro sentido de viver

é testemunha do meu silêncio
do meu entardecer...

enquanto a tarde se põe no poente
e as rosas desfolham com o vento
escrevo linhas misteriosas com o coração que sente
enquanto da terra escuto o alento.
o eco da infância é ventura
de voltar a sentir e a contemplar
a frescura... da minha origem
e com inocência poder a sede, da saudade saciar.

natália nuno
rosafogo

soneto.... saudade onde me faço cais


Sou barca, vogando em maré-cheia
sem destino neste monótono mar...
Barca fantasma sem rumo ou ideia,
que anda à procura sem se encontrar.

Sou barca à deriva num poema lento
olhando fins de tarde buscando certeza
uma saudade imensa e nu o pensamento,
na boca beijos a que ainda estou presa.

Remoto o tempo na distância percorrida
derradeira esperança levo ingenuamente!
Não paro que o tempo me leva de vencida

navego neste mar... Onde não sou mais
nem onda, ou maré, ou sequer corrente
apenas saudade onde me faço cais...

Natália Canais Nuno, in "A Melodia do Tempo", página 33, edições Lua de Marfim, Outubro de 2013.

trovas campesinas...


Colhi um cesto de amoras
Vermelhas lá no silvado
Até me esqueci das horas
Só de te ter ao meu lado.

Olhei então as amoras!
Desejos havia à solta
Esqueci-me até das horas
Por te ter à minha volta.

Olhei teus olhos nos meus
Fiozinhos duma nascente
Brilharam os meus nos teus
No caminho me fiz gente.

Esqueci-me até da fadiga
Ao olhar-te ao meu lado
Cantastes-me uma cantiga
Escutei-te mas com cuidado.

Apanhei pedaços de estrelas
Das que me deste do teu céu
Colhi amoras mas ao colhê-las
Deu-me a fome... ai se me deu!

Nas tenras folhas do milho
Fui escrevendo, sonhos meus
Regressei envolta em sarilho
Porque acreditei, meu Deus?!

Promessas, promessas são!
E tudo ouvi da tua boca
Entreguei-te meu coração
Mas tua paixão era pouca.

rosafogo
natalia nuno

Quadras populares, escritas na aldeia em 2002.

a travessia...


Há uma ponte na minha lembrança
A travessia é obrigatória
Do outro lado a criança
A criança da minha história.
Vejo o rio,
Já passaram as águas
As horas foram caindo...
Deixei por lá minhas mágoas,
Como gotas de cacimbo.

Tudo por lá está ausente
Tudo partiu eternamente.

Nostalgia, minha terra distante
Águas ainda soam nos ouvidos
Olho a vida neste instante
Nostálgicos os meus sentidos.

Solto as velas da imaginação
Não sei já o que é real ou ilusão
O que é alegria ou tristeza
Se é deleite ou sofrimento
Mas tenho a certeza!
Que é amor o sentimento.

Amor que sinto... carente
Da criança do meu destino
Num sofrer pungente!
Alojo-a nos labirintos do coração
Presa por um fio fino,
Ao ocaso da solidão.

rosafogo
natalia nuno




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aquela mulher da aldeia...


Aquela mulher da aldeia
já foi jovem e bonita
ainda agora não é feia!
O tempo trouxe a desdita.
Vejo-a com os olhos da alma
mas perguntas não lhe faço
vejo-a apressada, ora calma
Sigo-a com a memória e com o passo.

Aquela mulher da aldeia
já não é bonita, nem feia!
criou ilusões a rodo
sofreu de angústia e de tédio
envelheceu e hoje todo,
o seu sonho não tem remédio,

já foi jovem e bonita
aquela mulher da aldeia
O tempo trouxe a desdita
já não é bonita, nem feia!

Mil e uma noites sonhou
até que se esqueceu de si
envelheceu engordou
e raras vezes sorri!
tem medo que lhe calem a voz
tem medo até de pensar
às vezes é frágil casca de nós
com medo de a vida a abandonar,

não há dinheiro que pague
lembranças que à mente lhe vêem
nem há tempo que as apague,
nos seus sonhos se revêem,
todas as suas afeições,
não é bonita, nem feia
criou na vida ilusões
aquela mulher da aldeia.

Já não se parece nada
com o retrato da parede,
junto à sua fonte amada,
a matar a sua sede
há quem a ache mais bonita
àquela mulher da aldeia
mas para sua desdita?
Não é bonita, nem feia!

Hoje só arruma sonhos
gosta das coisas no lugar
os dias pra ela enfadonhos
deixa-se envelhecer,
embebecida a olhar o mar,
desconfia do futuro
diz que o céu será cinzento
seu olhar se torna duro
duro lhe fica o pensamento.
ainda uma ou outra vez
deixa entrar a claridade
com a memória dia a dia ,
mês após mês
aprisonada na saudade,
aquela mulher da aldeia
que já não é bonita, nem feia
tem ainda o subtil odor
duma seara de pão
e sempre...sempre, amor
no coração.

natalia nuno

rosafogo

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floriram palavras na palavra...


Este poema carrega a saudade
Adormece e acorda comigo
É um vento forte que corre na tarde
E p'la noite é insónia ou castigo.
Este poema é um regato alegre a serpentear
É uma seara de trigo a crescer
É a saudade que me faz lembrar
O cheiro dos laranjais a florescer.

Este poema sou eu às árvores trepando
Sou eu menina descalça vadia
Que corre na carroça do tempo, levando
Cabelos ao vento, barriga vazia.
Este poema onde me fico a relembrar
Os caminhos e os sonhos que eu desafiei
Volta que volta à minha volta a girar
Poema da minha alma que não calarei.

Poema que sinto que me persegue
Me corre nas veias e a palavra abraça
Poema que quer que à saudade me entregue
Um cântico, um grito. um amor que não passa.
Lembranças, anseios tudo ele tem
Poema do querer que sinto de lhe querer bem.

rosafogo
natalia nuno

a inquietação do meu rio...


Entre a folhagem há um coro
de cânticos subtis
E no rio um curso em quietação
E meu coração me diz
Porque será que choro,
da saudade do meu corpo feminino?
Oh! Absoluto e mal fadado destino!

Ondulam brisas sobre as searas
Vibram as folhas prateadas
Pensar eu que me amaras...!
Em marés arrebatadas.

Já vão as horas perdidas
E os corações distantes
Para quê lágrimas caídas?
Se não haverá prantos bastantes?

Meus medos são trevos em flor
Andorinhas, entre a bruma
do esquecimento.
No fundo dos meus olhos... amor,
já coisa nenhuma!
Já partem, como nuvem em seu labor.

Fica o horizonte tão mudo
E o vento entoa seu balido
Não há nada que desejar
Ou haverá tudo?
Volta o desejo aos corpos
reacendido.
Numa imensa vontade de amar.

Meus sonhos são moinhos de vento
São tiros no ar,
que me trespassam o pensamento
Num tempo inquieto sempre a andar
Quero viver, viver como a pedra que dura!
Não quero morrer de peito oprimido
Não me basta do céu a ventura
Não me basta o tempo já vivido.

natalia nuno
rosafogo

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debruando a solidão...


teus olhos me olham com espanto
como quem me espia,
como se olhasses um retrato esmaecido
esse olhar que me queria tanto
e trazia meu corpo estremecido.
mas, meu rosto já não é mais poesia
é estrela que segue seu rumo
a esse olhar d'agora não me acostumo.

ainda escorre dos meus dedos
e das minhas mãos quebradas
segredos, tão nossos,
e saudades acordadas
o tempo, esse mistério sem fim
matou a flor que havia em mim,
hoje sou irmã do vento
com as entranhas a rasgar
e trago dele o lamento
nas palavras a praguejar

se nem eu sei quem sou
não te ponhas a olhar-me assim
em precipitada queda estou
breve, breve a chegar ao fim
já morri na primavera
da saudade desse olhar,
entre mil sonhos à espera
e cansada de esperar...
a solidão percorre meu corpo louco
e embrenhado no pensamento
a morte chega a pouco e pouco

os dias vão remendando a vida
de novo pouco ou nada recomeça,
trago os dias contados
na esperança, que não corram
depressa...
olha-me só e mais nada
como se fossemos ainda amor perfeito
que a lágrima é passada
quando me encosto ao teu peito.
vou debruando a solidão
e ouvindo bater teu coração
emudeço como pássaro que faz a despedida
da primavera, já não canta, já cantou!
e neste silêncio de ave ferida
o canto a abandonou...
ficou... em céus de melancolia,
com saudade que na sua cabeça floria.

......................................
natalia nuno

eu sou...trovas soltas


sou aranha que tece a teia
sou folha levada p'lo vento
ou onda que avança na areia
sou ai dum extinto lamento

sou a lua que olha a terra
sou do rio a outra margem
ou notícia que anda na berra
buscam outros minha imagem

sou uma tarde abrasadora
trago interrogação na boca
uns me julgam sonhadora
e outros me acham louca

sou espelho onde me vejo
sou água a subir-me ao pé
sou mulher feita desejo
reconheço-me forte na fé

sou noite fresca de verão
a lua caindo nas águas...
sou esquecimento e solidão
um mar fechado em mágoas

sou a que fiz e a que faço
de rosas murchas, poemas
afirmo a vida e nela enlaço
num grito as minhas penas.

rosafogo
natalia nuno

 


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P'la calada da noite...




anda o vento rumorejando
por perto
traz a madrugada p'la mão
e eu trago a emoção bem dentro,
dentro do coração.
há pétalas a abrir
nas pálpebras da primavera
e ainda que me doa,
o tempo por mim não espera.
levo na boca o gosto a terra,
nos lábios a palavra liberdade,
sou garça a deslizar...
na campina da saudade.

levo nos olhos a voz dos pinheiros
e as mãos a rirem da morte
a brisa no rosto...e eu gosto
e parto à sorte!

levo poemas de amor
e alguns versos nus
nada acrescento à dor
da escuridão se fará luz

ando de pé sobre o tempo
há quem diga que morri!
deixei meu canto em Setembro
é inútil o pranto aqui.
do poema já me arrependo
mas foi um instante achado,
nas veredas desta vida...
e depois de terminado,
ficarei de mim esquecida.

tão já sem nada...
é agora uma da madrugada
e o poema me devorando
e o vento aqui tão perto,
rumorejando
pela calada...

natalia nuno

teço sonhos...


há silêncio no meu peito
a noite vai madura
e há luar que
o meu rosto emoldura
trago a esperança a madrugar
na esperança de ver-te chegar
a saudade cresce de mansinho
pressinto-te a cada hora
a estreitar-me nos teus braços
pela noite fora...com carinho
então sou flor aberta
aroma que a ti se oferta.
quando o luar se esconder
vou-te dizer
- és tudo o que a vida tem
pra me oferecer!

natalia nuno

arroz doce...




Saltita um casal de melros,vai saltitando
Na faina construindo o ninho
Enquanto eu aqui pertinho vou recordando
O princípio do meu caminho.
Ah! Hoje fiz arroz-doce!
E no fim rapei o tacho
Foi tal qual como se fosse
Pequenina, assim me achei ou acho!

Falei com minha mãe:
Mãe quem rapa o tacho sou eu!?
Que gaiata lambareira.
De cresceres não há maneira?!
Lembro também:
Minha mãe, tinha um vestido
De popeline alaranjado
Já um pouco poído
E até já um pouco desbotado.
A memória mostrou-me o que desejava
Até ouvi a sua voz... enlevo ou fantasia?
Durou um pouco, minha mãe falava
Foi imaginação, passou por mim a alegria.

Foi bom este meu querer
Foi calmo este meu recordar
Saudade sempre vou ter
E vontade para o tacho rapar.

Recordar o passado
Me faz sorrir, e traz saudade
Lembrei com amor a MÃE
e também,
fui lembrar o arroz doce açucarado
E de quão tenra era a minha idade.

rosafogo
natalia nuno

eco da minha voz...trovas


aguenta a quadra é nobre
rima e tem sempre valor
quem diz que ela é pobre
não é dela merecedor...

se minha rima é pobre
também rimo com a rica
se a pobre fica tão nobre
com a rica nobre fica...

pássaros trazem cantigas
de chilreios enchem o ar
n' promessas nem intrigas
que não me deixo enganar

o sol me olha de frente
já pouco a mim me basto
trago a morte presente...
mas da vida não m'afasto

escrevo verso com m' mão
minh''alma ao céu entrego
quero a Deus pedir perdão
do mal que fiz...não nego!

se amanhã deixar de ver
ou meu coração parar...
sempre tu podes dizer
feliz, porque soube amar

meu coração vive triste
por não dizer o que sente
a tanto amor não resiste
vive a sofrer e não mente

que esperam de mim então
não nada mais pra dizer
tenho comigo só solidão
só a saudade sei escrever

assim neste correr d' dias
q'deslizam nada os detém
vou escrevendo poesias
e assim, me sinto bem...

horas maduras...


fui fortaleza cercada
e defendida
agora um pouco rendida
sem defesa, sobre destroços
repousada.
trago meu espírito livre
para a poesia,
a minha raiz de árvore seca
ainda a resistir dia após dia.

passaram por mim os dias
onde avultavam flores
e amores
silvas e amoras...
são agora as horas
maduras de melancolias.
assim vou matutando
entre alegria e tristeza
afugentando
a última com delicadeza.

deixo correr o pensamento
e o espírito se alheia,
é a saudade alimento
e a vida torna-se menos feia.

no coração da menina da aldeia?
a felicidade não corre perigo!
o sonho é o melhor amigo.

dentro das minhas muralhas
ainda há solidez
resisto aos caprichos do tempo
fico-me na pacatez,
e deixo-me levar
como floco de espuma
na correnteza... p'lo mar!

rosafogo
natalia nuno





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meditação...


Celebra-se a chuva
agitam-se os ares
fica teu alento humedecido
teus passos seguros
se assim o desejares...

o pulsar do sol
faz parte do teu dia
e na tua essência de terra
íntima festa com a natureza,
assim tua vida seria...
ao despertar o alvor
um raminho de giesta
na almofada... com amor,
e o sopro da brisa ao ouvido
continuaria a festa

numa melodia alada,
e a felicidade tão livre
faria sentido...

natália nuno

minha luz quebrada...


Quando dei por mim o Sol se punha
Com a Saudade, fiquei desatenta.
A Vida é testemunha
Do meu calar, desta memória sonolenta.
Não sei o que é feito de mim!?
Ouvi rumor trazido pela ventania
Que na estrada, já lá bem no fim!?
Uma silhueta imprecisa se via.

Raio a raio vai-se o Sol a diluir
Cansei de remar contra maré e até de lembrar
Perdi agilidade tropeço ao seguir
Repouso agora na inquietação
Nu trago o olhar e o coração
Apenas os sonhos continuo a desabotoar.

Já se fecha o dia, minha luz quebrada
Os pássaros regressam ao ninho com saudade
Eu sinto-me nesta viragem mutilada
E aos meus dedos vai faltando vontade.
Da terra o cheiro a tojos e giestas
Em mim a estranheza de mais um dia passado
Balouçam as folhas a que o vento faz festas
E eu sou a menina sonhadora,
Num sonho encantado,
Já da Vida perdedora...

natalia nuno


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saudade...


Saudade é a prisão da dor de quem espera
O desassossego da alma de quem desespera
É o pressentimento do não voltar a ter
É matar o tempo com a dor do não saber.
A agonia que cresce quando se contam os dias
A apatia em que se cai se não há notícias
É a nostalgia do beijo e do abraço
Uma inquietude onde nem o sono tem espaço.

Saudade é sentir longe quando se está perto
É o desespero de se perder o que se tem como certo
Sentir a voz de quem queres que te chame
Saudades sentes mesmo que já não te ame!
Saudade é a alma cheia de desejo
Um momento amargo doce, aguardando o ensejo
Adormecer esperando o dia com ansiedade
Sonhar o reencontro também é saudade.

As despedidas que ainda nem aconteceram
As esperanças dum regresso, que se perderam
A angústia de não saber quando
Saudade é o respirar o mesmo ar,as bocas colando
É um silêncio triste e obstinado!
Múrmurio que o vento traz do bem amado

Num lugar secreto onde mora a solidão
Mora a saudade que não nos larga o coração.

Rosafogo
Natalia Nuno

apatia...


os olhos em que ardia
e relampejava o amor
estão agora encovados
enegrecidos pela melancolia
a sua chuva é silenciosa
a sua luz escura
apenas obscuridade
onde só se lê saudade

em silêncio como as pedras
a voz, existe na mente apatia,
eu era aquele sol
e a vida aquela magia
hoje?! feneço como fenecem
as rosas, no devaneio
da solidão...

natalia nuno

clamor...trovas


silva o vento pela janela
parece meu nome gritar
passa a vida e eu por ela
e a saudade a contestar

o pássaro chora perdido
como criança sem mãe
e o meu coração partido
chora tal qual ele também

meus olhos tristes caindo
vão morrendo dia a dia
só minha boca sorrindo
com uma estranha ironia

logo os sonhos embrumados
inertes no silêncio da loucura
marioneta de gestos cansados
no peito duendes de ternura.

um dia abre-se uma greta
destas cortinas da janela
e logo a morte como seta
quererá que siga com ela

e na sua ávida avareza
no seu afiado gume...
amarras traz com certeza
segui-la-ei sem azedume.

natalia nuno
rosafogo

destino...



sou um caudal que chega ao mar
destino quase cumprido
neste entardecer sobrevivo
à memória e ao tempo,
o espelho revela um rosto
que não me diz nada
sinto-lhe a dor, que é também a minha
chega ao fim o destino, cansada
já se adivinha o coração rasgado
a vida a entardecer
dança de cisne prestes a morrer.

natalianuno

és meu vício...


és meu vício...
és sol que me aquece
trazes de calor as mãos cheias
teu olhar manso lago
onde meu sonho adormece
razão do meu poema,
hoje és o meu tema!
me entrego a ti insaciada
nesta embriaguês que sinto
neste desejo de ser beijada
nestes versos que não calo
de repente, nada me segura
e docemente
com loucura,
tomo conta da tua boca
louca...sentidos agitados
por teus beijos viciada
sinto, meus dias dobrados
e no cume deste prazer
me deixaria morrer...

natalia nuno

feitiço...


enlaça-me a claridade
que nasce da madrugada
traz o feitiço e surpreende
a minha memória atada
uma infinidade de lágrimas de orvalho
caem de repente, e vêm dar de beber
ao meu esquecimento
jorro de luz, que se despenha no meu corpo
acaricia meus braços
encandeia minha pele
volto a ser jovem...

o que anseio no meu interior
é que volte de novo o amor...

natalia nuno

nas águas me vou deixando...


As águas correm a um rítmo lento
Em meu rosto regatos, lugares, momentos.
Nelas vivi meus dias ontem e hoje
Lembro e estremeço, já a vida foge.
À volta deste rio tudo flui
Lembrando o que hoje sou e o que ontem fui.
E na paisagem secular?!
Profundo o tempo, tempo singular.

Desço a encosta e agora me sento
Neste fluir, já tanto me esqueço
Meus esquecimentos, águas frias, onde arrefeço.
Correm no meu rosto águas profundas, rugas...
Onde o tempo se inscreve e está presente
E nada consente, daqui já não há fugas!
É isto que o meu coração sente.

Quem se atreve a duvidar do que sinto?
Das coisas tristes, sentidas, afectuosas que digo?
Só mesmo o tempo, mesmo sabendo que não minto.

O silêncio é a medida do tempo vivido
Nesta paisagem à volta do meu rio,
Tudo é melancólico e o tempo recolhido.
E eu já renuncio!
Surgem gotas de esquecimento,
Esqueço até de lembrar,e é tal o emaranhamento,
Que fico sem palavras e o futuro sem sentido.
Perdido lá adiante onde a luz é incolor
Já não domino, vou e afogo-me na dor.

Como confiar na corrente?
Onde havia água transparente?!
Agora me tolho de medo fico sem liberdade.
Me nega até a dignidade.

De súbito, um desejo em mim de acalmia...
Quem sabe?! Amanhã seja outro dia.

natalia nuno
rosafogo



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poema que sou...


A poesia é a minha infinita
liberdade
Onde falo de vida , de morte
de alegria de tristeza
Falo de tudo um pouco à sorte
Falo da saudade
Do amor e sua beleza
A força me surge do pensamento
E sofro porque escrevo sentimento.

A poesia é o meu chão
o meu espaço
Esqueço até da vida as dificuldades
É a minha ilusão,
O fogo da minha imaginação
O meu cansaço
O rumo das minhas saudades.

A poesia é o meu desejo,
a minha ansiedade
A minha realidade,
O meu sonho incompleto,
A minha terra o meu céu
A poesia sou eu!

A poesia é o ar que respiro
Que guardo nos confins do coração
É a minha ambição
Por ela deliro.
E eu sou toda inquietação
Se não me sai na perfeição!

A poesia dorme sobre o meu peito
Eu a sinto a toda a hora
Com ela me realizo e deleito
Estará comigo até ao destroçar
da memória.

natalia nuno

quadras singelas...


Tenho um pássaro no peito
Dia e noite sempre a cantar
É a esperança!Divino feito!
Que a cantar me vem saudar.

Vou andando vida fora
Levo o dia a anoitecer
Novo sonho trago agora!
Sobressaltos, esquecer.

Quero amar devagarinho
Tenho tanto amor p'ra dar
Mas se é de vidro fininho?!
Será que não vai quebrar?

As coisas que te não disse
Desejos meus, coisa pouca?!
Àguas passadas, só tolice!
P'ra mitigar sede da boca.

Neste campo de giestas
Eu sou alecrim ao luar
Me disséste:não prestas!
Nem me fiquei a ralar!

Já sou soalho rangendo
Estou na vida de passagem
Eu cá por mim nem entendo
Porquê tão longa viagem?

Dor tenho na partida
Saudade por não ficar!?
Levo a alma dolorida!
Condói-me só de lembrar.

Meus olhos são cativeiros
Lágrimas qu'inda não chorei
Meus ais são verdadeiros
Nesta estrada que esgotei.

Quando revejo o passado
Descanso a alma e espero
De tanto caminho andado!?
Vejo-me ao longe desespero.

natalia nuno

a usura do tempo


as palavras são inúteis para trazer de volta o tempo, aquele, em que o tempo não existia, nem sequer tempo para pensar no tempo, tudo era juventude e alegria, mas o tempo passou, contrariando o meu desejo, colocando minha alma num anseio duma nascente primavera que não regressa mais e, não vale a espera...permanece a febre no coração ofegante e eu repito num murmúrio incessante a doçura dum verso que apesar do tempo ser agora de inverno, não impede que o meu rosto sorria, e as palavras me levem até que me esqueça quem sou, ou até se apagar o derradeiro sentido da palavra, seguirei como se me tivesse enganado na direcção, esquecendo o tempo, por mais algum tempo, tocando as nuvens dos versos... até que os dias fiquem frios e curtos mas, o sonho habite ainda no poema em que vivo.


natalianuno

sem pressa...


Guardo a minha vida, em pedaços de papel
Vou rasgando alguns outros guardo.
Como guardo as rugas da minha pele.
Mas meu tempo é já pardo!
Tempo que continua a existir e a passar
Olho as palavras
Pássaros fechados sem voar.

Trago os passos desinteressados
Sem pressa!
Meus dias já tão multiplicados
Cansei! Deixei de lhes dar conversa.
Tenho tudo na memória
Desde quando me larguei um dia!?
Neste Mundo velho, perdido sem história
Que apenas mudou minha fisionomia.

Estou suspensa entre o hoje e o amanhã
Estou descendo é já grande o declive
Porquê o castigo? Senão comi a maçã?
Nem no paraíso alguma vez estive.

Mas quem me espia nesta viagem?
Quem se faz sombra ao meu lado?!
Numa placa escrevo:aqui estive de passagem,
Cheia dum sonho que hoje está despovoado.
Não invento, sei que tenho de voltar
Ao chão de onde um dia parti
Ah...mas disso não quero falar!
Triste de outra tristeza
Que neste pedaço de papel,agora escrevi.

rosafogo
natalia nuno

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silêncios...


há silêncios que dizem tudo
na aspereza da noite, são desabafo d'alma
nos olhos secos, raios
avermelhados a expurgar a solidão,
as veias soltam-se em trepidação
na quietude, não se ouve nada
a não ser, o bater do coração
a vida já se ajoelha
o tempo no rosto se espelha
assim se faz o começo do fim,
sigo o silêncio que se quedou em mim
na memória há um fogo que arde e não
se consome...uma porta larga que abre,
ao passado, estendo a mão
às lembranças,
o sonho impregnado de brandura e,
com ternura, vou criando asas
para sair da solidão.

sempre a mesma sujeição ao tempo
sempre a mesma memória obsessiva
a lembrar cenas que marcaram a vida
deixaram no peito a saudade viva
esta saudade tão minha, que sinto de verdade
e lá me faço asa, que me leva de volta a casa
mas o tempo se arrasta e da vida me afasta
silêncio mudo que em mim se deita
encontra guarida no peito e ali se ajeita
aceita a oferta do abrigo e quer-se ali comigo.
há silêncios que dizem tudo
atravessam m' alma vazia, meu coração mudo
cansaço na viagem, e passa mais um dia.

natalia nuno
rosafogo

a solidão me enfastia...


trago comigo pedaços de tempo d'outros tempos
que vão alumiando meu chão,
enquanto outros descem na noite trazendo
algo perdido, junto à saudade, a desolação
e é então, que a palavra transborda envelhecida
rasga-me os tendões do pulso
fico vencida.
a solidão me enfastia, a memória fica vazia
esqueçam-me nesta solidão obstinada e fria.

percebam apenas que eu me dei conta
que a vida já me abandona
e todos os sentimentos que trago à tona,
são inúteis fragrâncias de flores
são inúteis lágrimas que amam
tudo é silencioso, e a solidão é dona
dona da minha vontade, da felicidade
que me sobrou e eu cinzenta,
dito palavras duras à vida
sinto-a, a respirar na minha respiração
ouço-lhe a acusação...mas
fico da dor despida
e não me dou por vencida

natália nuno
http://nataliacanais.blogspot.com/

a(braços) com a saudade...


Lembro a aldraba da porta
lembro da candeia acesa
concentrada vou estranhando
não ver a família ceando
será que já está morta?
Essa é a cruel certeza!
Pelo postigo olho o firmamento
e no telhado em frente
ainda o velho cata-vento,
cheira a morno a madrugada
anjos habitam a capela mor
Esquecida? Só minha memória!
Por cada lembrança arrancada
rezo à Srª. da Vitória,
de quem sou devota com amor.

Apanho o tempo encostada à porta
além o rio... mais ao longe
a aldeia engalanada,
a passar vai o cortejo;
lá vou mais viva que morta
pedir à Santa um desejo.
A banda enche a paisagem de sons
e as raparigas vaidosas porque é festa
vestem de mil tons
e os rostos antigos voltam à rua
sinto-os sonolentos, de voz sumida
alguma debilidade,
efémeros momentos de felicidade
agora tristeza... no coração a saudade!


Tantos anos...tantos passos!
Meus sentimentos estão baços
as paredes com bolor
fotografias na parede a envelhecer
descubro rostos pendurados
puxo a aldraba da porta
toda a sua gente morta
só ela não vai morrer,

tantos anos...tantos passos!
Meus sentimentos estão baços.

natalia nuno

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amanhecer primaveril...


amanhecem as saudades em mim
sacodem-me com ternura
e desenrolam-se nas letras que escrevo
assim, com frescura nascem
palavras de maresia,
versos de melancolia
frutos tardios de outono
sonhos onde me abandono,
acordam na criança que fui e sou,
sentimentos e emoção
num solitário abraço que não desatou

lembranças tímidas e impacientes
parecem luas florescentes
aninham-se no meu regaço,
e o silêncio é a minha arte
os sentidos a flutuar,
meu tempo escasso
enlouquecido de solidão
meus olhos a pingar,
e o poema sorridente
num vôo inocente
a fazer-se chegar ao coração.
lembranças em delírio, cobertas com mantos
de saudade... memórias de tenra idade
iluminadas por dentro, descobrem o caminho do verso
aquecem-me e são a minha verdade.

natalia nuno

amantes...


Meu amor subsiste eternamente
e basta-me ao coração
ama-te constantemente
de Deus tal sorte... gratidão
Fanático este amor por ti
amor de todos os tempos
quase cega idolatria
de contentamento me enche
vem de ti minha alegria
capricho e fantasia

não sei de mim
sem ti
dedico horas e todos intantes
acolhes-me em teu coração
somos eternos amantes...

natalia nuno

estradas no tempo...


Rugas são estradas que o tempo traçou!
Caminhos perdidos que lembramos
São o azul do céu ou o azul do mar de quem amou
Pedaços bons e maus que caminhamos.

São rosas negras, pássaros madrugadores
São águas transparentes ou sombrias da vida
Longos silêncios, abismos, momentos de dores
São também a lembrança da chegada e da partida.

Rugas são recordações sempre presentes
Restos duma Primavera de espaço e luz
A bater violentamente nas nossas mentes
Sombras que vão durar e lembram a nossa cruz.

rosafogo
natalia nuno



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o que o tempo tece...


Já me encosta à parede a Vida
Levando meu dia soalheiro
Agora nem novas, sou ave perdida
Sem ter poiso, ou poleiro.
No meu olhar sinto o vazio
E a culpa e o dano são da vida!?
Já a vida é noite onde o frio
Me deixa de tristeza vencida.

Minhas palavras são seara
Florescendo no meu peito
Ele que a Vida tanto amara
Vê seu tempo já tão estreito.

A Vida é como o vento logo vai
Deixa a saudade de outrora
Que do meu coração não sai
Vive nele a toda a hora.
Voa,como o vento não se prende
E é livre como o Amor!
Pára o relógio de repente
E nos consome de dor.

Resta a minha esperança acesa
Que de esperar não se cansa
À noitinha faço reza
E aguardo da Vida mudança.
Me embalo nesta ilusão
Enquanto fôr, hei-de lembrar
Que a Vida não foi em vão
Mas que ninguém pode amarrar.

A esperança o tempo é quem tece
E eu sou nele caminhante
Quem dera que Deus me desse
Um viver lá por diante.
Ferve-me o sangue nas veias
Mesmo em dias de monotonia
E todas as minhas ideias
As transformo em Poesia.


E vou gritando até que o sono
Os olhos se fechem talvez!?
Já na noite me abandono
Deixo esta trova de vez.

Rosafogo

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pensamento...


o rosto, o tempo há muito lhe levou, de nada serve pedir ao vento que não sopre,
nem à geada que não queime...

natalia nuno
https://www.pensador.com/colecao/nataliarosafogo1943/

pequena prosa poética...


quase mágico seu rosto, o olhar estendido labirinto de memórias, olhos que soletram o sol são a linguagem dum silêncio arrebatado, onde as sílabas são substituídas por música que vem do coração, jamais se é o que se foi, jamais se respiram as fragrâncias de Setembro, agora que o inverno se inicia e a vida nos fala em sua mudez, uma rajada de vento canta no arvoredo da memória, que ainda palpita, voa e sonha....

 

natalianuno

rainha por um dia...


Senti-me uma rainha
Duma corte imaginária
Sorte a minha!
Ser Poeta de saudade lendária.
Saudade que é pedra preciosa
Verde esmeralda ou rubi
Bálsamo para minha alma chorosa
Safira, cor vinho onde me perdi.

Rodeada, duma pequena multidão
Extasiada e sorridente
Orgulhoso meu coração
Encheu-se de esperanças no presente.
Pérolas me foram oferecidas
E eu sentei numa poltrona
Ofereci aos convidados bebidas
Rainha duma saudade sem dona.

Rainha dos sonhos,
De pequena carruagem,
Arreios orvalhados de luar
Rainha de coragem!
Que sonha, sonha sem parar
Sonha com Lua de marfim
Com pérolas verdadeiras,
ao pesçoço em fieiras
Numa felicidade sem fim
Rainha de mil maneiras.

Numa alegria frenética de viver
Nos olhos uma sombra de melancolia
Era rainha ou fingia ser
Rainha por um dia.

Correram rios em mim
Dentro do meu coração
Saboreava uma felicidade sem fim
De repente acordei do sonho no salão.
Não cheguei atrasada
Se ergueram à minha passagem
De rainha não tinha nada
Sómente a minha coragem.

natalia nuno
rosafogo.

Vôo transparente...


a simples lembrança duma festa
um arco-íris que penetra na memória
não é só data nem história
é a grinalda de rosas caída do ramo
o coração exultando de paixão
e sílabas soletrando...te amo, te amo.

a alegria natural da juventude
no dia um resplendor que canta
nas nuvens uma gaivota que surge
do sonho brota uma música que encanta
foram horas que abraçámos
que abrem ainda com suas chaves
os sonhos que sonhámos...

amar-te é então lembrança
é guardar em mim o cheiro do alecrim
é ser parte de ti, voar no teu sangue
num contínuo pulsar, é ser teu rio,
teu mar, tua segunda pele
a tua manhã de sol ofegante
o teu diamante ...

natalia nuno
rosafogo

delírios...


delírios...

o amor é tentação, um madrugar no olhar, uma fogueira em tempo de estio, um celeiro de desejos, uma festa pró coração, arco-íris de carinho, o engravidar do delírio...mas sempre prontos a vê-lo crescer dentro do peito! se ao menos de lá não saísse!?... é um jogo de cabra-cega, às vezes vacila não quer amarras, parte e regressa, e acaba por não ficar, incapaz de criar orquídeas ... florescem cardos e lá acaba o sonho, restando a ferida que é difícil de sarar... o desespero não adianta, deve correr-se para um lugar tranquilo, não importa a direcção dos passos, importante é que o caminho seja sempre o de fazer a vontade ao coração...

natália nuno

espelho meu...


Abrem-se sulcos no rosto
o tempo acumula-se amadurecido
o sorriso perdido
onde não resta nem brilho no olhar
e é já sol-posto.

os mares dos olhos secaram
as lágrimas a recolher-se
eles que tanto sorriram
trazem rios de nostalgia a esconder-se

a lição repetida
vive-se de sonho e ilusão
o coração não sara
e o tempo não pára!
na moldura dourada amor vivido
por nós jamais esquecido
a saudade faz-se antecipação
vangloria-se o tempo campeão.

volto à raiz de mim
às coisas que não esqueço
e não me reconheço!
interpelo o espelho
que nada esconde
também ele velho.
e às perguntas
nem um ai me responde,

o tempo abutre ou serpente
a vida eterno trovejar
morrendo continuamente
e nascendo a cada instante
num gesto ou num olhar

o peito trovejando
numa raiva feroz
e a vida passando
como raio veloz,
rasgando-o sem dó,
noite negra sem rumo
sequiosa, desatando o nó
desfazendo-se em fumo.

natalia nuno
rosafogo

juventude...


deslumbrada
uma estrela do céu se viu
plena de vida, apaixonada
era tempo de fascínio...
do mundo todo invejada
depois sumiu!
hoje esquecida da viagem
os sonhos são devaneios
já o espelho não devolve a imagem
da estrela que Deus fadou
e que o mundo todo invejou

coisa estranha esta saudade
que sacia a solidão,
perdida a juventude
tamanha felicidade,
o destino traçado um pouco à sorte
sem rumo, sem norte
alcatifado de flores ou só desilusão.
Mas...
algo para sempre permanece,
- o amor no coração.

todo o poder que a palavra tem
todo o poder que ela nos dá
é para dizer a alguém
toma minha amizade...toma lá!

natalia nuno

o tempo põe e dispõe...


despenha-se a alma no vazio
desprendendo-se inteira
extinguindo-se,
deixando o corpo no calafrio,
como um sol que regressa à sua fonte
sumindo-se no horizonte...
não sou nada neste silêncio arrebatado
neste vazio solitário
onde meu corpo ficou esquecido
e o coração encerrado.

comovido a chegar ao fim meu dia,
caminhei exausta por entre labaredas
de melancolia,
adormeço em vão, nestes dias perdidos
um a um, vivo dum resto de ilusão
o tempo põe e dispõe
enquanto o coração recolhe a dor
duma saudade triste que faz doer

com esperança sempre a irromper
em mais um dia a morrer
rasgo o medo que envelhece
e logo outro dia amanhece....

natalia nuno
rosafogo

pássaro e flor...


lanço os anos ao esquecimento
deixo-me como a água errante
que segue perdida
cujo destino é desvrabar
caminho
que a levará ao mar...
vivo a minha hora
aqui e agora
meu tempo sempre principia
já com séculos de nostalgia,
hoje brota prodigioso
e eu o acolho gota a gota
e a minha memória é
como uma gaivota
voando na ilusão
de manter a harmonia
em meu coração.

soalheiros estão os trigais
como o encanto da vida
ao passado volto uma vez mais
dou à saudade guarida.

e haverá pássaro, flor,
e do vento rumor
que isso não pode morrer!
serei a chama da distância
que me queima o coração,
e este sonho que é iulusão
o elo entre o presente e o
passado.
o pensamento recriado,
cada palavra novo caminho,
semeando sementes de carinho
e sempre na incerteza
serei tudo o que sou sem ser,
na surpresa de ver
o sonho dia após dia renascer.

natalia nuno

quadras soltas


Plantei rosmaninho n' quintal
Salva e pé de erva cidreira
Farei chá... que passo mal!
Amor por ti trago cegueira

Já o Mundo me encantou
Tudo o que era de encantar
E a Vida a correr passou
Minha amizade soube dar!

Mas como as arvores de pé
A amizade criou raízes!
Confiei e na boa fé!?
Fiz outros seres felizes.

natalia nuno

sulcos na pele...


com o rodar dos ponteiros dia e noite,
noite e dia vai-nos marcando a pele,
levou-nos da primavera o mel
e deixou-nos na selva da idade solitária,
com saudade...
fomo-nos habituando e convertendo
num frio de estátuas
e ante uma lágrima que nos afoga,
nos supomos sós e ignorados...
é o efeito do tempo que por nós passa
sem que demos por ele
amanhã mais uma ruga inscrita
mais uma ideia transviada
e a memória das palavras apagada.

natália nuno

de pálpebras cerradas...


não deixo de encher o meu coração de amor, que o meu dia e a minha noite seja um diadema de estrelas, que o amor seja o centro da minha atenção vibrando sempre com a veemência do canto dos pássaros....sons límpidos, ágeis e felizes ecoam, fundem-se com o vermelho da tarde e eu escuto-os na minha memória até sentir o impulso do sangue que corre em mim e, assim me deixo levar pelo sonho e por esta força que me atrai, numa abandonada liberdade até uma nua claridade....revivendo através do meu olhar interior, o mágico e o real do que foi a vida...nada como viver assim...dia a dia...na esperança de que o próximo seja sempre melhor... debruço-me numa lágrima de chuva grossa, reflectindo, e o tempo deixa de fazer mossa, sou como um pequeno riacho ao amanhecer, e meus lábios deixam correr as palavras prazeirosamente à espera duma nova esperança... e quando a melancolia começa a doer, e a colocar um nó na garganta olho aquele pássaro que me canta aos ouvidos e me leva às eternas estrelas...


natalia nuno

Este silêncio...


Este silêncio
Esta imensidade
Encadeiam-se os dias
Aninha-se em mim a saudade.
Procuro orientação
Para a fome que me apoquenta
Para a sede que trago no coração
Sede de viver,
Só o sonho me alimenta.

Revivo na imaginação
A essência dos dias passados
Retomo o fio perdido, a direcção
Dos meus sonhos p'lo tempo devorados.
Esqueço do tempo os estragos
Desponta um raio de luz em mim
Largo os pensamentos amargos
Faço da vida festim.

Volta o sol ao meu reinado
Devora-me sempre a mesma ansiedade!?
Nas horas de solidão, o anseio redobrado
Sinto no peito a loucura, a doidice da saudade.

natalia nuno
rosafogo

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capricho...


Ontem não vimos o sol, choveu sem violência, e ficámo-nos a olhar o rio, esse rio que já é oceano, surgiram mais umas rugas nas têmporas, enquanto as nuvens se afogavam na luz morna da tarde. A noite é agora carvão e o horizonte já abraça o crepúsculo, e eu recordo o dia de ontem, pois a amizade me arrancou um sorriso. Amanhã uma luz macia trará um novo dia, e eu serei o que sou por quanto tempo DEUS quiser, me enviará um sopro doce do vento para me adoçar o peito, que pende um pouco para a tristeza.
A vida vai-se prolongando
e botões de lírio (sonhos) vão despontando.

natalia nuno

desvarios...trovas


sentinela bem alerta
à espera de ver-te chegar
meu coração porta aberta
os braços para te abraçar

andam meus olhos a monte
fugindo que nem ladrões...
anda o sol no horizonte
o coração cheio de ilusões

o tempo tudo esquece
o tempo queria esquecer
a tarde vai longe, anoitece
e meus olhos sem te ver

chorando está a rosa
pelo cravo desprezada
a rosa que era vistosa
e nasceu para ser amada

é feita de sonho e frio
a vida ... nela é um mar
os anos ... são um navio
que se afastam a navegar

natalia nuno

estar e não estar...


não há muito mais tempo
os dias e as noites já não me suportam
e eu não quero mais estar aqui
onde tudo já vi, onde tudo já senti,
nesta viagem que não sabe parar
e eu sinto que é estar e não estar
andei dias sem conta, vivi, morri
vagueei no remanso tranquilo das
mil e uma noites, sonhei, amei
desejei matar saudades, e pouco depois
o sermos apenas os dois...

e no ritual do encontro seres o vento
que me toca, o sonho feito realidade
o sorriso de quem ama, a saudade sem igual
esquecer da amargura de existir
da mágoa desta solidão...
e com os sentidos em turbilhão
fazeres-me morrer, de amor endoidecer
e acreditar, uma vez mais, uma só
ainda me movo em direcção à vida
que se vai fazendo cumprida...

natalia nuno

eu e as minhas bonecas de trapo...


Eu e as minhas bonecas de trapo....

ainda hoje os meus sonhos são de assombro e a claridade ainda resiste nos meus olhos como se fosse criança, essa criança que acompanha com seu carinho e amor o meu caminho, sempre com a palavra necessária e certa, a esperança a felicidade e a alegria que um dia foi nossa, após tanta distância unimo-nos, envolvemo-nos em sonhos azuis e escapamo-nos, muma embriaguês onde tudo é íntimo...

natalia nuno

instantes...trovas


Estranha é a ausência
de flores na primavera.
Esgota-se a paciência
quem espera desespera.

São hoje o nosso tema
versos de toda uma vida
são eles longo poema...
de solidão desmedida.

O amor é grande ilusão
que se mantém vida fora
é como flor em botão
que abre e morre na hora.

Já sou menina grande
senhora do meu destino
peço à vida que ande
devagar... sem desatino.

O meu olhar vibrou tanto
quando olhou o olhar teu,
virou um vitral de pranto
porque o teu o esqueceu

Neste outono tão agreste
é radiosa a nostalgia
lembrar amor que me deste
é sonho ou é magia...

Chama que se manteve
é seiva a soçobrar
mesmo a vida sendo breve
tens-me ainda pra te amar

natalia nuno

o suavizar do dia


Ah se não fosse o ponto
esse minúsculo ponto
donde parti
pequenino, que me trouxe até
aqui,
me traçou o destino e é raiz
em mim.

Ah se não fosse essa linha
traçada, essa estrada
onde vive a minha liberdade
e a saudade
neste cair da tarde,
onde ainda mora em segredo
o sonho, sem medo.

Ah se não fossem os becos
da aldeia e o rio , lembrança
que à minha alma se enleia
tecendo teia
e é melodia ao ouvido,
vinda lá donde
era criança.

Ah se não fosse o salgueiro
a emprestar-me a raiz
e a suavizar-me a travessia
a destruir a barreira do tempo
até ser outra vez dia.

Ah se tardasse o anoitecer
como seria bom viver
renascer, habitar de novo
a vida em abundância
e voar, voar na estrada da distância.

Ah mas como tudo está longe,
longe e perto dos sentidos
ontem, hoje, aqui e agora
onde sonho acordada
onde agasalho como outrora
a vida.

natalia nuno

quando a lua desce à terra...trovas


minha infância passada
e os ardores da mocidade
depois da minha abalada
morro agora... de saudade

da janela mirando o rio
com os olhos meio secos
enche-se me a alma de frio
quando recordo teus becos

trago os sons nos ouvidos
das águas... e do moinho
em meus sonhos perdidos
inapagados teus caminhos

vou ainda atrás das casas
em sonho aqui e além...
minha mente ganha asas
passo a ponte...Banda d'Além

revivo velhas tradições
tudo me segreda saudade
rosário já velho...orações
do tempo da mocidade

sigo menina prá escola
lembro canções infantis
o que levava eu na sacola?
festejo de quem era feliz

no rio, no adro, na praça
do poço cantara à cabeça
meu coração tudo abraça
ainda lembro hora da reza

estás agora outra, renovada
és dona dum tempo antigo
pelos lapenses és amada...
saudosos, sonham contigo

saudade velha tento calar
palavras venho cantar-te
nostalgia acabei por herdar
e é difícil esquecer de amar-te

natalia nuno

versos à toa...


Minha mesa quando está posta
Até parece um altar
Branca toalha que se gosta
E o pão de Deus a sobrar.
Queria parar a Primavera
A esperança agasalhar
Dos sonhos ficar à espera
De os puder concretizar.

Trago minhas mãos vazias
Meus sonhos embaciados
No viver destes meus dias?
Trago risos encurralados.
Minha vida já está traçada
Muro que hei-de transpôr
Com pranto fiz a chegada
Ao partir seja o que fôr.

Mais um passo, mais espinho
Mesmo assim é curta a vida
Caminho, é o fim do caminho
Trago a esperança falecida.
Mas prendo-me à Primavera
Entôo cantigas de saudade
Recordo a juventude, bela era!
E como se foi o tempo da Mocidade

De saudade tenho o peito cheio
Do futuro pouco adivinho
Como pássaro no ramo com seu gorgeio
Canto à Vida com carinho.
Hoje os campos estão em festa
Atapetados de bonitas cores
- Em minha morada modesta
Na mesa uma jarra de flores.


Que venha quem vier por bem
Esta casa é Portuguesa com certeza
Pão, vinho e amizade sempre tem...
Pois se é uma casa Portuguesa?!




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corpo franzino, cara miúda...


Nas noites de insónia vou lembrando
Chamo ao pensamento emoções com ternura
Em turbilhões ao meu peito se estreitando
Não me sinto só enquanto a noite dura.

Hora tardia, noite deserta
Só a minha alma desperta.
Nesta bendita solidão
Procuro refúgio, encontro a recordação
Hoje tem o olhar mais brilhante
Voltou a usar folhos e laços
Ficou feliz por um instante
Esqueceu a Vida feita em pedaços.


Corpo franzino, cara miúda
Pés descalços, mal sabia a idade?!
Mas era forte, não queria ajuda
Mais perdida que achada,
A lembro com saudade.
A levo no coração guardada.

Sem histórias para adormecer
Apenas o Sol com o propósito de a aquecer
Julgava-se a dona do Mundo!
Corria as ruas com o arco p'la mão
Cabelos ao vento dum negro profundo
Do futuro? Sem inquietação.
Mas hoje o seu olhar perdeu a idade
Soltaram-se as asas está querendo voar
É criança novinha, velha na saudade
Querendo razões para acreditar.

É essa a grande vontade
Dizer não ao desencanto, sonhar
Não será tarde? Na verdade...
É bom viver e recordar.

rosafogo
natalia nuno


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hei-de morrer serena...


minha estrela é tão fugaz
ao meu olhar entristecido
que já não sou capaz
de olhar minha face no espelho
sem ficar de olhar caído,
dói e dor física não é!
é dormente encruzilhada
vale sombrio...
que emsombra meu pensamento
vazio.

caminho pesarosa
ouvindo no espírito o murmúrio
do mar, onde pouso o olhar
e tudo parece tranquilo
numa realidade teimosa
de continuar a ser aquilo...
mas sou apenas a saudade do
que fui.

o que magoa?
é a alegria dos pássaros
como se não dessem p'la minha
solidão
e esta dor que me enfastia até à
exaustão...

onde foi que me perdi
a mim própria me interrogo,
onde me recolhi?
que minha voz murmura no mar
como maresia fina
lá longe à distância
onde me deixei menina.

não venham com pedras na mão
que não valerá a pena
nem me falem com compaixão
todo o dia acaba, de novo
principia...
hei-de morrer serena.

natalia nuno
rosafogo


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pequena prosa poética...


ando à procura de sonhos onde possa abrir caminhos aos salpicos de sol, aos sorrisos vestidos de branco, à imagem escondida no recanto da memória, aos fios brancos de cabelo da minha fisionomia, e à minha velha ânsia que continua a debater-se...antes que tudo me sufoque...

natalia nuno

quero-te tanto...mas tanto!...trovas


quero-te tanto, mas tanto
q' em alvoroço vou à lua
anda a saudade enquanto
não te vejo na minha rua

guardo na gaveta secreta
versos que são um encanto
gaveta de versos repleta...
eu a olhar-te com espanto

de saudade a transbordar
não vejo hora ou prevejo
de olhar esse teu olhar
ou a esperança dum beijo

teus olhos são malfeitores
olham os meus de soslaio
quando velhinho tu fores
hei-de lembrar-te catraio

quero-te tanto, mas tanto
não consigo dar um passo
se não te vejo entretanto
é em sonho q' eu te abraço

meus sonhos são alquimia
a teus olhos me acorrento
numa prisão noite e dia
lânguidos sonhos invento.

natalia nuno

esfia-se a vida...


beija-lhe o rosto o último sorriso, depois esfia-se a vida em murmúrios e gestos lentos, o coração um deserto é quase uma estrela que se apaga no céu, a alma desejosa de soltar-se fugindo para o recanto mais subtil da melancolia, unindo-se à alma das coisas... como se o sonho ainda lhe pusesse estrelas nos olhos, senta-se à beira do caminho, respira o ar das resinas, ouve o rumor do vento nas giestas, observa a paixão das abelhas nas colmeias, o sol vai desaparecendo na ladeira, já a lua traz a noite, tudo tão dentro dos seus olhos a lembrá-la de tudo que amou...e assim vai segurando o vôo para que não despenhe o corpo...ou se extravie a memória.
natalia nuno

fita de veludo encarnado...


Á noite a terra parece vazia
Deserta, mas de luar coberta
E em mim uma estranha melancolia
Hoje me sinto inquieta, saudosa
Num tempo infantil de pureza
Recordo minha mãe jovem, mimosa
Ah... mas é apenas um sonho concerteza.

Um sonho que depressa se desfaz
Tudo o que perdi está em mim ancorado
Neste sonho sorrio e encontro paz
Embora o caminho nem sempre de rosas semeado.
Mas o passado é fonte de vida
Exige minha atenção,
Hoje nada mais, nada mais, só há uma saída
Deixar-me neste tempo, sem duração.

Deixar-me nesta minha verdade
Recordar o bibe branco bem lavado
Os caracóis pretos, com saudade
Atados com fita de veludo encarnado.

rosafogo
natalia nuno




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pequena prosa


estremecem as flores, ansiando pelos dias de sol primaveril que se negam a aparecer, tristes esquecem-se ao que vieram e desfolham com a impiedosa chuva, porém nos montes e vales dos nossos corações, permanece a imagem da sua beleza ou permanecem à porta dos nossos olhos...que anseiam céus claros.

natalia nuno

pequena prosa poética...


bem vindo o azul da noite sobre o rosto verde da folhagem, logo é a hora em que os corpos se enrolam, as bocas se juntam, famintamente se amam... a janela continua aberta, recebendo o vento amável, só ele testemunha o absoluto deleite do amor entre quatro paredes... vai implorando morrer entre os amantes...encostada a uma esquina a lua traja de prata, alheia à janela aberta, tocando com os lábios a terra a seus pés e, deslumbrada, olha cada palavra que o poeta frustrado, coloca sobre o papel branco da côr das flores da magnólia, e deixa num verso uma réstia de doçura...

natália nuno

a velha porta...


Hoje lembrei a velha porta
da casa onde nasci.
Toquei-lhe estava fria como morta
Mas a abri-la não me atrevi.
Escutei o seu ranger
Senti que já não havia vida
atrás de si.
Mas até morrer,
vou lembrar aquela porta fechada.
E a menina das tranças ali sentada.

Lembrei dos sonhos esquecidos
Ainda moram no meu impetuoso coração
Talhados duma tristeza... esmorecidos!
Tristeza que me dói na recordação.

Recordo o meu refúgio atrás da porta
velha,
lembro sons e reflexos do sol entrando
pela telha.
Entravam as estrelas da cor do marfim
Eu inventava carícias só para mim.
Inventava danças nos caminhos celestes
Diante dos meus olhos, anjos com belas vestes.
Havia música que ascendia levemente
E eu a escutava com deleite
E sonhava, sonhava docemente

Hoje o sonho
submerge quase no esquecimento
e meus olhos embacia.
Na quietude da memória está essa
porta, que lembrar me traz alegria.

rosafogo
natalia nuno

emoções...trovas



distancio-me da imagem
já o tempo levo gasto
levo inda alguma coragem
mas já da vida me afasto

vou olhando aqui de cima
com alguma insegurança
esmoreci em frágil rima
q'deixei atrás em criança

hoje sou outra figura
esbatida, sépia é a cor!
solitária vou à aventura
até ao fim, seja onde fôr!

nunca mais voltei ao rio
nem ao largo da praça
canto como a cigarra a fio
mas a saudade não passa...

já vou no fim do caminho
trago comigo esta arte
auto retrato-me c' carinho
e deste, a terra faz parte...

regresso sempre à natureza
penso que não perdi nada
ventos m' trazem certeza
que inda por lá sou amada

em versos vou cantando
a saudade que em mim há
um dia a morte desafiando
de volta... levar-me-à...

natalia nuno

memórias de mim...


A memória é um fiel espelho, guarda tudo num cofre profundo e duradoiro e põe o coração no peito a bater melodiosamente com as reminiscências de muitos anos passados, fazendo com que seja abolida a distância quando recordamos...às vezes penso ter tudo perdido, mas num instante volto a reviver tudo de novo e são relíquias as recordações que amo, porque amei outras pessoas, outras coisas, que não passaram por mim em vão, mas que partiram fustigadas pelo vento da vida, são realidade passada, mas duradoiras dentro de mim para sempre.
Ressuscito o passado nas mais pequeninas coisas e aí a imaginação também se liberta e eu fico fora do tempo, descobrindo assim a minha essência e arragando-me às lembranças, às raízes, e tudo isto é como pão com manteiga para mim, saboreio cada instante que a memória me permite com entusiasmo e sinto a inspiração brotar com palavras maleáveis, doces, sem barreiras, como flores abrindo-se ao sol do meio dia e assim escrevo com entusiasmo as vivências de outrora...encarcero-me de livre vontade na solidão, quieta, feliz por dentro, arrepiando caminho ao encontro de cheiros e afectos, puxando forte pela memória.

natália nuno

pensamento...


A saudade fere o peito, quando a madrugada chega vazia...é como se o mundo ruísse...na última sombra da noite!

natalia nuno

quando fôr maior...poema menção honrosa


dedicado a uma criança diferente... da Assoc. Portug. Pais e Amigos Cidadão Deficiente Mental de Setúbal

Ergo com esforço meus braços
Tenho meus ossos frágeis delicados
Mas tento dar meus abraços
A quem me dá seus cuidados.

Ás vezes meus lábios tremem
Num movimento impulsivo
Tremem as mãos como se frio tivessem
Não quero parar! Estou vivo!

Quero ir á escola, ter amigos
Não quero ficar esquecido
É para isso que vivo!
Pensam que ando perdido?

Não quero minhas mãos atadas
Sou menino igual a tantos
Contem-me estórias de fadas
Sei-as de cor! São meus encantos.

E quando já fôr maior?
Não posso demorar-me mais!
Também quero ter meu AMOR
Pois sou igual aos demais.


rosafogo
natalia nuno


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morta d'amor...


morro à míngua de amor
morro à míngua de água
murcho tal qual a flor
e é grande a minha mágoa

o sol queimou-me o rosto
com a sua luz potente...
namorei-te era Agosto
e amei-te intensamente...

tanto amor, tanta esperança
olha no que deu amor!
hoje trago-te na lembrança
e na boca o teu sabor...

fechei ao coração a porta
e os olhos enxuguei...
não há dor se estou morta!
eu morta de amor fiquei.

natalia nuno

o sonho em chama...


no rosto a indolência da bruma
o sonho em chama a surpreende
a saudade, já de coisa nenhuma
um vendaval que ninguém entende

do tempo traz nela a voracidade
entre os lábios a quente labareda
os desejos transbordam de saudade
no olhar tristeza que ninguém arreda

natalia nuno

ao rio da minha aldeia... trovas


Almonda quando passas
voa o pássaro pra te ver
toda a aldeia tu abraças
passas por ela a correr

vens correndo da nascente
por aqui não vais parar...
trazes grandeza no ventre
que levas direito ao mar...

ponho os olhos na vidraça
e ainda sonho contigo
era moça cheia de graça
amei-te pra meu castigo

olhámos o céu perdidos
nesse reino q' nos pertence
e tantos sonhos paridos...
já a memória me vence.

vais entre pedras e cansaços
contigo vão sonhos d'água
nada te atormenta os passos
salgueiros te olham com mágoa

lembro sempre da promessa
um ao outro prometemos
talvez um de nós se esqueça
se de saudade... padecemos.

deixo-te palavras de ternura
descobri-me a envelhecer
dá-me da tua água tão pura
não me deixes d'amor morrer

Almonda, olho-te embebecida
rio que corres despreocupado
na corrente da minha vida
levo-te de maresia perfumado.

natalia nuno

Irei por aí!





Vou por aí ... o tempo escasseia
o caminho difícil antes do fim,
vou urdindo teia a teia...
procurando horas de felicidade
ainda que o tempo fuja de mim,
e só reste um pouco de saudade.

Hei-de ir por aí mesmo cansada
este é meu caminho a percorrer
n' quero perder o fio à meada
e se um dia me hão-de ver
a seguir por outra estrada
não foi...a por mim traçada!

Vou por aí neste meu sentido,
seja ou não grande m' loucura
a vida é fantasia e pouco dura
se no caminho tiver adormecido
ou se me virem por aí caída!?
Levo amor, não levo a dor fingida!

Se a morte me quiser engolir
ainda irei por aí, pra lá de tudo,
cabe-me a mim a vida conduzir
andando neste meu passo miúdo.
Não deixarei nenhum recado
levo presente, futuro e passado

Não, não desisto de ir por aí!
Levo comigo tudo que me resta
levo as rimas que um dia escrevi
sobre alecrim, madressilva, giesta
e as outras que ao amor dediquei
gestos, afectos, o que cantei e chorei.

natalia nuno
rosafogo

menina do povo...


O cheiro da relva humedecida
A fragância das rosas
O balouço nos ramos da velha arvore
centenária,
tanta e tanta vida!
Ao lado, margaridas mimosas
No balouço uma figura
imaginária.

Um rosto liso na juventude
Foi há tanto
que não
consigo lembrar-me,
como antes... amiúde.
Mas a memória vai ajudar-me!

O tempo cada vez mais me distancia
Da menina descalça no carreiro
E do cantico das cigarras no salgueiro.
E da lua que na noite se perdia.

Ao fim da tarde
Um raio de sol atravessava
As frestas do telhado.

E agora a saudade
Da felicidade que enxergava?
É um rosário delicado.

Misturo-me com as sombras
do crepúsculo ao entardecer
Observo o cair da noite
Ouço o piar da coruja
já me deixo esmorecer.
Lá em baixo o rio serpenteia
a aldeia
E a água me chega à cintura.

Com ternura,
Lembro, esta recordação vaga,
como quem se embriaga!
Mas este sonho é augúrio especial
Tudo passa aos meus olhos,
tão real.
Amanhã, volto a sonhar de novo
Sorrateira uma lágrima teimosa

A aldeia, o rio, o balouço
E a menina que inda ouço
Menina saudosa
Menina do povo.

rosafogo
natalia nuno

prisioneira...


Prisioneira

A solidão, afoga-me o peito
A alma tenho silenciosa e fria
Meu sangue fluí, não tem outro jeito
Nos meus lábios uma sede que arrepia.
Avanço no meu silêncio errante
Numa dor acre que me revolve o ser
Onde a fuga à felicidade é uma constante
mas ainda que perdida, necessito sobreviver!
Na sinuosa curva deste meu caminho
Agarro-me à vida e à recordação,
do passado, onde no presente me aninho.
E assim esqueço, no peito, o afogar da solidão.

rosafogo
natalia nuno

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instantes achados...


Silenciam-se as cigarras
Passa o vento nos canaviais
Já a noite enlanguesce
Sombras na terra, nos ramos nas parras
Adormecem os pardais
E já a lua desce.
E a memória esquece
Morre o dia, é tempo passado
Deixa o ar de aromas perfumado
E a vida é como o troar dum tambor
Ou se aceita ou se nega
Jorrando no peito o amor
ou a dor
Ou já a morte nos pega.

E os sonhos sonhados
do anoitecer à madrugada
São tudo ou nada
Instantes achados,
pássaros tristes sem vôo.
Sangue que nas minhas veias
secou.

natalia nuno
rosafogo

arroubos da mocidade... trovas


Arroubos da mocidade
São sonhos, são ilusão
Hoje me dão saudade
Bem a sinto no coração.

Arroubos próprios da idade
Que ainda trago na mente
Idade que me dá saudade
Que o meu coração sente.

Arroubos que não esquecem
Tão presentes até no olhar
São estrelas que não falecem
Amores que quero recordar.

rosafogo
natalia nuno

o esquecimento abre passagem...


