Sirlânio Jorge Dias Gomes (R)

Flor de lótus


Um lodo sem beleza aparente, 
Surge iluminada na áurea mística do sagrado, 
Elevando-se  em sua majestade natural, 
Inundando de beleza os olhares mais céticos. 
Das trevas à luz em primavera preciosa, 
Exala de si o encanto em poesia perfumada, 
Aos olhares diversos em admiração, 
Encantando os corações meditação silenciosa. 
A natureza se revela em estado de graça, 
Ditando emoções em simplicidades tão castas, 
Uma joia orgânica transcende o inescrutável, 
Ofuscando o brilho do diamante mais raro. 
O criador em sua obra incomparável, 
Fez em segredo uma poema espiritual, 
Soprou no ar lançando as sementes de lótus, 
Que trazia em si um grande sinal; 
A luz em forma de flor.

Sirlânio Jorge Dias Gomes

Colóquio


Lá fora há um dia insolente,
Coisas demais sob o céu,
Incongruência de mim,
Metáforas disformes do medo,
Expressões indecifráveis,
Furtiva banalidade da dor.
Ludíbrio da vida?
Queria abraçar as estrelas,
Sentir o infinito que surpreende,
Gritar bem alto,
Acordando o meu universo.
Me vejo na multidão,
Me fundindo ao caos invisível,
Ao poder mortal,
Em meio a olhares dispersos,
Num breve silêncio do outro lado.
São tantas paradas imprevistas;
Bifurcações do destino,
Que mais cedo ou tarde,
Nos revelará o segredo.
Sigo em frente,
Entre bons e maus momentos,
Lendo as memórias impressas,
Discrepâncias de um longo tempo,
Entre pedras,espinhos e flores,
Matéria prima de várias pontes,
Do meu mundo indizível.

Completude


Em teu olhar,
Percebi desabrochar a flor,
Pétalas sorridentes perfumadas,
Da luz emanada do teu ser,
Que misturada as minhas lágrimas,
Versejou um arco íris de felicidade.
No silêncio amei o seu desejo,
Respiração a embalar tua voz,
Música dos teus lábios irrequietos,
Serenando minh'alma enamorada,
A desenhar teu corpo no meu,
Visão platônica dos meus sentidos.
A tua partida se fez saudade,
Ansiosa recordação de si,
Ensejo cálido do tempo,
Ao meu coração carente.
Cativa memória desperta,
Beleza em ti adorável vela,
Este poético desvelar do amor,
Entre as sementes da noite,
A germinar entre as manhãs,
Perdidamente em teus braços.

Conexão


Eu fecho os olhos,
Meus ouvidos se abrem,
Então ouço a canção dos teus lábios,
Chamando meu nome ao te amar,
Tudo é tão intenso,
Que esqueço de tudo,
Me uno ao universo,
Me reinvento no tempo,
Na sintonia do teu querer.
As batidas do teu coração,
Inspira o melhor de mim,
Esta certeza do que sinto,
De tudo nesta unicidade,
Infinda página de emoções,
Entre as estações da vida.
O teu sorriso espontâneo,
Dá o tom em nossas diferenças,
Imperfeita complexidade dos sonhos,
Caminhando conosco,
Entre o despertar e o anoitecer,
Enquanto a maturidade nos molda.

Teu olhar



Ao teu olhar meu coração se aquece, 
Fogo que minh'alma incendeia, 
Abrasar contínuo de tal afeto, 
Que não se acaba com a morte, 
Consorte de amores de afago finito, 
Memórias da eternidade, 
Joia do amor padece. 

Ao teu olhar, 
Basta-me o teu querer, 
Solene confissão da intimidade, 
Segredando a beleza, 
Desta existência em vendavais, 
Imitando a serenidade das coisas, 
Nos ventos incompreensíveis. 

Ao teu olhar me encontro, 
Reinvento-me feito poesia,
A cada verso afeito em sonhos,
Em seus paralelos humanos, 
Premissas dos borbotões da vida,
Descalços pelo caminho.

Sirlânio Jorge Dias Gomes(R)

Querubin


Argêntea luz beija o ocaso,
Escol vívido a flor germina,
Notívagas sementes quiméricas,
Efêmero perfume paira,
Ameno arrebol flutua.
Vai a brisa peregrina,
Vestida de vento divino amor,
Imitando a voz das ondas,
No perene mar da eternidade,
Olhar invisível de um sorriso.
Venerável criança brinca,
Imitando alvas estrelas,
Serena lisonja celeste,
Escutando o infinito,
Aspirações da alma enleva.

Vitrais


Há tanta vida na vida,
Que chega doer o existir,
Quando os olhares se tornam cegos,
Emoções supérfluas,
Nos corações empedernidos.
São tantos sábios,
Que a sabedoria se fez muda,
Observando o tempo,
Prantear os seus mortos,
Em seus últimos discursos,
Engasgados em suas palavras.
Há tantas sementes sem chão,
Árvores daninhas,
Que a natureza geme em silêncio,
Perscrutando as raízes mais profundas,
Em busca de esperança.
Há tanta gente lá fora,
Desejando um pouco de amor,
Enquanto quem os tem não sabe de si,
Beijam o vento na noite mais fria,
Abraçam a tormenta em suas almas,
Enamorando-se da arrogância que os consome.
Há tantas cores sem aquarela,
Tantos céus sem nuvens,
Noites sem estrelas,
Que a beleza se aquebranta,
No mais longíquo desejo de felicidade,
Observando os avaros em seus reclames,
Os que não tem clamando de fome,
Da caridade, do abraço e da amizade,
De comida do mais simples gérmen;
Amor entre as gentes.

Preâmbulos


Quem me compreende?
Onde estou neste caos?
Estes monstros do meu eu,
Adormecidos entre gemidos,
Vulcões da alma sangrando o corpo.
A vontade assalta a liberdade,
Sufocando-a em seus grilhões,
Invisíveis desafetos da personalidade,
Guerreando entre os fantasmas do tempo,
Devoradores de sonhos e felicidade.
Onde está aquilo que preciso?
Pode estar em qualquer lugar,
Na sensata visão do mundo,
Que me permito ver,
Além das sombras do mal aparente,
Caminhos vazios da fúria.
Onde estãos os verdadeiros amigos?
Devem estar procurando os seus,
A buscar respostas no infinito,
Na finitude de si mesmos,
Trazendo nas mãos,
Seus candeeiros da vida,
Esvaindo-se entre a razão,
Embriagada em seus destinos.



Beijo


Beijo o amor em teus lábios,
Céus asas do desejo,
Ocluso olhar confidente,
Corpo em delírios,
Voando em pensamentos,
Íntima alma afagada,
Suspirando delícias,
Beijo o teu querer,
Ardente afeto idílico,
Sussurrando intensidade,
Meneios do coração,
Vislumbres difusos,
Afagos da paixão eclodida.

Segredo


Vejam os astros celestes,
Quanta poesia sob seus segredos,
Cantigas de amor,
A luz da lua,
Ao som das águas dos rios,
Das ondas do mar,
Do canto dos pássaros,
Infinidades de versos,
Nos lábios confessam,
Aos corações encantados,
De alma arrebatados,
Num canto todo seu.
Passam as nuvens despercebidas,
Na solidão da noite,
Se encanta com os sonhos,
Que o vento testemunhou,
Contou à lua e o sol,
No alvorecer cheio de confidências.

Abra a janela


Abra a janela,
Veja o mundo invisível,
Rodeado de medo e caos,
Sorrisos mudos de contrastes,
Precipício de almas fúnebres,
Beijando a vida em borrões.

Abra a janela,
Há muito além das nuvens,
Jardins floridos em desertos,
Aridez de belas flores,
Travestidas de anjo da morte,
Na loucura de um pensar.

Abra a janela,
Ouçam os ventos,
Os poetas cantam,
Imitando a brisa leve,
Plagiando a tempestade,
Feito artesãos da vida,
Versando o imperceptível.

Abra a janela,
Sempre que precisar,
Siga o olhar,
Não se perca na cegueira,
Desejos surgem e se vão,
Igual o dia e a noite,
Surpresas da vida,
Elos inexplicáveis.







Propósito


Epopeias os ventos trazem,
Em suas asas de lugar incerto,
Desígnio aos olhos,
Abrigo de um deleitoso maná,
Estes cartapácios que chegam de lá,
Erudito pouso eminente dos versos,
Substancial segredo refúgio.
O encanto desabrocha em páginas,
Ápice adorável peregrino,
Atalhos de emoções,
De sentenças alusões.

Polimorfia


Gira o ponteiro do relógio em sua toca,
Invisível e real celeiro de ferozes seres,
Alados, decapitados, amordaçados,
Ilustres moradores do tempo,
Abraçados aos seus cadafalsos,
Amontoado silêncio gélido,
Ilustrando os pálidos tesouros,
Abrigando criaturas infestas.
Funesto caminho irrompe a alma,
Assaz perdida no tempo,
Redemoinhos de fantasmas,
Atemorizando suas fiéis imagens,
Com seus gritos enfadonhos,
Gruir da infinda morte,
Sob asas do pesadelo,
Ambíguos infernos,
Aos olhos de quem os criou.
Ao longe a canção sidérica,
Se faz ouvir no mutismo dos mundos,
Vibrações de plasmas quiméricos,
Recriando submundos indefinidamente,
No imenso caos da casualidade,
Onde os infernos se fundem,
No desalinho de cada vontade,
Consentido querer ao livre-arbítrio,
Condenado desejo decaído,
Sob o contínuo girar do ponteiro,
Em suas portas exequíveis.

Signatário


Quem sou ao cair da noite?
Quem sou ao alvorecer?
Ainda que eu pense,
Sigo sem saber para onde,
Na direção do livre arbítrio,
Este caminho de provações,
Que todos os dias sigo,
Ao pensar na morte,
Finjo não ter medo,
Entre as trocas da vida,
Minha humanidade treme,
Este animal selvagem,
Preso em sua própria fúria,
Desconhecido em si mesmo,
No confuso pensar,
Inúmeras interpretações,
Deste eu em rebeldia.

Primazia


Em toda minha vida,
Pela primeira vez,
Vejo de modo claro,
As flores desabrocharem em meu jardim,
Percebendo o quanto eu te amo,
Beleza vertente do seu sorriso.
Eu me vejo em sua alma,
Reflexo de nossa vontade manifesta,
Emoções sob emoções,
A nos conduzir em plenitude,
Profundo desejo,
Construído no fogo das provações.
As batidas do meu coração,
Seguem o ritmo de sua cumplicidade,
Sei o quanto és importante,
Nesta ponte construída,
Com as pedras colhidas,
Ao longo do caminho.
Atravessamos os vales perigosos,
Com nossas mãos entrelaçadas,
Abertos aos desafios do amor,
Nossas vidas em busca da felicidade.

Apego


Afeição terna afago,
Versos perenes enlevo,
Desejos em pétalas,
Amada flor perfuma,
Asas do amor,
Plácida alma inebria.
Amado amor bendito,
Faces de mim em ti,
Enredado afeto aporta,
Ao resoluto cais infindo,
Beijando o distinto mar,
Cujos lábios me veleja.
Sou amor do teu amor,
Puro desvelo do céu,
Casto idílio das nuvens,
Imitando meus pensamentos,
Ao buscar-te no vento,
Leme dos meus encantos.


Solidão


Hoje meu dia está em luto,
Estou sem você,
Não posso ouvir a sua voz,
Não poderei sentir o teu abraço,
Sentir teus lábios nos meus.
Não demore a voltar,
Acabar com este tédio torturante,
Não sou completo sem a tua presença,
Saber que estás tão longe,
Faz de mim um pássaro sem asas.
A noite será longa,
Ao saber que não estás,
Aqui neste quarto frio,
Distante do calor do teu corpo,
Todo instante desejando o seu retorno,
Sentir o calor deste amor incontrolável.
A saudade é tanta,
Que te vejo em todos os lugares,
Ouvindo sua voz em cada canto,
Chamando por mim em meu desejo,
Sorrindo e convidando-me para uma dança,
Enquanto me dou conta da sua ausência,
Esta sofreguidão louca,
Que me arrebata a memória,
Levando-me até onde se encontra,
A razão deste amor tão grandioso.

Audácia


Esta prosa distante da vida,
Ádito de um amor tão tímido,
Que de tanto feitiço,
De temor me espanto.
Vai a poesia em seus ensaios,
Permeando a ânsia dos sentidos,
Do seu amor não meu,
Nuances paixão inócua,
De mim que deseja amar.
Tétrica existência me inflama,
Neste folhetim sem tramas,
Que talvez em grata sorte,
Haja engano e me ame,
Me deixe adorar,
Prosaica sorte clamo,
Que em mim a solidão se acabe,
Morrendo em teu belo sorriso,
Sem hesitar aos teus braços,
O amor me encontre além do mar.

Sirlânio Jorge Dias Gomes

Plágio do amor


Andam por aí,
Dizendo que amam,
Como se amar fosse,
Embriagar-se dizendo tolices,
Delírio dos insensatos.
De tanto amar,
O amor tornou-se tolo,
Nos corações infestos,
Repletos de monólogos,
Vazios em si ,
Ao primeiro gozo.
Amores de todos os tipos,
Perfídia funesta de estranhos,
Marionetes do corpo em desalinho,
A moldar emoções inseguras,
Cumplicidade de momentos,
Feito nuvens num dia de chuva,
Que o vento leva aonde desejar.
Muitos amores se tornaram órfãos,
Se tornaram túmulos,
Muros intransponíveis,
De uma tristeza sem fim,
De nomes infinitos,
E corações esquizofrênicos.

Inanidade


O dia desliza por entre as nuvens, 
O sol vai cortejando a lua, 
Beijo diáfano de lábios reluzentes, 
Declamando estrelas invisíveis, 
Interlúdio perene dos astros, 
Memorável poesia celeste. 
Regressa a noite confidente, 
Desabrochando os sonhos, 
Bailando cerimoniosa no infinito, 
Orbe fantástico sobre faces incendidas, 
Tênue viagem ao decrépito sentir. 
As paixões cálidas alegóricas, 
Acenam ao platônico amor, 
A flertar a fidelidade melancólica, 
Que enrubescida ao caprichoso afeto, 
Canta ao vento suas memórias, 
Lírica melodia de tons aturdidos. 
As vozes reprimidas silenciosas, 
Ecoam enigmáticas nas trevas, 
Lamuriando o volúvel desejo, 
A gemer em suas voláteis aventuras, 
Seduzindo a dúbia vontade consentida, 
Ao lúgubre abraço excitado. 

Vestígios


Gritei teu nome em silêncio, 
Muitas noites tentando entender, 
Porque nos perdemos apaixonados, 
Tantos momentos juntos, 
Sepultados no esquecimento, 
Perfumado pela dor da saudade. 

Tantos olhares entre sorrisos, 
Céu azul confidenciando sonhos, 
Noites desenhando sabores, 
Gestos em promessas corporais, 
Tudo se foi num piscar de olhos, 
Deixando apenas a tempestade. 

Lugares cintilantes na memória, 
Detalhes de uma linda história, 
Pincelados no quadro da vida, 
Agora borrado pela angústia, 
Diante de uma música triste, 
Dançando ao vento da recusa. 

Quantas vezes não me ouviu, 
Nem se quer enxergou-me, 
Tornei-me invisível ao seu descaso, 
Este incansável mundo de enganos, 
Que friamente sangrou-me, 
Enclausurando-me ao amor.


Sirlânio Jorge Dias Gomes

Sem fronteiras


Corpos fustigados,
Em suas cores assombrados,
Mutilados em suas dores,
Em discursos abstratos,
De promessas inexatas,
Nas exatas compulsões,
Do ser em seu decurso,
Concussões de feridas soturnas,
Em fronteiras taciturnas,
Versos melancólicos invisíveis,
Subindo aos céus de matizes absurdas,
Estas orações escarlate,
Disparate em corações tolhidos,
De sua liberdade obstruídos,
Destituídos de sua nacionalidade,
Cuja honra o deus da guerra tragou,
Na feroz batalha das almas enegrecidas,
Em suas lutas interiores,
Farpas de horrores exteriores,
Nas razões mórbidas dos senhores,
Em seus tratados infernais,
Lodaçal envolvente nas mentes frias,
Confraria de gênios maledicentes,
Gente entre as gentes,
Espalhando sementes do medo,
Mortal enredo do mundo,
Sepultado antes de morrer,
Nas confabulações do caos,
Em trincheiras de vento.

Singularidade do amor


Amar é se reinventar,
Amar a si na liberdade do outro,
Igual as flores no campo,
Em seus tons díspares,
Castas em suas criações.
Amar é redescobrir-se,
Cobrindo-se de finitude,
Sem medos e culpas;
Amar é ter esperança,
Desvendar novos caminhos,
Na imensidão da eternidade;
Num indagar contínuo,
Nos mares da incerteza,
Sob a tempestade do ser.
Amar é deixar seguir,
Esculpindo sonhos ao horizonte,
Dialogando com a solidão,
Flertando com as estações,
Enquanto o eu se enamora,
Em seus beijos utópicos.
Amar é infundir-se,
Murchar e reflorescer,
Após uma longa estiagem,
Onde a alma ignota,
Sepulta o pranto sombrio,
E se aconchega ao sorriso.
Amar é ser singular,
Ascender-se no imperfeito,
Acreditar no impossível,
Dar a mão ao amor,
Deixá-lo em seu coração,
Traduzir a vida em minúcias.

Casual


Lembro-me do olhar,
Foi simples,
Mas inundou-me
De repente,
Vi-me em teus braços,
Absorvendo os teus beijos,
Desejando o desconhecido,
Na exata paixão de nós dois.

Letargia


Aonde vais animal indômito,
Nestes passos letais,
Vociferando insanidades,
Beijando a obscura morte,
Nos vendavais da alma?

Não sabeis vós que sois de carne?
Que a dor inflamada em si,
Subjuga o vossa espírito,
Da liberdade a consciência,
Até os confins do universo?

A ignorância que o anima,
É a ponte do teu desfortúnio,
Brasas queimando a boca,
Grilhões que o assaltam,Do amor que profanas.

Aonde vais nesta louca humanidade,
Absorto em delírios mortais,
Fardos agonizantes em seus vícios,
Sufocando o juízo em seus ditames,
Abortando o ser em vendavais de ira?

Aonde vais.
Por não compreender,
Sem perceber o ser,
Em suas dimensões transitórias,
Em sua finita história,
A Nossa imagem e inconstância?

Inclinação


A razão que te encontrei,
Foi meu olhar em teu olhar,
Que sorrindo me libertou,
Fez meu rio desaguar no teu mar,
Oceano de desejo unido ao céu,
Supremo horizonte do amor.

As intenções amou a avidez,
Destino preciso do meu refúgio,
Este coração abrasado de afeto.

Admirando a noite te percebo,
Em cada brilho de uma estrela,
Certo que pela manhã,
Teu beijo iluminará meu dia,
Desabrochando as flores matinais,
Do nosso horto de encantos.

Amor de Outono


Amar-te é um labirinto,
Em nossas verdades íntimas,
Cúmplice liberdade assentida,
Entre nossos lençóis confidentes,
Juras de amor incendidas,
A rebuscar na paixão infinidades.
O verão se despede calmamente,
Mas nossa intensidade flameja,
Acariciando o outono que nos fascina,
Em longas noites de cortesia,
Indefinida melancolia,
Afagada pela beleza etérea,
Que vertem dos teus agrados,
Estes ensaios fogosos,
A cortejar o inverno;
Enquanto pela janela,
Já saciados em nossa volúpia,
Poetizamos o cair das folhas,
Em seus balés idílicos,
Feitos nossos corpos em sintonia.

Sentido


Poesia é a composição de si no outro, 
Esculpindo pensamentos de todas as cores, 
Duas coisas que n'alma se revela, 
Beijando a humana flor das emoções, 
A transpor o infinito das palavras, 
Realidade constante de sentimentos, 
Resvalando o lume da imaginação, 
Instigando a natureza enfermiça. 

Poesia são laços que se unem, 
Mosaico de ideias a refletir sensações, 
Maquiagem do abstrato nas mãos do artista, 
Êxtase da verdade retratada no silêncio, 
A dar vida ao que antes adormecia, 
Beleza diversa revestida de invólucros, 
Viajando entre o tudo e o nada, 
Aos olhos que tudo veem e nada percebe. 

Poesias são alegorias divertidas, 
Enigmáticas generosidades assentidas, 
Transmutando labirintos na mente louca, 
Dando vozes aos mudos falantes 
Visão aos cegos que tudo vê, 
Vagando nas inconstâncias da vida, 
Subindo as escadas do tempo, 
Pleiteando a imortalidade. 

Sirlânio Jorge Dias Gomes

Conflito


As pétalas das flores caem,
As folhas das árvores também,
Os sentimentos também um dia partem,
Seja pelo corpo ou pela alma,
Ou quem sabe na separação das duas coisas,
No mistério profundo da eternidade,
Nos seus fins e recomeços.

Seguimos até onde nos foi dado conhecer,
Jogos da vida e da morte,
Em suas múltiplas explicações palpáveis,
Desafiando o paradoxo da existência,
Com nossas manias humanas,
Repletas de eufemismos estranhos,
Ao grato prazer dos ouvidos.

Existe mundo demais nos mundos,
Tanta gente sábia por estas paragens,
Que a ignorância tornou-se verdade,
Nas inverdades do seres irredutíveis,
Regurgitando suas intempéries viciantes,
Feito animais descontrolados,
Tropel de loucos com seus poderes.

Sirlânio Jorge Dias Gomes

Aleivosia


A chuva cai lá fora,
Imitando a minha tristeza,
A lavar meu pesaroso coração,
Arrancado do peito,
Pela aflição do infiel amor,
Que sem piedade,
Vestiu-se de tempestade,
Desabou sobre mim.
As rosas que eu trazia,
Despetalaram-se pelo tremor,
Das minhas mãos impetuosas,
Fracas e arrependidas,
De ter tocado a infelicidade,
Nas juras maliciosas,
De quem prometeu-me fidelidade.
Ainda é cedo neste açoite,
Onde sangro em minha dor,
Ataviado de amargura,
Lutando contra os monstros,
A devorar minha carne,
Neste pesadelo,
Enquanto não amanhece,
Em meu espírito em trevas.

Ventura


Entreabriu-se plenamente ao meu coração, 
Deu-me o olhar guia do meu desígnio, 
Cultivou minha alma no amor, 
Alimentou-me com os frutos do desejo, 
Desnudou-me da tristeza injuriosa, 
Florindo as delícias do sentimento, 
Além do que pude imaginar. 

Meu mundo se refez ao seu toque, 
Meu riso chegou ao céu, 
Depois de tanto tempo de penumbra, 
Tudo isso é felicidade em mim, 
Beleza grandiosa que me encanta, 
Poetizando a vida revivida, 
Depois do meu funeral. 

O sol está brilhando depois da tempestade, 
Finalmente posso plantar a semente, 
Ver brotar a árvore da vida no meu jardim, 
Regá-la toda manhã com a esperança, 
Vê-la crescer enquanto aguardo a despedida, 
Adormecer junto dela sem medo, 
Acordar no paraíso sabendo que valeu a pena ter vivido. 

Sirlânio Jorge Dias Gomes 






Desafogo


Última projeção da fantasia,
A luz do palco se apaga,
Levantei os olhos,
Mirei timidamente as estrelas,
Há um outro lugar,
Entre as estações,
Álibi perfeito de mim,
Neste tempestuoso sentir.
Do lado de fora a viagem termina,
Aparência de duas distrações,
Fúria intacta da ilusão,
Neste inverno doloroso,
No frio beijo deste desalento,
Na penumbra de minha face.
Não há ninguém na rua,
Neste lugar sombrio,
Esquinas ignotas,
Entre sombras silenciosas,
Negro da noite,
Em súplicas estigmatizantes,
Do grito do amor imortal,
Nas plagas da perfídia.

Je t'aime


Te amarei,
Infinitamente,
Na verdade do teu olhar,
No amor sorrindo em tua face,
Como se fosse a primeira vez.

Te amarei,
Na tua fidelidade,
No seu desejo
No tempo infindo,
Que não nos envelhece.

Te amarei no enamorar-se,
Ao acordar todas as manhãs,
Perceber que ainda me amas,
Mesmo no murchar da juventude,
Que insiste em seu perfume.

Te amarei na imperfeição,
Também no perdão,
Dos desentendimentos da vida,
Que mesmo as vezes doída,
Nos fortalece.

Te amarei todos os dias,
Mesmo na hora da morte,
No meu pensamento estarás,
Pois saberei que te amei,
Levo comigo a rosa do triunfo.

No jardim da luz a plantarei,
Aguardarei o reencontro,
Na vívida esperança da fé,
Fruto da minh'alma cativa,
Liberta em teu querer.

Simetria


Era um dia comum,
Até então igual a tantos outros,
Sentei no meu jardim,
Respirei fundo sentindo a vida,
Tanta pressa em meu peito,
Um pedacinho do paraíso diante de mim,
E só agora descobri num momento de simplicidade,
Que necessitamos de pouco para ser feliz.

Precisamos apenas de um sorriso verdadeiro,
Um olhar singelo diante do mundo,
Estar com a alma sossegada ao dever cumprido,
Observando a vida nas asas do tempo,
Exercitando o amor quando se torna improvável,
Amar tanto neste mundo repleto de caos;
Mantendo a fé na esperança,
Alimentando os sonhos de uma criança.

Um dia jovem sonhei como quem almeja,
Noutro dia velho almejarei como quem sonha,
Ver os filhos felizes com seus filhos,
Percebendo a felicidade dos netos,
Ao sabor de muitas emoções da existência,
Desejando que o mundo não se torne amargo demais,
E que as pessoas vivam de verdade a própria verdade,
Exercendo a caridade do jeito que desejam ser amadas.

Sirlânio Jorge Dias Gomes

Convergente


Vívidos laços de amor atesto,
Alma e corpo vertente,
Eternidade de querer confesso,
De te amar loucamente.

De nós o ocaso reluzente,
Cujo querer em si modesto,
De todo se fez inocente,
Desta pureza fiel gesto.

Repousei na esperança,
Pleno sentir em desejo perene,
Manto imortal da lembrança.

No casto amor sobrevivi,
No tempo estampei,
A alegria de tê-la amado plenamente.

Mefistofélico


Tantas curvas pelo caminho!
Pessoas se agridem sem temor,
Trazendo em seus corações,
Sentimentos inglórios,
Lançando pedras pelo ar,
Enquanto se ferem feridos,
Pela dor em suas almas,
Cheios de si no vazio de tudo.

Medos combatendo medos,
Perdidos nos caminhos da discórdia,
Defendendo-se do desconhecido,
Antes mesmo de serem atingidos,
Fingindo amizade aos amigos inimigos,
Alimentando os corvos no jardim,
Fantasiados de bons convivas,
Imerso de ciúmes invisíveis.

Tantos olhares indizíveis,
Indescritíveis banalidades do afeto,
Bombas relógio da covardia,
Dilacerando a beleza da vida,
Nos estilhaços da indiferença,
Matando os dissemelhantes iguais,
Causa estranha do heterogêneo juízo,
Atrocidade de um mundo decaído.

Há quem diga do monstro voraz,
Sem reconhecer a humana disposição,
Dos demônios silenciosos escondidos,
Mentiras astuciosas travestidas de bondade,
Sementes cruéis da flor da maldade,
Embrulhando a caridade cheia de veneno,
Nos mananciais das intenções ardilosas,
Feito anjo da morte repleto de luz.

A beleza do falso amor entorpece,
Leva ao caos a harmonia das coisas,
Desequilibra o universo que nos une,
Diminui os batimentos da existência,
Fechando nossos olhos ao além,
Retardando a evolução invisível,
Hermético saber do espírito aguardado,
Inconcebível ao injurioso mundo sarcástico.

Sirlânio Jorge Dias Gomes

Concepção


O que parecia simples,
Tornou-se absoluto aos meus olhos,
O teu sorriso despertou minha'alma,
Fez florescer meu desejo emudecido,
Guardado sob a terra estranha do meu medo,
Receio do quebrantado amor,
Há muito desolado pelo engano.

Se existe asas no infinito,
Ao certo buscarei as minhas,
Preciso ser eu novamente,
Voltar a sonhar após o infortúnio,
Saber que foi apenas um lapso em meu tempo,
Onde as pedras sequestraram meus passos,
Máxima pena dos meus hiatos,
Inércia da minha abnegada felicidade.

Deixo no esquecimento minha tristeza,
Me misturo ao mundo das coisas,
Sensíveis razões de uma frágil existência,
Acostumada a sonhos tangíveis,
Ressalvas da minha pávida humanidade,
Relendo o subjacente amor,
Enquanto meus lábios ansiosos,
Aguarda teu primeiro beijo.

sirlânio Jorge Dias Gomes

Simbiose


Abençoada arena da minha deformidade, 
Espelho inconformado do meu eu intimidado, 
Imitando as travessuras da minúscula vida, 
Provocando a insuportável alma, 
Aos pleitos inflamados do medo, 
Rasgando a dor entre laços, 
Cultuando a miserável luxúria, 
Covardia do ser abatido. 

Da altura da minha soberba despenco, 
Flutuando no espaço da mesquinha loucura, 
Vestida de vento debochando do escravo, 
Todo solene em seus nobres grilhões, 
Feito de tudo que é mais precioso, 
Possuindo tudo sem nada ter, 
Rindo da própria tragédia, 
Pronto a abraçar o seu infame destino. 

No meio do caminho grita o nome da morte, 
De braços abertos sem cobiçar as núpcias eternas, 
Galante encontro de mágoa contrita, 
Lançando flores no leito petrificado, 
Sentindo o gosto insentido do fel ultrajante, 
Abissal embriaguez do noivo aguardado, 
Em seus trajes estranhos ao banquete, 
Abstrato conúbio indelével. 

Sirlânio Jorge Dias Gomes


 




Aparência


Quanta escravidão em nós!
Já nascemos escravos,
Escravos de um sistema inevitável,
Que nos aprisiona até a morte,
Escravidão de faces silenciosas,
Acorrentando nossos sonhos,
Poder irônico sobre nossa falsa liberdade,

Opressão sob a égide de um bem coletivo,
Pessoas se ferem em seus preconceitos,
Subjugadas em si mesmas,
Numa intensa prisão invisível,
Encarceradas em suas ignorâncias,
Insana superioridade fétida,
Excremento de mentes doentias,
Escravizadas em seus vícios.

O relógio gira incansavelmente,
Pessoas seguem suas doutrinas,
Trilhando labirintos ignotos,
Buscando refúgio para não enlouquecerem,
Em meio a tanto conhecimento desconhecido,
Alimentando as massas em suas fraquezas,
Enquanto a beleza das coisas murcham,
Diante dos nossos olhos desatentos.

Séculos diante de séculos,
Dos heróis apenas as memórias insistentes,
E a incerteza de algo que até então valeu a pena,
Numa realidade o tempo todo mascarada,
Levando-nos ao grande matadouro social,
Onde a pobreza e a riqueza não fazem diferença,
Somos reféns da natureza cíclica,
Mutando-se ao bem querer da evolução.

Não somos melhores do que a quem julgamos,
Fazemos parte de um imenso quebra-cabeça,
Tão infinito quanto nossa soberba,
Desfilando uma serenidade entediada,
Buscando o tempo todo transpor nossas fragilidades,
De algo que não temos nenhum controle,
Em suas dissimulações convenientes,
Iguais em tudo nesta umbrática humanidade.

Sirlânio Jorge Dias Gomes

Alienação


O que somos?
Olhamos no espelho,
O que amanhã será apenas passado,
Reflexos transitórios de humanidade,
Eus perdidos no subconsciente,
Seguindo a razão em seus surtos,
Tentando a todo custo,
Contrabalançar a vida contingente.

Quem seremos daqui há pouco,
Segundos decisivos nos moldam,
Inconsciente de nossa arrogância,
Frágil certeza ao fim que nos arremete,
Fronteira capciosa da morte,
Entre ávidos olhares anímicos,
Complexo jogo da vida,
Emanando sinais ao ser embrutecido.

Sirlânio Jorge Dias Gomes

Astuto menestrel


Meus versos são vozes de um farsante,
Leal inconfidente artífice de ilusões,
Aleivoso trovador cantando alegorias,
Apanhando pelo caminho de aventuras,
Os inúmeros eus caídos da existência,
Trovejando emoções no céu ansioso,
Atmosfera onírica preexistente.

Dialético jogo o meu ser agrega,
Lançando ao vento falas convergidas,
Postiço sentimento ao espelho,
Abstraído nas causas obscuras,
Imitando a estranha camuflagem,
Imagem das massas ruminantes,
Aduzindo cúmplices de um pensamento.

Delibera o espirituoso zombeteiro,
Palavras em outras palavras mórficas,
Paradigmático enredo entre labirintos,
Sofrendo sem sofrer a dor sentida,
Amando o amor que não se almeja,
Enigmático paralelo de afeições,
Condicionando congêneres disparidades.

Sirlânio Jorge Dias Gomes

Intuito


Há um outro tempo dentro do nosso tempo,
Irônico poder que nos envaidece,
Seguindo com a faca entre os dentes,
Envenenando-se a cada discurso de ódio,
Vertendo silenciosamente entre os lábios,
A penosa morte que nos desorienta,
Quando abraçamos a imortalidade,
Tentando prender entre os dedos as nuvens.

Nossa alma inquieta serpenteia entre orações,
Absoluto desespero da despedida,
Tocando o corpo sob as ondas do medo,
Perdido talvez em olhares lúdicos,
Semblantes ardilosos diante do inevitável,
Buscando a perfeição ao último ato,
Na esperança de que tudo possa ser melhor,
E que possamos partir em paz.

