Rômulo Luna

Soneto de inspiração


Um dia eu hei de encontrar um verso
Que te descreva e que me conte
Toda a grandeza e a candura da tua fronte
A furtar toda beleza que há por perto.

Quero ler-te, assim, em noites ausentes,
Nos meus lençóis de seda alva
Que guardam o cheiro da tua alma
Para suprir a falta da tua pele quente.

Gritá-lo-ei, por fim, aos cantos do mundo
Para encantar a todos e tocar no fundo
Do peito que soluça tão distante de mim.

Se mesmo assim, não for bastante forte,
Escrevê-lo-ei na pele, como um corte,
Para que eu te tenha comigo até o fim.

Rômulo Luna

Auto-explicação


Ser poeta é ser um ser meio absurdo,
É ver no peito as sensações do mundo
E, ao mesmo tempo, nunca poder tê-las;
E no enganar dos olhos, é sê-las.

Suas palavras o tornam intocável,
Inelegível, angustiado, indecifrável;
Ao mesmo tempo em que o simplifica
E torna fácil explicar as outras vidas.

Ao que promete é posto que se cumpra,
Nem que para sempre carregue consigo a culpa
De descrever, de novo, um adormecido sonho.

Pois some aos poucos na penumbra branca
A acender nos outros a sua chama
Que pulsa solta em seu desvario pronto.

Rômulo Luna

Parceria


Quem te encanta, passarinho, para que cantes o dia inteiro?
Quem plantou a calma no teu peito que te instiga e faz compor?
Se é ela, a tua dama, que inspira esse teu jeito,
Ensina-me a ser passarinho para que eu cante ao meu amor.

Se te calas ao cair da noite com a desculpa da escuridão,
Não te culpas, pois na tua falta, eu canto a lua que vem a nascer.
Bem de manhã eu te devolvo as nuvens e o clarão,
Já que o meu amor, no horizonte, acabara de morrer.

Canta, canta, passarinho, para que eu também possa me encantar.
Canta a vida e o seu brilho, que as minhas dores eu sei cantar.
Volta para casa, passarinho, que a tua ausência só me mata.
Sem tu, quem vai cantar todo o carinho que eu guardei de quem me amava?

Rômulo Luna