Corre o dia,
e uma luz coada entra pelas cortinas
antigas, a solidão me faz
companhia,
adensa a noite
e desarruma a minha mente
e assim a flor desfolha até às
pétalas finais, como o sol
que se apagou, derramando
um vazio que a destrói.
Transporto sonhos ante um inverno
que me espera, a solidão dói,
o esquecimento abre passagem
e cada lembrança é já indelével
imagem,
como casa desabitada, mofenta
arrasada, onde já ninguém responde
minha alma, anda não sei por onde!
Minha vontade, ainda
inventa versos como comida suculenta
que me faz bater o peito, e a saudade
traz-me de volta a menina
dizendo-me que sou a mesma d'outro tempo.

o tempo que vai e nada o pode deter
fica a palavra feita nada,
a vida voando para o poente
como a água, que não volta à nascente

natalia nuno
rosafogo

pequena prosa poética...



deixa-me o sabor da tua boca, acaricia meu rosto fatigado na tarde lenta em que as minhas mãos tecem palavras de loucura, como se rezassem!...olha-me com espanto, como se eu continuasse a ser o teu encanto, nua ou vestida percorre a minha pele, poro a poro, afunda-me no teu peito com aquele jeito, com que eu sempre coro...não me deixes neste silêncio estranho, ou no vendaval onde me dobro para não quebrar, o tempo cruzou-se comigo nestas longas caminhadas pejadas de partidas e chegadas, deixou sinais que não posso esquecer e restos de esperanças que quero reter...há lembranças que se vão desvanecendo tal como a tarde, percorre-me o sonho na claridade do teu olhar, onde a felicidade e a ternura são canção de embalar...os meus dedos de menina escrevem umas linhas de amor, e nas tuas mãos, esconde-se a lua vestida a rigor...

natalianuno




pequena prosa poética...


hoje vim apanhar raminhos de alecrim, escolho caprichosamente, como se as minhas mãos fossem de delicado artista, que tanto escrevam e me façam sonhar afagando meu tempo de outono...as águas alegres do rio sorriem para mim, um freixo agita a ramagem com a aragem que vai para sul...um constante silêncio, apenas interrompido pelo chilrear duma ave na azul lonjura...no destino da tarde trazemos lembranças nostálgicas, no coração e no no pensamento, ecos desprendidos da infância, a nostalgia se aprofunda e recordamos os poentes dos dias inolvidáveis e inesquecíveis...mas hoje vim apanhar alecrim aos molhos, e por mim passam todos os dias da minha vida, e no meu coração há sempre uma cicatriz pronta a abrir, deixando-me numa saudade que às vezes é de lágrimas, outras de risos. mas sempre me protege do esquecimento...as minhas mãos recordam essa vida distante, de lavar no rio, de escolher os figos na eira, de segurar a cântara à cabeça, eram estes afazeres os livros que tanto ansiava e nunca tive... acordar o passado e deixá-lo no meio do silêncio da gente e da natureza, é acender uma chama onde existe força, emoção, e ainda caminho para prosseguir, quase alegre como se tivesse asas para perseguir as palavras que vou plantando neste doce cansaço que me reconcilia com o tempo e com a vida...hoje aproveito a dávida deste aroma do campo para matar a sede dos meus sonhos. E sempre faço a mesma pergunta: quem és? porque continuas aí? E a menina do baloiço me sorri, já começa a esfumar-se o seu rosto, apenas alcanço a sua ténue voz...já é apenas um sonho!


natalia nuno

prosa poética...


o mar devolve-lhe os sonhos de criança, remenda-lhe os dias sulcados de nostalgia, a neblina inunda-lhe o olhar e o pensamento repousa no silêncio, há nele mares de esquecimento, mas movem-se nele silhuetas de pessoas amadas que já partiram... inundadas de mágoas as mãos que escrevem e deslizam como um pássaro por sobre o papel, e com um arrepio na pele sente o peso da saudade a pernoitar no seu coração... fica a inventar, a ouvir a chuva a cair e o mar revolto é cúmplice da sua tristeza, do seu resistir, do seu ficar sem chão...velejam os afectos no peito, os mesmos que lhe esmagam o rosto e lhe deixam a contravento o pensamento...neste balançar como onda do mar, ficam-lhe os dias a morrer de tédio e sente-se folha caída sem remédio...

natalia nuno

liberto os poemas...


pensei queimar todas as folhas
há só um senão
nada restará, nem o sonho
que ainda ouço de noite às vezes,
que a seu tempo acabará
quando a respiração for sustida
ao final desta alameda que é a vida
aos poemas dou nova oportunidade
retiro a condenação,
mas há um senão
que faço da saudade?
poemas ilusões por mim geradas
fazem parte de mim mesma
são mais fortes que todas as razões
são minha carne, meu pão
meu prazer, minha paixão
ilusões? pois que sejam ilusões!

o bálsamo com que mitigo a dor
o azevinho com que enfeito o natal
a quietude e o vendaval
a corda que me prende ao cais
custa-me a acreditar
que os queimaria e não os sentiria vivos
jamais...
vou mantê-los em liberdade
como o perfume das flores pela campina
e dizer-lhes da minha saudade
desse tempo de menina.

as flores encherão a terra
os versos flutuarão alheados ao tempo
só o eco da adolescência passada
virá ao ouvido ainda
derradeiro eco
neste poema que finda.

natalia nuno

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linhas de seda...trovas


Trago um lenço cheio de cor
bem dobrado ao meu jeito
com letras grandes "AMOR"
grande como trago no peito

Caem-me lágrimas soltas
a crescerem-me pelo rosto
enxugando-as dou eu voltas
de manhã até ao sol-posto

Quando o dia se faz escuro
noite criadora, preciosidade
torna o viver menos duro
e lá volta de novo a saudade

Alheia me deixo ao coração
é completamente indiferente
nunca quer saber da razão
mas nunca anda contente...

Linhas de seda eu usei
para o teu nome bordar
bordei até que cansei...
hoje não ouso lembrar

Sem te dirigir o olhar
bordei então a letras pretas
com força maior que o mar
minhas lembranças secretas

Pousei agulhas e linhas
dei descanso ao coração
não sei por onde caminhas
manda agora minha razão

Sento na cadeira de palha
dirijo palavras à lua
não há santo que me valha
esquecer q' um dia fui tua


natalia nuno

meus olhos bailam...


Meus olhos bailam com a beleza de pequeninos pés
Bailam sobre saudades floridas, com ligeireza
E minha poesia borboloteia de lés a lés
E é singela flor do campo, mas tem beleza.
Arranca arrepios deste corpo esquecido
Dona das minhas esperanças, decifra meus segredos
Ateia meu olhar quando anda perdido.
E deixa a saudade escarpar-se por entre os dedos.

Quem nunca sonhou?
Quem nunca desejou?
Minha existência se consome rapidamente
Cada segundo é parcela que se esvai
Pinto meus anseios numa tela lentamente.
E olho a lua sobranceira que do meu céu não sai.
É progressivo meu esquecimento
Às vezes minha solidão aumenta
E as palavras que entoo são recordação e tormento
Quando quero lembrar e a memória não assenta.

Se grito, responde-me apenas o eco
Sinto nos ouvidos a toada
Chego ao cimo do monte, trago meu coração seco.
E uma asa cortada.
E na outra, o sonho a esvaziar!
E minhas horas passam sem as puder parar.
Resta um fio de esperança, qual flor recém aberta,
por gota de orvalho matutina
O tempo não perdoa e eu fico alerta
Mas é Deus quem meu tempo destina.

rosafogo
natalia nuno


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amar-te de novo...


voa a borboleta livre e leve
tal qual emerge o amor
do meu peito adormecido,
quieto,em silêncio...

o amor
despertou!
brilha, trazendo de novo
o teu calor
fecho os olhos
sinto-o doce
o silêncio quebrou,
como visita que em mim
se abriga delicadamente
sinto-me impelida
a amar-te novamente

o amor despertou
dá-me a tua mão
e cala a minha solidão

natalia nuno



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aquela criança...


há tapetes de flores nos campos
ressuscitaram as papoilas
e há uma proximidade
entre elas e a minha saudade
vejo-as à lonjura, mas vivo na procura
é amor que por elas nutro desde criança
à procura de sonhos brinvava com elas
não sei se tinham angústias, mas pareciam-me felizes
e feliz era eu, rimava flores com amores e sonhava...

as minhas mãos eram como borboletas
a acariciar cada uma delas, e os sonhos íam
encubando em mim, havia sempre uma rã
invejosa por perto, um pássaro fazendo ninho
e no caminho havia giestas saciadas pelo sol
e nem a bruma nem o nevoeiro
cobriam o sorriso do girassol

ah! saudades são inquietas águas
que trago em mim da nascente,
pedacinhos de tristeza que a gente sente
pássaros, que de quando em quando vêm espreitar
meninas sobre a relva do coração
atalhos à espera da primavera
rasto de andorinhas a pulsar lá p'lo verão,
saudades... são donas dos meus vendavais
que ameaçam continuar...
a moldar a minha esperança
como se eu fosse ainda aquela criança.

natalia nuno

canto vida e morte...trovas


que hei-de supor da vida
nem sei se hei-de cantá-la
já a julgo tão perdida...
mas não canso d'lembrá-la

venho os olhos enxugando
teimosa lágrima caindo
tempos que vou lembrando
e tanta saudade sentindo.

hei-de falar-vos do povo
que alegre seguia em frente
dia a dia nada de novo,
mas era feliz nossa gente

moía o trigo no moinho
e a água corria no açude...
nada o impedia no caminho
gente boa ...ainda que rude

não digo mais nada não!
deixo-me sonhar deste modo
fecho o livro aqui à mão
quero viver o sonho todo...

as tábuas que hão-de pregar
no caixão quando eu morrer
ai, não vale a pena apressar
deixem o pinheiro crescer

e quando acontecer:

olhai meus olhos serenos
e minhas mãos quase frias
não quero lágrimas, acenos
leiam-me antes poesias...

natalia nuno

fantasio...


Entra o luar pela janela
a toldar-me o pensamento
nada mais além da solidão
eu e ela
e a obscuridade da noite
tudo mais lá fora ao relento.

Saudade distância sem tempo
olho a janela o luar entra por ela
fantasio, deixo-me num faz
de conta, sorrio,
é hora da libertação
dum sonho maior
ouço o bater do coração
ignoro o luar que atravessa a cortina
é meu companheiro
desde quando era menina
no meu mundo inventado
e dormia comigo, ali, lado a lado,
surgia da fresta do telhado.

Hoje há uma teimosa vontade
e um sonho suspenso
de procurar na saudade
a menina em quem sempre penso,
seus passos ficam martelando
minha mente
fecho os olhos, vejo os dela fielmente,
atravesso a ponte da lembrança
e no sonho cresce a esperança,
saudosa de mim,
volto ao tempo de criança...

natalia nuno

lado...a...lado



tomo docemente o teu braço
nesta longa subida
acertamos de vez em quando o passo
assim levamos a vida
hoje parei de fadiga
estendeste-me tua mão amiga
tantos degraus...tantos!
temo deixar-me para trás
deixei passar os encantos,
desesperadamente tudo desengraçado,
nada me satisfaz.
mas vamos continuar a trepar
lado a lado
temos de olhar em frente
recordar o passado,
que não foi o paraíso,
mas foi e será sempre da gente.
debaixo do mesmo tecto
agora um pouco vazio
mas pleno de afecto.

saboreio estes instantes
deixo-me para aqui a sonhar
amámo-nos como dois amantes...
toma meu braço vamos caminhar.

posso ir até ao fundo da rua
posso, mas só até aí!
de caminho surge a lua
e eu quero é ser tua
juntos ao anoitecer...aqui!

o tempo foge-nos sob os pés
é a ti que eu para sempre quero,
ainda o digo com vergonha,
corremos a vida de lés a lés
ainda tanto dela espero,
pois sempre uma mulher sonha.

natalia nuno

onda de alegria...trovas


meio dia, meio da tarde

do tempo encruzilhada

a primavera de verdade?

é saudade relembrada.


olho no areal a gaivota

ao mar não vai mais voar

Deus meu sou tão devota

fazei meu sonho voltar


guardo as minhas penas

neste tempo de nevoeiro

saudades trago do cheiro

da minha terra de açucenas


na viagem bate o coração

Deus tropecei no outono

onde deixei o verão?

Anda o coração sem dono.


nos olhos as sardinheiras

que cresciam nas janelas

trago cheiro das laranjeiras

deixei por lá as estrelas.


e nos caminhos da utopia

minha saudade fez-se beijo

e numa onda de alegria

escrevo versos feitos desejo.



natalia nuno

rosafogo

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que o poema não me ignore...


quando o corpo tropeça
a alma guarda as memórias
e é como se um enxame de saudades
viesse p'la mão do vento a trazer-me alento,
e tudo recomeça
vem aquela lembrança que não esquece
que traz com ela a luz e me afasta da sombra
surgem pétalas de luz na escuridão
disfarço o vazio que há em mim
e ninguém sabe o que me vai no coração
a minha alma desorientada
é como o canto nocturno duma cotovia
cinzenta num inverno de nostalgia
quando o corpo tropeça
é tanto o tédio,
que as palavras desbotadas saem de mim
vindas dum labirinto da mente
sem fim.

entre pétalas de solidão,caminho p'lo tempo,
que o tempo apagou
mas a luz me dá a mão
no declínio a vida desatou
em mim a saudade
e até o brilho dos olhos me tirou de verdade
mas quando o sol declina nas horas tardias
no sonho me encontro ainda menina.

natalia nuno

amuleto....




ando cinzenta de fadiga
s' vontade de acrescentar
à minha poesia antiga
forma de a abrilhantar

comigo nunca se sabe
se é pra norte ou oriente
vou arribando como ave
q'conhece o tempo e o sente

trago no baú a passagem
comprei num tempo s' fim
quando ainda tinha coragem
e o fim era tão longe de mim

cheia de sede... engoli
já vai a idade avançada
as mágoas, e do que aprendi
sei pouco ou quase nada...

trago um amuleto ao peito
não interessa o significado
pra me proteger é o jeito
de fugir à tentação do pecado

o sonho trago sustentado
dia a dia hora a hora...
quem traz o sonho gorado
não foi feliz e nem é agora

à procura duma fuga...
me sinto dum modo estranho
apareceu... mais uma ruga
e uma dor sem tamanho..

natalia nuno

folhas caídas...


Quanto mais a noite é escura
Mais brilham estrelas no Céu
Nem sempre o amor assim dura
Mas... dura o meu e o teu.


Os sonhos, o vento levou
São folhas secas p'lo chão
Lágrimas da fonte que secou
Desfeitos p'la vida em confusão.


É sempre Amor que nos anima
E o beijo que nos embriaga
O desejo cresce e aproxima
Mas é o olhar que se alaga.


Enfeiticei-me com teu sorriso
E com tuas graciosas maneiras
Mas trago o coração indeciso
Nas brasas das tuas fogueiras.


Sem temor nem hesitação
Entreguei-te a vida inteira
Com tanto amor tanta paixão!
Fiquei cega de tanta cegueira.


Deixo-me afogar em teus braços
Vivo desta fugaz ilusão.
Penetro num mar de abraços
Me diluo, em rio de paixão.


De todos os sonhos sonhados
Nem todos a Vida matou!
Rumam em ventos trocados
Calam-se os ventos, lá estou!


E na ânsia de te querer
Já minha força é pequena
Não tenho mais pra te dizer
Só que o amor...valeu a pena!

rosafogo
natália nuno


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memórias de mim...pequena prosa poética...


não havia excesso de afectos mas havia o suficiente para nos sentirmos seguros, ao mesmo tempo um respeito e uma ligeira distância quase intransponível entre pais e filhos. Fui até tarde uma criança crescida sempre pronta a sentar nos joelhos do pai, no colo da mãe ou a dormir com a avó paterna, estas lembranças são feitas de ternura e pertencem-me inteiramente, quando o dia começa a declinar e a aumentar o silêncio da noite, escrevo, escrevo para me proteger da saudade dos meus mortos e invade-me uma terna melancolia... e meu temperamento mantém-se no seio do silêncio e da solidão, e aí fico muda como uma flor, surda como pedra, sem ninguém, só eu e meus pensamentos a palavra escrita e o passar do tempo...escrevo com uma rapidez nervosa, e nem sempre corrijo e não sei muito bem o que escrevi para trás, e tudo fica tremendamente complexo, como nas sombras do crepúsculo, mas eu sei que está tudo lá, o rio, o céu, as árvores, a luz , a sombra, a inocência e eu canto tudo em minha poesia, a escrita é uma necessidade interior, vem ao encontro daquilo que desejo, sinto uma alegria instantânea que é gerada pela memória...assim recordar, chorar sorrir é essencial à vida, pois se convertem numa força que nos leva a caminhar. Como um pássaro recém-nascido volto sempre ao passado com vontade de voar...da vida pouco sabemos a não ser que é uma viagem caprichosa que fazemos e da qual não prevemos em que estação o combóio pára de vez...ai esta minha insónia que me deixa de olhos abertos.

natalia nuno
fiodamemoria.blogspot.pt

onde a vida me esqueceu...


Onde caminha a solidão
É onde a Vida se cala!
Quer eu queira quer não?!
Já tudo se vai, até minha alma.
O meu sonho, é meu cadilho
O meu caminho transformado em trilho.


Não quero ir por aí
Choro por me ver chorar
E fico por aqui!
Com tristeza em meu olhar.
Invento um tempo só meu
Invento asas, faço apelos, falo em ternura
Afronto até a noite escura
E no escuro das pálpebras clareia o dia
Mas hoje? Não estou dada à alegria.

Quantos sonhos dados como certos
Tantos outros foram inquietação
Já não sei quem me quer ou não!
Quem põe pedras nos meus caminhos desertos.

Então choro, só de me ver chorar
Sinto-me pássaro rasando a àgua
Na ânsia de se libertar.
De mais um dia de mágoa.
As nuvens do meu céu, são pequenos dragões
Que trazem tempestade às certezas e ilusões.

E a Vida se esvai, até ao último grão
Semente que na terra se esboroa
E é sombra que me cai no coração
E me deixa a chorar à toa.

rosafogo

Cada verso é como um filho
Que me deixa no olhar um estranho brilho.



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às mulheres de então...


posso ainda ouvir o dobrar do sino
e o silêncio das mulheres
que rezam... ao divino,
pelas sombras da sua vida
que só Ele pode iluminar
a sede e a fome mitigar.
no céu resiste a estrela
a mesma avistada pelos magos
e na tigela restam do
arroz, já poucos bagos.


a vida
repetida
a fragilidade a resistir
e o sino ecoa
à mesma hora todos os dias
a persistir,
chamando à reza... que Deus não perdoa.
assim se vive contente
no meio da tristeza
na certeza
permanente,
que não vai mudar nunca.

eram as mulheres da minha aldeia
sempre adultas na idade
sempre de barriga cheia
filhos eram a novidade.

sucedem-se os dias sem suspeitar
que pouco mais dela sobra,
assim passa a vida
enquanto o tempo dobra e desdobra.
mais tarde fortaleza esquecida
esmorecida, cansada,
afinal pouco mais que nada.

Ave à sua sorte abandonada...


natalia nuno

até de madrugada...


deixa que eu te diga
que és meu sonho, és
minha vida,
és o sol que me aquece
contigo as horas ardem como fogo
e logo,
esqueço tudo ao redor
tudo o que me entristece,
então amor...

tu és a foz do meu desejo
a cada abraço a cada beijo
abre-se a porta do coração
e em breves segundos
esquecemos a solidão
pernoitas em mim
acolho-te até madrugada
fazes do meu corpo tua morada,
e é sempre o tempo pouco
para este querer tão louco.

natalia nuno

bordadura de hera...


Ontem vazio de palavras meu diário.Nada escrito!
Olhei furtivamente para o meu dia.
Recordações baralhadas,um sentir esquisito.
E a vida astuta como serpente, me dizia:
O tempo voa, tem cuidado inocente coelhinho
Que nalguma esquina acabará teu caminho!

Mas hoje desenhei no diário uma cercadura
Assim, como que lembrando uma bordadura de hera!
Um canteiro mimoso para esquecer a vida dura
Também p'ra não me sentir objecto d'outra era.
Desenhei com uma pontinha de nostalgia
Já que o tempo se cola à minha ilharga, sem me deixar.
Recarreguei esperanças, em abastança, também alegria.
E assim saboreio em passo vagaroso este chão p'ra andar.

E é um previlégio esta ausência de mim, este abandono.
Fico na minha solidão, felizarda na ventura!
Esqueço as rugas do rosto, assomos de revolta e o Outono.
Aos altos e baixos que me envenenam, levanto muro.
Não faço com a Vida pacto, nem combinação...
Ela me virá à fala,me quererá ludibriar, mas será em vão.
Porque hoje estou em paz,o tempo me acirra, mas não me vence não!

natalia nuno


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fechei-me na alma...


fechei-me na alma
meus suspiros tocaram a lua
levados pelo sopro do vento
escondo o que me vai no peito
desilusão nua e crua
confesso que o tempo me apoquenta
e o coração lamenta
a queda vertiginosa
a que não está afeito.
revivo silenciosa,
esta rapidez do tempo,
mas não fecho a porta
ao sonho, refugio-me nele
mesmo no limite do tempo.

no lusco fusco da mente
ainda há um vislumbre
frequente,
da juventude e todo o
seu perfume.
pensamentos que travo e destravo
que vêm e vão
num rodopio do vento

ninguém me tolhe o passo
que ninguém ouse querer
sei bem o que quero e o que
faço
a dor que minto da dor que sinto
nada mais quero, apenas querer...

o quanto baste!


natalia nuno

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nasceu um poema...


Meu coração é como um cipreste gigante
Enfrenta o tempo e a tempestade
Resiste, mesmo apertado segue adiante
Barco à deriva num mar de saudade.
São meus sonhos searas à mercê dos ventos
Meus poemas filhos por nascer
Sinto-os nas entranhas, ouço-lhes os lamentos
E aguardo o momento de ao Mundo os trazer.

E assim vou moldando seus passos,
Segundo minha visão
Acrescento-lhes mais umas gotas de medos
Alguns cansaços
E para tapar buracos no casco, a solidão.
Finalmente o desespero que meu rosto esconde
E meus olhos que se perdem sabe-se-lá por onde.

Vida inteira e uma mão cheia de nada
Hoje acordei vazia e assustada
Restos dum sono desassossegado
Palavras à volta na boca
Meu coração acelerado
Agarrando-se à vida que já é tão pouca.

Mais um poema é puxado para fora da mãe
E eu pouco sei do seu nascimento
Mas sendo mãe passam as dores, fico bem
E a minha dor se tranforma em amor neste momento.
O nascimento?
É íntimo e doloroso!
E mais um milagre me parece...talvez curiosidade?!
Dentro de mim a chave... a saudade!

rosafogo








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pedaços de mim...prosa poética


pequena prosa poética

Quem experimenta um tal amor pelo lugar onde nasceu, sente-se duplicado em tudo, é um amor perfeito que nos inspira e é como uma dávida benfazeja. As lembranças, são colheradas de açucar, que adoçam o coração, ainda vejo a vela acesa na lareira e as feições da mãe na penumbra, embora com alguma dificuldade, mas ainda assim fico plena de júbilo, e alimento a minha alma.
A minha musa é a natureza, a minha força é pensamento, e a memória não dorme...a inocência o sorriso a gargalhada a liberdade o alvoroço, imagens vivas que pulsam tal como meu coração.
Crescem dentro de mim árvores numa longa avenida onde me perco e me encontro, onde me inquieto, onde me comovo, sorrio e sonho, esquecendo a dificuldade da descida.
Dou guarida às aves, deixo esvoaçar as borboletas, ouço os delírios das flores, ancoram em mim as estrelas, meus olhos bravos olham o vermelho dos cravos, existirei na essência de todas as coisas?
Crescem as begónias no jardim interior, as tempestades serenam e eu subo ao céu...apenas assim!
Num vôo de gaivota, leveza de mim.

natalia nuno

a ti me dou...


olha-me nos olhos firmemente
udo neles te revelo
este amor que acalento
denso como as águas do mar
arco-íris no firmamento
que o tempo levará
mas devagar
toda a ti me dou
de ti tudo espero
como o moinho espera o vento

é assim, este amor que acalento!

natalia nuno

o meu vôo...


Concluí que tenho medo
medo do desconhecido
medo...medo...medo!
não sei como viver
não sei o que fazer
sei...que o futuro é temido.
A vida caminha, até durante o sono
e a noite de temor me agita
deixo nela a vida ao abandono
aflita...aflita...aflita.

De onde venho?
Cantei madrigais,
agora estou cansada e nada levo
apenas tenho
alguns anos a mais...
que a contar não me atrevo.

Mas nada tão cruel
como aguardar o desconhecido
que vai enrugando nossa pele
em troca do tempo vivido.
Labirinto que ameaça profundo
o coração dolorosamente
mas o caminho está em aberto
e não acabaram no céu as constelações
o sonho está presente... por perto,
e o vento agita e troca desilusões
por ilusões.

natalia nuno

o que sinto...


o que sinto agora
me arde, me queima
acre melancolia
que em mim teima.

o caminho
é vinha vindimada,
vagas de memórias,
sereno meu mar...
que tudo e nada me oferece,
dia ameno, dia que adia
a morte,
o sol me aquece
e mantém-me viva.

chove apenas no olhar
que um dia brilhou,
e cantou
como um rouxinol,
hoje, terra morta onde bate o vento
e se foi o sol.
já nenhum espinho me fere
renego a compaixão
bati com a porta
meu coração só quer,
paz,
não se queixa, faz
que dorme....
num batimento
uniforme.

natalia nuno

versos apagados...trovas soltas


ainda com algum vigor
mas com rosto enrugado
vai escutando com dor
todo o seu ser acossado

com palavras aprendidas
vai repetindo o que sente
simples quadras nascidas
que por ora vêm à mente

memória traz consumida
tão cansada p'los anos
espirais de fumo... vida
do passado... desenganos

solidão e o frio da hora
e do tempo a fugacidade
afoga a tristeza e chora
da ausência nasce saudade

já tudo era ontem...
como a chama do rosto
não digam e nem contem
que já foi luar de Agosto

traz a ideia assombrada
e a tristeza ela encobre
é uma porta dissimulada
já sua visão é pobre...

seu sonho sua inverdade
mas é seu lar de esperança
com sonho mata a saudade
que traz de trás de criança.

natalia nuno

amor acabado...trovas


vermelho é o azevinho
ao pé da fonte água pura
não retrocedo caminho
levo a vida com bravura

não calo o pensamento
falo de quem muito amei
é grande este sentimento
o amor que te entreguei.

não me trates com desdém
que meu amor já perdeste
era teu... de mais ninguém
e foi pouco o que me deste!

agora que me não queres
não voltes à minha estrada
amor de esmola se queres?
não te posso dar mais nada!

enquanto a ti estive presa
era amor... era paixão...
agora trago a certeza
quero de volta o coração.

esquece lá a tua jura...
quem mais jura mais mente
basta a saudade que tortura
meu coração doidamente...

natalia nuno


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lembranças ditosas...


à noitinha o último canto da cotovia
e no meu coração como flor,
o amor nascia
os sons nostálgicos da tarde não morrem
vivem na memória de verdade
sou a jovem que recorda, o adulto que me ouve
sou a razão do meu coração pulsar
e aquela que com a saudade se comove,
trago ainda o odor do tomilho, o cheiro
da madrugada,
que são essência em mim enraizada
trago lembranças seduzindo-me com doçura
perfeitas, ditosas,
que são trinados de melros
com ternura...
abrem as portas do passado
trazem-me a brisa do salgueiro
o marulhar das águas do rio amado
e o sonho dum amor... o primeiro!

rememoro cada fruto silvestre
cada um com sua sensual fragrância
o êxtase de cada dia, o sol que ainda hoje
me veste enamorado, como quando eu era criança.
vive em mim toda esta felicidade
estremece a brisa quando me vê,
quando toca meu ouvido,
o tempo ficou longe, andam imagens rasgadas
sem sentido... mas será sempre eternidade
que levanta a primavera no meu coração
ajuda a sair desta saudade sem portas
até que minhas mãos estejam mortas.

o meu silêncio põe e dispõe
e assim me vai enclausurando
enquanto um cisne branco ma minha memória flui
e um lago de palavras vai murmurando
sedução que ao coração aflui...

natalia nuno

liberto os versos...


posso queimar todas as folhas
há só um senão
nada restará, nem o sonho
que ainda ouço de noite às vezes,
que a seu tempo acabará
quando a respiração for sustida
ao final desta alameda que é a vida
aos poemas dou nova oportunidade
retiro a condenação,
mas há um senão
que faço da saudade?
poemas ilusões por mim geradas
fazem parte de mim mesma
são mais fortes que todas as razões
são minha carne, meu pão
meu prazer, minha paixão
ilusões? pois que sejam ilusões!

são bálsamo com que mitigo a dor
o azevinho com que enfeito o natal
a quietude e o vendaval
a corda que me prende ao cais
custa-me a acreditar
que os queimaria e não os sentiria vivos
jamais...
vou mantê-los em liberdade
como o perfume das flores pela campina
e dizer-lhes da minha saudade
desse tempo de menina.

as flores encherão a terra
os versos flutuarão alheados ao tempo
só o eco da adolescência passada
virá ao ouvido ainda
derradeiro eco
neste poema que finda.

natalia nuno
rosafogo

madrugada fria...


as cortinas corridas, os estores corridos
soa-me o bater de asas aos ouvidos
com a chávena do café em frente
penso que talvez a morte que temo
me seja agora indiferente
a luz não entra, doem-me os sentidos
fecho os olhos e finjo que anoiteceu para mim
e assim, permaneço de mim esquecida
cansada do sonho,
cansada da vida
louca me reconheço, meus versos
são vagos, sem rumo,
longe da realidade
mas sem sonho ninguém vive
e vive sim, em mim a saudade

a vida não sei se tive
nem sei porque ando perdida
vou-me extinguindo como uma chama
que se apaga no cinzeiro do tempo,
as palavras afastam-se do que quero dizer
e, a alma esvazia-se de emoção
no rosto é visível a solidão...
entreabro as cortinas, o sol raiando lá fora
já não há treva que me assuste agora.
esqueço a obscuridade, sou livre como ave
trago comigo ainda amor e muita saudade
contemplo o horizonte sem sombra de melancolia
fico a ouvir o assobio do vento
nesta madrugada fria,
e sonho... iludida numa falsa eternidade.

natalia nuno

sigo em frente...


meu poema é feito de vida
do aroma do cravo e da rosa
da água do rio vagarosa
do perfume que me corre no peito
de promessas ao vento
com pedaços do pensamento
e meu sonho a ele sujeito.

da razão, tempo e vontade
bens que trago da idade
e sempre me surpreendem
prendo-me a esta verdade
sentimento que nasce
em mim e é Saudade.
desajeitada,
bato asas de contente
e sigo em frente...

natalia nuno

canção d'amor...


aos meus olhos és
a frescura do vento
que nasce nas montanhas,
a canção dum pássaro
que se eleva em nostalgia,
a palavra azul com que escrevo AMOR..

nataliarosafogo

este tempo que me toma...



Transfigurou-me o tempo, me abandono.
Fiquei do outro lado das despedidas
Com tanto silêncio, já me chega o sono
Trago gestos e palavras repetidas.
Goteja o orvalho é já madrugada
E eu indiferente à minha vontade
Trago da vida, a esperança estilhaçada
Sou no tempo a comoção da saudade.

Trago a fronte a latejar
Palavras me saem imprecisas
Este tempo me toma, e eu a deixar
Minhas raivas, em lentidão, indecisas.
Se ando fora do tempo é ousadia
Suspiro p'lo sol que me foge!
Vivo de sonhos e utopia
E peço ao dia que não me deixe por hoje.

Largo meu coração aos ventos
Palavras se estatelam no chão
Borbulham na minha cabeça pensamentos
E insistem as batidas do coração.
E assim, estala de novo em mim a vida
Um tesouro em silêncio abandonado
Como se voltasse ao ponto de partida
Ao final deste caminho traçado.

natalia nuno

mergulhada no sonho...


enquanto a vida passa
e não sei para onde me leva...
olho o poente,
a voz ausente
o coração sinto-o maior,
como um dançarino poderoso
ou um arauto promissor
de promessas de amor.

misturam-se perfumes no ar
tudo é efémero apenas sonho
sinto o aroma da terra ... saboreio,
e o coração bate sem freio...
vou desfiando segundos
regresso a mim com lentidão,
acredito em ventura pura ilusão
o tempo nunca me devolve nada,
e nesta mornidão sentida
o coração bombeia
a vida
que parecia em trevas
mergulhada.

embalada no cansaço
afundo-me de novo na inconsciência,
ao sonho...me abraço.

natalia nuno

pequena prosa poética...


acende-se a madrugada, na noite deixa a viuvez, canta o pássaro outra vez até arranhar o céu da boca, assim como quem despreza a tristeza, vagabundo dum sonho, que vai esperançando o mundo...

natalia nuno

quando as noites doem....


Estendeu-se o vento sobre as hortas
eu de cabelos soltos junto ao rio...
assim morria o dia, as horas mortas,
os pássaros se aninhavam ao desafio,
nos salgueiros que choravam as mágoas
e o pensamento me fugia, era livre
enquanto a luz da lua se espelhava nas águas.
E um nó me assentava na garganta
enquanto o rio se soltava em declive
açude que ainda agora noite e dia canta.

A solidão da noite é a mais dorida,
mas é à noite que gosto de sonhar
de dia vivo...vivo a vida!
Sonhando com liberdade de voar.

As rugas se soltam no meu rosto,
estou ainda viva nelas,
e trago no olhar o fogo posto
dos raios da tempestade,
páginas amarelas de indiferença
noites de silêncio grávidas de saudades,

diz-me brisa leve
que o tempo dos sonhos não acabou,
ainda que a vida seja breve...

deixa-me adormecer ó vento,
deixa-me neste chão a que me dou
deixa que a noite me cubra o pensamento
com rendas feitas de luar
deixa-me este meu jeito de sonhar.

rosafogo
natalia nuno

adormecem os medronhos...


a noite já beija a terra
todos os vultos se vestem de escuro
soltam-se os sonhos
adormecem os medronhos
quando o sol se vai por detrás do muro.
a lua estende o manto, sonho,
enquanto com o  luar, me encanto.
os dias esvaziam-me a mente
trazem até mim arranhadas memórias
penso nelas levemente
como se o destino se tivesse antecipado
e me falasse dum lugar abandonado
já um pouco impreciso,
desnorteados meus passos,
não me levam a lugar nenhum
mas no eco das lembranças ainda surgem abraços
e no silêncio fica a menina sem idade
a viver sem sonho algum
numa réstia de saudade...


natalia nuno

amor distante...


a estrela d'alva anuncia o dia
o seu brilho me estonteia a mente
anda a esperança fugidia
distante o amor da gente
foi-se o ardor da primavera
num relâmpago a luz sombria
é inverno, ai quem dera
voltasses pra mim um dia

natalia nuno

beijos...trovas


um beijo no mês de maio
não posso virar as costas
fico cega mas não caio
sei que de mim tu gostas

brilha o sol lá no além
meu cansaço, minha dor
no coração sem ninguém
já lá não mora o amor

beijos dão os apaixonados
beijos se dão de amizade
na mente trago guardados
beijos dados na mocidade

quatro folhas tem o trevo
por sorte logo encontrei
nas quatro folhas escrevo
quantos beijos eu te dei

só porque não posso aspirar
a uma amor mais verdadeiro
deixa por um beijo esperançar
inda que o sinta interesseiro


natalia nuno
rosafogo

este é o meu fado...


Cresce em mim a vontade
Nesta quietude da tarde
Mas vou deixar-me na saudade
Do Amor que inda em mim arde.
Me deixo ao sabor da corrente
Como rio que corre manso
Lembro de mim saudosamente
Não quero sair deste remanso.

Hei-de deixar o sonho medrar
O sonho que tive um dia
Dar guarida a este sonhar
Que sonhar o sono cria.

Lembro o papel perfumado
Onde embrulhaste minha trança
Também o beijo roubado
Ai, de lembrar já me cansa!
Fecho os olhos fico a cismar
Tenho minha alma perdida
Em meu peito vou guardar
O Sonho da minha Vida.

Loucos são meus desvarios
Das lembranças não me desfaço
Correm em mim como rios
Sombras de mim as abraço.


rosafogo
natalia nuno






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hão sei de nenhum lugar...trovas


não sei de nenhum lugar
e a saudade não me larga
trago a morte a rondar
e a palavra tão amarga

preciso soltar minha voz
às palavras quero dar vida
sou rio a correr pra foz
sinto a vida na descida

já levo tanta hora vazia
já vão cessando os passos
e numa longa melancolia
aquieto mãos e braços

m'tempo anda alquebrado
nem a solidão o conforta
o olhar é pranto chorado
e a saudade me bate à porta

não sei de nenhum lugar
minha rua está deserta
um dia o coração vai parar
logo a saudade o liberta


natalia nuno

incrédula vi a vida passar...trovas


sigo senhora de mim
sinto descer negra noite
talvez até seja o fim!?
a vida sempre m' afoite

recordando...

um riso fresco, tão doce
era o seu na mocidade
agora quem dera q'fosse
mas é choro de saudade

menina de figura esguia
seu olhar fundo sonhava
fruto ardente q'amadurecia
com o sol que a beijava...

era o viço da primavera
mais linda que a lua cheia
agora ai quem lhe dera
vai sonhando volta e meia.

reflexão......

queixume ou apenas receio
q' nem qualquer um escuta
vai a vida a mais de meio
taciturna vou levando a luta

que frialdade é envelhecer
resta um frémito de vida
vida, água do rio a correr
caminho nela reflectida.

natalia nuno




ouço as cotovias...


ouço as cotovias nocturnas
tenho sede de tempo
tempo que possuí
meus olhos estão cheios
de tempo que vivi
nascem flores azuis
no meu esquecimento,
e eu perdida vou e venho
na crista dos sonhos com que me
entretenho...

já nada me arranca lágrimas
trago recordações amontoadas
apoio-me na felicidade d'outros dias
liberto a dor presente, na palavra
o coração diz o que sente,
semeio esperança que pode germinar
se o tempo ainda deixar...

natalia nuno

pequena prosa poética...


no norte das minhas palavras abandonei a inocência, lá onde tudo era sonho onde lavrava a alegria, onde havia lufadas de sol, onde era seara e girassol, onde via regressar as papoilas vermelhas e os pássaros construíam ninhos nos beirais dos telhados...as estrelas vazaram, e trago agora os olhos molhados...fico a secar os olhos embaciada de emoção, sigo por entre a maresia à minha procura, porque me dói não saber quem sou nem onde estou, não me reconheço, e sempre que a mim regresso há um desajuste entre o sonho e a realidade, parto com velocidade... que mal fiz eu... quem secou a flor em mim? de trigo eu era... hoje sou girassol que morreu, assim... morreu-me também o tempo, sou pássaro no escuro à procura dum pouco de primavera...sigo caminho com o afago do vento não me deixo entristecer, não quero mais palavras, que já nada têm para me dizer...

natalia nuno

espera amor...


Perco-me no abismo do teu olhar
Morrem flores neste entardecer
Perde-se Vida num constante acenar
Mas a esperança volta sempre a florescer.
O tempo é como rapaz novo, a correr
Torna minha solidão ainda maior
Já nem o corpo me quer obedecer
Resta o tempo de lembrarmos amor.

Perco coisas que aprendi a amar
O tempo é colete de forças que me põe à prova
Que me aperta sem cessar
Mas deixa ainda no meu peito uma emoção nova.

Perco-me no abismo do teu olhar
Olhas-me de medo de me ver cair
Hesitante de palavras mas com vontade de gritar
ESPERA AMOR... a noite mansa que há-de vir!?
E assim foi sempre entre o deitar e o dormir
A nossa festa com brilho e chama
Esquecidos do tempo do porvir
É nesta hora que a gente sempre se ama.



ROSAFOGO
NATALIA NUNO

gratidão...pequena prosa poética


através das cortinas vou remando até à infância, nada me barra o caminho, e fico a boiar no poente em liberdade, agradeço a Deus a dávida do sonho, que me permite encher o peito de água nova, reconcilio-me comigo mesma, e em equilíbrio fica o interior...serena, mais lúcida, vou continuando o caminho...partem as horas, fica o cansaço, inacabado o sonho, voltam os anseios como trepadeiras dando-me o abraço e eu esqueço as canseiras, adensam-se os beijos frementes de desvario, suspiros do sol interrompem meu frio, escapo-me pelo meio da alegria e vou vivendo, sorrindo dia a dia...

natalia nuno
http://flortriste1943.blogspot.com/

pensamento...


...no caminho da memória,
o prazer lento da nostalgia puxa o fio das lembranças,
e, surpreende o coração.

natalia nuno

prosa poética...


quase mágico seu rosto, o olhar estendido labirinto de memórias, olhos que soletram o sol são a linguagem dum silêncio arrebatado, onde as sílabas são substituídas por música que vem do coração, jamais se é o que se foi, jamais se respiram as fragrâncias de Setembro, agora que o inverno se inicia e a vida nos fala em sua mudez, uma rajada canta no arvoredo da memória, que ainda palpita, voa e sonha....

natalia nuno

trovas...quem mais jura mais mente


vermelho é o azevinho
ao pé da fonte água pura
não retrocedo caminho
levo a vida com bravura

não calo o pensamento
falo de quem muito amei
é grande este sentimento
o amor que te entreguei.

não me trates com desdém
que meu amor já perdeste
era teu... de mais ninguém
e foi pouco o que me deste!

agora que me não queres
não voltes à minha estrada
amor de esmola se queres
não te posso dar mais nada!

enquanto a ti estive presa
era amor... era paixão...
agora trago a certeza
quero de volta o coração.

esquece lá a tua jura...
quem mais jura mais mente
basta a saudade que tortura
meu coração doidamente...

 natalia nuno
rosafogo
quadras de 2001

do amor fiquei à espera...


meus braços de tanto abraço
já acusam o cansaço
já só querem estar caídos,
os pensamentos perdidos
um imenso vai e vem
moram no sopro do vento
que os acolhe e entretém
desenho na palma da mão
como se fosse uma hera
o meu e o teu coração,
do fogo do amor fiquei à espera,
mas o vazio era evidente
nem tu nem eu,
adolescente...
era apenas ilusão, espalhada 
p'la minha mão...

 natalianuno

 

 

recolho as palavras...


Trago as palavras gastas
as rimas doentes
Chegam a mim indiferentes
fatigadas
Recolho-as no muro da tarde
fracassadas
Pousadas na saudade.

Sedentas de cumprir o seu papel
Entregam-se como o polen à abelha
Ou como a abelha se entrega ao mel
Soam secas, são como alimento
humilde
Amargam o meu tempo
Aumentam os meus medos,
a minha loucura de recordar.
Mas são a minha esperança de continuar,
a ouvir as minhas gargalhadas
a escutar as minhas passadas.
De me sentir no campo uma cotovia
em liberdade.
Dia a dia...
De morrer e renascer
com infinita saudade.

Palavras são a única voz que me resta
Gastas, indiferentes fatigadas,
como manhãs nubladas,
onde o sol é apenas fresta.
Que eu viva ou morra pouco importa!
As palavras atordoam a minha alma hora a hora
Abrem porta...ao meu peito
Invadem a solidão do meu leito
São testemunhas do meu desalento
Mas nada disto é em vão!
Pois elas são o meu sustento
O sustento do meu coração.


natalia nuno

rondam dias incertos...


rondam os dias incertos,
dançam cortinas de névoa no caminho
morre o sol na minha face aos pedaços
meu pensamento em torvelinho.
são agora inúteis os passos.
já nenhum espinho me fere nem choro
que me dilacere,
meu riso em botão, é estrela apagada
meu olhar é fogo-fátuo
e há lírios místicos na minha garganta
calada...

agita-se a memória,
já o estio nela habita
rondam sombras de desalento
tapo os ouvidos, não quero saber
se a morte me grita,
trago as asas mutiladas, e esforço-me por entender
porquê, o tempo as consumiu na voragem
deixou meu vôo, sem me reconhecer.
não me falem de nada, deixem minha lágrima fria
e esta cortina cerrada, em mim, noite e dia,
e nesta imobilidade, apoderar-se de mim a
saudade!

natália nuno
rosafogo

saudade...


o tempo ficou mais distante, deixou-nos nos olhos esta luz indecifrável que nos faz ainda subir aos céus...

nnuno

do outro lado...


surjo do outro lado do silêncio
trago trémulas as palavras
que dormiam no meu sossegado esquecimento
são agora rouxinol chilreando na memória
acometidas por louco vento
encaminho-as com a mão
e acarinho-as com o coração
e estendo o silêncio, velando as que sobraram.

natalianuno

é louca esta saudade...


Tenho saudade nem sei de quem
Levo a vida a pensar nisto
Sei lá donde a saudade me vem?!
Mas chega e eu não lhe resisto.

Saudade louca sempre a crescer
não me deixa entregue à solidão
Saudade que mais ninguém quer
sem ela m'espírito vagueia orfão

Deixo-me no sono branco d'águas
saudade é ave que canta no ramo
e o rio é q'esconde minhas mágoas

Saudade amargo doce em m'coração
q'inventa sonhos e sabe a quem amo
a quem dou a mão e partilho solidão.

natalia nuno
rosafogo
2001

Final...


Porquê não crer?
No final o sujeito está lá!
Se todos o podem ver?!
Rodeado de flores, amigos, ele está!
Vejo tudo ou tudo prevejo!
Do final a acontecer
Será agoiro o que vejo?!
Como cega queria ser!

A noite levou seu dia p'la mão
Já caminha num Mundo do avesso
Já lhe acabou com a inquietação
Às costas o leva ou de arremesso.
Ó céus! As horas passaram de raspão.
E ele renuncia a esta descida confusa
Que o envenenou, lhe tirou a razão,
Ignorou sua vontade.

Mas ainda enfrenta e se escusa
Pois já da Vida tem saudade.

natalia nuno
rosafogo




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já não sei se lembro...


na poeira do tempo minhas pegadas
continuo no meu entardecer,
trago as palavras caladas
por não as saber dizer
apenas murmuro as mágoas em tom
plangente, mas nem do coração ouço
qualquer som...também ele nada sente

melancolia de quem vai acenando à vida
deixando para trás páginas cheias
de viver e sonhar amor
que esvoaça incerto, não tendo por perto
das suas mãos o calor...

e hoje é como se o tempo se soltasse
esquecesse a minha já marcada face
e eu viesse ao mundo outra vez
só por fruir e amar a vida...talvez!

já toda me embaraço
reinventando memórias loucas
lembrando passo a passo
as carícias, os beijos das nossas bocas
fosse a nossa vida nada, sem amor e entendimento
não faria a saudade no meu coração assento
essa saudade que me escreve
e me lembra o que deve e o que não deve
faz dançar o coração, uma valsa lenta
e, a sonhar sempre me tenta.

natália nuno
rosafogo

no ocaso da vida...


Ando nas coisas do tempo perdida
perdida como o jorro duma fonte
que canta...canta ferida!
No esquecimento do monte.
Numa noite qualquer
com ou sem luar
hei-de gritar
O que não pode morrer
abrir de par em par
a alma, erguendo-me com rebeldia
e meu grito há-de ressoar
melhor do que a palavra faria.

Quando a minha mão cessar
e não haja mais que esquecimento
e seja um longo calar?!
Meu tempo será apenas um momento
e na mão que palavras escrevia
não creio que haja mais nada
só resignação fria e sombria.
ou uma esperança desolada.

Ando nas coisas do tempo perdida
vão-se as horas os minutos vagueiam,
pela minha atenção distraida.
na mente lembranças se passeiam,
no ocaso da vida.

E o olhar permanece atento,
aberto de par em par
com a suspeita da morte
que um dia vai chegar.
A vida foge para um sítio
onde nos resta esperar.

rosafogo
natalia nuno

o jogo do berlinde...trovas


criança só pode ser
toda de alegria cheia
joga para se entreter
ignora a vida feia...

na aldeia à vontade
na rua brinca contente
ó que bela a liberdade
vai aprendendo a ser gente

rua abaixo, rua acima
dois berlindes na mão
enquanto faço uma rima
sobre o meu belo torrão

nascem como erva danosa
que nasce por entre o trigo
mas são filhos duma rosa
amigos do seu amigo...

jogam berlinde no chão
são todos de grande riso
cai a tarde lá vão então
levam na boca um sorriso

às vezes uma triste queda
na aldeia a choradeira...
é a lágrima que não veda
vem o sono é bebedeira

enxuga os olhos e o rosto
faz à dor mais resistência
vai esquecendo o desgosto
promete a si mais prudência

no adro encontra alegria
lança o berlinde ao chão
a pobreza sobeja e enfastia
brinca e acha consolação...

natalia nuno
rosafogo
1995

nosso amor é louco


partilhamos silêncios
a ele nos remetemos...
falo à toa...
mas, o silêncio que se abate
me magoa.
plantámos o jardim
na esperança de o ver florir
dissipam-se as brumas do desassossego
és alívio para o meu mal, a sorrir
numa flor pego
ligados pelo mesmo pensamento
surge um estranho fulgor no olhar
é hora de amar.

não é possível alterar
o curso do nosso rio
nem desviar dos olhos
lágrimas mornas e delicadas
nosso amor é velho como o tempo
tão velho como nossas passadas.
é velha canção de embalar
que levamos a vida a entoar
balada cheia de ternura
que cura a minha tristeza.
sou rosa caída no chão
te baixas a apanhar
a luz esmorece um pouco
a lembrar...a hora de amar.

nosso amor é louco
como um bater de asas
e estremecimentos
guardo ciosamente os pensamentos
o porquê do silêncio esqueço agora
meu corpo tremeu

Oh meu Deus...e o teu!

natalia nuno

prosa poética...


sem saber de mim procurei recordar... e dei com uma tormenta, quebrei a solidão fiquei atenta, o sol brilhava e dizia-me que era ainda primavera, fiquei à espera, a amendoeira floria, mas o que eu mais queria, era encontrar-me, para defender-me do inverno, esquecer o inferno que é o frio na alma, a noite que desce sobre mim, e aquecer meus dias sombrios, por fim, romper a névoa que é forte no meu olhar, esquecer a morte e o tempo que me atraiçoou que fugaz me levou, e me faz procurar...onde estou?! cruzo o olhar com a vida mas até ela duvida...finda o dia com ele me afundo, sou afinal esta hora do entardecer...a morrer.

natalia nuno

sem quê...nem porquê....


No canavial o sol se deitou
E as estrelas chegaram atrasadas
Até a lua tardou,
Tarda a morte as passadas.
Eu recolhi serena
Como uma folha pequena
Ao vento minha vida embalei
Esqueci a pena,
e como pesa a ameaça
da vida que passa.

O coração sabe
Da sombra que a alma habita
Neste meu verso não cabe
A água dos meus olhos tristes,
nem a minha desdita.
Tão pouco os sonhos meus
que fogem, fogem para nada
Sem lua nem estrelas, sigo desolada.

Sigo arrastando-me
e ninguém me vê
A vida gastando-me
Sem quê nem porquê!

No meu olhar de frio aço
O verde é já desbotado
Na paisagem da alma o cansaço
A cor do desespero é o meu fado.
Suspensa na minha face
Há uma lágrima que vai rolar
Como se a vida me arrancasse
A última janela, a que ainda quero assomar.

rosafogo
natalia nuno

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uma nova vontade...


Uma nova força me invade, não cansa
Até a Vida me parece mais companheira
Tenho saudade, mas nasce uma esperança
Transfiguram-se sentimentos
E a vontade fica cimeira!
Nos meus pensamentos?
É como se a luz voltasse a estar acesa
Esqueço o vazio d'outras horas
E é também na amizade, concerteza
Que eu agarro novas auroras.

Sinto-me como flor silvestre
Aguardando o esplendor do azul celeste
E quando tudo parece soçobrar
Esqueço rugas e canseiras
Ainda que presentes e verdadeiras
E deixo-me assim... a sonhar!

Bate-me no rosto o vento
E a chuva teima em cair
Mas eu hoje estou calma!?
A força de vontade não vai extinguir,
Hoje sinto-me um corpo só alma

natalia nuno


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a alma suspensa... prosa poética.


o tempo passa e já pouco me move, com ele os dias vão e já não é vasta a alegria de viver como outrora, e a vontade de quando em quando anda escondida num esconderijo do meu cérebro, mas há sempre um relógio no meu interior que mansamente me desperta e me vai levando mais um pouco avante e aí me sinto como uma criança silenciosa que só agora acordou e vai acolhendo a vida conforme ela se lhe depara... e lá vou enchendo de palavras o ar que respiro. e ao mesmo tempo recordando a infância, relembrando o anoitecer morno das tardes de fim de verão no lugar onde nasci, as gentes que amei, as flores baloiçando ao vento e o perfume macio vindo dos laranjais, lá fico a sonhar, volto a noivar, sou menina do campo trago a luz da primavera nos olhos, a voz fresca como uma manhã orvalhada, nos cabelos o odor a hortelã e a alma suspensa como se fosse renascer de novo...e, milagrosamente saio do labirinto, acolho a vida sem nevoeiro, ao contrário, prometendo-me sol nos canteiros do meu coração...perco-me no infinito da memória, fecho os olhos e do sonho não pretendo mais acordar e nem o aroma das letras me trará de volta.

natalianuno

mais morta que viva...


cai o orvalho no meu sonho descuidado
vem do choro das ribeiras ao primeiro
raio de sol, trazido pelo vento norte
traz das rosas o cheiro
e a notícia gélida da morte
estranha mágoa deixa-me pensativa
sinto-me flor em jarra d'água
mais morta que viva.
há nuvens sombrias e os lírios
estão tristes, passam os meus dias
e nem sei se existes, oculto amor
oculta dor, por mim já choram os laranjais
e um rouxinol na tarde canta os meus ais
meus olhos adormecidos, deixei-os a descansar
enquanto o silêncio à minha volta é tumular.

medonha e baça é a luz do candeeiro
chegou a noite saudosa, outro sonho desfeito
descanso a cabeça no travesseiro
e sonho com o amor que me cabe no peito
olho as velhas estrelas, e penso como foi
curto o caminho, o azul já não fica distante
e eu quero deixar-me morrer ...lentamente
à luz do poente.

natalia nuno
rosafogo

ouvindo o coração...trovas


sinto o vento a correr
meu coração agitado
sofro eu por não te ver
logo o coração parado

por ti me deixo prender
teu olhar é minha teia
passa o vento a gemer
meu coração se incendeia

meu corpo quase voando
todo ele fogo da paixão...
com loucura vai-te amando
sem cabeça e pés no chão


natalia nuno
rosafogo

não demores...


não demores
vem ver nascer os lírios
não pode haver tempo perdido
vem olhar o alecrim
a rosa brava,
está amarela a giesta
tudo faz sentido
até nosso amor está em festa.
não demores
para não me sentir só
vem sem demora
já está raiando a aurora.

o sol ilumina as frontarias
sabe tudo sobre nós
do pranto em que nascemos
da viagem dos nossos dias
das cicatrizes da viagem
anda não demores
antes que esqueça tua imagem

quero suportar a travessia
quero ter-te por companhia.

natalia nuno



pensamento...


trago o sorriso algemado,
e silêncio apontado,
um estranho pássaro na nudez da palavra,
e a memória em fuga sedenta de ternura.

natalia nuno

chão de beijos...trovas


de onde vem esta tristeza
de noite ou nas horas claras
da nostalgia é com certeza
saudade q' em mim deixaras.

na concha dos meus ouvidos
falaste-me tão devagarinho
arrepiaram-se meus sentidos
com os arrulhos desse carinho

vencida p'lo espasmo ardente
cercada de sonhos e visões...
logo o rosto de rubor palecente
chão de beijos... aos milhões!

fui rosa tremulando à aragem
enamoradamente em harmonia
sou rosa murcha sou miragem
entre sóis, ora noite, ora dia

espantam as cigarras a solidão
entre vivos ocupando seu lugar
pisa-me o peito, o coração
escuto meu lento desagregar.


natalia nuno
rosafogo

Era flor da Primavera...trovas


Saudades trago da era
D'outros tempos felizes
Saudades de quando eu era
Arco- íris de mil matizes.

Era flor da Primavera
Abriu num fechar de olhos!
Olho para trás quem dera
Ser essa flor, aos molhos.

Era então moça bem nova
Usava saias... aos folhos
Agora faço uma trova!
Com as lágrimas nos olhos.

natalia nuno

este fogo que me consome...trovas


nem antes e nem depois
e assim por ti espero
não anda o carro de bois
à frente que eu não quero

não é vergonha nenhuma
dizes tu não me convences
eu não sou como algumas
não me seduzes nem penses

estás tão longe nem te vejo
passa aqui para o meu lado
talvez sim te dê um beijo
mas vê lá bem tem cuidado

este fogo que me consome
não tem tamanho nem medida
vem matar-me a minha fome
que ando por ela consumida.

natalia nuno

horas que não voltam...


olho a luz que nasce
esqueço os restos da noite
das horas que não voltam
mas que deixam sabor nostálgico
e a memória se nega!
rompe o dia a solidão me pega.
urge renascer
esquecer a fuga dos dias
mesmo sabendo que é grande a luta
que a vida foge como o vento
que são poucas as alegrias.
num adeus lento
no vazio o caminho que acaba
em qualquer lado
fica o desejo de recomeçar... parado.

e a cabeça pensa...
não deixes, que o tempo te vença.

natália nuno



Meu sonho nasce onde?


Meu sonho nasce onde?
Sonho duma vida cumprida
sonho que se desfolha
como o cair de folha a folha,
na cena da lembrança...
Dou comigo a sonhar-me,
vejo-me criança
e vou para mim a correr
dou a mão à madrugada,
vou sempre ao mesmo paradeiro
fico de vida cercada
nesse longuínquo Janeiro.

Meu sonho é oração rezada
nele volto ao passado
e há frescura e perfumes
no ar
descubro meu olhar molhado
deixo-me de saudade chorar
Nesta dormência, volto lá
ao tempo da inocência,
lá, onde venturas sonhei
e é lá, onde me sonho
que sempre me acharei.

natalia nuno

pequena prosa poética...


abro as gavetas às escondidas e meus dedos leves dedilham memórias, e enternecida recolho palavras debaixo da língua cheias de saudades de tudo que só eu sei...saudades tão grandes que não cabem no peito, respiro fundo e sinto o coração a bater, cada lembrança faz ninho em meus olhos e cura.me da solidão... vim voando desde a Primavera, até que o Inverno me tocou, e poisei no chão da desilusão, morreu-me o tempo dos sonhos, despi-me de papoilas, vesti violetas, esfacelei o riso e agasalhei a saudade que é na verdade, a giesta que desembacia a poeira do meu dia...

natalia nuno

folhas caídas...


Quanto mais a noite é escura
Mais brilham estrelas no Céu
Nem sempre o amor assim dura
Mas... dura o meu e o teu.


Os sonhos, o vento levou
São folhas secas p'lo chão
Lágrimas da fonte que secou
Desfeitos p'la vida em confusão.


É sempre Amor que nos anima
E o beijo que nos embriaga
O desejo cresce e aproxima
Mas é o olhar que se alaga.


Enfeiticei-me com teu sorriso
E com tuas graciosas maneiras
Mas trago o coração indeciso
Nas brasas das tuas fogueiras.


Sem temor nem hesitação
Entreguei-te a vida inteira
Com tanto amor tanta paixão!
Fiquei cega de tanta cegueira.


Deixo-me afogar em teus braços
Vivo desta fugaz ilusão.
Penetro num mar de abraços
Me diluo, em rio de paixão.


De todos os sonhos sonhados
Nem todos a Vida matou!
Rumam em ventos trocados
Calam-se os ventos, lá estou!


E na ânsia de te querer
Já minha força é pequena
Não tenho mais pra te dizer
Só que o amor...valeu a pena!

rosafogo
natália nuno

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não preciso de caixão...


Com o tempo surge o desanimo da vida
Até o corpo não resiste às mudanças da lua
E a tristeza fica em mim retida
Nem ouço os passos das gentes na rua.
A cabeça parece a mó dum moinho
Andando sempre à roda
Das coisas que se aproveitam, nem adivinho
Tudo parece fora de moda.
Assim como estes caixilhos da janela!?
E até a ribeira ao longe que avisto por ela.

Trago secos meus gestos
Um mar dentro da minha cabeça
Do meu sol, já sobram os restos
Fecho a janela antes que adormeça.

Choveu no meu corpo inteiro
E de lama desfeita me deito
Olho a última vez os pássaros, respiro da giesta
o cheiro...
Deito a memória no lastro do peito.

Uiva o vento com alguma intensidade
As gentes vivem num arrastar pesado
Arrastam-se numa pesada saudade!?
Que do presente nada possuem, só o passado.


Por que há-de a Vida condenar-me
Até sonhando me traz inquietação
Há-de vir a morte roxa pegar-me!
Pois me entreguem à terra, não preciso de caixão.

Rosafogo
natalia nuno

pensamento...


a Primavera chegou um pouco triste, celebrando a chuva e agitando as neves...deixa o céu condenado a perder o azul da sua origem, enquanto o sol que o marginava, perdeu a memória...

natalianuno
https://pensador.uol.com.br/colecao/nataliarosafogo1943/

a viagem...


uma lágrima furtiva
brilha no fundo do ohar
navego na imaginação
à lonjura vejo um lugar
e eu aqui na solidão
no desdém da noite
que me tenta afogar
tive sonhos cor de rosa
que ainda vivificam em mim
mas ironia
não os tenho mais assim
hoje em dia.

foi-se o tempo
dos lábios pintados de fresco
do sorriso de frescura
de tanto afecto para dar
sentimentos no peito
a apertar...
hoje sinto a alma vazia
o tempo não tem paragem
e vai longa a viagem.

natalia nuno

dueto...rio/salgueiro homenagem ao rio da minha infãncia


dueto...rio/salgueiro

rio:

pergunta o rio ao salgueiro:
diz-me o que foi feito dela
sempre a avistaste primeiro
quem sabe... estará à janela

salgueiro:

cada pergunta que fizeres
- tu espelho de mil faces!
vê-la-às quando quiseres
sempre que por aqui passes

um dia vais como quem
leva o regresso já perdido
mas no coração d' alguém
jamais estarás esquecido

rio:

salgueiro olha para o céu
manda recado pálo vento
diz-lhe deste amor tão meu
q' levo ao mar como lamento

onde estará hoje em dia
o pé não pôs mais na água
nem ouve minha melodia
por isso ao mar levo mágoa

salgueiro:

pergunta então ao moinho
ao açude que por ela chora
chora por ela tão baixinho
que um nó me dá nesta hora.

minha folhagem castigada
lembranças guardo no seio
e na solidão da madrugada
sonho que ela por aqui veio

rio:

ai salgueiro que eternidade
hoje levo minha água baça
levo esta maldita saudade
que tenho dela e não passa

não trouxe a roupa de côr
nem a branca pôs a corar
escreve mil poemas d'amor
não tem data para voltar...

salgueiro:

tempo que ainda me cabe
tão decisivo e derradeiro
dir-lhe-ei que a roupa lave
ao avistá-la lá no carreiro

sabes demasiado bem
esta saudade é um inferno
tu, eu, ela e mais ninguém
entre nós um amor eterno.

natalia nuno
rosafogo
Setembro/1995

pensamento...


multiplicam-se palavras na seara do tempo mas nem sempre dão pão

nnuno

pensamento...


no alpendre do meu sorriso, a saudade és tu...a memória corta o silêncio e os teus lábios colam-se aos meus...

natalia nuno

pensamento...


O esquecimento habita ao redor de pálidas lembranças, velhas companheiras, tecedeiras de esperanças, se elas morrerem, nada sobrevive na memória...

natalia nuno



perdi a idade...


O vento traz-me a juventude,
que perdi sem dar conta.
Perdi a idade!
Agora a saudade,
amiúde
Me lembra a idade que desaprendi.
Tempo de silêncios amargos,
hoje senti.
Ocasionalmente me visita
a esperança e me afaga
E a tristeza do olhar me apaga.

Passa por mim
a brisa tépida dum tempo sem fim
E eu não pertenço a tempo algum
Sou passado, presente, futuro ou nenhum!
Trago na voz uma gargalhada
Mas a alma sem luz desabitada.
Meus pensamentos são relevos
Nos meus sonhos crescem trevos.
E no rosto sem idade
Uma ruga oculta na dor
E lá volta a saudade,

Cai a noite sobre a minha janela
A memória é traiçoeira
E até ela...
Me deixa entre a realidade e a ficção
Será como Deus queira,
Até que bata o coração.