Deixamos aos incautos a rivalidade,
Laços consanguíneos na grande arena da vaidade,
Perdidos entre o poder,
A estampar suas faces assombrosas,
Como quem vê as faces de um santo,
No espírito de uma serpente dissimulada,
Repletas de mortais sentimentos,
Enquanto arde em ambição.

Sirlânio Jorge Dias Gomes

Trajetória


Acordei bem cedo,
Na boca um gosto amargo,
Muitos pensamentos rondando,
Nesta vida cheia de adjetivos,
Bordões da alma em farrapos,
Delirando-se na comédia da existência,
A rodopiar, assoviando para a morte.

Sirlânio Jorge Dias Gomes

Atitude


É como se eu estivesse no alto de uma montanha, 
Olhando o mundo em todo o teu amor, 
Buscando a força de tanto sentimento, 
Sabendo que me acalma quando me toca, 
Todas as coisas se tornam menos difíceis, 
Ao ter tua presença ao meu lado, 
Diante de tantas coisas girando ao nosso redor. 

Sinto-me como se pudesse voar para sempre, 
Beijando a liberdade refletida nos teus olhos, 
Uma loucura santa diante de tanta beleza, 
Flertando com a noite para que nunca se acabe, 
A felicidade de termos a lua como testemunha, 
Diante do imenso céu da esperança, 
Em não perder as batidas do coração. 

Os sonhos são iguais a noite e o dia, 
Trazendo em si a intensidade de um momento, 
Dando cores as emoções imprescindíveis, 
Olhares diuturnos em todas as direções, 
Imitando as nuvens do céu, 
Imagens da nossa existência audaciosa, 
Explorando as estradas do destino. 

As tuas mãos são minhas, 
Unidas ao mais íntimo querer, 
Dialogando com a vida em seus bordões, 
Interpelando a alma sobre a essência das coisas, 
Tangível serenidade ao fim inevitável, 
Repleto de memórias transcendentes, 
De tudo que valeu a pena ser vivido. 

Sirlânio Jorge Dias Gomes




Ceticismo


Aos tais ócios eis a dúvida, 
Aos ossos quebradiços, 
Visceral pesadelo infundo, 
Dos espíritos imundos a perturbar, 
O pobre ser aviltado em suas dores, 
Sobrecarregado de si em outrem, 
Nas interrogações interrogadas. 

Lá se vão aqueles moribundos, 
Surrados em suas indagações, 
Assaltados quando pensam ter paz, 
Na sangrenta convivência de dissabores, 
Manuseando a boa convivência, 
Em seus espetáculos nauseabundos, 
A buscar razões ignóbeis. 

Aos boçais a força do desprezo, 
Inquisições infernais do bom ânimo, 
Acorrentando a palavra insalubre, 
No labirinto das coisas sem respostas, 
Interposto entre a razão e a comédia, 
Ignorância dos tais eruditos, 
Sabedoria dos fracos contidos.
 
Sirlânio Jorge Dias Gomes

Sensualidade


O teu corpo canta em meu desejo,
Neste olhar que me inflama,
Convidando-me para uma dança,
Onde nossos corpos rítmicos,
Bailam suavemente encantados.
Os nossos sorrisos se abraçam,
A cada passo nos tornamos um,
Na luxúria da nossa entrega,
Igual um violão em mãos hábeis,
No dedilhar das cordas em paixão.
Nos envolvemos em cada gesto,
Dominados pela música que nos embala,
Teus passos me sondam,
Eu te caço em suas variáveis,
Que me seduz e me faz tremer,
No silêncio dos teus lábios.

Evidência


Sei que estás aí neste cantinho,
Silenciosamente buscando o amor,
Sutileza do pensamento ao desejo,
Murmurando baixinho com o olhar,
Desabrochando a fragilidade de uma flor,
Pronta a perfumar a primavera,
Voluptuosa timidez felina.

Suavemente surge o sol do meio dia,
Afagando-lhe a tímida sensibilidade,
Entre os labirintos da solidão,
Intenso jogo transe da lucidez,
Buscando o colo da serenidade,
Contraindo-se diante da natureza,
Selvagem calmaria ao labor da luxúria.

Não há obediência a ordem cativa,
O corpo introverso delineia-se quebrantado,
Grata aventura de descobertas,
Brisa suave louca tempestade,
Agitando as folhas antes adormecidas,
Revoluteando-se primorosamente ao afeto,
Paixão eclodida entre os poros.

Sirlânio Jorge Dias Gomes

Percepção


Sobre mim desliza o tempo,
Minh'alma são pergaminhos,
Espalhados pelo caminho ao longo da vida,
Impressões de efêmeras emoções,
Sob olhares viscosos,
Conjecturando suas existências belicosas,
Na ociosidade de idéias abstratas.

Sirlânio Jorge Dias Gomes

Ponto e virgula


Em volta de tantos olhares,
Meus pensamentos serpenteiam,
São tantas coisas no decorrer do dia,
Olhos as horas como de costume,
Na imensa correria da vida voraz,
Sugando minha energia saturada,
Ambíguos sorrateiros da liberdade.

No coração a lembrança da saudade,
Resistência diante dos pesares,
Imbróglios da existência ansiosa,
Ludibriando sonhos cansados,
Escaninho do eu em pedaços,
Na solidão momentânea sem aviso,
Juntando os fragmentos da jornada.

As vezes me perco em digressões,
Sem saber onde estou,
Desejando lugares secretos,
Para esconder-me de pessoas estranhas,
Fugir do caos nos braços do silêncio,
Ficar ali refugiado na beleza da ressurreição,
Aguardando minhas outras vidas lá fora.

Sirlânio Jorge Dias Gomes

Pétalas


Meu triste olhar me engana,
Folhagens de um amor indefeso,
Laço rompante malfazejo,
Pesado torpor em mim alcança.

Das cruzadas nuas e jocosas,
Corpo faminto em faces chorosas,
Coração lápide coberto,

Em seu desterro flor mundana,
Sebe selvagem a gana,
Deste louco desejo indiserto.

Confabulações


Há quem diga o incondizente,
Num trago amargo de si,
Tropeçando sem rumo,
Nas próprias pedras da vida.
Há quem fira a língua na lâmina,
Fio mortal de dois gumes do desatino,
Falar cretino de vozes embotadas.
Existem tolos que quebram diamantes,
Ofuscado em seu próprio brilho,
Estribilho de vícios caricatos,
Sangrando o coração em seus torvelinhos.
Há jovens velhos e velhos jovens,
Doidivanas em seus baluartes de vidro,
Fragmentando a pedra dos pensamentos,
Costurando sonhos em frágeis retalhos.
Há sábios e loucos em seus atalhos,
Marcando passo no tempo,
Seguindo o rastro das horas,
Em suas marcações diminutas.

Humani Generis


Um mundo de outros mundos,
silenciosos leitos em seus umbrais,
Quem sois de mãos atadas?
De onde vens?
O que há além do monte?
Hei de escavar os sepulcros,
Tentar encontrar os preconceituosos,
Intactos em suas mortalhas,
Em seus discursos com a morte,
Defendendo a sua cor,
A sua pátria e posição.
Num olhar infortúnio,
Todos os males da perdição,
Sentença covarde de hipócritas,
Em seus trajes maquiavélicos,
Copiosos em suas lástimas,
Sábios em suas máximas.
Rompe-se o cordão umbilical,
Correm as feras para os campos,
Em suas imagens multifárias,
Abrindo as portas em seus cativeiros,
Recolhendo as presas paradoxais.
É tudo tão triste!
Tão vazio!
Estes vendavais humanos,
Mãos estranhas afagando o ódio,
Como deuses em seu tempo,
Parindo demônios de suas bocas,
Num rito cruento,
Escarnecendo do amor.
Há nas esquinas,
De mãos estendidas,
Todas as gentes de uma só casta,
Humani generis,
Sangrando,chorando,implorando,
Sonhando e prosseguindo,
Desejando em seus corações,
Que sejamos somente irmãos.

Sonhos


Todo mundo tem um sonho,
Todo sonho tem um mundo,
Mundo entre outros mundos,
De vozes mudas ou surdas,
De palavras vivas ou mortas,
Esperando que se abra a porta,
Revelando as emoções.

Todo sonho tem um ser,
Ao menos deveria ter,
Do coração ao querer,
Um desejo que valha a pena;
Da alma a cantilena,
Em tudo não se perder.

Audácia


Corro no chão batido em direção ao gol, 
Lanço a bolinha de gude no alçapão, 
Desço no carrinho de rolimã, 
Chego em casa sujo de poeira, 
Após um longo dia de aventuras, 
Na beleza de uma infância saudável, 
Pensando no dia seguinte, 
Antes ou depois das aulas. 

Tantas alegrias de dias que se foram, 
Amigos que partiram em seu tempo, 
Histórias gravadas da memória, 
Todo amor do mundo cheio de simplicidade,
Alegria até na tristeza do dedo ferido, 
Ou joelho ralado das peripécias, 
Presenteado com puxões de orelha, 
Ou até mesmo uma tunda. 

Bela infância de uma ascendência única, 
Que qualquer presente dado, 
Era a melhor coisa do mundo, 
Motivo de longos sorrisos, 
Brilho nos olhos de um ano inteiro, 
Pedido atendido do papai Noel, 
Descobertas de uma vida, 
Aprendizagem para a maturidade. 

Há tanto entre uma geração e outra, 
Juventude sob o risco da morte precoce, 
Aventurando-se na desobediência, 
Na loucura do desconhecido, 
Longe da sabedoria dos pais, 
Buscando a própria sorte ao vento, 
Bobagens dos mais velhos caretas, 
Sepultando jovens na cova da rebeldia. 

Sirlânio Jorge Dias Gomes

Arbítrio


Amor! 
Há tantos amores no amor, 
Que o próprio amor se confunde, 
Em meio a tantas identidades, 
Reciprocidades de proporções vazias, 
Vagando entre sentimentos frívolos, 
Devorando a sensatez enlouquecida, 
No carente coração aos gritos. 

Amor? 
Voluptuoso tempo ao lúbrico deleite, 
Lapso de almas adjacentes ressentidas, 
Vagando entre as ilusões iludidas, 
Mistério premente do corpo apressado, 
Furtivo enredo castigo da liberdade, 
Premeditando a infelicidade ao louco desejo, 
Despindo o inconveniente eu aprisionado. 

Amor... 
Haverá de ser em si como aprouver, 
Consoante calma ao anseio da vida, 
Causa do destino amparo verdadeiro, 
Sentimento mútuo coerente felicidade, 
Seduzindo a amizade apaixonada, 
Amando o que deve ser amado  
Sem medo de encontrar-se. 

Essencial, 
Amar o amor ao tê-lo, 
Vivenciar a autenticidade das coisas simples, 
Perceber-se no outro na razão de ser, 
Sorrir, abraçar e beijar, 
A fidelidade ao conjugado olhar, 
Ser livre numa comedida liberdade, 
Sem aborrecer a harmonia que o precede. 

Sirlânio Jorge Dias Gomes

Guerra


Guerra!
Guerra?
Terra de tantas eras,
Em suas batalhas épicas,
Tréplicas em réplicas sangrentas,
Almas magentas em corpos marcados,
Maculados, dilacerados e degradados,
Inoculados de ódio no coração selvagem.
Guerras em tantas guerras, onde a mãe terra;
Ouve os gemidos dos seus filhos,
Estribilhos ensurdecedores ao vento,
Espalhando o lamento dos apátridas,
Em suas rogações silenciosas,
Enquanto os fratricidas vorazes,
Segregam escarnecendo do amanhã.
Batalha sem vencedores,
Trazendo aos seus horrores,
A vitória numa derrota sem fim,
Para os que se vão e os que ficam,
Em seus paralelos de dores,
Entre a vida e a morte.

Fotografia


Num click do seu olhar,
Fixei sua imagem em mim,
O meu interior se iluminou,
Meu coração te imortalizou.
Recriei meu mundo em segundos,
Ao sentir a luz dos teus lábios,
A fotografar meu desejo em sensações,
Quando num flash mágico,
Traduziu-me na beleza de sua procura.
A sua sensibilidade expôs o meu sorriso,
Desenhou-me na beleza do teu corpo,
Digna criação em seus contrastes,
Estampa perfeita de nós dois.

Liberdade


Deixai que eu siga meu caminho,
Não sobreponha em mim o teu fardo,
Ao violentar os meus domínios,
Finito coexistir de almas carentes,
Complacentes em cada eu de um infinito.

Deixai que eu seja eu,
No todo sejamos nós,
Mas únicos em cada passo,
Sem nos ferir mutuamente no encalço,
Desta vida frágil que nos revela.

Deixai que eu sinta o amor,
Sepulte no esquecimento o lamento,
Dos dias tristes de tormento,
Vívidos combates de um tempo,
No valor da sobrevivência.

Não me constranja em sua ira,
Não viole meu corpo em covardia,
Pois não seguirei só neste pranto,
Sangrarás comigo no silêncio,
A alma não conterá o grito.

Deixai que eu perceba o mundo,
Na exatidão de tuas faces,
Que o medo me torne mais forte,
Capaz de mirar o céu e a terra,
Com o olhar que julgar oportuno.

Deixai que eu viva,
Não tiranize meus direitos,
Que minha diferença não te agrida,
Já que a deformidade nos domina,
Libertam os demônios desta humanidade.

Vicissitude


Em noite fria esvaindo-se em pranto,
Revelou-se o ser em mortal agonia
Denunciando o ânimo em desvalia,
Tépido de dores em triste canto.

Recolhido em penoso manto,
Plena sofreguidão de face sombria,
Entregou-se aos gritos que bramia
D'alma aflita em total desengano.

De mãos erguidas acenava ao amor
Já moribundo em seus desejos,
Verteu a última esperança interior;

Exânime vestiu-se de vento,
Prostrado avistou o cortejo
Destino fúnebre cruel tormento.

Introspecção


O mundo está gritando aqui dentro,
O silêncio é estridente,
Mas ninguém me ouve,
Tudo aqui é dor que me sufoca,
Lágrimas que transbordam,
Inundando meu ser de tristeza,
Enquanto caminham apressados.

A diversão acontece lá fora,
Enquanto me torno cada vez mais invisível,
Tantas banalidades num nó infinito,
Amarrando meus pés e mãos,
Refúgio dos meu medos,
Em seus túneis absolutos,
Escondendo o que de mim se perdeu.

Há uma beleza murchando antes da morte,
Complexo colóquio da inocência,
Diante do tribunal dos acusadores,
Espelhando as suas santidades,
No demoníaco corpo que me reflete,
Enquanto cuspo ao chão,
A última gota do meu caráter.

Sem mais pensar puxo o gatilho,
Da imensa arma social que me apavora,
Com seus julgamentos cheios de ódio,
Hipocrisia de muitas máscaras,
Flertando a consciência imunda que os adverte,
Olhando insistentemente aos meus opositores,
A fim de que enxerguem meu sofrimento.

Nada basta a este circo de horrores,
Quando decidem ver o sinal de sangue,
A morte já serviu de seu melhor banquete,
Sentada no trono das vaidades,
Olhando outros tantos em desespero,
Buscando ao relento da esperança,
O sentido da vida cheia de possibilidades.

Sirlânio Jorge Dias Gomes

Hoje o tempo.....


Hoje o tempo parou,
Chorou comigo os mortos,
Sem credo, cor ou raça,
Opúsculo das massas,
Em corpos sem valor.
Hoje o tempo sentiu fome,
Na barriga vazia,
Dor de irmãos famintos,
Na obscuridade de seus lamentos,
Segredando a esperança os sonhos.
Hoje o tempo orou,
Nas lágrimas dos desconhecidos,
Da dignidade banidos,
Enquanto destruíam suas casas,
Refúgio manchado de tristeza.
Hoje o tempo gritou,
Não foi ouvido,
Após um estampido,
Sentiu a alma saltar,
Sem saber para onde.
Hoje o tempo,
Reuniu as preces universais,
Entregou ao amor,
Sabendo em si a hora,
Da purificação que aflora.
Hoje o tempo,
Abraçou a noite e o dia,
Nos corações empedernidos,
Tentando salvar o ser,
Do sangue e morte embebido.

Cela


Aqui,
Neste canto de minha liberdade,
Te ofereço meu abraço,
Arraigando das entranhas a timidez;
Balada solitária de um ser em melancolia.
Teu olhar se apagou,
Quando na insensatez,
Matou meu amor,
Ao lançar no esquecimento minha face.
Meu coração escarlate pranteia na escuridão,
A flor não colhida do jardim,
Sufocada na imensidão do desatino.
A beleza se foi sem meu consentimento,
Levando consigo a esperança;
Que despediu-se com um sorriso irônico.
Aqui...
Nesta tempestade de vultos,
Vou sangrando lentamente,
Girando feito redemoinho que logo se extingue.
Num canto qualquer desta dor,
Vai-se o ser e fica a fera;
Devorando insanidades.

Dinheiro


Denários,
O que teu poder esconde?
Vida e morte em teu rastro,
Lágrimas, suor e sangue,
Alegria, tristeza e embaraço,
E das trocas injustas o laço.
Serpenteia entre os séculos,
Com suas mãos de duas faces,
Afagando as premissas da bondade,
Enquanto o mal sorrateiro sorri.
Dos sonhos aos pesadelos,
Segue a barca do inferno,
As margens do paraíso,
Nos umbrais da consciência;
Em seus mundos capitais.
Denário em pátrias multiformes,
Obscura flor em jardins estranhos,
Estulta justiça embotada,
Visões fronteiriças do bem e do mal,
Peneirando homens.

Primeiro amor


Não sabia o que era amor,
Mas gostava de estar perto,
Adorava nas horas livre,
Brincar ao seu lado,
Me sentia feliz,
Coração acelerado,
Olhar iluminado.
Mandei te entregar um papel,
Escrito gosto de você,
Nunca me respondeu.
O tempo passou,
Mas hoje sei,
Que mesmo sem eu saber,
Foi meu primeiro amor.

Mulher


Há tanta prosa sem prosa,
Que nos lábios endossam,
As que não sabem ser mulher,
Em seus jeitos, trejeitos e desjeitos,
Querendo o que não se sabe,
Sabendo do que não se conhece.
Há tantos choros escondidos,
Em seus ais no meio da noite,
Pesado açoite em seus labirintos,
Corações famintos de liberdade.
Há tantas mulheres em seus silêncios,
Pedindo socorro em seu olhar,
Enquanto manuseiam tempestades,
A cada sentimento sentido.
Há mulheres de todos os tipos,
Governando seus mundos e submundos,
Em suas conversas controversas,
As vezes sã, outras vezes absurdas,
Mas que são vozes....
Ecoando pelo mundo.
Há tantas mulheres que são surdas,
Que levam surra da vida,
Por amar de menos ou amar demais,
Se contorcendo em suas penas,
Discorrendo entre o bem ou mal.
Há muitas mulheres discordantes entre si,
Há muitas mulheres...
Exemplares, malditas e benditas,
Cada qual em seus ensaios,
A vida em soslaio,
Aguardando o enredo final.

Afinidade


Um leve sorriso,
Após um olhar cativante.
Sigo adiante contigo em meu pensamento,
Sem perceber já é parte de mim.
Algo mágico aconteceu,
A cada segundo se torna maior que tudo.
Será amor esta força?
Apenas sei que é muito bom.
Não sei se é paixão,
Mas agora não importa!
Preciso te encontrar novamente,
Antes que eu enlouqueça.

Açoite


A sua indolência implorei á casta sorte,
Que do pensamento não me fira a morte,
Se em dores sigo não me condene,
Deixe que me puna esta noite de amargura,
Flor do meu amor de pétalas inertes,
Consorte d'alma que definha imperiosa.
Nó corredio são meus sentimentos lúgubres,
Chicote furioso desta carne atrevida,
Lástima altiva em dissabores,
Vítima de meu próprio amor.
Em meu ânimo sangue vertido,
Cor escarlate do horizonte perdido.
Aninho-me ás sombras de minha loucura,
Sufocado pelo ar fúnebre de sua presença.
A sua ausência me dilacera lentamente,
Espasmos deprimentes em feroz castigo,
A sua indiferença me aflige todo,
Penando sem vontade de seguir.
Corrija-me em sua feminilidade,
Deixe que eu pereça em teus afetos,
Correção segura é o teu querer,
E o seu desprezar o açoite.

Libido


Nos vestígios te procuro em algum espaço,
No crepúsculo brilhante donzela,
Estes cabelos,desejo em si escondidos,
Corpo reluzente entre névoas.

No improviso miro teus seios,
Estas curvas de um gosto selvagem,
Ao mesmo tempo tão doce,
Minha altivez flameja entre o delírio,
Bebendo o suor do teu fogo.

Perfeito anelo de ti me compreende,
Este fulgor revestido de versos,
Fonte de águas cristalinas,
A saciar minha sede em tuas veredas.

És minha sem sê-lo totalmente,
Neste insolente coração inflamado,
Aplainando sonhos,
Enquanto durar esta noite.

Serenata


Canta a alma ao luar infinito,
Finito da vida em noite de versos,
Janela de sentimentos imersos,
Doce concerto de ares bendito.

Mira o céu em si o pesar delito,
Amando a brisa em tom disperso
Livre das ilusões converso,
Rimando as estrelas o veredito.

Dito ao universo em seu deserto
Que não se cale o pranto,
Ao encontrar o amor que revelo;

As desventuras em total desencanto,
Recanto da esperança desperto
Na luz onde guardou-se o canto.

Metamorfose


Ao passar dos anos,
Ame a sua vida,
Ame incondicionalmente,
Não queira compreender,
Apenas ame,
Assuma a direção,
Tema a Deus,
Se não crê nele,
Não importa,
Ele ama você,
Mesmo que o ignore;
Sonhe,
Lute por seus ideais,
Comprometa-se,
Arrisque-se,
Se tiver medo,
Ore sempre;
Sua vida,
Um presente,
Às exceções,
A reflexão,
O aprendizado,
Em cada canto,
Em cada ato,
Viver é uma graça,
Dádiva divina,
Lágrimas,
Amadurecimento,
Tantas coisas,
Tantas perguntas,
Respostas?
Dentro de você;
Em suas atitudes,
Suas concepções,
Certas?
Quem sabe!
Arriscadas?
Talvez!
O tempo,
Nosso amigo,
Nosso mestre,
Ao nascer,
Ao crescer,
Ao envelhecer,
Ao produzir frutos,
Sejam bons ou ruins;
Enfim,
A cada passagem,
Um recomeço,
Em direção ao fim.
Viva bem,
Nunca deixe de amar,
Afinal,
Só o amor,
É a resposta,
Ao incompreensível,
Do nosso olhar.

Segredo da vida


Não existe amor sem problemas,
E problemas resolvidos sem amor!

Além...


Ao silêncio de olhos oclusos,
Recolhe o ser sob a inquietude
Da sonhada paz magnitude,
Sereno respirar em tempos confusos.

Da peleja resoluta a solicitude
Bravo viver em passos infusos,
Forjado em prantos profusos,
Na glória da grata virtude.

Além do existir, a dignidade;
Marcada em laços quebradiços,
Do tempo que a consome.

Na tristeza a desigualdade,
Nas mãos castigadas o viço,
Desabrochando a simplicidade.

Lucano e rúbria


Casto amor de face encantadas,
Corramos pelos campos da inocência,
Entre rubores pueris,
Fartos aos deleites enamorados da pureza.
É teu o meu olhar,
Mirando o doce pulsar da juventude,
Meu coração tomastes,
Revelando a eternidade imutável.
A nossa candura desabrocha de amores,
Flores virginais a perfumar o infinito.
Teu hálito é refrescante como a romã,
Teus lábios vertem mel,
Adoçando minh'alma extasiada.
Os dias são como diamantes,
Perfeito tesouro de nossa alegria,
As noites são longas,
A esperar-te que me sigas.
A morte não nos separará,
Teu espírito estará em mim,
Doce lembrança de tua ternura.
Quando o elísio te tocar,
Seguirei adiante bravamente;
Sob as infinitudes de minha humanidade.
A tua cruz guardarei,
Descobrirei o véu da ignorância;
Revelando o Deus desconhecido.
A sua luz brilha em mim,
No profundo amor que me cativaste.



Inspirado no romance Médico de Homens e de Almas TAYLOR CALDWELL

Monólogo


A noite chega sorrateira,
Humanidade sob lágrimas,
Arrastando-me nesta solidão,
Retalhos da minha existência,
Neste solilóquio de contrastes.

Aproximo-me do espelho,
Esta imagem em suas interjeições,
Interpelando o ser do outro lado,
Labirinto de encontro e desencontros,
Marcado por emoções em segredo.

Cada expressão do meu rosto,
Marcas do tempo em seus açoites,
Diante de minha consciência;
Envolta em gritos e calmaria,
Estranhos deleites dos momentos vividos.

Mesmo com medo,
Sigo entre as estações,
Desafiando o compasso das horas,
Neste eu seduzido em suas distrações,
Personagem nos rastros do tempo.

Camafeu


Ao querer inconstante,
Fito os tons da minh' alma que se esculpe,
Revelando formas intangíveis do eu,
Saliências humanas em seus dissabores,
Emoções a ornamentar o caminhar impreciso,
Declinando entre abismos e certezas,
Estranhezas de um ser tão frágil,
Severidade da vida no interior que se ajoelha,
Lavrando o espírito que insiste em rebelar-se.

Adoração


Sou amor até as estrelas,
Adorável paixão que me revela,
Ostentação de encantos,
Te amando além de mim,
Intenso descobrir ao tempo,
Infindas horas ao meu alento,
Natureza polimórfica que te adora.
Sou tudo em seu todo amor,
Incansável desejo de mútua verdade,
Tão celeste como o brilho do teu olhar,
Esta jóia tão rica que me enobrece,
Casto tesouro em nosso palácio,
Ornado de invisíveis flores,
Repouso dos nossos corações,
Entrelaçados até o último suspiro.
Nosso amor são etéreas asas,
Fiel destino de nossas almas,
Adejando a eternidade,
A ecoar o eu te amo,
Na perfeita luz do paraíso.



Ternura


Há infinitas formas de dizer eu te amo! 
Impossível traduzir o que sinto, 
Neste momento de emoção, 
Não diga nada, 
Preciso tomar fôlego, 
Dividir tudo um com outro, 
Assim me sinto diante de você. 
Desculpe! 
Sinto um calor enorme, 
Gosto de estar contigo, 
Do seu sorriso, 
Da maneira como me olhas, 
Do jeito que me abraça. 
Acho você o máximo, 
Quando não está por perto, 
Sinto uma saudade louca,
Com esse seu jeito gostoso, 
Conquistou meu coração, 
Tirou-me do sério,
Deixou-me nas nuvens.
Acertou em cheio o alvo, 
Agora estou aqui deste jeito, 
Provar o quanto és importante, 
Eu sei que já entendeu tudo,
Mas Vou dizer com todas as letras! 
Te amo, 
A única coisa que desejo, 
Ser feliz contigo.

Plêiade


Ouçam as vozes,
Na eternidade dos ventos,
Soprando brandamente,
Cantando do coração a alma,
A beleza do pensamento,
Em seus amores e tormentos,
Devorando os séculos em seus laços.
Do céu ao inferno confessa pena,
Diálogos pertinazes em lamúria,
Confidências silentes em seus borrões,
Entre as estações da vida e da morte.

Humanicidio


Humanidade insana,
Diga-me onde foi que se perdeu?!
Onde está sua benevolência?
Seus filhos choram em suas mãos sujas,
Rastros de sangue e preconceito tolhem sua felicidade.
Quem são teus pais?
O que fizeste com o amor?
A sabedoria escondeu-se chorosa,
Enlutada pelas vozes dos inocentes assassinados.
Os monstros paridos em sua rebeldia te envergonham,
Sufocando a justiça entristecida.
As casas estão ruindo em seus alicerces,
Cúmulos de lágrimas de todas as pátrias.
Não há fronteira para a covardia,
Estampada nos rostos enfurecidos.
A razão perdeu sua identidade,
Nos julgamentos insanos e desvalidos.
Hipócritas gerando hipócritas,
Lúcidos em suas teias de indiferença desmedida.
O respeito vai murchando no meio do caminho,
Acenado para que alguém o socorra.
Senhora humanidade;
A morte assombrosa te espreita em seus domínios
Vermes famintos devoradores de gentes.
A desgraça disfarçada em sorriso,
Lança na cova os dissolutos em suas verdades.

Considerações


Hoje acordei e olhei para o céu,
Sabe o que eu vi?
Nada além de nuvens,
No meu corpo,
Uma moleza gigantesca,
Me possuindo pelos poros,
Fazendo-me espreguiçar,
Olhando para fora da janela,
Sem saber para onde,
Totalmente ignoto.
Adentrei-me à sala,
Liguei a TV,
Deparei-me com o de sempre,
Desliguei-a num instante,
Não desejava aumentar o meu desânimo,
Diante de um cenário nada positivo,
Tragédias difusas,
Tal qual minhas incertezas.
Sem pestanejar,
Acendi um cigarro,
Sentei-me na varanda,
A olhar os transeuntes,
Em suas máscaras de ferro,
Afoitos e corriqueiros,
Em seus traços mórbidos,
Herança da morte,
Em olhares contrafeitos,
De uma subsistência em farrapos.

Alma Gêmea


Sopra a brisa leve suavemente,
Ondas invisíveis de amor nos tocam.
Únicos na centelha divina da criação,
Aguardamos o aproximar,
Desejando sem saber do encontro,
Beleza da união tão sonhada.
Aguardo-te numa esperança eterna,
Edificando um templo de amor sempre belo,
Perfumo com alegria nosso jardim de núpcias,
Consolado pelo tempo avassalador,
És minha entre tantas outras,
Espírito adorável de faces ocultas,
Percorro as estradas em sua direção,
Mesmo sem saber onde estás,
Em meus sonhos enamorados te beijo,
Na realidade desafio o sentir.
Te quero minha em qualquer lugar do universo,
Ganhar asas a caminho do infinito,
Tornar-me um contigo,
Enquanto durar a eternidade.

Desamparo


Amada,esta alvéa imagem aos meus olhos,
Fino repouso de tua alegria,
Precioso sacrário que te aquebranta,
Ao meu regressar em galardão,
Obséquio condolente ao amor ausente.
Arqueja meu peito de apego,
Este melindre ao afã de tuas batalhas,
Entidade ávida de um orbe infinito,
Latíbulo florido em reminiscências,
Deste corpo um dia unido ao meu,
E agora apartado pelo destino.
Segue este coração golpeado,
Sentimento prescrito de tua ausência,
Eterno laço da verdade que me destes.

Morador de rua


Somos diferentes? 
Conosco uma história, 
Misérias humanas corporais, 
Somos culpados, 
Réus de nossas consciências. 
As fraquezas nos assolam, 
Lágrimas vertemos em silêncio,
Há mendigos de honra, 
Ricos de espírito em sua pobreza. 
Há ricos mendigos em suas mediocridades, 
Pobres em meios suas ganâncias, 
Diante de tanto vazio, 
Pessoas se agridem; 
Consumindo-se em ódio mortal. 
Privar o outro dos seus direitos é um assalto, 
Maledicência de uma covardia,
Somos indignos juízes, 
Julgando o que não nos cabe,
Justiça cega de mãos profanas, 
Reflexo de um mal latente; 
Absurdo em mentes doentias. 
 

Ósculo


Levemente toquei teus lábios,
Senti-me igual ao sol tocando o mar;
Sou uma carta apaixonada,
Nobre amor ao seu destino,
Em você bela rosa,
A desabrochar no meu jardim,
A melhor primavera,
No meu eu de encantos.
Ao teu ósculo me rendo,
Sorrindo ao céu,
Neste inspirado momento,
Poesia suave dos teus carinhos,
Este aconchego de felicidade.
Versejando nossa alma em silêncio,
Enquanto o meu corpo no teu,
Decifra o gosto da volúpia,
Ondas de emoções manifestas,
A nos confessar mutuamente.

Alucinação


Loucura?
Esta mistura de tudo,
Este ser em agonia.
Gritando dentro de si,
Revelando ao mundo seus ecos,
Brisas dolorosas da razão ferida.
Demente sabedoria,
Na voz silenciosa que se revela,
Sangrando em cada som,
Nos lábios amordaçados do estranho.
Os pensamentos vão serpenteando,
Debochando do caos na mente petrificada,
Pelas imagens de um calabouço tão frio.
As mãos cobrem os olhos em desespero,
Enquanto as lágrimas lavam a humanidade,
Entre seus labirintos de sobriedade.
Loucura!
Pesado delírio da alma,
Desaguando o furor da substância,
Relutando o profundo despertar,
Entre as fronteiras do eu peregrino.

Adjutório


Vá minh' alma,
Pegue esta pena,
Traduza-me,
Sem pressa em versos,
Me revele nos rascunhos,
Desta rude forma cataclísmica.
Venha minha amiga,
Salve-me de mim,
Não deixai que eu me afogue,
Nos rios caudalosos de minhas lágrimas,
Há tanto vertidas em silêncio,
No labor desta vida contenciosa.
Acalentai em seus braços celestes,
Esta criança frágil,
Maculada nos rastros do mundo,
Prenúncio da morte,
De um destino invisível.

