RadyrGoncalves

Conversando com a Lamparina


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Conversando aqui com uma lamparina:

- Poucos te usam...

A chama preguiçosa aponta o céu...

Desejava ser vulcão,

Viajar para ilha de Pascoa,

Soletrar palavras russas,

Transar em campos de alfazema...

Estou morrendo, menino...

Meu óleo já se dissipa...

Meu coração bate fraco,

Já tenho asco da vida...

E eu...

Pretendia vender o Brasil,

Capturar um extraterrestre,

Trabalhar de caça-fantasmas,

Aprender a escrever poesias,

Engendrar barquinhos de papel...

A luz chegou à choupana, rapaz!

Ninguém mais me usa...

E aquelas moças sem blusas lutam pelo quê?

E eu lá sei...

Eu luto por terminar um poema,

Por pequenos dilemas,

Por contos sem lemas,

Novelas sem temas,

Por uma branquidão de ideias descabidas...

Pelo pão, pela sandália, pela bebida...

Mas saiba, lamparina,

Toda e qualquer luta é em vão...

Ops! A lamparina apagou-se...

Vou lá conversar com o sabão...

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Radyr Gonçalves

In A Poesia Radyrniana

Natal, 19 de outubro de 2015