Hoje não há estrelas no céu
E a chuva cai em pranto
como eu.
Desencanto!

Resgato-me do esquecimento de mim
Esqueço o rosto de rugas povoado
E fico assim...
num sonho de maresia perfumado.

natalia nuno
rosafogo



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prosa poética...


sem saber de mim procurei recordar... e dei com uma tormenta, quebrei a solidão fiquei atenta, o sol brilhava e dizia-me que era ainda primavera, fiquei à espera, a amendoeira floria, mas o que eu mais queria, era encontrar-me, para defender-me do inverno, esquecer o inferno que é o frio na alma, a noite que desce sobre mim, e aquecer meus dias sombrios, por fim, romper a névoa que é forte no meu olhar, esquecer a morte e o tempo que me atraiçoou que fugaz me levou, e me faz procurar...onde estou?! cruzo o olhar com a vida mas até ela duvida...finda o dia com ele me afundo, sou afinal esta hora do entardecer...a morrer.

natalia nuno

raminhos de alecrim...prosa poética


hoje vim apanhar raminhos de alecrim, escolho caprichosamente, como se as minhas mãos fossem de delicado artista, que tanto escrevam e me façam sonhar afagando meu tempo de outono...as águas alegres do rio sorriem para mim, um freixo agita a ramagem com a aragem que vai para sul...um constante silêncio, apenas interrompido pelo chilrear duma ave na azul lonjura...no destino da tarde trazemos lembranças nostálgicas, no coração e no no pensamento, ecos desprendidos da infância, a nostalgia se aprofunda e recordamos os poentes dos dias inolvidáveis e inesquecíveis...mas hoje vim apanhar alecrim aos molhos, e por mim passam todos os dias da minha vida, e no meu coração há sempre uma cicatriz pronta a abrir, deixando-me numa saudade que às vezes é de lágrimas, outras de risos. mas sempre me protege do esquecimento...as minhas mãos recordam essa vida distante, de lavar no rio, de escolher os figos na eira, de segurar a cântara à cabeça, eram estes afazeres os livros que tanto ansiava e nunca tive... acordar o passado e deixá-lo no meio do silêncio da gente e da natureza, é acender uma chama onde existe força, emoção, e ainda caminho para prosseguir, quase alegre como se tivesse asas para perseguir as palavras que vou plantando neste doce cansaço que me reconcilia com o tempo e com a vida...hoje aproveito a dávida deste aroma do campo para matar a sede dos meus sonhos. E sempre faço a mesma pergunta: quem és? porque continuas aí? E a menina do baloiço me sorri, já começa a esfumar-se o seu rosto, apenas alcanço a sua ténue voz...já é apenas um sonho!


natalia nuno

e já não somos...


são intensos os momentos
que levo dentro de mim,
já a juventude envelheceu,
hoje sou só o canto do rouxinol,
a vaguear ao acaso nas ramadas da saudade...
caindo na agonia
como quem de tudo se despede
sem prisão, apenas com a paixão
p'la poesia...
que se arrasta ardente nas minhas veias
singela, sem peias,
às vezes envenenada
de saudade, de solidão
mas sempre a sonhar deter
o tempo fugitivo
aquele beijo cativo
o sonho que fomos...

e já não somos!
é a verdade e é tudo
nem o ar, nem a brisa
apenas o esquecimento mudo.

natalia nuno

não há saída, não!


está o amor no mosto
logo será licor puro
que se bebe com lentidão
juro, que embebedo meu coração
vai subindo no sentimento
senta-e na escada do olhar
e é vê-lo com assombro
em bebedeira endoidar...
a aguardar da partilha o prazer
e o desejo adivinhado
de colheita bem frutado
e o desejo de o querer

seduzidos e sedentos
desta vontade adivinhada
nascem outros sentimentos
prontos a fazer escalada
desprende-se a alma e voamos
nem precisamos voltar
e há estrelas a pulsar
enquanto nos amamos

e tudo isto se passa sem conta
nem medida e o amor
é o licor de planta desconhecida.
que embebeda docemente
uma anestesia diferente
para a qual não há saída.

natalia nuno

não olhes mais o retrato...


Não olhes mais o retrato
Deixa-o longe do teu olhar
Se o olho a chorar desato
E não são horas de chorar.
Tens-me aqui de corpo inteiro
O retrato, pouca importância tem
Tens meu perfume, meu cheiro.
Deixa-o ficar!?
Na moldura como refém.

Ele tem o que me falta a mim
Eu tenho o que lhe falta a ele?!
Mas se me quiseres assim!
Com jeitinho?!
Verás não perdi o mel.

Esquece a do retrato formosa!?
Vem até mim e me estreita
Já vi murchar muita rosa
Mudando a àgua, se ajeita...
Volta a ser flor mimosa!
Se estivermos em harmonia?!
Esqueces que ela existiu já
Nesse papel, ela é fria?!
Deixa-a!?
Vem caminhando p'ra cá.

rosafogo

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Onde a luz é mais forte...


Onde a luz é mais forte
Meu olhar no espelho desaparece
Angustiado, com medo da morte
Com toda a angústia que o entristece.
Como destroços na rebentação
A vida desaparece entre as mãos
E o corpo adormece em acomodação.

Onde a luz é mais forte
Há sonhos embalados
Como se a vida estivesse pra chegar
Em sonos delicados,
donde não se quer jamais acordar.
E a vida floresce
p'los meus dedos a escorregar
Redescubro de novo a vida e acontece
que cada segundo é uma gota que cai
e não deixa a vida mirrar.

Onde a luz é mais forte
É onde rebusco sonhos ingénuamente
Enquanto o espelho se embacia de mansinho
Flutuo no sonho tão profundamente
Como se fosse desenhando o próprio caminho.

natalia nuno
rosafogo

presença perturbadora...


louca a aranha do tempo
vai sulcando meu rosto
sou velha lembrança saudosa de tudo,
enfeitiçada apesar da crueldade
piedade? nada traz de volta!
apenas este silêncio mudo,
e minhas mãos ávidas e macias
aguentando o desprezo dos dias
que passam prontos a cegar-me.
e a vida, sem nada para ofertar-me,
resta esta lembrança que sou
de memória enlouquecida,
a arrastar-se sem remédio
num tempo que a modulou
tempo de tédio...
se queres compreender
o que me vai
na alma,
entra cá dentro
ergue-te ao jeito
dentro do meu peito,
aí verás a que escreve insatisfeita
dia a dia, desde que a manhã desponta
essa sou eu,
de rosto corroído, a verdadeira,
a outra? a outra morreu!

natalia nuno

mito...


qualquer que seja a razão
não sei o que me traz a sonhar
deixo o amor no sonho pousar
sonho com coisas que me traz o coração
e meu sono fica mais solto
e entre o meu corpo e o teu
eu vou e volto
faço do sonho a eternidade
não quero perder-te
sonhar, é o gozo de ter-te.

natalia nuno

pensamento...


já foi primavera no meu jardim, já brilhou o astro-rei... agora na sua ausência uma infinita paciência, e a saudade a perfumar, o lento colapso deste caminhar...

natalia muno

pensamento....


abre o baú, fica perto dos sonhos ou dos momentos ébrios d'amor, sente o pulsar do tempo e sorri porque é grato recordar...

natalianuno

que é feito de mim?...


O meu canto lembra sempre Outono
Mas vou cultivando Primaveras
E sem descuido ou abandono
Faço delas minhas quimeras
Dos meus sonhos faço um jardim
Dos meus ais uma queda de àgua
Brota, límpida com cheiro a jasmim
Levando com ela minha mágoa.

Deixo-me consumir pela Vida
Trago a alma deserta de esperança
Na testa mais uma ruga perdida
Nada resta da menina da trança.

Abro minha vela ao vento norte
Nesta azulada tarde
Largo meus olhos pelo oceano à sorte
Devassada pelo vento minha saudade.
Há em mim um sudoeste impetuoso
Onde minha imaginação se aviva
E onde sonhar acordada eu posso
Sem da Vida me sentir cativa.

Desce o Sol sobre a crista do monte
Tudo recolhe na natureza
Estende-se o silêncio pelo horizonte
E em mim cai dia a dia a incerteza.


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sonho d'amor...


a noite estremece ao redor
da nossa cama,
o amor ainda fulgura,
ainda por nós chama
é grande a ventura,
apesar da memória já obscura
povoa-se de fantasia
enquanto eu sou
e tu és
a minha força, a tua força,
dia a dia.
o fogo é esse,
ainda temos muito prá andar
deixa nos teus braços descansar,
do cansaço que o inimigo tempo
em mim plantou
quero sempre voltar a te ofertar
o amor
que em nós nunca se recusou.
entra a lua pelas frestas
esquecemos o mundo á nossa volta
afecto é o que nos resta
só o tempo me traz revolta.
e o sono sem saber
se deve ou não aparecer
assim nos amaremos
até Deus querer.

natalia nuno

sou a tua namorada...


anda o tempo a esbracejar
faz o meu sonho
imperfeito
é como uma serpente
que se apodera do meu peito
a solidão a insinuar-se
e eu sonho-te lentamente
e este amor quase puro
regressa ao coração
ao rubro,
não encubro
que te amo
és meu sol de há muitos anos
és a minha noite estrelada
e eu tua namorada.

natalia nuno

amor saudade...




já não tenho mais palavras para dar-te. guardei-as nos teus olhos como se as sepultasse, para escrever mais tarde um poema que me amasse, me fizesse sentir viva, me falasse a tua língua e não esquecesse de me deixar ao teu beijo cativa...amor perfeito este que trago a latejar no peito, como uma festa de estio, amor que é rio, e é ponte que atravessa meu horizonte, tempestade e serenidade... amor que é saudade!

natalia nuno

apenas trovas...


fiquei-me ali a uma esquina
a somar umas vagas horas
olhei-me era ainda menina
recordei brincos d'amoras

a manhã era de poesia
e eu brinquei até à tarde
fui menina neste dia
logo me veio a saudade

escrevi meu nome no chão
com uma pedrinha de giz
depois desenhei um coração
o que, à terra tanto quis...

mais que sombra não era
mas tinha asas e voei...
tinha os meus à minha espera
mas era sonho e chorei

meu nome já não é papoila
desfolhou-se por entre trigo
nem menina e nem moçoila
sou mulher de tempo antigo

mas me lembro de ter sido
meus olhos se lembram bem
a menina dum tempo ído
de entre o rio e Banda d'Além.

e sempre que o sol sorrir
meu coração reaquecer
à minha memória há-de vir
o som do moinho a moer

encho as mãos de lirismo
elas que cantam e choram
há dias em que tanto cismo
que saudades não demoram

fico como uma ave lenta
sem vontade de voar...
mas o coração acalenta
que um dia hei-de voltar

faço bravos meus versos
como poeta amo a terra
trago-os aqui, ali, dispersos
já p'lo mundo andam na berra

natalia nuno
Banda de Além a aldeia onde nasci
Torres Novas

olha-me c/ amor... trova


Não m'olhes assim de frente
que apontas armas ao peito
olha-me antes docemente
olha amor... mas a preceito.

natalia nuno
rosafogo

pensamento


vou ao relento de mim em pequenos vôos, levo uma lágrima a esboroar-se p'lo rosto, e a serenidade duma borboleta por entre os cheiros da aurora...

natalia nuno

soturnos momentos...


mais um dia passado, o mundo da aldeia povoado de matizes dourados, e a noite vertendo já o cinzento que em breve se transformará em negro, ficarão os pássaros de asas apagadas, de pios inaudíveis, instalando-se rápidamente nos ramos antes que se sintam bruscamente perdidos...

natalia nuno

trovas d'amor....soltas


saltam os olhos em pranto
o coração salta no peito
de tanto, eu te amo tanto
é o amor... amor perfeito

entre flores surge formosa
com sua modesta graça...
d'entre os lírios formosa rosa
veste os olhos de quem passa

do mar, pérola ou sereia
da terra papoila menina...
meu rosto de água e areia
o céu azul o fascina...

depois do tempo passado
passa por mim e abala...
trago o peito tão agitado
quando vem comigo à fala

tudo volta a ter sentido
dentro o meu coração
anda de amor perdido
não quer saber da razão

tudo aquilo que te dou
o tempo não leva não...
o coração se entregou
morre agora de paixão

natalia nuno
rosafogo

partiram as palavras...


desconheço onde param minhas palavras
talvez pela rua da amargura
ou morrendo de cansaço, caindo como fruta
madura...
abandonaram minha mente
incendiada, e fugiram na noite pela calada
ficou meu olhar triste, sinto a lágrima
ainda quente,
na pele enrugada, ficou a emoção
e não há nada que deixe antever de novo a alegria,
mais lenta ficou minha mão
e maior é a solidão, e a melancolia

pouco a pouco despovoa-se o pensamento
palavras fizeram a última jornada
coisas soltas, aqui e ali, chega o desalento
partiram as palavras para a eternidade
metade metáforas ilusórias
e a outra metade palavras de saudade

já não tenho nada de que me lembrar
na passagem do tempo adormeceram
sentimentos, talvez um dia possam voltar
assim como as palavras que eram o porto de abrigo,
e se a dor aguentar
terei de novo o sonho que reparto contigo.

natália nuno
rosafogo

QUANDO O SOL DORME...


quando o sol dorme
mato um pouco de desespero
falando com a solidão,
vou até à esquina de mim e assim
deixo que o coração
fervilhe de sentimentos, embora saiba de antemão
que a noite arrefece o corpo e os pensamentos.
logo o verde dos meus olhos vai até
onde começa o dia, e brilha deslumbrado
como se fosse um verde prado
onde crescem giestas,
e onde há linguagens em festa.

quando o sol dorme
há pássaros nos meus dedos
que sabem a direcção dos ventos
arautos dos meus pensamentos
e no verde dos meus olhos, vai-se apagando a neblina
logo ouço ao longe os trinados
que trago na recordação de menina

quando o sol se deitar mais cedo
e a vida a beber o ultimo trago, a esvair-se
o verde dos meus olhos fechar-se-á a medo
de não voltar a abrir-se
não voltará a sentir a opalescente luz matutina
nem recordará mais a imagem da menina
ah se o sol não tivesse adormecido
e o verde dos meus olhos empaledecido,
nem as opalinas luzes me entrassem na alma,
causando esta obscuridade
não morreria hoje de saudade!

natalia nuno

a chegada do Outono...


o outono já se faz presente na sua escura fragrância, é um jardim na penumbra...a sua luz é sensual, passa o seu tempo numa quieta agonia, é tempo de inacabados sentimentos, vai-nos desfigurando as feições e despindo a vida em silêncio, fala-nos com voz melancólica, sutura-nos as feridas, para que nunca mais voltem, e desfralda um arco-íris em nós para que a memória não se esfume, quer que perpectuemos o valor da vida para que não se apaguem as recordações, e nem sorrisos que arrancamos aos sonhos... tranquilo, amigo é este tempo de outono...que se importa que continuemos cuidando de nós, mesmo no frio das horas..olho o horizonte e procuro por aquele fogo feliz, e já não sinto, e não sei por quanto tempo seguirei neste mundo a que pertenço, as ruas são incertas e fugidias, e as sombras aumentam, sinto o mundo a desabar, fico sentida e muda de olhar quebrado, estremecem os rios do meu corpo e o vento adormece no meu peito...
natalianuno

festim....


no mar do teu corpo me perdi
inteira diluí-me na tua corrente
no furor da rebentação
vales distantes percorri
entre o prazer e o sonho...
e os aromas da paixão

o sonho me enlaçou como uma hera
em horas de delírio e rendição
e o amor me rodeou com sua dança
em impulsos vorazes de desejos
assim prossigo inteira nesse teu mar
neste sonho que é tão meu e teu
prisioneira dos teus beijos
do nosso amor, nosso festim
certeza de ti e de mim.

a loucura dos instantes
mesmo aqueles que não tive
fui água amanhecida
sedenta
como riacho de verão
nos dias que se apagavam sobre si
numa lânguida lentidão
com saudade de ti.

natalia nuno
rosafogo

pequena prosa poética...


ouve as marés nas areias mordidas pelo sol, e ali encalhadas ficam-lhe as ideias, procura então renovar-se dando asas ao seu vôo, sonha , palpita de saudade, agarra-se à vida com tenacidade, estende o olhar ao dia que ainda lhe pertence...há dias em que a existência lhe parece obscura, tem o desejo e a necessidade fremente de claridade, do sol primaveril, e num despertar absorver o ar puro e fresco que lhe chega do mar...e nessa luz matutina recordar a menina, ouvir o galo cantar notas duma bela sinfonia, olhar o infinito com o ouro a queimar, tudo a penetrar-lhe a consciência, deixar-se a flutuar num céu lavado e límpido por entre os salgueiros, e os cheiros das rosas selvagens... o vento traz-lhe mil recados, mil imagens que voam com leveza dentro dela...e a maré recua, no céu, em êxtase a lua.

natalia nuno
http://flortriste1943.blogspot.pt/

entrega...


viaja a boca até à boca
alegria, loucura, feitiçaria
e já a mão se desloca
o desejo cresce, esfuzia
no rosto a alegria
o entusiasmo redobra
coisa louca os beijos da tua boca
e meu corpo te cobra
que seja dia de festa
e o que tem de melhor?
a entrega ao conquistador!
... e eu me entrego com amor.

natalianuno

prosa poética...


Olho a Lua fria e repousada, num céu onde é rainha há milénios, tudo parece tranquilo, como se a Vida corresse sobre rodas. No meu pensamento renascem lembranças de tempos ídos, mas fácilmente se adivinha que apenas a Lua é rainha, enquanto eu, esmoreço no lusco-fusco da noite com as palavras em silêncio, perdida na memória do tempo.

natalia nuno

a espera...


não posso enganar os dias
nasci ontem e nasço hoje
e assim a vida me foge.
uma hora, outra hora
conto uma a uma desde que foste embora
à janela deixei o sorriso
aprendi a viver de ilusão
na longa espera, amor
dou liberdade à imaginação.

natália nuno

a saudade dói...


longos dias... correndo vão!
solitária vai a m’ alma magoada
em luta a mente e o coração
e neles a tua imagem gravada
nas horas vagas minha vida se evade
fico rio solto no mar
deixo-me numa aparente imobilidade
sonhando com beijos que me dás
e eu te vou dar…

em certos momentos nada te digo
sonho um tempo que me afaga
- que é agora nosso inimigo
trago saudade no peito ancorada
do tempo
por nós vivido...

escuto a noite numa solidão sem par
apoio o ouvido na almofada
sou de novo esse rio solto no mar
ziguezagueando p´lo teu corpo
sentindo-me amada

e tu és o meu mar de água cálida
que me chega à cintura
e com leveza teus lábios me beijam
com ternura…
fica meu coração toldado
abre-se a noite e perdura
sabendo que estás do outro lado
deste sonho por mim sonhado
e que tão pouco tempo dura

já meio morrendo vamos!
mas sempre no meu sonho te ergues
e eu sempre posso alcançar-te… e amar-te
já me assalta a aurora
já a noite se foi
sou o vazio agora
e a saudade me dói.

natalia nuno

espero-te...




aquele doce cansaço
depois do amor é ouro
sobre prata, que de satisfação
quase nos mata,
depois dum mar tempestuoso
ficamos um lago sereno
um sorriso quase de adolescência
deslumbrados de amor
dispostos a amar a vida
como se esta fosse primavera em flor

espero-te
sempre com o mesmo fogo
e a frescura duma manhã orvalhada
e no regaço da noite nos amamos
pela hora calada
chegaste à minha vida
quando tudo era sol em mim
água sedenta, num infinito frenesim
éramos asas do mesmo pássaro
num voo sem medida
numa felicidade sentida
entregava-me numa ânsia de ti
e palavras de amor ressoavam
aqui e ali...
hoje basta-me o teu olhar
para os sonhos inventar.

nossos dias esvoaçam
qual cortina dançando ao vento
e eu menina, ainda acalento
uma insólita espera de voltar no tempo
em que tudo era primavera.

natalia nuno

magoa-me pensar...


Entre a minha memória inquieta
E o tempo que tudo repete
Há um regato a correr...
Que observo em silêncio...quieta!
às vezes desespero, mas já pouco
tenho a perder.

O tempo lembra-me que existo
Que trago comigo um passado
Me lembra de tudo isto
Estou cansada e ele cansado.

Tudo acontece devagar
Mas o tempo corre...!
Magoa-me pensar
Que tudo o que nasce morre.

Tantos anos trago comigo
São já um poema de saudade
Ou aquele livro amigo
Que ao ler nos dá felicidade.
O tempo passou por aqui
Por um instante, um apenas!
Será que eu não o vi?
Pesam em meus ombros
minhas penas.

rosafogo
natalia nuno

pequena prosa poética...


por te sentir e amar, sinto angústia por te perder, é dado amar sempre mais, não importa que um de nós adormeça primeiro, quem ficar agasalhará no peito a primavera deste amor...como se nada houvesse mudado...nada separa o que não pode separar-se...numa pequena barca atravessámos o rio, desatentos, não demos pelo tempo que caminhou ao nosso lado, breve, como a sombra duma ave que passa...

natalia nuno

prosa poética...


já se perdem minhas folhas neste outono tardio assoladas pelo vento da saudade... hoje ouvi as harpas do canavial,e recuperei o sorriso, subitamente vieram-me as lembranças às águas da memória, e de lembrança em lembrança voei caindo no silêncio...sento-me no chão, sou agora um vaso quase vazio onde repousam flores sem vida... e a borboleta que voeja na desordem da minha folhagem caída...pergunta-me: que fizeste da vida? fico-me silenciosa, e olho a minha triste caligrafia, as palavras caem da boca como frutos maduros, e as sílabas já não querem mais voar...

natalia nuno

trova...singela


singela...

os olhos da terra a côr
sempre a olhar mais além
seu coração traz amor
e traz saudade também.

natália nuno

levo a memória a fantasiar...


acorre tanta vez à minha mente
agora que a vida se esvai
como tudo poderia ter sido diferente
que a nostalgia do semblante não sai.
às vezes levo a memória a fantasiar,
como era enamorada na juventude!
com tal força que ainda oiço o coração falar
e que alegria de viver nesta viagem...
como tudo nos ilude!
somos um rio claro e belo, que corre,
sem parar, onde olhamos nossa imagem
se bem que em meu entendimento,
tudo que é belo depressa morre...
para aliviar a angústia que o coração sente,
e desalento mais, não lhe acrescente,
chamo a mim a saudade do passado ao tempo
presente.

olho o pôr do sol que já finda
e me olho estrela ainda,
e por dentro meu coração arde
na contemplação do sol-pôr desta tarde.


natalia nuno

o amor é chama... trovas


eu não sei o que é melhor
se o que minha alma anima
ou o que sinto por ti amor
e às vezes me desanima...

fico triste, fico indecisa
guardo dos beijos perfume
mas logo o coração precisa
de espairecer o ciúme...

tenho saudade do teu jeito
que à noite me embriagava
que importa algum defeito
na hora que a gente amava?

ardente é o amor em chamas
que sempre nos acompanhou
só me importa se me amas
na hora em que me dou...

natalia nuno

poema...


o poema só vive
porque o poema sou eu,
meu corpo e meu destino,
minha vida
minha terra possuída
o fogo que em mim se alastra
a curva do meu seio
 delírio que me arrasta
meu rosto, minha afeição
minha luz, minha figura.

o poema só vive
no desejo do meu beijo
enquanto fôr criatura.

natalianuno

a viagem...


A este caminho não voltarei
Nem depressa nem devagar
Nem perdida com ele me cruzarei
E nem rasto vou nele deixar.
Só palavras apagadas
No fundo dum velho poço
Em águas estagnadas
Gritando...ah, só eu ouço.

Serão meu uivo de dor
Resíduos da minha inquietação
Restos de lágrimas sem cor
Lava fria, cinzas da erupção.

Caminho cujo horizonte não sei
Ou finjo ignorar...
Só sei que nele sonhei
Ser nuvem sempre a avançar.
Não levo mapa nem destino
Levo no rosto a indiferença
Caminho qual peregrino
Com Deus e sua presença.

natalia nuno

agora que o sol se pôs...prosa poética


o tempo sequestra suas asas e algema o sorriso, os sonhos fazem-se nela silêncio, e a saudade faz-se grito...despe-se de Maio, veste-se de Outono, e os olhos secam...aos ombros carrega a tristeza. e no cartaz fala de esperança que ainda lhe resta, feita de retalhos...alimenta no peito gaivotas, lembranças que vão e voltam trazendo saudade de si, assim, nesta amarga condição vê chegar o frio à vida e o vazio à mente... o corpo de garça abriu e fechou em flor, traz recordações presas às raízes da memória em conflito com o presente e a idade sabe de cor embora de Janeiro faz por esquecer o ano inteiro, da sua boca rebentam palavras de cor outonal, navega em dois rios, num deixa-se levar pela trama do tempo, e no outro pega nos remos e rema contra a maré com fé, enquanto o coração estremece e, ainda que nada regresse, volta sempre ao lugar do sonho sem ousar despertar... cansada da viagem, perdida desse resto de si, olha a imagem e como louca ri...

natália nuno

aurora boreal...




Abria-se a escuridão da noite
nas ramagens o rumor do vento
ao abandono nossos corpos nus
numa entrega como flores ao relento
lá fora a vida levando sua cruz
tu eras o vento que me açoitava
o interminável sol que me aquecia
eu a flor que por ti brotava
feliz até ver nascer o novo dia
sempre o amor com intensidade
nas mãos hoje, gestos de saudade

Carícias como nuvens brancas perdidas
pairando sobre nossos corpos
depois a doçura dos silêncios,
das horas enlouquecidas
resta ainda uma indelével frescura
cascatas de risos e ternura...

cada dia mais viva esta magia
tanta era a emoção no caminhar
hoje a recordação em mim irradia
como a luz boreal que noite e dia
é presença ditosa no nosso olhar.

natalia nuno
rosafogo

há palavras por dizer...


há palavras por dizer
têm a brancura do nada
resta o sonho acontecer
a quem sonha ser amada

do sonho q' me ofereces
não há frio na madrugada
na despedida me esqueces!
e eu sinto-me abandonada

nas horas amargas do dia
lembro que tempo apagou
os sorrisos da fotografia
que aos rostos não voltou

nos sobressaltos da vida
em erupção de sentimentos
com a alegria desaparecida
sobrepõem-se os lamentos

a vida é  largo de emoções
nada nos impede d'avançar
pior a angústia das solidões
que é não saber o que é amar

palavras que dizem o amor
têm eterna e infinda beleza
têm das flores o cheiro, a cor
fica-nos do sonho a certeza

natalia nuno
rosafogo

pensamento...



meus pensamentos são cavalos sem freios que me levam à desfilada, num desvario de emoções...


www.pensador.com/colecao/nataliarosafogo1943

pequena prosa poética...


a sombra parte abandona a parede cinzenta, amanhã estará de volta, os ninhos ficam tristes, só a memória dela acalenta, que as asas dos sonhos hão-de voltar para novas palavras talhar...mas que beco sem saída é esta vida...volta lá atrás, emigra na aventura do sonho, olha as abelhas que dormem a sono solto, as lágrimas que o rio solta pelas hortas, as flores já mortas, os amores perfeitos que a mãe gostava tanto... é o desencanto, não suporta tanta violência , desarmada pelo tempo, sente o peso da herança, esmigalha tudo o que lhe tirou a esperança, encosta-se ao que lhe resta ainda, e fica a magicar...deixa as palavras partir, ignora a descida sem luz e na inocência...quem lhe dera ficar...regressar às papoilas, cheirar as mimosas, esperar o próximo orvalho sobre as rosas, como se tudo estivesse certo nestas palavras vazias, exaustas, pobres andorinhas tardias...

natalia nuno
http://flortriste1943.blogspot.pt/

pequena prosa...


ando à procura de sonhos onde possa abrir caminhos aos salpicos de sol, aos sorrisos vestidos de branco, à imagem escondida no recanto da memória, aos fios brancos de cabelo da minha fisionomia, e à minha velha ânsia que continua a debater-se...antes que tudo me sufoque...

natalia nuno

a melodia que alguém me assobia...




olho a tristeza das árvores
no seu jeito de morrer de pé
é forte a força da sua razão
arragadas à terra com firmeza
como se tivessem coração
e nele habitasse a fé,
renovo a minha esperança
num amanhã feliz
agarro-me à lembrança
do que houve e não volta mais
e em silêncio escuto a voz,
de meus avós,
e meus pais,
infantilmente me deixo aí
nesse lugar
da minha raiz
porque lá ou aqui
vou sempre recordar,
cheiros sabores e cores,
as enxurradas do rio,
o coaxar das rãs,
o cão latindo
a criança sorrindo,
as manhãs a desabrochar
mensageiras de sol e promessas
as janelas abertas sem mistério
e lá ao longe o cemitério.

assobiam agora os vendavais
na minha mente desgrenhada
o que houve e não volta mais
ainda sinto uma melodia soprada
ao ouvido, alguém assobia
e tento retê-la nos escombros
da memória e nos assombros 
da poesia.

natalia nuno
rosafogo

canto e cantarei...


Canto de noite e de dia
alegre é... meu cantar!
trago sonho e alegria
mais alguma nostalgia
de que me quero libertar

já o sol se recolheu
deixa a terra sombria
ficou de luto o céu
a lua me prometeu
decerto não dormiria

percorro oásis da mente
com uma estranha sedução
versos frescos água corrente
num desejo tão fremente
que desce ao meu coração

o mal que estou sentindo
quando te vejo partir...
se estás de mim fugindo
lágrimas d'amor carpindo
desilusão é meu sentir

ninguém venha-me dizer
que a culpa é minha, errei
esteja eu onde estiver
saudades de ti... terei!

no meu coração hei-de ter
sempre esta maldita dor
já nada tenho a perder
se perdi o teu amor....

natalia nuno
rosafogo

hora de recordar...


semeio palavras na aragem do vento
palavras com aroma de infância
aseiam-se pelo firmamento,
crescem na claridade do meu olhar
na saudade ao lembrar
sussuram por entre os lírios do campo
palavras onde me encontro brincando
e nelas meu coração pulsando...

minha alma segue nesta melancolia
a vida fugidia e
cada paisagem me lembra um rosto
amigo, cantam as papoilas, o rio
e os melros seu assobio
palavras rasgam o arvoredo
e seguem do meu coração sem medo

natalia nuno





possuída...


em delírio coloco beijos
na tua boca sedutora e doce
e os desejos me atravessam as veias
fico possuída, tomara que fosse
realidade, mas é sonho ou ironia
ou a memória e o coração exaustos
de amar-te, já está o sol a despontar
ao rubro nosso amor, ofegante
eu aqui tua mulher e amante.

natalianuno

questiono-me...


Canto eu e canta o vento nos canaviais e de quando em quando vem a chuva e canta mais... eu um chilreio de menina, ele uma canção peregrina, e ela batendo na janela, e assim se abrem as portas do meu olhar em mais uma manhã em contacto com a natureza...e há lá maior beleza?!

natalia nuno

sem cura...


por entre a intermitência do caminho,
sento-me a pensar em ti
com carinho,
o vento bate na janela da insónia
a única coisa que não entendo
é este silencioso grito que me vai na alma
esta loucura, este amor frenético
sem cura...

natalianuno

tudo porque é hoje...


cansei das horas iguais
dos mesmos sonhos desfeitos
repetidos, do morrer dos dias,
lentamente, das tardes frias
e as minhas mãos na minha frente
paradas indiferentes, apoiados
os cotovelos, pálidos os abraços
a alma cor de cinza, cansados os passos
tudo de hoje, o que sobreviveu ao tédio
tudo de hoje, como húmida folha
caindo sem remédio...

eu escondendo a idade
e o tempo que me foge
antes quero lembrar a outra
de quem trago saudade
sofro porque é hoje
temo, porque é hoje
não quero mais, estas horas iguais
os mesmos sonhos banais
repetidos, nos dias do tempo que m' foge

esta vida já não me prende
só me tolhe e me ofende
é assim porque é hoje
causa-me dano e o tempo foge, vai passando ano a ano
sempre a levar-me ao engano
a solidão comove-se com o o meu cair
levanto os olhos do chão e sigo,
aguardando o que há-de vir.

natalia nuno

alquimia...


olhando-me há sempre um pássaro negro
pairando sobre mim em observação,
e não sei com precisão
quando me arrancará o coração
desce em vôo picado,
do nada
roça as penas no meu rosto.
cansada, deixo-me presa
em silêncio, ensimesmada.
o entusiasmo esmorece,
os cabelos branqueiam
e não há como ripostar
acontece,
impossível recuar
e a jovem que era audaz
de pouco é capaz
fixo os olhos sobre o céu cinzento
onde uma ave cinzenta bate asas
suavemente, e penso, como um rio lento,
se ao menos fosse um regato, precipitar-me-ia
pela montanha num suspiro de alívio
serpenteando o corpo d'água fria
numa constante alquimia

mas, uma ave negra virá com voz sonora
e me dirá... está na hora!
aí serei como chuva tardia
que chega, mas parte no dia!
os anos foram-se rapidamente
tomo uma chávena de chá forte
e mais uma vez me deixo à sorte.

natália nuno
rosafogo

outono adentro...


meus cabelos repartem-se em pedaços
de prata, brilhando de claridade
e na sombra escura do meu olhar
brilha a saudade...
sossego a dor sem pranto
só a minha queixa a denuncia
enquanto ela tece a trama
de mais um dia.
choram no jardim as rosas e os crisântemos
ao ver-me assim de voz quebrada,
parto dum tempo que me desanima
ao olhar a fotografia que me detém desde
menina...

tempo vivido em minha pele
tempo de outono adentro
tempo que me é infiel
cinge-me desdenhoso, traz-me
imobilidade, tempo que me oferece
apenas saudade

crescem-me asas no pensamento
mas sem alento aonde vou
nesta claridade emprestada
onde já nada sou?
a memória prevalece
mas o corpo? já esquece!
arrancaram-me as portas,
sou pássaro vagueando em ramos
de folhas mortas
se lágrimas verter em alguma ocasião
não liguem não,
não é dor, não é sofrer
é tão somente saudade no coração.

natalia nuno
 
 
 
 
 

pensamento...


há dias em que cantam cotovias nos meus olhos e voam soltas sobre as searas do meu coração...o vôo é a lembrança, o canto é a saudade...

natalia nuno

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retrato vivo...


De tudo o que resta vivo nela
o tempo apaga a cada passo
para continuar a viver
é preciso recordar
enganar a dor, o cansaço
deixar a mente da solidão desprender.
Às vezes o silêncio é uma oração
uma porta que se abre ao vento
uma brisa que põe de novo
o coração a pulsar, e bem
viva a semente do pensamento.
Na luz dos olhos dela
há recordações a brilhar,
ela e a sua lembrança!
Caminho que sempre começa
olhando para trás,
corpo quebrado,
mas no coração a paz...
Flui nela a tristeza
o sorriso vai voando
todo ele feito ave,
e a certeza de que precisa,
só Deus a sabe!

Mariposas eram seus sonhos
partiram amargamente
na noite escura,
procura sua semelhança e não encontra
só a sua fé perdura.
E no silêncio dourado da tarde
olhando o mar
ela vive da saudade, a recordar.


natalia nuno
rosafogo

saudade das madrugadas que me tinhas...


trago no rosto o tempo
no olhar o deserto árido
anos de solidão, como se cada um
pudesse trazer uma réstia de esperança
para continuara viver....
farta de tudo e de nada, a alma desorientada
tudo inútil, tudo ilusão
há sentimentos sempre em contradição
e o cansaço me empurra para onde não há saída
fico sem chão, só o meu coração
faz o que pode p'la vida...

quando a tarde cair, e o sol se afundar no horizonte
escreverei meia dúzia de linhas
onde misturarei emoções, deixarei
os pássaros cantar em meus lábios a saudade
das madrugadas em que me tinhas
e antes que o sono me vença
faremos amor, nem uma nuvem cobrirá a lua
só o luar fará presença, traz-me o calor da tua voz
e até o dia nascer, entre desejos e memórias
seremos só nós...

ficaremos no sonho antigo onde nos deixámos
- nesse fim de tarde em que nos amámos.

natalia nuno
rosafogo

há sempre uma lágrima que seco...


Há uma lágrima que seco.
Angústia que só o coração conhece,
e no peito faz eco,
dum bater que esmorece.
Na lembrança de cada beijo,
o tempo retrocede como por magia.
O amor atinge o cume,
e o desejo.
E a dor no peito se abrevia.

O tempo é uma infinidade,
tempo sem medida...
Enorme nostalgia é a saudade
Que é no peito, ora um sol,
ora uma ferida.
Agonizam as minhas mãos de 
cegueira,
a tremer de acarinhar o nada.
Repousam da canseira,
são sombra duma vida desfolhada.

Minha solidão se multiplica,
como pássaros em bando.
É a sorte que dita
o destino que não comando.
Brinda-me a vida com mais um dia,
e o sol vem até mim feito ternura,
numa cândida doçura,
a reconfortar minha solitária nostalgia.
E meus olhos prometem sorrir!
Serena-se meu rosto, preciso sentir,
que a vida não está de partida.
Que depois de tanta lida
A sinto ainda de chegada!

Pois sempre que a noite vai,
vem a alvorada.

rosafogo
natalia nuno

minhas águas já se aquietam...


na saudade onde me aconchego
as lembranças são moinhos de vento
a rodar sem parar
fico a sentir distante a primavera
e meu rio pronto a desaguar no mar
dum outro lugar
colho flores p'lo caminho
assento meu olhar no poente
numa fugaz eternidade me sinto gente,
gente que traz saudade
encharcada de sonho, esquecendo
a realidade,
lembranças que a cada dia se repetem
sentidas e distantes, num mar
de marés
a cantar em mim os verdes da infância
descalços os pés
e o olhar doce de criança.

quantos porquês ainda procuro
faço o caminho da foz à nascente
caminho de lembranças, os pés em chão duro
mas levo comigo o sol na mente

povoo a minha memória de laranjais floridos
e deixo-me na penumbra desses tempos saudosos
onde os sonhos eram desmedidos
e meus cabelos negros sedosos.
as horas se alongam, perdeu-se meu verão
é agora inverno de solidão
deserto na minha alma e silêncio pesado,
perdi o caminho, é agora de cinzento toldado
meus dedos são asas e estão de partida
levo a infância...e na memória uma vida.

minhas águas já se aquietam...

natália nuno
rosafogo

nossos instantes loucos...


há um regato que sempre me corre
nos olhos,  o resto corre devagar
e um desejo na boca que não morre
a lembrar-me da vontade de te beijar
rolam por entre meus dedos finos
palavras a ligar tudo isto e eu não desisto,
uma voz me segreda
que não há nada mais doce que amar
no amor mergulhar de forma leda.
não sei que tempo ainda me cabe
só sei que existe em mim saudade
a memória cheia de imagens e, medo
que tudo acabe,
vou sentindo a falta do que ainda nem perdi
e a sensação é, a de que pouco vivi!

trago a alma já cansada, às vezes evito escrever
com medo de me doer
deixo-me por instantes calada
que nada me perturbe, nessa quietude
bem basta a minha ânsia inquieta
que tanto me afecta.
de repente regresso à escrita
pois a viagem não pode parar
e o coração volta a pulsar
é poesia que nele grita.

para além do que sinto e vejo
volta a mim o desejo, como um soprar
de vento a abrir-me o pensamento,
caminho estreito por onde espreito
o amor que me deste
e na luz que cai aos poucos
relembro nossos instantes loucos.


natalia nuno

pensamento...


como entender o tempo da felicidade, da entrega sem limites, quando eras o sol que subia pelo meu corpo, se a carência de ti me percorre agora a pele?!

natalia nuno
https://pensador.uol.com.br/colecao/nataliarosafogo1943/

volta e meia...trovas


flores na jarra...
flores ao peito...
já teu coração me amarra
amo-te deste meu jeito...

sou eu a pensar em voz alta...
delirando em sonho maior...
numa cascata q'me sobressalta...
e me fecunda de luz e de amor..

flores na jarra,
flores no cabelo.
o teu olhar me agarra
o coração vou perdê-lo

onde estás, estou contigo
e vivo a contar os dias
entregue ao sonho antigo
do tempo em que me querias

flores na jarra,
flores na mão
são teus olhos duas parras
que cobrem meu coração

o teu gosto no céu da boca
o teu beijo maré cheia
teu sorriso me põe louca
faz-me sonhar volta e meia

natália nuno
rosafogo
2001

a paz...


há silêncios na minha memória,
e na mão que entrego à escrita
um relógio sem ponteiros, vai
marcando a minha paz...



nataliarosafogo

fim de namoro...




este mais que bem querer-te
que eu sinto de noite e dia...
vivo e anseio por dizer-te
do amor que em mim floria

guardo a doçura de ti
subo a calçada de outrora
a mesma onde te vi
namorando outra agora.

os passos rasgam estradas
me cruzo com tanta gente
dou perdidas as passadas
pois me olhas indiferente

avenidas de alcatrão
de terra batida o que fôr
batendo vai meu coração
por ter perdido este amor

ficou em mim o feitiço
e já a lua se esconde
já és de outra o derriço
deixas que outro me ronde.

trago olhos esbugalhados
de tanto querer ver-te
trago os dias contados
e não consigo esquecer-te.

quadras de 09/2002

natalia nuno
rosafogo

já nada me derrota...


memórias....infância,
o pulsar do tempo alucinado
e cego de obscuridade
como o rumor de palavras que se perdem...
saudade... saudade
vôo lento duma gaivota
silêncio e nostalgia
já nada me derrota!
nem o rosto reflectido nas águas
nem a noite nem o dia
nem as mágoas
nem a morte,
nem sonhos nem pesadelos
nem o medo ou a loucura
faço de tudo aceitação
enquanto palpitar o coração

nesta avidez do tempo
dentro de mim um apagão
a memória foge como o vento
ficam só, pedaços de recordação.

natalia nuno

sopros...trovas soltas...




correm meus dedos trazendo
uma vontade enlouquecida
correm as saudades batendo
com saudades da própria vida

no rio reflexo dos salgueiros
cabelos agitados ao vento
das hortas me vem os cheiros
do fundo da alma o lamento

pássaros de peito inchado
e brancas flores abrindo
ao longe o som do arado
já as estrelas vão caindo

faço coro com a ventania
com as rãs e sua voz rouca
prende-me o choro da cotovia
e das cigarras a cantoria louca

não sei se deixe morrer...
o que hoje me atormenta
meus versos hão-de querer
livrar-me do q' m'apoquenta

natália nuno
rosafogo
11/2008

trovas...


Desfolhei um malmequer
Lembrei de ti com saudade
Já amas outra qualquer...
De chorar me deu vontade.
***
Quando passo nessa esquina
Apresso o passo pra não ver
Tu ao lado d' outra menina...
E saudade em mim a crescer.
***
Saudade mandei embora
Saudade que me sobrou
Achei chegada a hora...
Esquecer quem não me amou.
***
Se a saudade me matasse
Decerto eu hoje morreria
O fogo do amor me queimasse
Morria sim... mas de alegria!
***
Tenho penas muitas penas
E uma vontade de voar...
Saudades tenho às centenas
De pra ti amor voltar...!
***
Teus olhos são meu o mundo
Da côr do céu... azuis são!
Os meus côr do mar profundo
Com saudades dos teus estão.
***
natalia nuno

recordar junto contigo...


O rubor do sol no poente
pinta o chão de matizes
Enquanto tu perdido de amor
me dizes:
Que covinhas lindas no rosto!
E esse tímido sorriso?!
Nessa tarde já longínqua, ao doce
crepúsculo, era Agosto.
Olhares embaraçados
Lábios em sofreguidão
Corpos colados,
silêncio, ouvindo-se apenas
o bater acelerado do coração.

Acordo do devaneio
Incrível como o tempo voa
Nunca mais tem cura esta saudade
A que o resto do mundo é alheio.
Mas a ela não renunciarei, ainda que doa
Hoje não é tão doce a tarde
Mas há aves no céu!
E instantes vibrantes, vivos
Onde sou tua, e tu és meu!

Há coisas que me fazem subir
o coração à boca
O sol nos teus olhos brinca alegremente
E eu como louca
Adivinho os teus desejos, me entregando
docemente.

Disseste-me que era linda
Mesmo com rugas no rosto
E eu com saudade infinda
Lembrei-te a tarde longínqua
do mês de Agosto.
E de alto abaixo te mirei
Meu amor da vida inteira
Poemas de amor te escreverei
Saudosa da visão primeira.

natalia nuno
rosafogo

sobras duma lágrima...


na esquina, há sempre uma música triste
duma flauta que não sabe que a luz existe
ecoa p'la noite adentro entra no coração,
e é tão triste como eu
atormentada com a escuridão do céu.

em noite que não tem lua,
noite desolada sem luar
espero-te à esquina da rua
enquanto a flauta tocar.

já tenho a porta cerrada
não vou ouvir a flauta mais
deixei lá fora meus ais
ouço-os p'la janela entrefechada

trago agora a alma estranha
e a vida já sem vida
a palidez meu rosto banha
calou-se a flauta... voltou a lua
pranteiam estrelas distantes
eu de feridas abertas,
deixaste meus sonhos errantes
já nem sei se sou tua
já não ouço o doloroso concerto
à esquina da rua é agora um deserto.
vou esconder este meu pesar
esquecer os murmúrios melodiosos
já não quero sentir nada
nem por ti trazer meus olhos chorosos.

natalia nuno
rosafogo
poema escrito 2002
um pouco modificado para poder ser
partilhado.

pequena prosa poética...


pela friura da vidraça olho vagamente o céu de azul, leve... bordado a branco, como quem desperta dum sonho, é manhã, entre a realidade e a memória consumida ouço o palpitar do mundo nas papoilas que gritam feridas pelos ventos agressivos, pressinto no vai vem dos pássaros que flutuam na minha retina a querer ocultar-se , que o instante não é uma dávida de amor, e o mundo fica trémulo num vôo retido...à espera que passe a hostilidade entre os homens, enquanto os meus dedos febris procuram a pomba branca e um raminho de oliveira repetindo palavras na solidão da hora...

natalianuno

quimera...


encho meus dedos de leveza,
quando a natureza me abre os braços
cresce em mim a esperança,
esqueço os medos e dou mais uns passos,
sob o sol da tarde, há aves felizes
nas árvores nasceram mais uns rebentos
e mais um sonho nos meus pensamentos.
as palavras soltam-se e respiram,
volto ao ponto de partida
e o sonho se torna vida...
abro a porta ao poema, com simplicidade
fecho os olhos volto atrás ao passado
tão distante, onde ficou a felicidade,
que é agora saudade.

à esquina do vento, a menina
da minha recordação,
escoam-se noites e dias
e minha mente quase em vão,
o sol já declina para o poente, 
lembro a aldeia, por lá ficou a juventude
aldeia onde cresci e me fiz gente
fonte de milagres onde me refugio amiúde.

as palavras comovidas adormecem
no poema, enquanto mastigo sonhos,
de mim se esquecem
deixam-me perdida, os anos envelhecem
já não ouço a voz da quimera
é a solidão, só a noite me saúda,
e a natureza me dá força, tudo muda
hei-de alcançar ainda a primavera.


natalia nuno

pensamento...


vou remando até à infância, deixo-me a boiar na recordação...é minha sede tão simples, de renovar o espírito...e reconciliar-me comigo mesmo.

natalia nuno
http://pensador.uol.com.br/colecao/nataliarosafogo1943/

trovas...saudades


Com as lágrimas nos olhos
Saudade eu vou sentindo!
Da menina da saia aos folhos
O contrário... estou mentindo.

Calo a vontade sentida
De dizer umas verdades
Já pouco espero da vida
Vivo com estas saudades

"Nem tudo o que luz é ouro"
...Tantas vezes só ilusão!...
Guardado trago o tesouro
Cá dentro do coração.

natalia nuno

pensamento...


A saudade fere o peito, quando a madrugada chega vazia...é como se o mundo ruísse...

natalianuno

pensamento...


saltei ao caminho e a vida se fez pressa, morreu a esperança de tanta promessa...moinho sem vento, mói meu pensamento....

natalia nuno

http://pensador.uol.com.br/colecao/nataliarosafogo1943/

rasgo o silêncio...


quase mágico seu rosto, o olhar estendido labirinto de memórias, olhos que soletram o sol são a linguagem dum silêncio arrebatado, onde as sílabas são substituídas por música que vem do coração, jamais se é o que se foi, jamais se respiram as fragrâncias de Setembro, agora que o inverno se inicia e a vida nos fala em sua mudez, uma rajada canta no arvoredo da memória, que ainda palpita, voa e sonha....

natalianuno

sigo triste...


Preciso habituar-me a este rosto
Preciso substituir este meu olhar
Nas papoilas deixei o sorriso posto
E agora já não lhe consigo chegar.

Olhos verdes de lágrimas marejaram
Sigo triste, a noite avança na m' estrada
Os sonhos nos verdes prados ficaram
Hoje amor... me sinto desanimada.

O teu Sol banhou o horizonte de cor
Eu presa à janela olho-te à distância
Como se no mundo explodisse Amor!
Cada vez q' poisas na minha lembrança.

És recordação viva que quero conservar
Meu coração de ti jamais se perderá
Com ternura os lábios deixo murmurar
E às estrelas juro, este amor não morrerá.

natalia nuno
rosafogo
imagem net
este poema não é recente...
 
 
 
 

0 corpo...


o meu corpo, é uma casa esfarrapada
se ainda tivesse o brilho
ou a audácia de negar-se!?
uma sombra cega o cobre de escombros
amo-o do mesmo modo que o odeio.

natalia nuno

desci lá abaixo ao rio...


Esperei que o sol caísse
E logo a solidão estatelou em meu peito
E o meu sangue triste me disse
Que fazer, se é este o teu jeito?
Desci lá abaixo ao rio
Senti a tarde ventosa
O vento passou vadio
Levando-me p'la mão, ansiosa...

Deito palavras ao vento,
que hoje sopra forte.
Vivo mais um dia sem lamento,
e vou repelindo a morte.

O som do açude a estalar nos ouvidos
Olho as águas brancas fugidias
E o rio manso, absorve-me os sentidos
E vê-lo?
É um regalo, no imaginário dos meus dias.
Talvez o relógio pare, sem horas, nem segundos
Me deixe a recordar o meu mundo,
entre mundos.

E vou tecendo meus sonhos a fio
Olhando o avental de minha mãe,
vendo-a lavar no rio,
cheia de sonhos também.
Bebo um trago de café de cevada
Passo os olhos p'la maciez do seu sorriso
E sonho...
Tenho tudo o que preciso.

rosafogo
natalia nuno

eternizar o sonho...


gosto de lembrar quando punha flores no cabelo
era eu uma flor de cheiro campesina
com perfume a flor de laranjeira
gosto de lembrar meu cheiro de menina
menina, que trago comigo a vida inteira
gosto de eternizar o sonho em mim
deixar-me como se fosse intemporal
e adormecer neste sonho
como se ele não tivesse final

gosto de lembrar a fita escocesa
e o cabelo negro esvoaçando ao vento
olhar o campo as flores a natureza
e as estrelas à noitinha no firmamento
gosto de esquecer o amargo da emoção
de esquecer os dias que já não têm luz
entregar-me de alma e coração
ao desejo da memória que ainda me seduz
gostava de esquecer o medo, o frio
o vazio, de recuar ao tempo de menina
vestir meu vestido de popelina
olhar-me vaidosa no espelho d'água
e lembrar-me saudosa mas sem mágoa
gostava que uma janela se abrisse
e na paisagem dos teus olhos
menina ainda me visse...
e do sonho tudo pudesse de novo acontecer
e os sobressaltos da vida para sempre esquecer...


natália nuno
rosafogo
escrito em 10/10/2009
http://nataliacanais.blogspot.com/

flor do campo...


flores do campo
conhecem a direcção do vento,
confundem meus sonhos, os que nunca tive e nem terei jamais,
são tão efémeras quanto a vida,  tão esquecidas
quanto meus ais!
vão durando enquanto não surge o esquecimento de si mesmas...
aguardam as carícias das estações
confiadas como eu, nas ilusões..

natália nuno

meu nome...


meu nome alguém mo deu
lembro-me dele de tenra idade
dizem que foi meu pai que o escolheu
lembra inverno, lembra natal, lembra saudade
escrevi-o em cartas de amor mal sabia escrever,
quando a lua aparecia ou o sol me vinha aquecer.
escrevo-o agora ao ritmo dos meus dedos
às vezes como uma ave lenta
no lirismo dos meus versos
onde grito os sonhos, o desfolhar da rosa
os medos...e tudo o mais que a poesia
me tenta...

meu nome, rabisco-o de vez em quando
nem sei às vezes porque o faço
em letra miudinha e vou sonhando
com quem mo deu e seu abraço
e logo meus dedos lançam sementes à sorte
sonham com o apanhar das amoras
despidos de palavras aguardam a morte
que há-de vir cedo, ou tarde, ou a más horas

meu nome já não escrevo, porque me fugiram
as letras em noites de solidão
e os dedos já não cantam e errante anda o coração.
foi nas minhas memórias esquecidas
que deixei o nome, com as saudades de ternura
vestidas... perdeu-se no passado
como um vôo que se esvai num ai
ou como um grito que ecoa no infinito
e chega até mim já desfasado
deixei-o no cantar das cigarras, na solidão
do olhar, nas tuas mãos quando me agarras
na aliança que trazes nos dedos,
nas sombras por onde vagueio, em cada emoção,
nas marcas do desespero, nos medos
no silêncio a que me enleio para não enlouquecer
no chão da minha pele a envelhecer...

meu nome lembrará sempre saudade
não sei bem sua história, já não é de prata a memória
mas, lembro-me dele de tenra idade.

natália nuno

pequena prosa poetica...


levava laranjas nas mãos, os sóis giravam à sua volta e perguntavam-lhe: quem és tu?
- sou apenas um sonho, um leve sonho solto no esplendor da manhã, ando pela casa onde nasci, ouço um rumor de pétalas caídas das ramagens, sonâmbulas, tristes pelo chão, também sussurros de quem adormeceu para sempre, mas sua alma navega ainda por cá junto à luz sombria dos loureiros...com o vôo livre deixo-me ir até onde mora a brisa, fico despida e inconsciente entre as madressilvas, alfazemas, e a ternura das giestas... ouço ao longe os trinados de pássaros anónimos que podem ser cotovias, rouxinóis pardais ou outros mais, e eu escuto-os no espaço azul da minha memória onde se enraiza o resplendor da esperança que ainda me cabe...é árida a realidade por isso sou apenas sonho, sonho e saudade e tudo que vivi e amei, solto agora com palavras velhas estas memórias atadas, enquanto não surge o caos e a confusão e venha calar a minha mão....

natalia nuno
http://flortriste1943.blogspot.pt

só porque te olhei...


os sonhos são retalhos
os seios laranjas sob a blusa
no peito uma flor de organdi
já não se usa
eu sei,
pu-la só para ti,
meus olhos em espanto
só porque te olhei,
no olhar o ardor
lembrança que queima
quero ter-te amor
que a saudade teima
aconchega-te a mim
sem palavras
não preciso delas
meu corpo desabrigado
nas tuas mãos perdido
entrega-se a elas.

natalia nuno

sorrisos aos molhos...


nosso amor é loucura
é aroma que embriaga
que importa se é maior a ternura
doce prazer que nos afaga
é amor de perdição
pra mal dos nossos pecados
não quer saber da razão
traz-nos tão enamorados

este amor tão verdadeiro
que me traz assim tão louca
tem do alecrim o cheiro
o beijo da tua boca
vamos assim vida fora
trazemos sorrisos aos molhos
no silêncio desta hora
nos teus ponho meus olhos
amor que é mar embrabecido
que não se dá por vencido...

natalia nuno
12/2007
aldeia Sta Justa

trovas soltas...


Guardei os sapatos de cetim
E o vestido de levar ao baile
untei-lhe perfume de jasmim
Ficou na memória o xaile
Pobre do xaile e de mim!

 Desvanecem-se os pormenores
A saudade é tudo o que resta
Dos bordados e bastidores
Dos meus primeiros amores
Quando a Vida era uma festa.

O futuro é corredor escuro
E o amor fogo que ardeu
E não há nada mais duro
Que na Vida o que se perdeu
Vejo-me ao espelho não sou eu
Já nem sei o que procuro.

Olhos às nuvens erguidos
Lembram mãos q' se apertavam
Lembram os beijos furtivos
Os abraços que se davam
Cartas escritas se rasgavam
Mas já esqueci os motivos.

Tenho que dar ordem à Vida
O tempo é quem tem a culpa
De me trazer esquecida
Sem sequer me pedir desculpa.
Dor sem peso nem medida.

Tardava em adormecer
Amar era um trinta e um
Mas pior era não ter
Na vida amor nenhum.

Que importa!?Que me importa!?
O que lá vai é esquecimento
Trago a viagem já morta
Promessas leva-as o vento.

 
rosafogo
natalia nuno

mariposas no meu sentir...


olha-me sempre que quiseres
com essa demasiada chama
eu serei a tua presa, aquela que te ama
pousa a mão no meu ventre
e sentirei uma delícia extrema
adivinha meus pensamentos
adoça os meus lábios sedentos
e busca neles meu amor ardente
abre tu a porta a estas devotas carícias
ver-me-ás de pálpebras cerradas
e coração a palpitar...
mariposas no meu sentir,
a minha língua navegando na tua
e a esperar-nos, o melhor que há-de vir.

não deixes que minhas pétalas caiam
ao chão, levadas p'lo vento negro
faz de mim teu desejo, tua paixão
e ama-me em segredo
é esse amor que me ergue viva
teço teia, prendo meus braços aos teus
e elevo-me aos céus...

nossas mãos unem-se felizes
pensamentos ao abandono, nosso mundo é de prazer
tudo é triunfo e ternura,
enquanto o amor dura
e nos sente a envelhecer
hoje fizeste-me sonhar nesse abraço terno
neste ofício de amar
esquecemos o inverno da vida, a chegar.

natalia nuno

medo...


o peito é um mar sombrio, quando a noite surge enferma sem estrelas...as ondas em movimento brusco, vão em grande tumulto desbravando os meus sonhos de náufraga... a cada dia mais inalcansáveis até me deixarem obscuramente no esquecimento...é este o medo que sobe os muros por detrás de cada sombra...
natalia nuno

meu mar... trovas soltas


rebenta a maré na praia
como a vida em ascenção
talvez a esperança não caia
numa infinda escuridão...

bate a água no rochedo
no olhar a interrogação
abandona-me a fé, e o medo
faz tremer-me o coração...

todo o mar da nossa vida
num esforço inconsciente
quer-nos a vida compassiva
até que a morte nos enfrente

submerjo na agitação do mar
na maré que à alma assoma
sem meu queixume revelar
vem a morte...logo me toma!

já o meu olhar me foge
o dia estonteia-me a mente
a endoidar-me o dia d'hoje
vem dor maior de repente...

meu mar morto m' atordoa
nas vagas horas de solidão
o murmúrio que d'mim soa
é de choro ou de aflição...

então morrer por morrer
sejas tu mar que me levas
pra não ter que envelhecer
e ver meu rosto nas trevas


natalia nuno
rosafogo

pensamento...


quando me esqueceres de vez, criarei um poema de palavras apagadas, para que se não veja a última lágrima...

natalianuno
https://pensador.uol.com.br/colecao/nataliarosafogo1943/

um instante ou uma eternidade...


Invade-me um nó de inquietude
dias silenciosos sem piedade
solidão que já me aturde
A palavra pesa e logo a saudade.
E a vida é uma solitária esquina
uma viagem peregrina,
uma torrente de chamas bruxeleantes
onde a memória obscura
é fogueira mortiça.

Nada será como dantes
sou como borboleta pisada
de asa amarrotada.
Desventura!
Só a lembrança me atiça,
me prende
nas manhãs radiosas, ou
nas tardes agonizantes.
Regresso então ao meu lugar
em bico de pés, em passos de
bailarina
para o sonho não acordar.

Levo a mão ao coração
e o pensamento no ar
e sou de novo menina
E é então...!
Que surge a lua prateada
banhando-me de raios ametistas
Ah! Como me sinto amada, abençoada!
E a vida me segreda...Não desistas!

natalia nuno
rosafogo

enquanto nos amamos...


tão pouco me resta
olho o sopro do vento
que a árvore abraça,
e o meu pensamento
prende-se ao momento
que o teu braço m' enlaça
enquanto nos amamos
acrescentamos à realidade
um pouco de saudade,
partilhamos prazer
nosso amor é puro vinho
que bebemos com lentidão
saboreamos, para não esquecer
que a felicidade está na nossa mão.

natalia nuno

poema de amor também...


lanço a rede ao fundo,
para vislumbrar o poema
feito de palavra de nada
ou do que não foi dito ainda,
talvez da palavra calada,
duma porta fechada ou aberta,
alento de minha boca
uma dor que aperta,
memória dum tempo
ou da minha força, já pouca.

será o poema pássaro
que voa para o poente
de asas fatigadas
tocando as águas do mar
rumando à eternidade
docemente,
levando com ele meu olhar?

este poema é cego
e causa-me calafrio!
os seus resignados olhos,
são os meus,
às vezes são rio
que já corria
no ventre de minha mãe,
num sussurro morno
onde não há volta.
mas ainda assim me alegro,
porque este poema
é de amor também.

natalia nuno

ternura...


olho esta fotografia
e me vêm palavras de sol ao poema
nasce vida no meu pensamento
tomo alento,
nem tudo é feio como parece
elevo a asa da minha mão
e escrevo o que me dita o coração.

aos versos desce a ternura
cristalina e pura...
acato o que o destino me destina
o tempo me mostra outra luz
a vida acontece, como quando era menina.
minhas asas são agora nostalgia
trazem consigo minha bagagem
versos feitos à minha imagem,
não há prodígio maior
que relembrar o que foi um
grande amor...

natalia nuno
rosafogo

venho de longe...



Venho sempre de longe
ainda e sempre carregada com o fardo
que é o tempo, tempo pardo
que me põe nos olhos o cinzento
e romeira lá sigo descalça
como pastora
minhas memórias apascento,
já tudo se distancia
venho de longe
do tempo que tudo devora
trago comigo nostalgia,
e as mãos nervosas
vão semeando palavras,
rosas, que ninguém colhe
nutridas de amor, alimentadas
de esperanças, rendilhadas 
de lembranças.