Confluência


O infinito dos sonhos,
No seio do seu amor,
São coisas que levarei comigo,
Emoções, desapego,
Nosso tempo,
Construindo passos,
Para além da distância,
Nos subúrbios do tempo,
Aprendendo com as estrelas.
Teu corpo pedindo os meus beijos,
Sou poema,
Eu amo te amar,
Teu amor traduz,
A força dos meus sonhos,
Acorda e vem me amar,
Na madrugada,
Na noite fria,
Sussurros ao ouvido,
O som do amor,
Luz para os meus pés.
Anjo azul,
É preciso coragem,
Para sair do rascunho,
Obras do poeta,
Na toada dos silêncios,
Polissemia amorosa,
Tua poesia em mim,
Um mesmo sentir,
Encontro, fantasia,
Esperança, catarse,
Inspiração adormecida.
Quando o coração,
A folha em branco,
Ensina-me a viver,
O olhar dela é quem diz,
As frases, provocam,
O poeta que não finge,
Que cavalga buscando a paz,
Inspirando-se na menina,
Que amava o mar e chorou,
Lindo murmúrio de Deus.

Humana Flor


Humana flor latente,
De pétalas homicidas,
Que és do nascer ao por do sol,
Senão um diário da morte!?
O fim te aguarda sorrateiro,
Fino banquete das ilusões;
Cova dos sonhos e da soberba.
Os vermes devorarão sua carne,
Restando apenas impressões;
Deixadas nos rastros de vossa existência.
Sois o que sois,
Na cegueira dos seus dias;
Proferindo injúrias em si mesmos.
Da satisfação ao desagrado,
Procissão de murmuradores;
Nascidos mortos antes de nascer.
Humana flor latente,
Murchando vagarosamente;
Diante do caos que os açoita.

Sinestesia


Ajoelhado ao céu apresto,
Súplicas de mim pesado libelo,
Do coração intrínseco desvelo,
Deste penar tão funesto.

Dor n'alma demais indigesto,
Destes olhos arrependimento vertê-lo,
E no corpo esperança aquecê-lo,
Renunciando a tudo confesso.

Da vida a bonança,
Cujas paixões posso,
Feliz morte no amor enlevo.

Deixarei algures a lembrança,
Do bem que fiz endosso,
Riqueza bendita daqui levo.

Ludíbrio


Se não tinhas a intenção de me amar,
Não deverias ter batido a minha porta,
Nem tampouco me fazer juras de amor,
Depois ir embora em total desprezo.
Se não me querias,
Não deverias ter açoitado meu corpo,
Com seus galanteios,
A ruborizar minha face fragilizada,
Deleitosa em seus cortejos.
Maldito és ingrato mancebo,
Que as escondidas no limbo da noite,
Arrebatou minha pureza,
Me fez refém dos seus carinhos.

Desígnio


À tua jornada abre-te a vida, 
Nômade viajante infesta 
Esta prisão enegrecida, 
Incêndio interior indigesta. 

Teu rastro punhal funesto, 
Vendaval açoite homicida 
Abismo carnal fratricida, 
Vulgar sentimento lesto. 

Teus pés afiada lança, 
Infiel andeja de trilha incerta 
Esperança chorosa teu olhar alcança, 

Lodoso moribundo apresta, 
Infame sepultura desonra 
Ilude tesouro arresta.

Submissão


Não vou mais fugir,
Fingir que não há amor,
Em nossos olhares que se tocam,
Na cumplicidade de um sorriso,
Sublime desejo que nos une.
Subirei a montanha da paixão,
Gritarei seu nome aos quatro cantos,
No silêncio do meu corpo em fúria,
Sentindo o ímpeto que nos interpreta.
Ao descer serei o pôr do sol,
Entre as montanhas dos seu carinhos,
Onde me aninharei na doçura dos seus encantos.
Meu pranto será de felicidade,
Os sussurros dos meus lábios,
A canção perfeita aos teus ouvidos,
Dizendo te amo em todas as direções.
Não vou mais fugir...
Apenas amar teu eu em mim,
Infinitamente em nós dois.

Sonetto


D'alma inflamada ébria de amores
Introspecta em versos canta
Paixões submissas furta-cores
Leve toque sacrossanto,

Dama poesia me adorna algures
Beijando-me a cada canto
Pleno fascínio aos seus favores
Casto menestrel em seu recanto,

Arrebatado vou ao infinito sonho,
Cativo aos mistérios da estação
Reluzentes rimas em tons dispõem!

Metáfora


Em teu fogo me queimei no inverno,
Na esperança de refrescar em teu rio;
Águas suaves do amor, arrepio;
Agrado benfazejo sempre terno.

Em tais lisonjas sou subalterno,
Em suas peripécias horas a fio;
Não pensar em ti, um calafrio;
Do céu perder e ganhar o inferno.

Em seus abraços vou navegando;
Nas ondas a tocar o meu peito
Beijando teu ser que me adora.

Gestação


Haverás de procurar no infinito,
A beleza das coisas transitórias,
Dimensional destreza do ser,
Em suas concepções inexatas,
Triunfais manobras fortuitas,
Rebuscando o segredo,
Nas entrelinhas da existência.
Germina a semente,
No jardim do invisível,
Regado de flores transcendentais,
Em suas pétalas paradoxais,
A perfumar o despertar,
Na revolução da criação.

Semblante


Contíguo arfar entre arbítrios,
Vértice temporal da liberdade,
Prisma intrauterino da alma,
Pulsação fenecida entre corpos,
A personificar a carne entediada.
Do espelho reverbera pena,
Adejado lume vicioso,
Infesta flor arraigada,
Perfumando mortos,
Estirões emulgentes.
Singular face à terra venera,
Olhares óbvios,
Figuras do subsistir,
Acenando ao fim aguardado.

Paixão


Estas rosas em teu corpo,
Haverei de tocá-las,
Pétalas macias,
Que perfumam meus sentidos,
Beijando-as neste jardim.
Serei o sopro do vento,
Descobrindo a sensibilidade,
Saciando-me em cada gota,
Deste rio orvalhado entre suas folhas,
Desabrochando tua sensualidade.
Na fúria dos teus espinhos sangrarei,
Tomarei este tímido gêmulo,
A eclodir em meus lábios vibrantes,
Sob o encantamento da virgem flor.
Ínfero segredo me poetiza,
Doce fruto aromático,
Insólita solidão em teu regaço,
Desejos de incomensuráveis versos,
Ao amor que te revelo.

Reflexo


Se queres uma poesia,
Não tenhas medo,
Olhe-se no espelho,
Verás os versos fiéis da sua vida;
As rimas mais francas,
A métrica mais que perfeita,
Verdade dos teus sentimentos;
A rebuscar no tempo.
Se queres,
Pode mudar tudo,
A seu gosto,
Evoluir em suas atitudes,
No seu estilo,
No fim de tudo;
Sorrir ou chorar,
A poesia é sua,
O final, é você quem edita.

Ensaio


Ateste o desvelo em penoso fardo,
Do manancial ao fino trato,
Que de rancor não padeça;
Quem o amor ousou tocar.
Em versos exaltados,
Segue a alma em devaneios,
Solicitude enamorada;
Feito brisa a balouçar.
Do olhar a esperança,
Ensejo póstumo recolhido,
Vai o ser em seus ditames;
Regando as pedras do caminho.
Das lástimas o desalinho,
De murchas flores envolvido,
Deixa o mundo constrangido,
Sem saber do que se foi.

Intolerância


Negro!
Negroooo...
Negro?
Funesto?
A violência não tem cor,
Mas causa dor,
O preconceito não tem raça,
Não tem pátria,não tem classe,
Mas tem nome,
Faz sangrar por dentro,
Todos os dias desta vida de espinhos,
Ao caminhar sob olhares fatigantes.
É um mal silencioso,
As vezes gritantes,
Entre aplausos velados,
Disfarçados de repúdio,
Mas cheios de ódio.
Quem são seus irmãos?
Quem são seus amigos?
A serpente punge metodicamente,
Em suas atalaias étnicas,
Elitismo decáido colérico,
Intolerâncias absurdas,
Da moral afetada dos falsos juízes.
Aos julgadores jazem os vícios,
Em seus corpos fúnebres,
Amordaçados no livre arbítrio,
Vermes vorazes da consciência,
De preceitos vazios.
Quem sois ao cair da noite?
Qual é a sombra que te reveste?
Poeira é o que somos,
Nada restará após o último suspiro,
Mas ainda sim,ufanos.

Sirlanio Jorge Dias Gomes

Quebra-cabeça


Complexa angústia ,
Traços mórficos da agonia,
Cruel enigma das ilusões;
Por que nos persegue?
A miséria das tentações nos ferem,
Mata os sentidos e os ressuscitam,
Metamorfoseando o arrependimento;
Escárnio pútrido do perdão.
Diga-me vil senhora,
Qual é o suplício de tal fatalidade?
Lamentos ecoam pelos ares,
Ruídos para ouvidos desatentos;
Canções para os indiferentes.
Onde estão o que nos ouvem?
Será que pereceram antes da chegada?
Cegos e surdos vivem suas eternidades finitas,
Mortos em suas razões tragicômicas.

A fonte


Estas mãos ansiosas,
Sondam o infinito,
Vastidão do amor e da dor,
Beijando o semblante ignoto,
No voo livre dos pensamentos.
As asas não são minhas,
Leve-a e voe sem medo,
Depois deixe-as ao vento,
O próximo devaneador,
Chegue ao seu destino,
Germine a liberdade.
Acaso o amor é livre,
Também suas sementes,
Pululam onde as desejam,
Deságuam no incompreensível,
Nos surpreende ao fim das horas.
Os pés cansados,
Delineiam sua marcha,
Sob o véu da peleja,
Gotejando a vida irmã da morte,
Renovando sonhos,
Venerando o inesperado,
Seguindo vivendo...

Veneração


Dê-me teu beijo até o céu,
O sentirei em teus lábios,
Este amor celeste véu,
A fazer de mim um astrolábio.

Cative o meu coração


Ao cair das trevas enreda-me em tua afeição,
Uma vez adormecido te descubra,
Na aurora a prismar o pejo do teu querer,
Esta obstinação que me queima,
Destruindo a fortaleza desta timidez.
Invada-me teus segredos,
Que o mel dos teus lábios,
Afugente minhas dores,
Me dê repouso,
Neste teu céu de deleites.
Meus olhos são teus,
Em teu olhar me apresso,
Olência que me encanta,
Nesta pele em brasas,
Sensualidade em vendavais.
Este ócio que me concedes,
Plasma meu sorriso ao teu,
Vem e toma este cálice,
Bebamos esta cálida devoção ,
Esqueçamos do tempo,
Sou teu e nada mais.

Aprazível Amor


Em tantas formas de amar,
Quero-te amar somente,
Intensamente a cada dia,
Tocando-te em cada sorriso,
Reinventando-me a cada engano.
Amo-te em sua imperfeição,
Na sensibilidade de teu perdão,
Na infidelidade que escapa as vistas,
No despropósito da hipocrisia,
Desculpa infesta da natureza.
Que não seja sem valor o que te devoto,
Nem sejas cruel o que me outorgas,
Pois, o sentimento que lhe tenho,
É verdadeiro na vastidão que me faculta,
Sinceridade que seduz o teu olhar,
Na promessa de nossa conivência.
Deixe que eu te busque na ausência,
Que a saudade nos fortaleça,
Nos reencontros da paixão intensa,
Inefável poesia de nós,
Ímpetos corporais que nos definem.

soneto dos sonetos


Duas estrofes e quatro versos
Constância da emoção,
Três versos a comoção
Sonetar de amores confessos.

Petrarca a Shakespeare um universo
Odisseia humana ao coração,
Do céu a condenação
Paralelos sonhos inversos.

Vagar de ideias impresso,
Vida desaguando em sentimentos
Realidades e ilusões ingressam.

Humana dor disperso,
Que a oração alivie o sofrimento
Que minh'alma não seja objeto.

Autenticidade


Destinos imprevisíveis,
Momentos feito páginas,
Brancas, rasuradas,
Escritas além de tudo,
Submissão da vida,
Prantos de emoções,
Aos olhos atentos,
Sedentos de esperança,
A cada dia vivido.
Desatam-se os nós,
Pontes de novos laços,
Sementes da alma,
Ao longo do caminho,
Sob os encantos do tempo,
Sublime imperfeição,
Soprando nos corações,
Borrascas e brisa leve.
Entre manhãs e noites,
Açoites e ledices,
Vai o amor adindo,
Flores e dissabores,
Rastos tênues,
Reinventando passos,
Abraços, olhares e beijos,
Sondando o tudo e o nada,
Ensaios da vida,
Meneios da despedida,
Vazio singular da saudade.

Cólera


As tuas trincheiras me cansam,
Me sufocam numa quase morte,
Estas suas armas enferrujadas,
Sujas de tédio,
A espionar o inimigo dentro de mim,
Disfarçado entre as ruínas,
De sua casamata de loucuras,
A espezinhar minha surdez.
Não quero ouvir tua voz,
Nem seus lamentos,
Porquanto não tens parte comigo,
Neste revés do amor que me causaste,
Tire estes pés da minha estrada,
Lance estas botas no lixo,
Também fique por lá,
Com seu sarcasmo podre,
Não esqueças ao fim de tudo,
Estou te sepultando,
No cemitério de suas traições.

Correntezas


Em meio as dores do século,
Segue a humanidade esvaindo-se,
Ato frenético de loucuras,
Marchando feito animais ao abatedouro,
Travando guerras invisíveis,
Deixando o ser e revelando a fera,
Imitando a razão que se perdeu,
Na voracidade de suas insanidades.
Nos entremeios de suas infiéis verdades,
Cometem suicídios em suas interjeições,
Bordões contumazes em corpos pútridos.
Na eternidade decadente da escuridão,
Jazem as covas dos mortos vivos,
Envoltos pelo jardim da ignorância,
Assombrados por seus fantasmas,
Indecifráveis reflexos de seus desvarios.

Matizes


Fusão em teu corpo,
Contíguo pecado nativo,
Odorífera Tentação em idílios,
Irmana-me em seus suspiros,
Tonalidade em semitons,
Música dos teu gemidos.
Abra-se como uma flor,
E deixe que eu seja o vento,
Que te faz bailar livremente,
E perceber esta suavidade,
Álibi de minha procura,
Transição de almas.
Envolva-me em teu olhar,
Sereno igual a luz da lua,
Que toda nua,
Te reflete em meus laços,
Genuíno flertar de nossa caça.
Canto em torno de ti,
E danço em tua paixão,
Que também sendo minha,
Me devora insandecida.
Teus toques me atavia,
Enflorando meu querer enobrecido,
Sou príncipe em teu castelo,
Este manacial de devotado apego.

Corpo nu


Ao meu pecado esculpido,
Cúmplice desejo me anima,
Silhueta poética, minha cobiça;
Ondas deste corpo me devora,
Altar adorado doce rito.
Extasia-me todo encanto,
Cálido movimento enredado,
Tal fraqueza induzida,
Cortês convite inegável,
Nobre sentido afagado.
Desnudo anjo me aquebranta,
Aguerrido prazer ostenta,
Curvas impetuosas queima,
Ígnea paixão transborda,
Vasto amor obstina.

Travessia


Diante de mim,
Vasculhei os pensamentos,
Buscando o que não entendia,
Ao descobrir que não era amor,
Aquilo que me davas de forma vazia.
As lágrimas me consolavam,
Acariciando a minha dor,
Escorrendo pelo rosto,
Caindo ao solo,
lavando minha tristeza,
Enquanto meu corpo,
Jazia em desalento.
A lembrança dos teus lábios,
Beijava a minha boca agora enlutada,
Onde os seus abraços invisíveis,
Confortavam a minha solidão,
Este borrão na alma ultrajada.
Em meio a tanto desfortúnio,
A noite me seduziu em silêncio,
Amou-me de tal maneira,
Que com ela parti,
Para nunca mais voltar.



Tango


Me dê tuas mãos,
Que a paixão nos queime,
Permita que meus lábios,
Te beije contínuamente,
Pândego ardor entre olhares,
Vertiginosos abraços a nos possuir,
Extasiados pela música em nós,
Nestes corpos ardentes,
Ímpeto de encantos,
Concêntrico bailar exaltado,
Giros de amor consentido,
Corpórea sedução em volúpia,
Quimérica sensualidade enlaçada.


Paixão Noturna


Sob o céu de estrelas ,
Confidenciava a lua em seu asilo,
Galanteando a noite,
Remissão do afável desejo,
Venerável luz de intenso amor,
A beijar o infinito.
Enamorava o frescor da madrugada,
Devotada dama em adorável perfume,
Sussurrando ao vento tanto afeto,
Que minhas lágrimas sorriam,
Acariciando minha face apaixonada,
Meu coração entregou-se a felicidade,
Seduzido de encantos.
A luz se fez poesia,
Iluminou meus versos,
Bucólico sonho benfazejo,
Onde as nuvens meu íntimo leito,
Eternizou tamanho apreço,
Inflamado de confidências,
Ao me declarar em desvario,
Aquela que tanto amava.

Psicodrama monológico


A morte vem dançando tempestuosa,
Furiosa em seus ritos sem fronteiras,
Estendendo suas asas sobre a alma,
Ótica onírica dos vales mais profundos.
O corpo enegrecido pelo abandono,
Se perde na dimensão do seu sopro,
Nas visões eternas em seus lapsos.
Monstros famintos brotam da terra,
Submundo catatônico indizível.
As estrelas fundem-se aos olhos,
Universo descortinando-se ao eu,
Deixando-se tocar em seus alicerces.
Tudo é tudo absurdamente,
Labirintos fatídicos fantasiosos,
Vendavais silenciosos,
Mutável na velocidade da luz,
Explosão ultra sentimental épica;
Catalisadora de mentes segreda.
No grande palácio dormem os sábios,
Frágeis celas de escuridão,
Escrevendo em seus pergaminhos,
Registros invisíveis das rotas de liberdade.

Morte


Bebo meu último gole,
Adormeço lentamente,
Acordo consternado,
Abraçado ao mausoléu,
A escutar meu desabafo,
Pútrido lar da despedida.
Tal perecimento ao fim me aguarda,
Desdita confissão ao meu silêncio,
Esta figura agora homem,
Depois apenas ossos.
Há tanto em meu convívio,
Finalmente em teu braços,
Leva-me ao teu leito,
Promessa eterna do meu destino.

Poema Dúbio


Tive fome,
Não tinha o que comer,
Tive sono sem ter onde dormir,
Senti saudade da minha mãe,
Mas ela se foi,
Lembrei-me do meu pai,
Que há muito não vejo,

Perdi meu melhor amigo,
Retornei para casa,
Sabendo das panelas vazias,
Desejei um abraço,
Não encontrei que pudesse ofertá-lo,
Não perdoei,
Chorei por alguém,
Fui indiferente,
Incondizente,
Perdi meu emprego,
Duvidei de Deus,
Não tive fé,
Nem mesmo orei,
Perdi tempo,
Julguei,
Fui desonesto,
Indigesto,
Hoje neste mundo,
São tantas coisas,
Que o poema sangraria,
Teria pena,
Cairia em prantos,
Velaria teus mortos.
Todos os dias morremos,
Renascemos e sofremos
Julgamos e matamos,
Ressuscitamos,
Diante de tantas coisas,
Deixamos de perceber,
Que a humanidade é uma só,
Com todas as suas fragilidades,
Esta natureza rebelde,
Selvagem,
De mãos abençoadas,
Em faces monstruosas,
Caudalosas em seus surtos,
Um livros de páginas em branco,
Tal qual nossa alma em seus arquétipos.

Te permito


Em minhas instâncias,
Deixo que me leve,
Desejando onde me descobriste,
Total esmero do que sinto.
O teu querer é meu,
Na exata medida que me quiseres.
Sou lume que te agasalha,
Neste amor vibrante,
Cujos lábios me recolhe,
Suave atração a inundar-me.
O cintilar que de ti emana,
Finda a escuridão que me flagela,
Este raptar contínuo em suas nuances,
Quando tu não estás.

Cavalo de Troia


áureo panteão de ilusão dormente,
Da ferida a panaceia enredado,
Pétrea dor em corpo dilacerado
Ventre maculado pelo ópio silente.

Néscio infame de morte eloquente,
Pretensa paz ao fim aguardado,
Burlando o silêncio aclamado
De gemidos e violência estridente.

Da beleza ao canto funesto
Anjo Fastio de face assombrosa,
Soprou agonia na alma que parte.

Das maledicências o vil gesto
Colhendo em ódio a vida majestosa
Do inimigo o furor, da arte; a guerra.

Diligência poética


Convite inopinado,
Bravo açoite que afronta,
O servo em seus dizeres,
Máximas de uma sujeição.
Das mazelas a felicidade,
Segue cativo em seu destino,
Desfilando em suas entranhas,
O orbe fantástico em suas realezas,
Casta alquimia de traços amórficos.
Em cada ato o prodígio invisível,
Arrasta o ser esvaindo-se,
Gotejando de si sentimentos,
Enquanto a alma oscila em seu universo.

Apanágio


Fecho os olhos...
Um movimento seduzindo o tempo,
A beleza dos seus passos precisos,
Música do seu sorriso a me envolver,
Lentamente meu corpo segue as ondas,
Num profundo mar de intensidade,
Sensualidade desperta de nós dois.
A alma dança abraçado a felicidade,
Versejando o amor em seus contrastes,
Imerso ao adágio universal do eu,
Tom desta sinfonia de traços nobres,
Atributo enamorado da razão.

Perplexidade


Meus olhos vertem lágrimas,
Tanto ódio no mundo,
Lugar de desiguais,
Onde a labuta sofrida,
Na noite silenciosa,
Escondem seus ais.
O amor estremece em agonia,
Tanta falta de caridade,
Gentes sofridas pelas cidades,
Estiradas pelo chão,
Algumas pela fome,
Outras pela guerra,
Estas espadas invisíveis,
Em suas vítimas sem nome,
Pois ter um nome não importa,
O que vale é a desonra da honra,
De um feito heroico as avessas.
Sob o sol ou lua,
Almas nuas de sentimento,
Atormentam a paz,
A desolar o pobre ou o rico,
Em suas ambições medonhas,
Demônios enfurecidos,
Travestidos de gente.

Burburinhos


Sol tímido e primavera,
Rasga a direção ao vento,
Ao seu querer,
Madressilvas da alma,
De todas as cores.
Em tantos amores,
Seguem as ondas,
Beijando a praia do eu,
Em suas emoções,
Marcando a areia sob os pés.
Habitamos em tantos lugares,
Sabendo-se confusos,
Entre as moradas difusas,
Dispor da noite e do dia,
Alusões da vida,
No silêncio da luta.
Em algum lugar,
Um beijo, um grito, uma dor,
Uma lágrima e um sorriso,
Tantas coisas por aí,
Iguais as outras,
Folhas amareladas que caem,
Em algum canto,
No sussurro das horas.

Barca da ilusão


Despertai de ti mesmo,
Sinta o bálsamo que te consome.
Descei até o íntimo de vosso amor,
Sentimento confuso do teu infortúnio.
O rio de tua fúria te conduz,
Ao mundo infinito de tua insanidade,
A tua alma translúcida regenerai,
Monstros ferozes de suas fantasias,
Velejai e libertai vossos enganos,
Vícios que te aprisionam no inferno.
Resista heroicamente,
Aos espasmos de tua vontade,

Subjugue-as ao seu juízo,
De onde vem estas vozes,
Insistindo em meio as trevas?
Demônios assolam a sua coragem,
Querem roubar a sua sensatez,
Nestas águas sombrias.
Logo alcançará o seu destino,
Se fores forte,
Encontrarás a luz,
Dissipando a intemperança.

Chocolate


Fino fruto olmeca delicioso,
Amêndoa adorável de sedução.
Da descoberta o doce saborear,
Evolução deliciosa num degustar.
Das flores a prole em sensações,
Viciante gosto ao palato sublime.
Lábios anciosos do teu beijo provam,
Sabor divino de intenso capricho.
Dos amores o perfume do teu cheiro,
Convite irrecusável ao primeiro toque.
Afrodisíaco dos deuses aos mortais,
Tesouro milenar em mãos vorazes.
No céu o prazer da volúpia,
Irresístivel paixão em bocas ansiosas.

Reminiscências


De longe vejo o rio,
A saudade me aperta,
A sua imagem se apresenta,
Entre flores e árvores,
O seu cheiro,
Me invade num abraço,
Miragem de sua despedida.
Deixo o vento me tocar,
Este frescor que um dia juntos,
Sentimos num longo beijo,
Sob a copa das cerejeiras,
Vislumbre da nossa felicidade.

Cólera


Ataviei a serenidade,
Pretensa morte,
Jogos da vida,
Folhetins da alma,
Herméticos umbrais,
Árvore do destino,
De raízes esfíngicas,
Solitária no deserto,
Imperfeita miragem.
Tantos risos perdidos,
Meus lábios tremem,
Ao falar ao vento,
Tedioso discurso de mim,
Aos eus da minha existência,
Tentando convencê-los,
Que sonhar ainda é possível,
Ainda que os pesadelos revelem,
Os fantasmas do medo.
Humano regozijo alerta,
Louca inanidade assentida,
Carregada de tolices,
Fardo ignoto dos perdidos,
Escravos da falsa vida,
Regurgitando insanidades,
Podre manjar maldito,
Veneno do século,
Aos filhos da luxúria.



Modéstia


Amado amor complacente,
Aos seus versos de olhares confessos,
Entrego minh'alma confidente,
Aprazível afeição de laços infinitos,
Na finitude da beleza em poesia.

Amado amor condizente,
Beija o tempo meu coração,
Imitando meus lábios inquietos,
Paixão da vida em burburinhos,
Colhendo rosas e espinhos,
Enquanto a verdade se aninha.

Amado amor transluzente,
Aportai-me no cais da fidelidade,
Fazei que lá eu permaneça,
Olhando o pôr do sol,
Deixando ir com ele a solidão,
Revérbera ilusão do caos,
Da ousadia de amar.






Beijo


Beija o silêncio os teus lábios,
Ditosa beleza que me fere,
Sangrando-me sem sangrar,
Desejo algoz em minha face.
A tua boca entreaberta,
Revela rosácea flor,
Sensualidade desperta,
Ao hálito fresco deste cálice.
Tempestuosa suavidade,
Refugia-me em teu olhar,
Sorriso que me afaga,
Expressão de si cheia de encantos.
Beijo-te do nascer ao pôr do sol,
Quando em pensamentos,
A tua imagem em meus sonhos,
Ama-me infinitamente.

Descobriram o Brasil?


Navegai naus portuguesas,
Levai de volta seus nobres,
Herança de reis pobres,
A saquear o Brasil.

Navegai naus portuguesas,
Levai os mercenários,
Corruptores larápios,
Filhos lusitanos bastardos,
Nem de longe varonis.

Navegai naus portuguesas,
Jogai nas águas os clérigos,
Borrões maquiavélicos,
Santos do pau oco,
De santidade ensandecida.

Navegai naus portuguesas,
Trazei de volta nossas riquezas,
Devolvei nossas belezas,
Que suas gentes corrompeu.

Navegai naus portuguesas,
Levai de volta a corrupção,
Que aflora e mata,
Os brasileiros refém de quem?

Navegai naus portuguesas,
Neste mar imaginário,
Revelai o mandatário,
Deste patriotismo as avessas.

Navegai naus portuguesas,
Em suas águas afogai,
Estes políticos bossais,
Que nos assalta a dignidade.

Suspiro


Entre as lembranças,
Beijos, abraços, olhares e cheiros,
Companhia, toques e uma infinidade,
Somado as emoções que ficaram,
Que se foram com o tempo.
Lugares inesquecíveis,
Pessoas e bons momentos,
Impressões na alma,
Digitais do corpo em ondas,
Revela-se a cada silêncio,
Surpresas da vida latente.
O existir entre sorrisos e lágrimas,
Experiências intactas do caminho,
Sensações inexplicáveis,
Entre outras coisas sensíveis,
Na grata memória em suas seduções,
Transcendência de nós em gotas,
Ao primeiro acariciar vívido do que se foi.

Albatroz


Sentei-me no alto da montanha,
Ouvindo o vento de olhos fechados,
Absorvendo a natureza em si,
Doce aconchego nas asas do vento,
Imaginando-me um albatroz,
Deslizando pelo espaço infinito,
Abraçando oceano e mares,
Amplexo sagrado da vida,
Em suas extinções,
Renascimentos olvidados.
Senti os mortos em seus gemidos,
Nos remotos sentidos da imbecilidade,
Daqueles desprovidos de amor,
Em seus egoísmos perniciosos,
Rindo-se da própria desgraça,
Imbuídos de perjúrios em suas faces,
Enquanto apodrecem ainda vivos.
Ainda em minha quimera,
Pensei que o mundo,
Imitando tão bela ave,
Pudesse também,
Instituir em seus corações,
Uma relação monogâmica com a paz.

Liliáceas


Purpúrea libido o amor beija,
Pétalas de infindas matizes,
Teus sentidos osculam o desejo,
Violáceo silêncio enredado,
Corolas aos olhos aufere.
A luz revestido manto,
Erma beleza de encantos,
Tez velada afaga
Fausto bulbo ameigado.
Negro véu azulada noite,
Secular elegância encobre,
Vigorosa flor encena lança,
Alvitre sentido avista.

Amar


Amar é fundir-se em pensamento,
Emaranhar-se em volúpia.
Amar é reinventar o amor a cada dia,
Deixar a alma nua em fidelidade.
Amar é um milagre a cada segundo,
Um mundo de infinitas possibilidades.
Amar é fazer diferente,
Alimentar a pureza do amor,
Ter amor é entender as diferenças,
Regá-las com gotas de carinho,
Amar é se redescobrir no outro,
Nunca esquecer que amar deve ser infinito.
Amar é fazer o outro feliz,
Nunca trair o próprio sentimento,
Querer sempre o melhor,
Amar é ser verdadeiro,
Dividindo emoções a vida inteira.

Amor sublime


Amor!
A lua te coroa intensamente,
Floração ofegante do teu querer,
Tons luzidios desta procura,
Desvairadamente em meus braços.
Em adoração te velo,
Deleitoso vinho que me embriaga,
Desenhando teu corpo no meu,
Matizes azuis de nossos corpos,
Inefável tremor verga.
Rouba-me sem pecado,
Neste sensual leito da noite,
Onde sussurras cantos celestes,
Meus ouvidos te louvam.
Somos estrelas íntimo desejo,
Minha boca te verseja,
Em cada trova de seus lábios poéticos,
Minhas mãos colhem tuas rosas,
Regando-as com seu olhar,
Benévolo aroma que me perfuma.

Gérmen


No átrio abscôndito do teu eu,
A vida flui na beleza que te fere;
Obras de tuas mãos consequentes,
Deixando no coração a sentença.

Da hereditária morte os comensais,
Compartilham entre si pensamentos;
Enraízados em suas almas,
Seguindo direções inconstantes.

Das lágrimas a predileção,
Rasto de uma luta humana interior;
Divagando entre o valor e a necessidade,
Enquanto algo se perde pelo caminho.

Em algum lugar um gemido,
Sem idade e nem pátria;
Verdades silenciadas pelo medo,
De alguma decência que se perdeu.

Pela ambição desmedida de um ser,
Outro caminha em espinhos;
Talvez uma existência se desfaça,
Findando sonhos desconhecidos.

A realidade se molda velozmente,
Trazendo em si humanos fantasmas;
Colóquios das trevas e da luz,
Sob olhares incrédulos.

As sementes são tantas,
Variados campos fecundos;
Cultores de várias nações,
Entre a vida e a morte.

Decrepitude


O meu espírito bravio martírio
Faina que advoga o ócio,
Apogeu da velhice a vozear,
Cintilar do meu turvo olhar.
O vigor alquebrado fere,
Esperançoso manto verdejante,
Perecendo o delgado alvor da vida,
Face descorada que cultuo.
Intrépido amor impoluto,
Agonia velada em cada ruga,
Acerbo tempo lúgubre tedioso,
Adversa dor do meu lamento,
Adjutória esperança guarda.

Renúncia


Acordei bem cedo,
Bem cedo acordei,
Acordei com o destino,
Que leve minha desventura,
ventura desmedida,
Sem tino,
Para bem longe,
Onde a dor do amor se esconde,
Para nunca mais voltar.

Adeus


Arbítrio refúgio em alva noite,
Minh'alma a deriva neste penoso mar,
Porto suplício da minha jornada,
Jugo vicioso dos meus desejos,
Inerte nas sombras longe do cais.
Venere a luz o meu último riso,
Cousa dúbia neste peito de açoites,
Em seus delírios ósculos da morte,
Penumbra em vendavais ao réprobo,
Fugaz loucura em flores mórbidas.
Aos ventos meu último discurso,
Meu beijo,meu olhar e esta dor,
Fragmentada em rimas tristes,
Prefácio da minha despedida.
Refuta herança meu ser declina,
Neste chão frio eterno leito,
Borrões vívidos displicentes,
Ária mortis do servo desmedido.

Ponte do exílio


Quem te pariu filhos infiéis,
Quem são teus irmãos?
A sua terra chora por ti,
Onde seus ancestrais,
Apaixonados em suas feridas,
Prantearam seus filhos jogados ao vento.

Do alto mar,
Ouvem-se os gritos das sombras,
Em seus túmulos amadeirados,
Banhados pelas lágrimas dos esquecidos.

Oh! pesada morte,
Colham nos oceanos as flores da dor,
Em seu perfume fétido de horrores,
Sob agonia de gritos estridentes,
Entre silêncio e suspiros,
Enquanto os demônios humanos,
Devoram corpos em suas insanidades.

Este ...
Destino de dor e sofrimento,
Tormentos de uma casta deflorada,
Nas mentes nefastas de seus senhores.

Diga-me quem te pariu seres infiéis!
Que matam seus filhos,
Pela estranheza de suas mãos,
Sujas de sangue e desamor,
Desfilando riquezas amaldiçoadas,
Entre sorrisos frios,
Tal qual suas almas obscuras.

