ricardo de sá

Sedução




Degraus direcionam
e conduzem ao jogo.
As paredes guardam
o trono dourado do imperador.
Labaredas revelam a beleza
perversa da moça no leito
reservado ao coito e
tão esperada na madrugada
iluminada pelo farol do desejo.
Sob nuvens e névoas
e da consciência do amor traído
o mesmo que não resiste
ao cetim sob os rijos seios
desnudos à sombra da noite.
Corpo banhado em vinho
sangue do amor
cujo fogo arde
nos lábios lânguidos
onde no leito que aprisiona
os corpos na alcova
o falo encontra o abismo
onde desaparece e surge
aos prantos provocados
sob olhares da volúpia
diante das vestes soltas
no silêncio quebrado
pelos suspiros da serpente
saída das trevas e que reina sobre nós
trancados na redoma lançada
sob estilhaços ao chão;
nus, rendendo-se ao prazer da carne
sob véus coloridos
banhada em sangue branco
cedendo a dança que insinua
a viajem ao reino passageiro
sob a escolha da paixão que domina
sem deixar dominar a luxúria
presenteada pela divindade em silêncio.



Efêmero




A beleza
que de tão bela
não resiste ao tempo.
A face se desmancha
da forma divina
aprisionada na memória.
Os deuses zombam
da existência na terra
doa-nos a adaga
que põe fim a tudo que és...
Eis a profecia
no balbuciar das palavras
do ancião.
O fogo, o vento faz alastrar-se,
leva com ele sonhos
repletos de suspiros e lamentos
no doce brilho dos lábios
o olhar embebido de êxtase
aprisionado na bruma ao luar.

Devaneios



Eu me sentia um pouco
as ondas do mar da marambaia.
Deslizando em teu corpo alvo
como aquela bruma
nos finos cabelos soltos
pelos caprichos do vento.
O mesmo que soprava o coqueiro
que rijo envergara
imitando o desejo contido
sob as ondas da marambaia.
Ainda, que escorrendo teu corpo
aquele ponteiro envolvendo a estrela nua
adormecida na areia,
entre conchas formadas nos seios
apontando o horizonte em devaneios
o olhar navegando
em um solitário barco
lutando contra as ondas
revoltas do pensamento.





Komba




Caminhando por Serra Leoa
meus passos transmitiam
a todo o resto do meu corpo
uma certeza absoluta.
Caminhei, caminhando resoluto
com pernas autênticas,
do meu sangue percorrendo minhas veias
certo de ir e não voltar.
Mas, a dança dos sete dias
estava próxima, ouvia ecoar o canto
e logo à frente, tombei;
olhei para traz um rastro
que não era o meu caminhar
e, vi um vazio nos olhos do homem.
Não demorou - continuei
meus passos sombrios
caminhando sobre o frio metal
que agora me conduz
nas cerimônias das cicatrizes
que me acompanham
nas noites incertas.

Sentimento




Sentimento
palavra que anda no tempo
que às vezes foge ao relento
em busca de um amor.
Quase sempre pedindo
suplicando não estar só
sempre batendo a porta do coração
no entanto, não é desejo, passatempo
ou outra coisa qualquer
no fundo das horas vagas
em que olhamos o fundo da taça
vemos a imagem sóbria
em fuga da solidão
vagando no pensamento
o sorriso de uma mulher.