Venho sempre de longe
trago sonhos novos
que povoam minha mente
em noites de insónia
e eu a deixar-me morrer
apressadamente,
cansada de cismar,
do mesmo chão repisar
com passos fantasma
entre a multidão
e venho chegando em dia
de outono
à minha espera o eterno sono,
e logo se cala o coração.


natalia nuno
rosafogo

coisas de poeta...


hoje não se ouvem os pássaros e há árvores que choram, enquanto eu, desenrolo imagens no pensamento como se as voltasse a viver e, decido amar-te de novo como se fosse a primeira vez...

natalia nuno

dantes...


havia flores no meu olhar
que o tempo amareleceu
ingénuas, em delírio
sempre a sonhar
na boca, cantigas tristes
que as estrelas escutavam
hoje nem os olhos, nem o luar
nem o sol que despontava
nem os sonhos que ao coração chegavam
nada, nada tenho pra me alegrar.

natalianuno

pequena prosa poética...


o rendilhado das ondas apagam com suavidade as marcas deixadas na areia, uma nuvem baixa perdida, o crepúsculo cai rápidamente, nem vivalma, apenas o vento a fustigar-lhe o rosto que o tempo impiedoso crivou de rugas à volta dos olhos e da boca, o pensamento baço, buscando sem saber porquê o que tem perante si e não crê...deixa-se passo a passo à mercê das lembranças, tantas canseiras encheram os anos de instantes que enraizaram na mente, deles cativa... sempre que a memória lhos aviva; cai nas malhas da saudade, sabendo que não há regresso, diante dela abre-se um caminho gélido e misterioso e essa ideia deixa-a confrangida, sente por intuição que é breve a vida, cada passo confirma o seu pressentimento, e é assustador o desalento...as emoções num apertado nó, a luz difusa do poente recorta-lhe o rosto e sente-se só, perdeu quase tudo de outrora, aos seus olhos surgia nesta hora nada mais que uma aparência...como que uma terra varrida pelos ventos... uma gaivota a vem saudar, amanhã a aurora vai voltar...desta vez será mais forte que uma haste de milho e não se deixará vergar pelo pensamento.

natalia nuno
http://flortriste1943.blogspot.pt/

sentimentos à flor da pele...


trago o coração parado
nem o silêncio o consola
se amor não lhe fôr dado
não o pedirá por esmola

dói-me de tanta saudade
e desta vida agastada
se amor não é de verdade
imaginário...não é nada...

o coração vive fechado
num corredor de escuridão
a vida o traz agastado
e sofredor de paixão...

palavra vai... palavra vem
para ti com laivos de amor
para mim vens com desdém
mas não guardo rancor...



natalia nuno

um resto de sonho...


um resto do sonho...
reflecte-se a lua sobre os telhados
a frescura da noite roça-me o rosto,
vinda da folhagem do salgueiro,
ali do lado oposto.
trago os olhos fatigados,
mas hei-de subir a encosta,
com meu traje domingueiro,
solto ao vento fitas de cor
e o tempo deixa de correr
nos cabelos trago flor
nos lábios um riso florido,
e bordado a seda o lenço
com meu nome
e apelido.
e eu sem senso...
vou ter forças para tanto?
sonhos são borboletas tontas
à vida ando deitando contas,
gemeu-me o coração e eu fiquei
à espera...
e o tempo me falou...
tudo o que sonhas, passou,
e quem espera desespera.
minha esperança anda p'lo chão
silêncio em mim... e de verdade?
descubro que é a saudade
onde estou
e onde vou,
com ela abraço a vida,
causa-me estremecimento,
se apodera do pensamento,
é ferida,
que faz doer,
se cruza nos meus dias
num tempo sem saber,
que lágrimas, também são
feitas de alegrias.
luto contra a dureza
do tempo e dos traços sorrateiros
que em mim fez nascer
com clareza
e brevidade,
um pássaro os veio trazer
numa manhã de vento e saudade.

natalia nuno

eu sou...


eu sou brasa sou fogo
um cardo no caminho
faço da vida um jogo
o fim anda pertinho

sou nocturno sossego
raio de sol ardente
não largo, não despego
sou ao longe o poente

sou a lágrima o pranto
sou flor que desabrocha
sou arrebol, desencanto
sou a chama duma tocha

sou a lua milenar
sou fogo sem ambição
a esconder o meu pesar
neste verso de aflição.

sou a voz do sino
que se ouve no arvoredo
voz de menina ou menino
que vive sempre com medo.

«sou talvez a ventania»
que passa e agoniza...
não sou mais eu hoje em dia
só saudade em mim desliza.

natalia nuno

indícios...


há uma neblina a circundar-te o olhar,
a luz está longe e no rosto há girassóis em fim de verão a morrer de cansados,
viver um pouco mais será um caminho por descobrir,
encontrar algum consolo,
deixar o tempo cair por terra,
seduzir o sonho e tê-lo por companhia para que arda tudo o que ainda arde dentro dele,
e se à noite vier a solidão que dói,
recorda a criança correndo pelos teus anos,
ávida de esperança, tão livre no seu vôo...
faz renascer em ti o universo
e cria mais um verso...é vida a Poesia.

natalianuno

memórias de mim...


A infância feliz, se pudesse voltar e beber um pouco dessa doce eternidade, deixar verdejar o meu instinto de liberdade, ainda escuto a nossa alegria no subir e descer das árvores nessa infância harmoniosa...como entender agora a felicidade? Como inventar sonhos?Os dias apagam-se em si mesmos, nada se procura e pouco se espera, apenas o sonho insiste, éramos asas de vento num céu sem nuvens, meninos que traziam consigo o aroma da vida, unidos num nó que parecia inseparável, de risos repentinos e o coração cheio de lealdade...grato foi envelhecer trazendo da infância saudade de brincar livremente nesses dias lendários, no meio da natureza com o aroma dos frutos e flores por perto, dos pássaros e trinados, das borboletas de mil cores e rostos tisnados pelo sol irradiando inocência...

natalia nuno

pensamento...


no balancear dos loureiros deixei a minha infância, hoje as memórias me chegam na corrente da brisa, num murmúrio de nostalgia...

nataliarosafogo
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pensamento...


nos dedos da solidão, há palavras fugitivas do tempo...e no mutismo dos olhos, recordações que não querem renunciar...

nataliarosafogo
https://pensador.uol.com.br/colecao/nataliarosafogo1943/

prosa poética...


necessitava de companhia, de manhãs de verão, para adivinhar o caminho ainda por descobrir, queria ausentar-se de si mesma deixar o mundo em desespero, seguir em busca do céu estrelado, escrever no chão das nuvensficar para sempre criança...sentir os aromas da natureza, deixar a alma na corrente cristalina das águas, inundar a vida de sol, esquecer a sensação da tristeza, renovando-se na claridade da tarde, abrir o peito, deixar acordar o coração até lhe saírem flores dos olhos...e, no sangue das palavras deixar a sua dor.

natalia nuno

tenho sede de tempo...


tenho sede de tempo,
cai a tarde
como fruta madura
e à distância cantam os pinhais
o sol já não arde,
tocam os sinos dando sinais
e eu aqui oculta pela bruma
lembrando tudo,
tanta coisa uma a uma.

lembro o caminho da nascente,
com os risos de então
lembrança sempre presente
que não rejeito...não!

quero ser criatura
de alegria,
trazer à minha noite o luar
e eu e tu ser um só rio
a desaguar no mar...
extingue-se mais um dia
entre matizes amarelos
tenho sede de tempo
dum tempo primaveril
aquele que me vestia
a alma
e não este, que é prisão
e me corrói o rosto,
e esvazia o coração.

dá-me a mão,
vamos caminhar mais agéis
viver mais intensamente
onde o limite seja o céu
só tu e eu.
por algum tempo havemos de ignorar
o que de nós se perdeu
vivamos mais outro dia,
antes que a noite venha perturbar
ergamos nossa rebeldia

e quando a morte vier
num outro dia qualquer
pairando como um gavião,
sobre nós,
dá-me a tua mão
quando já nada haja para crer,
resta em mim a credulidade...
ainda assim vou sentir a doçura
da tua mão
na minha mão,
e levarei dela saudade.

natália nuno
rosafogo

frase...


O Poeta canta o que lhe vai na alma, oscilando entre a tristeza e a exaltação, porque a vida é feita de fragilidades mas também de sonhos...

natalianuno

gotas de chuva...


às vezes afundada no aborrecimento, deixa nas palavras vestígios de dúvidas que são como enormes gotas de chuva a bater-lhe na alma, mas a vida flui sem poder voltar atrás... vieram estrelas, cruzaram relâmpagos, no cenário da sua existência, faz agora um rescaldo da vida e insiste, agarra-se aos momentos de mel e amoras, aos floridos sonhos da mocidade e toma de novo as rédeas...o relógio esse continua a contar o pulsar, a golpear numa fúria que não termina enquanto as memórias ficam esmagadas nas sombras das horas como despojos em silêncio, de repente o olhar fica vítreo e a voz uma amargura, o tempo levou-lhe a leveza dos passos e vai enterrando todos os momentos que ainda lhe pertencem...

natalianuno

pequena prosa poética...


há um lilás branco que me olha e lembra-me que as rosas mesmo que solitárias espalham seus odores com ternura, ainda que o tempo me enrugue o coração e me vá tirando o chão...levo na bagagem um sonho interminável de que a paz seja meu tecto....

natalia nuno

http://pensador.uol.com.br/colecao/nataliarosafogo1943/

prosa poética...


o passado dorme enquanto o futuro murmura e o presente vive e chora por dentro, e eu me exilo vou-me apagando a mim mesmo, desvaneço nas palavras que convoco e os pensamentos abrem-se ao vazio aceitando o inevitável...como a areia que o mar engole, assim o tempo amargo faz nascer em mim a desmemória, conspira em segredo e é como uma sombra que me persegue, deixando-me sem flores nos olhos e sem o sorriso nos lábios de onde as sílabas íam nascendo, agora... andam gaivotas embrumadas em delírio, sobre o meu corpo de trigo numa liberdade de espuma...

natalia nuno

muros do esquecimento...


Já não pousam os pássaros
nesta árvore de ramos nus
nem os sonhos têm encontro
marcado
neste pedaço de vida
aprisionado...sem luz!
Só uma solidão altiva
ameaça precipitar-se
sobre quem sonhou outrora,
e vem agora sorrateira
enfeitar-lhe o rosto
rasgar-lhe a pele
num amargo fel.

Embora seja só uma réstia
de esperança
há-de habitar-lhe sempre
a mente uma lembrança,
irá colher... uma a uma
com paixão
e se um dia ficar sem nenhuma
morrer-lhe-à o coração.
A memória será espelho partido
pássaro solitário,silencioso,
será o silêncio depois das palavras
será a ausência sobre todas as coisas
ganhas e perdidas,
sol misterioso,
que se esconde atrás das nuvens,
vestígios de vivências estremecidas.

natalia nuno
rosafogo

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pequena prosa poética...


trago as emoções abrigadas no silêncio da noite, desfolhados os sonhos, o amor é agora utopia onde eu própria me abrigo...fico cada vez mais distante do passado, é o tempo que me arremessa e me obriga a dar mais um passo, me arma o laço, e que anda eternamente preso a mim, deixa-me como o sol com medo da noite...e quando cresce a esperança, logo meu pensar fica torpe, esforça-se por alcançar de novo o sonho e criar o poema esquecido que habita em mim desesperançado, embora com as palavras por perto eu não sei o que escrever ao certo, para escrever necessito de fantasias, faço poesias rainhas, mas ainda que fantasiadas, são verdadeiramente minhas...escrevo sobre fragmentos da vida, noite fora até de madrugada, às vezes com a voz embargada, e um grito na garganta, e a poesia me ouve calada e olha meu rosto que morreu, enquanto no céu a última estrela nasceu...

natalia nuno
http://flortriste1943.blogspot.pt/

saudosa do tempo...


há uma certa ansiedade em mim
ando saudosa do tempo
lembro o banco do jardim
e o pedaço do dia em que te esperava
com sorrisos na face,
e a sede de beijos que não esgotava
e meu sangue se erguia
em cada pedaço do dia

natalianuno

há coisas que doem...


morre o sol na minha face
acabou-lhe com o sorriso em botão
emsonbrecem os verdes do olhar
quando à noite na escuridão
nem teu abraço para m' enlaçar
este anseio que cresce e se apodera
de mim, é como febre que queima
e que a todo o momento teima
sussurar-me como uma prece
... o teu corpo ainda tem asas!
e logo a saudade aparece
e se cruza no  meu peito,
tudo volta a ser meu por direito
o sol nasce a meio da noite
deixo o sonho na almofada
e quero por ti ser amada...

mas a vida sem sonhar... deu em nada!

natalianuno

 

no fundo do tempo...


Meus poemas são música que ninguém tocou
São débeis sóis de esperança de criança curiosa
São pedrinhas atiradas ao charco que a ninguém molhou
Porque me queixo eu? De que estou ansiosa?!
Tivesse eu outra forma de criação?!
Bailarina talvez, exprimindo-me por gestos
Mas a poesia é o meu mundo o meu chão
Meus poemas são gritos, são manifestos.
Sentimentos, lamentos e esperanças, neste chão verde
A mão que dou, a palavra que deixo o que recebo e me afaga
São água fresca onde mato a minha sede,
Uma força maior que ninguém silencia, nem apaga.
Estão prenhes de utopia por isso me chamam louca
Um dia virá, eles serão o grito, a força da minha voz já rouca.

Calo-me agora, quando o fim está p'ra chegar
Não resta nada, trago os dias cansados
E o medo espreita no fundo do meu olhar.
Cerro memórias que são já frutos frutificados.
Falei do passado acreditei no presente
O futuro calarei, fátuo fogo em que me apago
A vida não passou dum jogo, correu apressadamente
É bola de fogo, alegria efémera é dor que trago.
Meus poemas, são minha existência a escurecer
Numa solidão onde mais nada há a dizer.
Fico tolhida no fundo do tempo a esquecer
Quanto tempo a Vida me tira, sem eu o querer.


natalia nuno


pensamento...


as flores vêm de longe...ainda não chegaram ao jardim...lembranças azuis que encontrei no meu olhar....aguardam por ti.

natalia nuno

pequena prosa poética...


a noite cresce e as ideias correm na mente com um aroma escorregadio, e como trovão melancólico explodem no coração desmanchando-se em ternura... sinto-me uma louca com afeição a pequenas coisas à minha volta, e fico pensando e escutando no silêncio as gotas de chuva que vêm pernoitar na minha janela... fazem companhia às minhas insónias, e vêm regar os cravos de Abril...privada do sono, mas não da liberdade, continuo atrás da saudade como um vaga-lume na noite, numa teimosia de emoções que me fascina, me devolve a menina de tez morena, faces de âmbar e cheiro a jasmim, que recordo com pena e hei-de sempre amar ...até ao fim... e a chuva embacia a minha janela sem hesitação e deixa mais outonal meu coração.

natalia nuno
http://flortriste1943.blogspot.pt/

pequena prosa poética...


andam os lírios vestidos de aroma, e riem-se de mim nas minhas costas, enquanto as roseiras me aproximam do sonho, na buganvília há um entrançado de zumbidos a animarem-me os ouvidos que há muito ensurdeceram, os pássaros vejo-os a passear-se de cá para lá, fazendo-me inveja de já não voar como eles, e pasmo...pois pensava não ter perdido a vida de vez... só as cotovias alegram os meus dias, essas não desistem de mim, cantam no parapeito do meu peito, e eu lírica, vou respirando fundo e rasgando mais um dia... e nesta doce paz, não me lembro se morri ou se entreguei o olhar às nuvens que passando me acolhiam no seu regaço...

natalia nuno
http://flortriste1943.blogspot.pt/

é hora...


http://nataliacanais.blogspot.com/

é hora de abandonar calendários
é hora de esquecer a idade
neste torvo mundo de tempos solitários
onde o vazio me veste de saudade
é hora de nos teus braços me embalar
de me deixar no sono ao abandono,
e não querer mais acordar...

fechar os olhos à solidão
e sonhar-me perdida nos teus olhos
perder-me no teu afago, em desvario e
emoção...

é hora de gastar minha última estrela
de abandonar as sombras e o cismar
abolir nuvens cinzentas do meu céu
olhar-me no brilho do teu olhar
matar a sede do sonho que não esmoreceu
provocar o sorriso em tua face
envolver-me no teu abraço
é hora... antes que a hora passe.

natalia nuno

GOTAS DE ORVALHO




Gotas de orvalho pousam na folhagem
Despontam os primeiros rebentos
Vem à memória a imagem
Da primavera doutros tempos.
A primavera da minha infância
essa que nunca esqueci
nem sei se de lá parti.

 O céu azul, o rio corria
O cheiro da terra, o cheiro do pão
Os pássaros cantando terna melodia
E eu ali, raio de sol no meu chão.

Rouba-me o sono esta lembrança
Chega a doer esta visão
De me sentir vivamente criança
De arco na mão
Ali na minha terra quente
Onde aprendi a ser gente.

A sombra sobre mim cai...
E a vida já se esvai...

natalia nuno
rosafogo

pensamento...


no pólen da memória, papoilas vermelhas a atear a chama antiga, neste outono onde os desejos
já enpalidecem...

natália nuno

pequena prosa poética...


procuro sempre uma palavra que me ensine, estendo-lhe a mão e sigo na sombra dum sonho inacabado, meus dias transformam-se em grandes lezírias onde os pássaros largam sorrisos, no aroma frondoso das árvores sigo com eles buscando a vida...

nataliarosafogo

tempo imóvel...


esvoaça a cortina
confusão traz-me a noite enlutada
o tempo mantém-se imóvel
no peito uma sombra desolada
da qual não quererei nunca fugir
ergueu muros à minha volta
e só o silêncio se faz sentir
vou sentindo na pele o medo e a orfandade
a noite e eu,
numa aliança que nos une
invento sonhos de felicidade
e numa resignação sem tempo nem medida
enfrento os dias cada vez mais indefesos
da minha vida...

natalia nuno

trovas...leves sombras...




fico aqui eternamente
olhos cheios de sonho
no cais da minha mente
mais um dia enfadonho

passa por aqui o vento
passa por mim a vida
no coração o sofrimento
à dor ele dá guarida...

corri mundo de lés a lés
numa pequena jangada
e no chão ao pôr os pés
surpreendida era chegada

procurei sem encontrar
bem dentro da memória
como poderia lá estar?
tinha passado à historia

era uma flor em botão
esse amor era tolice...
escondi-o no coração,
para que ninguém o visse

à medida que envelheço
o espelho reflecte certo
já não sou... só pareço!
mas ainda estou por perto

sou fruto amadurecido
no entardecer da hora
pela vida enriquecido
pronto a cair sem demora

é verdade que se diz
que a vida dois dias são
procuro então ser feliz
passado é recordação...

natalianuno
rosafogo

um sonho após o outro...


meus dedos leves embalam sonhos
num rodopio, nada os detém
escoam-se em lembranças de hoje e d'além
emocionam-se ao meio da tarde
e o coração é fruto a crescer de
ansiedade...
o tempo morre indiferente
a solidão entra pela tarde e logo se alonga
mas meu sonho é verde, dá-me esperança
aprendi a semear e a colher
e o sonho vêm-me de criança.
e nesta condição aprendi a crescer
meus dedos são pássaros cantantes
que falam de mim em todos os instantes,
ouço-lhes os passos a voz e o respirar
e quando me sentem perdida
renascem prá vida, e eu recupero o amar.

meus dedos são flores solitárias
com eles invento secretas primaveras
sonhos rendilhados quimeras irreais
vôos cegos de pássaros sem asas
que levam para longe minhas penas, meus ais.
ponho-me a olhar o vento
a ouvir-lhe o lamento
e não estou só!
sinto-me a seara que o sol dourou
e em algum momento a vida me abandonou.
quando a desesperança me dá um nó
sou tudo do que me escrevo
vivo de emoções e sentimentos
quimeras que escrevendo, a sonhar me atrevo.

natalia nuno

indícios...


há uma neblina a circundar-te o olhar,
a luz está longe e no rosto há girassóis em fim de verão a morrer de cansados,
viver um pouco mais será um caminho por descobrir,
encontrar algum consolo,
deixar o tempo cair por terra,
seduzir o sonho e tê-lo por companhia para que arda tudo o que ainda arde dentro dele,
e se à noite vier a solidão que dói,
recorda a criança correndo pelos teus anos,
ávida de esperança, tão livre no seu vôo...
faz renascer em ti o universo
e cria mais um verso...é vida a Poesia.

natalianuno

pensamento...


a menina que fui outrora adormece na sombra dos meus olhos.........

nataliarosafogo

pensamento...


Já foi primavera no meu jardim, já brilhou o astro-rei... agora na sua ausência uma infinita paciência, e a saudade a perfumar, o lento colapso deste caminhar...

natalia nuno

pequena prosa... utopia


Vidas serenas, solitárias e doridas do trabalho árduo...a minha memória demora-se um pouco a lembrar, a roupa estendida a secar ao sol, a louça lavada num alguidar de barro, o outono e os seus langores, as casas do lado de lá do rio, as pequenas ruelas estreitas e tortas, as gentes cansadas ao anoitecer sentadas nas soleiras das portas, estas imagens ajudam-me a negar que tudo morresse...

natália nuno

perdidamente...


longe dos teus olhos
perdem-se os meus
saudade deles é lembrança,
saudade que em mim ficou
até perdida a esperança,
ter de volta,
o que findou

natalia nuno

prosa poética...


a melancolia é-lhe companhia assídua... momentos de total ausência e uma sensação de isolamento lhe percorre o sentir, rugas de cansaço, traços sombrios à volta dos olhos, no seu delírio às vezes ri até às lágrimas, e enorme nostalgia perpassa nas suas palavras que as mãos ágeis como borboletas passam ao papel, as recordações lhe arrepiam a pele e à memória em cada dia são colheita de momentos felizes, de tristezas e ansiedades, de saudades... da vida que foi um palco onde tudo se desenrolou, paixão, amor, entendimentos, desejos desmedidos, sonhos, todos os sentimentos! ...enxuga as lágrimas que lhe marejam os olhos, acolhe o silêncio que lhe penetra a alma e vive o gozo dum descanso apaziguador, já que a consequência da vida não se faz esperar e à morte ninguém consegue escapar...perante a presença do incerto, deixa o peito aberto ao que há-de vir.

natalia nuno
http://flortriste1943.blogspot.pt/

solidão...


a solidão, é loucura da mente
fica-se de peito aberto ao que vier
e os desejos que a alma sente, 
o tempo acomoda,
e o corpo 
que é flor bravia,
ama sempre que puder
o amor ilumina o mundo
e serena o coração
às vezes dói bem fundo
quando se desespera de paixão,
logo se abrem cicatrizes e
esfria o coração, a alma perdida
presos à recordação de dias felizes
continua a vida...e a bater o coração

natalia nuno

passo o tempo a desejar-te...


passo o tempo a desejar-te
como se tivesses partido...
e o tempo sempre a chegar-se
a ofuscar-me o sentido.
volto à felicidade d'outros tempos
a ver-te chegar
recordações fugazes como pirilampos
voejam nos lençõis quentes
onde os nossos corpos de desejos
se entregavam em rasgadas carícias
e beijos...
escuto o silêncio, as horas deslizam
e a lembrança daquele tempo me põe louca
passa um doce vento e num beber lento
teus lábios entreabem minha boca
mordo a polpa fresca que me ofereces
a recordação é agora ilusão que
se aperta contra o meu peito
e como náufraga, persigo o ar
para no teu beijo me afundar.

verdeja o meu instinto, não minto!
como sonhos inventar?
passo o tempo a desejar-te!

natália nuno

a descida...


desperto cedo com a aurora
aqui estou
em constante descida
barca que partirá na hora
na fria mudez
da partida.

a morte me prendeu
lutou comigo e venceu.

natalianuno

pensamento...


olho o silencio que passa... perco o rumo da força e diluo-me inteira, indiferente à solidão dos anos que me levam...

natalianuno
https://pensador.uol.com.br/colecao/nataliarosafogo1943/

pequena prosa poética...


a chuva intensa alaga a vidraça e tamborila insistentemente no telhado, e ela, vai alinhavando pormenores que não cessam na mente...fixa o olhar na fotografia em frente, e surpreendida, deixa-se entristecida, às vezes se revolta, privada de esperança então, o deslumbramento pela vida mistura-se com o medo de a perder...muitas e estranhas são as vicissitudes, escreve palavras afastada de si no tempo, separada pela vida inteira, vai querendo abarcar apenas o dia a dia com inegável doçura, traz consigo uma chama interior terna e abrasante, quente e às vezes lancinante, mas nada a aflige nestes momentos de lassidão...depois, bem... depois conserta as palavras e seca nelas as lágrimas, diz de si para si: o coração ainda a bater, mora nele a vida...então vive Mulher.

natalia nuno

pequena prosa poética...


hoje está morta, porque hoje ela casualmente se viu ao espelho, e viu um rosto velho, podia ter ficado indiferente, mas tristemente padeceu quando viu esse rosto sombrio...pensou enlouquecer... ah...pensem o que quiserem, ficou triste sim, tão triste que as nuvens pararam para chorar com ela, e a chorar também o vento que ouviu o lamento, sentiu esmorecer-lhe o coração, e diz-lhe descuidado como quem segreda um recado...no espelho, já foste trigo por colher, agora és uma seara seca à míngua pronta para morrer...
conserva como relíquia um poema maduro mas sem futuro, espreita o tempo a um canto da vidraça e refaz-se abraçada à criança que foi, assim passa o tempo e a dor não dói ...entre a memória da primavera e o outono caído ao chão, traz sonhos a escorrer do verão...e aos ombros uns salpicos de saudade, onde o inverno é já verdade.

natalia nuno
http://flortriste1943.blogspot.pt/

pequena prosa poética...


não sei por quanto tempo vou caminhar, da garganta do tempo me vem esta solidão e é com ela que vejo meu mundo a desabar...ecos chegam de alguma voz distante e em lufadas de vento percorrem-me o pensamento, enquanto meus dedos crepitantes continuam a escrever, a agarrar-se à poesia como arpões, aos poucos morrendo de ilusões e nas janelas das minhas insónias procuro ainda o sonho e pequenas sensações que espalho em meu alento, sem que nada nem ninguém as destrua, porque o sonho é meu e nele eu sou tua...há uma sombra que surge denunciando passos e apesar da decadência eu sonho ainda com teus abraços...constante e cega, vivo nessa loucura da qual já não há volta, nesta fria obscuridade abro de par em par o coração deixo nele à solta para sempre a saudade.

natalia nuno

pensamento...


infância...a doçura onde os anjos cintilam...tempo onde o coração é um fiozinho a correr indiferente ao que lhe surgirá pela frente...

natalia nuno

pensamento...


na memória palpita um mundo de lembranças, num afã a abrir-nos a porta da saudade...

nataliarosafogo

pequena prosa poética...


um fogo breve é já a vida, é folha que cai ao chão e conhece a velhice, é o obscurecer da beleza que não volta, é lágrima de resignação, é escutar o doentio lamento da alma...no fragor da festa tudo era surpresa a arder na carne, a iluminar o rosto, ternos sonhos, nada comparável ao tempo dos amores, cujos ruídos agora se apertam no peito como cristal cortante que acaba de se partir perante os nossos olhos embora na penumbra...mãos dóceis eram outras que vão perdendo o tacto, e há um riso triste ocupando o quarto de janelas fechadas, onde só o espelho vai golpeando o futuro... murcham as flores na jarra imaginária, queimando o olhar longínquo, e irrompem as carências dum amor nunca descoberto, caem aguaceiros, oscilam os sonhos, e a chuva nos olhos bate sem piedade... rasgão do tempo de Outono que caprichosamente lhe assoma com a saudade...

natalia nuno

poema incompleto...


Sinto-me um rouxinol
voando sobre seara amarela
sedento de sombra, fugindo ao sol,
ou uma papoila singela
a rodopiar ao vento...
p'la janela, olho o movimento lento
do rio, o silêncio do nada, o vazio,
e sobre o papel inicio mais um poema
sombrio...

estendo a colcha de renda
sobre a cama,
ouço o bater do coração
que te ama,
os lençóis vazios,
e o poema ainda mal começou.

conformado com os dedos frios
com quem se cruzou,
diz-me baixinho:
segue e deixa-me p'lo caminho.

natalia nuno

inquietação nocturna...


sou o aconchego do teu coração
sou a trave a que te encostas
eu te dou e me dás a mão
digo gosto...dizes gostas
sou o teu calor de inverno
e o teu luar de Agosto
é o nosso amor eterno
estrela para lá do sol-posto.
reforçamos sentimentos
cada dia mais lembranças
são violinos numa velha caixa
de madeira,
até que Deus queira

razão porque se caminha
a vida é nosso bem maior
apesar das adversidades
segue com nosso amor
um cálice, a transbordar de saudades...

.......................................

os dias avançam e morrem
e o que fica neles de mim?
um avanço, um recuo
e uma melancolia sem fim
quando me tocas, ainda que seja com o olhar
deixo o corpo ao abandono
e de amor o coração deixo de novo inundar
recolho aos sonhos
e é como se me abrisses os braços
eu me perco para te encontrar
atravessas-me o coração que do teu
segue o compasso...o amor queima-me os dedos
e é já de madrugada, empalideço como a lua
esqueço o poema, esqueço que fui tua
sinto-me uma cana arrancada,
semente longe da raiz
ou estrela apagada, tão somente a que tanto te quis.

natalia nuno
rosafogo

abusa...


usa o meu corpo
aumenta meio anseio
procura em delírio meu seio
faz dele uma festa
usa a tua mão desonesta
fá-lo delirar
não importa o pecado
fantasia,
deixa as roupas em desalinho
esquece a noite, esquece o dia
difama, desacredita minha seriedade
e num delírio escaldante
deixa-me ainda com saudade.


 natalianuno

este afecto...


instante da entrega
serei tua se me quiseres
meu coração do teu
não despega
este afecto que há muito nasceu
foi talhado no céu,
prevalece no tempo,
o destino o marcou...
foi Deus que assim destinou

natalia nuno

pequena prosa poética...


bem vindo o azul da noite sobre o rosto verde da folhagem, logo é a hora em que os corpos se enrolam, as bocas se juntam, famintamente se amam... a janela continua aberta, recebendo o vento amável, só ele testemunha o absoluto deleite do amor entre quatro paredes... vai implorando morrer entre os amantes...encostada a uma esquina a lua traja de prata, alheia à janela aberta, tocando com os lábios a terra a seus pés e, deslumbrada, olha cada palavra que o poeta frustrado, coloca sobre o papel branco da côr das flores da magnólia, e deixa num verso uma réstia de doçura...

natália nuno

pequena prosa poética...


não sei como dizer da dor da minha escrita, do sol que nela nasce tardio, dos dias partidos um a um, das noites mergulhadas no silêncio, sufoca ela nas minhas mãos e colho poemas desfeitos fugidos do peito em agonia infinita... não sei se voltarei a escrever, as palavras golpeiam-me os pensamentos, velhas, cheirando a humidade, insistindo agarradas aos meus dedos, esparramando-se em pranto e saudade, mas não me seduzem nem convencem não têm mais ordem para nascer neste tempo enigmático de outono que me faz sofrer, cortei o fio que me atava à poesia que me trazia sonhos quiméricos para depois me perder na obscuridade de mil sombras...hoje quero falar do aroma da infância, da linguagem da natureza, acariciar os regatos que me saem da garganta, nas canas verdes dos meus olhos deixar pousar os pintassilgos, os melros, esses sim, tão vivos enraizados na minha memória, feitiço que me levará ao esquecimento....lá, onde se eleva uma estrela que me acolhe.

natalia nuno

saudade, forte refúgio..



lembro quando os pirilampos
corriam à minha frente
iluminando o caminho
e eu inocentemente corria
e a terra já dormia
as estrelas olhavam-na do céu
o vento brincava nos meus cabelos
que caíam em anéis espessos
e meu riso soava doce
lembro-me como se hoje fosse,
o orvalho tombava do céu
tão puro quanto eu.
já dormiam os vivos
os pássaros recolhidos no ramo
só os pirilampos me faziam companhia
também o som das águas do rio que da janela
ouvia...
o vento sempre me fala da saudade
saudade do freixo, saudade do açude
e da menina que nos sonhos vejo
a atravessá-lo amiúde,
quando é maior a solidão
e o sonho ilusão
volto à meninice, onde os pássaros cantam melhor
e o rio chama por mim
eu sonhadora lá acudo ao chamamento
e vou ao lugar de onde vim
e se por ventura o moinho ainda chora
interrogo o vento na hora
invento, invento como se os pirilampos
ainda estivessem por perto
e com o coração aberto
tudo o resto passa ao lado
dos meus olhos fechados
.....................

tudo isto sonha o poeta
mas o poeta não sabe nada
fala por ele a saudade, quando
faz poemas na madrugada
saudade é sua chuva seu sol,
seu ânimo para qualquer ocasião
é o acomodar a paz no coração.

palavras e lembranças, adoçam-me a boca
aos ouvidos fazem cantar os pintassilgos
docemente... e assim, ainda me sinto gente!
neste mundo meu, há lírios que a memória retém
que só eu vejo crescer, que serão o embalo
do inverno que aí vem...

natália nuno
https://nataliacanais.blogspot.com/

trova...brejeira


anda m' boca com desejo
dum beijo dado ou roubado
que boca terá esse beijo
que o trago tão desejado?

natália nuno

fito a folha...


o coração pulsa sobressaltado
sempre que lembro o passado
fito a folha em branco, o tempo aborrece
já nada acontece
a vida é apenas um segundo
deixo-me no meu recolhimento
profundo ...
nesta já longa jornada
há um oceano a jorrar em mim
de saudade,
trago a vida presa a nada,
e esta sede que não passa
sinto-me assim saudosa
parte de mim deseja gritar
de contentamento
outra me desafia à solidão
e um mau pressentimento
se instala ... no coração
que insensato,
na ilusão bate
forte... fugindo à morte.

natália nuno

pensamento...


a Poesia tem de trazer estrelas aos nossos olhos, tem que entornar sílabas de amor nos nossos corações...sem sentimento... a poesia é orfã!

natalia nuno

pensamento...


Quando a voz tropeça, ouvem-se apenas murmúrios d'alma, faz-se silêncio nas raízes que a alimentam e renasce sempre uma pulsante razão para o coração encarar a vida.


natalia nuno

pequena prosa poética...


Começo o dia a desenhar, desenho sonhos, desenho letras que se ramificam como as flores, desenho a paz, procuro caber dentro dela, e depois saboreio com o olhar esperançada que o sonho e a realidade dêem as mãos...

natalia nuno

pequena prosa poética...


poemas despidos de palavras, onde já não chegam meus dedos, são cais de soluços onde minha alma aporta...morreram os versos nas minhas veias doridas, que importa carregar nos ombros as horas vividas? fiz poemas como quem reza as contas dum rosário, mas a fé abalou e o que restou, é um requiem de mágoa, uns farrapos de aurora... saudade que se faz beijo e vai embora...poemas despidos, canteiros de desalento, onde deserto o pensamento...

natalia nuno
http://flortriste1943.blogspot.pt/

reflexão...


história de amor sem final feliz, tem como horizonte a solidão, onde os sonhos se habituam ao vazio...

nnuno

escreve o poeta, sem saber porquê!


não te disse nada
mas teu olhar me respondeu
era já de madrugada
e nas dobras do lençol o amor aconteceu
os pássaros escutaram os gemidos
e as folhas caíam, era outono
não abdiquei do céu, raivas e choros esquecidos
e por fim chegou o sono
o sol nascente espreitava e eu te amava.

natalia nuno

pássaro louco...


deixo-me a fingir que tudo é verdade
como o beijo que me dás ao amanhecer
quando os teus braços me acolhem e afagam
e eu me sinto florescida, a renascer
entra o sol pela janela em rodopio
é ali a certeza de tudo certo,
depois o quarto vazio, da tua presença
deserto...
deixo-me na ilusão de que é verdade
e o pensamento parece um mar encapelado
lá volta de novo a saudade
e ali se senta a meu lado.
assim me sinto na distância
pássaro louco em voo
num céu de bonança.

deixo-me nos sonhos infantis
meus pensamentos rasgam o espaço
e a memória como um bailado me deixa feliz
arredando pedras do caminho por onde passo.
o sonho deixa-me menina rica de alegria
e folgança,
tal como em criança...

natalia nuno

pequena prosa poética...


este meu voltar atrás, a olhar o florir dos cardos, ouvir a música nos prados quando não anoiteceu ainda, faz com que as lágrimas me visitem, e me deixe a pensar entre a saudade e a solidão...

natalia nuno

A última rosa amarela...


Morrem os gerâneos de frio
E morre a última rosa amarela
O meu sol era pequeno e perdi-o
Já não assenta na minha janela.
Estão agora os vidros embaciados
Já nem vejo a minha imagem
Falta-me um pouco de tudo, até coragem
E em silêncio tenho os sonhos parados.
O rosto vazio...que não responde
É a melhor imagem no espelho,
vem de longe, e seja ela quem fôr,
traz-me a mensagem
que esta estranha formosura,
é meu rosto velho.

A rosa perde as pétalas finais
Se as olham...já não vê!
Se lhe falam...já não ouve!
Adormecida em seu aroma,
já só crê!
Que a sorte foi esta a que lhe coube.

Deixa sobre a memória cair
O pó que a vai apagando
Ninguém lhe pergunte p'lo destino
o passado, o presente e o que há-de vir
Deixem-na apenas recordando.

natalia nuno

Ao redor do inverno...


As minhas palavras estão gastas
vazias, tantos anos, tantos sonhos
tantas andanças...
Só tu saudade alastras!
Restam ainda horas mansas
Dias de anseio, fatigados, adversos
Sigo indiferente, olhando meus versos!
Neblina na memória, secura de ideias
sonhos vagueiam a torto e a direito
parecendo teias...
sobre os muros do meu peito.

Mais uma tarde que transcorre
Mais um sol que no horizonte morre
E eu sinto-me ausente
Como flor que pouco viveu
O tempo é inclemente,
leva consigo o que é, e não é seu.
Assim amanhece o dia,
a minha alma espera
e como tudo o que espera
desespera.
Mas loucura seria,
não me erguer,
como sempre o sol se ergue
e seguir... como ele sempre segue.

Passam os dias,
continuar é a esperança.
E eu sou como a cotovia
Aquela, que ainda trago na lembrança.
Com o crescer do dia?
Deixo-me a recordar
Oiço o rumor d'algum passo
Vejo o vôo dos pardais no ar
Sinto das gentes o cansaço
Cheiro o vinho fermentado,
E a solidão aqui mesmo a meu lado.

Nestes lugares posso esperar
E tudo é tão simples, hospitaleiro,
regresso alegre à vida... vou continuar!
Aguardando sempre mais um Janeiro.

natalia nuno

pensamento...


a noite do meu corpo, é um infiltrado inimigo, é a morte mostrando a sua ávida avareza...

natalia nuno

prosa poética...


abro as portas deste céu de onde colho palavras, lá onde me busco sem sair de mim, e lembro pequenas coisas que mordem as papoilas da minha saudade... assediam-me os sonhos, onde sou fragrância e tu o vento que me leva, basta-me o teu olhar para inventar felicidade...aquela que já é saudade infinda, vinda do tempo que não sei fechar... apagam-se os dias em si mesmo, um ar frio esvoaça sobre as palavras ainda por dizer, a noite estende-se interminável, fica a vida um nó desatado, um pressentimento do nada me assola, temendo não poder ser mais despertada...enquanto o sonho se alarga num doce dormir, deixo para trás as lágrimas que me choram e nunca me abandonam...deito os poemas nas margens do rio, nem tudo é doçura ou tranquilidade tanta coisa afecta a felicidade....

natalia nuno
http://flortriste1943.blogspot.pt/

prosa poética...


em queda livre como pedra vão as horas caindo uma a uma, distanciando-se vai a vida, e a lua escondendo-se do meu olhar, os sonhos que eram gaiatos falam-me agora com mágoa, segredam-me mil pedaços de vida como quem reza, e a noite veste-se de prata luzente... logo surge a saudade grande como o mar...então, minhas ideias navegam nessas águas imensas a memória é seara loura madura e mexe-se mais que o vento, minha boca fica ansiosa, o coração bate forte como um tumultuoso rio que corre para o abismo sem parar, gritam as palavras dentro de mim numa torrente de sóis, nelas me deixo prender porque elas me devolvem vida e dão prazer...

natalianuno

trovas... cântico triste


neste verso rosa saudade
de(lírio) ou esquecimento
na procura da felicidade
ando eu a cada momento

debruçada sobre este céu.
q' avisto da minha janela
entre mil estrelas nasceu
uma que é a mais singela

o que me rasgou o coração
com uma espada afiada
fez me caminhar na escuridão
com medo de não ser amada

imenso e constante vazio
vivo em céus d' melancolia
na espinha sinto arrepio...
perdi teu amor, quem diria!

trago meu peito inundado
escrevo palavras d'comoção
ponho as fantasias de lado
que trepam nos dedos da mão

este inferno que é escrever
tão confuso. tão tenebroso
nestas linhas quero morrer
sem um despedir doloroso

natalia nuno
 soltas escritas em meados de 2001

agora que não me tenho...


palavras são borboletas que esvoaçam
e o meu olhar embacia enquanto passam
nos umbrais da minha alma ainda menina,
vou esculpindo versos nas noites consteladas
os anos me levam, nestas palavras devastadas
eu me reinvento, e
sonho-me a mim mesmo pequenina
escrevo um verso de saudade mais intenso
e quando esquecer o meu nome
escassa e magra será a liberdade
a memória consumida, e a vida
não pode ser mais chamada de vida,
ficarei repetindo palavras aprendidas
a memória presas, despojadas de certezas
na solidão da hora, tudo o que amei esquecerei
agora que não me tenho, as palavras se perdem
e já de nada me servem.

pertence-me o vazio das horas
o vazio das vozes que me falam
e a boca a mastigar indiferença
e na branca nudez da memória
já nem minha história!
nada sei, nada sinto, a mim mesma atada
em mim enclausurada.
e sei e sinto a direcção do vento
ouvindo-o com nostalgia
enquanto continuo esperando mais um dia
um dia de esquecimento...

natalia nuno

amor feito desejo...


Mas é pura e serena esta alegria
em que me deixo perder!
Vivo e alguma coisa embriaga o ar
Aqui, ali, a esperança, e sempre a fé,
não deixo de reconhecer
que ando agora mais devagar.
Posso olhar-me!
Alegrar-me...
Com olhos espantados
e a interrogação na boca,
Depois de tantos passos dados,
Ainda confio e estendo os braços á vida,
e vivo-a, louca.

Como a água viva que canta e é sempre
jovem!

Reconheço-me forte
Avanço por entre a multidão
com o coração a pulsar.
Acolho o amor e com sorte,
me entrego enlouquecida,
ao amor a te amar.
Meu peito bate lento,
duma forma perfeita.
Não há solidão nem esquecimento,
quando a lua cai sobre nós
e aí se deita.

Há muito que meus olhos verdejaram
Há a memória ainda fresca desses verões
Quando os teus me olharam e amaram
E em uníssino bateram os corações.

Ainda que a vida nos fustigue
E nada seja como dantes
O amor será sempre a verdade
que crepita nos nossos instantes.
Este mistério que nos causa saudade
Fogueira onde nos aquecemos
Verdor dum bosque onde nos perdemos
Amor feito desejos
vivos!
Sonho que não faz ruído
Meu coração e o teu cativos.
E as águas velozes correndo
no mesmo sentido.

rosafogo

natalia nuno


Leia mais: https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=206608 © Luso-Poemas

pensamento...


trago os pulsos doridos de remendar os dias,
forçando a eternidade... presa por um fio...

natalia nuno

https://www.pensador.com/colecao/nataliarosafogo1943/

pequena prosa poética...


às vezes sinto-me só, num mundo estranho, de esperanças poucas, e sentindo que nada posso mudar avanço nas horas sem remos, debaixo de calor, onde basta saber-me viva...perco até as palavras e aguardo pela paz em mim...então faz-se aurora e eu sou a viagem e sigo minha trajectória...

natalia nuno

segurando o vôo...


beija-lhe o rosto o último sorriso, depois esfia-se a vida em murmúrios e gestos lentos, o coração um deserto é quase uma estrela que se apaga no céu, a alma desejosa de soltar-se fugindo para o recanto mais subtil da melancolia, unindo-se à alma das coisas... como se o sonho ainda lhe pusesse estrelas nos olhos, senta-se à beira do caminho, respira o ar das resinas, ouve o rumor do vento nas giestas, observa a paixão das abelhas nas colmeias, o sol vai desaparecendo na ladeira, já a lua traz a noite, tudo tão dentro dos seus olhos a lembrá-la de tudo que amou...e assim vai segurando o vôo para que não despenhe o corpo...ou se extravie a memória.

natalianuno

ladainha...


às vezes sinto-me um rochedo de lua
é esta mudança que não mudo
por mais anos que viva a força em mim
perpectua
a força e a fé são mais que tudo
sou como a calhandra que voa sem parar
nestas linhas, linha a linha
ouvindo o eco do próprio cantarolar
versos que são reza, versos que são ladainha.

natalianuno

miragem...


uma miragem branca passa pela mente, e esta vai macerando o esquecimento, mas nas sombras dos teus olhos, consigo ver com os meus, que o amor é mais forte e tenaz que a confusão e o caos que às vezes quer apoderar-se do pensamento e apagar o odor a madressilva, o mel quente e o prazer que ainda nos atravessa...no oásis da memória continuam os sonhos como milagre, numa claridade distinta onde permaneces e eu continuo a amar-te...não fugiram de mim recordações que são astros vermelhos de verão a morar no meu coração.




natália nuno

nos teus olhos o céu...


beija-me como no sonho da juventude
olha-me com a plenitude desse teu olhar
e eu serei o aroma fragrante que esfuma
a labareda ou a queda
a realidade ou já só a saudade...
a dor ou a doçura, a noite que murmura
a memória duma vida em seu ar distante
tua mulher e amante.

o tempo vai quebrando laços
vai desfazendo nossos passos
vai espiando a ocasião
enlaça-nos numa intranquila solidão.
refugia-se nos meus olhos
este desmesurado amor...
enquanto a tua boca me entrega
o júbilo aceso duma flor.

o tempo todo vem perdurando em mim
a jovem chama, que me põe a mente
incendiada, traz-me a tua recordação e eu,
tropeçando, caída e cansada ainda assim.
vejo nos teus olhos o céu...
e no teu corpo o único destino meu.

natalia nuno

o afastamento...


emudeceu, e cercado de silêncio
sem palavra alguma
apagava-se para que não o recordassem
e assim poder esquecer as horas que choravam
entre seus olhos fechados...

natalia nuno

pensamento...



...no caminho da memória,
o prazer lento da nostalgia puxa o fio das lembranças,
e, surpreende o coração.

natalia nuno



https://www.pensador.com/colecao/nataliarosafogo1943/

pensamento...


passaram os anos, lentos como os dourados fumegantes do Outono, velozes como os ventos tempestuosos...mas a vida ainda é sonho, sede dos meus sonhos.

natalianuno
https://pensador.uol.com.br/colecao/nataliarosafogo1943/

abandono-me...




abandono-me ao torpor do tempo
dobrada ao peso da saudade
resignando-me ao meu nada
calada, nesta noite de negra obscuridade
o sono foge, os lamentos na
garganta se afogam,
nada a fazer e menos a dizer...
a noite está pesada
o chão da vida escorregadio
lá vou atravessando meu rio.

sem conciliar o sono
repito na memória, episódios
que recordam outros dias
entardecendo, onde as noites
eram menos sombrias
e os dias azuis e lavados
os sonhos trazia abrigados
nas manhãs de seiva fresca,
das laranjeiras a brotar de vida
e o rio em frente
cantando docemente.

abandono-me de novo até
que o céu se abra de azul
onde se reflicta o meu desejo
de viver...caminhar com vivo passo
e uma única condição,
a de deixar falar meu coração.

natalia nuno
rosafogo

as flores do campo...


com tão pouco e tão felizes as crianças da minha infância, tudo e nada tínhamos, porque o pouco era muito, o pãozinho do forno de lenha, as flores do campo, as canções dos grilos e das cigarras, as poças d'água para saltarmos, e um sonho a cada manhã, poder brincar na rua com asas pespontadas de alegria, com os cabelos ao vento correndo rua abaixo, rua acima, com a benção do sol e a ternura dos pássaros que nos espiavam para que deixássemos os ninhos em paz...fomos felizes sim, por isso ainda trazemos esta saudade fecunda em nós, nossos olhos roubavam a luz ao sol, enquanto ele nos dourava a pele, enquanto voávamos de pés descalços, com a gratidão ao rubro por tanta coisa boa.. a aldeia fermentava de sabores e cores tão nossos conhecidos e à noite o vento cantava por entre as frestas do telhado, enquanto no braseiro se aquecia o café e sonhávamos, sonhos fumegantes, até chegar o sono e adormecermos em paz... na manhã seguinte tudo retornava, as brincadeiras ébrias de alegria com os companheiros, os saltos e correria...hoje fecho os olhos apago-me no silêncio e rememoro as minhas raízes na aldeia onde sempre era primavera e os pássaros vinham pousar nas glicínias da mãe.

natalia nuno

pensamento...


na infância trazia o peito cheio de afectos, hoje colho afectos revivendo memórias...

natalianuno

poema adolescente...


ninguém sabe do rosto
ficou no tempo encoberto
como o dia após sol posto
de poeira cinza coberto

rosto não lembra ninguém
dele voaram os olhos
pássaros sobrevoando o além
fugindo da vida e d'escolhos

rosto que nasceu criança
que saltava o muro e era flor
o tempo o levou e até a trança
o tempo lhe mudou a cor.

natalianuno

sonhando com voo...


caem folhas ao chão 
sobre as pedras da calçada
mendiga, procuro em meu coração
e o sentimento se confunde 
o amor ainda é tudo ou já não é nada?
este instante se apaga, ficam
meus sentidos entorpecidos
minha noite em inquietação se alaga
foram-se os júbilos primaveris
meus sonhos são ramos partidos
que o vento levou para onde quis
as folhas caídas tão frágeis quanto eu
no chão adormecidas, na noite de breu
e eu, sonhando com voo
minhas mãos estendidas
são  folhas que o tempo
secou...

 

natalia nuno

estremecimento...


trago as mãos agitadas
os dedos querendo libertar-se
o coração a cansar-se,
e as pálpebras cerradas
estremeço e o sono não vem.
aqui e além, o sonho vencido
as palavras cheias de frio
faço-as saltitar, sorrio
digo-lhes que as amo
sussurro-lhes ao ouvido
elas sabem que é por ti que chamo

natalia nuno

pensamento...


hoje dou a mão ao sonho,
amanhã posso ser rosário de quem não reza...

nnuno

prosa poética...


quando fecho os olhos, alcanço estrelas que me iluminam no silêncio turvo das palavras, visita-me o futuro, e o frio trespassa-me até aos ossos, que mistério esconde?... acato o destino, as palavras concedem-me a dúvida que me deixa numa indefesa inquietude...tremem as minhas horas, abandono-me entre o monte e a urze e ali fico semente, a aguardar por germinar ainda um pouco, mesmo sendo a minha estação o outono...sussurra-me o vento, trazendo-me sensações de velhas recordações e a minha memória irrompe como uma borboleta cujas asas já mal se sustêm, ainda assim, vive nelas a lembrança dum amor vivaz...o tempo pôs a sombra no meu rosto enquanto o sol se escondeu no arvoredo, o silêncio se fez com chicotadas na mente, na boca palavras errantes e vazias, e no olhar os raios prateados da lua, a velar-me os pensamentos.

natalia nuno

atravesso a loucura...


escorrega uma lágrima quente
no rosto frio e sombrio
tomba no chão,
fica o rosto com uma enjoada alegria
e o coração bem no meio da escuridão
perco o rumo, atravesso a loucura
perdida, desolada, numa solidão obscura.
saudade avassaladora que entrou
no vazio de mim, e desassossegou
o sono, como tempestade me toca
e logo me deixa ao abandono...

natalia nuno

esgota-se o tempo...


Uma insónia me persegue
através das cortinas da mente
acordo do meu sonho ardente
e numa erma ternura
relembro o sonho
da idade da candura
mergulho o rosto na
noite crua
e o amor que damos um ao outro
triunfa feliz
tu és meu e eu sou tua.

Sorvo o teu odor
e o desejo floresce
esgota-se o tempo
afasta-se o pensamento
e só o prazer cresce
ouço em abundância os teus gemidos
e os beijos de sabor a mel
estamos mudos, enfeitiçados
da vida esquecidos,
os arrepios vagueiam em nossa pele.

Ficou o sonho suspenso e vazio
só sinto a escuridão da noite
o frio , lentas as horas
mais uma ruga incipiente
e eu sem sono
que foi feito do sonho da gente?
O amor chegou com inteireza
este amor que me prende e dá certeza
chego-me a ti, o consolo da tua mão
é o regozijo do meu coração.

natalia nuno
rosafogo

no vai-vem do amor...


Espero que apareças...
Espero-te aqui na esquina
mas não esqueças!
Traz contigo o perfume campestre
o mesmo que me ofereceste
quando era menina.
Chorei,
no dia em que nos despedimos
só eu sei!
O gosto das lágrimas salgadas
as vozes enamoradas
o beijo exasperado
a lembrança de mão na mão
O coração trémulo, calado.

A nossa sede, o nosso abraço
A minha oração sem esperança
O meu rosto sem traço
Aquele que me viste em criança.

Sangue sem sangue, sem pulsação
E a noite, a mansidão?
Meu vestido branco, flores no cabelo
louco, louco este meu desvelo.
Com meus olhos digo que amo
Meu andar fica cativo
No meu sonho por ti chamo
Amo-te, amo-te!
Docemente te digo.

Espero que apareças
Recolhe-me no teu olhar
e não esqueças
traz contigo a magia do luar,
e uma ou duas lágrimas para às minhas juntar.
Faremos um lago a soluçar,
e dos meus olhos cairão rosas
que crescem ainda, por entre pedras preciosas.
E nossos dias serão de marfim
Falaremos de magnólias, de jasmim
enquanto os nossos sonhos adormecem.
E depois, por fim...
o tactear que buscámos tanto
Milagrosos sonhos que permanecem
E vamos sonhando por enquanto.

rosafogo
natalia nuno




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promessas...


fico dentro dos dias,
à espera que sorriam promessas
mas o coração tem razão
eu dou-te tudo sem que me peças,
o amor é eterna fantasia
e eu, sou dele louca aprendiz
é a razão quem me o diz
senão me beijas e não me sorris
de que servem as promessas?!
meu coração dá-te tudo sem que peças.

natália nuno

pensamento...


de cada vez que te lembro, é como se o amor insistisse em me prender... a um encontro sempre adiado.

nnuno

retardando o passo...


esqueço o pó do tempo
acomodo a felicidade no peito
as saudades são flores bravias
vêm de qualquer jeito
a alegrar-me, ou a fustigar-me
os dias...
meus sentimentos são rio
que cruza noutro, aclaram águas
esqueço mágoas, 
deixo o olhar vadio
o coração num doce cansaço
e assim vou retardando o passo.

natalianuno

trova...


vou pedir à saudade
e ela me trará, que eu sei!
o remédio para a vontade
com q'à vida me entregarei

natalia nuno

a ver o dia morrer...




Vejo tudo tão distante
já nem lembro da feição
é como abolir da mente
e guardá-la para sempre
no coração.

Nem um sinal de alguém
só a imensidade do mar,
e a saudade que ninguém
quer, só eu posso aceitar.
Mais um ano, mais um dia
vergada ao peso todo.
E os sonhos? Na maioria
quebradas utopias,
longa espera...
rosários desfiados
para aliviar os dias.

E voltam à minha ideia
os momentos de prazer
olho o mar, sentada na areia
nesta tarde quieta
a ver o dia morrer.

Esquecida da vida,
ouço o canto das ondas
sonhar é uma necessidade
sacode minha melancolia,
e desaperta a minha saudade

despeço-me do mar e da tarde
levo comigo o silêncio inteiro
e o persistente sonho onde
canta a primavera

e no esplendor do amanhã
serei andorinha à espera.

há em mim uma febre mendiga
que embacia minhas pupilas
onde uma lágrima se abriga
e me submerge de esquecimento

natalia nuno

espera amor...


perco-me no abismo do teu olhar
morrem flores neste entardecer
perde-se Vida num constante acenar
mas a esperança volta sempre a florescer.

o tempo é como rapaz novo, a correr
torna minha solidão ainda maior
já nem o corpo me quer obedecer
resta o tempo de lembrarmos amor.
operco coisas que aprendi a amar
o tempo é colete de forças que me põe à prova
que me aperta sem cessar
mas deixa ainda no meu peito uma emoção nova.

perco-me no abismo do teu olhar
olhas-me de medo de me ver cair
hesitante de palavras mas com vontade de gritar
ESPERA AMOR... a noite mansa que há-de vir!?
e assim foi sempre entre o deitar e o dormir
a nossa festa com brilho e chama
esquecidos do tempo do porvir
é nesta hora que a gente sempre se ama.

natalia nuno
rosafogo

o poente ,teu corpo...


quando o sol se põe, meus olhos abandonam-se
no poente do teu corpo, a noite imprime um sentimento de amargura
se te vais, despedindo-te de mim sem um sorriso,
vejo-te a desaparecer, só estás presente no desejo da minha memória,
onde o sonto habita e o visito sempre que preciso...

natália nuno

pássaro livre...




teço em cada manhã um par de asas
embrulho os sonhos e sigo caminho
como um pássaro voando sobre as casas
a rasgar o vento que sopra p'lo rosmaninho
sina minha,
ave assustada cruzando montes
sem saber do rumo , sem horizontes...
num vôo cego, sigo adiante
por entre trigueirais loiros
aguardo o nascer do pão,
faço companhia aos besoiros
alimento corpo e alma
arranco ervas daninhas do coração
e seco as águas que os olhos entopem
dizem-me os sentidos que no fim estão,
sem perder tempo,
dou ouvidos à saudade
e grito aos sete ventos, que sou pássaro livre
dona dos meus pensamentos,
companheira da criança que em mim vive...

inventarei novo caminho que este está gasto
tanto silêncio sobre as palavras espalhei
que delas me afasto
deixar-me-ei na infância, perto das estrelas,
do agitar das folhas, das flores e amores
e no peito nem vestígio de tristeza
esquecendo do mundo a bofetada
suspensa num fio de eternidade
e a saudade no peito pousada.
verei os primeiros sinais da primavera,
os versos ressurgirão com o murmúrio
das águas, e no coração, amor à vida
que a morte... espera!

natalia nuno

pensamento...


há um sentimento que nos percorre o corpo e nos toca a alma,
quando nos vem à lembrança a juventude...

natalia nuno

pensamento...


nos dedos da solidão, há palavras fugitivas do tempo...e no mutismo dos olhos, recordações que não querem renunciar...

nataliarosafogo

pensamento...


trago o sorriso algemado, e o silêncio apontado, um estranho pássaro na nudez da palavra, e a memória em fuga sedenta de ternura...

natalia nuno

saudade...


Saudade é a prisão da dor de quem espera
O desassossego da alma de quem desespera
É o pressentimento do não voltar a ter
É matar o tempo com a dor do não saber.
A agonia que cresce quando se contam os dias
A apatia em que se cai se não há notícias
É a nostalgia do beijo e do abraço
Uma inquietude onde nem o sono tem espaço.

Saudade é sentir longe quando se está perto
É o desespero de se perder o que se tem como certo
Sentir a voz de quem queres que te chame
Saudades sentes mesmo que já não te ame!
Saudade é a alma cheia de desejo
Um momento amargo doce, aguardando o ensejo
Adormecer esperando o dia com ansiedade
Sonhar o reencontro também é saudade.

As despedidas que ainda nem aconteceram
As esperanças dum regresso, que se perderam
A angústia de não saber quando
Saudade é o respirar o mesmo ar,as bocas colando
É um silêncio triste e obstinado!
Múrmurio que o vento traz do bem amado

Num lugar secreto onde mora a solidão
Mora a saudade que não nos larga o coração.


Natalia Nuno

desabafo...


Talvez me mortifique no vazio da espera, o sol hoje trouxe emoção a pequenas coisas, tocou o meu coração e eu toquei o horizonte azul dos sonhos, aos olhos voltaram pássaros de ternura, na mente o sussurro enfeitiçado da felicidade e nas mãos molhos de trevos avermelhados colhidos na aridez da alma onde brota sempre uma esperança...

natalia nuno

eu sei que é sonho...eu sei!


eu sei que é sonho...eu sei!

eu sei que meus dias são quase felizes
quando recordo minhas raízes,
ninguém sabe até onde meus pensamentos vão
nem por onde andam meus olhos errantes
nem as lágrimas que neles se acendem,
nem quando há sol ou chuva no meu coração.
abro as janelas do peito e a aragem entra
vou arejando p'lo caminho num passo
que já não voa, nem corre,
mas o sonho continua e não morre.
às vezes a alegria faz-me companhia
ponho no rosto um sorriso
aspiro o ar que o vento faz mover na verdura
subo ao céu azul intenso onde o sol flameja
encho o peito de ternura e ele me beija,
fico numa paz perfeita, aconchego-me a ti
eu sei que é sonho ...eu sei!

mas é um como real acontecimento
e minha alegria desperta,
sonhar com a felicidade é alegria certa.
rubra de paixão, olho a vida com profundidade
com o pensamento numa doce recordação
hoje sonhadora, banho-me nesse mar da saudade
já tão distante...guardo a recordação em mim
e minha alma verte doçura
turva-se de lágrimas o olhar, era tempo de amar!
não está esquecido o beijo dado, nem o roubado,
generosa idade, dela sinto saudade.

nos sonhos da noite, volto a reviver
o tempo desfolha eu sei, mas hoje do presente, não sei
nem quero saber...

natália nuno

pensamento...


esculpe a maré nas areias e o tempo em meu rosto
uma floresta de sombras...

nnuno

idade sem data....


com laço de seda cingi a cintura
fiquei menina da brincadeira
ouvi as vizinhas dizer com ternura
sai à mãe, quer queira ou não queira

debruço-me à janela, o mundo é meu
ouvindo as pombas num arrulho louco
já se põe o sol, escurece o céu
e os lírios vão crescendo, pouco a pouco

mil vezes se repete minha imagem
nas águas do rio que corre por perto
a mágoa vive o sorriso está de passagem
já nada regressa é o futuro incerto

surge a dama da noite, toda claridade
adormecem as margaridas no monte
preciso de afecto mas vem a saudade
que percorre hoje e amanhã m' horizonte

e as bonecas de trapo sorriem pra mim
choram os salgueiros a sua solidão
com as tílias em pranto vão chorando assim
mas a mágoa é minha, consome-me em vão

já não sou menina sou mulher feita
sou raiz funda agarrada a este chão
a palavra é minha garra que quero perfeita
só o tempo me traz profunda solidão

pode a saudade gritar-me na garganta
pode o vento voltar quedando-se no jardim
narcisos deixarei em poesia...tanta!
que também restará saudade de mim.

natália nuno

palavras...


as palavras são melancólicas,
como a luz que me alumia
arautos que me acompanham
dia após dia...
são âncoras fortes,
como a sede e a fome
é com elas que escrevo
meu nome.

natalia nuno
(rabiscos)

já não há malmequeres...


já não há malmequeres no meu outono
nem nos meus sonhos há qualquer segredo
já me arrancaram até o sono
já o vazio me apanha e me faz medo

faz tanto tempo que dormia numa cama
de folhedo...
abandono-me na tarde e regresso ao aroma
que a saudade me traz dessa primavera
de sangue novo, saudosa de quando era
menina do povo...

já o vento do poente não me enche o peito
de ar
extraviou-se a memória, quebrou-se o olhar
ainda assim escrevo, escrevo exaustivamente
tenho tanto amor no peito que de mim não estou
ausente...

fiz barquinhos de papel, pu-los a navegar 
como se a vida de par em par se abrisse
e os peixes de prata vinham as m' mãos beijar
hoje pra não sentir a solidão, apanho tílias e giestas
e os sonhos voltam a fazer-me festas...

acordo p'la manhã, e sinto-me botão por abrir
apesar de viver não seja perfeição
a natureza está sorridente, tenho de sorrir
é agora tempo que afaga, dá-me a tua mão
que a desesperança não se abata sobre nós
esqueçamos a longínqua margem do verão
e amemo-nos neste outono sereno que nos leva à foz.

natalia nuno
rosafogo

pensamento...



quando fecho os olhos, vejo atalhos ladeados de girassóis que me sorriem...esqueço os labirintos da realidade e vou sonhando...

natalia nuno

pensamento...


espero-te em silêncio, não quero que a vida saiba que me fazes falta...

natalianuno

trovas... na aventura do sonho


finjo até esquecer de ti
nesta viagem dia a dia
tal como coisa que perdi
que é sonho ou fantasia

como comboio que parte
ou que fica pela estação
a vida parte e reparte
e oferece-me teu coração

sinceramente, não tenho
a certeza de estar por aqui
dizem que lá donde venho
já tanta memória perdi...

alastra dentro de mim
esta saudade danada
quando era flor de jardim
e à tardinha te esperava

hoje que não sinto nada
o coração preso por fio
trago a fé afugentada
os dias a morrer de frio

pudesse partir e esquecer
na aventura de teus passos
poderia enfim  envelhecer
na ternura dos teus abraços

natalia nuno

uma nova vontade...