Das caravelas o luto,
Frutos selvagens de corações empedernidos,
Profecia de liberdades tolhidas,
Entre os séculos de faces putrefatas.

Desvario


De onde vens selvagem ser,
Neste vácuo pensamento,
Néscio em seus ditames,
Negando a si mesmo,
Antilógico existir em rudeza.
A inépcia tragou o seu juízo,
Hermético cisma na criação,
Repugnância da reflexão maldita,
Do filho infiel em suas prisões,
Lodaçais de ideias difusas,
A devorar seu ego apodrecido.
Rasga-te se não és,
Inconcebível criatura oca,
De boca infecunda neste caos,
Que te consome,
Em seus declínios inconsistentes,
Monstro insolente em seus escrutínios,
Vomitando insanidades,
Duplicação insólita da ignorância.

Pungente pesar


Pranteiam os versos na aflita noite,
Despeito coração dolente,
Cerra meus olhos casta morte,
Declina do meu peito estas lágrimas,
Contrição abrasada que me tortura.
Dos meus lábios verte o fel,
Fado purpúreo da minha boca,
Mordaça rouca do meu lamento,
Acrisolado aljofre chameja,
Intrínseco porvir escusa.

Otimismo


Pensei em escrever alguns versos,
Minha escrivaninha riu-se de mim,
Quando diante dela,
Sem saber o que versejar,
Fiz apenas um ponto no papel,
Agradeci a inspiração do momento,
Ao levantar-me feliz,
Por ter feito uma bela poesia,
Pois o ponto na folha em branco,
Somos nós a escrever nossa história,
A partir do primeiro passo.

Impulso do amor


Minhas mãos tremem,
Quando estou ao seu lado,
Fico sem jeito,
Sem saber o que fazer,
Meus pés não me obedecem,
Meu coração corre até você.
O seu sorriso,
Me conduz sem perceber,
Tudo ao redor se ilumina,
Ao tocar-me com o olhar.
É uma loucura,
Seus lábios nos meu lábios,
Sua pele na minha pele;
Seu corpo no meu corpo.
A sua voz me hipnotiza,
Seu calor me consome.
Quando não está,
Sinto o frio de sua ausência;
A saudade entra em desespero,
A cada pensamento um suspirar,
Beleza do amor que me inspira.
Não sei do depois,
O meu desejo aflora,
Ao seu amor vertente,
Seja o que for,
Descubro em seu corpo.

Em algum Lugar


Parti sem ter chegado,
Na estrada sigo,
Sem saber qual o meu destino,
Este caminhar insípido,
Entre as distrações do infortúnio,
Amores irrequietos em perfídia,
Corações vegetativos vertiginosos,
Em seus olhares capciosos,
Cheios de si e tão vazios,
Vagueando entre os nós da alma.
Fingi amor para não me perder,
Contrapondo o juízo alquebrado,
Sem entender a dor de nunca ter sido,
Ou ter tido as outorgas da vida,
Capricho sanguinário de mim.
Meus pés sujos de lama,
Denunciam o meu pesar,
Esta voz moribunda,
Cerceada pelo tempo.

Feitio


De tuas lágrimas tomei as letras,
A tua dor e alegria,
Do teu sorriso a música,
Sentimentos ósculos da alma,
Florescência do ser em fragmentos,
Que no mistério da vida,
Revelou-se em versos,
Trovas de nossa humanidade,
Frágeis rimas de concepções singulares,
Tão nossa e também tua,
Nesta diversidade de tons,
Experimentando asas,
Sonhos e rastros,
Prelúdio tragicômica sinfonia,
Ventura contingente jornada.

Fragmentos


Da janela da minh' alma vejo o céu,
Vejo pássaros voando e penso,
Lá está a imagem do meu desejo,
A liberdade em meu último discurso.
O brilho dos meus olhos me ilumina,
O coração se torna tempestade,
Vertendo rios em minha face.
Meus pés se tornaram raízes,
Tão profundas quanto minha dor,
Sentinela do meu corpo enfadado,
Arrastado por esta vida taciturna;
Tão sombria em seus pesadelos.
Vou caminhando virando as páginas,
Igual o mar rebatendo as ondas,
Que vem e volta,
Nunca é o mesmo.
Eu vejo e já não compreendo,
Mas vou vivendo os dias,
Ora sangrando, ora curando-se
Das mazelas sorrateiras,
Nos retalhos do tempo.

Totalidade


Plenamente conduziste-me,
Inteiraste de mim perfeitamente,
Amou-me sem limites,
Traduziu minhas vontades sublimes,
Apaixonadamente extasiou-me,
Sondou meus segredos habilmente,
Ocasionando-me desvarios.
Incrivelmente fundiu-se a loucura,
Descobriu o fulgor de amar.
De modo inacreditável,
Nos transportamos em plenitude;
Corpos entrelaçados indúbitavelmente.

Abissal


Andejamos ao poente,
À terra sucumbida,
Moribunda entre as estações,
Estranhamente entre os mundos,
Escabrosa trilha de pedras,
Homens inabitados,
Brados moucos,
Olhares invulgares,
Perdidos na selva,
Agudo punhal em sumos.
Onde estão os campos?
Reunimos ao redor da fogueira,
Arruinou-se a carne gélida,
Mostrai-me as criaturas,
Escondidas na tempestade,
Fel incolor entre as bocas,
Famintas sem beleza.
As bordas escorregadias do monte,
Sepulcro dos apáticos,
Soberanos em seus tumores,
Chaga de dores verminais,
Danação dos homens santos,
Em seus estupores irrequietos.

Lealdade


Tenho em minha lembrança,
Nossos bons momentos vividos,
Das vezes que discordávamos,
Sem perder o respeito e o amor,
Sentimentos tão gratos,
Até o último adeus que me deste.
Lembro-me com enorme saudade,
Dos passeios maravilhosos,
Nas divagações da vida,
Junto daqueles a quem amamos,
Com alegria e desprendimento.
Juntos éramos fortes,
Quase invencíveis nas batalhas,
Deste imenso existir de contraposições,
Emanado de inúmeros desafios,
Que tantos nos fortaleceram.
Amo viver junto do tesouro que construímos,
Família linda que me sustenta,
Mantendo no meu coração a certeza,
De ter amado com toda fidelidade,
As promessas que fizemos.
Apesar de todas estas riquezas,
Não vejo a hora do reencontro,
Na mais pura felicidade,
Que almeja minha esperança,
Pois sei que morrerei amando-te.

Te amo


Te amo além do tempo,
No encontro,
Simplicidade de um beijo,
Forma poética que me tocas,
Palavras de um gesto,
Silêncio da paixão.
Te amo quando me declamas,
Palavra viva chama
Reflexo de nós dois,
Vida que se revela,
Em seus nós de vento.
Te amo,
Quando me faz amar,
Nos repertórios de vidro,
Tão fragéis quantos as certezas,
De promessas confessas,
Te amo nas imperfeições,
Pontos cegos da jornada,
Afeito em sonhos e desilusões.
Te amo ousadamente,
Sem temer a perda,
Sabendo que o amor,
Vulnerável em suas indagações;
É somente amor e nada mais.

Adjetivo


Dê um a tua vida,
Que seja grandioso,
Marca inapagável na eternidade,
Dos teus desafios,
Símbolo de sua felicidade,
Qualifica-te no âmago dos teus sonhos,
Caracterize o objeto que te compôe,
Descubra-te em suas variáveis.
Avalie a concordância do gênero de suas escolhas,
A fim de que as flexões sejam reflexões,
Que façam de sua pessoa,
Alguém capaz de se orgulhar,
Ver que valeu a pena buscar a sabedoria.

Entre outras coisas


A cada dia que me levanto,
Tenho a oportunidade de mudar,
De ser melhor do que ontem,
Desafiar as dificuldades,
Revestido de esperança.
Ao olhar,
É possível visionar novos rumos,
Abrindo possibilidades,
Revelando sonhos a germinar,
Neste vasto chão da sobrevivência.
Mutáveis seres nas batalhas da vida,
Entre amores e desamores,
Cumprimentando a morte em segredo,
Beijando a velhice em mansidão,
Sorrateira e transparente,
Passando a limpo o eu em frangalhos.
São tantas impressões,
Catalogadas na alma sedenta,
Das verdades incógnitas,
A marejar a face cansada,
Em suas emoções transitórias.
Entre outras coisas...
Viver é o suficiente,
Na exata razão de ser,
Em suas mortes e ressurreições.

Soneto do Amor


Aparelha-te amor em mim,
Enobreça-me em teu encanto,
Dos teus seios o acalanto,
Deixe-me tê-la enfim.

Se não me olhas sinto o fim,
Não me iluda se não amas este arcano,
Sem teus beijos fico suspirando,
Meu coração sangra feito carmesim.

Acendo a esperança por teus afetos,
Fantasia dançante de coração aberto
Sacia-me devotamente de todo.

Por assim querer-te pareço tolo,
Sem amor não se vive;
Desejo em mim esculpiu.

Valsa das borboletas


Lepidópteras fádicas em sinfonia,
Revoluteiam no ar sob o imenso céu,
Pulsando entre as flores,
Beijando a vida em si tão curta,
Dançando entre as cores,
Ensaiando a eternidade tão bela,
Efêmera alegria de um par de asas.
Bailam freneticamente,
Ornando sonhos em alegria,
Despertando sorrisos,
Imitando o paraíso,
Imensidão multicoloridas,
Sublime poesia.
Verseja a crisálida em silêncio,
Toque de Deus em bela arte,
Aformoseando o infinito das coisas,
Metamorfose de inspirações,
Aquarelas perfeitas,
Inefável pintura celeste.




Indivisível afeto


Te tenho em meus laços,
Este afeto condizente amor,
De olhares diamantes,
Brilhando ao valor de si,
Embebido de venustidade.

As rosas te imitam na primavera,
Quando me perco em teus campos,
Beijo o delírio nos teus encantos,
Feito um colibri enamorado,
Delicada cura do meu fascínio.

Teus movimentos labiais,
Escarlate ternura consentida,
Abraça-me o coração seduzido,
Absorto de amores em ardor,
Paraíso infindo dos teus seios,
Libido adorno que me deleita.

Tamanho apego meu ser inflama,
A doce voz que de tão bela,
Os meus ouvidos se acalantam,
Metrificando o meu sentir,
Perdidamente em versos,
Poesia solene que me declama.

Em teu colo me aninho,
Este regaço que me apetece,
A desabrochar no meu peito,
Flores joviais de felicidade,
Enquanto juras de amor,
Confidenciam segredos,
De um amor de verdade.

Mimetismo


Semelhante amor,
De almas que se projetam no amor,
Mar imenso de intensas juras,
Brandura de corações despertos.
Sou você em mim,
Juntos somos iguais.
Homocrômicos e inseparavéis,
Nos fundimos no amor.
Nossos corpos imitam o desejo,
Que imita o querer confesso.
Amor de almas reluzentes,
Reflexo uma só imagem.

Caravela


Sou uma caravela solitária,
A navegar neste oceano de águas prateadas,
Onde a lua em noite inspirada,
Me faz em suspiros,
Enxergar-te em calmaria,

Delirando de amor vejo sua imagem,
No céu de estrelas que me guia,
Deslizando em seus mistérios,
Buscando seus tesouros desconhecidos.
Em teus mares seguirei,
Sem medo que a tempestade me sufoque.
Se a fúria do desconhecido me assombrar,
Não temerei o risco para te amar.
Não sucumbirei ao horizonte perdido,
Nem tampouco aos perigos a encontrar.
Não me importo de ser um náufrago,
Se na ilha dos teus desejos chegar.

Perecimento


A flor da vida vai murchando
Levando a labuta indigesta;
Cuja senhora se apresta,
Aos poucos ir findando.

As horas vão passando,
Seja dor ou seja festa;
De tudo somente resta,
Ir a pobre alma levitando.

De pé ou na cama
Com amores ou dissabores,
Em lágrima fecha-se o olho.

Do espírito encerra-se a trama
Do bem feito aos horrores,
Da aparência o sobrolho.

Devoção


Sou verso em teus versos,
Eu confesso de tuas rimas,
Quando canta o passarinho,
Em tua felicidade me inspiro,
Canto o meu amor ao seu destino,
Sou homem sou menino,
Na inocência vou de mansinho,
Ao seu coração verter amor.
Se amanhece sou sol,
Se anoitece sou lua,
Imitando os astros pra te seguir,
Sem deixar que esteja só,
Amando-te no silêncio do meu sonho,
Sem medo da desventura,
Esta dama por si imprevisível.

Desolação


Recluso,
Segue avante o maltrapilho,
Nestas vielas pardacentas,
Náuseo misantropo carrancudo,
Espiando o tempo em suas aversões,
Insubmisso valente cego,
Desprovido de uma espada.
Sórdido mirar tinhoso pesar,
Cruel pedinte enfadado,
Diante desta fortalezas moucas,
Campanários de burburinhos,
Atrozes cadafalsos vorazes.
O solo regurgita seus mortos,
Cólera profana de embustes,
Gritos impelidos no silêncio,
Pegadas desbotadas a ermo.
Aquém do inferno o sangue,
Funeral das máculas humanas,
Miserável concerto das tribulações,
Ardiloso fim de mãos fúteis.

Refúgio


Regresse antes que a saudade me leve,
Intenso fastio de um coração ocioso,
Ao passar os dias em dores silenciosas,
Lembrando-me dos afagos em teu seio;
Memórias que me aninha,
Gosto do beijo em teus laços,
Alegre beleza de tua face,
Leve toque dos teus lábios,
Ao meu querer tão distante.
Volte antes do entardecer,
Cure minha voz quase rouca,
De tanto chamar teu nome,
Noites a fio nesta solidão,
Sombra solene de tua ausência.

Recordações


Folheando as páginas da memória,
Ainda menino em suas travessuras,
Lembro da simplicidade dos velhos dias,
Da lamparina e do fogão a lenha,
Das brincadeiras inocentes,
Das gostosuras da vovó.
A beleza da vida em traços pueris,
Da ferida nas aventuras sem medo,
Da liberdade de ser sem nada temer.
As cores eram diferentes,
Nestes quadros poluentes,
De gentes decadentes doentes,
Desfigurando a vida condizente.
Éramos crianças inocentes,
Em seus sonhos grandiosos,
Fantasiosos e divertidos.
A velha estrada,
O amigo velho,
A casa antiga em seus sabores,
Gostos simples em brandura.
O tempo sem tempo,
Tudo mudou e ficaram as lembranças,
Ocaso perene em seus destinos,
Onde perdeu-se o tom da cantiga de roda,
Dos velhos hábitos da dignidade,
No profundo respeito aos senis,
Crianças desoladas em seus silêncios,
Sufocadas em suas sabedorias,
Deixadas ao relento,
Reminiscências perdidas,
Aos olhos dos energúmenos,
Fratricidas suicidas do século.

A prostituta


Quem sou eu?
Uma escrava de mim?
Um romance as avessas?
Alguma flor de petalas lúridas
Despetalando no jardim dos boçais?
Sou o mea-culpa de suas introversões,
O desejo descarado de sua fraqueza,
A desculpa do seu infortúnio,
Nos infernos que procriamos,
Em leitos presunçosos.
Sou a inveja dos fascínios proibidos,
Pernicioso afeto do seu capitalismo,
No obscuro sentir de sua identidade.
A minha paixão é transmutável,
Metamorfose da vida em suas réplicas,
Furor em conveniências,
Tal qual o reflexo de sua humanidade,
No juízo insensato do seu veredito,
Depositário da sua herança maldita.
Sou teu medo e desejo,
Vazão de sua violência esfíngica,
Em seus ócios escandalosos,
Proletária da sua sorte,
Vestida de tempestades invisíveis,
Ataviando as horas inconvenientes,
Até o despertar de sua santidade.
Te devoro e não me percebes,
Na loucura de tuas confidências,
Na fragilidade de tua desgraça,
Seduzida por suas mentiras,
Que me concebe sem entender,
O que realmente sou além da luxúria.

Deseo de amar


Vaya corazón,
En este tempestuoso mar del amor,
Pero no te olvides de llevar el salvavidas,
Pues si pasa de caer,
No te ahogas.



Existência


Quanto tempo ainda terá?
Os dias se vão lentamente,
Com eles seguimos,
Em algum ponto do caminho,
Entenderemos o tempo,
O quanto deixamos de ser,
Ignorando coisas simples,
Mas de suma importância,
No grandioso bem universal.
Sentiremos falta do abraço,
Que deixamos de dar,
Do perdão negado,
Da cegueira no olhar,
Das oportunidades de ser compassivo.
Desejaremos consertar os erros,
Dizer a palavra te amo não dita,
Ver o outro além da soberba,
Ser família quando não quisemos,
Por estar no nosso mundo fechado,
Alheios ao melhor da vida.
Ao piscar dos olhos,
Nada mais poderemos fazer,
Pois nosso relógio terrestre parou,
A última página de nós,
Se tornou memória.
Viva o que tem pra viver,
Ame-se e ame o que pode amar,
Deixe que a alma se esforce na bondade,
Garanta a liberdade de ir,
Sem nenhum ressentimento,
Tendo a certeza de ter vencido.

Multíplice solilóquio


Fico aqui no meu silêncio,
Rebuscando as páginas das emoções,
Me procurando em cada pensamento,
Que explique sobre mim,
Enquanto observo a vida,
Em minhas perguntas sem respostas,
Certezas incompreendidas.
Fico aqui até quando quiser,
Na entrelinhas do meu eu,
Entre tantos rascunhos que fiz,
Reconsiderando meu ser em reinvenções.

Pena capital


Vai meu ser indelével
Rebuscando o mundo resoluto
Insistindo ao saber diminuto
Que a dor em mim seja delével.
Permita o céu que a morte seja branda,
Do deletério vício me cure,
Destino infundo de vil inconveniências,
Ferindo a decência do homem impoluto.
De vestes rasgadas desce ao fundo,
Vertendo arrependimento,
Amarga aragem em sofrimento
Sentença de filhos bastardos.
Do primeiro ao último olhar,
Vão-se as imagens infusas levando,
Amargo exílio de espíritos odiosos;
Adeus perene dos rebeldes em marcha.
Da batalha cega ao martírio insano,
Correm o sangue dos libertinos,
Abatidos pelo punhal da ignorância;
Cravado em seus corações frios.
Da certeza ao esquecimento,
Jaz na tumba da escuridão,
Os heróis anônimos em suas distrações;
Loucuras de um saber profano.
Em suas memórias agora emudecidas,
Calaram-se os sonhos entorpecidos,
Tendo por companhia os famintos vermes,
Correntes do indiferente olhar;
Aos infortunados miseráveis.
Vão os infiéis a beber do cálice,
No fino banquete de suas delinquências,
Demências de mentes insanas;
Devorados em seus abismos.

Alma Nua


Neste silêncio de mim,
Fecho meus olhos,
Rompo as barreiras do cansaço,
Ergo meus braços e sigo,
Correndo para onde eu quiser,
Tocando o céu e as estrelas,
O mar e as nuvens,
Misturando as cores,
livre como os pássaros,
numa longa jornada,
Sem medo do desconhecido.
Sou tudo e não sou nada,
Na beleza do amor incompreendido,
Onde as palavras perdem os sentidos,
Revelam o infinito das coisas,
Nas emoções inexplicáveis,
Gotejando a plenitude da vida,
Nas profundezas da alma.

Eu


Eu,
Paralelo universo,
Em suas criações,
De introversa criatura,
Nestas confabulações dúbias,
Polimórficas vontades no tempo,
Segredando individualidades.
Eu,
Multíplice hominalidade,
Em seus trajetos tempestuosos,
Mirando a calmaria adjacente,
Sob olhares de vidro,
Visões mórbidas contumazes,
Borrões da coragem,
Na tela da vida.

Gênero


Diga-me quem sois,
Nestas abstrações ao ocaso,
Este dualismo intransigente,
De identidades estranhas,
Ao primeiro amor que se perdeu.
Ao viril e feminil embate,
Onde está o pecado?
Livre arbítrio de quem?
Desobediência dos tolos?
Liberdade a estirpe que cria,
Sem intenções sobrepostas a natureza.
Ao conceito universal,
Vai a lubricidade selvagem,
Em seus imperativos fatigantes,
Contrassenso entre as massas,
De ilusões multifacetadas,
Revestidas de tempestades,
Opoentes ao bem Divino.
Segue a rebeldia entre falácias,
Em seus discursos vazios,
Sementes entre pedras,
A construírem o próprio túmulo.

Desprendimento


De tudo que vivi,
Fui o que me deste,
No imperfeito amor,
Espinhos em flor,
Noites sem lua,
Dias sem sol.
Em todas as estações,
Percebi a grandeza de si,
Esmero das emoções,
Olhar altivo da beleza,
Simplicidade do querer,
Ardendo de cumplicidade.
Teu perdão me tocaste,
Em cada perda mim,
Entremeios do existir,
Dialogando a verdade,
Ruídos da tempestade,
Vozes de chuva,
Brincando com o vento,
Entre as trovoadas,
Iluminando as trevas.
Quando partirmos,
Levaremos a paixão,
Desejos em eternidade,
Perdão iluminado,
Tantas vezes doado,

Sob sorrisos e lágrimas,
Exequível dever consentido.

Sexo


Amplexo convexo,
Reverso inverso;
Memorável reflexo.
Erótico, caótico,
Exótico endógeno;
Exógeno dilema.
Força plena,
Macho e fêmea;
Reverbera cena
Sexo léxico,
Préstimo,
Do corpo que acena.

Carruagem


Indômito animal introvertido,
Nous compelido intempérico,
Consumado caos cadavérico;
Avilte desalinho tolhido.

Temida besta de ares decaído,
Aonde vais assim histérico?
Inflamado doudo quimérico,
Arrogante corcel transido.

Vai imponente a cavalgar,
A criatura exangue convindo
Fatídico fardo a arquejar.

Segue em rompante arfar,
Umbrático caminho infindo
Tal qual seu o seu ladrar.

Fardo


Rio caudaloso é a dor que me consome,
Corroendo-me a carne este libelo,
Expressão de mim feito espinhos,
Flagelando minha carne ignota.
Vou rompendo os laços,
Descompondo-me em falsos risos,
Indiviso retrato de minh'alma,
Que sacrossanta espargiu-se,
Em cada lágrima do meu ser.
Não quero falar de amor,
Este sentimento sentido,
Tantas vezes incompreendido.
Acho que vou pra algum lugar,
Onde meu eu não esteja,
Não me sufoque.
Onde eu consiga ser eu,
Além das máscaras,
Veja além da carcaça,
Desta humana flor letárgica.
Não importa o que pensem,
Vou gritar com toda minha voz,
Quando no alto da montanha chegar,
Vislumbrar o mundo com outro olhar,
Que não seja meu,
Que não seja imundo,
Mas que seja puro como a esperança,
Brotando em cada canto,
De um ser em agonia.
Vou de braços abertos,
Com olhar desperto,
Beijar a liberdade,
Perceber meu novo eu,
Em suas doidices de sanidade.

Música


Suavemente as notas vão se unindo,
Batidas do íntimo pulsante.
Sinto o tempo em cada ponto,
Inspiração harmoniosa do espírito;
Tons e semitons universais,
Percebo a sutileza dos sons,
Imponência da criação em primeiro ato,
O transportar é suave e cristalino,
Dimensões etéreas incomensuráveis.
O sorriso silencioso acaricia a face enamorada,
Trazendo o paraíso em frações de alegria.
O coração dança no imenso salão da essência,
Desenhando em seus passos novos acordes,
As canções em detalhes se enchem de cores,
Amores infinitos em suas particularidades,
Em cada canto do sentimento,
A alma se eleva aos pilares da emoção;
Beijando a beleza em seus sedutores lábios.
Preciosa é a força que nos toca,
Ondas exatas do eu em plenas núpcias,
O mar da solidão vai se abrindo,
Afagando o vazio em suas revoluções,
Em fragmentos o ser se desfaz,
Transformando-se em brisas fantásticas;
Enquanto viaja pelas relvas da memória,
Exatamente se torna o que é,
Recomeço em variações inexplicáveis;
Mundo em outros imerso.

Trovador


Sob o céu de estrelas,
Confidenciava a lua em seu asilo,
Galanteando a noite,
Remissão do afável desejo,
Venerável luz de intenso amor,
A beijar o infinito.
Enamorava o frescor da madrugada,
Devotada dama em adorável perfume,
Sussurrando ao vento tanto afeto,
Que minhas lágrimas sorriam,
Acariciando minha face apaixonada,
Meu coração entregou-se a felicidade,
Seduzido de encantos.
A luz se fez poesia,
Iluminou meus versos,
Bucólico sonho benfazejo,
Onde as nuvens meu íntimo leito,
Eternizou tamanho apreço,
Inflamado de confidências,
Ao me declarar em desvario,
Aquela que tanto amava.

Abandono


Definitivamente,
Nem mais um minuto,
Resoluto estou,
Esquecendo-te vou seguindo,
Cansei-me dos teus enganos,
Amor profano que me apavora.
Saio de sua vida,
Renuncio ao amor que nunca tive,
Deixo-o sem arrependimento,
Amarguras de um tempo,
Disparidade das minhas emoções.
O meu amor,
Levo comigo sem destino,
Antes que minha vida se esgote,
Vítima do teu egoísmo,
Retrato de tua falsidade,
Levando-me a outro porto,
Sem olhar para trás.
Que a sorte te valha em solidão,
Ao acaso de tua covardia,
Verdadeiramente,
Não valeu o meu sorriso,
Te deixo em lágrimas,
Arrependimento do meu engano
Por entregar-te o melhor de mim,
Sem a justa troca,
Ao meu coração maltrapilho.

Doce Olhar


Sinto a beleza desta vida,
Da casinha de sapê onde amor,

Olhou para mim docemente,
Na simplicidade de um olhar.
Tudo era de uma alegria sem par,
Cuja alegria de um aperto de mão,
Fazia o coração voar na inocência.
Tudo era simples,
E até mesmo os passarinhos,
Não tinham medo de cantar,
O canto alegre das manhãs.
A comida farta do trabalho duro,
Cozida num fogão a lenha,
Feita com amor,
O melhor dos temperos.

Ao cair da noite,
Em volta de uma fogueira,
O velho pai cheio de sabedoria,
De mãos calejadas,
E pés descalços;
Contava causos e mais causos.
As estrelas brilhavam,
E nos faziam sonhar,
Com a fé mais pura.
As flores multicores,
Se misturavam ao céu,

No belo amanhecer,
Visto pela janela da casa de chão batido,
E o latido do cão,
Correndo pela casa cheio de alegria.
Ainda sinto o cheiro,
Da melhor comida do mundo,
Que o tempo levou,
Deixando na memória,
O jeito cândido de ver o mundo,
Debaixo da velha árvore,
Que tanto me ouviu.

Pulsação


O tempo,
Entrelinhas do existir,
Percepções transitórias do ser,
Em suas emoções peremptórias,
No vasto infinito de estar.
Buscas infindas,
Força da vida em resistência,
Em seus desafios mortais revolucionários,
Ciclos definitivos universais.
O tempo,
Portais em olhares invisíveis,
Esquadrinhando o desconhecido,
Na exatidão que o concebe.

Desamor


O sol se pôs em nosso horizonte,
Tantas promessas perdidas,
Por um único beijo insensato,
Lampejo de um corpo em chamas.
Momentos vívidos agora mortos,
Sepultados nesta tragédia,
Naúfragados em nosso mar em fúria,
Tempestade de um amor profanado.
levarei de ti a saudade,
A beleza dos teus afetos,
Que mesmo agora doídos,
Encheu-me de alegria,
Mesmo as lágrimas agora derramadas,
Lava-me de todo nesta provação.
Não se importe comigo,
Seguirei meu caminho,
Serei mais cuidadoso,
Ao entregar meu coração.

Espelho


Eis a imagem que contemplas,
Rastros do tempo em sua humanidade.
Sentimentos diversos,
Dispersos na voracidade do seu interior.
Os espinhos ferem os teus pés,
Nos caminhos seguros de sua liberdade.
Do invísivel em contrastes,
Desabrocha de si o intenso refletido da alma;
Forma profana da pura essência.
Em imperfeições revela-se o ser,
Vertendo prantos em sua desventura.
Entre formas inexatas os olhares vagueiam,
Buscando a veracidade de um detalhe;
Entalhe esculpido nas sendas da ignorância.
Do olhar minuncioso desperta a fera,
Silenciosamente na visão de um reflexo.

Falando de amor...


Coitado do amor,
Escondeu-se no tempo,
Vestiu-se de vento,
Pediu a razão que o advogue,
Andam por aí difamando teu nome,
Chamando-o de qualquer futilidade.

Feeling


Aqui diante de mim,
Onde o meu olhar me sangra,
Me purifico em lágrimas,
Sei que não importa a culpa,
Desta desventura de amor.
Se tinhas amor não me deste,
Na proporção que te amava.
Nossos egos se perderam,
Na cegueira de desejos incertos,
Amordaçados na desleal volúpia,
Cativeiro de nossas almas vazias.
Dançamos ao vento,
Ao som do ruído da incerteza,
No descompasso da vida.
Aqui diante de mim...
Apenas os nós deste infortúnio,
Em suas percepções transitórias.

Clarão da lua


Afável anjo adeja o domo celeste,
Devoluta ventana de fantasias,
Beijando o mar em venustidade,
Quando em seus abraços,
No preamar da noite,
Escreve na areia teus versos,
Evos imortais de poesia.
De tua paz ouve-se o canto,
Ecos vibrantes de amar veemente,
Suave bailar da criação em silêncio,
Terno afagar da luz de tua beleza.
Do teu éden de sonhos,
Adorna com cantigas o vento,
Abraçando as flores e o deserto,
Rios e vales,
Escutando as discretas emoções,
Dos corações singulares.
De lá sondas a pena,
Dos afoitos consortes,
Intrépidos covardes,
Em seus incógnitos plangores.

Criação


O mundo se vestiu de cor,
Quando aqui chegou,
és uma obra que emanou,
Do humano ao divino amor.

Ímpeto


Dê-me seu tesão,
Farei versos em teu corpo,
Rimas em teu beijo ,
Me farei senhor das letras,
Quando baixinho na hora do amor,
Sussurrar seu nome com loucura.

Senzala


Fastio de horrores,
Palcos silencioso de dores,
Corações ensanguentados,
Estirados em desonra;
Caos de almas sofridas,
Zombaria de seres empedernidos.
Quem te feriu?
Filhos adotivos da cobiça!
Cordões umbilicais dilacerados,
Povo em ódio encarcerado,
Não há rima neste poema,
Dilema dos desesperados.
Não há beleza,
Nesta inocência de raízes cortadas,
Estes versos escarlate,
Disparate em corpos mutilados,
Passado e presente descontente,
Preconceitos envolventes,
De razões incoerentes.
Pastos de gentes sem pudores,
Sem alma que os sustente,
Ignorâncias pertinentes,
Vomitando insanidades,
Senzalas dos povos,
De todos os dias,
Gentilezas disfarçadas em covardia.
Choros eloquentes ecoam,
Sem ter quem os escute,
Morrendo sem causa e direitos,
Em sepulturas vazias,
Profanadas do amor em suas vidas.

Parnaso


Com olhar luzidio segue a alma flutuante,
Feito astro cintilante a cruzar o universo,
Imitando as estrelas da abóbada celeste.
O pensamento infinito fragmenta a criação,
Derramando gotas de luz pelo caminho.
A beleza da vida esmiuçada em versos,
Tons de um canto silencioso do humano sentir.
O véu majestoso do tempo,
Em seus contratempos nos corpos calejados;
Traços lúdicos de vasto dilema.
Da juventude á velhice,
Guarda o ocaso seus tesouros;
Ornado de sonhos e desventuras.
Em todo canto germina a poesia,
Sem importar a força que a encoraja.
Seja amor ou seja dor,
Felicidade ou consternação,
Com ou sem rima;
Agrega-se exatamente ao seu fim.
Dos cantos mais sombrios,
Ou dos lugares mais iluminados;
Tece o saber a sua história.
Somos menestréis de nosso poético,
Mestres da arte de viver.
Somos poetas solitários em nossa intensidade,
Deixando na escrivaninha do invisível;
As impressões de um heroísmo inimitável.

Águas de mim


Meu ser ferido em lágrimas se desfazia,
Esvaindo-se em gotas das dores o ensejo,
Do alívio de tal penar o despejo,
No oceano do esquecimento a valia.

Dos sofrimentos a covardia,
Cálice amargo do amor ao desejo,
Notas de uma música triste o arpejo,
Canto inibido da vida em agonia.

Em meu desdém peço ao vento que leve
Do meu pesar o desalento
Que insinua que o meu coração não serve.

Minh'alma deságua em sentimento
Lavando-me enquanto meu sangue ferve
Queimando no calor do arrependimento.

Alma Gêmea


Sopra a brisa suavemente,
Ondas invisíveis de amor nos toca,
Únicos na centelha divina da criação,
Aguardamos o aproximar-se,
Desejamos sem saber do encontro,
Da beleza da união tão sonhada.
Aguardo-te na esperança,
Templo de amor sempre belo,
Alegria do nosso jardim de núpcias,
Consolado pelo tempo avassalador.
És minha entre tantas outras,
Espírito adorável de faces ocultas,
Sigo as estradas em sua direção,
Mesmo sem saber onde estás.
Em sonhos enamorados te beijo,
Realidade do sentir,
Quero-te minha,
Ganhar asas no infinito;
Tornar-me um contigo,
Enquanto durar a eternidade.

