raiane_paiva

domínio


o vermelho enrubesce a face. sinto o cálice do seu hálito entrando por minhas narinas. junto com ele, o anil da sua boca, vacilante e quente, em um ritmo próximo dos polos nórdicos do meu país. carrego a pressão do seu peito no meu. e como se quisesse ele sempre ali, puxo você pra mim, em todos os versos da minha boca. não deixo vociferar uma única palavra, que não sejam as minhas.

entardecer das frutas


te dedico. de todos os meus pensamentos, mais especificamente 90% deles. no clarão da manhã, ao entardecer das frutas. costumo baixar horas a fio de um punhado de letras formosas pra te cantar. volto ao disco da nossa música, tão linda como a dobra do seu sorriso. posso sentir as notas quentes entrando em meu ouvido. ouço um suspiro. um dó sustenido. era a nossa melodia, de todas, a predileta.

pratos


Os pratos rolam soltos,

Quase caem ao malabarismo poético,

Com eles vem alguns presentes,

Daqueles que enchem o bucho e enchem a gente,

Mas também tem dos limpos,

Quase anjos, vejo os veios reluzentes amarelos incandescente,

Um prato nunca foi bonito assim,

Mas agora, por ora, é o que tenho,

Prato de gente, prato de garçom,

vejo vários deles assim,

Brancos por si só, cheios de gente.

Diabra


Num vento se ventou a ventania, dos teus passos e compassos, todo vento harmonia, com delicadezas e frescor te convida pra soprar, no teu sopro, no meu sopro, o vento, venta sem parar. Com vento se venta toda alegria e augúrios quiçá, quero vento no meu dia pra alegrar o meu diabra.

borda do pão


Numa padaria se encontra gente de toda gente. Gente com bochechas redondas e quadradas, gente que é taciturno e tá ali só para comer um bico de café pingado, gente de voz alta e sorriso servente. Também tem o pão na chapa, meu preferido, ainda mais quando se serve o extra requeijão. Só acontece injustiça quando não tem abundância, abundância de fazer transbordar a borda do pão.