Uma nova força me invade, não cansa
Até a Vida me parece mais companheira
Tenho saudade, mas nasce uma esperança
Transfiguram-se sentimentos
E a vontade fica cimeira!
Nos meus pensamentos?
É como se a luz voltasse a estar acesa
Esqueço o vazio d'outras horas
E é também na amizade, concerteza
Que eu agarro novas auroras.

Sinto-me como flor silvestre
Aguardando o esplendor do azul celeste
E quando tudo parece soçobrar
Esqueço rugas e canseiras
Ainda que presentes e verdadeiras
E deixo-me assim... a sonhar!

Bate-me no rosto o vento
E a chuva teima em cair
Mas eu hoje estou calma!?
A força de vontade não vai extinguir,
Hoje sinto-me um corpo só alma!


Fiz este poema num dia feliz de convívio, com
os amigos do Luso, não modifiquei nada, foi feito
com o coração leve e assim vai ficar.

rosafogo

Leia mais: https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=110145 © Luso-Poemas

desejo...


descubro teu corpo
enquanto o tempo jaz
me doas prazer em demasia
o quente das tuas mãos
me satisfaz
palavras em surdina
a magia
da tua boca audaz,
meus desejos de menina
solicitação de mulher
que deseja
e sabe o que quer...
almeja sempre mais,
na cama os sinais
dum amor abrasado
e no quarto o eco
do gemido arrastado.

natalianuno

 

 

 

magoa-me pensar...


Entre a minha memória inquieta
E o tempo que tudo repete
Há um regato a correr...
Que observo em silêncio...quieta!
às vezes desespero, mas já pouco
tenho a perder.

O tempo lembra-me que existo
Que trago comigo um passado
Me lembra de tudo isto
Estou cansada e ele cansado.

Tudo acontece devagar
Mas o tempo corre...!
Magoa-me pensar
Que tudo o que nasce morre.

Tantos anos trago comigo
São já um poema de saudade
Ou aquele livro amigo
Que ao ler nos dá felicidade.
O tempo passou por aqui
Por um instante, um apenas!
Será que eu não o vi?
Pesam em meus ombros
minhas penas.

rosafogo
natalia nuno

pensamento...


no fundo negro da memória, as palavras alumiam a escuridão... alimentam-se do meu sonho,
e tocam-me a alma...

natalia nuno

sem dó...


meus ouvidos são inúteis
já nem ouvem o correr da fonte
mas, meus olhos ainda olham
o sol a esconder-se no horizonte
o tempo despedaçou-me o rosto
sem dó nem piedade
sinto a melancolia p'la tarde ao sol-posto
e a emoção em mim se agita
desperta então a saudade
e desgovernada em meu peito gravita.

natalianuno

Eu e as minhas bonecas de trapo....


Eu e as minhas bonecas de trapo....

ainda hoje os meus sonhos são de assombro e a claridade ainda resiste nos meu olhos como se fosse criança, essa criança que acompanha com seu carinho e amor o meu caminho, sempre com a palavra necessária e certa, a esperança a felicidade e a alegria que um dia foi nossa, após tanta distância unimo-nos, envolvemo-nos em sonhos azuis e escapamo-nos, muma embriaguês onde tudo é íntimo...

natalia nuno

palavras fora e dentro de mim...


um cordão de flores me envolve o olhar
trazendo o cheiro da maresia
entrelacei-as nas minha mãos
enquanto meu coração se abria
e com um vagaroso sorriso
invadi-te o desejo
procurei um beijo
toquei-te delicada,
já chegava a madrugada...

natalia nuno

pensamento...


no fundo negro da memória, as palavras alumiam a escuridão... alimentam-se do meu sonho, e tocam-me a alma...

natalia nuno

acompanhada e só...


acompanhada e só
cada vez mais me confundo
será que desatou o nó
e o amor está moribundo?
dos caminhos que a alma pisa
vem-me este enganoso pensamento
olvidar-te meu coração precisa
para acabar este tormento
as sombras do dia vão alto
já se foi mais uma jornada,
trago o coração em sobressalto
serei eu pouco, ou serei nada?

são sempre as trevas que rendem
se os sonhos não se acendem

natalia nuno

diz-me tu...


olho o horizonte com lentidão
olho as sombras fatigadas da tarde
inquieta-se a minha imaginação
e nos meus olhos irresistível saudade
há um silêncio ensurdecedor
ao meu redor, sobeja um tempo duvidoso
os meus dias são folhas sem vida
e eu confundida nem lembro,
se é já Outubro ou ainda Setembro
se entrei no inverno e me sentei
à espera de lembrar tudo o que esqueci
nos dias lentos de Dezembro
e se de mim não lembro?
- lembro de ti!

lembro do Maio florido
onde tudo era possível querendo,
lembro a ventura, o sonho apreendido
hoje olho o sol no horizonte morrendo,
e já não lembro porque de amor por ti
morri...
diz-me tu se ainda tenho o meu lugar
se não anda longe de ti meu coração
se o teu ainda vive para o amar
diz-me tu, que já não lembro não!

natália nuno

pensamento...


colho uvas para adoçar-me a boca e, pintassilgos docemente crescem em meus olhos...

natalia nuno

saudade...


anda a cotovia nos trigais
ando eu contemplativa
e as andorinhas nos beirais
numa roda viva...
respiro o aroma campesino
nuvens agrupam-se rendilhadas
viver de saudade é meu destino
que me traz recordações tão delicadas
neste idílio enamorada
lembro os campos da minha terra
a frescura e a fragrância
que pela aldeia se espalha
lembro a criança a jogar à malha
trago uma lágrima furtiva
desperta em mim um sublime sentimento
sinto-me viva...bem viva!
mas a saudade às vezes é tormento.

natalia nuno

neste dormir...acordada...


a saudade é tão dolorosa, 
no olhar lágrimas de sal 
e essa inquietude custosa 
e esse amor no peito fatal. 
morrem olhos de paixão
do céu caem mil  águas 
mil anos levo de solidão 
a curar minhas mágoas. 

haverá sempre um dia 
que se quebrará o gelo 
como de amor feliz seria
só sonho e não pesadelo
aos m' gritos, e meus ais
digam que morri um dia
gastei sentimentos demais
mas, amor igual eu daria

saudade e dor adormecidas
por não querer-me ninguém
rugas no rosto esquecidas
só o amor o peito o retém...
há quanto tempo aqui estou
vai pouco mais do que nada
- meu corpo é teu, eu me dou
neste dormir ... acordada

natália nuno
08/08/2008

pensamento


abro a gaveta onde guardo fotos com rostos que já não conheço e sinto-me a criança melancólica a quem tiraram a estação das flores em pena tanta, com tanta pena...

natalianuno

pensamento...


porque a saudade nunca chega a morrer, e apesar de ser grande a vontade de viver, a morte me virá buscar e a vida me há-de chorar...

nataliarosafogo
http://pensador.uol.com.br/colecao/nataliarosafogo1943/

pensamento...


presa por um fio à tarde, encosto a cabeça à janela e logo uma saudade escaldante me assedia com ébrios sonhos e rubras fontes de amor para onde o meu coração se desloca...

natalia nuno

pensamento...


viver nas lembranças é perpectuar o sonho
e ficar criança para sempre...

natalia nuno

https://www.pensador.com/colecao/nataliarosafogo1943/

pequena prosa poética...


trago uma dor gravada no peito, e palavras nuas na boca...abafo saudades tuas, existes na inquietude dos meus pensamentos de onde os sonhos fugiram de noite...

natalia nuno

http://pensador.uol.com.br/colecao/nataliarosafogo1943/

cartas d'amor...trovas


cartas de amor recebi
com beijos da tua boca
tantas vezes eu as li
acabei por ficar louca

cartas d'amor um jardim
de sonhos e de ventura
de rubras rosas, carmim
recordá-las é loucura

trago-as junto ao coração
embora seja imprudente
não vão elas cair ao chão
e este ficar doente...

cartas d'amor são braseiro
o mesmo sinto ao beijar-te
vai Dezembro, vem Janeiro
quero com beijos sufocar-te

meus olhos verde esperança
a que o tempo roubou a côr
côr que ficou na criança
que lia as cartas de amor...

minha alma toda ela floria
e tuas mãos me enlaçavam
e eu rosa em botão m'abria
aos lábios q' me beijavam.

cartas d'ámor vôos de condor
tantas as cartas foram lidas
versos e letras de amor
enfeitaram nossas vidas

restam registos de saudade
nestas cartas, agora lenda
cartas escritas na mocidade
por corações sem emenda

natália nuno
rosafogo

num dia cinzento...


hoje sou solidão
aquela solidão que dói no coração
hoje sou apenas um pedaço de solidão
vazia e sem chão
feita de vidro pronta a quebrar
sem lugar certo onde me sentir bem
hoje sou solidão, não quero nada
nem ninguém
não me tragas flores,
nem me fales de amores
trago no peito vazios
feitos de mármore, frios
onde não me encontro, nem a mim
nem a ti
deixa as flores por aí
hoje não, porque sou solidão
sou memória que ainda vive
aquela que sonha o sonho
que nunca tive...
trago força e esperança
mas a vida é só lembrança
a felicidade já pouco bate à porta
quer entres ou não!?
hoje sou solidão, sinto-me morta.


natalia nuno

palavras soltas...




procuro o sol arduamente,
este meu astro vizinho
que m' acolhe constantemente,
com magia e carinho...

tenho um ramo onde pousar
enquanto a noite murmura
e o esquecimento não me levar
para a sedenta terra escura...

natália nuno

pensamento...


A vida passa como uma sombra, nada restará da passagem, a morte trará uma misteriosa e indevassável paz, ficará apenas a palavra escrita com a graça duma noiva que se entrega.

natalianuno

Queixumes...




Queixumes são choro brando
Gorgolejos de dor encravados na garganta
Brados tristes, que se vão arrastando
Através de pranto, quando a mágoa é tanta.

Queixumes, mar de lágrimas, soluços
Protestos, lamúrias, almas ensopadas
Mãos à cabeça, joelhos em terra, debruços
Chorando lágrimas de tristeza inconsoladas.

Queixumes, súplicas, tremuras na voz
Maus momentos de inplacável tristeza
Quando as palavras nada servem p'ra nós
Peito oprimido, mistérios duma dor acesa.


rosafogo

Leia mais: https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=97960 © Luso-Poemas

rumo...


lento outono, assim sou eu de verdade como folha caída ao abandono, no coração a nostalgia, saudade... tudo unido do princípio ao fim, da verde à amarelada folhagem, é assim hoje minha imagem, deixem-me em paz então, escuto o passado e o futuro neste pedaço de chão, onde a fé já esmorece e tudo se entristece... conforma-me, se o amanhã voltar, a noite, estranha doçura deixa, talvez a saudade a lembrar... em mim uma íntima queixa, difícil é o caminho, mas há que caminhar.

natália nuno

pensamento...


O sonho comanda a vida...é bem verdade, desço à vastidão dos sentidos e aí me procuro...desbravo um pouco do que sobrou e encontro muito de ti...

natalia nuno
http://pensador.uol.com.br/colecao/nataliarosafogo1943/

volta de mansinho...trovas


ouvem a menina do baloiço

ainda no baloiço a baloiçar?

olho para trás e ainda a oiço

como que por mim a chamar


vêem como a mim se enlaça

protege-se da sua fragilidade

não a derrube o vento q'passa

e a menina chore de saudade


vêem como baloiça tão alto

como a querer chegar ao céu?

deixa em mim o sobressalto

se lhe dói, dói o que é meu


ouvem o ranger dos ramos

que suportam seus sonhos?

inquietantes dias, tamanhos

apanha amoras e medronhos


vêem-na n' ondas do centeio

nas tardes nuas de verão?

atravessou m'ha memória veio

adormecer no meu coração


vêem como é ave que voa

livre, de asas estendidas?

não há saudade que não doa

é ela bálsamo das feridas




natalia nuno
rosafogo
orvalhadasdesaudade.blogspot.pt

amor saudade...


amor saudade...

já não tenho mais palavras para dar-te. guardei-as nos teus olhos como se as sepultasse, para escrever mais tarde um poema que me amasse, me fizesse sentir viva, me falasse a tua língua e não esquecesse de me deixar ao teu beijo cativa...amor perfeito este que trago a latejar no peito, como uma festa de estio, amor que é rio, e é ponte que atravessa meu horizonte, tempestade e serenidade... amor que é saudade!

natalia nuno

pensamento...


penso que sou ave e nascem-me asas, refaço o canto e desfaço o pranto... sorrio à vida.

nnuno

pequena prosa poética...


uma fria labareda ía morrendo e ela de janela aberta de par em par, olhava o espelho e encontrava a resposta que tanto queria ignorar, o rosto persistia mas sem vida... ferida, cresciam-lhe no olhar lágrimas esparramando-se num longo pranto...o tempo sentenciando sem dar trégua, deixava-lhe mais uma ruga taciturna e revelava-lhe um rosto que não conhecia. alucinada, o coração ficava uma pedra branda que chorava por dentro, a sua face ali retida era como um enigma, uma sombra, e nunca a sua inteiramente...recordou-se jovem, com pena nada mais quis ver nem saber, espreitou o mundo, desdobrou um sorriso triste e estava ali, pronta a quebrar o vidro cego, era ela afinal... como um sonho que se esfuma, na mesma janela com cortina urdindo sonhos, os mesmos que trazia lá detrás de quando era menina...

natalia nuno
http://flortriste1943.blogspot.pt

Mil pequenos nadas...


Mil pequenos nadas
Cheiros e sensações,
Me dando boas razões
Para minhas noites acordadas.
Neste momento de solidão
Único, imenso.
Na serenidade e em escuridão
Fecho os olhos e penso.

Como são pequenos meus dias
Passando, sem qualquer resposta.
Morrendo. Feitos de realidades frias.
E logo a noite se mostra.
Olho para trás, uma recordação vivo,
A cada passo mais uma revivo.
Até que a memória fica despovoada
E eu tranquila, satisfeita,
Deixo-me para além de mim, abandonada.

Na sucessão dos dias
Saram velhas feridas, dou mais um passo
Mais um palmo de terra, semeio alegrias
E vou mantendo, com o passado um laço.

Restam sonhos e vontades!
Sinto ainda os traços que alguém me roubou.
Chorarei até à última gota as saudades
Sucumbo ao cansaço, o tempo me enganou.
Vou a página virar!
Lembrarei o que houver a lembrar!?
Neste fim de tarde,
Já se vai do céu o azul profundo.
Com pequenos nadas e em liberdade.
Sigo alheia ao Mundo.


natalia nuno

pequena prosa... a noite morreu


hoje não lembro onde deixei as mãos, queria tanto baloiçar nelas os sonhos, lapidar ilusões, deixar sentimentos ao rubro, acreditar que o sol ainda é sol, que no meu peito ainda há fogueira, soltar gritos, disfarçar as rugas desta casa velha... a minha cabeça é um baú de memórias que as minhas mãos vão bordando no silêncio, no frio da insónia... mas, hoje minhas mãos não têm poesia, ficaram paradas no silêncio, a noite morreu e eu não as reconheço, talvez queiram que enlouqueça em paz, com a saudade a viver dentro de mim e a boca cheia de silêncios...

natalia nuno

à minha aldeia...


ai.... aldeia ribatejana
minha infância aí deixei!
faz mil e uma semana...
tantos meses que nem sei.

tuas auroras beijaram
minha mocidade em flor
minhas lágrimas amargaram
ao recordar-te com amor.

cá no fundo do meu ser
não sou alegre, antes fosse!
a menina que viste crescer?
tem alma de criança doce.

eu creio que me querias
tal qual assim eu te quis
lembro-te todos os dias
e a lembrança me faz feliz.

pensar que não te tenho
pensar que já te perdi...
lá de longe de onde venho?!
estás comigo não te esqueci.

estes versos que te escrevo
caem-me da alma em flor
são água fresca que bebo
são lembrança do teu odor

são flores frescas de jasmim
aldeia que amei na vida...
não quero esqueças de mim
dou-te um beijo na despedida.

natalia nuno

rosafogo
imag-net quadras de 01/1997

fecho os olhos...


a saudade chega sempre a qualquer hora
e as memórias fazem em mim o ninho
fecho os olhos e lembro todo o caminho
é bom recordar e sonhar, vida fora!
se a saudade me abandonar
fico não tendo mais nada,
saudade é poder lembrar
por quem um dia fui amada.
tudo trago no peito guardado
para nunca a falta doer
só consigo ser feliz assim
lembrar quem nunca esqueceu de mim.
minhas mãos vazias
ainda hão-de escrever
dificuldades e alegrias.
resta-me apenas o que sou
conquistei a felicidade
e hoje trago no peito...Saudade!


natalia nuno

gota d' água...


tantas mulheres q' me habitam
umas vão,
outras ficam
umas vivem fora,
outras dentro de mim
nunca tantas como agora
tantas que não têm fim!
o futuro já não as vê
já ninguém acredita,
só a presente ainda crê.
tanta em mim encarcerada
pensando que têm tudo
acabam não tendo nada!
uma deprime e me arrasa
outra vem e me contenta
outra vai batendo asa
fico só eu de amor sedenta
porque é de amar-te
que meu coração vive
e assim o sonho se vai
perder-se onde escondo a mágoa
e dos olhos me cai
uma lágrima, gota d´agua.

natalia nuno

menina do vento



estendi a secar os meus sorrisos
lavei-os aos primeiros raios matinais
sentei-me no baloiço, menina do vento
e as águas do rio, levaram meus ais
balancei num turbilhão de alegria
e o chilreio do pintassilgo despertou-me
o pensamento...
olho as árvores com as folhas perturbadas,
pelo vento,
os sapos parecem estar em festa
e eu calo-me para não espantar a esperança
antecipo a alegria de voltar a ser criança,
neste sonho que me resta.

junto ao muro espreitam-me os malmequeres
que eu despetalo para ver se ainda me queres
não magoes a minha ilusão
deixa o caminho entreaberto entre a tua boca
onde vai matar a sede meu coração,
a remendar esta saudade que me põe louca.

natalia nuno

 
 
 
 

a poesia chama por mim...


puxo as persianas da noite
dou a volta ao trinco da porta
e a poesia chama por mim,
não é fácil desalojá-la do pensamento
é como semente da flor da saudade
no canteiro da horta
que ali depositou o vento,
vento que hoje me faz companhia
nesta noite que morre de angústia
por deixar o dia.

neste silêncio que me envolve
posso sonhar, o tempo
vai mudando minha sorte
e enquanto não me morre o pensamento
vou adiando a morte.
como folhas que caem no outono
me afasto da realidade
deixando-me nas estrelas só minhas
ao abandono,
a sós com a saudade.

as minhas palavras ficam roxas
da cor dos temporais
deixo frases inacabadas sobre
esse amor que ficou
entre gemidos e ais
em mais um dia que findou

natália nuno
rosafogo

ao subir a montanha...trovas


ao subir a montanha
por onde o vento fugia
m'alma ficou estranha
em mim a melancolia

o silêncio me rodeava
as nuvens ali tão perto
o sol o céu dourava
m'coração q'era deserto

todas as coisas quietas
até o meu pensamento
e as vidas tão incertas
tão tingidas de cinzento

olhei extasiada a natureza
meu sonho foi mais além
sorri à vida com a certeza
de ser feliz como ninguém

na montanha bem no cimo
arco íris tanta cor e violeta
se mais do céu m'aproximo
mais Deus me faz de Poeta

natalia nuno
Noruega 2014/ Julho

lembranças...


as minhas mãos acariciam na nostalgia das horas lembranças de momentos vividos, já distantes...

natalianuno

o acaso...


poisou o acaso em mim
deixou-me sorriso triste
tentando desviar-me assim
por caminho que não existe
e por becos apertados
sujeita a tropeçar,
nestes poemas calados
com tristeza a soçobrar.


natalia nuno

rio da memória...


é no rio da memória que me sento
na margem, lembrando o tempo em que sonhava,
não escondendo a emoção, dava-te a mão
era um tempo diferente este que lembrar eu tento
em que um bando de aves nos pousava no peito
e eu te amava, tão menina, ainda sem jeito
como a vida é breve,
lembro a cada momento.
ainda hoje espero pela visita dos pássaros
e do vento, a trazer-me de novo
num golpe de magia, o encanto e a alegria
desse tempo que corre no rio da memória
onde me sento.

navego, estou de abalada
o tempo é escasso
levo a saudade e a carência do teu abraço
já cansam meus olhos de ver a imagem,
menina deste meu sonho sem idade
sonho que é já miragem
no verde dos meus olhos é saudade

num bater de asas me liberto
deste sonho e do resto do caminho tão incerto
mas se tempo me sobrar hei-de voltar
aqui à margem do rio da memória onde me sento
sonhando,
aliviando meu pensamento.

natalia nuno
rosafogo

pensamento...


a noite caiu depressa e as tuas mãos dançam sobre o meu corpo suavemente...temo que partas ao raiar do dia...

nnuno

saudade vem a meu rogo... trovas


escrevi versos a chorar
com saudade te vi partir
chorando aprendi a amar
saudade lágrima a cair

saudade não sai de mim
nem das rimas que te dei
levo mágoa até ao fim
e a escrever não voltarei

saudade o mal não cura
vem ao coração a m' rogo
anseio e ardo na ventura
de ter-te por perto...logo!

gela-me o peito e o passo
a saudade sempre demora
olho-te no meu regaço...
de amor cheia nessa hora

teu rosto, traz meu coração
e fogo que nos teus olhos vi
nos meus é agora só solidão
de lagrimar triste, os vesti...

natalia nuno

pensamento...


quando me esqueceres de vez, criarei um poema de palavras apagadas, para que se não veja a última lágrima...

natalianuno
https://pensador.uol.com.br/colecao/nataliarosafogo1943/

pensamento...


temo que embacie o vidro da memória e eu não volte a encontrar-te...

nnuno

em solidão me queixo....




sinto a marcha dos meus passos
e ouço o som que o vento move
sinto a falta dos abraços
murmúrios que ninguém ouve
arrepia-me o pó da estrada
duma lembrança à outra o pensamento vai
enquanto triste, baloiçando,
vão-se os meus braços embrulhando
e o desejo com a idade cai...
arrasto-me como uma sombra inquieta
meu coração abre-se às mágoas de todas as mágoas
o mundo piora, murcham as flores da paz hora a hora
meus dedos escrevem saudade, dor, também alegrias
com a força que inda resta nestes meus dias.

ainda assim, o alento de hora a hora me vem
sempre me restam algumas vãs esperanças
exausta fujo para a terra de ninguém
levo comigo apenas lembranças
assim na minha alma chove outra doçura
recordo com saudade o que me treme na mente
e o passado trago ao peito ligado com laço docemente
então meu rosto de ternura e nostalgia se tinge
e o sonho suavemente a mim se cinge.

e em solidão me queixo de sentir-me tão frágil
barca..........
se nem sei o que quero, quando a vida já me é tão
parca.........

natalia nuno
rosafogo
https:// nataliacanais.blogspot.com/

Lírios perdidos...




outono é esquecimento
rasgo minhas vestes
solto meu cabelo
e deito-me ao lado das madressilvas
no frio mármore da madrugada
e um pássaro canta com desvelo
como se eu fosse sua amada.
amada, amante na erva fresca
orvalhada,
e o meu corpo adormece nas mãos 
do relento.

povoa-se a mente de fantasia
há jasmins, rosas silvestres
lírios perdidos
rasgo as minhas vestes
e ali ao lado corre o ribeiro
e as águas bailam na entreaberta
manhã
dos laranjais vem o cheiro
e um sonho mensageiro,
me incendeia o coração
não sei se de paixão
ou duma tristeza mansa

chegam as estrelas da noite
lamparinas
volto a olhar a menina de outrora
bela de laços e fitas
olhos de archote
e faço dela o meu mote.

natalia nuno
rosafogo

pensamento...


A vida é o piar duma coruja na noite escura... senão houver no madrugar um rouxinol cantando...

natalia nuno

pensamento...


foste o meu poema, o mais intenso, hoje bailo para ti com a leveza do vôo dum pardal...

n. nuno

sou poeta, ou talvez não...


outro dia foge sem q'me apresse
outro virá quer queira ou não
é assim que a vida acontece...
e vai caindo na solidão...

de melancolia sou escrevente
poeta dizem...eu não sei não!
coisas trago no labirinto da mente
saudade que lhe chega do coração

se a poesia é meu alimento
segredos que só ao papel falo
o destino não seja mais cruento
que de dores e amores não calo

enfuno as velas do porvir
numa ilusão fugaz de calmaria
o mar encapelado olha-me a rir
eu sei...que amanhã é novo dia

sou mar no riso e na loucura
trago a boca gretada pelo vento
digo palavras d'amor e ternura
faço poemas ao firmamento...

trago a sangrar dentro do peito
numa insondável sede d'amar
um poema triste insatisfeito
de solidão que não sei calar

brotam poemas, dor e ansiedade
mas eu adoro, eu sei que adoro!
sou poeta d'amor e saudade
como voz do sino às vezes choro.

natalia nuno

versos que te dou...


pega estes versos que te dou
que fiz com prazer e arte
sou a que mais te amou
e vivo para cantar-te
se o destino é agrura
dor, ou punição
com amor e com ternura
te entrego meu coração
não sei de mim sem ti
trago o peito apertadinho
do tanto que vivi
foste o sol no meu caminho

pega estes versos que te faço
alastrem como chama da fogueira
sintam dos teus braços o abraço
e meu coração esqueça canseira
tudo o que levo desta vida
e a luz que nos meus olhos se vê
saudades sem conta nem medida
que saudade igual não te dê
e da memória d'outros dias
lembranças de amores distantes
levo rosas e melancolias
sonhos de todos os instantes.

natalianuno

mãos sobre o regaço...


mãos que trago ainda atadas pela vida, que importa isso agora, vêm de longes ignorados, só as palavras vivem o prazer de conhecer seus desejos incontidos, às vezes vazias, adormecidas no regaço alheadas de tudo...quando deste pels minhas mãos?- sofregas, desenhando carícias em teu corpo, na melancolia duma qualquer tarde doce...como o tempo voa, são agora mãos cheias de nada... 

 

natalianuno

amaremos a vida...


começaremos novamente amanhã, recordaremos que sentimos frio, chegar-nos-ão ecos de vozes ou um silêncio inda maior, mas optimistas amaremos a vida sem que o teu olhar macule a alegria do meu...chegarão horas de solidão, de recordações, e com voz ainda clara e a mente em harmonia, palavras cálidas diremos um ao outro...não sei se o novo amanhã ensombrará os nossos olhos...não, isso eu não sei...ou se a solidão será definitiva, talvez nosso amanhã nasça já sem horizonte!? mas não fico atada ao medo, beberemos mais esse dia como se fosse o sumo dum fruto , deixaremos que o sol gire nas nossas mãos, havemos de encontrar um motivo que ilumine com veemência o que já não volta...

https://flortriste1943.blogspot.com/

chuva a bater-lhe na alma...


às vezes afundada no aborrecimento, deixa nas palavras vestígios de dúvidas que são como enormes gotas de chuva a bater-lhe na alma, mas a vida flui sem poder voltar atrás... vieram estrelas, cruzaram relâmpagos no cenário da sua existência, faz agora um rescaldo da vida e insiste, agarra-se aos momentos de mel e amoras, aos floridos sonhos da mocidade, e toma de novo as rédeas...o relógio esse continua a contar o pulsar, a golpear numa fúria que não termina, enquanto as memórias ficam esmagadas nas sombras das horas como despojos em silêncio, de repente o olhar fica vítreo e a voz uma amargura, o tempo levou-lhe a leveza dos passos e vai enterrando todos os momentos que ainda lhe pertencem...

https://flortriste1943.blogspot.com/
natalia nuno

os dias da flor...


surgiu o dia em ebulição, aí senti um desejo doce, não era de vinho, nem de pão, mas a alegria obtida de me sentir de novo eu, do véu que envolve a memória trazendo-me o sonho, e de novo os dias da flor, eis-me viva com o peito a arfar, neste encontro com a que de mim se perdeu, e a manhã fica mais rosada, e fresca a terra e o céu...é a recordação que sempre me acode, restitui-me um pouco de alegria enquanto a vida é neve ao sol....

natalia nuno

pensamento...


é inútil inventar a Primavera, quando a saudade já nos assola o rosto... e o tempo nos vai ceifando

nnuno

troquei as cortinas das janelas...


Não encubro minha alegria
Sinto-me fascinada como um passarinho
Volta a mim a Juventude só mais este dia
Ou será apenas, mais um Sonho onde me aninho?
Hoje troquei as cortinas das janelas
E flores frescas na jarra depositei.
Rosas, tantas, ficou no ar o cheiro delas.
Até um velho calendário rasguei.
Lembranças sombrias? Deixei para trás!
Quero ficar de coração aberto
Faço vista grossa, tanto se me faz!
Mais um ano, vem aí por perto.
Quero esquecer que o tempo me atingiu
Momento a momento a vida me fugiu.

Meus olhos nas órbitas se encolhem já
Disfarço com palavras os sentimentos
Deixo o tempo desaguar, tanto se me dá!
Esqueço memórias sombrias, maus momentos.
AH! Sou um ser inconstante
Que ninguém me decifre hoje!?
Porque hoje sou o romper do Sol amante.
Mas se a palavra me foge?!
Lá se vai minha vontade
Afogo-me de novo na saudade.

Estes sonhos endemoninhados
Que me deixam viver de embalos
Põem meu coração e alma quebrantados
Ainda assim,vou querer sempre sonhá-los.

rosafogo
natalia nuno

Agora é tarde demais!




Agora é tarde demais!
Sabe-se lá quem bateu?!
Com certeza foram meus ais
Que tantos a Vida me deu.

Agora? Agora é tarde demais!
Podem bater à vontade
São com certeza meus ais
Que ainda vivem da saudade.

Quis o acaso que batessem
Tarde demais a esta porta
E de saudade, sofressem!
Sabendo que já estou morta.


Batem loucos morte certa?!
Ninguém os ouvirá jamais!
Nesta tarde quase deserta
Sepultaram os meus ais.

rosafogo
natalia nuno

poema de 2011

a solidão chegou à estação...


a solidão chegou à estação, procurou por lugar e sentou-se à minha beira, assustada com o apito do combóio em marcha refugiou-se no meu peito, aí se acomodou mais as malas que trazia consigo, ficámos as duas caladas, logo ela insistiu que me conhecia e até à hora da partida partilharia comigo o tempo... agora que já a conheço bem, andamos de mãos dadas, nesta estação cada vez mais esbatida que é a vida, deixamos tudo para trás e partimos sem destino, levamos a saudade de épocas felizes e seguimos viagem resignadas com este tempo triste... dizemos uma à outra: é um privilégio ter chegado à estação sem grandes desilusões, sem ter perdido a voz e ainda com um pouco de audácia neste destino misterioso da vida. Assim vou desenhando sonhos, sem deixar afrouxar o pensamento.

natalia nuno
 
 

ainda a chama... trovas


Numa saudade terna se guarda
A chama duma vida sentida
Chega a hora já não tarda!
Duma certeza crua, o fim da Vida.

O tempo, tempo me roubou
Faço do que me resta um abrigo
Passam os dias e por mim dou
A deixá-los passar como castigo.

Mas há ainda uma réstea de cor!
Que p´la minha alma se espalha
Há momentos doces de AMOR!
E COISAS sem idade, quando calha.

natalia nuno

frase...


as minhas mãos acariciam na nostalgia das horas lembranças de momentos vividos, já distantes...

natalianuno

a côr do outono...


hoje não ouvi o pintassilgo, talvez porque o ramo verde onde costuma pousar se encontra nu, não houve acordes de violino, e nem a minha mão indigente e cansada quis escrever palavras macias no poema onde eu pudesse o sol emoldurar... mesmo com a coragem a desabar... retrai a mim o silêncio e o coração descompassou, minha voz voltou à mudez, também eu perdi o ramo, irreparável descuido de meus olhos sombrios, entre a folha de papel e eu... poema feito ao acaso, muito breve e muito raso, com memórias cheirando a alecrim, pedindo que não esqueças de mim...quase... o tempo outra vez de ternura, fecho os olhos e logo a nostalgia a fazer doer! -  com a cor do outono e a maldição do tempo a passar, como eu precisava ouvir agora o pintassilgo tocando os acordes de violino para o coração ressuscitar... e tu, ousasses vir de novo me abraçar... enquanto meu olhar se perde no ramo que era verde...

natalia nuno

a magia da noite...


Afundo-me nos silêncios da noite, que ocultam segredos
Na noite a magia é grande penetra na alma
Nos recantos da minha imaginação, rondam medos
Meus olhos estão vivos no negrume desta noite calma.
Vou distraindo o silêncio, assim cumprindo missão
Para quê fabricar medo no meu espírito?
Volve a mim, o alívio duma estranha sensação
Que no meu íntimo parecia um render esquisito.

Mas este silêncio, também me dá tranquilidade
Então deixo-me voar sem destino certo.
E nesta paz, em tão grande liberdade
Já a noite se vai e o dia está por perto.
Tenho a minha voz por companhia, ao ouvido
Nesta noite de silêncio que acabo de atravessar
Agarro-me a ela num sentimento estremecido
Porque é nela que a minha alma vem despertar.

Ora emergindo da escuridão, ora mergulhando
Trago novo sentimento de esperança a madrugar
Que é como borboleta em paz esvoaçando
Com que eu queria o Mundo apaziguar!

rosafogo
natalia nuno

Leia mais: https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=99613 © Luso-Poemas

música de outono...


no patamar da noite
fecham-se flores no jardim
e eu recebo a saudade em mim
esse preciso sentimento
que tudo torna presente
traz música de outono ao pensamento
e amortalha os ais que o coração sente
na nostalgia da tarde, há rosas
que chamam por mim
lembranças sem fim, ouço-lhes a voz
e o silêncio torna-se profundo
a noite espreita, imensa é escuridão
minha vontade numa esquiva hesitação
é  pássaro cansado da viagem,
sem asas onde se abrigar
sobrevive a esperança do amor o poder tocar.

natalia nuno

se me quiseres ouvir...


se me quiseres ouvir,
amiúde vou suspirando
passa o tempo e eu a sentir
o que a vida está causando

como eu me sinto ir...
que me passe tal sentimento
que só de pensar partir
não é ventura é tormento

perdoa se não te digo
a dor que causa este lamento
teu coração onde me abrigo
e tanto amor acalento,
qualquer pequeno cuidado
que o enche de sofrimento
o meu o sente redobrado
não é ventura é tormento

as minhas mãos de partida
vão escrevendo o que sinto
embarcámos nesta vida
e agora eu pressinto
com pena tão desmedida
que temo ver-me perdida.

o tempo atrás doutro vem
e não perdoa a ninguém!

natalia nuno
 
 
 
 

chove-lhe na alma...


chove-lhe na alma, talhada no orgulho não se rende à tristeza, há delírio no labirinto da mente, dúvida e agonia a habitam, desalento... ai esta vida mal contada, a afastar-se sem rumo nem saida, vida escassa entorpecida que a arrebate com furor, desapiedada como quem lhe guarda rancor...cala-se num silêncio só seu, murcha por tudo o que já perdeu, o desencanto é grave...amarga chuva cerrando-lhe os sentidos e, uma lágrima persistente a olha fixamente... indefesa põe nos lábios uma reza....


natalia nuno

isto é amor!...


num sonho só meu
balanço na crista duma emoção
subo até às estrelas,
e ao cimo dos degraus da estrada
desfraldo o coração,
como se fosse bandeira
e canto como um pássaro à beira
d'água
volto a abracar-te, sem mágoa ...

seguro-te nas mãos,
- olha a tremura dos dedos
segredos d' alma desordenada
ou turbulências na minha voz calada.
isto é amor!

natalia nuno

o silêncio das palavras...


que importa se mais não sei
só sei...
meu corpo é um barco que oscila
enquanto o vento desliza nos cabelos
e no pensamento uma secreta saudade
que sôfrega bebo,
a luz onde a caminhar me atrevo
espalha-se o silêncio sobre as palavras
a tarde faz-se longa e arrefece
e há memórias que a mente jamais esquece
que sei eu, dos pássaros nas ramadas escondidos
que sei eu dos meus sonhos perdidos?
que dirão as papoilas que em criança ouvia falar
ou os medronhos maduros que enfeitiçavam meu olhar
que importa se mais não sei
só sei...
que o rio cantava aos meus ouvidos
torneava a aldeia e fugia dos meus pés
correndo de lés a lés,
o salgueiro era altaneiro
teimava em mirar-se no espelho d'água
sacudia os cabelos ao vento
e olhava-me com mágoa
adivinhando por ele meu sentimento

tremulava o orvalho no canteiro
as flores guardavam ciosamente o segredo do mel
e eu embalava o sonho junto ao peito
enquanto me afagavam as madressilvas com seu cheiro
sei também, dos besoiros aguardando o verão
e sei do amor que trazia em meu coração
que importa se mais não sei
só sei...
das fitas de seda que a mãe punha no cabelo
com desvelo,
sei dos abraços e dos laços
do vestido atado atrás
sei das rosas bravas e da lua crescente
e sei do tempo, desse tempo em que me fazia gente
do resto não sei e tanto se me faz

que importa se mais não sei
só sei...
que tudo isto é lembrança, nada eu inventei
é meu norte é meu destino, ouço ao longe
o toque do sino, que não cessa de tocar
e dos alcatruzes ouço o constante soar
sei do trigo e do arado
e sei do meu chão amado.

natalia nuno

pequena prosa... cada um de nós...


cada um de nós vai construindo a sua teia, até a viagem acabar, vai desbravando caminho nem sempre fácil, quando os sonhos arrefecem é mais complicado, ou quando o amor que era quente vai ficando frio, vai-se levando o barco conforme o momento...mas hoje fez-se madrugada no meu jardim, nasceram os nardos e eu estou feliz por eles e por mim...

natalia nuno

Silêncios...


e tudo se cumpriu, mas não como nos sonhos daquela menina de silhueta magra, da miúda da minha memória que se agarra a mim e parece não querer cortar o cordão umbilical que nos une, garota que parece ter adormecido com o rosto entre as mãos, gostava de a poder reconfortar, mas os nossos silêncios são mistérios que tecem memórias, onde o sol começa a desaparecer...

agitação...


Já nem sei o que me move
Ainda um pouco de vontade!?
Já no meu coração chove
Bate ensopado de saudade.
No pensamento nada me ocorre
Já minha hora é escassa
Sou como rio que corre
Breve vida, a morte a abraça.

O silêncio em que me escondo
Abandono! Irrompo em alvoroço
E na hora agitada nem ouço
O oscilar das ramagens
Nos meus ouvidos de menina!?
O comovido chorar das aragens
Como se de mim se despedisse
Tudo, o que assim Deus destina.

Passam os dias da minha vida
Nem já sei o que me move
Já no meu coração chove
Anda minha alma dorida.
A lembrar vivo saudosa
Lembranças, são lágrimas a descer
Trago a vida custosa
E pouco o caminho a percorrer.

Já não sei o que me move
Até a alegria anda suspensa
Já a tristeza me envolve
Paira a mágoa já se adensa.

Se é este o destino a cumprir
E se esta saudade é pecado?!
Então a tristeza não quero mais ouvir
Em doce paz, continuarei meu fado.

rosafogo
natalia nuno

Leia mais: https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=123695 © Luso-Poemas

se a minha memória é verdadeira?...


de onde sopra o vento
que me arrefece as ideias?
me adormece o pensamento?!
minhas rugas são teias
dum tempo sem dó
duma noite vazia
de onde parti só...

que me importa a opinião alheia?
meu pensamento acorda e adormece mudo
deixai falar! meu ouvir é surdo...
nada vale o sossego que é minha postura
que não troco por coisa alguma
deitei os medos acordei as esperanças,
levo lembranças...
será pura ingenuidade ?
arrisco viver assim,
opinião, diz-me respeito a mim,
se é ou não sincera minha saudade.

calor nos afectos, isso me basta
e a saudade que não tem preço.
a cada dia fortaleço
e na poesia que invento
surge a verdade que sou,
e a memória do que passou.

natalia nuno

dou comigo a pensar...


Dou comigo a pensar em como gostaria de partir, viajar, experimentar novos horizontes, novos climas, olhar todos os mares e ter o céu por limite, olhar a lua brilhante, deixar fugir os pensamentos... se a sorte o permitir, talvez se transforme o pesadelo em sonho, certo é que tudo dói, mas vai-se esquecendo, voltaremos a olhar a vida e a lembrar que é preciso vivê-la... o tempo amedronta-nos no seu correr, o rumo certo é aproveitar cada momento, se ainda por cá estamos então, com mais ou menos estrada façamos o caminho, os tempos estão mudados mas, uma pessoa habitua-se a tudo, e como costuma dizer-se há mais marés que marinheiros, o que há-de ser, há-de ser, não se lhe pode fugir!... os liláses já floriram, não vou desistir...

natalia nuno
(a esperança é um sentir inexplicável)
 
 
 
 

sou e não sou...


meus braços ficam nervosos esperam pelos teus sem ter calma, meu rosto ainda te namora e os olhos acabam chorando com esta ansiedade sem cura...choram tal como o vento, que chora pelas frestas dos telhados como a querer fazer ninho dentro do meu coração trazendo-me mistérios por desvendar... estou só. falo comigo conversas antigas, a luz já se vai quebrando e sonho vai ficando mais frio, o romantismo com menos pulsar, e a vida com a morte a rondar...sou e não sou um passado velho, sou e não sou lágrima chorada ao espelho... arde em mim a doçura do silêncio, e um resto de alegria do que fui um dia.

natalianuno

terra amada...


Escuto e estou ouvindo
O toque dos sinos na tarde que avança
Chamam à avé-maria e o povo está vindo,
e aí vou eu ainda criança.
Escuto ainda... estou a ouvir!
O açude que canta a mesma melodia
Levanta-se um novo dia,
aquele que vivi no instante
em que nasci, e
o rio transbordando desliza ainda ,fazendo alarde...
meu rosto sorri
na monotonia
dessa tarde.
O largo da praça, a fonte serena
a ponte,
atravessada por donzela morena!
Nas janelas a tarde fulgura
Vai-se a memória, minha visão já escura.
Ouço o uivar do vento nos telhados
os pomares p'los outonos açoitados
e o rio passa e ri
e o meu sonho adormece ali.
Ali na casa que já ninguém habita
e o meu coração ali fica.
Os laranjais sacodem mil folhas de água
Nas roseiras uma última rosa
No meu coração a mágoa
De estar ausente desta terra preciosa.
Escuto dum pássaro oculto a sua canção
E a inquietude em mim se apaga
Este é um dia de alegria... sem solidão!
Nem a saudade é dor que me alaga.
Abro minha alma aos ventos
Beijo as doces lembranças
No Outono chegarão esquecimentos
A idade não perdoa e não somos mais crianças.
Mas enquanto houver uma lembrança, uma sómente!
Na minha memória fatigada
Será a de te recordar para sempre
Minha terra amada.
natalia nuno

trovas...


Quanto mais a noite é escura
Mais brilham estrelas no Céu
Nem sempre o amor assim dura
Mas... dura o meu e o teu.

Os sonhos, o vento levou
São folhas secas p'lo chão
Lágrimas da fonte que secou
Desfeitos p'la vida em confusão.

É sempre Amor que nos anima
E o beijo que nos embriaga
O desejo cresce e aproxima
Mas é o olhar que se alaga.

Enfeiticei-me com teu sorriso
E com tuas graciosas maneiras
Mas trago o coração indeciso
Nas brasas das tuas fogueiras.

Sem temor nem hesitação
Entreguei-te a vida inteira
Com tanto amor tanta paixão!
Fiquei cega de tanta cegueira.

Deixo-me afogar em teus braços
Vivo desta fugaz ilusão.
Penetro num mar de abraços
Me diluo, em rio de paixão.

De todos os sonhos sonhados
Nem todos a Vida matou!
Rumam em ventos trocados
Calam-se os ventos, lá estou!

E na ânsia de te querer
Já minha força é pequena
Não tenho mais pra te dizer
Só que o amor...valeu a pena!


rosafogo
Natalia Nuno

irei por aí...


Vou por aí ... o tempo escasseia
o caminho difícil antes do fim,
vou urdindo teia a teia...
procurando horas de felicidade
ainda que o tempo fuja de mim,
e só reste um pouco de saudade.

Hei-de ir por aí mesmo cansada
este é meu caminho a percorrer
n' quero perder o fio à meada
e se um dia me hão-de ver
a seguir por outra estrada
não foi...a por mim traçada!

Vou por aí neste meu sentido,
seja ou não grande m' loucura
a vida é fantasia e pouco dura
se no caminho tiver adormecido
ou se me virem por aí caída!?
Levo amor, não levo dor fingida!

Se a morte me quiser engolir
ainda irei por aí, pra lá de tudo,
cabe-me a mim a vida conduzir
andando neste meu passo miúdo.
Não deixarei nenhum recado
levo presente, futuro e passado

Não, não desisto de ir por aí!
Levo comigo tudo que me resta
levo as rimas que um dia escrevi
sobre alecrim, madressilva, giesta
e as outras que ao amor dediquei
gestos, afectos, o que cantei e chorei.

natalia nuno
rosafogo

já tive asas e voei...


fiquei-me ali a uma esquina
a somar umas vagas horas
olhei-me era ainda menina
recordei brincos d'amoras

a manhã era de poesia
e eu brinquei até à tarde
fui menina neste dia
logo me veio a saudade

escrevi meu nome no chão
com uma pedrinha de giz
depois desenhei um coração
o que, à terra tanto quis...

mais que sombra não era
mas tinha asas e voei...
tinha os meus à minha espera
mas era sonho e chorei

meu nome já não é papoila
desfolhou-se por entre trigo
nem menina e nem moçoila
sou mulher de tempo antigo

mas me lembro de ter sido
meus olhos se lembram bem
a menina dum tempo ído
de entre o rio e a Banda d'Além.

e sempre que o sol sorrir
meu coração reaquecer
à minha memória há-de vir
o som do moinho a moer

encho as mãos de lirismo
elas que cantam e choram
há dias em que tanto cismo
que saudades não demoram

fico como uma ave lenta
sem vontade de voar...
mas o coração acalenta
que um dia hei-de voltar

faço bravos meus versos
como poeta amo a terra 
trago-os  aqui, ali, dispersos
já p'lo mundo andam na berra

natalia nuno
rosafogo

lembranças miúdas...



pequena prosa poética

Na dureza do chão, sentada, colhia bagos de uva branca, até o sol afrouxar e os comia ali mesmo...
num tempo, quando ainda sem saber o porquê da solidão, quando trazia em mim a palavra hesitante, e nem percebia porque era feliz, vivia serena na pequena abundância.
Corriam os dias,como a água do rio, sem que a teia do tempo nos incomodasse (a nós crianças), só nos importava o cheiro das coisas boas...pão no forno a cozer, a sopa da mãe a fumegar, o café de cevada da avó na lareira...
Assim se abraçava a vida, se aguardava cada manhã o calor do sol, a chegada da chuva milagre das sementeiras e o luar das noites brandas e serenas de namoro.
E eu lá, na magreza do corpo, ensopada em sonhos, rimando quadras singelas na sede de procurar algo em mim que me adoçasse o caminho, afogada em esperanças que inda hoje ninguém me consegue tirar, são elas a frescura com que sempre recomeço a talhar novas palavras... com candura, como se plantasse urze ou alecrim....saudades de mim.

natalia nuno

sonho maior...


deixo fecundar um sonho maior
num vôo nupcial
passo por entre o arco-íris
busco a fusão em mim do amor
que seja nos meus dias a luz total



natalianuno

meus pensamentos galopam...


tardes plácidas em que tudo sorria,
- bela era a mocidade
ingénua flor, à procura do amor
hoje sinto desse tempo saudade,
vão meus olhos
suportando da vida os escolhos
já a vida soçobra,
acabou o roseiral que em mim havia,
e as estrelas do céu que me beijavam
e abraçavam, levaram com elas minha alegria,
hoje rio e choro de saudade
ao lembrar-me ainda criança de tenra idade
tempo de ilusão e sonho
mágica fragrância, rosto risonho
tamanho alvoroço, emoção tamanha
asas de ave, o sol na voz
como é bom ter pra recordar, neste tempo
já sem surpresas, atroz!

deixo-o passar indiferente
fico na imensidade deste meu silêncio
chegaram os dias melancólicos
dum tempo inclemente
mil pensamentos galopam
a arrancar-me da solidão
agita-se o coração, sou ainda essa menina
que me fascina e me faz viver do sonho,
agora serena, com alguma esperança viva
o sonho dolente e a vida fugitiva...

trago nas mãos tulipas delicadas
e no olhar rosas desfolhadas
o tempo me abalou, mas meu caminhar é sereno.

natalianuno

silêncio que oprime...


no silêncio esmagador que oprime, de repente uma ave que cante numa árvore frondosa, uma rosa que abra, o bulício das abelhas ao redor, é sentir uma vontade de viver, deixar-se a fantasiar o resto do tempo, esquecer o vento da descrença, seguir em liberdade, sem o mínimo descuido, que o tempo apouca e corre como um rio fluido, nutrir cada dia com amor e mel como se fosse o último...esquecer a solidão dormente, rir com riso de medronho e continuar no sonho, nunca é sonhar em vão se ao acordar sentir bater este velho coração...

natalia nuno

morrer d'amor...


nos teus braços amor, esqueço
o mundo!
e é como se entrasse num sono profundo
sereno e perfumado,
de doçura e amor,
onde me faço flor
singela do prado,
tocada pelo vento,
a estremecer...

nos teus braços meu amor
que importa d'amor morrer?!

quando do sonho despertar
então morrer por morrer!
que venha teu profundo olhar
que só ele a morte pode vencer.



natália nuno
rosafogo

chove.lhe na alma...


chove-lhe na alma, talhada no orgulho não se rende à tristeza, há delírio no labirinto da mente, dúvida e agonia a habitam, desalento... ai esta vida mal contada, a afastar-se sem rumo nem saida, vida escassa entorpecida que a arrebate com furor, desapiedada como quem lhe guarda rancor...cala-se num silêncio só seu, murcha por tudo o que já perdeu, o desencanto é grave...amarga chuva cerrando-lhe os sentidos e, uma lágrima persistente a olha fixamente... indefesa põe nos lábios uma reza....

natalia nuno

noite sem fim....


Crédula de sorrisos e encantos
é a mocidade
Agora a olho com olhar de incredulidade
Presa aos sorrisos e encantos
Caprichos e sentimentos tantos.
Quanto tempo durou?
Quanto tempo passou?
Estranho é o mundo que povoa
a minha solidão.
Porquê se tem saudade,
talvez nunca se saiba a razão.

Tempo memorável e festivo
Tão diferente deste agora
que vivo.
O tempo me esmaga
me gasta...
Mas meu coração não se afasta.
A vida não enjeita
e nem a saudade rejeita.

Cada hora voa no seu correr altivo
E a lembrança me surge
com infantil ardor
E assim vivo...
Dando à vida valor.
E dito e feito o tempo reduz-se a nada
Sinto-o no mais profundo de mim
A hora boa que um dia me foi dada
É noite longa agora...noite sem fim.

natalia nuno
poema de 2012

tão inimiga de mim...


com as mãos estou escondendo
os olhos com que me vejo
sendo amada ou não sendo
o que vejo,
traz-me sentimento que não almejo
sem graça, nem formosura
tão inimiga de mim
a que vejo é uma tortura
que vai comigo até ao fim
para que não me diga a dor
que de vê-la fica louca
encubro os olhos melhor
e assim menos sou, menos estou
nesta vida que é já pouca.

mudaram-me minhas vontades
e é já vã a minha esperança
escondo-me em mim com saudades
e aceito qualquer mudança

e assim com as mãos escondendo
suspiro imaginando
que a outra, sou eu morrendo
meu coração de aço gritando
deixei há muito a nascente
já no outro extremo estou
antes que a morte me atente
ou em tal desventura me veja
meu rosto emudece, menos sou, 
menos estou...
queira Deus que assim seja!

natalia nuno

o retrato...


De tudo o que resta vivo nela
o tempo apaga a cada passo
para continuar a viver
é preciso recordar
enganar a dor, o cansaço
deixar a mente da solidão desprender.
Às vezes o silêncio é uma oração
uma porta que se abre ao vento
uma brisa que põe de novo
o coração a pulsar, e bem
viva a semente do pensamento.
Na luz dos olhos dela
há recordações a brilhar
ela e a sua lembrança!
Caminho que sempre começa
olhando para trás,
corpo quebrado, mas no coração
a paz...

Flui nela a tristeza
o sorriso vai voando
todo ele feito ave,
e a certeza de que precisa
só Deus a sabe!
Mariposas eram seus sonhos
partiram amargamente
na noite escura.
Procura sua semelhança e não encontra
só a sua fé perdura.
E no silêncio dourado da tarde
olhando o mar
ela vive da saudade, a recordar.

natalia nuno
rosafogo

09/04/2014

pequena prosa poética...


pela friura da vidraça olho vagamente o céu de azul, leve... bordado a branco, como quem desperta dum sonho, é manhã, entre a realidade e a memória consumida ouço o palpitar do mundo nas papoilas que gritam feridas pelos ventos agressivos, pressinto no vai vem dos pássaros que flutuam na minha retina a querer ocultar-se , que o instante não é uma dávida de amor, e o mundo fica trémulo num vôo retido...à espera que passe a hostilidade entre os homens, enquanto os meus dedos febris procuram a pomba branca e um raminho de oliveira repetindo palavras na solidão da hora...

natalianuno 
 
 

quadras d'amor...


Se fosse fogo te incendiava
Em brasa amor tu me amarias
Mas brasa é cinza daqui a nada
Tão breve amor... me deixarias.

Se eu fosse água te inundava
Pra não olhares com olhar falso
Ah...dum golpe só eu te matava!
Pra não andares no meu encalço.

Se eu fosse vento te impediria
Olhares as outras com ternura
Então contigo, ao céu subiria!
Abrindo portas à minha ventura.

Se eu fosse onda te beijaria
Até a boca exaurir em beijos
Tuas promessas cumprir faria
Em ti afogava os meus desejos.

Se eu fosse golpe te atravessava
Para saberes que a dor é maldita
Quanto mais cresce mais é malvada
Essa dor de amor... que nada evita.

Se eu fosse treva , ou sol ardente
Amargas lágrimas ou doce canto
Com minhas forças... tão docemente
Eu te amaria... sabe Deus quanto!


natalia nuno

já não está mais em mim...


já não está mais em mim aquela que existia, mas está em mim aquela que sentia, que hoje traz os olhos vidrados e o sorriso morto ao canto da boca, desvanecido de doçura, suave como o último suspiro duma ave na noite escura... a saudade que vai moendo, é também fonte onde vai bebendo, onde esfria o pensamento mas acalora o coração, toma o destino, caminho decidida, alheia a esta nova idade vai até ao entardecer, na ilusão, deixa-se levar pela tarde, não olha quem fica, nem sabe o que aí vem,  só sabe que vive e sonha e, deixa a morte...aquém!

natalia nuno

memória dum tempo ido...




Já choram de novo os beirais
me embalo com o seu choro
a solidão pesa demais
por um dia de sol imploro.
cai a chuva como pranto
desesperada no chão
também o meu desencanto
açoita o meu coração.

Já choram de novo os beirais
lágrimas do céu em desespero
cantam os pássaros seus ais
e eu à Vida que tanto quero.
não levo pressa de chegar
quem sabe numa madrugada molhada
ou quando o tempo amainar
a a vida p'ra mim fôr nada.

Já não choram mais os beirais
calam em descanso merecido
já são memória nada mais
memória dum tempo ido.

Agora sou eu quem chora
porque já se encurta a Vida
meus sonhos foram embora
ando de sonhos despida.

natalia nuno

morrem nenúfares no meu peito...


no telhado a chuva cai miudinha
e ao ouvido parece ladainha,
os gatos escondem-se debaixo dos beirais
as chaminés fumegam
lá em baixo recolhem-se os pássaros
nos canaviais,
densas as imagens na memória
meu chão e meu tecto
minha história...e as lembranças
me pegam,
nas asas do outono adormeço agora
morrem os nenúfares no meu peito
quase do inverno é chegada a hora
na primavera deixei o amor perfeito

passam os dias por mim e eu teço
estrelas, à noite me dou
deixo-me apanhar, no amor tropeço
e em rosas cadentes a saudade chegou

e a chuva miudinha bate no telhado
em mim o amor toda a noite dormiu
e no fim do dia aparece o sol molhado
tingido de medo todo o dia não abriu
vai o outono caindo ao chão
traz desnorteada a claridade
amanhã será outro tempo já de pensar
a solidão, e lá surgirá a saudade,
de novo ao coração.

natalia nuno

sonho de amor...


dás-me um abraço
num nó incapaz de desfazer
é como se fosse um laço
que me aperta com prazer,
descubro em teu olhar
a saudade do que fomos
e é neste meu sonhar
que eu sei,
que ainda somos,
és no meu coração
um sol que amanheceu
e a sonhar de noite e dia
presente e viva estou no teu.

afogada em recordações
vou sonhado tudo e nada
passou o tempo das ilusões
chegou o outono à caminhada.
meditando, fico distante
lá onde meu riso floresce
e de mão na mão seguimos adiante
porém, a noite, sobre nós desce
não sei se meu coração resiste
se fique alegre ou triste
só sei, que sou feliz nesse abraço
que me aperta como um laço
difícil de desfazer
a rebentar no peito o amor
como se ainda fosse uma flor
assim será
até, pra lá de morrer.

hoje em nós o sol amanheceu,
e num sonho de amor nos envolveu.

natalia nuno
poema de 2001/4

dei-me à vida...


dei-me à vida
e de mim trago saudade
acordei a solidão,
agora que estou de partida
aceito a realidade
como se fosse ilusão.
conto os meus cansaços
e sem apressar os passos
aceito a condição.

digo o que penso e sinto
com palavras vindas do peito
e às vezes dialogo comigo
e não minto, se disser que a vida já não leva jeito,
é um beco sem saída...
as coisas que também sei
é que à vida me dei,
mas eu sonho quando anoitece
e o sonho ainda acontece.

olho o mar, olho a montanha
partirei sem nada levar
só uma saudade tamanha
deste tempo em que a morte me poupava,
e eu não hesitava um momento
e a vida não parava.
e eram poucos os meus braços
e minhas mãos eram poucas,
para gratuitamente dar abraços
para matar saudades loucas.
depois de corridas tantas léguas
trago o corpo descaído
mas à vida não dou tréguas,
valeu a pena ter vivido.

natália nuno

pensamento...


as árvores oferecem os ramos a criaturas nascidas entre o sol que raia neles, transformando a natureza ainda mais bela, como se fosse um poema de amor, apagado de palavras, mas rico de chilreios....

natália nuno

trovas...


este dia não me pertence
deixou-me e foi-se embora
é passado e me convence
a vida é caixa de pandora

sou espinho reclamo a rosa
já que o odor nunca esquece
dos versos à humilde prosa
prenhe inquietude acontece

natalia nuno
 

a ti mãe...


Como é possível tudo ter passado?!
Não sei nada dessa viagem que fizeste sem querer
Lá nesse céu palidamente iluminado.
Revoltei-me com a dureza da partida
Que mais podia fazer?
Se eras minha mãe querida.

Cedo ao desejo constante de ao teu colo voltar
Não havendo nada que eu mais quisesse agora
Sensação única, autêntica que vou guardar
Assim comno a manhã serena em que foste embora.

Ontem lembrei o teu xaile negro
Aquele onde me protegias do frio e do vento
Onde convivíamos ambas em segredo
Enquanto teu olhar me envolvia sem cansaço nem
lamento.