Arrependimento


Fantasioso destino meu ser irroga,
Prova enseja em fragmentos,
Penoso fastio me afronta,
Dos pecados austero castigo,
Letal ferida inflingida.

Áspero crime apena,
Lapso repúdio incerto,
Douta esperança invejada,
Auréola luz que me afaga,
No perdão por mim apetecido.

Porfiarei meu ser em desvalia,
Prostarei na terra minha tristeza,
Praga nefasta do meu inimigo,
Aflição promíscua da minha amizade,
Descuido algoz da felicidade.

Meu olhar aflito perscruta a alegria,
Permuta infinda da minha vontade,
Aguerrida amiga em meus combates,
Em seus rastros de crueldade,
A ferir um homem em desalinho.

As estações voam como o vento,
E deixam na memória as impressões,
Memorial violento da angústia,
Dos amores que me olvidaram,
Deixando na boca o gosto da saudade.

O sol se pôs no meu deserto,
Dor condizente de total rebeldia,
Vou-me embora seduzindo o horizonte,
Na plena paixão da incerteza,
Após trágico choro espargido.

Intenções


A sua intensidade do olhar,
Despojado num belo sorriso,
Revela em mim confidências,
Há muito guardado neste eu,
Romântico peregrino urbano,
Embalado por vozes dantescas.
Abro a porta e saio sem destino,
Na esperança que eu te encontre,
Num lugar qualquer a meu gosto,
Enamorando-se da esperança,
Que seja quem a há muito desejo,
Me decifre na unicidade de um beijo,
Ou me afugente por ter cometido,
No calor da solidão tamanho desatino.

Alma


Tantas coisas escrevi neste papel,
Que depois de tanto tempo,
Tornaram-se invisíveis minhas dores,
Bondades rarefeitas,
Borradas pela morte,
Voejando o infinito,
Sem saber onde pousará,
Esta folha ruvinhosa,
Solta ao vento do desconhecido.

Glacial


Frígida exiguidade aporta,
Esvaído desejo mordaz,
Negrura aurora desnuda,
Amargo desterro sob o sol,
Luxúria das estações,
Solitário açoite de injúrias.
A morte atavia minha voz,
Embargada de tempestade,
Cúmplice alma sentenciada,
Vestida em núpcias invernal,
Lua de sangue amargo exílio.
Os lírios murcharam a noite,
Tal qual minha alegria,
Maculada em trágico destino,
Estrada infesta de ódio,
Rastro imundo maculado.
De mãos trêmulas sigo,
Arrastando os pés cansados,
Fiel denúncia do meu olhar,
Venial paraíso insólito,
Entre pedras e espinhos.

Infortúnio


Vou seguindo,
Sentindo o que tu me destes,
Revés do amor que com tal desvelo,
Enamorou-se meu coração de tanto encanto.
Estrada afora desfaço teus laços,
Beijo a noite que me afaga,
Sussurrando aos meus ouvidos,
Versos de silêncio ao meu ser dolente,
Vívido de esperança ao brilho de uma estrela.
Vou seguindo entre as pedras,
Do castelo que desmoronastes,
Deixando as flores mortas,
Para o sepultamento de sua beleza,
Petrificada na lembrança do seu olhar,
Vil sorriso de pandora,
Desdito prazer íncola morte.

Litígio


Sei que existo,
Finitude infinita,
Solícito firmamento que me abriga,
Andejar revoltosa fuga,
Sombra de outras sombras,
Louco disfarce de humanidade.
Mira o poente minha ilusão cansada,
Beijo o pó meu manto,
Quando abro a janela,
Abro a porta,
Destino incógnito vício,
Caminhar entre as alcateias,
Sorrateiros amigos entre sorrisos.
Tantas mãos empunhando facas,
Entre perfume e morte,
Pés vacilantes tal vaidade,
Casamata de estranhos,
Irmãos sem rosto,
Ouro de tolo trazem,
Vil pecúlio da solidão.

Poema sem nome


Este poema não tem nome,
Não tem pátria,
Não tem cheiro e nem cor,
Este poema sangra em seus versos,
Gritos não ouvidos,
Em cada dor agredida,
Da vida sem vida,
Forma desvalida em frangalhos.
Este poema quer o seu silêncio,
Pra escutar o lamento,
Vozes e sussuros ao vento,
Dos miseráveis do outro lado,
Lugares invisíveis aos nossos olhos.
Este poema...
Tem em si tantos outros poemas,
Que ao teu querer seja esperança,
Inspirando felicidade,
Versos fraternais de bondade.
Talvez este seja só mais um poema,
Entre tantos outros,
Porém mais que um poema ,
É o que ele deixa em si,
No amor profundo que desejas,
Que pode doar,
Encontrando-se,
Sentindo a poesia de ser somente,
Fazendo a parte que lhe cabe.
A métrica desta poesia é sua,
Em cada estrofe do seu coração,
Numa declamação sem julgamentos,
Onde a inspiração é o desprendimento,
Em cada momento vivido.

Simbiose


Ao mais resoluto dos desejos,
Um querer constante em conformidade,
Partes mútuas sublimes em alinho,
Findando-se no esmerar dos sentimentos.
Nestas pétalas de tão cara flor,
A beleza vai se moldando,
Ao perfume tão terno de almas luzentes,
Enquanto o amor sussurra segredos,
Sonhos entre sonhos,
Realidade e pensamentos,
Prelúdio de altas vozes;
Ventura de corações despertos.
Prova de um enamorar-se contínuo,
Traz o tempo sobriedades,
Afinidades num caro porvir,
Nas tempestades e na brisa leve.

Singular


Os nós intrínsecos deste orbe,
Lágrimas silenciosas em seus claustros,
Embaraços do tempo,
Aurora de uma desconhecida noite,
Daquilo que não se viu,
Não sentiu e se foi,
No apressar das coisas da vida,
Do tempo sem tempo.
O céu nublou-se,
Chegou o vento,
Caiu a chuva,
Igual a vida em seus paralelos,
Insistindo que precisamos existir,
Sem sermos escravos,
Da própria liberdade que não temos,
Calabouços do ócio,
Frias armadilhas do prazer.
Tantas palavras soltas,
Tentando expressar o grito,
Do amor que desconhecemos,
Sufocado pela violência das mentes,
Entorpecidas de si mesmas,
Pela ilusão da vaidade,
Sangrando suas vítimas,
Nos enredos da estupidez.

Vaidade


Não macule meu afeto nesta veneração,
Não invoque meu riso manifesto,
Minhas trovas conjuram seu labor,
Aclama meu garboso amor,
Impassível primazia dos versos,
Díspares em formosura.
Enuncio o abstrato das coisas,
Axioma outrora bucólico,
Atrofiado na penúria lírica,
Esta vastidão do meu coração,
Nefasto martírio de faces assombrosas.

O peregrino


Gracejo de mim nesta penumbra,
Histrião tragicômico de tal angústia,
Neste lamento de facetas contraditórias,
Fastioso sarcasmo de abrupta compaixão.
Zombo de mim neste caos,
Desdita vida em suas convulsões,
Náusea fremente em suplícios,
Desta boca maldita,
Rogações infestas de um réprobo.
Aos meus aís deixo o vento,
levar algures minha ruína,
Quem sabe também a culpa,
De não lutar diante da dor,
De um amor tão pálido.
Do chão fiz meu leito,
Imaturo jazigo em flor,
A despetalar meu último suspiro,
No grande espetáculo da vida.

Íntimo amor


Ao íntimo amor,
Sejam forte os laços,
Casta infinidade benfazeja,
Contínuo alento enredado,
Primícias do pensamento.
Ao sentimento apaixonado,
Revela-se o amor,
Plenitude de afetos,
Cumplicidade desperta,
Desejo solene d'alma,
A beijar o infinito.
Ao íntimo amor,
Sigo além de mim,
Verdade em si,
Promessas vívidas,
Percepção de nós,
Desafio da vida.






Lúdico


Em meu exílio de estrelas invisíveis,
Espreita-me a morte em minha agonia.
Vagueio nas lembranças feito folhas ao vento,
Procurando repouso incerto na dança louca.
A lua escondeu-se de mim,
Levando consigo minha coragem.
Me perdi em sonhos de vidro,
Melindres de um bêbado no porre da vida.
Sou um saltimbanco sem expectadores,
Um joguete nas mãos do destino.
Brinco de esconde-esconde com a felicidade,
Distraído numa soberba insuportável.
A desgraça se diverte extrovertida,
Enquanto procuro alento na esperança.
Eis um palhaço numa tristeza vagabunda,
Catando ao chão risos perdidos.
Num canto qualquer jogo meu corpo,
Desolado,maltrapilho visionando estranhos.
Sem pensar em nada me levanto,
Rio de mim mesmo.
Em minhas mãos uma garrafa vazia,
Mas cheia da minha vida arredia.

Orquestra poética


Feito mágica em concepção silente,
Despontam do imensurável sentir,
Seus acordes sublimes de poesia,
Notas cingidas de venustidade.
Sutilmente...
A alma deslumbrada em harmonia,
Capta o som do amor,
Proba sinfonia surreal tão casta.
Simetricamente,
O coração em sua evoluções,
Rege a obra de um querer confidente,
Em cada verso de um reverso,
Executando a vida em suas variáveis.

Sobriedade


Coitado de mim,
Fui me refrescar na brisa leve,
Pensando que era amor,
O que de ti esvaía,
Fui destroçado por uma tempestade,
Que sacudiu minha ilusão.
Não me matou,
Mas me devolveu à realidade,
De agora em diante,
Terei mais cuidado,
Não deixarei meu coração,
Ser seduzido pelo umbrático vento.

caos


Onde está a loucura?
O amor que me beija me escarra,
Afinidades metamórficas da morte silenciosa,
Desejos escusos ociosos sob a fúria,
Tempestade de sentimentos bestiais,
Inflando o ego doentio.

Eu te amo muito!
Também te amo!
És a mulher da minha vida,
Você é o homem que sempre quis,
O tempo passa...
A flor da juventude e das emoções murcham.
Onde está a paixão?

Nunca ouvi falar,
Na verdade nunca te amei,
Era só interesse,
Você era linda e agora!?
Você mudou tanto!
Muitas mentiras maquiadas.

Diálogos homicidas,
Objetos masculinos e femininos,
Macho e fêmea ferindo-se na igualdade!?
Disparidade de uma política suja,
Inversão de valores contraditórios,
Guerra entre os sexos impostos.

Mercenário amor de faces assombrosas,
Infiéis palavras imposturadas,
Estupidez aos ouvidos carentes,
Vítimas condescendentes de si mesmas,
Armadilhas da vida aos sem vida,
Matando-se em migalhas venenosas.

Mulheres e homem assassinos,
Vomitando seus vazios em suas celas,
Procela de almas perdidas,
Viciadas em suas íntimas corrupções,
Escravizados em suas vaidades famintas,
Lamentando-se após o funeral.

Dou-te a flor da dor,
Linda promessa simulada,
O que não tenho é teu,
Até que a vida nos sangre,
Réus desta sentença,
Condeno-te ao caos alucinante.

Amor confesso


Neste olhar de amor imenso
Que eu guarde tal afeto,
Sinta de ti o incenso,
Perfume de ares tão belo.

Em versos de brilho intenso
Gotas cristalinas em mar aberto,
Socorra este que ama, jogue o lenço;
Lágrima de amor atesto.

Jura de amor fiz ao certo
Lindas canções em real portento,
Nosso segredo em noites peço.

Dos teus agrados consentimento
Este brilho da alma imerso,
Beleza etérea em corpos impressos.

Entre Lençóis


Afagos, sorrisos e beijos,
Acendeu-se o lume,
Inveterada luxúria,
Perfumando o ar,
Trasladado desejo,
Dicotomia louca,
Da razão sem juízo.
Aos poros as intenções,
Desenhadas sob a pele nua,
Duo sentimento afeiçoado,
Eclodindo em sussurros,
Comensuráveis toques,
A rebuscar nossa finitude,
Moldada de encantos.

Trevas


Submergiu no infinito,
Condolente farol do céu,
Acalentando segredos,
Findo repouso na alvorada,
Vestígios dos sonhos,
Venerável repouso concedido.
Em tantos lugares andei,
Tal qual a inquieta morte,
Escavando túmulos,
Mãos invisíveis do destino,
Brincando de vento,
Aos lugares do mundo,
Tímido vagar,peripécia da noite.

Surreal


Trova o louco para escuridão,
Embotado arauto proferido,
Cesura em voz lânguida,
Tremenbunda mãos ávidas,
Sentença professa da tristeza.
Apagam-se as luzes,
Desbotam-se as cores,
Pelejam os astros,
Em seus bosques celestes,
Raízes de pedras,
Endeusados em seu limo.
Encontre o veio do rio,
Sacie a sua sede e sangre.
Não me deseje esta noite,
Sairei e serei brisa,
Ou quem sabe uma estrela,
Infinita lá no céu.
Estarei em teus lábios,
No gosto do beijo,
Na vontade de me querer.
Sente em sua varanda,
veja o que nunca vistes,
Sinta o que jamais quisera,
Não esqueça de abrir a janela,
Perceber o que antes não via.
Deixo o meu sorriso em tua lembrança,
Esse passáro de asas feridas,
Liberto no palato firmamento,
Sobrevoando a simplicidade,
Onde a sombra não me alcança.

Era apenas um sorriso...


O pôr do sol metrificava a noite,
Da janela minha afeição gracejou-se,
Ao ver o amor em forma tão bela,
Que dou outro lado da rua luzia.
Afeito de esperança desci apressado,
Num sobressalto do quarto lancei-me,
Desafiando as escadas tresloucado.
Eram cinco horas da manhã,
Acordei pensando ter tido um pesadelo,
Notei a cantiga de amor do galo,
Que em minha cabeça ecoava,
Sei que dos degraus não escapei,
Por onde anda não sei,
Aquela maldita me enfeitiçou,
Num sorriso me acamou,
Sem saber de mim.

Contradição


Além do ferrolho,
O que deve estar,
Palavras escondidas,
Ferozes e contidas,
Após o silêncio,
Sangrando na pétala que cai,
Da violácea flor da liberdade.
Virginal matina me consome,
Feito nuvem espargida,
Misturando-se aqui e ali,
Rindo do meu olhar,
Descabido sentido relutante,
Espadas afiadas do meu lamento,
Do que está além da colina.
é um verter contínuo de sangue,
Violência utópica do eu,
Disparidades da alma,
Tão doce e tão selvagem,
Buscando tocar o céu,
Enquanto os pés queimam,
Teimosamente em frangalhos.


Tenacidade


Este resoluto porvir em máscaras,
Juras consentidas em meu destino,
Invulgar mesura aluada,
Doravante me perdi em teu amor esta noite,
Prostrado aos pés do fingimento.
A incerteza estampa meu revés,
Diabrura dos teus encantos,
Lástima enfermiça desfigurada,
Do amante que um dia amou,
Agora ermo em seus espinhos,
Condena-se ao báratro investido.
A lua rasgou-se ao meio,
Na ilusão do meu pesadelo,
Cruel desventura que me oprime,
Abafando a luz dos meus castiçais,
Plena oblação do meu zelo.

Íntegro Amor


Flameja a paixão ao desejo,
Beleza perene sublime afeto,
Adorado amor nos revela,
Flores a desabrochar encantos,
Ao coração afeito de sonhos.
Infinitos versos voam,
De ser em ser,
Finitude de emoções,
Almas admiráveis infinitas,
Universais essências colhidas,
Nos olhares;
luzentes vidas,
A enamorar-se aguçado zelo.
Vai a formosura velejando,
Temeroso mar de aspirações,
Simetrias enigmáticas,
Sob as ondas ansiosas,
Dos corpos trêmulos,
Acariciada timidez indulgente,
Fogoso romance aclamado.
Tantos amores registra a pena,
Rebuscado pergaminho segreda,
Confissões terno beijo,
Alvorada seduz a noite ilustrada,
Que porventura amada,
Imita o riso e o pranto,
Amantes Abrasados,
Em tais ilusões, a cantilena.

Não vou dizer te amo


Não preciso dizer te amo,
Para provar meu amor,
Basta somente que o que sinto,
Pelas minhas atitudes,
Não deixe qualquer dúvida,
Do valor que lhe tenho,
Ao doar minha vida,
Em favor da tua felicidade,
Espelho da nossa cumplicidade.

Um poeta nunca morre


Um poeta não morre,
Apenas imita a morte,
Inspiração incrível do universo,
Unindo-se a criação fazendo versos,
Enquanto a vida em outra vida,
O molda em rimas,
Poesia eterna de lembranças.

Purificação


A causa primeira que me germina,
Neste corpo enamorado de si,
Tão cheio de alento que chega a verter,
Um rio de lágrimas dos olhos cegos,
Desta alma suicida,
Perdida no deserto do infortúnio,
Igual um pássaro de asas quebradas,
Sem saber se voltará a voar.
Tantas dores de um destino,
Espadas afiadas da derrota,
Cortando lentamente o coração,
Perverso suplício da solidão,
Numa estrada repleta de espinhos,
Onde sangrarei até purificar-me,
Buscando o meu outro eu,
Escondido no silêncio.


Adjacente


Ao perceber o seu olhar,
Meu corpo treme silenciosamente,
Perco o controle sobre mim,
Deixo-me guiar pelo sentimento,
Imposto ao desejo que me concebe.
Formamos uma única canção,
Acordes melódicos em sintonia,
Cantando o nosso amor ao universo,
Brilhando feito estrelas,
No céu imenso de nossa sensibilidade.
Te sinto em cada canto de mim,
Numa liberdade incontrolável,
Onde meu amor grita alegremente,
Sem medo de ser o que é,
Na certeza da felicidade do momento.
Ao seu lado permaneço,
Flor intensa do seu jardim de delícias,
Perfumando o melhor que há em nós,
Acariciando a simplicidade do existir,
Esta intensidade que nos funde,
Me faz querer-te por toda eternidade.

Devoluto


Recluso,
Segue avante o maltrapilho,
Nestas vielas pardacentas,
Nauséo misantropo carrancudo,
Espiando o tempo em suas aversões,
Insubmisso valente cego,
Desprovido de uma espada.
Sórdido mirar tinhoso pesar,
Cruel pedinte enfadado,
Diante desta fortalezas moucas,
Campanários de burburinhos,
Atrozes cadafalsos vorazes.
O solo regurgita seus mortos,
Cólera profana de embustes,
Gritos impelidos no silêncio,
Pegadas desbotadas a ermo.
Aquém do inferno o sangue,
Funeral das máculas humanas,
Miserável concerto das tribulações,
Ardiloso fim de mãos fúteis.

Serenidade


Teu olhar me agasalha em silêncio,
Flerte notável de sua candura,
Gotas suaves de vida,
A verdejar meu deserto,
Há tanto, areia e pedra,
Mistérios temerosos da solidão.
Lá fora, a noite desliza sorrateira,
Enquanto em teus braços,
Navego em mar seguro,
Águas tranquilas dos nossos sonhos,
Partilhando felicidade.

Separação


Se falo não me escutas,
Quando me escutas,não fala,
Há uma ironia entre nós,
Um muro de diferenças,
Nesta peleja de verdades,
Do amor doente que não se curou.
Nossa emoções se desencontram,
Nas vontades desiguais,
Forjadas ao longo das revelações,
Desta paixão infiel a toda loucura,
Licenciosos amantes libertinos.
Sigamos sem ressentimentos,
Acolhidos pelo tempo,
A olhar o mundo,
Descobrindo o melhor momento,
Nas definições do acaso,
Em toda aprendizagem percebida.

Fim


Venha meu amor,
Sente-se aqui ao meu lado,
Segure as minhas mãos,
Calejadas pelo tempo,
Me afague neste leito.
De ti quero o melhor beijo,
O melhor abraço,
O melhor aconchego,
Impressões da minha eternidade.
Dê-me o seu perdão,
Receba minhas lágrimas,
Este casto arrependimento,
Que do meu coração flameja,
Abrindo as portas da luz,
Á minh'alma fugidia.

Renascimento


Naufraguei,
Juro que pensei que fosse amor,
Toda promessa de nossos momentos,
Pensei que seu coração se unisse ao meu,
Que tantas vezes me disse te amo,
Com os olhos em lágrimas,
Acariciando meu rosto com ternura.
O tempo segue seu curso,
Vou com ele apaixonadamente,
Esquecendo de tudo,
Apagando sua imagem em mim,
Impressões de um engano,
Da morte e da vida,
Renascendo a cada combate,
Agora sei quem sou,
Dentro do amor de raízes profundas.

Transição


Esta árvore um dia frondosa,
Vai aos poucos secando,
Já produziu frutos,
Lançou sementes,
Agora vai findando,
Sentindo as folhas caírem,
Os galhos tenros,
Se quebrando.
As raízes outrora tão fortes,
Vão se desprendendo aos poucos,
O tronco se prepara em sua jornada,
Para ao chão dar o último beijo,
Se juntar a outras memórias,
Nas visões que a conceberam.
A seiva vertente entre as estações,
Vão se tornando escassas,
Até se tornarem lágrimas invisíveis,
Exaurindo-se ao vento,
Transmutação natural das coisas.

Tango


Dê-me tuas mãos,
Que a paixão nos queime,

Permita que meus passos,
A beije continuamente,
Pândego ardor entre olhares,
Vertiginosos abraços a nos possuir,
Extasiados pela música em nós,
Nestes corpos ardentes,
Ímpeto de encantos,
Concêntrico bailar exaltado,
Giros de amor consentido,
Corpórea sedução em volúpia,
Quimérica sensualidade enlaçada.

Geração perdida


Acredite,
Há jovens mortos,
Sem crença,sem razão,
Vegetando em vidas moucas,
De vozes roucas,
Gritos desconcertados,
Enlouquecidos pelo ócio,
De mãos vazias.
Não duvide,
Há filósófos perdidos,
Em suas frases feitas,
Versos alheios do nada,
Tempestade de falas sombrias,
Argumentos desvairados,
Palavras sucumbidas ao vento,
De escribas cheios de si,
Na hipocrisia de suas verdades.
Acredite,
Há devoradores de homens,
À espreita nas esquinas,
Tempo insano de abutres,
Sedentos de sangue,
Rapinagem maldita,
No tempo dos loucos.

Sirlânio Jorge Dias Gomes e Naddo Ferreira

Libélula


Em voos taciturnos chegastes ao meu ser,
No instinto voraz de sua feminilidade,
Absorveu-me por completo,
Alimentou-se da minha jovialidade,
Zonas pantanosas de cruéis desejos.
Rasgou minha carne sem escrúpulos,
Devorando-me em frações de pensamentos.
Seus movimentos alados sensuais,
Atraiu-me para o seu banquete afrodisíaco.
Em feridas latejantes inoculou-me de prazer,
Fascínio desmedido de uma presa fácil,
Em movimentos céleres arrastou-me,
Morte adorável em abraços incandescentes.
Por teu vício fiz-me caça,
Visão extraordinária de tuas fantasias.
Em gozos plenos deleitou-se,
Consumindo-se na insaciável sede de amor.

Poema sem nome


Este poema não tem nome,
Não tem pátria,
Não tem cheiro e nem cor,
Este poema sangra em seus versos,
Em cada grito não ouvido,
Em cada dor agredida,
Da vida sem vida,
Forma desvalida em frangalhos.
Este poema quer o seu silêncio,
Para escutar o lamento,
Vozes e sussurros ao vento,
Dos miseráveis do outro lado,
Lugares invisíveis aos nossos olhos.
Este poema...
Tem em si tantos outros poemas,
Que ao teu querer seja esperança,
Inspire felicidade, Versos fraternais de bondade.
Talvez este seja só mais um poema,
Entre tantos outros,
Porém mais que um poema,
É o que ele deixa em si,
No amor profundo que desejas,
Que pode doar,
Doando encontrar-se,
Sentir a poesia de ser somente,
Fazendo a parte que lhe cabe.
A métrica desta poesia é sua,
Em cada estrofe do seu coração,
Numa declamação sem julgamentos,
Onde a inspiração é o desprendimento,
Em cada momento vivido.

Catalepsia


Pálida ilusão do mundo,
Este caos multifacetado,
Covil de seres primitivos,
Travestidos de humanos boçais,
Gesticulando para morte,
Do profundo abismo d'alma.
O inferno paira nas mentes,
Estado visível da histeria,
Ócios do corpo em catalepsia,
Putrefato odor dos hálitos,
Serpenteando a boca dos defuntos,
Deitados em seus caixões,
Idílios dos mortos-vivos,
Velando a si mesmos.

Idílio


Em teu amor me aninho
Te amando deixo que me leve,
Desejando que não seja breve
O amor neste infindável caminho.

Intensidade


Canta este olhar em sensualidade,
Estas nossas mãos entrelaçadas,
Aquecidas em nosso desejo,
Este fogo que nos queima,
Cálidos corpos fulgurantes,
Abrasados de paixão.
Me apego aos teus sussurros,
Danço ao som de sua fúria,
Estas rotações do amor,
Beijando meu corpo no teu,
Notas musicais do seu arpejo,
Intrumento notável,
De suas hábeis mãos em trovas.
Em teus movimentos bailo,
Ao som de sua melodia sem ensaios,
Embevecido na beleza dos teus encantos,
Oásis do meu repouso,
Fonte de loucuras,
Hálito refrescante dos teus lábios,
A oscular-me por inteiro.

Destino


Onde os seus olhos vertem lágrimas,
Há mais que um monte de memórias,
Dançando entre a luz e as trevas,
Sorriso sórdido da sua fraqueza,
Ária triste de sua humanidade.
Serena noite o dia almeja,
Célere esperança do amor,
Gotejando a alma infinda,
Sulcos do tempo apressado,
Translado da vida em reflexo.
No seu intransponível refúgio,
Há muros e pontes,
Flores e espinhos,
Espadas e escudos,
Representações de si,
Artífice do destino,
Obra prima da sua escolha.

Saudade


Se soubesses da minha dor,
viria apressado em longos passos,
A solidão é meu interior,
Que me consome em meu percalço.

Das horas o seu toque acolhedor,
O teu sorriso em meus braços,
Lábios sem desembaraço,
Desejando-me sem pudor.

De tanto gritar fico rouca,
Chamando teu nome em desejo,
Chorando sei que não está aqui.

Num rompante rasgo minha roupa,
Tua imagem no espelho vejo,
Fúria do corpo doida por ti.

Exílio


Diáfano nestas trevas rochosas,
O prado invade meus aposentos,
Avulta suas raízes primitivas,
Seivas onde faz-se o rito,
Acrisolando a vida aos cantos das aves,
No entoar dos rios o mantra das matas.
Infindamente a brisa celeste,
Beija a luz do sol,
Rico ornamento da matéria,
Ao chão de rastros em prece,
Sussurrando a alma atenta,
A opulência das asas.
Ás covas as promessas,
O último olhar de mãos estendidas,
Acariciando o junco da terra,
Na certeza de se tornar semente.

Namorados


Namorar é se perder em carinhos inefáveis,
Deslumbrar-se em gestos inesquecíveis,
Encontrar-se no olhar mais apaixonado,
Se desfazer em loucuras por amor,
Acariciar a alma em fantasia,
Lançar-se nos braços de quem ama;
Eterno desabrochar,
Onde flores de saudade brotam a cada minuto,
Ser mais que poesia,
Inspiração solta no ar que irradia e alucina,
Embriagar-se de encantos,
Tornar eterno até mesmo um simples momento;
Se afogar no mar de sonhos,
Imaginar delícias em corpos que se fundem,
Descobrir tudo que não pode ser dito em palavras,
Mas vivido, sentido e admirado,
Em atos que florescem do verbo amar.,
Mergulhar no infinito.
Eternizar o sentimento,
Lapidando-o com ternura,
Sem jamais perder o tino.

Crisol


Ao celeste véu apenas uma verdade,
Paz além da cólera que mata,
Amor que anula a ira,
Joia irrefutável do universo,
Alegria acima do dor,
Prova natural da vida,
Visão frágil na fraqueza alheia,
Do infinito bem a ser colhido,
Desejo de ser exatamente o que é,
Na concepção de si,
Batalha sobre os vícios,
Mirando a virtude de braços abertos,
Espelho finito do livre-arbítrio.
Destino nas próprias mãos,
Calejadas pelo caminho,
Rica gratidão pela existência,
Comiseração na imperfeição,
Aos humanos na desumanidade,
Corrompidos na carne que o aflige.

Avidez


Somente este coração,
Temerária chama,
Infundo pesar.
Casto éden insípido prado,
Ausente ilusão,
Pernoite sem melodia,
Torrente furtiva,
Manancial brejeiro.
Impetuosa sorte,
Beligerante fado,
Astro de esgalho,
Desmedido clarão,
Distinto embaraço,
Figura asombrada.
Repouso tão alvo,
Ósculo enlevado,
Além da lua,
Êxtases apenas.

Egrégio


Distinto sorriso que te adornas,
Olhar terno em teus segredos,
Atentamente sou devoto,
Ao querer em teus lábios,
Doce manancial são teus caprichos,
Menestréis de versos encantados,
A cantar o sol que te ilumina,
Em tons de música celeste.
Vãos meus passos seguindo-te,
Seduzido por sua melodia,
Invisível sereia no imenso oceano,
A devorar amantes desprevenidos.
Em meu peito o ardor da emoção,
Vontade insana tempestuosa,
Ondas de um mar agitado,
Profusões em sentimentos obstinados;
Meu ser navega em ti,
Águas misteriosas que me conduz,
No caminho do seu desconhecido,
Enquanto o sol se põe no findar de um dia,
Cálida confissão meu corpo encerra,
Quando me perco em pensamento,
Alimentando vaidades ensandecidas.

Desembaraço


Sem saber sigo em frente,
Estes medos?
Apenas provações,
Entre as estações da vida,
Se oscilo ou me firmo,
O que importa?
Portas se fecham,
Portas se abrem,
E janelas se fazem,
Na sutileza da alma,
Essência de um despertar.
Se a tempestade furiosa,
Ruir a minha casa tão frágil,
Lutarei para outra construir,
Desta vez mais forte,
Mas ainda sim quebradiça,
Mas que guarda em cada canto,
Os sonhos mais belos,
Os mais absurdos,
Tal qual os pesadelos,
Ali enredados em silêncio.
Não me interrogue a beleza,
Nem tampouco a feiúra,
Das dúvidas vividas,
Pútridas feridas,
Das chagas do meu caos,
Encharcados de sentimentos,
Das minhas lágrimas,
Ou quem sabe do meu sorriso.
O que importa?
Sinceramente não sei,
Mas a estrada é longa,
Destino concebível.

lealdade


Te amo,
Deságue em mim este rio de amor,
Sou teu mar na beleza de amar,
Únicos em nossa grandeza,
Igual ao oceano em seus mistérios,
Mas fiel em sua natureza criada.
Dê-me teus beijos,abraços,olhares,
Gostos,sabores,sorrisos,lágrimas,
Dúvidas,certezas,proezas e tudo,
Que as emoções nos permitirem.
Saibamos do tempo em nossa almas,
Da leveza da vida em seus vendavais,
Vivendo e sobrevivendo,
Além de nossas individualidades,
Fundidas em reciprocidade,
Na beleza do amor sentido.
Te amo nas introspecções,
Nas profusas versões do teu ser,
Resposta da vida em suas variáveis,
Pontes de nossa ousadia,
A reinventar o amor a cada dia,
Amando até o alvorecer,
Desejando que a esperança,
Nos permita a outra noite,
Até que a velhice acolha a morte,
Quando chegar a hora.
Mas se assim não for,
Tenho a certeza que valeu a pena,
Ter vivido ao teu lado,
Independente do tempo ou lugar,
Seguirei te amando eternamente,
Guiado pela saudade aguerrida,
E meu coração dolente,
Amando o amor que não se acaba,
Nas promessas que fizemos,
No labor das estações,
Concepções honrosas do desejo.

Amor imutável


O amor imutável em sua pureza,
Revela-se a quem o deseja,

Senti-lo verdadeiramente,
Em sua forma incondicional,
Sem falsidades.
Se não amamos mais,
Descobrimos que não ouve amor,
Pois, amor de verdade nunca acaba,
Permanece enraizado na alma.
Amar é ser amor em totalidade,
Desprender-se e doar-se até o inexplicável.
Amar não é uma escolha,
É espontâneo em sua essência.
Gostar e amar não são iguais,
Amar é para sempre,
Gostar se faz na situação.

Quando há amor sincero,
As ações são mais que palavras.
Amar não é prisão,
Mas liberdade,
Ao partilhar o amor,
No tempo e espaço

Nuances


Quantas noites sangrei,
No silêncio vertente,
Alma descendo pelo corpo,
Desejando partir,
De tanta solidão doída,
Feito flor selvagem,
Longe de tudo,
Ao fim da primavera.
Quantas vezes morri,
No grito estridente,
Aos lânguidos ouvidos surdos,
Dos meus ais emudecidos,
Sopro de vida ao fio da espada,
Do meu surreal exílio,
Feito um barco a deriva.
Quantas vezes revivi,
Nos paralelos indubitáveis,
Sonhos imensuráveis,
Após longa estiagem,
Desta rebelde humanidade,
Repleta de passos enfadonhos,
Precisos em seus labirintos,
Cadinhos de álibis finitos.

Murcha a flor...


Murcha a flor da humanidade,
Pétalas caem silenciosas,
Lágrimas de sangue vertidas,
Horrores de uma guerra absurda,
Obscuros gritos da desigualdade,
Oriundos das massas encolhidas,
Gritos ensurdecedores da liberdade.
A fome exibe suas bocas vazias,
Os túmulos,
A dor da inocência;
As ruas a decadência,
Injustiças sem endereço,
Honra ultrajada em malevolência,
Aristocracia venenosa,
Enfurecendo a plebe,
De faces introvertidas,
Embriagadas de medo,
Juízos de razões ensandecidas.
Murcha flor da humanidade,
Sementes vazias em terra de ninguém,
Ervas daninhas do preconceito,
Escondida entre as pedras da falsidade,
Classe de gentes do falso amor,
Pútrida superioridade ignóbil,
Dissimulada caridade da morte;
Murcha a flor,
Da humanidade.

Desencanto


Dentro de mim um silêncio,
Um quarto escuro que me esconde,
Sob as correntes da dor,
Eternidade abrupta do medo,
Caos humano importuno,
Redesenhando minha face,
Desfigurada pela ilusão.
Despetalei as últimas rosas,
E nem se quer as notei,
No lúgubre enlace,
Desventura desmedida,
Invisíveis sonhos perdidos.
Meu riso emudeceu-se,
Luto dos meus lábios,
Vigiando meu olhar,
Afeito em lágrimas,
Tentando apagar do peito,
O leviano amor que me condena.

Meu primeiro amor


Lembro-me com carinho,
Estávamos sentados olhando o céu,
Conversando sobre muitas coisas,
Quando nos olhamos,
Intensamente apaixonados,
Arrebatados pelo primeiro beijo,
Revestidos do primeiro amor.
Escrevemos nossos nomes na árvore,
Sorrindo em nossa alegria,
Momento perfeito em harmonia,
Num belo dia da primavera,
Onde o cheiro das flores,
Perfumava o ar com delicadeza,
A nos brindar com as cores do paraíso.
Nossos corações deleitavam de emoções,
Muitos planos num só momento,
Desenhando um futuro incerto,
Mas repleto de esperança,
Abraçado em nossa juventude de sonhos,
Com o mundo inteiro em descoberta.
Passou-se o tempo,
Muitas coisas aconteceram,
Inevitavelmente seguimos,
Pelas ambições do mundo,
Mas mesmo assim,
Sei que aquele dia ao seu lado,
Ficará para sempre em minha memória,
Pois foi e será,
Meu primeiro e único amor.

Inquietação


Vejam as rosas,
Não deixam de ser flor,
Se diferentes forem,
As cores de suas pétalas,
Que por assim serem,
Não deixam de ser belas,
Continuam sendo rosas.
Triste humanidade,
Diferentes entre si,
São iguais tão desiguais,
Selvagens em suas razões,
Pluralidades controversas,
De emoções empedernidas,
Vomitando paz e amor,
Em seus vícios silenciosos.
Diga-me quem sois besta-fera;
Nesta árida sabedoria,
Escondendo-se nos escombros,
Lapsos d'alma em decadência.

Feito


Eleva a fulgurante luz,
Sábio tempo em suas portas,
Dança o universo,
Beijando o século em suas seduções,
Presunções de seus criadores.
As casas frágeis,
Percebem a tempestade difusa,
Lágrimas de dor e esperança,
Provações da alma,
Acariciando o corpo em seus medos.
A foice corta a colheita,
Sem importar o fruto,
Apenas o chão que o abrigou,
Dando-lhe o que foi capaz de absorver.

Distúrbio


Existência,
Um pôr do sol a cada dia,
Vaidade sem ensaios,
Solidão dos heróis esquecidos,
Versos mortos de um combate,
Singular manifesto das mentes,
Excitações mortais da certeza.
Abrem-se as portas,
Escancaram-se as janelas,
Gritam em fúria,
Perdidos em seus embates,
No meio da multidão enlouquecida,
Pisoteando encruzilhadas sombrias.
Tantas rasuras num único traje,
Balançando a bandeira da morte,
Em uivos de fome,
Feito lobos raivosos,
Devorando insanidades,
Regurgitando medo.
Vai a ordem as avessas,
Derrubando gigantes,
Ferindo inocentes,
Certo que no fim de tudo,
Restarão apenas cinzas.


Fado


Atrevido ócio me ostenta,
Ruidosa selva amedronta,
Mácula feroz amofina,
Intenso pesar me afronta,
Retiro insolente aprisiona,
Desvario n'alma tortura.
Amei cruel loucura,
Rapto soturno sobeja,
Lírico trovejar nauseabundo,
Ignóbil verso matreiro,
Trova o gentil cavalheiro,
Ao infortuno abandono,
Rimas nefastas ao vento.
Firam-me os astros,
Condigno destino de um pária,
A mercê da morte,
Amada donzela da liberdade,
Confidente do meu último suspiro,
Ao encontro da fina flor,
Paraíso da minha esperança.
Doce elísio me abraça,
Sigo arfando ao meu fim,
Venha doce senhora,
Atenha-me em seu colo,
Meus lábios espirituais,
Beija-lhe a face tão amada.

mortem


Não tenha medo,
Desembainhe a espada,
Revista-se de coragem,
Lute contra estes monstros,
Devoradores de almas,
Ao longo dos séculos,
Mostre onde está a sua honra,
Rompa as barreiras da escuridão,
Além da consciência do abstrato,
Reverenciando o altar da luz,
Bebendo no cálice da imortalidade,
Enigmática flor da continuidade,
A vida em seus paralelos,
Segredo universal do infinito,
Não tenha medo,
A batalha será vencida,
Ainda que não compreenda,
A dor será sua liberdade,
Fé absurda aos olhos dos loucos,
Paralelo de mundos complexos,
Visão suprema do inexplicável,
Lúgubre passagem para eternidade.

Te espero


Justamente aqui entre dois pontos,
O amor e a solidão,
Aqui te espero em silêncio,
Sentado sobre a rocha,
Olhando o mar,
Os passáros,
O céu e as nuvens,
Confessando ao vento,
Venerando o infinito.
O caminho é longo,
Mas estou aqui,
De mãos prontas,
Para seguirmos juntos,
Nos ocasos da vida.

Floração


Desabrochou a flor da lua em seu fulgor, 
Asilo apaixonado do amor, 
Perfumado círio celeste, 
A beijar sua alma cheia de afeto, 
Abraçada ao infindo amar, 
Na plenitude de tua adorada face. 
A noite admirada com teus encantos, 
Cativou as estrelas e te deu asas, 
A voar guiada pelo vento, 
Ouvindo as confissões mais belas, 
De cada coração desperto, 
Nos desejos a suspirar. 
De cada brilho do olhar, 
Gotejava versos de rimas profundas, 
Tocando a eternidade comovida, 
Invisível caminho da felicidade, 
Estampada em laços de ternura, 
Jurando fidelidade a íntima carne. 
Entreabriu-se o paraíso aguardado, 
Fervorosa nupcia silente, 
Ameigando a volúpia ansiosa, 
Nos corpos ardentes impolutos, 
Suave idílio de pétalas copiosas, 
Nobre rosa de juras envanecidas.

Fera


Que alma esconde?
Nesta humanidade desumana,
Inteligência dúbia,
Contradições entorpecidas,
Que fere e mata,
Ao primeiro caos condizente,
Do ódio adormecido.
Que alma esconde,
Além da noite e do dia,
Açoites mortais do pensamento,
Dilacerando o coração em agonia,
Infernos silenciosos que queimam,
O mais valente do ser.
Onde habita o ensandecido,
Neste corpo de máscaras?
Quem és após a queda,
Da razão em desatino?
Meramente humano?
Eis a fera em sua voracidade.

Química do amor


Num instante um olhar despropositado,
Um toque inesperado,
Encontros não planejados,
Pensamentos inusitados,
Coração acelerado,idéias a flutuar.
Num instante rostos colados,
Beijo molhado,mistérios no ar.

Sinais


Sinais,
Além de sorriso,
Uma tristeza,
Sutilezas de si,
Encontros do tempo,
Desencontros do eu,
Diágolo de falas infinitas,
Na face de outras faces,
Profundo silêncio,
Em seus gritos causais,
Lábios do medo,
Do ser emudecido,
Castigado em suas dores,
Confidente denúncia,
Clamor de mãos estendidas,
Ainda que apenas com o olhar,
Diga:Socorra-me!
Mas a morte,
Travestida de indiferença,
Sepulta a última esperança.

Júbilo


A luz da tua face que me adoras,
Este colo meigo que me aninha,
Lampejos do paraíso em teus braços,
Cada vez que nossos lábios se tocam,
Imitando o silêncio de tanta suavidade.
Teu coração é um deleite,
Castelo de afetos infindáveis,
Onde me abrigo repleto de amor,
Poetizando a eternidade dos teus versos,
Rimas do teu eu que me revela,
Na beleza dos sentimentos vívidos,
A desabrochar entre as estações.

Castelo


Ao universo me fiz ouvir,
Abrindo-me ao amor de suas vozes,
Asas do infinito a brilhar,
Janelas das almas cintilantes,
Beijando o exílio a cada sonho,
Sem medo de peregrinar.
Descobre a noite tais suplícios,
Quando meus vícios confidencia a pena,
Melancólico açoite em seus desertos,
Desabafos letárgicos silentes,
Obséquios dos meus aposentos,
Sondando o coração em desalinho.
Amor entre tantos amores,
Sonda o ser suas sanhas,
Inquirindo a intransigente vida,
Onustos ensaios da essência,
Afrontando a memória temerosa,
Ocultas em seus muros quebradiços.


Cobiça


Sob a tempestade do teu olhar te amei,
Beijei o desconhecido em teus lábios,
Sem medo do que se escondia além do coração,
Invólucro da sua beleza selvagem,
Poetizando em si o sofrimento,
Embalado pelo silêncio em teu ventre.
A simplicidade do teu corpo castigado pela vida,
Uniu-se ao meu numa fúria emudecida,
Acariciando a loucura do estranho desejo,
Imerso na pele fogosa cheio de enredos,
Tal qual o destino infinito das coisas,
Multiplicando a sabedoria em seus desdéns.
Tanto encanto num sorriso tímido,
Balbuciando os sonhos na esperança,
Dançando ao tempo dos vendavais,
Peripécias em traços mórficos,
Enamorando-se da liberdade atrevida.

Sirlânio Jorge Dias Gomes(R)

Agonia


Esta túnica sobre o mundo,
Meu ser encolhido grita,
Reveses de mim,
Desaguando incertezas,
Águas turvas do anoitecer,
Rio de lágrimas caudalosas.
Beija-me o vento,
Entre lábios que se revelam,
No instante de um íntimo querer,
Se transformando em tempestade,
Ao despedir-se apressado,
Louca paixão do tempo.
Tíbio compasso me agita,
Adaga do destino em meu peito,
Rogando-me confidências,
Sussurrando ao silêncio,
A última fala do meu discurso.

Revolução


Peguei o papel e a pena,
Joguei para o alto e saí,
Não queria mais falar de amor,
Deixei a inspiração escandalizada.
Eram três horas da manhã,
Após tantas xícaras de café,
Decidi que não iria mais te amar,
Perder noites de sono,
Debruçado na janela,
Sonhando acordado ao luar,
Pensando em te conquistar.
Fique aí com esta soberba,
Ingrata donzela cheia de si,
Não terás mais meus elogios,
Cansei-me de ti,
Neste imenso vazio da vaidade,
A me consumir de tristeza.
Já é alvorada no meu cais,
Onde cortando o horizonte se vai,
Minha ilusão no navio da sensatez,
Em direção a ilha do esquecimento,
Para nunca mais voltar.

Farsa


Há tantas coisas,
Frases mudas,
Palavras surdas,
Promessas cegas,
Maculando discursos,
Em seus vendavais,
Grilhões invisíveis,
Dos falsos sábios,
Em suas teias mórbidas,
Armadilhas da ignorância.

Obscuro amor


Não desejo o seu amor mudo,
Obscuro,sem sentido,
Recuso este silêncio,
Estas atitudes mórbidas,
De nada servem estas palavras mortas,
Setas mortais de sua alma em chamas.
Não quero seu amor putrefato,
Que faz da minha vida um inferno.
Basta!
Sua forma de amar é uma ofensa ao amor,
Espinhos que me torturam;
Nunca me amastes,
Também nunca se amou,
Cometi um engano,
Antes que eu definhe;
Saio de cena,
Das armadilhas do seu falso amor.

Reencontro


O seu amor em mim,
Visão fiel do infinito,
A buscar-te nas estrelas,
Imagem da nossa eternidade,
Tantas vezes desenhadas,
Entre beijos e abraços,
Gostos e laços,
Infindos pensamentos,
Condimento da existência,
Nesta alma tão cheia de si,
Beijando a saudade,
Perfume do seu último olhar,
Esta flor da esperança,
Etéreo amor,
A desabrochar no ar,
Meu último suspiro,
Indo ao seu encontro.


Sofreguidão


Paixão sublime eterno beijo, 
Flamear condizente vibra, 
Indomável coração vertente, 
Entre os lábios quentes, 
Manancial de mútuo querer, 
D'almas poéticas treme, 
Cálido corpo inflama. 
Fervorosa atração escraviza, 
Adoração silente primeiro afeto, 
Concupiscível arfar lateja, 
Encanto dos encantos, 
Versos íntimos cantam, 
Lúbrica serenata ofegante, 
Deleite aos ouvidos perdidos, 
Sonata perfeita trauteia. 
Te amo com tesura, 
Castigos deliciosos de nós, 
Balada ardente doce arpejo, 
Lascívia consorte ateia, 
O fogo feito teia, 
Emaranha e incendeia, 
O gentil amor, 
Divino desejo. 

Domínio


Este sol em seu olhar,
Tanto brilho que me causa espanto,
Não há solidão que dure,
Diante desta face luzidia,
Arrebatada de encantos.
O seu corpo baila ao meu desejo,
Âmago silente do meu amor,
Inebriado pelo fogo do seu beijo,
Que de tão doce me suaviza,
Sussurrando a beleza da noite,
Paixão poética em núpcias.




Finalmente


Finalmente,
Após um longo dia,
Respiro fundo,
Deixo o pensamento seguir,
Aqui abraçado ao desconhecido,
Aceno ao amanhã,
Deixando que o instante me refaça,
Desfaça a farsa de um ser,
Em seus monólogos ensurdecedores.

Lamentação


Só eu sei da minha dor,
Este chicote que me golpeia,
Onde o pobre aos olhos estultos,
Parece mesmo uma doença,
Visão que entende o pranto,
De todas as vezes que não tive,
O que a escassez me tirou,
Na grande trama da vida,
Resistência do preconceito maldito,
Espelho da dignidade ultrajada,
Nos conceitos dos senhores,
Donos de uma sociedade sórdida,
Cada vez mais sangrenta.
Só eu sei o que bem sei,
Se sobrevivi é um milagre,
Muitos se perderam no caminho,
Este desalinho do destino,
Muitas vezes sem escolhas,
Que fazem rangerem os dentes,
Buscando a esperança escondida,
Nos braços da morte,
Eterna mãe bendita,
Invólucro dos destemidos,
Banhado pela última lágrima,
Protesto silencioso que se cala,
Para o alívio dos hipócritas,
Em seus castelos de vidro.

Felicidade


Seja para mim o que te revelo,
Este amor de renúncias,
Em favor de tua felicidade,
Que também sendo minha,
Abraça em nós a fidelidade,
Juras de amor de nós proferida.
Sigo-te sem medo,
Nesta imensidão da vida,
Certeza da sua cumplicidade,
Ao encher-me de zelo,
Nesta paixão infinita em seus laços,
Ternos beijos dos teus abraços,
Veneração de tu'alma de encantos.

No dia da minha morte...


No dia da minha morte,
Economize tuas pernas,
Se nada tens comigo,
Tu que nunca fostes meu amigo,
Que por vezes falaste mal de mim.
Guarde suas lágrimas,
Teus préstimos de falsidade,
Estes laços estranhos,
Cheios de serpentes nas mãos,
Veneno do desconhecido,
De quem se quer me apertou a mão.
Jamais diga que fui bom,
Não me faça esta maldade,
Não perca seu tempo,
Deixe que meu corpo siga em paz,
Ao último leito do meu silêncio,
A esta amizade infinita,
Desarraigada de aleivosias.

Ufanidade


Dédalo bravio a tíbia face,
Patíbulo odioso o coração ostenta,
Alfanje da desvairada dor,
Venerável núpcias da morte,
Amável em seus suplícios,
Escárnio zelo aturado.
Golpeia a tez o ocioso destino,
Venenoso afago odioso,
Pavor em vísceras nervosas,
Amargor da língua afogueada,
Inflamando a alma,
Asfixiada ao corpo insolente.
Alimenta-se de verme o orgulhoso,
Carcomido de insana vaidade,
Vestindo a negra tempestade,
Aos berros da própria sandice,
Peçonhento excremento vertido,
Da fétida boca atrevida.







Alencar


Há uma flor,
Deserta em meio ao jardim,
Selvagem sem o ser totalmente,
Perfumada igual a plumeria,
Amante do amor em silêncio,
Beijando o infinito da vida,
Na eternidade multicor,
Imperativos de uma rocha,
Invólucro coração clemente.
Há uma flor,
Enigmática alentada,
Acalentando o destino,
Apreços da resiliência,
Feito versos em poesia,
Rimando o tempo,
Na beleza de um porvir,
Imitando a tempestade,
Na timidez de uma calmaria,
deleitando-se na grandeza de ser.
Há um flor,
Semente de outras flores,
Ataviando a rocha do caminho,
Sutil grandeza em timidez,
Denodos do corpo,
Gritando ao universo,
Enquanto a alma,
Vestida de elegância,
Jorra numa fonte bendita.

Fruto


Além de mim,
Lá estão em algum lugar,
Os tesouros celestes,
Em suas matizes infinitas,
Vozes do espaço-tempo,
Sussurrando eternidade,
Enquanto viajamos destemidos,
Sem saber aonde vamos.
Nosso hoje incógnita do amanhã,
Desabrocha a semente,
No imenso cosmos,
Vida formando vida,
Movimento perene ignoto,
Universos entre universos,
Na simplicidade de uma partícula.

Desatino


Sussurram as trevas,
Argênteos lábios fervorosos,
Acolitando vendavais,
Brincando de esconde-esconde,
Entre os becos da alma,
Efígies da fria morte.
Arde o fogo na garganta,
Embargo da voz doída,
Vergando aos golpes,
Açoites da vida tíbia,
Estes pés descalços,
Feridos de espinhos,
Andarilhos ignotos,
Andando em círculos,
Vertendo sangue,
Sob olhares atônitos,
Néscios em seus claustros,
Embevecidos de loucura.

Constância


Penso nas flores pétalas do seu amor, 
Jardim dos meus desejos onde se aninha, 
Beijando-me igual a um beija-flor, 
Voluptuoso néctar aos lábios sôfregos, 
Gérmen indizível ao coração enceta. 
Penso na ventura resoluta felicidade, 
Perfume das nossas almas adejantes, 
Feito jasmins em núpcias primaveris, 
Galanteando o sol auspicioso fervor, 
Estampa do idílio sentimento, 
Cortejo infindo enlevo. 
Penso no teu olhar aprazível, 
Benévolo convite adorável, 
Conjurando ao tempo que tarde, 
Lance na eternidade, 
Nosso último suspiro virtuoso.

A menina furta-cor


Lá está a menina furta-cor
A brincar na pureza de si,
Colorindo a vida,
Com sua luz cativante,
Em seus arcos-iris encantados,
Sorrindo em tons díspares,
Beijos multicoloridos,
versos surreais,
Dos portais da fantasia.
Lá está a menina furta-cor,
Rodeada de prismas infinitos,
Harmonizando os sonhos,
Cromaticidade fantástica,
Dando vida ao seu mundo,
Sem medo de ousar,
Despertando sentimentos,
Inefáveis matizes poéticas,
Tocando o paraíso sutilmente.


Nostalgia


Mágoa sentida embota,
Tolice das emoções,
Velado ao fim chora,
Escondida tristeza gela,
Penoso fardo averno,
Cruel destino amedronta,
Condolência apena aporta,
Eleva sem dó não amena;
Pesar vertido amarrota,
Manando a vida sangra,
Descuido feito coivara,
Certo da cinza se vai,
Perdido em fobias banais,
Bruto sentir desprezado,
Mitigo consolo arraigado,
Igual a folha seca ao chão,
A desvalida sorte deixada,
Agitada ao vento do mundo,
Pelo outono,da árvore banida.

Arbítrio


Ame o que deseja amar, 
Apenas ame, 
Não busque explicações, 
Amar requer somente amar, 
Amar simplesmente, 
Dê o nome que quiser, 
Amor,paixão,tesão ou loucura, 
O que importa a forma? 
Ou se é ou não amor, 
O que o seu coração interpreta? 
Razão ou desrazão, 
Dane-se o mundo em suas distrações, 
O tempo não para, 
Amanhã será um novo dia, 
Deixe as convenções para os puros, 
As lágrimas para o arrependimento, 
Se não houver amanhã,
Fez a vontade o seu destino, 
Digitais da consciência no infinito. 

Rendição


Lá fora a chuva cai levemente,
Enquanto olho pela janela,
Sinto seus braços ansiosos,
Colando seu corpo ao meu,
Sussurrando aos meus ouvidos,
Cópula agradável dos seus lábios,
Ao ardente sabor de delícias,
Desenhando no seu olhar,
Ansioso convite ao amor,
Lascívia oportuna do desejo.
A rosa em botão desabrocha,
Perfumando meus sentidos,
Busco cada pétala em flor,
Versejando-a em rimas,
Tal qual a música dos seus poros,
Concupiscência em sinfonia,
Igual ao canto das sereias,
Me arrastando ao seu mar,
Enquanto me caça,
Total avidez em desvario.



Voracidade


Dedilho o teu corpo Igual as castanholas,
Dançando ao ritmo de tua sensualidade,
Que me encanta com teus sons flamejantes,
Tocando meus ouvidos em luxúria,
Incendiando-me aos movimentos de tua fúria,
Destra lubricidade suave loucura.
Miro os seus quadris alucinantes,
Versando o desejo igual ao vento,
Soprando o amor em minha direção,
Enamorando-me na sutileza da sedução,
Enquanto teus braços me devoram,
Acorrentando minha lucidez perdida.
Tua sede é minha fonte que te sacia,
Essa boca  que suga minha sensibilidade,
Notável ternura avassaladora,
Escravizando-me aos teus contentos,
Algemas da felicidade aos teus sabores.
Nobre senhora dona do meu coração,
Meu destino é o violão que tocas,
Com estas mãos habilidosas de paixão,
Vertendo de mim o que te adoras,
Em todo tempo  de sua brandura,
Certeza do zelo que me devotas.

Sirlânio Jorge Dias Gomes(R)

Dicotomia


Pingos d'água sobre minha cabeça, 
Caindo sorrateiros,
Fragmentos da vida feito lágrimas, 

Sinais de um coração tecido de sonhos, 
Ilusões transitórias da morte, 
Óbvios semblantes impetuosos, 
Travestidos de felicidade. 
Rasga-se o vento em mil segredos, 
Adejando vozes aos desatentos, 
Estropiando as entrelinhas das dúvidas, 
Pedras da incerteza livres no caminho, 
Causando seus tropeços quase invisíveis, 
Atirando a alma no deserto de si, 
Murchando a flor excitada. 
A respiração ofegante do medo, 
Estrangula a humanidade perdida, 
Indagando a consciência tresloucada, 
Insultando a casta beleza da existência, 
Insistindo que voe e redescubra, 
A certeza da própria voz sem fronteiras.

Estação


O tempo corre incluso em seus detalhes,
Espectável liberdade ao fim do dia,
Começo da noite regressa a esperança,
Sublime melodia afrontando a morte,
Contínuo acercar da grata senilidade.
Seixos brutos terrificam a carne,
Sulcos latejantes da vida que arde,
Feitos folhas da alma etéreo outono,
Condimentando a terra nobre leito,
Ao último olhar deslumbrado.
A árvore volta a ser semente,
Pó de estrelas elixir da criação,
Escol imortal da existência,
Eternizando a humanidade recolhida,
A brincar com a brisa leve.

Atração


O meu corpo dança no teu,
Se abre feito flores na primavera,
Cujos poros serpenteiam entre si,
Cadenciando as emoções ditosas,
Beleza do olhar marcado,
Sinal fogoso da paixão vertida.
O seu corpo se abrasa,
Nossos braços se abraçam,
Ventura lábil ao que se ostenta,
Rosácea poesia lasciva,
Cícios melódicos em harmonia,
A versejar os ais silenciosos,
Encantos carnais beijando a alma.
Brada a concupiscência atrevida,
Nesta viração tempestuosa,
Provocante solstício rebuscado,
Desenhando no tempo tal furor,
Ímpeto adorável afago,
Reinventando íntimos sabores. 

E daí?


Daí se somos diferentes?
Se você anda de carro importado, 
E eu ando a pé? 
Se adoro fumar quando tenho vontade, 
Tomar um bom uísque, 
Ou quem sabe uma boa cachaça, 
Seja em casa ou num botequim? 
Qual o problema se ando de carro velho, 
Se estou fora de moda, 
Se falo palavrão ou não? 
Fora daqui com tanta hipocrisia, 
Vida de aparências para agradar o freguês, 
Esta louca vida de insanidades, 
Nas camadas sociais de intempéries, 
Repletas de esquisitices chatas. 
Mulheres são mulheres, 
Homens são homens, 
Travestidos ou não de suas escolhas, 
Estamos todos fadados a velhice, 
Toda sorte de emoções,
Com a morte a caminhar ao nosso lado, 
A esperar o momento exato, 
Ou atender os apressados. 
Com rima ou sem rima, 
Métrica ou sem métrica, 
Se é um poema ou não, 
Pouco me importa as convenções, 
Nesta confusão de verdades vazias, 
Nudez das massas revestidas de santidade. 
Risos, muitos risos para este mundo, 
E seus artistas de mil faces, 
Palmas para os desavisados, 
Os sãos e suas certezas, 
Bebendo-se da sua imortalidade, 
Na imbecil clareza dos seus atos. 
Daí se esta poesia não faz sentido?
Saiba que também não me importo, 
Pare de ler antes que enlouqueça, 
Ou me chame de energúmeno, 
Beijando minha ignorância aos seus olhos, 
Contamine a sua razão(Risos).
Há coisas que importamos sem precisar, 
Outras que deveríamos nos importar,
E simplesmente não ligamos, 
Nosso tempo é apressado demais, 
Até mesmo para continuar vivendo, 
Sob tanta pressão de ser gente. 
Vou parar por aqui, 
Faltou alguma coisa a dizer? 
Daí, o que me importa?
Siga as suas conclusões, 
Há muitas coisas a dizer, 
Mas não sou dono da verdade, 
Estou apenas tentando quem sabe, 
Me rebelar num provável poema.(Risos)

Enlevo


Amor além do olhar,
Qual o teu segredo?
Chegas de mansinho,
Vendaval silencioso,
Emoção desperta,
Risos que choram,
Prantos que poetizam,
Abrasado coração solidário,
Aflorando o tino.
Possua-me paixão amena,
Luxúria de dois nós,
Leve-me além de mim,
Ansiosa fantasia latente,
Clamor solícito da felicidade,
Acariciando meus sonhos,
Acalentados em sussurros,
Sedução solene adorna.

Tumba


Pobre alma o corpo deixa,
Báratro confesso em si,
Inconteste manjar,
Ao silêncio ignóbil,
Beijo do esquecimento,
Flores fino manto,
Palia o odor da morte,
Sob lágrimas confusas,
Gestos do último adeus.
Na dor as ilusões deixam,
Invisíveis rogos aos incautos,
Exortação da temerária vida,
Prélios fatídicos destinos,
Haurindo os sopros dos homens.






Existir além da vida


Moro onde habita minh'alma,
Floresço no espaço-tempo,
Subindo os degraus da vida,
Oscilações da minha humanidade,
Beijando a imperfeição que me seduz,
Entre lágrimas e sorrisos,
Coragem e desconfiança,
Cansaço e fortaleza,
Tristeza e coragem.
Vou aonde meus pés me levam,
Na lucidez de minha loucura,
Ou na insensatez da minha razão encolhida,
Buscando alcançar a felicidade,
Estas rotas surreais fantásticas,
A dissimular a exausta realidade.

Poema livre


Um poema tem muitas faces, 
Espelho de muitos olhos, 
Quem sabe um olhar surdo, 
Ou talvez um ouvido mudo, 
Amigo da boca pensante, 
Neste embaralhado tempo, 
Onde a liberdade as vezes corrida, 
Esquece de ser livre e acenar, 
Mesmo sabendo que estão ali. 
Um poema é um poema, 
O seu criador o sente n'alma, 
Sabendo que mesmo em silêncio, 
Ou falta de aplausos voa, 
Com suas asas invisíveis, 
Pousando suavemente onde deva ser, 
Num elogio espontâneo, 
Longe dos holofotes. 
O poema não quer ser escravizado, 
De senhores bastam os críticos, 
Cheios de si numa sabedoria louca, 
Muito distante da verdade do poeta, 
Que num cantinho só seu, 
Soube revelar o intransponível, 
Na eternidade dos seu lábios, 
Cantando na mente os versos, 
Tão seu, tão nosso e de ninguém. 
O poema precisa ser descoberto, 
Deixando de si as impressões, 
Um carteiro de destino infinito, 
Sem pressa de chegar, 
Sabendo que alguém estará lá, 
Quando for a hora do encontro, 
Sem paradigmas angustiantes. 

Tripúdio


Segue o amor uivante, 
Invisível sorrateiro poeta, 
Viageiro confessor de afetos, 
Alienando o coração em seus umbrais, 
Abraseando o juízo evocado, 
Da alma em rascunhos beijando o corpo. 
Segue o amor em seus feitios, 
Abstratos escárnios da carne, 
Deitados em suas camas vazias, 
Pálidos confessionários da noite, 
Trânsito conflito aviltado, 
Em lençóis frios amarrotados, 
Embalsamando patéticos amantes. 
Segue o amor em seus funerais, 
Enterrando seus postiços, 
Inidôneos hipócritas da avidez, 
Sem nome e sem lar, 
Enlaçado ao infortúnio da ilusão. 
Segue o amor em seus nomes, 
Estranheza da porta que se abre, 
Vertendo de si a ironia chorosa, 
Emaranhada de medo, 
Feições póstumas do arrependimento. 

Sirlânio Jorge Dias Gomes(R)

Sensações


Aporto no cais dos teus encantos,
Pulsação simétrica envolvente,
Da sua imagem que me revela,
Em nossa nudez seminua,
Poetizando os rituais do amor,
Versos infindos ao fino toque,
Melódica paixão assentida.
Espero-te em cada descoberta,
Adentrando a alma desperta,
Linguagem do corpo voraz,
A cavalgar nos teus abraços,
Este doce regaço aspergido,
Nuances amálgama do tato,
Estrépito desejo auferido.

Saber amar...


Se não sabe o que é amar, 
Chegue devagarinho na varanda, 
Não faça barulho defronte a janela, 
Observe toda a volta da casa, 
Perceba os vizinhos em suas vozes, 
Não despreze o silêncio do desconhecido. 
Cuidado com os cães raivosos, 
Não descuide dos gatos no telhado, 
Meras distrações podem trazer dissabores, 
Causar más impressões ao dono da vivenda, 
Ou assustar quem mora ao lado, 
Debruçado no sopé da curiosidade, 
Jogando ideias ao vento, 
Livremente em seus atalhos ociosos. 
Se não sabe o que é amar, 
Não se assanhe com o lindo beija-flor, 
Voando de flor em flor, 
Sugando o doce néctar aprazível, 
Esvoaçando por todas as direções, 
Seus beijos são de várias flores, 
Variados jardins cheios de encantos, 
Sem pressa de descansar. 
Se não sabe o que amar, 
Acalme seu coração ansioso, 
Deixe manso o teu corpo, 
Na bela rede da calmaria, 
Descansando do longo trajeto, 
Afeito de sonhos, alegrias e enganos. 

Dois corpos


Quebrei o meu silêncio em tua direção,
Tive coragem de enfrentar o medo de amar,
Entreguei o meu coração em tuas mãos,
Mesmo estando com a alma tímida,
No desconhecido mundo deste sentimento,
Tão novo quanto o teu olhar em mim.

Deixei o riso desconcertado ilustrar-me,
Inquieto desejo em mãos trêmulas,
Tendo o olhar perdido em confidências,
A viajar no infinito da imaginação,
Desenhando os beijos que ainda não te dei,
Inquieto coração incandescente.

Meu pensamento canta o teu nome,
Enquanto meu corpo eclode lentamente,
Inebriado de fantasia cintilante,
Buscando o seu interior de delícias,
Tesouros corporais que me enriquece,
Neste palácio de amores que me abriga.

Vou entre as curvas do caminho,
De mãos dadas com a esperança,
Olhando seu nome gravado nos astros,
Este céu de estrelas que te revela,
Na imensidão da nossa evidência,
Sublime prodígio do destino.

Vi um anjo


Como pode também ser anjo?
Idílica criatura humana celeste,
Trazendo no olhar a primavera inteira,
Resplandecendo no límpido sorriso,
A aurora balsâmica inundada de versos,
Semblante adorável de tez aprazível.
A beleza que te reveste é poesia,
Augusta estrofe encantada,
Matina espelho da esperança,
Uma flor a desabrochar nas manhãs,
No jardim solene do espírito,
Feito pássaro a explorar o céu.
A suavidade beija-lhe o nome,
Agitando as asas invisíveis de tua ternura,
Voejando por entre as nuvens da vida,
Divertindo-se na finitude de si,
Acariciando o infinito em teu coração,
Tocando a felicidade portal do paraíso.