A saudade às vezes me traz uma dor maior
Mas não quero o passado fechado
Quero lembrar-te com todo o meu amor
Sonhando sempre ter-te a meu lado.
A lembrança te leva ao meu eu mais profundo
E é lá que te vejo, minha mãe

A melhor mãe do mundo
E é lá que te vejo.

natalia nuno

velho poema...


apetece-me virar meu olhar para ti
ver-te como da primeira vez te vi.
apetece-me aqueles dias de amor
do banco do jardim ao sol-pôr.
ouvir-te juras de amor eternas
na tua voz rouca...
apetece-me os beijos que me deixavam louca
o teu sorrir quando te chamo
e te digo que te amo.

apetece-me, roubar à noite mais horas
num completo sonhar de felicidade
na minha memória moras...
a deleitar-me o gosto p'la vida com saudade.
esqueçamos as rugas amarelecidas,
nos nossos rostos caídas.

e ainda com ânsia o amor desvendar.
e quanto mais loucura
mais ternura...
apetece-me tocar-te, mais uma vez!
mais uma vez te abraçar...
tantas as vezes que amor já se fez
que é bom lembrar o passado...
apetece-me no presente,
este amor em mim enleado.

apetecem-me teus lábios incendiados
insanidade...loucura!
tenho meus olhos cerrados
meus sentidos a fazerem-se rogados
na esperança da tua ternura.

rosafogo
natalia nuno

e tudo se cumpriu mas não como...


e tudo se cumpriu, mas não como nos sonhos daquela menina de silhueta magra, da miúda da minha memória que se agarra a mim e parece não querer cortar o cordão umbilical que nos une, garota que parece ter adormecido com o rosto entre as mãos, gostava de a poder reconfortar, mas os nossos silêncios são mistérios que tecem memórias, onde o sol começa a desaparecer...

natalia nuno

horas mudas...


o amor é onda que vai...
amor é onda que vem!
quem nele cai já não sai
é flor... e espinho também!

partido em mil pedaços
fica o coração desfeito...
sem amor e sem abraços
a vida assim não tem jeito.

passa o dia a noite passa
rezo as contas do rosário
aos céus suplico a graça
não seja a vida calvário.

quando minh'alma partir,
e o meu corpo aqui ficar,
os versos se farão ouvir
já não me verão chorar.

se o sofrimento purifica,
deixem-me só na saudade
o amor... sempre vivifica!
amor quer-se de verdade.

 natalia nuno

o lenço da saudade...


destas minhas mãos vazias
caem pétalas uma a uma
são cansaços de meus dias
s/ esperança de coisa alguma

trago na memória antiga
pássaro que m'estende a asa
trinando a mesma cantiga
q' trinava no telhado da casa

pra q' eu saiba donde venho
não me larga o pensamento
passado é tudo o que tenho
como estes versos que invento

outro modo de voar eu não sei
a vida só a sonhar faz sentido
morrendo já... nada mais direi
já meu coração... é de vidro!

deixo-me ir antes que alguém,
sempre encontro uma saída
vou de jornada, e de ninguém
quero fazer minha despedida

aceno de longe um lenço
todo enfeitado de saudade
então percebo que pertenço
ali, onde busco minha verdade.

já q' o tempo me vai fugindo
a toda a hora... mingando...
fecho os olhos, vou fingindo
que sou eu... quem o comando

a saudade é-me tão familiar
prende-me a coisas pequenas
leva-me no tempo e ao voltar
fica em meu coração a morar

pra que esqueça minhas penas.

natalia nuno
trovas de 2011

poema maldito....




espreito por entre o tempo
para ver se me encontro
e a cada entardecer, há uma notícia falsa
um desencontro
ninguém me viu, ninguém sabe
perguntam até se sou fugitiva,
quem pode saber se ainda estou viva!?
ninguém tem interesse em saber
sou agora uma representação
sem alma nem coração...
o tempo não me leva a nenhum lugar
adormeci e acordei comigo
procurei algum lugar para me acomodar
mas não sei onde, não me encontro
nem encontro o abrigo
há três versões da minha história
ou fugi, ou estou por aí, ou me apaguei
de morte inglória.
olho para mim e digo sem dizer
confortada...que mal te fizeram mulher!?
este é o resultado das noites de insónia
mas está mal contado
não saltei, não esvoacei
e nem foi maldição
Mulher,
asseguro-te que estás viva
liberta os demónios da alma e do coração.

natalia nuno

saudade dos abraços...


nossas vidas navegam silenciosas
pobre do remador, segue lento
olha o mundo ao redor
e um rio corre-lhe no pensamento
a alma treme, o homem morre
e remédio para o mal
ninguém discorre
arrisca-se a vida,
cala-se o medo que cresce no peito
e vem notícia que diz tudo
todo o dia acaba, triste e mudo!

a vida parada, a porta fechada
a tarde acabada.
fico-me com as vivências da memória
que o coração alimentam
e às vezes atormentam,
quando lembro minha história

ah, não está por aqui ninguém,
posso chorar à vontade, e porque não, rir também?!
de incerteza estou farta, quero esquecer
a realidade...o sol ainda não se pôs
e a vida sempre se recompôs
apesar das ameaças!
amanhã será outro dia

- aquele em que de novo me abraças.

natalia nuno

trovas soltas..se me.atrevo ou não atrevo...


já o vento molda a areia
e o tempo a face do rosto
não sou bonita...nem feia!
madrugada, ora sol-posto

ficou o tempo embaciado
novelo em emaranhamento
tal qual o amor cansado
no coração feito tormento

vou revisitar os lugares
e as aves ocultas no ramo
que lembram de m'amares
tanto quanto eu te amo...

vão-se as horas somando
e o papel onde eu escrevo
sempre para mim olhando
se me atrevo ou não atrevo

dei-me ao tempo sem exigir
que me deixasse ficar assim
deixou marcas pra me ferir
levou tanta coisa de mim

escrevo de dentro do coração
à folha vou-me revelando
pode até parecer que não
nela os olhos vão pingando.

natalia nuno

BALOICEI A CADEIRA. ADORMECI!...


BALOICEI A CADEIRA. ADORMECI!

Não há caminho de volta
uma hora mais e o Sol se vai
ao longe a lua e a minha alma se solta
na monotonia, já cai
meus pensamentos fazem a travessia
a noite vem e cai o dia
foi como um pássaro que voando,
este dia, que a noite traz,
assim me fosse deixando,
sem descanso, de relance, fugaz.

E assim a vida é como fio de cascata
hesitante, ora de ouro, ora de prata
vou-me deixando embalar...
hoje meu pranto não foi além dum soluço
com sabor a passado, fiquei a recordar
em mais um sonho me debruço
fechei os olhos, baloiçei a cadeira
bamboleei o pensamento devagarinho, devagar
até que chegou o momento em que à lareira
ao colo de minha avó, o frio chegou a passar.
Chega o eco da sua voz aos meus ouvidos
ainda sinto o calor dos seus braços
ritual adormecido nos meus sentidos,
retido na escuridão do meu espaço.

Enquanto meu coração bater
esta lembrança, vou reter!
este caminho está sem volta?
Minha alma já se solta.
A meninice ficou para trás
hoje passou o dia
por cima do meu ombro, fugaz!
Me encolhi...
Baloicei a cadeira, adormeci.

natalia nuno


Leia mais: https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=109632 © Luso-Poemas

cair ao chão...


um fogo breve é já a vida, é folha que cai ao chão e conhece a velhice, é o obscurecer da beleza que não volta, é lágrima de resignação, é escutar o doentio lamento da alma...no fragor da festa tudo era surpresa a arder na carne, a iluminar o rosto, ternos sonhos, nada comparável ao tempo dos amores, cujos ruídos agora se apertam no peito como cristal cortante que acaba de se partir perante os nossos olhos embora na penumbra...mãos dóceis eram outras que vão perdendo o tacto, e há um riso triste ocupando o quarto de janelas fechadas, onde só o espelho vai golpeando o futuro... murcham as flores na jarra imaginária, queimando o olhar longínquo, e irrompem as carências dum amor nunca descoberto, caem aguaceiros, oscilam os sonhos, e a chuva nos olhos bate sem piedade... rasgão do tempo de Outono que caprichosamente lhe assoma com a saudade...

natalia nuno

escutando meus passos...


no sonho há aroma a magnólias
vindo do tempo, onde o tempo não contava
e o sol se aproximava de mim doce
abrindo a manhã como se fosse
a minha própria pulsação,
tempo sem tempo, cantava
um pássaro no meu riso
e habitava amor no coração.

estendo a minha mão
a esta vertigem que é sonhar
e é como se fosse o instante dum beijo
em que me olhas com um só desejo
a sede de possuir-me,
como vai longe a quimera
e eu na solidão, à espera...
no oásis da minha memória
ainda há uma busca indecisa
que meu coração precisa
que a ternura lhe seja entregue.

mas o tempo corre, segue,
e deixa apenas recordações
nuvens escuras, visões, mas uma claridade
indistinta, e um só pensamento sobre ti
dos momentos que vivi, e
uma derradeira saudade...um mundo de interrogações.

no coração trago a herança dos anos
e na boca arco-íris de sílabas que soletro
que são teias e outras favos de mel,
teço e desteço ilusões, enganos e desenganos
o amor e a desdita
que eu grito até ao fim,
ao fim da vida, ao fim da escrita.

trago em mim amarelas florestas de outono
no calafrio do meu corpo adormecido
no meu Deus supremo me abandono,
caindo assim, a minha metade
mais trémula no esquecido.

e fica a censurar-me esta saudade.

natalia nuno

espelho meu...


em linhas ordenadas
escrevo um poema com palavras
desirmanadas, acato que o espelho
me engane, seja comigo desleal
diga que o tempo é que é velho
e ele embaciado... eu estou igual,

desisto de apagar seja o que fôr
existirá sempre este amor-ódio
já nele não me reconheço
nem nestas palavras desarrumadas
há uma dor que sopra fina
alguma coisa dentro de mim
a não deixar morrer a menina

natalianuno

frase...


sou velha agenda de datas esquecidas que o tempo devorou no sabor amargo da solidão dos anos...

nnuno

suspendo-me nos silêncios...


nesta atmosfera tão sombria do entardecer
agita-se a folhagem batendo-me no rosto
é o vento querendo-me dizer
da profundidade da saudade
que me fere o coração.
as folhas agitadas, balouçadas
como o meu pensamento,
os sentimentos divididos, gotas de água,
temporais de mágoa
gemidos do vento que trazem o eco do mar

- deito a cabeça no teu colo
e não quero mais a mim regressar.

esta tarde recaio na melancolia
desalojada de sentimento
carrego nos ombros o cinzento deste dia
ponho o olhar no poente
é evidente minha solidão
é como se estivesse esquecida
desses dias que tão longe vão.

olho a terra molhada, lágrimas
que caem do céu...
faz-se noite, é a despedida e eu,
penso como é monótona a vida...
mas, talvez tudo seja ilusão
meu corpo vai bebendo da saudade,
vou perdendo chão e trancando-me
na solidão, para esquecer a realidade.

natalia nuno

a solidão...


quando é evidente a solidão, nem levo a sério se dizes que me amas, o eco da tua voz fica na noite que desce sobre mim...faz fronteira com o inverno que me envolve, mas traz-me uma fugaz esperança ao coração, que obstinado ainda te quer ouvir...

horas de saudade...


parti por não ter chão onde semear sonhos, cerro as palavras na boca, deixo-as na terra adormecida do meu âmago, talvez que as sementes germinem mais tarde em horas de saudade e, docilmente se entreguem em versos chorosos que embaciem os olhos, ou suspendam a tristeza e o vazio do tempo e venham dourar o verde onde a minha esperança cresce... é verão, mas, estranhamente o dia é de penumbra a memória apaga-se lentamente e eu fico de morte ferida, mas ainda vivo, ainda é meu tempo de viver...exausta parti de mãos vazias, levo os desencantos, vou palmilhando o chão e levo por companhia a solidão, voltarei quando fôr lua cheia, se ainda fôr capaz de aprender a primavera, e as folhas em mim caídas voltem a reverdecer em meus sonhos, eu possa moldar de novo as palavras a meu jeito, e nada impeça que me tragam a promessa de ser gaivota na planície...com olhos de madrugada.

natalianuno

pressentimento...


dói na memória com intensidade
ouvir o cansado ruído da lembrança
e a pressa da ameaça que se avizinha,
surgem nos olhos águas de saudade
treme o coração sem esperança
e o medo do que se adivinha.
na luz caída da tarde
o vôo perdido das folhas,
levando ao pensamento a verdade
da saudade, com que já me olhas...

no fogo secreto da noite
esquecíamos o tempo e a lentidão
amávamos-nos sem fronteiras
e era alquimia percorrer teu corpo
com minha mão,
redimida no silêncio,
resgato do esquecimento
cada momento vivido
que a memória parece ter esquecido,
mas que ainda consigo alcançar
porque é grato recordar.

é no silêncio que se aprende a aceitar
o envelhecer
a perceber o tempo e o seu pulsar
a vida é este estar e não estar, é este temer
de não poder mais despertar
este é o pressentimento, o rumor das minhas
palavras, que não sei suster,
a dura angústia de cair no vazio
e aquele amor que nos uniu
seja um fio desatado, um sonho melancolicamente
esquecido,
no nosso sono apagado.

natalia nuno

trova...


quem vê além da aparência
com subtil e límpido olhar...
busca muito mais da essência
q' a aparência pode mostrar

natalia nuno

trovas...


sonho num faz de conta
trago alegrias penduradas
lembrança que desponta
em alegres gargalhadas

minha porta tem postigo
e uma cortina de renda
cá dentro é meu abrigo
abriga quem eu entenda

natalia nuno

andam os olhos...


andam os lírios vestidos de aroma, e riem-se de mim nas minhas costas, enquanto as roseiras me aproximam do sonho, na buganvília há um entrançado de zumbidos a animarem-me os ouvidos que há muito ensurdeceram, os pássaros vejo-os a passear-se de cá para lá, fazendo-me inveja de já não voar como eles, e pasmo...pois pensava não ter perdido a vida de vez... só as cotovias alegram os meus dias, essas não desistem de mim, cantam no parapeito do meu peito, e eu lírica, vou respirando fundo e rasgando mais um dia... e nesta doce paz, não me lembro se morri ou se entreguei o olhar às nuvens que passando me acolhiam no seu regaço...

natalia nuno

Ergue-te e a vança!



Hoje, das minhas veias, um verso saíu.
Saíu de mansinho e não me feriu!
Encostou-se à minha boca
E logo exigiu,
Ser partilhado na hora.
E eu como louca
Pu-lo porta fora.
Ergue-te e avança!
Mas cuidado, és ainda uma criança
Não vá o Diabo tecê-las?!
Que terra firme?!Que será de ti?
Eu sei que à noite hà estrelas!
Mas há solidão...que eu bem a senti!

rosafogo
natalia nuno
 


Leia mais: https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=99044 © Luso-Poemas

hoje ela é estação sem folhas...


hoje ela é estação sem folhas, outono onde nada germina, onde há caminhos molhados e a estrela que a seguia desde menina perdeu-lhe o rasto, os sinos da aldeia já não dão horas estão parados...há muros caiados de branco, e um fresco silêncio...no adro onde saltava à corda já não há crianças a pular, e há soluços dissolvidos no ar que só ela ouve...procurou e não soube, onde pôs os brincos de princesa que deixou na chaminé onde havia uma candeia acesa, procura... procura como se fosse uma borboleta cega, e só a boneca de trapos a alegra, olha pela janela pequena as rosas que ainda não vieram, e ouve o murmúrio do vento a desdobrar-se pelos cantos da casa, só a saudade lhe enfeita a memória de azul, e consente que suba ao muro e ganhe asas de largueza pela hortas... vai lavar os olhos no leito do rio e entrega o sorriso às estrelas, a horas mortas descansa na margem da saudade...onde afloram os sonhos...

natalia nuno

O silêncio...




Ficou meu sorriso suspenso,
em rugas resignadas de amargura
Em remoídas horas, já nem penso!?
Trago a garganta enrolada de secura.
Braços vencidos
Passos entorpecidos
Aprisionada
De tudo e de nada.

natalia nuno

oscilam os pensamentos...


afoga-se o seu dia num espesso relento
obscurecendo-lhe o alento
e há reinos de mel a que abdica
e ela ali fica...
sorvendo o que lhe resta
acostumando-se a calar
para não se despenhar
nos oásis da sua loucura
onde o vazio lhe devora a memória, sem cura,
permanece pensativa e certa que lhe vão
fugindo as recordações, meras ilusões
dos anos que passaram...
o tempo gravou-lhe lentamente
sombras nos olhos, retirando-lhe sensualidade
o odor a espessa madressilva ou mel quente
enlouquecida na saudade,
esqueceu-se gente

olha para trás e pressente
o rumor da queda na tristeza
segue a orla do seu mar silenciosa
esquece os ecos que a atormentam
escreve palavras implorantes, desejosa
duma promessa de vôo até nova quimera,
e pelo sonho espera...sonha e extasia
e aos seus olhos embaciados volta de novo a alegria.

natalia nuno
rosafogo

tão cheia de nada...


a vida é uma longa estrada
às vezes enviesada,
no rosto,
não falta nenhuma linha
é como ver cair o dia
enquanto se caminha,
não dei conta e já anoitece
da manhã fiquei distante
mas é como se lá estivesse.

deixo cair as palavras
- delas sou amante!
tenho saudades de alguém
saudades de mim também.
rosa brava, solidão
que de amar ainda te consentes
trazes pássaros no coração
os dias são-te indiferentes.

varres a tua alegria
também a tua última dor
és agora folha tardia
caída ao chão por amor.

natalia nuno
Outubro 1996/Braga

desce o silêncio...


é noite...
sómente a lembrança acordada
resistindo no meu peito
aqui se deixa até de madrugada
calma e suave, arrumada
só ela e a saudade cabe
flui uma tristeza cinzenta
coalhada nos meus olhos
o silêncio minha alma atormenta
já a noite dorme e me esquece
e de nada me inteira
já quase amanhece
e eu dela prisioneira

Meu Amor...


Meu Amor
Disse-te um dia
Que em meu coração ateaste
Um fogo luminoso.
Apagado e triste o deixaste
Num sopro doloroso.
Não te afastes de mim
Deixa-me ser,
Do teu sol, o último raio
Deixa ser a tua flor de jasmim,
Florescida no mês de Maio

Meu amor
Quero ser o teu poente
O teu mistério ou segredo
O teu rio ou afluente
O teu clamor, o teu medo.

Meu amor
Deixa-me ser
o cansaço onde adormeces
O teu júbilo ou pesar
O sonho onde tudo esqueces
E só lembras de me amar.

Meu amor
Deixa que seja
o rítmo do teu viver
Tudo o que o teu corpo deseja
Deixa-me amar-te enquanto o
coração bater.


natalia nuno

ouve as marés...


ouve as marés nas areias mordidas pelo sol, e ali encalhadas ficam-lhe as ideias, procura então renovar-se dando asas ao seu vôo, sonha , palpita de saudade, agarra-se à vida com tenacidade, estende o olhar ao dia que ainda lhe pertence...há dias em que a existência lhe parece obscura, tem o desejo e a necessidade fremente de claridade, do sol primaveril, e num despertar absorver o ar puro e fresco que lhe chega do mar...e nessa luz matutina recordar a menina, ouvir o galo cantar notas duma bela sinfonia, olhar o infinito com o ouro a queimar, tudo a penetrar-lhe a consciência, deixar-se a flutuar num céu lavado e límpido por entre os salgueiros, e os cheiros das rosas selvagens... o vento traz-lhe mil recados, mil imagens que voam com leveza dentro dela...e a maré recua, no céu, em êxtase a lua.

natalia nuno

pensamento...


o outono abrigou-se... desnorteado à espera que as abelhas fiquem sonolentas, e o sol ajoelhe.

natalia nuno

pequena prosa poética


pequena prosa poética

quase mágico seu rosto, o olhar estendido labirinto de memórias, olhos que soletram o sol são a linguagem dum silêncio arrebatado, onde as sílabas são substituídas por música que vem do coração, jamais se é o que se foi, jamais se respiram as fragrâncias de Setembro, agora que o inverno se inicia e a vida nos fala em sua mudez, uma rajada canta no arvoredo da memória, que ainda palpita, voa e sonha....

natalianuno

poemas esquecidos...trovas


trago poemas esquecidos
criados com desespero
alguns sonhos proíbidos
por outros ainda espero

imagens no pensamento
caminhos de poesia...
alguns passos são lamento
que chorei por mim um dia.

deixei minha porta aberta
nos versos que fiz para ti
poesia imcompleta...
já que de ti me esqueci

ficou meu dia sem horas
e minha vida um fracasso
não sei se ris ou se choras
sei que choro de cansaço

vou cumprindo minha sina
parando aqui e além...
a descansar desta dor fina
que não desejo a ninguém.

trago o coração fechado
sem encontrar solução
e verso a verso arrancado
a esta atroz solidão...

natalia nuno

trova...


singela...

os olhos da terra a côr
sempre a olhar mais além
seu coração traz amor
e traz saudade também.

natália nuno

trovas...


começa a vida num xadrez
mal e bem...forças inimigas
no tabuleiro apostam talvez
um dia vão deixar-se d' brigas

escasso tempo dura a partida
por atalhos oblíquos... segue
não há pausa é guerra sentida
e só a morte a paz consegue...

natalia nuno

longe de ser perfeita...trovas


venho de longe, cheguei
trago minha alma acesa
ao cair da tarde oscilei
já dobrada na incerteza

vim do ventre da nascente
trago comigo a saudade
de todos fiquei ausente
num tempo já sem idade

no rosto trago a certeza
de que já mal me conheço
se um dia teve beleza?
ao olhá-lo me entristeço!

trago memória da viagem
e a esperança ainda arde
estandarte da minha coragem
se Deus ma deu me a guarde

fui começo e sou o fim
depois desta caminhada
já que o destino quer assim
seguirei a minha estrada

lembro bem de onde venho
mas não sei para onde vou
a esperança a que me atenho
... o tempo não esvaziou!

de flores ladeio a estrada
canteiro de rosas e jasmim
venho da terra semeada
lá atrás a chorar por mim

- trago traços de utopia
-  e longe de ser perfeita!
olhos marejados de maresia
a saudade em mim se deita

meu sonho então tropeçou
o olhar já pouco enxerga
a voz que não canta, cantou
mas a vontade não verga.

os versos são companhia
o espanto de querer viver
e a inocência se associa, a
esquecer, um dia, morrer.

natalia nuno
rosafogo
quadras feitas em viagem
5/2013

memórias...recordar é viver...


vinha aquela chuva pela tarde cinzenta, o ar abafado que mal se respirava, o trigo nas eiras perfumava a aldeia e mais à noitinha um enxame de pirilampos aparecia de todos os lados por sobre a folhagem das árvores vindo até à beirinha das nossas casas a testemunhar o silêncio e preocupação das gentes da aldeia que à soleira da porta descansavam da fadiga do tormentoso dia, mas a trovoada passava o eco dos trovões desaparecia e o dia voltava a ter uma insólita beleza já mostrando o entardecer...ali ao lado mesmo na esquina do quintal uma buganvília agradecida por ter saciado a sede, crescia a olhos vistos como querendo cumprimentar a lua, enquanto nos loureiros lá mais em baixo os pássaros já se aninhavam para passar a noite...no destino da tarde quantos segredos, quantas preocupações e quantos sonhos acariciados pelos jovens com tanto amor para dar...nestas horas, cresce a nostalgia e a lembrança traz-me o assombro daquela moça perdendo-se nos sonhos com perfume a rosa nos inolvidáveis dias da juventude...o dia chorou comovido mas, resplandece prontamente, só na minha memória solitária há sonhos perdidos para sempre...o tempo range nos meus ossos, e coloca uma subtil névoa nos meus olhos, com o seu sorriso hipócrita deixa-me ainda sonhar, voltar no sonho à infância onde sou feliz com algo tão simples, às vezes traz-me uma mão cheia de recordações e deixa-me num frenesim, recordações que zumbem aos meus ouvidos como abelhas em volta dos laranjais em flor, e eu num tímido vôo lá vou lembrando a vida distante numa cega ilusão de matar o tempo permanecendo para sempre criança com a vela acesa na mesa verde onde para lá dos trabalhos de casa, sonhava...no quarto ao lado sinto ainda a ditosa presença da avó, lembro o seu rosto sulcado de rugas e só de lembrar me quedo numa nostalgia e os olhos de água se rompem...
acordar o passado é amar o rio, a aldeia, aceitar a ausência dos que partiram, e trazê-lo ao presente com palavras de frescura e luz.

natalia nuno

nem doce, nem vinagre...


eu hoje brindo à vida
levanto-lhe minha taça
Deus ma deu colorida
eu agradeço essa graça

nem doce nem vinagre
o meu dia renovado...
aguardo sempre milagre
seja d' amor perfumado

de tanto que caminhei
recordo sem ilusão...
que todo o amor que dei
foi belo e com paixão

tudo se distanciou
é agora fumo negro
mas o coração guardou
teu coração em segredo

não deixo a obscuridade
entra e sente à m' mesa
quero comigo a saudade
desse amor que foi certeza

natalia nuno
2011/05

trova...


singela...

aonde vou eu peregrina
a algum lugar sagrado?
talvez lembrar da menina
que sempre trouxe ao lado.

natalia nuno

coisas de poeta...


coisas de poeta

quando é evidente a solidão, nem levo a sério se dizes que me amas, o eco da tua voz fica na noite que desce sobre mim...faz fronteira com o inverno que me envolve, mas traz-me uma fugaz esperança ao coração, que obstinado ainda te quer ouvir...

natalianuno

dor singela...trova


A dor sempre vem e vai
tão firme é no coração!
Dor que de lá não sai
dor que dói até mais não.

natalia nuno

e no tempo que sobra....


e no tempo que sobra....

este vagar a que me entrego de corpo e alma
este doer que abraço sorrindo
esta chama a chamar por mim, saudade!
toda esta emoção vindo de verdade,
é poesia, ou remoinho de luz
ou o florescer das flores logo que é dia.
a minha alma a morrer, ainda
é plantio de amores no chão destroçado,
deste meu coração...
até que tenha um sopro de vida
não abandonarei o sonho
e no tempo que sobra
viverei sem medos, caminharei afoita
mesmo sabendo que a morte me cobra.

minhas mãos foram de afagos
cansaram de bordar sentimentos em poesia
nas manhãs orvalhadas, onde meus olhos eram lagos
e íntimas as saudades que com magia versos concebia
infinitamente doces,
de suaves e nostálgicas lembranças.
perco a noção da hora e vou pelo tempo fora
a sonhar esperanças,
apesar de tempo adverso
eu caminho e me fortaleço
trago a felicidade na emoção dum verso
na serenidade do pensamento
no entusiasmo com que teço a vida a cada momento

um dia o tempo me há-de entender
caminhámos lado a lado,
quando meu corpo não estiver mais acordado
e a saudade de mim, à porta lhe bater...

natalia nuno

entre o sonho e o vazio...


Quero molhar os pés no rio
Sentir-me viva e encher de sonho
a alma
Não sentir da vida o frio
E puder cantar, chorar, sem que ninguém
me leve a palma.

Óh se pudesse esquecer a vida
à minha volta!
Ouvir apenas o sibilar do vento,
deixar-me ao abandono...à solta,
livre, tão livre como
o pensamento.

Sentir-me feita de nuvens ou de neve
Nesta vida que a mim me talhou,
que faz do meu tempo, tempo breve,
fazendo temporal que por mim passou.
Hoje está mais um dia extinto
E a morte ronda eu a pressinto.

Vou p'lo campo saciar minha sede,
na nascente que brota sem parar.
Vê-de...Vê-de!
Como gosto de com a natureza
comungar.

Percorro o caminho da primavera.
Sinto ao longe o nascer da aurora
Quem me dera...quem dera!
Que o tempo ainda fizesse sentido
agora!

Trago os olhos cheios de tempo
e caminho,
corro como a água errante sem parar.
Neste rio que se lamenta e segue sozinho
E choro ...como o seu leito a cantar.

E já tudo é nostalgia no meu coração.
O tempo passa por mim e apregoa,
que fez de si minha prisão,
e correntes sobre mim amontoa.
Esvazio do coração o pranto de outras
horas.
Reconstruo meus sonhos mais
uma vez!
Até que nada mais haja para crer,
e depois aí sim, talvez!
Possa enfim em paz morrer.

rosafogo
natalia nuno

entrega...




quando a noite fôr já agonia
e despertar a madrugada
dentro das paredes do nosso quarto
quero ser amada.
a lua gagueja à nossa janela
dou conta da brisa na minha pele
e na noite que nos resta
matamos a sede com beijos
de sabor a mel.

o amor é a forma perfeita da liberdade
um beijo a felicidade
e se a vida é correnteza, seguirei confiante
entregando-me a ti, como mulher e amante
às vezes cerramos os olhos
ao sombrio presente
e vivemos o sonho que continua a arder
as recordações estão na alma da gente
e os sonhos não queremos deixar morrer
estremecem nos meus olhos cotovias
quando juntos viajam nossos corpos
meu desejo orvalhado de fantasias
lírios de prazer, margaridas em festa
tão único é este amor nosso
e o sol já espreitando na janela do quarto
acariciando-nos por uma fresta...
é sonho?! mas, sonhar eu posso.

deixemos jorrar o sol cantante
que eu quero ser tua mulher amante....
neste instante!

natália nuno
rosafogo
março 2002

hoje está morta...


hoje está morta, porque hoje ela casualmente se viu ao espelho, e viu um rosto velho, podia ter ficado indiferente, mas tristemente padeceu quando viu esse rosto sombrio...pensou enlouquecer... ah...pensem o que quiserem, ficou triste sim, tão triste que as nuvens pararam para chorar com ela, e a chorar também o vento que ouviu o lamento, sentiu esmorecer-lhe o coração, e diz-lhe descuidado como quem segreda um recado...no espelho, já foste trigo por colher, agora és uma seara seca à míngua pronta para morrer...
conserva como relíquia um poema maduro mas sem futuro, espreita o tempo a um canto da vidraça e refaz-se abraçada à criança que foi, assim passa o tempo e a dor não dói ...entre a memória da primavera e o outono caído ao chão, traz sonhos a escorrer do verão...e aos ombros uns salpicos de saudade, onde o inverno é já verdade.

natalia nuno

o brotar da nostalgia...


cansadas docemente sobre o regaço
gestos multiplicados sempre iguais
mãos hábeis... morrendo de cansaço
cálices de amor q' agora não são mais

perdidos andam  pensamentos à toa
procurando-me cada vez mais no fundo
solidão, carência nada há  que não doa
despojada de sonhos invento meu mundo

perco o olhar, não há sonhos ou desejos
apenas se esgota na distância do que vivi
lábios, já não se entregam aos teus beijos

passam as noites e não vislumbro nos dias
a ternura cega que vinha falar-me de ti!
do quanto, fervorosamente tu me querias.

natalia nuno
rosafogo


pedaços de mim...


No meu país há uma aldeia como não conheço outra, aos meus olhos surge sempre a velha ponte sobre o rio tão velho quanto ela, sempre lá volto todas as manhãs a fio em pensamento, olho as mulheres lavando no rio, os homens levando a carroça o burro o carro de bois, mas tudo isto só existe no meu pensamento, no entanto tudo o resto lá está inalterado, as margens com os velhos salgueiros, as flores que brotam livremente, as águas correndo transparentes, os moinhos moendo, volta não volta até as mesmas andorinhas nos beirais.
No trajecto vou escrevendo páginas da minha vida, como se fossem um chão de estrelas que me alumiam no caminho, ou contas dum rosário que por mim reza e me salva.
As notícias locais passam de boca em boca sem jornais, o sino avisa dos que estão de partida, os que nascem logo a velha «curiosa« espalha a notícia, os que casam têm seus pregões colocados na porta da igreja, e assim se vive na paz do Senhor.
Por debaixo do casario a aldeia assenta em filas de grutas que são labirintos tão extensos que há quem diga que vão até à cidade próxima...seriam os mouros, ou os celtas que teriam feito estes esconderijos subterrâneos? Para mim em criança eram povoados de fantasmas e no meu imaginário criava longas histórias com o dom de coisas secretas, gemidos, procissão de passos, olhos incendiados, mãos arrependidas, e depois na minha inocência concluía que eram almas penadas.
Às vezes ainda me espanto com a facilidade que a criança tem de inventar, dava comigo a cantar e a imaginar que estava perante uma assistência a ovacionar-me desencadeando em mim um grande triunfo, tudo sonho na minha imaginação.
Tantos sentimentos que se vivem, o amor a alegria, e outros que nos enchem de força, tomo sempre fôlego e desato a falar de saudade numa esperança cega de que não me fuja a memória.

natalia nuno
rosafogo

sonho impossível...


nada detém a febre dos meus passos,
nem a saudade do que deixei atrás de mim
suporto a solidão e o vazio das horas
mesmo que a vida vá perdendo a cor
sigo em frente sem demoras
com o vôo dos pássaros,
o riso das águas, o aroma da flor
que levo ao peito.
sigo a meu lado e tão perdida...
levo também o grito e o frio da vida,
e por estranho que me pareça, minha sombra
imita meus movimentos
adivinha-me os pensamentos,
ignoro se ela é a minha prisão
ou sou eu que lhe dou a mão.

no silêncio da tarde, o dia
vai-se afundando, eu tropeçando
sentindo o esmagamento,
o rosto macilento, procurando o sonho
em vão, no esquecimento, na obscuridade
no jardim solitário da minha saudade

volto a sentir e a contemplar a criança
que vive em mim em paz, e me julgo
jovem para sempre,
este sonho, mesmo impossível, me satisfaz.

natalia nuno

trova singela...


que será? sonho, delírio, amor
momento de êxtase ou saudade
quem sabe talvez seja só dor...
o que o Poeta sente de verdade.

natalia nuno

através das cortinas...


através das cortinas da alma vou remando até à infância, nada me barra o caminho, e fico a boiar no poente em liberdade, agradeço a Deus a dávida do sonho, que me permite encher o peito de água nova, reconcilio-me comigo mesma, e em equilíbrio fica o interior...serena, mais lúcida, vou continuando o caminho...partem as horas, fica o cansaço, inacabado o sonho, voltam os anseios como trepadeiras dando-me o abraço e eu esqueço as canseiras, adensam-se os beijos frementes de desvario, suspiros do sol interrompem meu frio, escapo-me pelo meio da alegria e vou vivendo, sorrindo dia a dia...

natalia nuno

baloiço entre os sonhos....


baloiço entre os sonhos e a vida num abraço de peculiar ternura e tudo são fascinações, lembranças de instantes perdidos, já distantes... na minha cabeça os ventos do outono, tão só a nostalgia me ouve, procuro romper as húmidas paredes que cercam meu olhar, retirar a presença fria que me cerca, trocar os dias monótonos por momentos felizes, e ter de novo essa força decidida que cria doçura e é amor...enruga-se o rosto, os olhos que eram estrelas ficam pássaros ocultos em quietude, enquanto vou repetindo palavras de pranto, de desejo candente, de frescura longínqua, simultaneamente sentimentos que me restam e a necessidade de sonhar... o sonho sempre abarca felicidade, e traz-nos uma lágrima que nos afoga de saudade, incendeia desmemórias, e é como se o sossegado amor estivesse sempre à nossa espera...com as palavras faço colheitas de sonhos e neles sou uma violeta azul solitária flor, uma safira no rio, ou uma inquieta gazela...sou tudo o que eu quiser... enquanto na minha mão um melro cantar sem idade e sem tempo...

natalía nuno

cheia de júbilo...


cheia de júbilo...

quero seguir sendo eu mesma
ainda que, por horas incertas e fugidias
quero sentir que me pertenço
não quero desabar
em esperanças vazias...
quero viver, deixar acontecer
já que o tempo não posso deter
não quero adormecer
no vazio das horas
quero caminhar com esperança
fazer com a vida uma aliança.

abrir-lhe o peito
deixar entrar a luz entretanto 
perdida
não quero inútil a subida
meu sonho vem de longe e me segue
aqui fico, onde os instantes
me trazem pequenas sensações
onde esqueço o tempo e suas
prisões,
tempo que me prende os movimentos
e tudo degrada,
não quero mais o pranto
não estou condenada.

cheia de júbilo
olho a vida com contemplação
assim na tarde que cai
as horas me acompanharão
sem violência, sem ansiedade
numa eterna lentidão.

e num recanto do meu corpo
nascerá mais um poema
com o cantar dos pássaros
com o orvalho das madrugadas
os acordes dum violino
com a leveza de asas transparentes
e o mundo será de novo menino
a terra mansidão
e o tempo não será mais obsessão.

natalia nuno
rosafogo

laivos de sonho...


as palavras afluem ao pensamento
como um bando de pardais
já diminui a luz do dia é o momento
em que a saudade dói demais.
o sopro doce do vento
adoça o coração,
ouve-se a folhagem no jardim
tenho sede de libertação...
laivos de sonho passam por mim
vai alto o sol avermelhado,
o tempo marca a velhice 
causa desgaste
é fardo a cada dia mais pesado.


a inspiração é um estado intermitente
como nuvem que mesmo sem água ainda chora.
é quando a gente sente que está na hora
de soltar o estado d'alma na poesia
com muito amor e nostalgia,
é felicidade que pensamos possuir
liberdade como pássaro que voa
- mas ela vai-se, esboroa!
cerro pálpebras, sigo mais além
no sonho, onde há corações e abraços
e não deixo que nada nem ninguém
se interponha ante meus passos.


natalia nuno

tarde lírica


pequena prosa poética

Sinto-me agora na proa da vida, leva-me esta como um barco duma margem à outra margem, neste rio caudaloso faço travessia, dia e noite, noite e dia, ora em águas claras ora em águas turvas com redemoinhos no seu leito num murmurar sereno vou resistindo às intempéries de cada instante...
Ouço a canção do vento que se faz ouvir, as horas correm como se não tivessem cansaço nos pés e eu, à sua frente um tanto fatigada, tentando exaurir minhas forças e não me deixar levar ou cair nesta subida.
A saudade se encarrega de me trazer de novo recordações e eu poeta me sinto, vou criando com o segredo ou o mistério que só meu coração conhece e entende, também porque a esperança ainda não se fartou e o amor à vida não morreu...sinto-me agora com o peso dos anos nos ombros, meus braços pendem como os galhos das árvores ao peso da chuva e do vento, mas no meu horizonte há ainda raios de sol vermelhos que me aquecem a alma e meu corpo sente-se a saltitar com a agilidade duma cabrita montesa, entretanto escrevo, escrevo quando a lua se passeia p'lo céu, além , muito além, e o outono vai adiantado, o sol no ocaso inflama, avermelham as folhas que vão caindo atapetando o chão e o meu coração ama...ama...e as palavras vão amaciando meus dias, são como armas frágeis com que enfrento a monotonia, até que os pássaros regressem e cantem na minha boca ou até que o sol da manhã me traga de novo o desejo de voar.

natalia nuno

trovas...


no rosto a indolência da bruma
o sonho em chama a surpreende
a saudade, já de coisa nenhuma
um vendaval que ninguém entende

do tempo traz nela a voracidade
entre os lábios a quente labareda
os desejos transbordam de saudade
no olhar tristeza que ninguém arreda

natalia nuno

os sonhos na mão...



preciso falar das noites
quando as recordações latejam
na mente e passam por mim como pardais
esvoaçantes, apressadamente.
suspensa, deixo-me em pensamentos irreais
num estremecer de vida
e é como se fosse um tempo novo
a memória vibra como uma campainha
no silêncio caminha e se distende
enquanto o peito fala e as mãos escrevem
o que ninguém entende
só os pássaros que em mim bebem
vão fazendo a viagem de penas soltas
recrio e dou voltas e volto a ser criança
criança que embala o sonho
que não dá descanso às palavras
que guarda na lembrança com amor
o adro a praça, o rio e as águas verdes
que deram ao seu olhar a cor.

falo das noites, quando as lembranças
são mais vivas, e as saudades surgem
intempestivas, ou afagando meu pensamento
e nele vão deslizando...
a noite me envolve, o sono não chega
e é minha mãe que o cobertor me aconchega
os sonhos eu teço num breve tecer
quem sabe amanhã possa já não ser
dobro e desdobro nos olhos primaveras
lembranças se enredam em mim
como folhas de heras
daqui a pouco nascerá o dia, celebrarei
a chegada, colho mais uma saudade
e ponho-me a cismar lá mais para a tarde
e é como se fosse um tempo novo...

natalia nuno
rosafogo
imagem retirada da net

nataliacanais.blogspot.

pranto de saudade...


há sempre um par de lágrimas prontas a cair
há pelo menos uma que cai
preciso dum par de asas, quero ir
de onde a memória não me sai.
cresce, cresce esta vontade
vem soltando gritos
que são pranto de saudade
parado nos meus olhos aflitos.

e se caem em desespero
não me arrependo de as perder
pois se o choro é sincero
eu choro ... de tanto à vida querer.

sob o sol que nasce a cada dia
carrego aos ombros os anos
os desenganos,
e a esperança já tardia.
mas outro outono virá!
pondo nos meus olhos o sol
a serenidade a mim voltará
os pássaros me esperarão
voltarei a ser no campo um girassol.
e o meu sonhar não será em vão.

natalia nuno

recordação genuína...


há uma recordação genuína
...meus caracóis de menina
cabelo longo e espesso
que a brisa fazia esvoaçar...
e a dor não diminui nem um bocadinho
ao vê-lo hoje fininho
como raios de luar
avalanche de recordações,
como se retrocedesse no tempo
daí a minha afeição genuína
por essa menina.

menina de sonhos
sempre a fazer uma
asneira qualquer
mas firme, determinada
e a mãe dizia:
esta é que vai ser!

cruzo o olhar comigo
me olho e envelheço
e fica em mim esta doença de pensar
procuro abrigo
e o brilho dos olhos embacia
com a lembrança do rosto
onde havia
aquele verde esperança no olhar.

natalia nuno

silêncios...


há silêncios que dizem tudo
na aspereza da noite, são desabafo d'alma
nos olhos secos, raios avermelhados
a expurgar a solidão,
as veias soltam-se em trepidação
na quietude, não se ouve nada
a não ser, o bater do coração.
a vida já se ajoelha
o tempo no rosto se espelha
assim se faz o começo do fim,
sigo o silêncio que se quedou em mim
na memória há um fogo que arde e não
se consome...uma porta larga que abre
ao passado, estendo a mão
às lembranças,
o sonho impregnado de brandura e,
com ternura vou criando asas
para sair da solidão.

sempre a mesma sujeição ao tempo
sempre a mesma memória obsessiva
a lembrar cenas que marcaram a vida
deixaram no peito a saudade viva
esta saudade tão minha, que sinto de verdade
e lá me faço asa, que me leva de volta a casa
mas o tempo se arrasta e da vida me afasta
silêncio mudo que em mim se deita
encontra guarida no peito e ali se ajeita
aceita a oferta do abrigo e quer-se ali comigo.
há silêncios que dizem tudo
atravessam m' alma vazia, meu coração mudo
cansaço na viagem, e passa mais um dia.

natalia nuno

não matem os pássaros....


não matem os pássaros que vivem nos meus olhos, deixem-nos saltitar debicando as espigas dos meus sonhos, e a beber nos ribeiros solitários do meu silêncio, não matem os pássaros que vivem nos meus olhos, preciso acordar com eles para não desfalecer como flor desprezada, quero que caiba em mim o sol claramente, quero ser flor silvestre na madrugada, não quero andar descontente, quero ser mulher amada...quero meus dias sejam malmequeres de Maio, poisem neles os pássaros que vivem nos meus olhos, e o sorriso que me resta ainda mesmo que seja chuva miúda, seja de alegria, de festa e não de esperança murcha...não matem os pássaros que vivem nos meus olhos, deixem-nos em liberdade, debruando o infinito da minha saudade...

natalia nuno

o amor...


o amor salpica a vida inteira rodeando-a com uma auréola da côr da felicidade...é como um pássaro que constrói o ninho em nosso coração...e ali se abriga.

natalia nuno

palavras d'água...


os meus olhos embriagam-se de poesia
e florescem neles as mimoseiras
os pensamentos se dispersam
e logo as saudades são as primeiras
a afagar-me o coração,
a levar-me ao passado, às manhãs solarengas
às papoilas cor de carmim
que ainda chamam por mim,
e nos meus sonhos canta ainda o rouxinol
e só de o ver naquele ramo
fico de sorriso inteiro, criança à solta
neste dia de sol que não volta
e que é tudo o que mais amo.

vou ao mais fundo de mim
acordar as lembranças
e nos meus sentidos, floresce o jardim
da mãe, é primavera, e eu fico ali
sentada à espera...
vou ficar, há coisas que me fazem chorar
vou ao rio escrever palavras d' água
ouvir o zumbido do zangão, esquecer a mágoa
e na saudade seguir serenando meu coração

hoje o azul do céu está mais intenso
esvoaçam as andorinhas
meu passo é agora mais lento
mas eu invento, que corro carreiro acima,
com um ramo de flores na mão,
assim sou feliz, criança a sorrir, leve
como a aragem do vento, e
como dizia a mãe, sempre cheia de razão.

natália nuno

pensamento...


Quando fecho os olhos, vejo atalhos ladeados de girassóis que me sorriem...esqueço os labirintos da realidade e vou sonhando...
rosafogo /Natalia Canais Nuno

rio de solidão...


caíu a lua nas águas do rio
cobre-se de claridade o dia
ainda o inverno espalha o frio
fica o dia coalhado de nostalgia
os sonhos não fizeram ruído
perderam o sentido, também a cor,
no corpo passou o desejo
por ti e, por mim, amor,
o coro das águas são de fina língua
enquanto  bailam descendo o açude
e os nossos rostos morrendo à míngua
já nada há que os faça voltar à juventude,
a vida é tão fugaz,
tudo ficou para trás,
tudo é lembrança
longínqua do que se viveu
só o amor persistiu e não se perdeu.

assisto ao amanhecer que se levanta
e traz alguma claridade,
e nostalgia tanta
que suspiro de saudade...
giram os cata ventos
eternamente vão girando
tal qual meus pensamentos
que a brisa da madrugada foi levando
e nesta dor que dói sem descanso
vou olhando o pranto do rio
ainda o inverno espalha o frio.
mostra-me onde está a saída!?
não quero ouvir mais o pranto!
quero sentir-me protegida
por ti, a quem amo tanto.

natalia nuno
rosafogo

a saudade és tu!


a saudade é meu tecto e meu chão,
é felicidade, é metade duma estrela,
que guardo nas algibeiras da memória,
sempre que a mente e o coração.
relembram nossa história...

na alma trago um caudal de sinos
que tangem sem pausas,
nestas letras que escrevo
como diamantes pequeninos.

hoje não bate o sono
aproximo-me da noite
e dum sonho de amor perfeito
nele me abandono,
e a saudade és tu!
toda a paz em mim, amando-te do meu jeito
a saudade é meu tecto e meu chão
e tu lá dentro a paz
do meu coração.

natália nuno

elegia...


a noite já desce
sobre  a pele dos sonhos
enquanto a solidão cresce,
acabou-se o fogo que me aquecia
e o cansaço se impõe
a fazer-me solitária a cada dia
como sombra desolada
e fria...
afirmo-me na minha loucura
os fantasmas são reais
a vida nem sempre foi dura
agora é por demais.

o tempo gravou sem piedade,
fecho-me em mim mulher
assim vou morrendo de saudade,
enfrento a verdade
venha o que vier.

nada procuro nem espero,
a vida é golpe de asa
logo se cai no abismo,
vem a morte e arrasa
versos  tristes, testemunhos
de tempos velhos,
sombras de mim...
odeio os espelhos
a olhá-los me oponho
olho o luar sem fim
agarro-me ao sonho!

natália nuno

guardo o sonho...


Guardo o sonho na calma
serena do poente
não quero de mim o sonho
ausente.
O tempo é amargo
saudade é o que trago
e o que sinto, enquanto
a noite desce e o dia finda
em breve o silêncio se instala
e a lembrança vem comigo
à fala.
Traz-me a alegria viva
ou o a tristeza cinzenta
lembra-me os passos que dei
e tudo a saudade inventa,
ignoro por onde andei
até que aqui cheguei
já a noite desce e o dia finda
mas o sonho encanta-me ainda.

Efémera a juventude
como uma flor que desabrochou e morreu
meus dedos reconhecem-lhe a ausência
e amiúde, choram por mim,
o tempo roubou o sentido
e de solidão a vida encheu
levo horas vazias
já a luz se desvanece
voam meus olhos em busca da alegria
mas logo a saudade aparece
e traz com ela a nostalgia.

natalia nuno

no exílio da memória...


No mar alto da minha vida
Há um marulhar incessante
Que me deixa esquecida
Numa solidão gritante.
Minhas horas solitárias
e fugidias
Povoadas de sombras
e agonias.

Mas as sombras se vão!
Foi apenas um sonho ruim,
agora tudo é leve.
Tudo floresce nos canteiros
secretos de mim.
Lembrei meu riso inundado
de pureza
Adormecido numa fotografia
Trazendo a mim a certeza
Que a vida já foi macia.
Se agora a vida definha
desabrida
Semeando no meu corpo
sinais.
Deixando minha pele ressequida
Já me iluminou o coração
por demais.

Confesso que sonhei
E nada mais há para ser contado
Neste meu silêncio entardecido
Da saudade não falarei
Fechá-la-ei no coração a cadeado.
Já nada do que escrevo faz sentido.
E à medida do que esqueço
No exílio da memória adormeço.

Neste silêncio empedernido,
nas palavras me aninho.
Sou como um menino perdido,
Ou pássaro sem ninho.

rosafogo
natalia nuno

o poema...


poema dirige-se a toda a gente

não traz com ele estranheza

dialoga com o passado docemente

e afirma estar vivo de certeza

 

por vezes conta uma história

e alarga-se até ao infinito

a partir do vivido a memória

molda o poema q'nasce aflito

 

as palavras o vão polindo

cresce o poema com precisão

e como flor se abrindo

nele o Poeta põe alma e coração.

 
natalia nuno

palavras, leva-as o vento...


Ignoro onde me levam meus passos
Devo porventura desculpar a vida?
Como recuperar  se só restam traços?
Em boa verdade, me sinto perdida.
Rompo com a própria vontade
Sozinha com pensamentos a esmo
Deixo-me a rememorar com saudade
Para não me esquecer de mim mesmo.

O tempo amadureceu este sentimento
De prosseguir, de me apressar no caminho
Não vá acontecer meu desaparecimento
Numa noite breve, meu descaminho.
Já nem sei com rigor nada a meu respeito
Só sei que estou numa idade diferente!?
Se é dia ou crepúsculo, a hora a que me deito!?
Se muitos ou poucos os passos em frente.

Face ao desconhecido, a imaginação é que tece
Não é medo não, só mau pressentimento!
Mas a Vida já nem aquece nem arrefece!
«Palavras, palavras leva-as o vento».

rosafogo
natalia nuno

pensamento..


quis ser tanta coisa, até os quiméricos sonhos ficaram sem norte...soltei as velas da vontade e deixei-me nas mãos do destino...

natalianuno

porquê calar?...


à minha volta o silêncio
é tudo o que sobeja
tomba em qualquer lugar
não há quem veja
só eu o vejo chegar,
cada vez fica mais perto
sobre mim debruçado
a ceifar-me o pensamento,
a levar-me ao esquecimento
como quem não tem outro remédio
nesta vida,
e se vê num beco sem saída.

tenho voltas a dar
sair deste silêncio, desta solidão
anima-me um pouco de contentamento
a morte prometida vou deixar
Deus assim me consente
a vida vale mais que este tormento
porquê calar se me perco a cada passo
quando o amor anda ausente?
distante, fantasma, sonho e nada
vida acabada,
nocturna solidão sem um abraço,
minha alma a ficar adormecida
é  tempo de nova idade.
idade de ter saudade.

natália nuno

pressentimento...


pressentimento...

dói na memória com intensidade
ouvir o cansado ruído da lembrança
e a pressa da ameaça que se avizinha,
surgem nos olhos águas de saudade
treme o coração sem esperança
e o medo do que se adivinha.
na luz caída da tarde
o vôo perdido das folhas,
levando ao pensamento a verdade
da saudade, com que já me olhas...

no fogo secreto da noite
esquecíamos o tempo e a lentidão
amávamos-nos sem fronteiras
e era alquimia percorrer teu corpo
com minha mão,
redimida no silêncio,
resgato do esquecimento
cada momento vivido
que a memória parece ter esquecido,
mas que ainda consigo alcançar
porque é grato recordar.

é no silêncio que se aprende a aceitar
o envelhecer
a perceber o tempo e o seu pulsar
a vida é este estar e não estar, é este temer
de não poder mais despertar
este é o pressentimento, o rumor das minhas
palavras, que não sei suster,
a dura angústia de cair no vazio
e aquele amor que nos uniu
seja um fio desatado, um sonho melancolicamente
esquecido,
no nosso sono apagado.

natalia nuno

sentimento...


nos dedos da solidão, há palavras fugitivas do tempo...e no mutismo dos olhos, recordações que não querem renunciar...

nataliarosafogo

Sonhei de novo...


Vejo pomares de flores e frutos
Talvez seja só miragem
Trago meus olhos enxutos
No rio mirei minha imagem.
E ousei ver-me menina...
Ai... a força que a saudade tem!
Sabendo como ninguém
Que só assim se imagina
Quem saudade tem...

Ali defronte dependurado
Um lençol bordado
a corar
Que vim ao rio lavar.
Já o cansaço me faz dormir
Mas ainda quero ir
À rua que a minha mente povoa
Sentir-me de novo em casa
Ainda que isso me doa.

Perdi a asa!
Sinto-me menina intrusa
Meu sonho novo me arrasa
E arrasa minha musa
É este o lugar que me deu vida
Onde tanta vez vi o sol nascer
E sonhar como flor esquecida
Nas sombras do adormecer.
Tantos dias matinais
Tanto rosto já esquecido
O silêncio... dos que não
voltam mais,
deixam-me o coração
p'la dor possuído.

Sento-me ainda agora no sonho
a repousar
Vai anoitecer, já arrefece...
E eu na soleira da porta a ver a lua chegar.
Não! Não me vou afastar!
O chamamento da terra
me aquece,
em labaredas de saudade.
Talvez ainda a esperança regresse
e possa voltar à idade,
Áquela que o tempo,
não me arranca da lembrança.

natalia nuno

dormência dos sentidos...


este cansaço nos olhos
este tamanho emurchecer
resto de farrapos, escolhos
caixa de medos a que me entrego sem querer,
murcham comigo as rosas
os sonhos, eles que eram mariposas
já não voam,
exausta, oiço vozes no silêncio da minha surdez
quem sabe sejam os ventos que me trazem os medos
à memória que se despenhou de vez.
tudo agora é despegado de razão
tudo é, coisa nenhuma
o vazio da alma o adormecer do coração
a dormência dos sentidos
nas noites que vão passando uma a uma
a violência do tempo, é ferida que não cura
moldou-me como o mar molda a areia
com batida que sempre dura
fui menina de sonhos desde que nasci
e por sorte serei até à morte
sei ao que vim, tanto me dei
e tão pouco a mim!
sou agora um outono desfeito
à espera que a longa noite chegue
com a solidão dum grande mar
à espera da manhã que não virá
nada sou nada serei, minha voz se calará
e mesmo assim de forma estranha
esta saudade que me acompanha
para sempre ficará
na solidão do que escrevo.

natalia nuno

noite de Natal...


uma alegria estranha
vozes diluem-se à distância
ecos ao longe, vindos da
infância...gente ordeira e
submissa, tocam os sinos
não se escolhe o destino
lá vão todos à missa.

é noite de Natal
grande paz, bulício de estrelas
música irreal, oração
origem da minha verdade,
verdade que não desejo perder.
e do lado de cá da vida
a saudade...não quero esquecer!
uma noite fria,
a brisa fina e eu menina,
todos presentes... *agora ausentes*
são um todo real
nesta noite fria de Natal,

tudo envelheceu perdeu o encanto
e, o eco espectral leva-me a memória
às longínquas noites de Natal...que
eu ainda lembro tanto.


natalia nuno

perdeu tudo...


perdeu tudo, sobra-lhe o nome, perdeu a desenvoltura, a passada, perdeu a vontade ficou sem nada, resta-lhe o nome... o tempo parou, o jogo acabou, como era antes, em tempos distantes?! havia em si todo um caminho toda uma vida e tem agora um beco sem saída...resta-lhe o nome, a vida é viver apenas, reconhece-se em lembranças serenas, passa a vida inviesada ora no passado ora no presente, ou é pedra pesada ou a traz contente...resta-lhe o nome, algumas ideias na cabeça, já nada acaba, mas tudo começa, a solidão é sua condição, mas que importa se o sonho ainda lhe bate à porta? resta-lhe o nome e a terra fria que a espera, há dias e dias em que desespera, recorda o passado como um livro lido, que lhe deixa no olhar um brilho incontido...

natalia nuno

longe de ser perfeita...


venho de longe, cheguei
trago minha alma acesa
ao cair da tarde oscilei
já dobrada na incerteza

vim do ventre da nascente
trago comigo a saudade
de todos fiquei ausente
num tempo já sem idade

no rosto trago a certeza
de que já mal me conheço
se um dia teve beleza?
ao olhá-lo me entristeço!

trago memória da viagem
e a esperança ainda arde
estandarte da minha coragem
se Deus ma deu me a guarde

fui começo e sou o fim
depois desta caminhada
já que o destino quer assim
seguirei a minha estrada

lembro bem de onde venho
mas não sei para onde vou
a esperança a que me atenho
... o tempo não esvaziou!

de flores ladeio a estrada
canteiro de rosas e jasmim
venho da terra semeada
lá atrás a chorar por mim

- trago traços de utopia
- e longe de ser perfeita!
olhos marejados de maresia
a saudade em mim se deita

meu sonho então tropeçou
o olhar já pouco enxerga
a voz que não canta, cantou
mas a vontade não verga.

os versos são companhia
o espanto de querer viver
e a inocência se associa,
a esquecer um dia, morrer!

natalia nuno

os pássaros me esperam...


os pássaros me esperam
cantam nos meus sonhos sombrios
como se entendessem que quero vencer
a tristeza e os frios que de mim se apoderam,
minha memória é a nascente
saciam a sede nas minhas mãos em concha,
cantam até se extinguir o dia
fazem dos meus sonhos semente,
do sol pôr até à aurora fria.

ao longe já a calhandra rasgou o céu
o tempo já pouco faz sentido, e eu...
meus olhos lançam-se ao esquecimento
e de momento a momento, sigo perdida
como água errante que não modela o rio
cotovia na noite escura...ferida!
choro por dentro, fica o coração vazio.
saudade de tudo que sumiu.

saudade volta sempre a mim, desencadeia a primavera
e os pássaros ficam de surpresa à espera,
à espera dos sonhos com luar
do viver com ventura intensa
com manhãs de verão, e as portas do coração
abertas de par em par, com alegria imensa
com esta emoção que me prende a garganta
e esta saudade tanta...

natalia nuno
rosafogo
























o eco da saudade...




atraso de propósito o caminhar
procuro serenar o tempo
até ao vazio do anoitecer
a tarde já se deixa à noite misturar
e assim passa mais um dia.
virá a madrugada adolescente
talvez volte a sentir-me gente.
a minha alma esfria, sinto a vida escorregadia
no rosto um último sorriso
e no coração a desarrumação
e a nostalgia...
levo os dias ouvindo o eco da saudade
olho as flores, sinto-lhes a fragrância
no silêncio da tarde,
e, numa bebedeira de alegria volto
à infância...
sigo sem nada, nem me dou conta
da chegada da escuridão
só o sonho, o passo, a ilusão
e o sopro da saudade
que me embala neste estontear da idade

ouço os pássaros a recolher
os restos das suas melodias deixam-me lírica
por momentos sou adolescente a correr
e num fascínio incurável,
a menina ali fica...
vagueio indecisa, e a sombra me rodeia
escorrega a noite, no sonho me enredo
não importa se princesa bonita ou feia
o sonho é meu e, a noite é tudo que me resta.

natalia nuno

choram flautas nos meus ouvidos...


e sempre nos meus olhos a noite causa
sombra, uma longa sombra amortecida
olhos de pintura já esvaída
onde coube tanta solidão
lágrimas p'lo caminho
derramadas p'lo chão
tanta rosa, tanto espinho,
já meu sonho se quebrou
já meu sangue agonizou
nada que invejar em mim,
nem meus olhos verde azeitona
nem meu pálido rosto de jasmim
tudo chegou ao fim da maratona.

choram flautas aos meus ouvidos
choro, não sei, porque me domina
a saudade... de tantos anos vividos!
deixando-me a lembrança da menina
que no coração arde...
já não me conhece ninguém
um rumor frio assola-me o peito,
só as lembranças o coração retém.

abro a porta à noite, calma e suave
sempre o sonho me chama
e um frenesim de esperança
no coração cabe, e sempre
uma alegria infantil de quem
a vida ama.

natália nuno
rosafogo

liláses tardios


amanhece, o quarto de sombra carregado
é a solidão dos dias cinzentos
em mim, lamentos, o pensamento calado
mergulhado num mar profundo
onde a luz não faz morada
penso na vida sem regresso
para a terra fria virada,
na manhã tropeço
no orvalho escorregadio
saio do submerso vazio onde perdida
vejo a vida a envelhecer
só o coração guarda a vontade de viver
a janela nem vou abrir
olho por dentro do vidro a lacrimejar
e não é nada, absolutamente nada o meu sentir
é o tempo... o coração a esquartejar.

como se pode matar as memórias de vez?
como pode este dia ser tão triste...
talvez, que os liláses tardios esquecidos
no jardim, falem por mim...
deito a cabeça sobre a almofada
sinto-me avezinha assustada
o vento ronda a janela fazendo alarido
fala-me uma língua estranha em tom comovido

ficam as horas penduradas
esqueço a janela a lacrimejar
foram-me as lembranças arrancadas
que faço da saudade quando ela chegar?!

natália nuno

menina do vento...


estendi a secar os meus sorrisos
lavei-os aos primeiros raios matinais
sentei-me no baloiço, menina do vento
e as águas do rio levaram meus ais
balancei num turbilhão de alegria
e o chilreio do pintassilgo despertou-me
o pensamento...
olho as árvores com as folhas perturbadas,
pelo vento,
os sapos parecem estar em festa
e eu calo-me para não espantar a esperança
antecipo a alegria de voltar a ser criança,
neste sonho que me resta.
junto ao muro espreitam-me os malmequeres
e eu despetalo-os para ver se ainda me queres
não magoes a minha ilusão
deixa o caminho entreaberto entre a minha e tua boca
onde vai matar a sede meu coração,
a remendar esta saudade que me põe louca.
natalia nuno

meu caminho...


Meu caminho é já uma imensidade
Trago nele um cheiro a terra molhada
À noite, descanso na saudade
De dia sinto a vida a fugir, lembrança passada.
E há lembranças no meu peito em brasas
Me abandono nelas como se fossem tempo presente
Lembranças chegadas de longe, trazem asas
Impossível é o regresso é sonho sómente.

As desenrolo nas insónias, e me deleito
E nasce um sonho imenso maior que o mar
Sou livre nesta morada onde me deito
E onde fico livre só para amar.

Estas lembranças mantêm vivo meu caminho
e meu querer.
E eu persisto que meu corpo há-de resistir
Hei-de desdobrar o tempo vizinho
hei-de viver
O tempo esse ignora o meu querer,
serei contradição, saberei fugir.