Circunstância


Lasciva forma de amor confesso,
Natureza aquosa cintilante,
Manando no infinito das coisas,
A revelar o absoluto pulsante,
A rotacionar o corpo que emerge.
Beija a quimera os seus lábios,
Deleitoso seio que me repousa,
Imitando o meu sôfrego desejo,
A desaguar na esperança do teu mar.
Abarque meu espírito o teu ser,
Despetala-me num gozo profundo,
Enquanto a noite nos apadrinha,
Convidando estrelas a dançar,
Ao refúgio inflamado que nos ostenta.


Resquício


Sim, existo! 
Meu coração sente o teu calor, 
Percebendo-te além, 
Nesta calmaria dos desejos, 
Suave tentação aprazível abrigo, 
Grata feminilidade selvagem, 
Reservada ao íntimo confidente, 
Laços surreais da afinidade. 
Tua onipresença beija minha vontade, 
Penosa saudade que me atina, 
Aos epílogos transcendente de nós, 
Eternos afrescos poéticos, 
Estampados em nossas almas, 
Enquanto dorme a noite silente. 
Sim, Existo! 
Sob o teu olhar que nos recria, 
A cada memória evocada, 
Feito a mais bela canção, 
Sussurrada pelos teus lábios, 
Poetizando baixinho a grandeza do amor, 
Desenhada em nossos corpos sedentos, 
Minúcias esculturais do querer absoluto, 
A divagar pelo impetuoso infinito, 
Revérbero instinto que nos pulsa. 

Distinção


Do meu coração grafou-se o sonho,
Promessas profanas ingênuas,
Rascunhos em um latíbulo,
Como uma farol ao longe,
Luzindo imitando o infinito,
Esperança dos olhos atentos,
Barca de um intruso viajante,
No oceano das ilusões.
Os pensamentos feitos nuvens,
Voam eletrizados pelo espaço-tempo,
Brincando de esconde-esconde,
Buraco de minhoca das emoções,
Espargindo pela imensa vida,
Ecos da felicidade almejada,
Retórica arfante da coragem,
Tipificando os vencedores,
Além de um dia impreciso.

procura-se o poeta


Procura-se o poeta,
Entre tantos poemas de amor,
Remexendo os escaninhos,
Esquadrinhando os pensamentos,
Cantinhos de um coração sereno,
Moldado de sentimentos.
 
Procura-se o poeta nas esquinas,
Nas trincheiras da vida,
Ferido nas batalhas mortais,
Cheio de tempo ao vento,
Passeando nas nuvens,
Colhendo letras no jardim das ilusões.

Procura-se o poeta no ades,
No purgatório de sua sina,
Sofrendo entre tantos sofrimentos,
Sangrando sem sangrar,
Parafraseando o próprio eu,
Nas págimas em branco de sua aventura.

Procura-se o poeta faminto de dor,
Artesão debaixo da chuva,
Recitando seus versos ao nada,
Repleto de sonhos quase infinitos,
Brincando de faz de conta,
Beijando a desconfiada existência.

Procura-se o poeta,
Entre seus amores interiores,
Vestido de coragem além de si,
Cavalgando o desconhecido,
Sem medo de tudo que há,
Simplesmente sendo quem é.

Procura-se o poeta entre as reticências,
Pontos,vírgulas e exclamações,
Dialogando com a liberdade poética,
Tendo nas mãos as rimas,
Embriagadas pelos versos brancos,
Tropeçando na métrica de sua ousadia..

Procura-se o poeta no poeta,
No meio do tudo e do nada,
visionando o infinito das coisas,
Brincando no meio da luz,
Olhando de longe a escuridão,
Sem medo de gritar se preciso for.

Procura-se,
o Poeta está em todas as formas,
Imitando a multidão de olhares,
Sendo o que deve ser,
Das noites ao entardecer,
Apaixonado em suas premissas.

Sirlânio Jorge Dias Gomes

















Magnetismo


Imergi no vosso olhar desejoso,
Beijei o beijo que me destes afogueada,
Pleno consentimento do coração conciso,
Pulsando o íntimo arrebatado de amores,
Ao toque vistoso de almas condizentes,
Acariciando o inolvidável afeto.
Toquei as pétalas balsâmicas de tua bela flor,
Exaltando o bom do amor em seus braços,
Cadência amorosa impetuoso regalo,
Fino deleite entre corpos cálidos,
Flertando a libido apaixonada,
Reinventando-se na plenitude adornada.
Absorvi a beleza em ti exaltada,
Vívido convite ao mais lindo sorriso,
Ambicionando o sonho indizível,
Meneios da explícita saudade,
Seduzindo o coerente tempo,
Gentil lembrança da intimidade de encantos.

Sirlânio Jorge Dias Gomes(R)

Estima


Todo tempo é tempo de amar, 
Aqui e além-mar, 
Simplesmente amar, 
Amar como o infinito, 
Presente em todas as formas, 
Em seus termos universais. 

Todo tempo é tempo de se declarar, 
Ao modo natural do sentimento, 
Sem fórmulas ou convenções, 
Na simplicidade das coisas, 
Pois o amor é modesto, 
Na serenidade de um sorriso. 

Todo tempo é tempo, 
De recomeçar se assim for, 
Reencontrar o amor em outra face, 
Sentindo outros lábios, 
Olhares e sensações, 
Desvendando a felicidade. 

Todo tempo é tempo de ser, 
Verter a beleza que se esconde, 
Deixar a alma levitar, 
Dizendo a quem está ao teu lado, 
Seja por gestos ou palavras, 
Amo-te no meu jeito de amar.


Sirlânio Jorge Dias Gomes

Afetuosidade


Refugia meu amor ao teu em tal desvelo,
Ventura luzindo ao arrebol veneração,
Amando aceso lume enamorada afeição,
Beijo tua alma reluzente delírio impero;

Aquebranto meus lábios ao vertê-los,
Olhando nos teus olhos preciosa razão,
Segue triunfante augusta concepção,
Inocente ritual ao teu zelo;

Prosa a paixão apelo evidente,
Dantes assentida dama prateada,
Miradouro vício afável vertente,

Sensual cascata em flor afagada,
Consorte impoluto aparente,
Revérbero mundo vislumbra amada.



Natal?


Feliz natal!
Feliz ano novo!
Seguem todos em felicitações,
Tenho fome,tenho sede,tenho frio,
Estou cansado,tenho saudade,
Sinto tristeza,sinto dor e solidão.
Onde está o meu abraço?
Quantos pobres ricos!
Quantos ricos pobres!
Tantos natais vazios sem o aniversariante,
Que deixado de lado chora baixinho,
Limpando o caminho para os que o ignoram.
Onde está o verdadeiro natal?
Vivemos dias de trevas,
Adorando um "deus estranho"
Na magia desconhecida do bom velhinho,
Com suas fantasias esmagadoras,
Num toque sutil de engano.
"Amar a Deus sobre todas as coisas,
E ao próximo como a ti mesmo"
Temos muitos natais por aí,
Nas esquinas,becos,vielas e mansões,
Precisando que alguém os percebam,
No verdadeiro espírito da vida:
O amor incondicional!

Dicotômico amor


Se hoje sei o que é saudade,
É porque aprendi a te amar,
Entendi que o melhor sorriso,
Brota da imperfeição vivida,
Na capacidade de perdoar,
O concebível da razão,
Peripécias da alma cativa,
Inferindo sob a voz do tempo.
Se hoje o amor ainda flameja,
É porque deleitei-me no incomparável,
Compreendi que amar é singular,
Na fidelidade de uma promessa,
Igual ao jardineiro apaixonado,
Que rega as flores do seu jardim,
E não se importa com as estações,
Pois estará lá para cuidá-las,
Enquanto durar sua vida.
Se hoje valeu a pena,
Foi porque ontem,
Aprendi a ser mais forte,
Refiz o caminho com amor,
Pedrinhas da felicidade,
Juntadas aqui e acolá,
Emendando a amizade resoluta,
No silêncio do primeiro amor,
Certeza do meu fascínio,
Abstração de distrações,
Desígnios da liberdade,
ímpeto de ilusões tardias,
Solilóquios em pretensões.

Lume


Corpos que se procuram,
Versos entre os poros,
Constelações sob a noite,
Imitando os lençóis brancos,
Repouso pleno dos cânticos,
Vibrações da virtuosa pele,
Enlaçada aos portões da alma,
Inaudito jardim invisível,
Exalando perfume ansioso.
Desabrocha a rosa ao suntuoso beijo,
Fiel desejo a lubricidade afoita,
Distinto fogo regido,
Queimando o caprichoso amor,
Apaixonado em seus codinomes,
Copiosa flama dos desejos,
Embarcando amantes,
No imenso mar das ilusões.

Sirlânio Jorge Dias Gomes

Assunção


Num cantinho qualquer de mim, 
Olhando o imenso  mar da minha vida, 
Minh'alma feito ondas, 
Debatendo-se na areia dos meus gemidos, 
Deixando marcas invisíveis tão fortes, 
A esculpir a frágil criatura que me concebe. 
Vez ou outra admirava meu celeste véu, 
Banhado com o rosto em lágrimas, 
Imagem singular das nuvens pesadas, 
No firmamento do meu espírito, 
chovendo entre meus vícios, 
Lavando a fuligem dos meus passos, 
Delatando meu livre arbítrio maculado. 
Sem pressa olhei o profundo horizonte, 
Deixei o meu sol se pôr de mansinho, 
Cortejando a lua anjo de luz, 
Enquanto estrelas do arrependimento, 
Gotejavam sobre meu limbo, 
Sussurros de Deus ao meu lamento, 
Ressuscitando-me da minha estúpida morte.

Sirlânio Jorge Dias Gomes


Inerente destino


O tal destino, 
Perturbou-me com teu sorriso, 
Seguido de um olhar cativante, 
Angustiante desatino, 
Quando percebi meu caminho, 
Já estava em teus braços, 
Afeito de prazer e loucuras, 
Juras silenciosas entre sensações. 

O tal destino, 
Sem interrogar-me, 
Levou-me nas asas do tempo, 
Sem se importar sobre o amor, 
Esta energia multicolorida entre pares, 
Divagando entre a vida e a morte, 
Apanágios de emoções convergentes, 
Apurando emoções itinerantes.

Sirlânio Jorge Dias Gomes

Interstício


Haverá dias cansados,
Que até o amor será tedioso,
Qualquer palavra poderá ofender,
Momentos que a tua humanidade,
Pensará em desistir da vida,
Tudo por um mal entendido.

Haverá beijos sem graça,
comida sem sabor,
Trabalho sem valor,
Tantas coisas questionáveis,
Que muitos valores  ficariam confusos,
Aos olhos ofuscados pela falta de silêncio.

Eis a alma necessitada de um tempo,
O corpo implorando uma pausa,
Para a continuidade segura do caminho,
No intuito do eu reconhercer-se,
Na beleza que o cerca,
Na força da existência então sufocada.

Haverá sinais em tua face,
Gritos interiores expansivos,
Balançando a bandeira branca,
Pedido trégua entre os combates,
Tudo pela paz de espírito,
Apelação do ser pela felicidade.

Sirlânio Jorge Dias Gomes



Recomeço


Após tanto tempo as flores brotaram,
Haviam murchado quando você partiu,
Levando meu coração em sua ausência,
Estremecendo minh'alma de solidão,
Deixando nas lembranças lindos momentos.
O brilho da lua tornou-se ofuscado,
Todas as vezes que eu olhava o céu,
Sentindo na memória o gosto do seu beijo,
Alegria dos meus lábios desejosos,
Cada vez que estávamos juntos.
As coisas mudaram com o tempo,
Seus olhares se tornaram distantes,
Sem o brilho do primeiro encontro,
E a leveza que tantas vezes dividimos,
Se perdeu  no meio do caminho,
Nos lugares mais incríveis de nós.
Até que um dia o sol se pôs,
A escuridão tomou conta de mim,
Ao dizer-me que iria embora,
Começar uma nova vida,
Não me amava mais,
Virando-se de cabeça baixa,
Partiu sem olhar para trás,
Sem nenhum arrependimento.
Meu mundo desabou,
Prossegui te amando até aqui,
Onde um novo amor floresceu,
Recuperou meu sorriso,
Devolvendo-me a felicidade,
Que outrora havia ressequido,
Quando me perdi no seu desprezo.

Secular


Entre a lua e o sol,
Converge o ser em peleja,
Celeumas sob castelos voláteis,
Insubstanciais vozes vigilantes,
Berrando a surdez,
Pragmáticos temores soturnos,
Esboços nos olhares fronteiriços,
Fortuita despedida prometida.
Entre o amor e o ódio.
Lamuria a criatura buliçosa,
Devorando sonhos e pesadelos,
Extravasando palavras tempestuosas,
Ao vento de sua respiração ofegante,
Discorrendo sobre o bem e o mal,
Tal qual anjos e demônios,
Disputando o paraíso e o inferno,
Perdido em suas consciências.
Amanhã será diferente reza a esperança,
Fastidioso discurso assombrado,
Pelos fantasmas do século,
Guardiões do tempo,
A observar a multidão entorpecida,
Carregando seus ataúdes invisíveis,
Fartos de obstinações transitórias.

Deslealdade


Tantas vezes gritei teu nome por amor,
Desejando que ouvisse meu interior ferido,
Triste pela falta da atenção perdida,
Engolida pelo monstro da vaidade,
A esmagar meu carente coração,
Do primeiro olhar que se foi.

Nada entendia da vida vazia torturante,
Sangrei pela dor do menosprezo,
Um objeto cheio de repulsa,
Um dia chamado de meu amor,
No calor das emoções agora covardia,
A quem te deu a fidelidade por amiga.

Golpeou não só o corpo já cansado,
Mas também a alma suprimida,
Olhando o descaso levar embora a felicidade,
Esta nobre donzela escravizada,
Pelo horror da traição doída,
Arrancando pelos poros tantos sentimentos.

Seguirei por esta estrada tempestuosa,
Firme aos propósitos do triunfo,
Levando comigo os tesouros inseparáveis,
Boas e más lembranças do meu destino,
Esta semente lançada ao olho do furacão,
Pronta a germinar no lugar fértil do recomeço.

Lânguido amor


Ao teu amor encanto do meu desencanto, 
Deixo o meu verso triste ao luar, 
Desaguando no silêncio entre o rio e o mar, 
Figura altiva do meu olhar em desalento, 
Desenhando no meu rosto abatido, 
As lágrimas angustiosas do meu leito. 
Aos meus sentidos calou-se o tempo, 
Quando nas estrelas busquei consolo, 
Desejando a morte quase infinita, 
Tão distante e tão próxima, 
Na infinitude do celeste véu, 
Beijando minh'alma íntima flor. 
Ao meu infortúnio sangrei, 
Abracei as pétalas da saudade, 
Virtude do meu coração enobrecido, 
Enamorado das noites silenciosas, 
Cativeiro insano da minha liberdade, 
Embriagado do meu eu libertino. 

Miragem



Amando-te, sou terno desejo 
Inviolável sentimento de asas imperfeitas, 
Ocupação do meu encanto a ti ofertada, 
Incumbência do meu subjugado coração, 
A queimar na luxúria do pensamento, 
Ensejo do meu corpo em chamas. 
Leva-me o tempo aos teus laços, 
Cativa loucura dos meus braços, 
Zeloso agrado de tua face que me domina, 
Roubando minha serenidade encantada, 
Acolhendo a tarde declinando no horizonte, 
Núpcias da minha prisão afogueada. 
Cobre-me a noite em teu leito, 
Iluminado pelas estrelas confidentes, 
Concubinas ilusórias cintilante afeto, 
Mãos translúcidas que me afagam, 
Aos sonhos plenos da tua acolhida, 
Utópico corpo que me abrasa. 
Amando-te sigo e nada mais, 
Beijando o vazio do meu despertar, 
Ao saber que foram apenas sonhos, 
Réplica de mim fiel loucura, 
Buscando-te nas formas singulares, 
Nas miragens do meu platônico deserto. 

Sirlânio Jorge Dias Gomes 














 

Pecado


Foi a rosa causa do teu encanto, 
A ofereci como quem poetiza o amor, 
Teus olhos sorriram brilhantes, 
Acenando com os lábios o convite, 
Quando de mãos estendidas, 
Recebeu de mim o fresco presente, 
Colhido com zelo no jardim. 

Beijei tuas mãos suavemente, 
Antevisão dos teus braços nos meus, 
Dançando sublimes em sedução, 
Sentindo o perfume dos teus cabelos, 
Distração do meu corpo cativo, 
Em insana loucura atraído, 
Selvageria suave do meu silêncio. 

És uma feiticeira cruel linda donzela, 
Capaz de fazer tremer minha coragem, 
Que de tanto desejo entregou-se, 
Fazendo-me escravo dos teus mimos, 
Deixando meu coração a mercê da tua vontade, 
Espada afiada que me corta a sobriedade, 
Declarado amor meu peito evoca.

Sirlânio Jorge Dias Gomes

Perseverança


Tenho uma folha em branco diante de mim, 
Cabem tantas coisas quantos os meus dilemas, 
Nesta folha cabem sorrisos,olhares e gestos, 
Jeitos indigestos,críticas,tristezas e alegrias, 
Uma infinidade de emoções transitórias, 
Histórias com rimas ou sem rimas, 
sofismas,paralogismos,máximas e... 
A sua mente individual seguirá o curso. 

Afinal, você está lendo tudo isso; 
Talvez esteja se perguntando onde está a poesia; 
Enquanto tomo uns goles generosos de café, 
Percebendo a noite pela janela do meu quarto, 
Sentindo o cheiro das flores do meu jardim, 
Ouvindo os cães ladrarem enfurecidos, 
Deixando meus pensamentos voarem, 
Sem medo de pousar em outra mente. 

A lua está lá fora serena e calma, 
A minh'alma agitada cheia de ousadia, 
Aventura-se na loucura do tempo, 
Querendo escrever um poema, 
Rindo-se do meu corpo com uma pena na mão, 
Fazendo alguns rabiscos com os dedos ansiosos, 
Pensando em alguns poetas que já li, 
Buscando alguma ideia que valha o sacrifício. 

São seis horas da manhã, 
Acabei de acordar de um longo cochilo, 
Com o sol dando-me bom dia, 
O café esfriou na xícara cansada de me esperar, 
A lua se foi sem ao menos se despedir, 
Na folha caída ao chão tem algo escrito,
Será um poema? 
Mais tarde tomarei coragem para saber. 

Sirlânio Jorge Dias Gomes


Tropeço


Andando na rua tropecei, 
Senti uma tremenda dor no pé, 
Não doeu tanto quando ousei amar, 
Mas  a dor foi tanta que chorei, 
Do pé perdi o sapato, 
Do amor perdi a mulher, 
Triste sina deste que vos fala, 
Neste momento quase filosófico. 

Tropeçando aprendi a andar melhor, 
Passei a prestar atenção no caminho, 
Também no desalinho na vida, 
Que é amar a quem não lhe devota amor, 
Ambas as coisas causam dor, 
Senão forem feitas com cuidado, 
Muitos tropeços pode fazer perder o pé, 
Tal qual muito amores abstraídos. 

Podem matar um coração sofrido, 
Quando não mata disciplina, 
Ensina andar direito o distraído, 
Absorto em pensamentos, 
Sem perceber o perigo, 
Que pode levá-lo a ruína, 
Não importa em qual esquina, 
O perigo da jornada é iminente. 

Sirlânio Jorge Dias Gomes

Brilhante


Beleza radiante encantadora, 
Eis o teu nome murmúrio em meus lábios, 
Que tantas vezes tocaram os teus, 
Sorrindo com os olhos, 
Tão cintilante tesouro guardado, 
Ao primeiro encontro notado, 
Feito estrela de primeira grandeza. 
O silêncio deste poema declama teu nome, 
Versos da saudade que a rima do tempo, 
Ornado de inspiração celeste carnal, 
Recriou o desejo a nós concebido, 
Tocando o infinito dos nossos corpos, 
Interpretando o amor em sutilezas, 
Inocência perdida da timidez vertente. 
Ardendo em nossos beijos ávidos, 
O pensamento grato deleite da memória, 
Escreveu o livro plácido romance, 
Cuja pena ímpeto alento, 
Grafou no coração páginas confessas, 
Audaciosa Loucura vivida. 

causa


Nula é a vida adiante,
Outrossim vazia,
Umbrático refúgio,
Nebuloso pesadelo além,
Encruzilhada do mundo,
Cais de rostos abstratos,
Vagando sem rumo.
Beija a ausência a vaga morte,
Escárnio profundo aos tolos,
Desalmadas criaturas nuas,
Despojadas de si sem aviso,
Riso amorfo da despedida,
Caluniando a confissão tolhida,
Imagem do último olhar,
Lágrima a perpétua escuridão.

Sirlânio Jorge Dias Gomes

Absolvição


Regressei da noite pálida,
Beijando o açoite da solidão,
A castigar meu corpo silencioso,
Buscando abrir a janela da alma,
Rendição ao meu lamento.
Retornar de mim é um desafio,
Neste luto de revoluções absurdas,
Pleito da minha loucura,
Em seus êxtases invulgares,
Apedrejados pelo meu riso perdido.
Os meus lugares são estranhos,
Sem as pegadas dos meus pés,
Pois nunca estive lá,
Onde o vazio me retratava,
Sob as dores da incerteza.
Furtivamente olhei os rascunhos,
Antes de ousar novamente,
Desejar o amor nas entrelinhas,
Subliminar condição da felicidade,
Afeitas da mais variadas cores,
Cartas ainda sem destino,
Guardadas no coração do remetente.

Graciosidade


Pereço de amor ao teu fascínio,
Imitando a morte em repouso,
Afável paixão abrasa-me,
Perdidamente de prazer cingido,
Enredado aos teus beijos suaves,
Ardente concerto entre corpos.

Corro aos teus aprazíveis braços,
Rendido sem desejar socorro,
Torturado de amores doce delírio,
Intensidade adorada ao teu viço,
Júbilo envolvente insinuantes juras,
Beija-me todo sem cismas.

Adornada tez de olhar envolvente,
Luzes d'alma intenso desejo,
Doce arpejo ao meu lume,
Sejam as estações nosso refúgio,
Confidências de afeições sublimes,
Intimidade ditosa que nos afortuna.

Poetiza-me aos teus versos,
Sou teu ao todo que nos reveste,
Meu coração a ti aflora,
Velejando sobre este imenso mar,
Vereda dos meus sentimentos,
Tocando-te sutilmente.

Reine tua vontade ao meu intento,
Finito pulsar entre vertentes,
Afagando a liberdade deslumbrada,
Diáfano horizonte de promessas,
Casta beleza arrebatada,
Nobre amor atraente.

Curvo-me aos teus pés,
Ritual fecundo aos teus domínios,
Êxtase profundo singular deleite,
Tocando o céu pasmo sabores,
Queimando sobre o leito,
Luxurioso fogo que me domina.

Sirlânio Jorge Dias Gomes

Unicidade


Meu ser quer escultar a tua alma, 
Te amar na tua feminilidade constituindo-te, 
Seduzindo tua essência a cada olhar, 
Enamorando-se de tua intimidade feito poesia, 
Rendendo-se aos versos dos teus encantos, 
A fundir sonhos nas asas do espírito. 

Meu ser ao teu amor sossega, 
Ávido desejo ao teu, 
Murmúrios do meu coração em teus poros, 
Singularidade dos nossos pensamentos, 
Ao preciso prazer reservado, 
Majestoso conúbio, ósculo do paraíso. 

Meu ser é todo teu além do tempo, 
Recriando estrelas todas as noites, 
Imagem cintilante do teu sorriso, 
Quando nossos braços se entrelaçam, 
Incansável completude de felicidade, 
Aconchego dos teus lábios beijando-me. 

Se faltarem palavras para descrevê-la, 
Por certo meu ser as inventará, 
Buscará no infinito os maiores significados, 
Para expressar a beleza das evidências, 
Feito um barco a vela apaixonado pelo vento, 
A velejar no teu mar de emoções. 

Meu ser te amará para sempre,
Sem deixá-la partir da nossa eternidade, 
O incompreensível  findar da existência, 
Será a mansão das nossas núpcias infindas, 
Inspirando o amor entre as dimensões invisíveis, 
Unidos sob a confluência do universo.



Consubstanciação


O manto de areia meu último retiro,
Causticante estio mira meu destino,
Este purgatório onde meus olhos sangram,
Expiação do meu espírito maculado,
Abraçado ao chão vertiginoso refúgio,
Vultuoso caos de altivez entorpecida.
Meus sonhos se foram no meio da noite,
Revolutearam como pétalas ao vento,
Sentenças do perdido amor no temporal,
Feito páginas amareladas pelo tempo,
Imagem irônica do meu ser em pergaminhos,
Poeira imortal da minha plenitude.
Rasgaram-se as velas da minha caravela,
Findou-se minha aventura humana,
Naufraguei antes de aportar no cais,
Sufocou-se nas águas sombrias a beleza,
Realeza da vida que me animava,
Protegida sob a pele complacente,
Imenso fim de faces imprevisíveis.
Pereceu o juízo oclusa razão,
Num tudo repleto de nada,
Igual as nuvens que vem e vão,
Testemunhando o amor e o ódio,
Assumindo formas espaçadas,
Tal qual nossas dúbias emoções.

O amor é amor


O amor é amor e não invenções, 
É uma semente simples, 
A germinar no infinito da lógica, 
Que desabrocha repleto de gostos, 
Sensações únicas do encanto, 
Tatuando para sempre a alma de afeto. 

O amor não tem cor,mas tem sabor, 
Tem coisas incompreensíveis, 
Sorrisos inesquecíveis a poetizar a vida, 
Sofrimentos a fortalecer os laços, 
Tragédias do tempo cadinho dos sentimentos, 
Moldes do sonho, esperança e saudade. 

Amar o amor é dançar sem música, 
Ser criança sem sê-lo totalmente, 
Bailar na chuva em pleno inverno, 
Estar entre amigos no grande palco, 
Representação das oscilações de ser, 
Amando cada qual do seu jeito. 

Falar de amor pode ser complicado, 
Ao sentir-se incomodado com a dor, 
Sem esquecer que amar é despedir-se, 
Vestir-se de eternidade para quem se ama, 
Continuar amando mesmo na ausência, 
Promessa ao coração idílico. 

O amor tem seus amores impressos, 
Causas incondicionais da descoberta, 
Loucuras da felicidade vívida, 
Sobrevoando o tempo da aliança, 
Cativando a beleza da multiplicação, 
Contrastes da flor da maturidade. 

Primeiro beijo


Pousei meus lábios nos teus,
Meu sensível coração curvou-se,
Ao calor embevecido deleite,
Tremor suave libido exaltado,
A fresca flor beijada.
Entreabriu-se o amor solene,
Ao gentil encanto da castidade,
Obsequioso fascínio instigado,
Pleno sorriso do olhar,
Inquieto refúgio evidente.
De tal inocência o fino véu,
Descortinando no céu o luar,
Retrato da alma arraigada,
Suspirando nos braços de eros,
Indelével afeto evocado.


Vitupério


Humanidade servil tão bárbara, 
Criatura de emoções paralelas, 
Escravas da falsa superioridade, 
Submissa carne em desalinho, 
Abatida ao golpe da mortalidade, 
Iludidas em seus bordões viciosos. 
Hipócritas sem cor de única raça, 
A podridão do corpo não tem nacionalidade, 
Não tem status diante do que o consome, 
Apenas ossos e pó ao esquecimento, 
Da beleza e feiura sem diferenças, 
Deitadas ao solo friamente. 
Tantas antipatias disfarçadas, 
Sorrisos sem sorriso verdadeiro, 
Caridade cheia de facas afiadas, 
Altivez de pessoas vazias, 
Exalando seus monstros infernais, 
Repletas de cortesias vãs, 
Escaninho da maldade sob olhos famintos, 
Escrupuloso ósculo da conveniência, 
Tratados afagados de aleivosia. 
Amigos mórficos a desgraça aparente, 
De palavras ociosas ao oculto, 
Jogando lama na confiança latente, 
Santificando seus burburinhos suicidas, 
Vítimas do próprio infortúnio, 
No grande labirinto de prelúdios. 

Vórtice


Minh'alma segue o meu coração, 
Esta estrada de rotas infinitas, 
De encruzilhadas rotas multiformes, 
Balançando feito as folhas no outono, 
Caindo ao chão feitos sonhos, 
Refazendo-se ao longo da existência. 

O vento suave, divagações da tempestade, 
Afaga a possível solidão alquebrada, 
Imenso deserto de oásis angélicos, 
Auspicioso suspiro verte o martírio, 
Guerras furtivas dos meus eus, 
Combatendo entre as estações silenciosas. 

Ingênuo porvir arremete-se aos olhos, 
Contrapartida das dores oclusas, 
Mar em fúria do espírito em suas vozes, 
Murmurando entre as falésias humanas, 
Recitando tragicomédias aos surtos, 
Banalização sagaz da vida e da morte. 

Minh'alma segue aqui e ali, 
Manejando figuras moribundas, 
Enquanto a realidade implacável, 
Molda a evolução entre os pares, 
Cadenciando a marcha dos mesquinhos, 
Observando o relógio do mundo. 


Entusiasmo


O meu olhar no seu olhar, 
Proba invenção do desejo, 
Reinventando mundos afeitos, 
Ócios da noite entre abraços, 
No doce regaço da paixão, 
Deslizando o amor afogueado. 
O teu colo agasalho da minha sede, 
Adora Afrodite em seus lábios, 
Adornada em suas lúbricas súplicas, 
Gotejando no corpo o perfume do prazer, 
Impiedoso feitiço corpos acesos, 
Queimando ao sabor da intimidade. 
Abre-se a flor num ato sublime, 
Impelindo pétalas suaves de primavera, 
Estação poética que me arrebata, 
Coroando-me o rei sol, 
Inflamado de desejo ao diáfano toque, 
Notória lisonja em deleites concupiscíveis.
 

Volúpia


Tanta sexualidade sob este silêncio,
Nobreza de um corpo ardente,
Aos gritos na imensidão de um olhar,
Gostos perceptivos do erudito amor,
Imitando o sol e a lua em suas rotações,
Contrações do cobiçoso desejo,
No ávido mar em virações,
Beijando a beleza afeita de carinho.
Tanta impetuosidade em melódicos tons,
Afinada ao maestro que a conduz,
Ária de musicalidade sequiosa,
Flutuando além do tempo,
Versos íntimos absconsos,
Declamados ao tácito prazer,
Cadencioso momento em poesia,
Simétrica feminilidade vertida.

Remissão


Meus pensamentos são albatrozes, 
Voando sobre o mar de ilusões, 
Mergulhando no sentimento infindo, 
Trazendo à superfície o alimento d'alma, 
Nesta monogâmica vida afeita de sonhos, 
Ambíguo desejo de dois mundos. 
Meu espírito gérmen da minha morte, 
Sorri ao meu corpo em dilúvio, 
Concatenando-se na minha multiplicidade, 
Miserável riqueza pobre sinuosa, 
Flertando com a labiríntica humanidade, 
Promíscua evolução caótica. 
Minhas certezas são miragens, 
A indagar os ventos que a levam, 
Peripécias do tal destino, 
Brincando de esconde-esconde, 
Aguardando o tempo gritar meu nome, 
Enquanto sigo caminhando. 

Martírio


Desejar-te é meu vício,
Vicissitude do meu coração,
Pertinaz solicitude alquebrada,
Viajando ao tempo de tua rebeldia,
Conveniências de um execrável amor,
Transmutando-me aos grilhões da minha dor.
Querer-te é mais do que posso,
Expurgo violento da minha fraqueza,
Sublimando o meu eu que em ti se esconde,
Sem tocar o que tua alma clama,
Aborrecendo os meus sentimentos roucos,
Gritando sem que me ouças.
Meu ser em prelúdio chora,
Infortuna avidez emudecida,
Súplica retraída dos meus tormentos,
Vendo os dias sob meus olhos,
Levar-me ao fim do que amo,
Atroz destino do amor que me condena.

Sirlânio Jorge Dias Gomes




Fim


Os termos se perderam no tempo, 
Deixamos murchar a flor do amor, 
Abusamos da nossa liberdade, 
Na frieza das emoções entristecidas, 
Atrasando o relógio dos nossos corações, 
Perdidos nos atalhos da amargura, 
Cansados ao buscar o inatingível. 

As estações deixaram de ser obsequiosas, 
Apagou-se a chama da lareira, 
A casa tornou-se fria na ausência do inverno, 
O verão escondeu de nós a beleza do sol, 
O outono desfolhou nossas esperanças, 
Da primavera não restaram flores,
Ressequiram-se quando nos traímos. 

Formidáveis foram os dias ao teu lado, 
Egrégios momentos soberanos de intimidade, 
Fortuita atração distraída em si, 
Subtraída pelo egoísmo do olhar, 
Singular silêncio da despedida, 
Aceno corpóreo emudecido pela dor, 
Ressentida paixão meneada em cinzas. 

Sirlânio Jorge Dias Gomes 













Perspectiva


Veja, 
O poeta do luar, 
Alphonsus de Guimarães 
De alma nua, 
De mãos dadas com sua amada, 
Diante do Dante negro, 
Cruz e Souza, 
Com suas penas cintilantes, 
A estimar o trovador da liberdade, 
Castro Alves, 
Enquanto Dante, 
Divinamente inspirado, 
Admira seu inferno paraíso, 
Perdido em seu exílio, 
Aos olhos de Boccaccio; 
A morte embevecida, 
Sentada na lua, 
Em seu beijo sepulcral, 
Acena aos poetas, 
Eternizando-os na despedida, 
Deixando a flor enaltecida, 
Abraçando o amor em seu perfume, 
Lume da vida afogueada, 
Conduzindo seus anjos escravos, 
Querubins cheios de formosura, 
Enamorados de versos adônicos, 
Vozes de criaturas invisíveis, 
Folhas do tempo ao tempo, 
Enraizando sentimentos; 
E  eu aqui um tanto atrevido, 
Além das regras, 
Ousando tentar poetizar, 
No rastro dos heróis literatos 
Sob o sussurro das letras, 
Timidamente envolvido. 