Memórias que são lenha p'ra me aquecer
Que ao recordar me deixam enfeitiçada
De madrugada me deixam adormecer
Para redobrar forças nesta minha caminhada.

rosafogo
natalia nuno

o rendilhado das ondas...


o rendilhado das ondas apagam com suavidade as marcas deixadas na areia, uma nuvem baixa perdida, o crepúsculo cai rápidamente, nem vivalma, apenas o vento a fustigar-lhe o rosto que o tempo impiedoso crivou de rugas à volta dos olhos e da boca, o pensamento baço, buscando sem saber porquê o que tem perante si e não crê...deixa-se passo a passo à mercê das lembranças, tantas canseiras encheram os anos de instantes que enraizaram na mente, deles cativa... sempre que a memória lhos aviva; cai nas malhas da saudade, sabendo que não há regresso, diante dela abre-se um caminho gélido e misterioso e essa ideia deixa-a confrangida, sente por intuição que é breve a vida, cada passo confirma o seu pressentimento, e é assustador o desalento...as emoções num apertado nó, a luz difusa do poente recorta-lhe o rosto e sente-se só, perdeu quase tudo de outrora, aos seus olhos surgia nesta hora nada mais que uma aparência...como que uma terra varrida pelos ventos... uma gaivota a vem saudar, amanhã a aurora vai voltar...desta vez será mais forte que uma haste de milho e não se deixará vergar pelo pensamento.

natalia nuno

tempestade em mim...


hoje meus gestos são lentos
as palavras sem falar
sou como árvore nua com os braços a chorar
de frio, neste silêncio... silêncio
e lá se foi minha alegria, bateu-me à porta a
melancolia...
como é difícil esta melancolia!
e de repente, uma saudade a bater na luz do poente
saudade, saudade que faz doer na gente!
afunda-se o sol no horizonte
meus pensamentos andam a monte
desliguei do tempo, meu rosto amareleceu
fruto da viagem que há tanto dura,
e meu espírito... esse também se perdeu
meus olhos d' água entupiram
e nem os sentidos sentem mais, se é que
algum dia sentiram...

hoje meus gestos são lentos
as palavras sem falar
tudo o que era meu por direito, ficou sem efeito,
desapareceu, sustem-se frágil meu corpo
como barco em tempestade
morrendo a pouco e pouco,
numa dor velada
o coração, lentamente batendo
e o pensamento, não querendo lembrar de mais nada.

num vôo cego sigo adiante,
por entre maduros trigueirais
nas ervas daninhas, deposito meus ais
despenho penas minhas,
que me habitam o pensamento...e esqueço, este meu
desvanecer lento...

natalia nuno

um fogo breve...


um fogo breve é já a vida, é folha que cai ao chão e conhece a velhice, é o obscurecer da beleza que não volta, é lágrima de resignação, é escutar o doentio lamento da alma...no fragor da festa tudo era surpresa a arder na carne, a iluminar o rosto, ternos sonhos, nada comparável ao tempo dos amores, cujos ruídos agora se apertam no peito como cristal cortante que acaba de se partir perante os nossos olhos embora na penumbra...mãos dóceis eram outras que vão perdendo o tacto, e há um riso triste ocupando o quarto de janelas fechadas, onde só o espelho vai golpeando o futuro... murcham as flores na jarra imaginária, queimando o olhar longínquo, e irrompem as carências dum amor nunca descoberto, caem aguaceiros, oscilam os sonhos, e a chuva nos olhos bate sem piedade... rasgão do tempo de Outono que caprichosamente lhe assoma com a saudade...

natalia nuno

alegria amealhada...


meu coração está distante
lá onde aprendi a amar-te
ele que sente, e não consente
- não me deixa libertar-te!
quando me aquece o sol,
ainda vivo,
e deixo-me levar nas asas
dum passarinho
em sonho,
ressuscito a adolescência
e por lá
dou-te a mão e caminho

sigo contigo mão na mão
hei-de enrolar ao meu,
- teu coração!
com corrente de prata e luar
e ter-te como nunca te tive,
desafio, os escolhos da vida
e o inferno da solidão
e fico nos meus sonhos, onde a menina vive,
envolta em nuvens de algodão,
até ao clarear da madrugada
com a alegria amealhada.

seja o sonho da noite
mais longa da vida,
a ele me entrego
como quem volta à terra prometida.

natalia nuno




amanhã é outro dia...


Quero aguardar o dia que se avizinha
A única porta para mim aberta
Com as mãos molhadas de ternura
e sonhos que a vida ainda em mim desperta.
Dispeço-me desta noite deserta
Que me deixou o sonho destroçado
Quero mais um instante para amar
Voltar a ter-te a meu lado.

Trago na mão um rouxinol
Que canta a tristeza e a alegria
E nos olhos cresce um girassol
Lembrando-me que amanhã é
outro dia.

Esta viagem já me tolhe
os gestos e os pensamentos
Não há chuva miúda que não molhe
Nem vidas sem sofrimentos.

É breve o tempo que nos resta
Nada o faz adiar
Daí a saudade é o que resta
Para a solidão enfrentar.
Chega a madrugada soalheira
Cantam os pássaros aos milhões
E a vida vai pregando sua rasteira
Com ela levando-nos os corações.

 natalia nuno
poema escrito em 2011

as paredes da minha casa...


Agora sei do meu lugar
depois de tanta recordação amontoada
dos sonhos que trago do alvorar,
da palavra espantada, exaltada,
do fio do meu pranto
sei do meu lugar.

Este lugar de vã canseira
onde as mãos não param de se agitar
onde surge a palavra desesperada
e os primeiros esquecimentos,
aqui é o meu lugar...
antes que tarde seja
aqui deixo meus pensamentos.

Este é o meu lugar
onde ressuscito memórias
e conto meus dias no mundo
nada, nada depois que a vida acabar
eu posso como agora procurar,
no meu eu mais profundo
aqui, agora é meu lugar

Esta mão que escreve sabe,
que este é o seu tempo e seu lugar
até os olhos terem vida
e enquanto a morte apenas farejar.
Este é o meu lugar
onde me deixarei adormecida.

natalia nuno

avanço no sonho...


Dentro do meu coração
Fonte, nascente de ternuras
Tarde clara de verão.
Já é quase Primavera
E Abril se aproxima
Ai quem me dera, quem dera
Esquecer-te numa lágrima.

Olho esta água serena
Do rio que corre em mim
Tenho pena, muita pena!
Do sonho a chegar ao fim.
Ouço o soluçar das fontes
No ar o cheiro do jasmim
Ai vida não me amedrontes!
Quero minha memória assim.

Em troca assim te quero
Rasgada nuvem me sinto
Arco íris em desespero
Um facho de chuva extinto.
Flutuo na tarde...
Morna, esta tarde de Maio
Ai se não fosse a saudade!
A saudade onde caio.

Sonho, bendita ilusão!
E o sol me alumia
Só que no meu coração
Manancial de amor queria.
Andam pétalas p'lo chão
Neste meu jardim desfeito
Ai, já me sangra o coração
Deserto feito no meu peito.

natalia nuno
rosafogo

este bastante, já é demais...


BOM DOMINGO para todos!
E para quem gosta de poesia, deixo meu último poema...........................

este bastante, já é demais...

memórias são o lugar onde me encontro
onde flutuo na claridade sem cansaço
aí não há tempo nem idade
e a realidade tingida de medo, não existe
as minhas asas vão mais além
à madrugada onde moram as amoras
as borboletas e ainda mais além
o caminho para o rio, parto sem demoras
não esqueço ninguém
calo a sede de coisas simples, esqueço o vazio,
com alegria sinto-me em casa,
no meu chão,
ouço o ruído da porta, encho-me de comoção
respiro os cheiros da aurora
abraço todos os que foram embora,
ainda a candeia nos alumia
e está morno o arroz doce que a mãe fazia
a roupa de côr desfraldada ao vento
e a branca na relva a corar
é inverno no meu pensamento
mas eu hei-de sempre aqui voltar.

as memórias são ruídos antigos
são folhas de chá cujo aroma chega longe
são vozes de amigos doces como medronhos
são olhares perdidos, que só se encontram
nos sonhos...
este bastante já é demais para minha alegria
lembro o meu tempo em que a vida corria
deixei por aqui a vida era então verão
agora cheia de rugas no rosto
volto em sonho, ocultando a solidão.

despeço-me das flores
e dos pássaros que no meu rosto faziam sentido,
é tempo perdido, é apenas réstia de felicidade
lembrar as flores do meu vestido
de nylon... é agora já só SAUDADE.

natália nuno

fantasia...


as acácias encheram-se de flor no interior da minha fantasia, baralharam-me os sonos e os sonhos, deixaram-me nesta lenta solidão, com os olhos adormecidos, e a negarem-me as asas de adolescente que me levam sempre à lembrança, mesmo que a memória demore...as acácias, trazem o perfume ao meu beijo, quando tenho o coração apertado, o tempo me barra o caminho e, me prende o corpo à negação... acelero meus olhos, mora em mim um vento quente e vou admiradamente longe, onde só as acácias têm cheiros de auroras, vindos pelos ventos até meus pensamentos...onde tu moras!

natalia nuno

gratidão...




através das cortinas da alma, vou remando até à infância, nada me barra o caminho, e fico a boiar no poente em liberdade, agradeço a Deus a dávida do sonho, que me permite encher o peito de água nova, reconcilio-me comigo mesma, e em equilíbrio fica o interior...serena, mais lúcida, vou continuando o caminho...partem as horas, fica o cansaço, inacabado o sonho, voltam os anseios como trepadeiras dando-me o abraço e eu esqueço as canseiras, adensam-se os beijos frementes de desvario, suspiros do sol interrompem meu frio, escapo-me pelo meio da alegria e vou vivendo, sorrindo dia a dia...

natalia nuno
http:// flortriste1943.blogspot.com / 
 
 
 

já se perdem minhas folhas...


já se perdem minhas folhas, neste outono tardio assoladas pelo vento da saudade... hoje ouvi as harpas do canavial, e recuperei o sorriso, subitamente vieram-me as lembranças às águas da memória, e de lembrança em lembrança voei caindo no silêncio...sento-me no chão, sou agora um vaso quase vazio onde  repousam flores sem vida... e a borboleta que voeja na desordem da minha folhagem caída, pergunta-me: que fizeste da vida? fico-me silenciosa, e olho a minha triste caligrafia, as palavras caem da boca como frutos maduros, e as sílabas já não querem mais voar...é nas linhas tracejadas que me encontro de partida e as flores reinventadas, já não esperam primaveras...




natalia nuno(rosafogo)

loucura minha...


aonde quer que eu esteja
tempo sem dono me segue
nem a esperança benfazeja
lidar com o tempo consegue

nem onde quer que eu vá
o tempo me deixa em paz
nos intervalos de cá e lá
esquecê-lo não sou capaz

não sei que me quer dizer
seja inverno ou seja verão
esta interrogação faz doer
é de arrancar o coração...

não deixa de me espreitar
este tempo intempestivo
passo a vida a discordar
mas é com ele que eu vivo.

tempo não me deixa saída
sempre onde quer que esteja
anda sempre de mão estendida
maldito este tempo seja...


natalia nuno
rosafogo

no norte das minhas palavras...


no norte das minhas palavras abandonei a inocência, lá onde tudo era sonho onde lavrava a alegria, onde havia lufadas de sol, onde era seara e girassol, onde via regressar as papoilas vermelhas e os pássaros construíam ninhos nos beirais dos telhados...as estrelas vazaram, e trago agora os olhos molhados...fico a secar os olhos embaciada de emoção, sigo por entre a maresia à minha procura, porque me dói não saber quem sou nem onde estou, não me reconheço, e sempre que a mim regresso há um desajuste entre o sonho e a realidade, parto com velocidade... que mal fiz eu... quem secou a flor em mim? de trigo eu era... hoje sou girassol que morreu, assim... morreu-me também o tempo, sou pássaro no escuro à procura dum pouco de primavera...sigo caminho com o afago do vento não me deixo entristecer, não quero mais palavras, que já nada têm para me dizer...

natalia nuno

pensamento...


traz a paixão do mar no olhar....e no riso a pureza do amanhecer...o pensamento na quietude do sonho...e no coração o amor se aprofunda.

natalia nuno

pequena prosa poética...


estremecem as flores, ansiando pelos dias de sol primaveril que se negam a aparecer, tristes esquecem-se ao que vieram e desfolham com a impiedosa chuva, porém nos montes e vales dos nossos corações, permanece a imagem da sua beleza ou permanecem à porta dos nossos olhos...que anseiam céus claros.

natalia nuno

.

rasgar o céu...


Quem ama
Traz asas de coragem
e sede de amor no pensamento.
Brilha o olhar e na plumagem,
a cor de fogo desse amor seu.
Percorre caminhos,
sempre que o amor o ignora
Continuamente... sem descanso!
Por amor sofre e chora.

Quem ama abandona-se amorosamente,
numa pressão ardente
de dedos enlaçados.
Os olhares se consomem
numa só chama enamorados,
como dois rios de ternura
num sonho todo ele loucura.

Quem ama tece e destece
Se apronta para sofrer,
o que lhe coube em sorte
Mas é sempre o amor que o estremece
e que marca o seu viver.
E até a morte cruel e certa
Apenas o adormece.

Quem ama?
Traz a alma embriagada
Tem sempre a alegria do adolescente
Goza a felicidade ansiada
Gozá-la, é tão sómente.
Estar preso nas redes do amor
E retirar desse fruto o sabor.
Sentir-se arder em louca alegria
Ainda que seja seu último dia.

rosafogo
natalia nuno

versos tristes...


incendeia-se um lume em mim
à tua chegada, e é sonho perfeito
entrelaçado de flores de jasmim
contidas, e puras no meu leito...


- e como divindade ali me deito
por mais que a luz falhe e escureça
sonho que virás, é o sonho perfeito
o coração amar-te-à até que pereça


- e não me culpem se estiver errada...
já q' conheci mil vezes d' amar a ventura
trago comigo a saudade como namorada


em meus versos tristes vou cantando
debalde vezes sem conto e com ternura
quantas mágoas a vida me foi dando


natalia nuno

hoje espero a lua...soltas




minha face é geografia
uma aprendida lição
a vida a mão me estendia
e à vida estendi a mão...

palavra é como fruto
quer-se bem amadurecida
é com ela que eu luto
trago-a da maldade despida

ser menina... se pudesse
uma vez, inda outra vez
meu coração envelhece
fecha-se na sua mudez

profundo é meu olhar
que perscruta os sinais
e de tudo o que restar
as lágrimas serão fatais

trago o tempo no rosto
coração cheio de esperança
anda a vida a contragosto
e eu levada nesta dança

meu dia fica cinzento
aguardo uma oportunidade
se a vida não traz alento
deixo-me a viver de saudade

se invento ou me invento
ou pinto de escuro a vida
há um dia que sempre tento
pintá-la... de côr colorida.

hoje espero a lua nova
para fazer versos outra vez
cego a noite c' minha trova
e depois amor... talvez!

talvez que a noite seja nossa
como nunca antes tenha sido
talvez que a vida ainda possa
voltar amor... a fazer sentido

natalia nuno
rosafogo

longe de ser perfeita...


venho de longe, cheguei
trago minha alma acesa
ao cair da tarde oscilei
já dobrada na incerteza

vim do ventre da nascente
trago comigo a saudade
de todos fiquei ausente
num tempo já sem idade

no rosto trago a certeza
de que já mal me conheço
se um dia teve beleza?
ao olhá-lo me entristeço!

trago memória da viagem
e a esperança ainda arde
estandarte da minha coragem
se Deus ma deu me a guarde

fui começo e sou o fim
depois desta caminhada
já que o destino quer assim
seguirei a minha estrada

lembro bem de onde venho
mas não sei para onde vou
a esperança a que me atenho
... o tempo não esvaziou!

de flores ladeio a estrada
canteiro de rosas e jasmim
venho da terra semeada
lá atrás a chorar por mim

- trago traços de utopia
-  e longe de ser perfeita!
olhos marejados de maresia
a saudade em mim se deita

meu sonho então tropeçou
o olhar já pouco enxerga
a voz que não canta, cantou
mas a vontade não verga.

os versos são companhia
o espanto de querer viver
e a inocência se associa, a
esquecer, um dia, morrer.

natalia nuno
rosafogo
quadras feitas em viagem
5/2013

nas dobras da noite...


nada pode alegrar mais minha alegria
do que aquilo que existe e continua
dia a dia
na memória, todo o passado,
toda a minha história,
embora por vezes bata nos meus dias
o vento norte, bravo, forte,
deixando meu coração destroçado
meu rosto desfigurado,
onde o tempo semeou com mão
pródiga, sinais de cansaço
e deixou-me nas mãos gestos de solidão
e sem vigor o passo.

mas a memória é ave que voa sobre
um mar sem fim
e ainda que haja um dia cinzento
nada mais me alegra a mim
que deixar voar o pensamento
encher o peito de ar
e amar, amar tudo, escrever poemas no silêncio
abraçar a vida até me apetecer
levar de vencida uma lágrima comovida
e esperar a morte, que venha quando quiser!

é nas dobras da noite que na minha mão
roça a saudade, me lembra do caldo e do pão
e do luar bordado a lantejoulas
e em delírio me leva aos cantos da aldeia
à mesa verde onde a mãe coloca a ceia
e os meus sonhos ainda ali estão
como nenúfares prontos a colher,
cada uma das suas pétalas é ainda um dia
por viver, e sonhar,
com a serenidade no rosto a pairar,
e uma certeza a cada dia
nada pode alegrar mais, minha alegria.
que rememorar...

natalia nuno

o sorriso voltou-lhe aos lábios...


o sorriso voltou-lhe aos lábios e depressa se desvaneceu, dissimulou os pensamentos, porém, vai assimilando as voltas que a vida deu... embrenhada na natureza, senta-se numa pedra frente ao rio com a pureza própria duma criança, e vai pacificando as emoções até aquietar o coração...da solidão nasce o silêncio, e como que por magia volta a sonhar e a manter viva a esperança, tem pensamentos líricos que viajam na corrente, são agora os olhos que sorriem e volta a sentir-se gente...cada paisagem, cada rosto, é alento do seu dia, e no rasto do silêncio vai crescendo um lago de palavras...onde um cisne branco se espaneja na memória deixando promessas de criar do nada poemas de paixão, procura nos caminhos do vento ou nas paredes prateadas da lua a inspiração...sonha em cada linha, e caminha indiferente à solidão.

natalia nuno

palavras ao vento...


hoje cairam gotas de orvalho
sobre os liláses,
explodiram os botões de rosa
e os sonhos, serão capazes
de romper o sol?
pulsa o coração nas paredes
e eu atrevo-me a sonhar
neste tempo escasso em que sou rio
que segue ao mar
sempre o eco da saudade
a cruzar-me a mente,
sem tréguas, num silêncio fechada
saudade funda e insistente
que sente o frio odor
da morte, que me habita p'la calada
e faz sombra à criança em mim
sossegada...

os ventos que me vão no coração
são a maré que me devora
esvaziam-me e deixam-me engolida
pelo mar, brota o silêncio nesta hora.
sou pássaro sem ramo,
enquanto cai o orvalho na manhã calma
já nem sei se amo ou não amo
se sou corpo ou sou só alma
por entre as árvores ondulo ao vento
e emigro pela noite dentro
sonhando, enquanto o tempo me fica na face
em forma de rugas, eu espero que o tormento
passe, e escrevo,
escrevo palavras que se perderão
num sítio qualquer,
elas que foram minha companhia
sem saber... agora venha o que vier
seja noite ou pleno dia.

natália nuno

soltas...


meu coração desabitado
não cabe nele entendimento
- logo se lhe dou cuidado
se enche de sofrimento.

os olhos verdes rasgados
resplendor do sol está cegando
andam p'los teus enamorados
a tua ausência chorando...

(rabiscos)
nataliarosafogo
1996

trovas soltas...


trovas...


chora o rio e chora a nora
e eu debruçada à janela
também m'ha alma chora
por não ser mais donzela

choram estrelas chora a lua
enrodilhadas em saudade
choram as pedras da rua
outro tempo...outra verdade!

chora o cravo na lapela
por andar a rosa ausente
quem tem um amor cautela
que às vezes subtil(mente)!

amareleceram as folhas
doce o outono há-de ser
doura a vida se me olhas
primavera se me vens ver

choram as flores no galho
lágrimas de aflição...
teus beijos meu agasalho
tua ausência maldição

chora o vento no arvoredo
enquanto a aurora agoniza
levo comigo um segredo
no sangue que em mim desliza

chora o sino lá no alto
está dobrando a finados
traz a aldeia em sobressalto
e os vivos amedrontados

alguma coisa está doente
trago minha alma estranha?!
choram meus olhos sómente
sobeja esta dor tamanha.

ai alma não digas nada,
e tu voz vê se adormeces,
assim de boca ... cerrada!
tu coração... vê se esqueces

natalia nuno

doem-lhe os pulsos ...




doem-lhe os pulsos de tanto rasgar o medo que a envelhece, oxidam seus olhos que correram mundo, e nas ribanceiras do seu peito há dores sem jeito...na mente memórias em labirinto, a morrer de cansada a vida a leva, e a travar-lhe a estrada o tempo que a ameaça... numa tristeza sem idade, sente a saudade da perdida graça... leva o rosto carregado de nuvens mas não se deixa desfalecer, chegou à fronteira, tanto faz um passo à frente ou outro atrás, tudo parou de correr, traz o olhar envolto em poeira, e jamais se vê como era, mas ela espera...fala-lhe o coração da voz das manhãs, dos lírios a abrir, dos moinhos de vento, das heras a trepar, ainda não é o definitivo anoitecer, há labaredas que a fazem aquecer, e um jardim de ideias onde se procura por dentro da madrugada, até voltar a ficar cansada...

natalia nuno

este poema...


neste poema há o rosto
duma mulher triste
nas palavras abriga-se assustada
tem a idade dum tempo sem idade
e o bocejar cinzento
quando o pensamento se passeia
pelos labirintos da saudade.
neste poema há ainda outros sinais
palavras surdas de consoantes e vogais
que ora são rios de mel
ora são agitações e fel…

este poema é feito
de cicatrizes, rugas e sonhos
e insónias que não deixam adormecer
encantos e desencantos
memórias de momentos de prazer
de ternura, de dureza e insensatez
de palavras surdas providas
da minha surdez…

palavras encostadas aos meus lábios
alheias ao tempo
surgem em ventos de desejo
recordando o tempo que me agasalhou
outrora…
e eu acalento o sonho…hora a hora…

natalia nuno

palavras...


as palavras são como gaivotas, dão asas ao voo do sonho, espreguiçam-se nos meus ouvidos, derrubam os meus limites, recordam-me com doçura tudo aquilo que perdi e, surpreendem-me com a esperança do que ainda me resta viver...

natalia nuno

pensamento...


espalho palavras na eira dos sentidos e grito aos pássaros que as deixem amadurecer...

natalia nuno

pensamento...


quando tudo era sede, fogo e ternura e o sonho a fonte, nossos corpos eram de vôo pousando como pássaros ardentes nas ondas do centeio...

natália nuno

porque te olhei...


os sonhos são retalhos
os seios laranjas sob a blusa
no peito uma flor de organdi
já não se usa
eu sei,
pu-la só para ti,
meus olhos em espanto
só porque te olhei,
no olhar o ardor
lembrança que queima
quero ter-te amor
que a saudade teima
aconchega-te a mim
sem palavras
não preciso delas
meu corpo desabrigado
nas tuas mãos perdido
entrega-se a elas.
natalia nuno

súplica à primavera...


abre o manto primavera
sobre o chão que me viu nascer
não negues ao meu coração que espera
as flores ver crescer...
pede ao sol seu hálito ardente
que alivie o pensamento sombrio
da sombra que sou
me faça esquecer o tempo fugente
que os céus ouçam o eco do meu grito vazio,
e me dê um pouco do brilho que a vida
me tirou.

primavera que te hospedas no meu peito
quando a oliveira já ostenta o candeio
nas horas solitárias já sem jeito
quando ainda aninho o amor no seio,
estende-me os braços
traz-me o calor do sol que fecunda a terra
reconforta meu coração da tristeza que encerra.
leva aos ausentes de quem lembro, meus abraços.

primavera faz sonhar quem vive
o pouco que tenho... é pouco é nada!
traz-me a primavera que já tive
antes que se renda o dia e eu cansada.
volte eu a a relembrar e a pousar a vista,
esquecendo os dias de viver já gastos.
aos anos que passam, não há quem resista,
não voltarão os sonhos castos
que eram como uma benção, ou alento,
e já se dissipam como água que corre
não sei se acredito ou se invento
mas enquanto o coração não morre
sonhar será meu doce entendimento.

natalia nuno

trago emoções...


trago as emoções abrigadas no silêncio da noite, desfolhados os sonhos, o amor é agora utopia onde eu própria me abrigo...fico cada vez mais distante do passado, é o tempo que me arremessa e me obriga a dar mais um passo, me arma o laço, e que anda eternamente preso a mim, deixa-me como o sol com medo da noite...e quando cresce a esperança, logo meu pensar fica torpe, esforça-se por alcançar de novo o sonho e criar o poema esquecido que habita em mim desesperançado, embora com as palavras por perto eu não sei o que escrever ao certo, para escrever necessito de fantasias, faço poesias rainhas, mas ainda que fantasiadas, são verdadeiramente minhas...escrevo sobre fragmentos da vida, noite fora até de madrugada, às vezes com a voz embargada, e um grito na garganta, e a poesia me ouve calada e olha meu rosto que morreu, enquanto no céu a última estrela nasceu...

natalia nuno

o mar devolve-lhe os sonhos...


o mar devolve-lhe os sonhos de criança, remenda-lhe os dias sulcados de nostalgia, a neblina inunda-lhe o olhar e o pensamento repousa no silêncio, há nele mares de esquecimento, mas movem-se nele silhuetas de pessoas amadas que já partiram... inundadas de mágoas as mãos que escrevem e deslizam como um pássaro por sobre o papel, e com um arrepio na pele sente o peso da saudade a pernoitar no seu coração... fica a inventar, a ouvir a chuva a cair e o mar revolto é cúmplice da sua tristeza, do seu resistir, do seu ficar sem chão...velejam os afectos no peito, os mesmos que lhe esmagam o rosto e lhe deixam a contravento o pensamento...neste balançar como onda do mar, ficam-lhe os dias a morrer de tédio e sente-se folha caída sem remédio...

natalia nuno

onde me sei...


cada verso é a chave
da minha alegria
é como escutar uma melodia
é o resplendor da esperança
tudo o que ainda no meu sonho
cabe...
cada verso vem vestido de aroma
novo...
com a frescura do tomilho
a sensualidade da rosa
cada verso é um filho
que traz a força, que vive
e que ama
cada verso é a chama
é o recordar de tudo que amei
teu corpo despido
onde me sei...


natalia nuno

passam as tardes...


anda o corpo devastado pelos Invernos
ficaram pássaros perdidos na primavera
fugiram do céu os azuis eternos
e estranha o coração dorido por quem espera
passam as tardes e a chuva faz-se ouvir
sobre meus dedos nem anéis, nem felicidade
e o poema a um passo de fugir
e mais uma linha quebrada entre mim
e a saudade...

surge a noite e nem uma estrela nova
inicia-se o sono a amadurecer-me os olhos devagar
nem poema, nem trova
e o sonho acaba em ondas mansas sem se molhar
entra-me a chuva pela janela da alma
a molhar os ninhos do pensamento
e o coração embrulhado de frio perde a calma
e com saudade entra em sofrimento

e o corpo devastado a não querer trair
rende-se à esperança que o vem agasalhar
mas vai-se o tempo dourado a despedir
e nos sonhos as giestas estão a embaciar
as palavras fracassam, não haverá poema
já não falamos a mesma língua
por muito que de dor minha alma gema
morreremos procurando o que nunca
se encontra, com saudade e à míngua.

natalia nuno

poesia que sou...


A poesia é a minha infinita
liberdade
Onde falo de vida , de morte
de alegria de tristeza
Falo de tudo um pouco à sorte
Falo da saudade
Do amor e sua beleza
A força me surge do pensamento
E sofro porque escrevo sentimento.

A poesia é o meu chão
o meu espaço
Esqueço até da vida as dificuldades
É a minha ilusão,
O fogo da minha imaginação
O meu cansaço
O rumo das minhas saudades.

A poesia é o meu desejo,
a minha ansiedade
A minha realidade,
O meu sonho incompleto,
A minha terra o meu céu
A poesia sou eu!

A poesia é o ar que respiro
Que guardo nos confins do coração
É a minha ambição
Por ela deliro.
E eu sou toda inquietação
Se não me sai na perfeição!

A poesia dorme sobre o meu peito
Eu a sinto a toda a hora
Com ela me realizo e deleito
Estará comigo até ao destroçar
da memória.


natalia nuno

quadras para quem gosta...


outro dia foge sem q'me apresse
outro virá quer queira ou não
é assim que a vida acontece...
e vai caindo na solidão...

de melancolia sou escrevente
poeta dizem...eu não sei não!
coisas trago no labirinto da mente
saudade que lhe chega do coração

se a poesia é meu alimento
segredos que só ao papel falo
o destino não seja mais cruento
que de dores e amores não calo

enfuno as velas do porvir
numa ilusão fugaz de calmaria
o mar encapelado olha-me a rir
eu sei...que amanhã é novo dia

sou mar no riso e na loucura
trago a boca gretada pelo vento
digo palavras d'amor e ternura
faço poemas ao firmamento...

trago a sangrar dentro do peito
numa insondável sede d'amar
um poema triste insatisfeito
de solidão que não sei calar

brotam poemas, dor e ansiedade
mas eu adoro, eu sei que adoro!
sou poeta d'amor e saudade
como voz do sino às vezes choro.


natalia nuno

queixume saudoso...


comove-se o olhar fica perdido
molhado de chorar e já vencido
caem as geadas no rosto
e o sol já no poente, é posto.
recolhem-se os pássaros enquanto
há folhas nos ramos
e, recolhemo-nos nós enquanto
é tempo e nos amamos...
o tempo vai passando e atormenta
a dor dói, o coração sofre, e o olhar
lamenta...
hoje o vento faz-me companhia
num chorar triste, nem ele traz alegria,
tem vindo a crescer p'la tarde acima
com o destino de entrar-me pela janela
o meu destino é encontrar uma rima
para que ele fale dela,
invento e visto-me de memórias
caminho neste entardecer
e lembro tudo o que ficou por dizer.

os meus olhos entretêm-se a olhar
mesmo sem saírem daqui
estão sempre em outro lugar,
há tardes de Setembro em que o pensamento
me embala o coração,
basta-me um pouco de ilusão
e a cada pensamento, invento
um sonho mais formoso, que valha a pena
e o coração resiste mais e mais
a este queixume saudoso, a que
me dou neste poema...

natalia nuno
 
 
 
 

versos tristes


incendeia-se um lume em mim
à tua chegada, e é sonho perfeito
entrelaçado de flores de jasmim
contidas, e puras no meu leito...

- e como divindade ali me deito
por mais que a luz falhe e escureça
sonho que virás, é o sonho perfeito
o coração amar-te-à até que pereça

- e não me culpem se estiver errada...
já q' conheci mil vezes d' amar a ventura
trago comigo a saudade como namorada

em meus versos tristes vou cantando
debalde vezes sem conta e com ternura
quantas mágoas a vida me foi dando

natalia nuno

meus olhos seguem-te...


trago os olhos em busca
de ti
a boca sorri
quando te vê
eu sei que estás aqui
aqui, tão perto
no fundo do meu peito
a noite desce
e na escuridão te sinto
em meu coração,
nele a chama não morre
deste amor adulto
que é loucura
sonho farto que sempre dura

é já campo de estio
este coração que sangra
onde a semente ainda germina
e os pássaros sempre regressam
trazendo desejos,
e o som da tua voz até mim
lembrando os teus beijos
e o aroma do teu corpo
que odora a giestas e alecrim.

natalia nun

Nestes tímidos versos...


tremeluz a lua no mar
reflectida na onda que quebra
reacende-se a esperança
meu sangue corre e avança,
p'los caminhos da memória já varridos
olhamo-nos dois seres envelhecidos,
incansáveis andarilhos,
da vida e seus cadilhos,
de sedução embevecidos.
e a noite é quente e acetinada
há lilases no auge da floração
e uma promessa de vida falseada
a aquietar-me o coração,
e uma vontade constante de gritar
um grito, feito de gritos
nesta noite de breu...
anda o vento a gargalhar
rasgando-me o pensamento,
levando o sonho, roubando-me o céu.
É no silêncio das tardes
que as lembranças chegam e partem
da mente
e a premonição de verdades
ladeadas de sombras
que aguardamos brevemente.

nestes tímidos versos
que sangram no meu peito
há lembranças doloridas
há um caminhar de mansinho
de duas vidas unidas
que há séculos fazem o mesmo caminho.
A lágrima sempre pronta
o sorriso sempre aberto
à morte fazendo afronta
e sempre a saudade por perto.

rosafogo
natalia nuno

pensamento


O Poeta canta o que lhe vai na alma, oscilando entre a tristeza e a exaltação, porque a vida é feita de fragilidades mas também de sonhos...

nnuno

pensamento...


o tempo me toma...
embalo sonhos junto ao peito, e por entre eles desdobra-se a vida.. prepara-se o voo, serei gaivota à espera da maré... na praia deserta marcas de saudade...

nnuno

não me lembro se morri...


andam os lírios vestidos de aroma, e riem-se de mim nas minhas costas, enquanto as roseiras me aproximam do sonho, na buganvília há um entrançado de zumbidos a animarem-me os ouvidos que há muito ensurdeceram, os pássaros vejo-os a passear-se de cá para lá, fazendo-me inveja de já não voar como eles, e pasmo...pois pensava não ter perdido a vida de vez... só as cotovias alegram os meus dias, essas não desistem de mim, cantam no parapeito do meu peito, e eu lírica, vou respirando fundo e rasgando mais um dia... e nesta doce paz, não me lembro se morri ou se entreguei o olhar às nuvens que passando me acolhiam no seu regaço...

natalia nuno

onda de alegria...


meio dia, meio da tarde
do tempo encruzilhada
a primavera de verdade?
é saudade relembrada.

 olho no areal a gaivota
ao mar não vai mais voar
Deus meu, sou tão devota
fazei meu sonho voltar

guardo as minhas penas
neste tempo de nevoeiro
saudades trago do cheiro
da minha terra de açucenas

na viagem bate o coração
Deus tropecei no outono
onde deixei o verão?
Anda o coração sem dono.

 nos olhos as sardinheiras
que cresciam nas janelas
trago cheiro das laranjeiras
deixei por lá as estrelas.

e nos caminhos da utopia
minha saudade fez-se beijo
e numa onda de alegria
escrevo versos feitos desejo.

 natalia nuno

Tudo quanto amei...


Trago nos olhos
silvados floridos.
Margaridas nascem nos meus dedos
Há rouxinóis na ribeira
dos meus sentidos
Chuvas de Abril lavam segredos.
Nas palavras há rosas abertas
Meu corpo foi terra de sementeira,
seara verde ... na tarde,
agora deserta certa,
sombra dura minha verdade!

Quer se queira ou não queira.

Depois da angústia a fadiga
que  surpreende o passo
O destino  vigia
Dando uma mão amiga
E o bálsamo do teu abraço.

Como o sol dum novo dia.

Chegue onde chegar meu dia
Ainda que me queira cegar
Pedirei a luz com que te via
Só mais um instante p'ra te olhar.
E então perguntar-te-ei:
Quem foi que morreu?
O tempo? Eu?

Ou tudo tudo que amei?

à mercê da maré...


deixo a porta aberta à poesia
rios correm nas minhas veias
onde a saudade navega à mercê da maré,
faz-se amor quando o fogo me ateias
e eu mansa e desafiadora
abraço o teu mar até
noite fora...
cala-se o bater das ondas e das tormentas
e tu de novo amor, com palavras doces
me tentas...

natalia nuno

a minha sede...


Ah...meu Deus! Meu Deus!
Que foi feito dos sonhos meus?
Passaram luas, passaram sóis
Amei em brancos lençóis
Gritei ao mundo minha felicidade
quando era amendoeira em flor
Gota a gota surge a saudade
E a vida é este perpetuar sem fulgor.

Este mistério, a que me sinto atada
Este soluçar a que me sinto cativa
Este ser e não ser, este nada...
Esta chama que me mantém viva.
Meu Deus! Ah...meu Deus!
Que foi feito dos sonhos meus?
Levanto pedaços de lembranças
Repetem-se na memória preciosas
A sangrarem de esperanças
Com a leveza de mariposas.

A vida é armadura desfeita
Coberta de sombra e de vazio
De sede constante é feita
Irrompe em nós como rio
Que tudo leva p'la frente
No vai-vem dum vento
arrebatadamente.

natalia nuno

apronto meus passos...


trago sempre presente o amor,
que me embala o sonho noite e dia, 
e me faz sentir um malmequer que ao vento dança
apesar do inverno que já me cansa, 
amor, que me traz o mel ao peito,
sempre que me olhas
enquanto tuas mãos minhas folhas desfolhas.
neste inverno já amadurecido
há gotas de chuva no meu rosto
trama pelo tempo urdido.

pela tarde é hora da melancolia
até o melancólico sol-posto me faz companhia
as saudades entram em delírio
apronto meus passos mesmo não sabendo 
se me negas teus abraços, 
e neste caminhar louco, 
a vida já vai a uma ponta
caminho, onde vamos morrendo um pouco
mas ainda o sol desponta.


natalia nuno

hoje amor...


hoje amor, é o dia da saudade, enquanto a noite imensa desce, vejo como a tua ausência me doeu, o desejo que em mim cresceu, o olhar que suplica, o meu soluçar docemente, nesta hora de solidão, pertenço-te, ofereço-te a centelha que te incendeia, e numa ânsia louca de amar-te, vou aos poucos mitigando esta sede em mim...hoje amor, deixo-te o meu perfume de cerejas silvestres, e as palavras que guardo na noite para te dizer do meu amor quando o dia despertar...a saudade é a palavra em mim a pulsar, apazigua-se o coração ao ver-te chegar e, encontro em mim a utopia em que me deixo levar,  perdendo-me por entre os sonhos... é este o amor que ainda nos abarca, quando a vida é já tão parca.

natalia nuno

inquitação...


sucedem-se as estações
morrem as tardes pelos dias fora
morrem minhas ilusões
afunda a vida e não melhora
como posso morrer  tanto de cansaço
venho de longe, esqueci o regresso
esqueci até teu íntimo abraço
cobre-se de pó o tempo que já esqueço
pergunto ao sol-pôr que deixa saudade
porque me arrefece o coração
e me deixa a sonhar em vão...

ando de lugar para lugar
não volto ao ponto de partida,
só o teu amor saberá onde encontrar
esta que de si anda perdida.
não sei o que fazer dos dias
aqueles que ainda longe ou muito perto
farão de mim fraca, ou forte,
lembraste quando me dizias
que comjgo ficavas até à morte?
é agora outono, perde-se um pouco
mais de vida, ou será só inquietação?
ou tudo passará, até este momento louco
em que julgo ser o poema, perfeição.
nada é perfeito, tudo muda, tudo passa
menos o mar de amor
- que trago no coração.

natalia nuno

no rio que no meu íntimo corre...


no rio que no meu íntimo corre

no rio que no meu íntimo corre,
desperto na margem, ansiosa,
recordando este amor que não morre.
com sede de prazer quase ali à mão
logo as bocas que se adivinham
e devoram, entram no fragor da festa
e eu sonhadora deixo cair a primeira
lágrima de resignação...
e é a imagem da tua face retida
que me leva, a este sonho de ilusão.
esfuma-se o pensamento lentamente
como nuvem que passa,
e enquanto o sonho me abraça,
o tempo, arranca a venda dos meus olhos
e lembra coisas esquecidas no vazio da mente
esquecida ainda que não de tudo,
vivo neste silêncio mudo
que afugenta meus cálidos anos
e, aqui fico cruzando o teu olhar longínquo
já não sou a que me nega,
mas sou a que ao amor ainda se apega!
abre uma brecha na memória
lembrando nossas bocas que de beijos se devoravam
e logo nossos corpos se aprisionavam,
perdidos no mais intenso amor.

natalia nuno
rosafogo

o dia me acolhe...


as manhãs sabem sempre a fruta e a vida vai fluindo, o dia me acolhe logo que o sol paralisa em frente à minha janela, enquanto isso, vou queimando todos os meus tempos a procurar a força que ainda me é precisa....para ser feliz recordo, dirijo o pensamento para novas distâncias para lá do horizonte, sonho como se fosse audaz primavera o tempo q' inda me resta...
levo os passos encaminhados e palavras que me bastam mesmo à medida do meu caminho, levo também tudo o que sonhei, e engendro sonhos futuros lá pelos riachos da tarde... não levo pressa, mas, o meu olhar voa com a audácia dum relâmpago antes que o tempo o feche de vez e tenha de chorar a vida...a noite não tarda envolta num silêncio macio, as quimeras fogem-me envergonhadas a vida fica submersa na solidão...e o tempo range detido nos meus olhos...

natalia nuno

o mosto do amor...


o mosto do amor...

olho os teus olhos que brilham constante
quando me olham de frente
e me dizem verdades
cegamente afirmo exaltante
que nos corações trazemos saudades.
no meu âmago com amor te soletro
para ti foram meus primeiros versos,
salpicados de alegria, com o coração em chamas
e o despontar da brisa, na hora
a que me amas,
- e escrevo cada verso
com a força do aço, e somos nós em cada
pulsação, em cada abraço...
a felicidade amanhece nos nossos olhos
tudo o resto, é resto, e pouco importa
ai de mim a respirar para viver d' amor,
não me fechem a porta,
quero ouvir a música das ramagens,
permanecer acordada enquanto os sonhos
não se desfazem e o arauto da morte
não surgir pela calada.
quero olhar teus olhos onde os pássaros fazem ninho
e me leves p'la mão no que resta do caminho

natalia nuno
rosafogo

pensamento...


trago os sonhos a ruir, o medo a rasgar-me o peito, gaivotas a sulcar-me o rosto, e nos olhos os sorrisos silenciosos...

natalia nuno

prosa poética...


beija-lhe o rosto o último sorriso, depois esfia-se a vida em murmúrios e gestos lentos, o coração um deserto é quase uma estrela que se apaga no céu, a alma desejosa de soltar-se fugindo para o recanto mais subtil da melancolia, unindo-se à alma das coisas... como se o sonho ainda lhe pusesse estrelas nos olhos, senta-se à beira do caminho, respira o ar das resinas, ouve o rumor do vento nas giestas, observa a paixão das abelhas nas colmeias, o sol vai desaparecendo na ladeira, já a lua traz a noite, tudo tão dentro dos seus olhos a lembrá-la de tudo que amou...e assim vai segurando o vôo para que não despenhe o corpo...ou se extravie a memória.

 

natalianuno

trova singela...


faço m' versos doloridos
os sentimentos espaireço
dolentes ficam os sentidos
em devaneio tudo esqueço

natalia nuno

versos finais...


não fechem minhas portas nem janelas,
deixam entrar o perfume
da madrugada,
deixem-me ouvir o canto dos rouxinóis,
quero sentir-me amada
deixem que entrem outros sóis.
na vida que levo saudosa, lembrada
deixem-me ver o anoitecer,
a lua que sobre mim se debruça
não quero o inverno a corroer
o meu peito que soluça...
quero ser ainda espantosa flor
essência dum grande amor.

quero olhar o infinito
encontrar o sentido de viver
e nesta esperança em que me agito
neste sonho em que me enleio
esquecer por instantes o medo de me
perder.

nestes versos finais
onde eu sou mais um, entre os demais
nada mais tenho a escrever
sou a vela que se apagou
que de tanto arder
a dor no peito deixou

deixem que o sonho em mim
se acoite
que eu volte pela última vez
à rua da minha infância
antes que seja noite.

natalia nuno

beija-me...


beija-me como no sonho da juventude
olha-me com a plenitude desse teu olhar
e eu serei o aroma que se esfuma
a labareda ou a queda, a realidade.
ou já só a saudade...
a dor ou doçura, a noite que murmura
a memória duma vida em seu ar distante
onde fui mulher e amante.

o tempo, vai quebrando os laços
vai desfazendo os nossos passos,
vai espiando a ocasião
e nos enlaça numa tranquila solidão.
refugia-se nos meus olhos
um desmesurado amor
enquanto tua boca me entrega
o júbilo aceso duma flor
todo o tempo perdurou em mim
a jovem chama, e a mente incendiada
traz-me tua recordação...
tropeçando e caindo de cansada
ainda assim...teu corpo é meu único destino.
encosto-me a ti agora
para sentir-me viver de novo
sulcam-nos as rugas o rosto, vão-nos silenciando
mas deixo-me a sonhar, nos teus braços estar
teu amor vou até ao fim desejando.

natalia nuno

já não sei se lembro...


na poeira do tempo minhas pegadas
continuo no meu entardecer,
trago as palavras caladas
por não as saber dizer
apenas murmuro as mágoas em tom
plangente, mas nem do coração ouço
qualquer som...também ele nada sente

melancolia de quem vai acenando à vida
deixando para trás páginas cheias
de viver e sonhar amor
que esvoaça incerto, não tendo por perto
das suas mãos o calor...

e hoje é como se o tempo se soltasse
esquecesse a minha já marcada face
e eu viesse ao mundo outra vez
só por fruir e amar a vida...talvez!

já toda me embaraço
reinventando memórias loucas
lembrando passo a passo
as carícias, os beijos das nossas bocas
fosse a nossa vida nada, sem amor e entendimento
não faria a saudade no meu coração assento
essa saudade que me escreve
e me lembra o que deve e o que não deve
faz dançar o coração, uma valsa lenta
e, a sonhar sempre me tenta.

natália nuno

lembrança...


hoje rolou uma lágrima sobre o papel
manchando o sonho que descrevia
lágrima gotejando sobre a minha pele
sonho que deixei para trás um dia

hoje... abriguei os sentimentos
escrevo ao de leve numa folha de rosa
deixo a memória de dias cinzentos
volto sorrindo à meninice gostosa

esqueço o tempo e levo só o coração
fico lá atrás a brincar às escondidas
vou saltar à corda viva de emoção
e na mão tenho as malhas preferidas

brinco agora de mãos dadas na roda
soquetes branquinhos, coração explodindo
livre como pássaro e nada me incomoda
quero ficar... deixem-me, estou pedindo!

aqui neste tempo ameno e transparente
sonhar, poder de pés descalços andar
que felicidade a deste dez réis de gente
princesa... só com a aldeia p'ra morar

natalia nuno

meu coração é um baú...


Cada palavra pode desplotar um feitiço
Ou o descontrolo de emoções
Anda o meu coração em derriço
Vivendo de ilusões.
Flutuam em mim acordes musicais
Meu coração é um baú
De onde a saudade não sai mais
Com a vida me apaziguo.

Dormito, alheia ao mundo
Já esmorece a luz do dia
Uma coruja algures piou
Negrume celeste profundo
A cor com que minha alma ficou.
Encostada na solidão...
À memória surgiu a infância
Saboreio em lentidão
Tudo o que para mim tem importância.

E é regalo aos meus sentidos
É então que as palavras me escorrem p'los dedos
E escrevo sobre tudo e sobre nada
Meus pensamentos são veleiros perdidos
por mares onde se escondem segredos
e sempre se solta uma lágrima
p'lo rosto derramada.

Mas volto sempre ao meu sonho de poeta
Com desejo da palavra continuada
Neste caminho a percorrer
É a minha meta,
nascer de novo se tiver que ser!
Para morrer nos teus olhos afogada.

natalia nuno
rosafogo

não me lembro...


não me lembro onde deixei as mãos, queria tanto baloiçar nelas os sonhos, lapidar ilusões, deixar sentimentos ao rubro, acreditar que o sol ainda é sol, que no meu peito ainda há fogueira, soltar gritos, disfarçar as rugas desta casa velha... a minha cabeça é um baú de memórias que as minhas mãos vão bordando no silêncio, no frio da insónia...mas hoje minhas mãos não têm poesia, ficaram paradas, magoadas nesse silêncio, a noite morreu e eu, não as reconheço, talvez queiram que enlouqueça em paz, com a saudade a viver dentro de mim, e a boca cheia de palavras saudosas, porém inaudíveis...

natalia nuno

senhora de nada!...


sento-me no chão
olhando o espelho das águas
e na minha solidão,
na bagagem levo mágoas
vivas no coração.
trago na sombra da memória
os passos que dei em vão,
e no rosto perfume da tarde perfumada,
enquanto aqui sentada
acaba meu tempo lentamente
não sendo eu, senhora de nada!
o sol na seara é ainda quente
e o vento  perfeito, no peito
vive o amor somente.

abrigo-me à sombra do loureiro
lembrando ardente paixão
daquele amor primeiro
inquieto em meu coração

e a respiração se altera
cai a folha e o meu olhar se esvai,
sonho o amor... ai quem dera,
sonhar e não acordar.
treme o sol no meu sorriso
desarrumou o meu juízo,
no chão quando me sento
mil e um sonho invento,
mas a vida acinzentou.
agora, já não sei quem sou!


natalia nuno

tecendo amor...


meu olhar é suplicante a cada hora cada momento
assalta-me o desejo a cada instante
causando dor e tormento
faminta e obstinada morrendo de desejo
por ti enamorada
abandono-me ao ardor do teu beijo,
de prazer e júbilo estremeço adormeço, 
acordo e recomeço
nosso amor é como uma flor
colho as pétalas uma a uma 
malmequer, bem me quer 
até não haver pétala alguma,
           
meus olhos andam escondidos
não vejo há tempos no espelho
também meus sonhos perdidos 
neste tempo que é tão velho ,
sento-me em meditação
já foi alegre meu viver
já se cansa o coração
de tecer o amor sem o entender.


 natalia nuno
 rosafogo

Trovas soltas...


Amor perfeito de verdade
É sublime e ideal!
Lembra amor da mocidade
Amar assim quanto vale?

Trago os dias encobertos
Nem o sol os vem espreitar!
Meus braços bem abertos
Com saudade de te abraçar.

Deixa-me uma doce emoção
Conversar contigo... amor!
Quando me dás a tua mão?
Dou-te a minha com ardor.

É bem doída a dor!
Se olho pra ti de frente
Já não vejo em ti o amor
Que mendigo docemente.

O amor é um tormento
Ainda que seja perfeito!
É ânsia..mais sofrimento
A machucar-nos o peito.

Nas recordações de amor
Deixo-me nelas embalar
Na solidão do sol-pôr...
A lembrança me faz sonhar.

Neste passar de tarde
Sorvo a vida devagar
Ela passa! É a verdade!
Quem a consegue parar?

Para acalmar o coração
Oh...que ardente acalmia!
Ao amor não se diz não...
Haja amor de noite e dia.

rosafogo
natalia nuno

voa livre como o vento...


bate, bate bate coração
bate, bate, bate tanto!?
chorar não, não chores não,
a vida é tua por enquanto.

a vida é tua por enquanto
mas o tempo não perdoa!
deixa pra lá o desencanto
voa livre... borboleta voa!

voa livre...borboleta voa
a sonhar eternamente...
não há dor que não doa
se n'alma há fogo ardente

se n'alma há fogo ardente
e na boca eternos beijos
vale o amor persistente
e a loucura dos desejos

e a loucura dos desejos
dum amor puro e bendito
são quimeras são arpejos
são a saudade num grito

são a saudade num grito
dos olhos deslumbramento
é meu sonho no infinito
e o amor é o sentimento

e o amor é o sentimento
do sonho eterno a ventura
chega a qualquer momento
pobre amor tão pouco dura.

natalia nuno

doce ilusão ...


o anoitecer trouxe um tom alaranjado,
faz-me imaginar o inimaginável,
alarga a imaginação e até mesmo o coração
nas jarras há flores que choram
num pranto sentido
olho-as com uma expressão vazia
chega a noite, vai-se o dia.
com a respiração suspensa, num inventário
de recordações, mantenho-me embrenhada
na teia duma vida passada.
agora já tudo é escuridão
as estrelas pontilham o firmamento
uma rosa vermelha cai ao chão
à vida um enaltecimento
por tudo que lhe dera, até a doce ilusão
de ser Poeta.

abrando os pensamentos de lembranças
penosas, e com o olhar fixo e sombrio
olho as rosas, nas jarras, neste silêncio
devastador, lembro noites prenhes de intimidades
e amor... despertam em mim saudades
aquietando tudo o mais!
lembro as cartas d'amor, atadas com fio de juta
cheirando por demais, a tristeza e alfazema
algumas escritas e não enviadas
comunhão de sentimentos, em noites consteladas.

hoje os dias têm pouco significado
mais parecem devastados p'lo vento
ninguém sabe quando a hora do crepúsculo
lhe corta o pensamento.
as minhas mãos já não colhem rosas, nem molhos
de alecrim, apaga-se o dia
começa a noite em mim...
natália nuno

o sol nasce na minha mão...


Quebram-se meus braços
Que fazer agora?
Será que é hora,
de parar meus passos,
ou ainda há tempo de verter
uma lágrima e enxugar o rosto?

Ainda me sinto a erguer
Com chama e com furor
E lágrima que se perder?
Será uma só, uma, orfã e por amor.

Resta-me a palavra
Tudo o resto deu em nada!
Em mim só a saudade lavra
no peito uma alegria desmesurada.

Não troco minha vida por nenhuma
Nem sonhos, nem esperanças, 
não troco, não!
O sol nasce ainda na minha mão,
E a alma vagueia por aí como pluma.
A vida que quebrou meus braços
Foi mãe e  madrasta
Deixou-me andar de pés descalços
Mas, traz-me sempre um novo dia
e isso me basta.

natalia nuno

pequena prosa poética...


Talvez me mortifique no vazio da espera, o sol hoje trouxe emoção a pequenas coisas, tocou o meu coração e eu toquei o horizonte azul dos sonhos, aos olhos voltaram pássaros de ternura, na mente o sussurro enfeitiçado da felicidade e nas mãos molhos de trevos avermelhados colhidos na aridez da alma onde brota sempre uma esperança...

natalia nuno

último acto...


Antes do último acto terminar
saio de cena,
com o coração trespassado
o olhar espantado.
E se alguma coisa  quebrar
Vai ser a palavra... tenho pena!
Palavra que me reconfortava
e em mim fecundava.
Ela que se arremessou contra meu peito
Se levantou enlouquecida
E sem me ouvir...assim de qualquer jeito,
se quer fazer ouvida.

Cai o pano de improviso
Há gargalhadas p'lo ar
A balbúrdia é  geral
O terceiro acto correu mal.
Levo o coração quebrado
Muito ficou por dizer,
que escapou entre o esquecimento,
como a frescura da água por beber
Lamento...lamento...lamento!

Neste palco fiquei destruída
Definitivamente quebrada
Que esperança ter
numa nova jornada?
Teatro é a Vida
Nele há esperança de verdade
Mas acaba mal o sonho
Resta a saudade.

Acabou a insólita peça
Houve palmas, apupos, e até gritos!
Agora não há quem meça
os ruídos (do meu coração)
aflitos.
Fui até directora de cena
Declamei de improviso
corajosamente no meio da multidão
Saíu mal, tenho pena!
Por isso saio sem aviso.
Sem esperança, fé, ou resolução.

Largo o traje a rigor
Com que vos saudava então!
Dos aplausos levo o calor
E para o olhar final, levo a peça na mão.
Nestas mãos cansadas, parideiras
de versos tantos!
De saudades, atiradas em prantos,
onde a palavra se faz ouvir
Até no dito que não pronunciei
Nas folhas de outono a cair
Na jovem que não existe,
na dor que calei.

Levo  a interrogação na boca
que em mim não esquece
Por que será a vida tão pouca?
Que já o pano desce.
Saio de cena!

natalia nuno

morro por dentro...


envolvo meu olhar no azul celeste
e sonho com tudo que me deste,
a seguir à tempestade, 
o apaziguamento ficou,
a saudade deixou, na liturgia
lenta do vento. que a trouxe ao meu coração
e ao meu pensamento.

morro por dentro!
- é feroz a solidão!
a liberdade abandonei-a na rua
pouco ou nada dela sobra
anda o luar a fugir da lua
e a vida os passos me cobra.

guardo em mim mais um poema
triste, duma saudade, dum adeus
eco que em mim persiste,
lágrimas minhas, sonhos meus
palavras esquecidas,
pela vida consumidas 
numa sonolência entre o que fui
e o que sou,
e só saudade ficou.
desmaia a manhã, é agora tarde
lembranças trazem-me serenidade
a vida de novo viveria,
com os mesmos sonhos que esta
me prometia...sonhos que sinto em mim!
que outro sentido teria
se a vida não fosse assim?




natalia nuno

pensamento...


apercebo-me que o meu tempo é de nostalgia, a vida é um salto enorme se os degraus estiverem ausentes...anda o tempo a recolher-se e saudade na linha tangente do meu olhar...

natalianuno

pequena prosa poética...


agarram-me pelo braço... e eu e as recordações fugitivas do tempo, o coração dando asas ao desejo de atravessar a fronteira ver de novo os instantes que alguma vez amei, e os pássaros avisam-me que a memória tem de ser audaz, capaz de fugir ao tempo que me rouba o meu mundo, que hipnotiza as minhas horas...este tempo que é anjo e demónio que me vigia em qualquer canto onde me abrigo, a maior parte das vezes me deixa criança confusa, que não distingue o sonho da realidade...então, deixo o pensamento ganhar asas.e aguardo que o sonho me abrace.

natalia nuno

a solidão me sobra...


sem palavras nem sonhos
esvai-se a vida como rio 
que se afastou da nascente,
não me amo inteiramente,
sinto o coração vazio!
trago as palavras silenciosas
já meu rosto não me reconhece
nem os dedos cantam quando escrevo,
nem abrem no meu peito as rosas.
quando o dia anoitece,
em mim a noite se dobra
e a solidão me sobra.

levo a boca perfumada dos teus beijos
no coração a leveza do vento
e os desejos no olhar desatento.
quando tiver gasto o último olhar
ainda assim hei-de sonhar,
e chamar por ti na minha solidão
o inverno não será a última estação
nenhuma fonte morre enquanto 
a água corre...
assim será em meu coração,
esqueço os passos do medo,
e levo o tempo a amar-te em segredo
meus dedos já não escrevem saudades
despiram-se de palavras saudosas,
nem aves cantam nas tardes
nem abrem no meu peito as rosas.

natalia nuno

abre-se a natureza ao meu olhar...


a natureza abre-se ao meu assombro,
afasto-me da gente que passa,
volto ao sossego do meu pensamento,
às vezes converto-me noutro ser,
o meu corpo é um mar,
e na corrente os meus sonhos embarcam,
o tempo é abolido,
e eu prossigo na luz da quimera
confiada num milagre...de repente,
quando a turbulência aflora,
caio na realidade, ficam sem luz
as paisagens do meu olhar...
interrompe-se o vôo ardente do meu sonhar...

natalia nuno

assim te quero...


assim te quero... apesar da proximidade, morro de saudade...
um sol pequenino desprende-se do teu olhar e vem aquecer a sombra outonal do meu peito,
e num abraço, um delírio percorre a nossa pele,
neste sentimento firme só nós o silêncio e o desejo sedento de mel...
nada se desperdiça deste amor que fala a nossa língua,
que traz o cheiro dos nossos corpos,
a ternura das nossas mãos,
os sonhos e afagos, num perpétuo suceder...
que dá sentido ao viver!

EM - ESTREMECIMENTOS DE ALMA - NATÁLIA CANAIS NUNO - EDIÇÕES VIEIRA DA SILVA

o retrato...


De tudo o que resta vivo nela
o tempo apaga a cada passo
para continuar a viver
é preciso recordar
enganar a dor, o cansaço
deixar a mente da solidão desprender.
Às vezes o silêncio é uma oração
uma porta que se abre ao vento
uma brisa que põe de novo
o coração a pulsar, e bem
viva a semente do pensamento.
Na luz dos olhos dela
há recordações a brilhar
ela e a sua lembrança!
Caminho que sempre começa
olhando para trás,
corpo quebrado, mas no coração
a paz...

Flui nela a tristeza
o sorriso vai voando
todo ele feito ave,
e a certeza de que precisa
só Deus a sabe!
Mariposas eram seus sonhos
partiram amargamente
na noite escura.
Procura sua semelhança e não encontra
só a sua fé perdura.
E no silêncio dourado da tarde
olhando o mar
ela vive da saudade, a recordar.

natalia nuno
rosafogo

louca...louca queria ser!


Louca... louca queria ser!
Rio que desliza rumo
ao mar,
fluir indiferente, sem cessar
Esquecer,
o futuro inverno cinzento,
esquecer meu desalento.

Meus olhos são rios nascendo,
e nem sei porque choram!
Talvez porque se estão perdendo
dos teus, que tanto os namoram.

Tão triste porquê, não sei!
O que procuro também não
Tantas horas já passei
Sem saber porque razão.
O tempo me foge e se perde
A galope sobre meu rosto
Que já foi seara verde
E também luar de Agosto.
Solta-se a lua sobre as águas
Em meus olhos faz remoinho
A sombra das minhas mágoas
Se estende p'lo caminho.
E já o mundo amanhece
Nas fronteiras do meu sonho
Logo o corpo padece
Nem ouve o que lhe proponho.

Nas minhas mãos nostalgias
Trago no peito ameaças
Neste amor terna me querias!
Ternura há quando me abraças.

Ergo-me de fronte ao céu
Nas minhas mãos as esperanças
Minha alma trago ao léu
Na memória as lembranças.
Corre depressa meu sangue
no coração a arder,
numa rajada de chamas.
Louca... louca queria ser
AMOR quando me amas!

natalia nuno

pensamento...


quando me esqueceres de vez, criarei um poema de palavras apagadas, para que se não veja a última lágrima...

natalianuno
https://pensador.uol.com.br/colecao/nataliarosafogo1943/

sentimentos...


se me quiseres ouvir,
amiúde vou suspirando
passa o tempo e eu a sentir
o que a vida está causando

como eu me sinto ir...
que me passe tal sentimento
que só de pensar partir
não é ventura é tormento

perdoa se não te digo
a dor que causa este lamento
teu coração onde me abrigo
e tanto amor acalento,
qualquer pequeno cuidado
que o enche de sofrimento
o meu o sente redobrado
não é ventura é tormento

as minhas mãos de partida
vão escrevendo o que sinto
embarcámos nesta vida
e agora eu pressinto
com pena tão desmedida
que temo ver-me perdida.
o tempo atrás doutro vem
e não perdoa a ninguém!

natalia nuno

sonho de amor...


em sereno jeito
giro como um girassol.
ao teu redor,
trago-te no peito
sempre com amor maior.
corre o dia
já quase com um pé na noite
que aparece com brusquidão,
meus olhos se entregam à solidão.

como queria
ter-te aqui...
aqui me tens
espero por ti,
só a saudade
 me diz que vens.

minha mão arrefece
sem da tua a ternura
e a imensidade da hora
causa a minha loucura.
a tarde cai, mais um dia vai
soltam-se as aves no céu
procuram abrigo tal  como eu,
e o último raio de sol
habita o meu olhar,
giro, giro como um girassol
na esperança de te ver chegar.

na escuridão dos meus olhos
dou abrigo a mais uma lágrima
como dói querer-te!
trago-te na memória.
aposto em segredo que vens
mas tenho medo,
de não ter-te
por perto
quando do sonho desperto.

natalia nuno

trova singela...


de onde vem esta tristeza
de noite ou nas horas claras
da nostalgia é com certeza
saudade q' em mim deixaras

natalia nuno

trova singela...


tem a alma expressiva
fica dele a recordação
poeta de alma emotiva
de anseio e inquietação

natalia nuno

a cor do outono...


hoje não ouvi o pintassilgo, talvez porque o ramo verde onde costuma pousar se encontra nu, não houve acordes de violino, e nem a minha mão indigente e cansada quis escrever palavras macias no poema onde eu pudesse o sol emoldurar... mesmo com a coragem a desabar... retrai a mim o silêncio e o coração descompassou, minha voz voltou à mudez, também eu perdi o ramo, irreparável descuido de meus olhos sombrios, entre a folha de papel e eu...poema feito ao acaso, muito breve e muito raso, com memórias cheirando a alecrim, pedindo que não esqueças de mim...quase, o tempo outra vez de ternura, fecho os olhos e logo a nostalgia a fazer doer! - - com a cor do outono e a maldição do tempo a passar, como eu precisava ouvir agora o pintassilgo tocando os acordes de violino para o coração ressuscitar... e tu, ousasses vir de novo me abraçar... enquanto meu olhar se perde no ramo que era verde...

natalia nuno

à minha aldeia.... trovas


À minha aldeia d'outros tempos, em que eu ía lavar ao rio....hoje lavo a alma recordando...

Ó rio que amo tanto
levo a fita no cabelo!
vê só teu olhar d’ espanto
miras-me tu com desvelo!

terra minha tão doce
na memória canto a canto
quem dera …ontem fosse!
parti querendo-te tanto

fazer-te versos agora
é meu coração que pede
sobeja razão nesta hora
e saudade q’não se mede


digo-te isto de peito aberto
vivi eu sempre na esperança
o meu sonho é por certo
voltar a ti como em criança

é tarde mas descobri
quem ama seu mal cura
a vida que então vivi
faz-me sonhar c’ventura

o coração trago cativo
do teu céu, da lua cheia!
é do sonho que ainda vivo
ficam-te meus olhos aldeia

em ti nasci a cantar...
mas há muito q’não canto
mas se me vires a chorar
é porque te lembro tanto

natalia nuno

desabafos...


foi tempo, foi tempo faz
tempo de fazer inveja
agora o tempo só traz
aquilo que não se deseja

tempo que só desfeia
que é tão feroz para mim
a idade d'ouro alcancei-a
mas já fui flor de jardim

passa o tempo nada resta
quer o tempo que disponha
se ele nada me empresta
torna-me a vida enfadonha

em tempo, tempo algum
pedi ao tempo piedade
dele n'quero favor nenhum
me deixe ao menos saudade

pois se amor ainda tenho
e do tempo o resguardo
digo ao tempo q'desdenho
mas do tempo medo guardo

este tempo que é tão curto
se esconde e m'apoquenta
m' incomoda, a ele me furto
tempo assim quem aguenta?

neste meu canto m' lamento
tempo me deixa a morrer
sem piedade...deixa-se atento!
não me deixa dele esquecer.

natalia nuno

 



 

doce lembrança...


nosso amor era feito de pudor
era assim até de madrugada,
e nos teus braços eu era a flor
que o aroma em ti deixava.
éramos novos, e sem mágoas
trazíamos primavera no olhar
éramos fonte de onde as águas
brilhavam em noite de luar

soltavam as borboletas d' amor
docemente ao amor m'entregava
feita mulher, da infância o candor
c' riso de criança me abandonava
flor, assim desfolhei suavemente
nesse jardim que é o passado
hoje sou imensa noite ardente,
deixo ainda nosso amor ao teu cuidado

natália nuno

mais um abraço...


em delírio prendes-me num abraço
e o dia tem outra claridade
este sonho eu faço e desfaço
quando me chega a saudade
imagens instalam-se no labirinto da memória
sem que nada aconteça passa o dia
surge a desmemória
a saudade avança...traz a letargia.

o relógio continua a pulsar sem tempo
até que eu já mal me reconheça
no pensamento se tudo é cinzento!?
coloco um sorriso,
para que o sonho aconteça
o silêncio da noite é misterioso
e o amor ali se esconde
dentro de nós, tão perto, não sei onde!
há uma fonte que em mim murmura
que é como grito de aflição
na busca incessante de ternura
neste dia de infinda solidão.

sigo caminho dando mais um passo
enquanto sonho,
que em delírio, me dás mais um abraço.

natalia nuno
rosafogo

pensamento


multiplicam-se palavras na seara do tempo mas nem sempre dão pão...
natalia nuno

procurei um beijo...


um cordão de flores me envolve o olhar
trazendo o cheiro da maresia
entrelacei-as nas minha mãos
enquanto meu coração se abria
e com um vagaroso sorriso
invadi-te o desejo
procurei um beijo
toquei-te delicada,
já chegava a madrugada...

natalia nuno

queria ser ainda menina...


Queria ser inda menina
no balouço a balouçar
ouvir de novo os sons perdidos
e num abraço deixar-me pelo corpo
da mãe a escorregar...
Coisas tão simples... mas tamanhas
que aos outros parecem estranhas.
Queria ser inda a menina
da escola e dos laços
feliz, ou quase sempre assim foi
seus passos, hoje ao relembrar
é dor de saudade que dói.

Hora que passou, mais uma a passar,
o rio, riu e chorou e de mim ficou
com pena, quando o balouço quebrou
também eu chorei por não puder mais
balouçar...
Na oliveira suspensa,
ao sabor da ventania
balouçava horas a fio, e ali adormecia.
A saudade me traz a ânsia,
e, ao apelo da minha voz, surge um eco
à distãncia, lá longe onde tudo é sonho
agora, um sonho que se eterniza
como a água do rio que desliza
num correr que não cansa...

Enquanto isso a vida avança!
Queria ser inda menina
beijar o pai docemente
ouvi-lo chamar-me dez réis de gente,
coisas tão simples... mas tamanhas
que aos outros parecem estranhas
e a que eu chamo de «saudade»...

natalia nuno
rosafogo

trova singela...


poesia é do poeta a expressão
o som do grito ou do rumor...
ímpetos que vêm do coração
elegias, essências do seu amor.

natalia nuno

trovas soltas...


trovas...................

amor, amparo e abrigo
trago apertado ao peito
valeu a pena ter vivido
o sonhado amor perfeito

não sabe ao certo ninguém
se é infinito ou tem fim
quem vive tamanho bem
tem de acreditar que sim

vai andar sempre contente
sem ter lágrimas choradas
pois se coração não mente
serão doces, não salgadas.

natalia nuno

estado d'alma...


há dias em que cantam cotovias nos meus olhos e voam soltas sobre as searas do meu coração...o vôo é a lembrança, o canto é a saudade...

nnuno

mar da minha vida...


era manhã ainda, quando os pássaros visitaram a lezíria das minhas memórias, trazendo uma luz remendada à minha já tão pouca claridade, caí num sono leve, baloicei entre o sonho e a realidade, deixei cair as horas uma a uma como quem nada teme, e o tempo lá me ia levando, quase mistério!... de que serve estar lutando, se não me leva a sério?!minhas mãos vão remendando o sonho, escrevendo versos a eito, que são como beijos roubados ao amor que trago no peito...do céu cai agora uma chuva densa, descem os rios ao mar, eu com uma saudade imensa...ah! valente mar traz-me saudade e o sonho da juventude perdida, mar da minha vida, solto meus ais, pois d'amor nem sinais, põe tino nas minhas mãos, e no meu destino a memória enamorada, pois se ela descaminha, por certo caminharei sozinha, nesta encruzilhada...sem lembrar de mim, e sem saber ao que vim!


natalia nuno

pequena prosa poética...


observo os últimos raios de luz, estou vazia...a noite como um lago tranquilo, tremem as estrelas, a lua recita versos de qualquer saudade e a brisa da infância que sempre me espera adoça o vazio que há em mim, não sei se vou acordar, escolho ficar no sonho numa fantasia que me incendeia, deixo-me ir nesta utopia que me protege da sentença dos anos, calada a minha pena nos olhos se apaga, evoco memórias, mato a sede, perco-me no sonho como uma nau se perde na bruma, desço a noite imensa e deixo para trás os meus fantasmas interiores, sinto a outra que também sou e a tristeza por tê-la abandonado...

natalia nuno

recolho as palavras...


Trago as palavras gastas
as rimas doentes
Chegam a mim indiferentes
fatigadas
Recolho-as no muro da tarde
fracassadas
Pousadas na saudade.

Sedentas de cumprir o seu papel
Entregam-se como o polen à abelha
Ou como a abelha se entrega ao mel
Soam secas, são como alimento
humilde
Amargam o meu tempo
Aumentam os meus medos,
a minha loucura de recordar.
Mas são a minha esperança de continuar,
a ouvir as minhas gargalhadas
a escutar as minhas passadas.
De me sentir no campo uma cotovia
em liberdade.
Dia a dia...
De morrer e renascer
com infinita saudade.

Palavras são a única voz que me resta
Gastas, indiferentes fatigadas,
como manhãs nubladas,
onde o sol é apenas fresta.
Que eu viva ou morra pouco importa!
As palavras atordoam a minha alma hora a hora
Abrem porta...ao meu peito
Invadem a solidão do meu leito
São testemunhas do meu desalento
Mas nada disto é em vão!
Pois elas são o meu sustento
O sustento do meu coração.


natalia nuno
rosafogo

tempo impalpável...


tantas vezes no pensamento,
- não posso ter morrido assim!
há dentro do momento que te abala
a interrogação...ao que vim?
este caminho que piso, 
prolongado de lembranças
ainda resgata o bater do coração
no peito.
tantos passos em vão
quantas marés eu preciso
para aconchegar este meu viver?
perguntas sem respostas  na minha mente
por nascer...
tantos sonhos por desabrochar
há dentro do momento que te abala
um sol moribundo, 
e um pássaro por libertar!
mesmo com a vida tão incerta
cumpriu-se o caminho
desde o meu perdido berço,
e agora para aqui estou
rezando à vida sem terço!
há dentro do momento que te abala
a memória esquecida,
e a boca sem palavras, 
em silêncio,
deixando correr a vida...


natália nuno

a dor da ausência...


doçura quase tímida quando me abraças,
cobre-se o céu, e a vida muda de côr, 
nossos desejos ardem até ao delírio 
«perdidos no mais intenso amor». 
horas de loucura, quando o sonho é precioso, 
e eu sinto o teu roçar, e quando me enlaças,
fico pronta pra te amar! 


vê como avança rápida a vida
e o nosso fervor em chama, 
passaram anos, ficou da ausência a ferida
hoje recuperamos... porque a gente se ama! 
que o amor nunca silencie
traga sempre nele o aroma a jasmim
que passem as estações mas nunca as emoções
nem o teu amor por mim.
dizias-me adeus, no vazio tropeçava na solidão
uma ternura cega, lembrava os olhos teus,
mágoa imensa no coração
era grande a minha fragilidade mas com amor inteiro,
morria de saudade... 
e à tua chegada, era a festa, a chama, o calor
abraçados, «perdidos no mais no mais intenso amor»


 natalia nuno
 rosafogo

banco do jardim...


há uma certa ansiedade em mim
ando saudosa do tempo
lembro o banco do jardim
e o pedaço do do dia em que te esperava
com sorrisos na face
ouvia teus passos via a tua sombra
e ali sonhava, falavas de me amar
e eu vivia à espera do teu chegar
a sede de beijos não esgotava
e meu corpo ao teu cedia
em cada pedaço do dia.

natalia nuno

chove na minha alma...


há arbustos que obscurecem minhas tristezas
sentei-me à janela a olhar o presente
sem certezas, cansada das madrugadas
enquanto meu sonho dormia
e na minha alma chovia.
passavam as nuvens no céu cinzento
deslocavam-se para o fim do mundo
enquanto meu pensamento por mim
passava moribundo...
a noite foi minha companheira
tudo ela silencia, traz no ventre um novo dia
de sonhos é mensageira
depois virá esse dia com névoa, que m' arrasta
e da vida mais me afasta...

tudo é absurdo nesta alma nostálgica
o corpo insiste em lembrar que não vale a pena
na expectativa de coisa nenhuma
continuo, meus passos...serena!
minha inspiração determina
que me sinta sempre menina, menina ágil
uns dias forte, outros dias frágil.

com minhas mãos toquei o céu
perguntei-lhe como seria a eternidade
desceu um pouco até mim e respondeu
vive a vida, vais ter dela saudade.

natalia nuno
rosafogo

estremecem madrugadas...


as tuas mãos são aves do paraíso
que voam na paisagem do meu corpo
percorrem os trilhos sem juízo
até às portas da madrugada
e o tempo é terno enquanto caminhas
ressuscitando a minha vontade
dos tempos de loucura
de que nos resta saudade,
mas voltas e é sempre nova aventura
e a tarde arde ao rubro
e é aí que eu descubro
que o nosso amor é de verdade

quando as tuas mãos se afundam
exprimo o meu desassossego
o tempo ri de mim e de ti
mas o nosso sonho ainda mora ali
o amor fica de sentinela
e a serenidade na alma
- o tempo o coração gela.
atormenta-nos ver a vida a cair
nossas mãos estão carregadas de doçura
e há estrelas nos nossos gestos
e infinitamente nos amamos com loucura

e amando-te assim infinitamente,
descubro que invento palavras meiguíssimas
esqueço tudo o que é triste dou um passo em frente
e carinhosamente voo no sonho enlouquecida
assim corre a vida,
estremecem as madrugadas
quando nos amamos...

natália nuno

o outono já se faz presente...


o outono já se faz presente na sua escura fragrância, é um jardim na penumbra...a sua luz é sensual, passa o seu tempo numa quieta agonia, é tempo de inacabados sentimentos, vai-nos desfigurando as feições e despindo a vida em silêncio, fala-nos com voz melancólica, sutura-nos as feridas, para que nunca mais voltem e desfralda um arco-íris em nós para que a memória não se esfume, quer que perpectuemos o valor da vida para que não se apaguem recordações, e nem sorrisos que arrancamos aos sonhos... tranquilo amigo é este tempo de outono...que se importa que continuemos cuidando de nós, mesmo no frio das horas..olho o horizonte e procuro por aquele fogo feliz, e já não sinto e não sei por quanto tempo seguirei neste mundo a que pertenço, as ruas são incertas e fugidias e as sombras aumentam, sinto o mundo a desabar fico sentida e muda de olhar quebrado, estremecem os rios do meu corpo e o vento adormece no meu peito...
natalianuno

pensamento....


no balancear dos loureiros deixei a minha infância, hoje as memórias me chegam na corrente da brisa, num murmúrio de nostalgia...

nataliarosafogo
https://pensador.uol.com.br/colecao/nataliarosafogo1943/6/

pequena prosa poética...


a infinda noite sobe arrebatadoramente, o dia foge do meu olhar, o amor que floriu ardente perde-se na imensidade do luar que a terra beija, e enfeitiça o coração que o deseja... abrem os lírios é manhã, o mundo a abrir-se em nós, e de novo o sonho não consente sentirmo-nos sós...amar é estar em flor!

natalia nuno 
 
 
 

sem tempo...


Não há pausas na minha melancolia
A saudade surge como um vento triste
Morri na saudade mais este dia
Maldita a vida que ainda insiste.

Tremem as àrvores, tremem de frio
E eu sinto a Vida presa por um fio.

Assim vou andando
Os sonhos ficando para trás
Meus olhos de menina chorando
Aquilo que o tempo me roubou
e foi capaz,
De me deixar vencida
De me vir dizer
Que a dor que trago sentida?!
Há-de deixar-me desfalecer.

Aceno à vida de mim esquecida
Procuro alívio para o desencanto
Vejo ao longe a meninice enternecida
Evaporei no tempo para meu espanto.

Vivo à mercê, triste ou sorridente
E já nada faço para ser diferente.

rosafogo
natália nuno
poema de 2010

última folha...


Hoje chove, a chuva lava os rostos,
nas lápides do cemitério
A brisa passa vai enxugando as lágrimas,e desgostos
Dos que ficam e para quem tudo é agora mistério.
Gente que amou um dia
Com sua mão afagou, ganhou o pão
Criou os filhos com alegria
Levou-os no coração.

Mas Deus clemente as levou.
E como recompensa ao pranto
De quem por aqui ficou
Ora rindo ora chorando,a fé dum canto.

Batidas p'lo vento frio e forte
Notas escritas, chorosas...
Saudade triste, deixou a morte
Desfolhadas estão as rosas.

A terra, é fria já!
E o rosto amigo que sorria
A mão que à nossa se unia
Só a saudade verá.
Dormem tranquilos no viver celeste
Já que esta vida durou pouco mais que nada
Chora ali ao lado o cipreste
Cerraram a campa, é noite fechada.

Era tão grande o meu pranto
E a minha mente fervia
Soltei-me então neste meu canto
P'ra espantar minha agonia.

Lembrança triste da partida.

natalia nuno

círios da memória...


na cómoda antiga
havia sempre flores
e imagens de santos,
e minha avó em prantos
lembrando de seus amores
rezava uma ladainha
em voz baixinha.

grandes alguidares de barro
no forno
amassava-se o pão
benzendo-o com oração
«Deus te acrescente,
que és alimento de muita gente»
aqui ali um adorno,
uma sertã, uma cafeteira,
e na quinta feira
da Ascenção, um raminho de oliveira.

nas vigas da chaminé
penduravam-se os enchidos
e nas brasas fervia-se o café
enquanto a trovoada, zumbia aos
nossos ouvidos.

a roupa mil vezes passajada
as iguarias poucas
às vezes imensa comoção
e todos os dias
a sopa e o pão.
na paz do alheamento,
se repousava em frente à lareira
deixava-se correr o pensamento,
e faziam-se contas duma vida inteira.

as silvas já formavam amoras
comê-las? Só quando maduras
em doce caseiro comido nas horas
de menos farturas...
a cor vermelha era como cilada
para atrair a passarada...
já se ouvia o barulho dos carros
o chiar dos eixos,
fugia a passarada, atordoada
abandonando os freixos.

e a lua aparecia e desaparecia
o sol nascia e morria
e assim a fé crescia
enquanto a vida corria..

natalia nuno

pensamento


foste o meu poema, o mais intenso,
hoje bailo para ti com a leveza do vôo dum pardal...

n. nuno 
 
 
 
 

falei-te..........


falei-te do silêncio das pedras
do rumor do vento
das aves que chilreiam porque é primavera
falei-te da solidão, do lamento,
e dos sonhos que ficaram à espera
falei-te da água que me esfria
a face, e me fere a pele
falei-te do meu amor doce mel
por ti, noite e dia.

falei-te das nuvens negras
que me toldam o pensamento
da escuridão e do vento,
como castigo que habita
meu coração,
falei-te dos anos de ausência, da dor
que ainda em mim se precipita
como um mal maior,
falei-te da minha oculta ferida
existente na memória viva
de caminhar sozinha na vida,
dor, que com o tempo mais se aviva.

falei-te da ilusão de viver
tamanha sorte
da minha afeição por ti,
falei-te do meu medo perante a morte
da melancolia que senti e sinto,
quando o sonho não vem
quando forças o corpo não tem,
e a morte finto!
Falei-te deste amor que é sol poente
deste amor da gente...

- tudo o que meu coração sente!

natalia nuno

gente resignada...


Poema dedicado às gentes do campo

Verdes e azulados na planície
Onde o homem deixou a marca dos dedos
e o sonho vazio,
pra que alguém visse,
Que estão carregados de sombras e medos.

Campos de verde pranto
De sonhos desfeitos e escombros
Que a lua cobre com seu manto
Cansaço de morte sobre os ombros.

Anda a solidão aí p'lo ar
Carregada de cinza e tristeza
Andam gentes consumidas a trabalhar
De olhos vendados de incerteza.
Pisam as ervas que sangram
Levam vidas absortas
Trazem liberdade na boca
Mas as almas estão mortas.
E a esperança? É coisa pouca!

Levantam-se em pedaços
desfeitos
Pensamentos ausentes
Conhecem a desventura,  seus passos
são agora espigas sem efeito
de searas  morrentes.
A vida inferno ensurdecedor
Brutal cansaço este viver
Morrendo á míngua de dor,
a raiva em si  calada
amarga...que o faz sofrer.
.

morrem nenúfares no meu peito...


no telhado a chuva cai miudinha
e ao ouvido parece ladainha,
os gatos escondem-se debaixo dos beirais
as chaminés fumegam
lá em baixo recolhem-se os pássaros
nos canaviais,
densas as imagens na memória
meu chão e meu tecto
minha história...e as lembranças
me pegam,
nas asas do outono adormeço agora
morrem os nenúfares no meu peito
quase do inverno é chegada a hora
na primavera deixei o amor perfeito

passam os dias por mim e eu teço
estrelas, à noite me dou
deixo-me apanhar, no amor tropeço
e em rosas cadentes a saudade chegou

e a chuva miudinha bate no telhado
em mim o amor toda a noite dormiu
e no fim do dia aparece o sol molhado
tingido de medo todo o dia não abriu
vai o outono caindo ao chão
traz desnorteada a claridade
amanhã será outro tempo já de pensar
a solidão, e lá surgirá a saudade,
de novo ao coração.

natalia nuno
http:// nataliacanais.blogspot.com/

o suavizar do dia...


Ah se não fosse o ponto
esse minúsculo ponto
donde parti
pequenino, que me trouxe até
aqui,
me traçou o destino e é raiz
em mim.

Ah se não fosse essa linha
traçada, essa estrada
onde vive a minha liberdade
e a saudade
neste cair da tarde,
onde ainda mora em segredo
o sonho, sem medo.

Ah se não fossem os becos
da aldeia e o rio , lembrança
que à minha alma se enleia
tecendo teia
e é melodia ao ouvido,
vinda lá donde
era criança.

Ah se não fosse o salgueiro
a emprestar-me a raiz
e a suavizar-me a travessia
a destruir a barreira do tempo
até ser outra vez dia.

Ah se tardasse o anoitecer
como seria bom viver
renascer, habitar de novo
a vida em abundância
e voar, voar na estrada da distância.

Ah mas como tudo está longe,
longe e perto dos sentidos
ontem, hoje, aqui e agora
onde sonho acordada
onde agasalho como outrora
a vida.

natalia nuno

o suavizar do dia...


Ah se não fosse o ponto
esse minúsculo ponto
donde parti
pequenino, que me trouxe até
aqui,
me traçou o destino e é raiz
em mim.
Ah se não fosse essa linha
traçada, essa estrada
onde vive a minha liberdade
e a saudade
neste cair da tarde,
onde ainda mora em segredo
o sonho, sem medo.
Ah se não fossem os becos
da aldeia e o rio , lembrança
que à minha alma se enleia
tecendo teia
e é melodia ao ouvido,
vinda lá donde
era criança.
Ah se não fosse o salgueiro
a emprestar-me a raiz
e a suavizar-me a travessia
a destruir a barreira do tempo
até ser outra vez dia.
Ah se tardasse o anoitecer
como seria bom viver
renascer, habitar de novo
a vida em abundância
e voar, voar na estrada da distância.
Ah mas como tudo está longe,
longe e perto dos sentidos
ontem, hoje, aqui e agora
onde sonho acordada
onde agasalho como outrora
a vida.
natalia nuno

restam as pedras que piso...


Dou meia dúzia de voltas
tal qual como um pião
pouso sobre o papel a mão
e as palavras me saem soltas.
sobre a pressão dos meus dedos
escrevo ora a medo, ora sem medos
olho no céu as estrelas, mais de mil olho!
mas não tenho ilusões!?
são minhas lágrimas guarnições
com elas meu rosto molho.

- Fico neste meditar
espicaço meus sentimentos
coisas de ternura me vêem ao lembrar
momentos...
uns que foram como cristais
e outros partidos p'los vendavais.
um dia e outro em fileira
trazendo um tempo de obscuridade
e meu coração queira ou não queira!
deixa-me no aperto da saudade.
mas não trago mágoa não
desse tempo donde venho
lembranças fantasmas são,
do que tive e já não tenho.

Restam as pedras que piso
pois se em mim já tudo desaba?!
fico a pensar que já nada exijo
mas até o nada se acaba.

natalia nuno

toda a saudade dói...


abro as palavras as mais puras
e chegam-me aromas intensos
que nascem das tuas
juras d'amor...
sonho com um beijo onde o dia amanheça
e o querer dar-te a minha mão
para que o coração estremeça,
treme nesse instante de felicidade
e meu corpo é todo ele um mar de saudade,
mar que me enlaça nos teus braços
tantos abraços!
mais uma lágrima chorada
toda a saudade dói no sorriso que revelo,
tudo é delírio, labirinto duma vida mal contada
e para mim mesma, minto
trago o amor do avesso e não dou por mim errada!
consumimo-nos na própria fogueira que é viver
de onde dia a dia queremos renascer.
nesta luz matinal, tão cheia de sensualidade
nossos corpos se incendeiam
labaredas ateiam, morremos na saudade
de alma solta, neste tempo de Outono, tempo que não volta!
tempo tristonho, onde passo do canto ao pranto
mas, não fracassa a recordação, a saudade dói,
ainda te amo tanto!

natalia nuno
rosafogo

dormência dos sentidos...


BOM DIA! Se estás triste não leias...............................bom fim de semana.

este cansaço nos olhos
este tamanho emurchecer
resto de farrapos, escolhos
caixa de medos a que me entrego sem querer,
murcham comigo as rosas
os sonhos, eles que eram mariposas
já não voam,
exausta, oiço vozes no silêncio da minha surdez
quem sabe sejam os ventos que me trazem os medos
à memória que se despenhou de vez.
tudo agora é despegado de razão
tudo é, coisa nenhuma
o vazio da alma o adormecer do coração
a dormência dos sentidos
nas noites que vão passando uma a uma
a violência do tempo, é ferida que não cura
moldou-me como o mar molda a areia
com batida que sempre dura
fui menina de sonhos desde que nasci
e por sorte serei até à morte
sei ao que vim, tanto me dei
e tão pouco a mim!
sou agora um outono desfeito
à espera que a longa noite chegue
com a solidão dum grande mar
à espera da manhã que não virá
nada sou nada serei, minha voz se calará
e mesmo assim de forma estranha
esta saudade que me acompanha
para sempre ficará
na solidão do que escrevo.

natalia nuno

evoco hoje lembranças...


evoco hoje lembranças
lavava-me na água fresca do rio
num tempo cheio de futuro
nunca com o coração vazio
eu sonhava e aguardava
nesse mundo encantado
que era meu refúgio
a ludibriar as horas ía sonhando
pregada ao meu chão embalada na ilusão
nas águas do remanso
e o rio lavava a minha nostalgia
e pensava no que a vida me escondia
os loureiros dançavam ao som do assobiar do vento
trazia a luz do sol no olhar
era um pouco bravia e resposta sempre havia
ao mesmo tempo doce como mel que escorria
o rio me alvoroçava
mas também me acalmava
era uma ave colorida, ora pousada
ora desaparecida
sonhos sem conta, cabeça ao sol
escaldante, e a forma graciosa como me movia
ao passar, céu e terra estremecia
lembrar, é acariciar a alma
e um prazer que me sacia
tudo o resto é estonteio ao meu redor
só se apaga a memória, senão houve amor

natália nuno

meu coração aperta-se...


os olhos nas vidraças,
baças
o olhar distante
o ruído da chuva incessante
meia atordoada e feliz, na efémera
duração dum sonho...

os dias de outono tão melancólicos
soltam-se fragmentos de memórias,
inesperados,
sento-me na margem da tristeza
e vejo meus sonhos a preto e branco
desenhados.
sopra o vento da incerteza
olho o céu cinzento sem pássaros
meus dedos estão estéreis
acentua-se a solidão,
já não seguro meus ais
nem o vento segura as folhas outonais.
até um pássaro sonâmbulo, que a primavera levou
num destino incerto,
fez ninho no meu peito,
encoberto...
e a saudade voltou

e eu sem saber que rumo dar ao pensamento
abrigo-me da vida na memória distante,
a caminho do nada,
a alma cansada,
e é, a criança que em mim
vive que segura a minha mão
enquanto o vento lá fora vai varrendo
as folhas, que caem ao chão.

natália nuno

magoa-me pensar...


Entre a minha memória inquieta
E o tempo que tudo repete
Há um regato a correr...
Que observo em silêncio...quieta!
Às vezes desespero, mas já pouco
tenho a perder.

O tempo lembra-me que existo
Que trago comigo um passado
Me lembra de tudo isto
Estou cansada e ele cansado.

Tudo acontece devagar
Mas o tempo corre...!
Magoa-me pensar
Que tudo o que nasce morre.

Tantos anos trago comigo
São já um poema de saudade
Ou aquele livro amigo
Que ao ler nos dá felicidade.
O tempo passou por aqui
Por um instante, um apenas!
Será que eu não o vi?
Pesam em meus ombros
minhas penas.

rosafogo
natalia nuno

o passado...


é o passado que se desenha na aura
deste pensamento em vôo nas minhas mãos...
enquanto os meus olhos riem,
treme a água no açude e eu criança,
com um tremor de asas no sangue...
no reino da minha infância o silêncio,
e o vento rondando nas ramas,
logo o chilreio lânguido do pássaro,
ignoro quem voa melhor, se ele, se eu...
juntos pelo acaso deste sonho meu.

natalia nuno

pequena prosa...


a infinda noite sobe arrebatadoramente, o dia foge do meu olhar, o amor que floriu ardente perde-se na imensidade do luar que a terra beija, e enfeitiça o coração que o deseja... abrem os lírios é manhã, o mundo a abrir-se em nós, e de novo o sonho não consente sentirmo-nos sós...amar é estar em flor!

natalia nuno

no sonho onde aconteço...


anda uma lágrima em busca
dum rosto perdido
e uma sombra persegue passos cansados
a saudade que ora se aproxima , ora se evade
traz-me momentos amados
ali me vi!
pois o passado estava mesmo ali,
e eu sabia, enquanto a noite estremecia
o sonho no meu sereno sono
era apenas sonho,
deixei-me ir nesse abandono
com medo de despertar
e retornar à realidade


no regresso transportei no olhar
as pétalas das margaridas
que havia no pomar, lembranças sentidas,
esperanças no peito nascidas já tão poucas
e na garganta, palavras roucas.
meus olhos prenhes de cansaços
solitários os passos
e esta vida que não ata, nem desata.
calei o grito, a lembrar o sonho
da minha longa estrada


olho a página em branco
como branca solidão e na minha alma
uns versos onde anoiteço
mesmo que o sonho acontecesse em vão
quero voltar a sonhar, onde aconteço.


natalia nuno

olha-me nos olhos...


olha-me nos olhos firmemente
tudo neles te revelo
este amor que acalento
denso como as águas do mar
arco íris no firmamento
que o tempo levará
mas devagar,
toda a ti me dou
de ti tudo espero
como o moinho espera o vento

é assim, este amor que acalento!

natalia nuno

transparências...


guardo palavras num frasquinho
como se fossem doce ou vinagre
as vou espalhando pelo caminho
vivendo esp'rança em tempo agre

e assim entre beijos inacabados
o olhar repouso, acalmo o desejo
trago os sonhos com nós atados...
e a esperança na promessa d' beijo

é já na hora tenra da madrugada
q' gritam os pássaros com ternura
na luz que avança leitosa azulada
a gente se ama, é nossa a ventura

amor me fio, janelas escancaradas
deixam entrar os ventos da aurora
e as vestes p'lo chão amarrotadas
é hora do amor... é do amor a hora!

tudo que tem sombra é sombrio
quando não se alcança o sol à mão
e a vida ás vezes presa por um fio
e aí nos amarra d' dor e solidão

no pomar tão brilhantes as cerejas
nas moitas sol aceso nos azevinhos
brilham mais m' olhos se os cortejas
acolho o cortejo dos teus carinhos

natalia nuno

apenas nada..


quando damos conta o tempo passoue o que restou? a solidão, 
uma atitude de espera
ou uma fuga às realidades,
como velhas fogueiras caem
em nós as saudades.
e no rosto as rugas são as primeiras
que sobem o muro dos sonhos
fugir é nossa única ideia
mas jamais saímos da teia
o olhar atravessa a estrada
há ideias perdidas
que com o tempo se vão
- e o que resta? nada!


resta talvez a dúvida, a casa vazia 
e no fundo da garganta
um nó que arrepia.


 natália nuno
 rosafogo

capricho...


o coração vive de ilusão
embalado de nostalgia
como uma vela que se apaga
assim passa mais um dia,
e quando o olhar se alaga
faz lembrar uma tempestade de verdade,
que trespassa a memória
corrói as entranhas até não sentir
mais nada, ficam os sonhos na almofada
e alastra um gemido no escuro
depois, apenas o respirar no silêncio duro
se escuta,
perdidas as esperanças, perdida a luta.

sou agora livro antigo, ninguém leu
um oásis de memórias que adormeceu
não há saída não
meu coração vive de ilusão
apagou-se tudo da memória, até os lírios
nas imediações me olham tristes,
a cada entardecer debruço-me nos lambris
das janelas, pousam as andorinhas em frente
espiam-me como se soubessem de mim e eu delas
há vasos vazios nas escadas, vidros partidos
cortinas desbotadas e portas sem fechadura
que importa, quem lá vivia morreu d'amargura

o céu hoje é mais azul, azul é tranquilidade
dia em que se envelhece ou morre de saudade
pensei-me menina com sonhos e risos
que não consentem partir, mas e
o medo da morte, tenho medo de dormir,
medo até das folhas agitadas pelo vento
tenho medo, que meu céu fique cinzento.

arrumo os medos e as lembranças que me ferem
levanto-me mais uma vez,
ainda há dias de alegrias invento-me
menina nos teus braços,

natália nuno
 
 
 
 

através das cortinas...


através das cortinas da alma, vou remando até à infância, nada me barra o caminho, e fico a boiar no poente em liberdade, agradeço a Deus a dávida do sonho, que me permite encher o peito de água nova, reconcilio-me comigo mesma, e em equilíbrio fica o interior...serena, mais lúcida, vou continuando o caminho...partem as horas, fica o cansaço, inacabado o sonho, voltam os anseios como trepadeiras dando-me o abraço e eu esqueço as canseiras, adensam-se os beijos frementes de desvario, suspiros do sol interrompem meu frio, escapo-me pelo meio da alegria e vou vivendo, sorrindo dia a dia...

natalia nuno

desejo...


o desvario do corpo abandonado
na cegueira do desejo,
coração que de paixão
estremece,
doçura do beijo
que se conhece
paixão tão grande como o mar,
visível no olhar...
arrepio secreto da pele
sortilégio do amor
do pulsar do sangue o rumor
estarmos a sós
num encontro cúmplice,
em nós o êxtase do enamoramento
sermos dois num barco à deriva
ter a felicidade cativa
e já nos comover a saudade
belo reviver com arrebatamento
amarmo-nos livremente e, na memória
guardarmos a nossa história.

natalia nuno
 
 

nas dobras da noite...


nada pode alegrar mais minha alegria
do que aquilo que existe e continua
dia a dia
na memória, todo o passado,
toda a minha história,
embora por vezes bata nos meus dias
o vento norte, bravo, forte,
deixando meu coração destroçado
meu rosto desfigurado,
onde o tempo semeou com mão
pródiga, sinais de cansaço
e deixou-me nas mãos gestos de solidão
e sem vigor o passo.

mas a memória é ave que voa sobre
um mar sem fim
e ainda que haja um dia cinzento
nada mais me alegra a mim
que deixar voar o pensamento
encher o peito de ar
e amar, amar tudo, escrever poemas no silêncio
abraçar a vida até me apetecer
levar de vencida uma lágrima comovida
e esperar a morte, que venha quando quiser!

é nas dobras da noite que na minha mão
roça a saudade, me lembra do caldo e do pão
e do luar bordado a lantejoulas
e em delírio me leva aos cantos da aldeia
à mesa verde onde a mãe coloca a ceia
e os meus sonhos ainda ali estão
como nenúfares prontos a colher,
cada uma das suas pétalas é ainda um dia
por viver, e sonhar,
com a serenidade no rosto a pairar,
e uma certeza a cada dia
nada pode alegrar mais, minha alegria.
que rememorar...

natalia nuno

eu sei que é sonho...eu sei!


eu sei que meus dias são quase felizes
quando recordo minhas raízes,
ninguém sabe até onde meus pensamentos vão
nem por onde andam meus olhos errantes
nem as lágrimas que neles se acendem,
nem quando há sol ou chuva no meu coração.
abro as janelas do peito e a aragem entra
vou arejando p'lo caminho num passo
que já não voa, nem corre,
mas o sonho continua e não morre.
às vezes a alegria faz-me companhia
ponho no rosto um sorriso
aspiro o ar que o vento faz mover na verdura
subo ao céu azul intenso onde o sol flameja
encho o peito de ternura e ele me beija,
fico numa paz perfeita, aconchego-me a ti
eu sei que é sonho ...eu sei!

mas é um como real acontecimento
e minha alegria desperta,
sonhar com a felicidade é alegria certa.
rubra de paixão, olho a vida com profundidade
com o pensamento numa doce recordação
hoje sonhadora, banho-me nesse mar da saudade
já tão distante...guardo a recordação em mim
e minha alma verte doçura
turva-se de lágrimas o olhar, era tempo de amar!
não está esquecido o beijo dado, nem o roubado,
generosa idade, dela sinto saudade.

nos sonhos da noite, volto a reviver
o tempo desfolha eu sei, mas hoje do presente, não sei
nem quero saber...

natália nuno

arpejos de sol...


na minha memória há migrações
de ideias, sonhos em sobressalto
tempestade de ilusões
às vezes são como arpejos do sol
sobre os trigais que ondulam ao vento,
eu um girassol apaixonado
dando asas ao desejo...a que ainda
me tento.
voam ébrias minhas borboletas
num voejar desatado,
instantes em que amo com paixão,
rebelde este meu coração 
cântaro cheio de claridade
e alada melodia da saudade.


espero sempre pelo sonho
que me ajude a viver
que me adoce o vazio, 
que me ajude a suster 
umas lágrimas teimosas,
ou uns tímidos sorrisos,
que me cruze com ideias gloriosas
a que aspiro, para a essência dum poema,
seja de amor ou de saudade, o tema.


natalia nuno

escutando meus passos...


no sonho há aroma a magnólias
vindo do tempo, onde o tempo não contava
e o sol se aproximava de mim doce
abrindo a manhã como se fosse
a minha própria pulsação,
tempo sem tempo, cantava
um pássaro no meu riso
e habitava amor no coração.
estendo a minha mão
a esta vertigem que é sonhar
e é como se fosse o instante dum beijo
em que me olhas com um só desejo
a sede de possuir-me,
como vai longe a quimera
e eu na solidão, à espera...
no oásis da minha memória
ainda há uma busca indecisa
que meu coração precisa
que a ternura lhe seja entregue.
mas o tempo corre, segue,
e deixa apenas recordações
nuvens escuras, visões, mas uma claridade
indistinta, e um só pensamento sobre ti
dos momentos que vivi, e
uma derradeira saudade...um mundo de interrogações.
no coração trago a herança dos anos
e na boca arco-íris de sílabas que soletro
que são teias e outras favos de mel,
teço e desteço ilusões, enganos e desenganos
o amor e a desdita
que eu grito até ao fim,
ao fim da vida, ao fim da escrita.
trago em mim amarelas florestas de outono
no calafrio do meu corpo adormecido
no meu Deus supremo me abandono,
caindo assim, a minha metade
mais trémula no esquecido.
e fica a censurar-me esta saudade.
natalia nuno

abusa...



abusa
usa o meu corpo
aumenta meio anseio
procura em delírio meu seio
faz dele uma festa
usa a tua mão desonesta
fá-lo delirar
não importa o pecado

fantasia,
deixa as roupas em desalinho
esquece a noite, esquece o dia
difama, desacredita minha seriedade
e num delírio escaldante
deixa-me ainda com saudade.

natalianuno
rosafogo

rendida ao teu amor...


Queria seguir a corrente
Das águas do teu mar
E aprisionar-me a ti únicamente
Rendida ao teu amor ficar.
E viver em ti e contigo
Desde o ressurgir ao morrer do dia
Até ao levantar das estrelas
Até que a lua sorria.
Dois corpos que se incendeiam
Que morrem no mesmo abraço
Queria ficar nessa teia
Seguir contigo teu passo.
Ser ave livre de repente
Nessa luz amanhecida
Ser tua água transparente
Ser teu poema, tua vida.
Ser a paisagem do teu olhar
O horizonte da tua memória
Ser a fuga e o aproximar
Renascer de novo na tua desmemória.
Percorrer o teu corpo, sedenta
Reacender o alento apagado
Esquecer as rugas, como quem inventa
Que o Sol entrou em nós inesperado.
Banhar as palavras em insanidade
Lançá-las do alto dos rochedos
Fazê-las brotar em fontes azuis de saudade
E rodopiá-las na febre dos meus dedos.
E eu continuo a querer!
Estar contigo até ao esquecimento
Deixar os anos decorrer
Em fantasias ébrias
Largar o pensamento.
Natalia Nuno.

saudade...


Saudade é a prisão da dor de quem espera
O desassossego da alma de quem desespera
É o pressentimento do não voltar a ter
É matar o tempo com a dor do não saber.
A agonia que cresce quando se contam os dias
A apatia em que se cai se não há notícias
É a nostalgia do beijo e do abraço
Uma inquietude onde nem o sono tem espaço.

Saudade é sentir longe quando se está perto
É o desespero de se perder o que se tem como certo
Sentir a voz de quem queres que te chame
Saudades sentes mesmo que já não te ame!
Saudade é a alma cheia de desejo
Um momento amargo doce, aguardando o ensejo
Adormecer esperando o dia com ansiedade
Sonhar o reencontro também é saudade.

As despedidas que ainda nem aconteceram
As esperanças dum regresso, que se perderam
A angústia de não saber quando
Saudade é o respirar o mesmo ar,as bocas colando
É um silêncio triste e obstinado!
Murmúrio que o vento traz do bem amado

Num lugar secreto onde mora a solidão
Mora a saudade que não nos larga o coração.


Natalia Nuno

loucura...


pego-te na mão
e seguimos na vida
a sentir bater o coração
acampamos na colina do sonho
aí gritamos nosso amor
e o sol pôr risonho
traz-nos o sabor
duma alegria nova ensolarada
onde ainda és meu amado
e eu sou tua amada...

natalia nuno

diz-me tu...


olho o horizonte com lentidão
olho as sombras fatigadas da tarde
inquieta-se a minha imaginação
e nos meus olhos irresistível saudade
há um silêncio ensurdecedor
ao meu redor, sobeja um tempo duvidoso
os meus dias são folhas sem vida
e eu confundida nem lembro,
se é já Outubro ou ainda Setembro
se entrei no inverno e me sentei
à espera de lembrar tudo o que esqueci
nos dias lentos de Dezembro
e se de mim não lembro?
- lembro de ti!
lembro do Maio florido
onde tudo era possível querendo,
lembro a ventura, o sonho apreendido
hoje olho o sol no horizonte morrendo,
e já não lembro porque de amor por ti
morri...
dize-me se fores capaz,
se ainda tenho o meu lugar
se não anda longe de ti meu coração
se o teu ainda vive para me amar
dize-me se fores capaz, que já não
lembro não!
natália nuno

os pássaros me esperam...




os pássaros me esperam
cantam nos meus sonhos sombrios
como se entendessem que quero vencer
a tristeza e os frios que de mim se apoderam,
minha memória é a nascente
saciam a sede nas minhas mãos em concha,
cantam até se extinguir o dia
fazem dos meus sonhos semente,
do sol pôr até à aurora fria.

ao longe já a calhandra rasgou o céu
o tempo já pouco faz sentido, e eu...
meus olhos lançam-se ao esquecimento
e de momento a momento, sigo perdida
como água errante que não modela o rio
cotovia na noite escura...ferida!
choro por dentro, fica o coração vazio.
saudade de tudo que sumiu.

saudade volta sempre a mim, desencadeia a primavera
e os pássaros ficam de surpresa à espera,
à espera dos sonhos com luar
do viver com ventura intensa
com manhãs de verão, e as portas do coração
abertas de par em par, com alegria imensa
com esta emoção que me prende a garganta
e esta saudade tanta...

natalia nuno

venho de longe...


Venho sempre de longe
ainda e sempre carregada com o fardo
que é o tempo, tempo pardo
que me põe nos olhos o cinzento
e romeira lá sigo descalça
como pastora
minhas memórias apascento,
já tudo se distancia
venho de longe
do tempo que tudo devora
trago comigo nostalgia,
e as mãos nervosas
vão semeando palavras,
rosas, que ninguém colhe
nutridas de amor, alimentadas
de esperanças, rendilhadas
de lembranças.

Venho sempre de longe
trago sonhos novos
que povoam minha mente
em noites de insónia
e eu a deixar-me morrer
apressadamente,
cansada de cismar,
do mesmo chão repisar
com passos fantasma
entre a multidão
e venho chegando em dia
de outono
à minha espera o eterno sono,
e logo se cala o coração.

natalia nuno
rosafogo

 

entardecer...


é doce ...chega contigo
até a brisa do salgueiro
entardecer q' és abrigo
hoje a lua veio primeiro

volto a sentir o pulsar
com ternura serei ave
doce andorinha a voar
serei do amor tua chave

esquivo poema a rimar
o céu é polpa de rubi
andam melros a trinar
nas palavras que eu urdi

tarde obscura de estio
olho agora a quietude
tu o mar ... e eu o rio
correndo pra ti amiúde

no riso do amanhecer
ou no mistério da tarde
em ti me volto a perder
êxtase q'é minha verdade

e logo a luz da aurora...
- as tuas carícias de mel
chegada do amor a hora
arrepia-se a nossa pele

natalia nuno

 

pequena prosa poética...


o passado dorme enquanto o futuro murmura e o presente vive e chora por dentro, e eu me exilo vou-me apagando a mim mesmo, desvaneço nas palavras que convoco e os pensamentos abrem-se ao vazio aceitando o inevitável...como a areia que o mar engole, assim o tempo amargo faz nascer em mim a desmemória, conspira em segredo e é como uma sombra que me persegue, deixando-me sem flores nos olhos e sem o sorriso nos lábios de onde as sílabas íam nascendo, agora... andam gaivotas embrumadas em delírio, sobre o meu corpo de trigo numa liberdade de espuma...
natalia nuno

doce lembrança...


nosso amor era feito de pudor
era assim até de madrugada,
e nos teus braços eu era a flor
que o aroma em ti deixava.
éramos novos, e sem mágoas
trazíamos primavera no olhar
éramos fonte de onde as águas
brilhavam em noite de luar

soltavam as borboletas d' amor
docemente ao amor m'entregava
feita mulher, da infância o candor
c' riso de criança me abandonava
flor, assim desfolhei suavemente
nesse jardim que é o passado
hoje sou imensa noite ardente,
deixo ainda nosso amor ao teu cuidado

natália nuno

este poema...


neste poema há o rosto
duma mulher triste
nas palavras abriga-se assustada
tem a idade dum tempo sem idade
e o bocejar cinzento
quando o pensamento se passeia
pelos labirintos da saudade.
neste poema há ainda outros sinais
palavras surdas de consoantes e vogais
que ora são rios de mel
ora são agitações e fel...
este poema é feito
de cicatrizes, rugas e sonhos
e insónias que não deixam adormecer
encantos e desencantos
memórias de momentos de prazer
de ternura, de dureza e insensatez
de palavras surdas providas
da minha surdez...
palavras encostadas aos meus lábios
alheias ao tempo
surgem em ventos de desejo
recordando o tempo que me agasalhou
outrora...
e eu acalento o sonho...hora a hora...

natalia nuno

tempo impalpável...


tantas vezes no pensamento,
- não posso ter morrido assim!
«há dentro do momento que te abala»
a interrogação...ao que vim?
este caminho que piso, 
prolongado de lembranças
ainda resgata o bater do coração
no peito.
tantos passos em vão
quantas marés eu preciso
para aconchegar este meu viver?
perguntas sem respostas  na minha mente
por nascer...
tantos sonhos por desabrochar
«há dentro do momento que te abala»
um sol moribundo, 
e um pássaro por libertar!
mesmo com a vida tão incerta
cumpriu-se o caminho
desde o meu perdido berço,
e agora para aqui estou
rezando à vida sem terço!
«há dentro do momento que te abala»
a memória esquecida,
e a boca sem palavras, 
em silêncio,
deixando correr a vida...


natália nuno

apronto meus passos...


trago sempre presente o amor,que me embala o sonho noite e dia, 
e me faz sentir um malmequer que ao vento dança
apesar do inverno que já me cansa, 
amor, que me traz o mel ao peito,
sempre que me olhas
enquanto tuas mãos minhas folhas desfolhas.
neste inverno já amadurecido
há gotas de chuva no meu rosto
trama pelo tempo urdido.

pela tarde é hora da melancolia
até o melancólico sol-posto me faz companhia
as saudades entram em delírio
apronto meus passos mesmo não sabendo 
se me negas teus abraços, 
e neste caminhar louco, 
a vida já vai a uma ponta
caminho, onde vamos morrendo um pouco
mas ainda o sol desponta.


natalia nuno
rosafogo

coisas de poeta...


mãos que trago ainda atadas pela vida, que importa isso agora, vêm de longes ignoradas, só as palavras vivem o prazer de conhecer seus desejos incontidos, às vezes vazias, adormecidas no regaço alheadas de tudo...quando deste pelas minhas mãos?- sôfregas, desenhando carícias em teu corpo, na melancolia duma qualquer tarde doce...como o tempo voa, são agora mãos cheias de nada...
natalianuno

de tanto à vida querer...


há sempre um par de lágrimas prontas a cair
há pelo menos uma que cai
preciso dum par de asas, quero ir
de onde a memória não me sai.
cresce, cresce esta vontade
vem soltando gritos
que são pranto de saudade
parado nos meus olhos aflitos.
e se caem em desespero
não me arrependo de as perder
pois se o choro é sincero
eu choro ... de tanto à vida querer.
sob o sol que nasce a cada dia
carrego aos ombros os anos
os desenganos,
e a esperança já tardia.
mas outro outono virá!
pondo nos meus olhos o sol
a serenidade a mim voltará
os pássaros me esperarão
voltarei a ser no campo um girassol.
e o meu sonhar não será em vão.
natalia nuno

A VIDA É FOGO



a vida é fogo, viagem que não se detém
arvorada em gritos d'alegria também d'dor
apertado nó que ninguém desata, porém
vertiginosa trepadeira, onde existe amor

a vida é um sopro de sonoras subtilezas
nela se desenlaçam lembranças vividas
águas adormecidas, são trinados, belezas
umas recentes, outras há muito nascidas

a vida é água agreste, pura e cintilante
corre arrebatada como a querer escapar-se
enfeitiçada vive e é só mais um instante

numa melodia constante até ao sossego
pronta a cumprir destino a despenhar-se
ali onde a morte à vida não mais tem apego

natalia nuno

poema frágil...


ai a vida deste poema,
está prestes chegar ao fim
poema sem rumo nem tema
ai poema, ai de ti, ai mim!

poema cego noite e dia
acompanha-me de menina
penetra em mim nostalgia
mágoa, estranheza, ruína

poema a perder esperança
a consumir-me em mistério
tempo de memória, criança
tempo que eu levo a sério

palpitas p´las minhas veias
és tudo o que fui e esqueci
contradições em mim ateias
ai poema, ai de mim, ai de ti.

encerras nas minhas mãos
as tuas já escassas linhas
saudade tem sins tem nãos
saudades poema são minhas.


natalia nuno

entrega...


viaja a boca até à boca
paixão, loucura feitiçaria
e já a mão se desloca
o desejo cresce esfuzia
nos rostos a alegria!
o entusiasmo redobra
coisa louca
os beijos da tua boca
e o meu corpo te cobra
que seja dia de festa
e o que tem de melhor?

-a entrega ao conquistador
e eu me entrego com amor
no sonho com sabor a mel
que arrepia nossa pele...


natália nuno

flor murcha...


a tua boca de cerejas viçosas
com sorrisos e sabor tão doce
são a tentação de todas as rosas
que mais queria, só minha fosse.

pede-me o corpo que já declina
e tem do inverno a austeridade
exalta o desejo voltar a menina
esgota a coragem, surge saudade.

perco o olhar, lânguida vastidão
apagam-se os dias sem surpresas
nada procura nem espera o coração

das poucas palavras inda por dizer
já não há nelas nenhumas certezas
só anseio de quem flor não pode ser.


natalia nuno
rosafogo

mergulhada no sonho...


mergulhada no sonho
enquanto a vida passa
e não sei para onde me leva...
olho o poente,
a voz ausente
o coração sinto-o maior,
como um dançarino poderoso
ou um arauto promissor
de promessas de amor.
misturam-se perfumes no ar
tudo é efémero apenas sonho
sinto o aroma da terra ... saboreio,
e o coração bate sem freio...
vou desfiando segundos
regresso a mim com lentidão,
acredito em ventura pura ilusão
o tempo nunca me devolve nada,
e nesta mornidão sentida
o coração bombeia
a vida
que parecia em trevas
mergulhada.
embalada no cansaço
afundo-me de novo na inconsciência,
ao sonho...me abraço.

natalia nuno

a horas mortas...


não escolho as palavras
são desejos que por mim passam
sonho com elas, um sonho que não faz ruído,
na minha mente desfilam
e ondulam como um mar erguido.
apresento-as ao mundo, para que minha voz
se espalhe,  como um caudal de luz,
e é atroz senti-las a afogar-se nas águas
dum mar infinito,
levando meu grito, minhas mágoas 
sem querer ouvir o meu sentir,
fogem de mim a horas mortas
nem sei porque as escrevo, só Deus
escreve por linhas tortas!
não escolho as palavras
escrevo como um recém nascido que chora,
com a saudade que no meu coração mora.
memórias escritas que são folhas que caem
em solidão e esquecimento,
move-se minha mão, que não sei porque escreve,
quando o pensamento lhe diz que não deve,
alguma coisa o coração embriaga
será o aroma de pétalas pela vida esmagadas?
ou a esperança, talvez o destino me traga
aos dias, rosas belas perfumadas.


natalia nuno
rosafogo

pequena prosa poética...


há um silêncio sempre pronto a atacar-lhe a solidão, sempre a acompanhar-lhe os passos a cortar-lhe o coração, voejam com ela pássaros pretos que atravessam o vento e deixam-lhe o pensamento cosendo e descosendo lembranças, trazendo-lhe mil recados de tempos amados, dos seus brincos de princesa, do baloiço da oliveira, do rio ali à beira, e a certeza dos besouros arrecadados, dos pés descalços, das amoras dos silvados e das horas atrás dos vidros embaciados...há um silêncio que a faz morrer de cansaço, sabe que o sonho é sempre de ida e volta à realidade e, ao abrigo dos sustos carrega nela a saudade...as asas andam p'lo chão mas, hoje traz um silêncio fresco no coração.

natália nuno

Tomáste-me em flor


Tomáste-me em flor
Com os olhos cheios de esperança
Com promessas e juras de amor
A vida urdida que hoje trago na lembrança.
Tanta esperança, nem sabia de quê!
Eras meu cavaleiro andante
Nos meus olhos ainda hoje se lê
O sonho todo em retalhos
que embora por atalhos
surgem no pensamento a cada instante.

No peito palpitavam meus seios
Por baixo da blusa de organdi
Logo as tuas mãos sem freios
Os desejavam para ti.
Não sabes! Que podes saber?
Da hora entre a noite e o dia
Em que eu como pássaro caía
Enquanto era teu prazer.

Levo à boca a chávena de chá
Fico amarrada nestas lembranças
Vou sonhar até depois do amanhecer
Outros sonhos deixei pra lá!
Fecho os olhos alimento esperanças
Que a vida seja sempre este bem querer

Ousamos ainda olhar o espelho!
Onde nos vimos de cabelo grisalho
mas olhar vivo.
Velho?
Para mim, aquele de quem me valho
Por quem o meu olhar está cativo.
Valeu a pena o amor, a cumplicidade
Que num pergaminho escreverei com saudade.
Com os olhos cheios de esperança
Com promessas e juras de amor
A vida urdida que hoje trago na lembrança.
Tanta esperança, nem sabia de quê!
Eras meu cavaleiro andante
Nos meus olhos ainda hoje se lê
O sonho todo em retalhos
que embora por atalhos
surgem no pensamento a cada instante.

No peito palpitavam meus seios
Por baixo da blusa de organdi
Logo as tuas mãos sem freios
Os desejavam para ti.
Não sabes! Que podes saber?
Da hora entre a noite e o dia
Em que eu como pássaro caía
Enquanto era teu prazer.

Levo à boca a chávena de chá
Fico amarrada nestas lembranças
Vou sonhar até depois do amanhecer
Outros sonhos deixei pra lá!
Fecho os olhos alimento esperanças
Que a vida seja sempre este bem querer


Ousamos ainda olhar o espelho!
Onde nos vimos de cabelo grisalho
mas olhar vivo.
Velho?
Para mim, aquele de quem me valho
Por quem o meu olhar está cativo.
Valeu a pena o amor, a cumplicidade
Que num pergaminho escreverei com saudade.

natalia nuno

a beleza da hora...


a memória já se esquece
às vezes aparece como filme sem côr
vai e vem parece um final de amor
perturbada, como que a chegar ao fim,
e lá fico pobre de mim,
um nevoeiro, a cobrir-me a lembrança
por inteiro.
hoje trago a brisa por adorno
e meu rosto fica de prata
mas amanhã dá-se o retorno
e vem a solidão e por dentro me mata.
fico sem entendimento
meus passos perdem-se entre os demais
cala-se a voz velhíssima em lamento
escondendo meus ais.


a memória já se esquece
de tudo tão desprendida,
enquanto o corpo desfalece
tornando difícil a vida.
só o amor, a alma revigora!
já não importa a ruga no rosto
amanhã é outro dia,
dentro de mim trago a beleza da hora,
condenso o que dentro sinto
e a noite me anuncia,
amar mais uma vez, pressinto!
ressuscito as minhas mãos para a ternura
e fico grata com tanta ventura.


natalia nuno
rosafogo

nesta dor sentida...


esmorecem as vontades, o olhar agora baço e a cada passo,
dou conta que as saudades descansam no meu regaço,
o tecido do meu rosto inquietou-se com rugas de cansaço,
no pensamento como que um aturdimento,
e deixei de contestar, os braços sem abraçar,
perdeu-se o permanente sorriso, no meu pedaço de mundo,
nada mais se altera, finjo que não estou à espera,
e quando chegar a hora vou pensar em liberdade,
lembrar as cartas d' amor que escrevi ao homem que amei,
das juras que jurei...
eram então as noites longas e sem sono,
o amor era tentador e ali ficávamos ao abandono...revivo nossos momentos íntimos,
até onde a lembrança me leva,
os sons do amor vêm aos meus ouvidos para encantar,
quanta ingenuidade ainda me vem esperançar,
o pensamento tanto tenta, na coragem perdida, nesta dor sentida,
é a saudade  que sempre me acalenta.

natalia nuno

pequena prosa poética...


Cá estou de novo, vou acender a lareira, fazer a reconciliação com o tempo e deixar-me engravidar de saudade, lembrar daquela lareira pequenina onde me sentava a comer as minhas migas de café... depois dum dia frio mas ensolarado onde me deixava baloiçar ao sol... horas a fio... faço uma pausa, recomponho-me, aqui não há cheio e nem vazio, calor ou frio, há sómente uma torrente de recordações, que se vão desmoronando com o caminhar já longo...sardinheiras em flor, águas que me falam de amor, papoilas de abraços, que ainda me seguem os passos, e tudo tem uma razão e tudo faz ninho no meu coração...visto-me de auroras, agasalho-me nos poentes, e assim as horas passam-me indiferentes, vêm as rolas, as cotovias, e os melros pousam nas malvasias, oiço as enxadas de sol a sol, e morro no tempo a saber-me viva, afrouxam os dias... correm os dias, e eu semeio versos...crepita a saudade da terra e do pão e em mim cresce a solidão....

natalia nuno

para onde fugiu meu sonho?


permita Deus que meu sonho acorde
volte de novo a mim
e talvez eu me recorde
nesta vida ao que vim.
na minha alma há fantasmas
os sinto a qualquer hora 

vem sonho meu,
- não me pegues de surpresa!
a saudade a mim aflora 
minha tarde já se apaga 
de mim já me perco agora,
a vida ficou sem beleza.

para onde fugiu meu sonho? 
meus olhos são como rio,
passou o tempo risonho
a vida está por um fio!

teimo em manter-me viva
como a força das marés
queira Deus que eu sobreviva
e feliz volte a sonhar
corpo e alma, 
felicidade de lés a lés
com a grandeza do mar.


natalia nuno

saudade que amanhece...


há luas que nos entram casa fora
nas noites em que a gente quer amar
abre-se a janela àquela hora
descobrem-nos nus, os raios de luar,
e eu fico a pensar?!
tantas noites demoradamente doces
- como é bom recordar!
há ruídos que nos afagam
para lá do tempo, nem sabemos de onde
já todas as luzes se apagam
é a hora a que o sol se esconde.
já não lembro que me dizias
nestas noites ao ouvido,
foram noites, foram dias
tantas como as rugas, que hoje
no rosto fazem sentido.
nas noites albergamos o nosso amor
éramos felizes e eu não sabia quanto,
lembro só do pudor
e mais tarde, como me atrevia tanto!
somos amantes consumidos na nossa 
própria fogueira 
e hoje entra p'la janela a tristeza
a saudade deita-se ali à nossa beira.
já não há luas nem raios de luar,
nem o ruído do nosso amar,
vagueia a saudade nos trilhos da memória
e traz-nos recordações das noites vivas
de glória...
tínhamos a vida toda para viver,
tudo o que nos resta são sonhos com sabor a luar,
são muitas as coisas que eu não sei dizer
o que sei da vida e da morte, 
é que uma passou a correr
e a outra está pra chegar...


natália nuno
pode ler mais aqui...............https://nataliacanais.blogspot.com/

saudade que amanhece...


há luas que nos entram casa fora
nas noites em que a gente quer amar
abre-se a janela àquela hora
descobrem-nos nus, os raios de luar,
e eu fico a pensar?!
tantas noites demoradamente doces
- como é bom recordar!
há ruídos que nos afagam
para lá do tempo, nem sabemos de onde
já todas as luzes se apagam
é a hora a que o sol se esconde.
já não lembro que me dizias
nestas noites ao ouvido,
foram noites, foram dias
tantas como as rugas, que hoje
no rosto fazem sentido.
nas noites albergamos o nosso amor
éramos felizes e eu não sabia quanto,
lembro só do pudor
e mais tarde, como me atrevia tanto!
somos amantes consumidos na nossa 
própria fogueira 
e hoje entra p'la janela a tristeza
a saudade deita-se ali à nossa beira.
já não há luas nem raios de luar,
nem o ruído do nosso amar,
vagueia a saudade nos trilhos da memória
e traz-nos recordações das noites vivas
de glória...
tínhamos a vida toda para viver,
tudo o que nos resta são sonhos com sabor a luar,
são muitas as coisas que eu não sei dizer
o que sei da vida e da morte, 
é que uma passou a correr
e a outra está pra chegar...


natália nuno
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