Sirlânio Jorge Dias Gomes

Introspecção


Há dias que o coração convulsiona-se, 
Tantas ilusões em seus portais, 
Que a mente revoluteia chorosa, 
Refletindo sentimentos em seus pretéritos, 
Manuseando peças obscuras da alma, 
Desejando simplesmente esconder-se, 
Dentro do eu em congestionamento. 

Uma tempestade de imagens, 
Monstros surreais de uma morte sem morte, 
Assaltando a razão em seus princípios, 
Precipício do tempo aos alienados, 
Tentando escrever no escuro, 
Uma realidade alternativa, 
Sem pergaminho e nem tinta. 

Palavras num nó de ideias, 
Distrações absurdas da mente, 
Dialogando com o corpo em soslaio, 
Ludibriando a boca anestesiada, 
lúdico sorriso sem brilho, 
Velado aos dissabores insolentes, 
De um longo dia em chamas. 

A ampulheta segue seu curso, 
Círculos deslumbrados da vida, 
Equilibrando-se entre o bem e o mal, 
Ambiversos perdidos em seus mundos, 
Buscando amor em amores paralelos, 
Tão vazios quanto seus viciosos laços, 
Envenenando-se diante do espelho. 

Sirlanio Jorge Dias Gomes

Mérito


Saia do seu mundo,
Deixe-me guiar teus passos,
Solte-se destas amarras viciantes,
Dê-me tuas mãos cansadas,
Sigamos juntos nesta estrada,
Ofereço-te meu imperfeito amor.

Não tenha medo de voar,
A liberdade é um sonho infinito,
Deve ser conquistada com coragem,
Antes de anoitecer em nós,
Devemos lutar contra a tempestade da vida,
Exaltando nossa vitória após o combate.

Depois de uma longa jornada de lutas,
Poderemos sermos livres,
Finalmente nos entregarmos ao amor,
Vivendo cada minuto da nossa mortalidade,
Alegrando-se com os desafios vencidos,
Surrados, porém mais fortes.

Sirlânio Jorge Dias Gomes

Anelo


Dê-me desta boca o beijo voraz,
Grite meu nome no sussurro do silêncio,
Busque-me na beleza dos teus meneios,
Os seus lábios me devoram virtuosamente,
Caçando-me no brilho do teu sorriso,
Cintilante olhar travesso aos meus.

Te quero na certeza que me deseja,
Terno fogo que me queima suavemente,
Centelha dos nossos corpos vivazes,
Entreolhando-se entre os poros endoidecidos,
Cúmplice devoção do espírito aflorado,
Ósculo dos deuses ao meu regalo.

Te quero todas as noites...
Simplesmente assim do seu jeito,
Nesta beatitude plena,
Desabrochando ao raiar do dia,
Cheirando esta tua flor perfumada,
No teu jardim evocado de sonhos.

sirlanio jorge Dias gomes













Arpejo


Branda solidão aprazível convite,
Vai o coração incendiando o corpo,
Irradiando da saudade a vontade,
De simplesmente ir sem medo,
Desabrochando entre as sensações,
Notas musicais suave arbítrio.

A flor desabrocha intensamente,
Sentindo o toque da brisa pulsante,
Contorcendo-se entre as folhagens,
Simplicidade em tons vibrantes,
Elevando-se entre as delícias do ser,
Conforto adorável encontro.

A beleza toca a liberdade silenciosa,
Beijando as pétalas em flor,
Suspiro agradável refúgio,
Estradivário em mãos hábeis,
Movimentos celestes rebuscados,
Pura poesia firmada.

Ao ápice doce concerto,
Brisa entre os poros enamorados,
Abraçados ao silêncio pungente,
Sorriso discreto delineado,
Doce prazer confidenciado,
Monólogo concupiscível enredado.

Sirlânio Jorge Dias Gomes

Volúvel querer


Amor fora do tempo não é amor,
É um desamor a si aviltado,
Na solidão doída infame rascunho,
Meneio do livre arbítrio oprimido,
Chorando desejos angustiantes,
Ferido pela razão enlouquecida.
Amor verdadeiro sem sentido,
Além das explicações,
Implicação do implacável destino,
Adestrando o caminho da felicidade,
Sentimento de faces eloquentes,
Pautando a vida aprazível admiração.
O amor aquece a alma,
E o coração apadrinha seus encantos,
Enlevo profundo do juízo amado,
Lisura do espírito que o concede,
Leveza do corpo num êxtase fiel.
Indômito animal é o corpo em chamas,
Abrasado pela compunção tardia,
Ao deitar-se num estranho leito,
Obsequiando a túrbida compleição,
Numa rendição capciosa.

Decadência


A vida é uma matemática, 
Somos números exatos, 
Num complexo sistema, 
Resultado de uma combinação infinita, 
De um lugar para outro sucessivamente, 
Semente de outras sementes, 
Vida de outras vidas desconhecidas, 
Programadas para nascer e morrer, 
Iguais a todos os astros celestes, 
Em seus roteiros energéticos. 
Somos energia materializada, 
Herdeiros da fragilidade da matéria prima, 
A qual surgimos a partir do primeiro, 
Assumindo formas e características distintas, 
Ao ambiente da nossa existência, 
Expostos as flutuações do tempo e do espaço, 
Diminutas criaturas presunçosas. 
Corremos para nascer e morrer, 
Seguindo o relógio que não se atrasa, 
Deixando rastros numa estrada infinita, 
Percebendo a humana flor, 
Despetalar-se sob as estações, 
Murchando aos poucos até fundir-se a terra, 
Num abraço inevitável reencontro, 
Esperança de uma sabedoria enigmática, 
De que haja uma continuidade ao nosso desejo, 
Além da eternidade das estrelas que possuímos. 
Existir é um desafio no pensamento primitivo, 
Uma revolução de evoluções divergentes, 
Feedbacks em espirais surreais, 
Espelhando os colapsos seculares, 
Interjeições de seres inteligentes, 
Sintaxes biológicas em exaustão.




Perversidade


Pulsam na terra os traços mórbidos,
Pena secular aos dissímeis mortais,
Humana disparidade da morte,
Tocaia silenciosa do preconceito,
Entrincheirados nas esquinas do ódio,
Trazendo no coração suas confluências,
Forjada em dor e sangue.
Escravos, de escravos da soberba,
Sarcasmo da fragilidade em mãos vazias,
Ao manjar ignorante de vermes famintos,
Ínfimas criaturas encarniçadas,
Castigadas ao próprio fastio,
Transbordante de si no precipício.
Uma a uma seguem em chamas,
Atormentadas em seus infernos contraditórios,
Anjos demoníacos travestidos  de compaixão,
Afogando-se no vômito de suas mentiras,
Suicidando-se nos paradoxos de uma falsa vida,
Túmulos atemporais de tolos.
Há um grito em cada canto,
Ecoando aos surdos transeuntes,
Agitando suas bandeiras desconexas,
Buscando abrigo em suas prisões,
Repletas de escórias sociais libertinas,
Escondidas em suas casas falidas,
Enquanto a existência os punem.

Soledade


Porfia em meu peito certo alento, 
Tão grandioso quanto as estrelas, 
Amando a vida em suas trovas, 
Fantasiando o coração n'alma, 
Sentindo de perto a paz das cotovias, 
Nas montanhas inertes, 
Dos meus sonhos além da morte. 
Sigo a imortalidade por meus umbrais, 
Beijo da felicidade fiel legado, 
Cintilando pelo universo infindo, 
Repleto de sentidos ouvindo a noite, 
Esperança da alvorada sorrateira, 
Acariciando o céu lentamente. 
Dos meus suspiros nascem flores, 
Rimas da última poesia do meu encanto, 
Indivisível recato ao abraço do tempo, 
Beleza da árvore da vida, 
Recriando o paraíso ao gosto arbítrio, 
Enquanto se abre a porta do destino, 
Deixando a sombra do que se foi. 

Amenidade


O cio da noite em teus olhos celestes, 
Verte de mim o orvalhado amor, 
Beijando-me com teus castos lábios, 
A desabrochar a flor do desejo, 
No meu coração fecundo deleite, 
Inolvidável manancial de luxúria. 
Pulsa minh'alma feito estrela cintilante, 
Cortejando a lua reflexo da tua face, 
Imortal ternura semblante da eternidade, 
Murmurando teus versos infinitos, 
Carícias atemporais fiel doçura, 
Ao sutil êxtase da felicidade. 
Cantam os astros a paixão aludida, 
Formosa treva velado paraíso, 
Augusta serenidade retida, 
Inflamado de amores ao fino laço, 
Excitante colo abrasado, 
Ao teu corpo consumido. 
O cio da noite assaz atrevido, 
Trouxe de si os gemidos, 
Flamejando de mim os sentidos, 
Afável leito ardente,
Confidente véu de ternura, 
Ao convergente zelo vivido. 

Despertar


Cessei de viver uma vida postiça, 
Fadada a tanta melancolia, 
Revirando os escombros da alma, 
A caminhar perdido na ilusão, 
Enlaçado taciturnamente ao caos, 
Banhado de lágrimas copiosas. 
Não desejo mais tantos eus, 
Clones mórbidos promíscuos, 
Flertando na paranoica escuridão, 
Aos beijos com a apaixonada solidão, 
Risonha em seus contrastes, 
Ao lado do inverso amor, 
A oferecer suas pobres migalhas. 
Deixo o túmulo para os mortos, 
Onde sepulto minha loucura, 
Este óbito há tanto desejado, 
Na esperança da felicidade, 
Feito a tímida alvorada, 
Que mansamente faz girar o tempo, 
Feito eu e minha esperança, 
No grande círculo da vida. 

Incidência


Há tantos amores  no mundo, 
Arraigados em seus corações confessos, 
Despojados de si em razão do outro, 
Feitos flores e frutos, 
Amadurecendo entre as estações da vida. 
Há tantas juras de amor quanto o ódio, 
Seres envaidecidos em suas certezas, 
Viés da morte em discursos vazios, 
Apontando a espada ao próprio peito, 
Digladiando com seus demônios interiores, 
Enquanto vomita insanidades. 
Há tantos rumores que o homem anda perdido, 
Buscando fora de si o que dentro está, 
Bússola invisível da alma, 
Ponteiro certeiro do tempo, 
Mostrando a direção sob os vendavais, 
Emanações humanas controversas, 
Herança das civilizações perdidas.

Tabernáculo


Vivemos segundo nosso arbítrio, 
Presos aos grilhões da mortalidade, 
Na esperança da ignota imortalidade, 
Sob penitências finitas da alma, 
Preço dos sonhos ao penoso fardo, 
Contrição aflita presságio da morte. 

Lá fora há um dia calmo, 
Trazendo em si também a tempestade, 
Um oásis com todos os seus perigos, 
Sorrindo aos prazeres nele contido, 
Na imensidão dos prelúdios inusitados, 
Soprando em várias direções. 

Não importa o modo ou a forma, 
Neste imbróglio de tantas solidões, 
Arrastando corações que se perderam, 
Correndo atrás da sedutora ilusão, 
Camisas de força aos loucos atrevidos, 
Surrando a própria vida em seus exames. 

Tantas vozes sem vozes em si, 
Gesticulando ao vazio de seus nadas, 
Vestidos de reis e rainhas, 
Príncipes e princesas de castelos falidos, 
Abraçados ao túmulo da nobreza, 
Espelho de suas pobrezas estupefatas. 

Quando ruírem suas casas de vidro, 
Sairão correndo de nada entender, 
Sem perceber a lança em seus peitos, 
Ardendo ao fogo da desgraça, 
Progenitora dos vícios inconstantes, 
Cadinho do mundo em conta-gotas. 

Há tantos sem teto em mansões, 
Errantes em seus labirintos intangíveis, 
Zombando dos ricos palácios dos pobres, 
Já condenados sob um único olhar, 
Apedrejados pela soberba língua, 
Repleta dos nós de suas quedas.

Vínculo


Vai a alma sonhando com amor,
Com a inocência de uma criança,

Rebuscando o infinito em suas fantasias,
Esquadrinhando as memórias,
Brincando com as nuvens no céu,
Sabendo que não são mais de algodão,
Apenas um reflexo da pureza.
Vai o ser no silêncio da noite,
Tentando moldar as herméticas emoções,
Bolsões de uma humanidade em fúria,
Travestida de uma paz angustiante,
Camuflada em requintes de gentileza,
Chicoteando com seus lapsos transitórios,
Enquanto não chega a tempestade.
Vai a vida em seus contrapontos,
Dialogando com a vaidade capciosa,
Apaixonado enredo malfazejo,
Metamorfoseando a flor da juventude,
A flertar com a singular senilidade,
Envoltório do tempo apressado,
Sob flashes da pávida morte.

Repúdio


Há um vestígio sobre mim esta noite,
Diante do espelho ofuscado,
Vejo apenas o planger dos meus olhos,
Talvez seja a miragem dos sentimentos,
Fronteira do nosso perdido amor,
Aroma das nossas lembranças.

Há algo intenso queimando meu peito,
Predileção do meu livre destino,
Tocando as tuas mãos imaginárias,
Tão frias quanto tua pena,
Indulgência ao teu coração descabido,
Desbotando a tua beleza fria.

Diga-me onde se perdeu a tua humanidade,
Nestas vestes de tua alma fugidia,
Transformando paixões em pedras,
Insensíveis visões da felicidade,
Cárcere mórbido do teu selvagem querer,
Engodo desejo que te condena.

Juramento


Ao teu olhar vi estrelas, 
Escutei-as em teus cantos celestes, 
Vestidas para as núpcias, 
A imitar a noiva dos meus encantos, 
Adornada de amor indelével, 
Flertando com a eternidade. 
Meu coração metrificou seus versos, 
Estrofes enamoradas altivas, 
Melódicas sensações de tal apreço, 
A sentir a inefável doçura dos teus lábios, 
Desenhando o paraíso nos meus, 
Solene invólucro do desejo. 
Minh'alma sorriu feito brisa pulsante, 
Acariciando as flores na primavera, 
Em seus beijos de matizes perfumadas, 
Singular paixão assentida, 
Entremeios do corpo exaltado, 
Na finitude do prazer indubitável. 
Ao teu olhar vi estrelas, 
Cintilante abraço do amor, 
Horizonte secreto da vida, 
Transbordando o sacramental viver, 
Aos propósitos do fiel sentimento, 
Apanágio Sagrado da promessa. 

Momentos


Hoje, e até quando o seu amor quiser amar-me,
Desejarei a tua verdade absoluta em meus braços,
Sem pressa, no contexto suave dos teus lábios, 
Esta emoção preliminar do meu desejo, 
Medida certa desta paixão tão sublime, 
Fôlego do meu minucioso querer. 

Desperto meus sentidos ao teu perfume, 
Pareço estar além das estrelas ao seu toque, 
Danço feito criança de braços abertos, 
Brincando no meu interior cheio de fantasias, 
Óbvios sinais do que me cativa, 
Além da imperfeição que nos anima. 

A fascinação de tua beleza é meu destino, 
Admiração que me conforta ao total convite, 
Deste seu sorriso meigo sedutor, 
Saudade constante em louca paixão, 
Escolha plena entre mim e você, 
Sementes do hoje, frutos do amanhã. 


Assunção


Num cantinho qualquer de mim, 
Olhando o imenso  mar da minha vida, 
Minh'alma feito ondas, 
Debatendo-se na areia dos meus gemidos, 
Deixando marcas invisíveis tão fortes, 
A esculpir a frágil criatura que me concebe. 
Vez ou outra admirava meu celeste véu, 
Banhado com o rosto em lágrimas, 
Imagem singular das nuvens pesadas, 
No firmamento do meu espírito, 
chovendo entre meus vícios, 
Lavando a fuligem dos meus passos, 
Delatando meu livre arbítrio maculado. 
Sem pressa olhei o profundo horizonte, 
Deixe o meu sol se pôr de mansinho, 
Cortejando a lua anjo de luz, 
Enquanto estrelas de arrependimento, 
Gotejavam sobre meu limbo, 
Sussurros de Deus ao meu lamento, 
Ressuscitando-me da minha estúpida morte.

Sirlânio Jorge Dias Gomes


 

Eclipse


Não me aprisione com esta solidão doída, 
O mundo gira e amanhã poderá ser diferente, 
Preciso sair desta tempestade que sufoca, 
Encontrar o farol que está lá, 
Sobre a pedra do meu destino, 
Lançando raios de luz na escuridão. 

Num barco a deriva está o meu sorriso, 
Balançando no meio do oceano, 
Este teu mundo de rosas negras, 
Tão frias quanto sua forma de amar, 
Lançando sobre o mar a sua ironia, 
Lúgubre ritual de despedida. 

Há tanto sobre mim que ajoelho, 
Mas não é uma prece que faço, 
São suas mãos invisíveis que me ferem, 
Acorrentam-me ao seu vício,
Este laço mortal de sua alma, 

Beijando as cinzas do meu corpo. 

Não me aprisione com esta perfídia, 
Chegará o resgate que me libertará, 
Morrerá engasgado com o seu veneno, 
Terei de volta meu riso farto, 
Dançarei com a felicidade sob sua face, 
Serei simplesmente amor nesta jornada. 

Não aceitarei menos do que mereço, 
Sua lembrança apagarei da memória, 
Darei meus lábios ao gêmeo amor, 
Dançarei ao silêncio sob a chuva, 
Sorrindo para a liberdade tão vaidosa, 
Seduzindo a alegria que me enamora.

Peregrinação


Sigo arfante por esta estrada,
Levando na algibeira o pão da alma,
Feito com minhas mãos calejadas,
Com o trigo plantado na seca estação,
Sob o suor do meu rosto castigado,
E meus pés cansados de tanta lida.
Olho para o céu timidamente,
Pela aba do meu chapéu furado,
E depois para o chão meu último leito,
Num clamor silencioso do meu peito,
Sufocando o meu riso,
Escondido pela esperança corajosa,
Mulher companheira que me atina,
Na solidão do caminho cravejado de sonhos,
Feito pedras de todas as cores,
lavrada pelo vento sob o sol escaldante,
Límpidos tesouros atestados pela chuva,
Figura altiva das lágrimas vertidas,
Quando o canto tornou-se pranto,
No silêncio da noite de muitos versos,
A traduzir o infinito das coisas,
Nos áditos transitórios da vida.




Sentimento


Já era a noite grata temperança, 
Quando encontrei o teu beijo, 
Tendo tua alma toda nua, 
Vertendo em meu corpo o céu, 
Enlevo do paraíso aos meus lábios, 
Serena afeição que me sossega. 

Cobriu-me teu véu de ternura, 
Feito anjo de asas estendidas, 
Soprando em meu rosto a vida, 
Fartura de amor consumado, 
Quando a saudade impiedosa, 
Insistia na ausência de tua face. 

Meu sorriso fundiu-se ao infinito, 
Evocando a singeleza da primavera, 
Figura da minha alegria concedida, 
Enamorada de beleza condizente, 
Pulsação do meu peito abrasado, 
Ébrio mortal afeito de amores. 

Era a noite de tal modéstia, 
Que a brisa poetizou o tempo, 
Joia adorável de riqueza bendita, 
Dádiva amorosa cordial ensejo, 
Luzente vislumbre fadado, 
Alento da felicidade. 

Sirlânio Jorge Dias Gomes










Fortuna


Vá coração além de mim,
Declame sem medo o vento,
Cante e voe sem limites,
Espalhe minhas emoções por aí,
Volte apenas quando me encontrar.

Ao chegar estarei debruçado na janela,
Olhando a estrada além das montanhas,
Perscrutando as coisas simples,
Com uma xícara de café nas mãos,
Sorrindo ao mundo sob meus pés.

Pergunte aos pássaros meu nome,
Quando ouvir não diga nada,
Apenas siga seu caminho,
Minha singular existência te espera,
Sentando na varanda olhando o céu.

Ao avistares uma casinha no sopé da montanha,
Diga ao velho homem regando o jardim,
Que amar vale a pena até mesmo na dor,
Ao certo ele te agradecerá com um sorriso,
Siga teu destino até encontrá-lo.

Ao chegar não procure a casa,
Não estará mais lá,
Também não me procure,
Fui embora com meu amigo,
Sem nunca tê-lo deixado.

Ao partir nas aventuras da vida,
Caminhei contigo em todo tempo,
Segui o seu sábio conselho,
Aprendi a amar no silêncio,
Seguindo o por do sol para a eternidade.

Sirlânio Jorge Dias Gomes








Resistência


Te dei amor e me deste cicatrizes,
Decepou a flor do meu amor,
Me deixando apenas amarguras,
Transformou-me num deserto sem oásis,
Rasgou minh'alma feito papel,
Calou o meu grito sem piedade.

Pesado suplício verteu de ti,
Odioso veneno ignóbil vertiginoso,
Mácula em meu corpo a ti enredado,
Tresloucado sentimento desvairado,
Oscúlo de espinhos em minha boca,
Agora seca lacerada ao desgosto.

Te dei amor e me reduziste a nada,
Alejou a confiança do nosso amor,
Este sentimento que agora sei,
Nunca tive deste torpe coração,
Desejo apenas do meu pensamento,
Domado a duras penas de sua infidelidade.

Te dei o que nunca te perteceu,
Até a sua falsidade abstrair meus sonhos,
Roubando a minha paz iludida,
Quebrando o espelho da minha imagem,
Fragmentado reflexo da mulher que fui,
Buscando forças para prosseguir.

Te dei amor e pego de volta meu tesouro,
Renovarei o meu destino a toda prova,
Terei ao certo um novo amor,
Serei feliz nesta selva de perigos,
Mais forte e decidida,
A ter o melhor que mereço.
 

Cuidado


Respire fundo, 
Há em ti uma vida grandiosa, 
Parte de um mistério milagroso, 
Do tamanho do universo, 
Mansão silenciosa do teu corpo, 
Buscando o sentido da existência infinita, 
A que chamamos de alma, 
Esperança da eternidade ao finito conhecimento. 

Pare por alguns segundos, 
Olhe a lua e o sol sobre sua cabeça, 
Investigando a solidão que te aflige, 
Busque perceber a beleza de tudo que existe, 
Ainda que tudo pareça triste, 
Sob os vendavais da ganância humana, 
Que vive numa evolução involuída, 
Construindo túmulos invisíveis. 

Deslumbrai o deslumbrável, 
Amai incondicionalmente o amor, 
Dialogando com o tempo enquanto caminhas, 
Questionando o mundo a sua volta, 
Flertando com a morte sorrateira, 
Contando os passos de tua despedida, 
Ao compasso do teu carente coração, 
Desabrochando entre os labirintos da vida. 

Respire fundo, 
Não deixe a pressa te assaltar, 
Deixando o que é importante para trás, 
Perdendo o melhor de dois mundos, 
O teu eu e tua família imperfeita, 
Colhendo contigo as pérolas da sabedoria, 
Entreolhando-se entre desalinhos, 
Cúmplices de um mesmo sofrimento. 


sirlanio jorge dias gomes

O tempo


Goteja o tempo pulsante, 
Exalando entre as estações, 
O perfume uterino da hermética vida, 
Maculada flor despedaçada, 
Deitada ao chão do infortúnio, 
Abraçada ao vício da aflição. 
Esvai-se a alma entre corpos sorrateiros, 
Vicissitudes de uma identidade ferida, 
Parida sob o caos de si, 
Enrolada no manto de espinhos, 
Aconchego da árida morte, 
Velado declínio espreitado. 
Vagueia o ser em seus amores, 
Constrangidos sentimentos infecundos, 
Cópula estranha ao toque da tristeza, 
Fornicada carência bastarda, 
Zombando da lucidez ultrajada, 
Torturada pela bárbara angústia. 
Gritam de suas prisões os solitários, 
Desconfiando da dúbia paixão, 
Espadas da facínora modernidade, 
Carregada de fascínios ardilosos, 
Açoitando o frágil querer, 
Acorrentando os corações pusilânimes. 




Escaninho


Admiro a lua no céu sem nuvens, 
Meu olhos brilham enquanto deliro, 
Ao lembrar-me de tantos abraços,
Momentos de fúria entre dois corpos, 
Buscando fundir-se numa luxúria louca, 
Deliciando-se de bocas entreabertas, 
Feito flores prestes a desabrochar, 
Vislumbre do apetecido amor. 

Sinto a brisa da noite em sua singeleza, 
Uma lágrima toca-me o rosto, 
Tantos beijos se perderam no tempo, 
Resquício de uma paixão serena, 
Deitada entre os lençóis da lembrança, 
Imagem do espaço-tempo, 
Projetando-nos em meu coração, 
Enquanto o desejo me consome. 

Quem sou aqui nesta solidão, 
Tentando me encontrar em confissões, 
Silenciosas tentações em tons de saudade, 
Vivacidade em mim transitória, 
Enredo de sensações sussurrantes, 
No íntimo clamor da minha cobiça, 
Embriagando-me de sabores platônicos, 
Ao meu envolvente querer em chamas. 

Sirlânio Jorge Dias Gomes

Florescência


Amável amor desvelo da minh'alma, 
Deslumbra meu coração em tua avidez, 
Desperto sentimento de asas infinitas, 
Radiante estrela cintila meu desejo, 
Afável anjo de faces aprazíveis, 
Selando em meu peito tua eternidade. 

Os teus olhos me revela enamorado, 
Gotejando dos teus lábios confidências, 
Poético florir de pétalas vaidosas, 
Perfumando as palavras de tua boca, 
Sussurrando-me entre emoções, 
Nua declaração de afeto. 

Poetizo o cair da noite em teu céu, 
Amplidão complacente aos teus versos, 
Versejando nossos corpos em estrofes, 
Líricos sentimentos delineado amor, 
Arte finita de generoso viço, 
Metrificando-nos no silêncio de amar. 

Inolvidável


Amar é despedir-se aos poucos, 
Perceber nos detalhes da imperfeição, 
Os laços sublimes invisíveis do querer, 
Posto que o amor escuta o coração, 
Sussurrando eternidades no tempo, 
Diligência de dois seres em evolução. 
É aprender com as diferenças, 
Renascer das cinzas a cada morte, 
Trazendo a vida no perdão verdadeiro, 
Amando a beleza das coisas simples, 
Acariciando o finito saber de existir, 
Entre a essência e o destino confesso. 
É abraçar-se ao infinito, 
Perceber o tesouro do desejo no olhar, 
Mesmo no entardecer da juventude, 
Primícias da senilidade no corpo cansado, 
reminiscência da chama luzidia do amor, 
Como se houvesse acabado de se apaixonar. 
É loucura sob as razões de si, 
Desabrochando todos os dias entre as estações, 
A cada amanhecer e pôr do sol, 
Degustando cada momento de felicidade, 
No imenso vitral da vida gotejante, 
Regando a flor da memória cortejando a saudade. 
Amar é amar e amar, 
Um mar de compilações de histórias, 
Benemérito dos ancestrais em suas lutas, 
A certeza de que amar vale a pena, 
Ilustrando as emoções em cada cena, 
livro que se fecha e se aventa.

Ocasião


Há em seu caminho, 
Aquela dor que arde em teu peito, 
Silêncio de mil vozes, 
Gritando aos teus pensamentos, 
Moldando tuas emoções, 
Mágoa insolente desventura, 
Pesar amargo contrito, 
Fortuito ressentimento causado. 

Há em teus olhos, 
Mais que lágrimas, 
Há também espinhos, 
Suprimido amor doído, 
Constrangida afeição negada, 
Vontade estranha sem prosa, 
Conversas cheia de sanha, 
Martírio corpóreo sentido. 

Há em teus pés, 
Rastros cansados de atalhos, 
Escaninhos da vida em dilemas, 
Treponemas do ardiloso tempo, 
Feroz combate impelido, 
Embriagada fraqueza no cio, 
Rindo-se perdida no caos, 
Assaz devassidão exilada. 

Há Muito em poucos segundos, 
Também pouco em muitas horas, 
Diferenças sutis do eu melancólico, 
Debruçado em si grotescamente, 
Buscando mais do que se possa ter, 
Oferecendo menos do que se tem, 
Girando em seus círculos heterodoxos, 
Contrapartidas binárias ensurdecidas. 

Há tantas coisas, 
Em teu caminho, 
Teus olhos, 
Teus pés, 
Teu tempo, 
Teu corpo, 
Que este poema, 
Te ouve inocentemente. 

Sirlânio Jorge Dias Gomes

Solidez


Sair de mim e não dizer nada, 
Não significa que não tenho nada a dizer, 
Minha voz emudecida grita à tua surdez, 
Este sentimento cego de asas tortas, 
Que por não entender de liberdade, 
Encolheu-se defeituoso sem poder voar, 
Olhar de longe o que de perto escondeu-se. 

De tanto amar o seu amor estressou-se, 
Abandonou-te após tantas palavras vazias, 
Tedioso som de sua boca pérfida, 
Louvando a falsidade que tua alma aporta, 
Lapso corruptível de sua soberba, 
Desenhando corações ao vento, 
Tal qual suas intenções promíscuas. 

Seus lírios murcharam antes de colhê-los, 
Tuas mãos deixaram de me oferecer flores, 
Pois não as tinham por serem puras, 
Tuas gentilezas simplesmente não existiram, 
Ao meu contexto sincero de amar-te, 
Estive só todo o tempo desta insanidade, 
Agora factível pelo despertar do tempo. 

Vá  embora com esta dor que te cabe, 
Deixe-me aqui nesta cela do meu retiro, 
O perfume da vida revela-me aos poucos, 
Seguirei juntando os fragmentos,
Purificando-me nas lágrimas do arrependimento, 
Banhando meu espírito no mar da esperança, 
Enquanto sua imagem se desfaz no esquecimento. 

Sirlânio Jorge Dias Gomes

Falando de amor


O amor é um jardim de flores infinitas, 
Repleto de cores, aromas e formas, 
Beijando o tempo com suavidade, 
Sem se importar com os vendavais, 
A impelir as pétalas no solo d'alma, 
Casta esperança da perenidade. 

Há um momento de respirar, 
Ganhar fôlego em meio a selvageria, 
Paragens de estranhas emoções, 
Aflição de momentos angustiantes, 
Gritando para que desista de ser feliz, 
Impulso da humanidade ferida. 

O amor é a forma do que é contido, 
múlti plural congruência presumida, 
Ao ser que o estimula em teu seio, 
Metrificando a própria existência, 
Casuística liberdade consentida, 
Ao coração que se escraviza. 

Há tantas vozes traduzindo o amor, 
Sem reconhê-lo na casta simplicidade, 
Delirando-se em impressões vazias, 
Enquanto se perdem em ilusões, 
Velando o caos em lágrimas entediadas, 
Cheios de si definhando no nada.

Contingência


Uma estranha efígie do outro lado,
Parte de algo infinito,
Transpondo o discreto jardim,
Repleto de flores petrificadas,
Desejos encobertos pelo tempo,
Além da clareira do amor.

Uma floresta densa entre tudo,
Plantas rasteiras igual minh'alma,
Deitada ao solo entre as pedras,
Beijando o sulco da terra,
Feito meu corpo vegetativo,
Corroendo-se em seus elos irascíveis.

A cerca adjacente ao meu eu,
Brota entre os juncos da vida,
Espalhando-se timidamente dolorida,
Corroída pela ferrugem do tempo,
Numa rebeldia de sentidos,
Tal qual minha dor hedionda.

As ervas daninhas me sufocam,
Sem dar trégua ao meu fastio,
A noite e o dia chegam sem tocar-me,
Delineando minha estranha forma,
Ao chão suplício do meu fim,
Jornada abstrata da existência.

Sirlânio Jorge Dias Gomes

Exuberância


Distante de você beijei a lua em poesia, 
Tomei teus lábios em versos de saudade, 
Cantei a brisa leve meus sentimentos, 
Olhando o céu e as estrelas, 
Imaginando-te por inteira em meus braços, 
Dando-me teu colo, aconchego da felicidade. 

Todas as noites busquei-te com doçura, 
Dancei ao vento abraçado ao teu corpo, 
Imaginária sensação da tua presença, 
Gracioso anjo de asas invisíveis, 
Cobrindo-me com o celeste véu do amor, 
Elísio da minh'alma em teus aposentos. 

Ouvi os sussurros da noite vaidosa, 
Trazendo aos meus ouvidos o teu nome, 
Ecoando feito música vibrante, 
Pulsando meu coração silente, 
Aromático perfume do teu ser encantado, 
Na solidão do meu quarto. 

O que faz sentido?


O que faz sentido?
Viver vivendo sem saber o que se vive?
Amar amando um estranho amor?
Beijar os lábios que não te beijam?
O que faz sentido?
Viver perdido entre os sentidos da alma?
Não encontrar-se em meio a tantos encontros?
A vida tem tantos sentidos incontidos,
Que os sentidos confundem que não tem sentimento,
Deixando os ressentidos perdidos em si.
Quantos melindres trazem um coração,
Se agarrando em coisas sem sentido,
Sem sentir os que o sentidos mostram,
Nesta existência de sentidos controversos,
Tal qual a interpretação usurpada da razão,
Cegando os sentidos mendicantes.
O que não faz sentido?
Ser indiferente a dor do outro,
Espelho da nossa própria fragilidade,
Sonegada pela nossa hipocrisia,
Em nome de uma imagem ofuscada,
Pretensioso deleite da afagada imperfeição.
Milhares de bocas condenam antes da justiça,
Andando em círculo diante dos seus abismos,
Supliciando inocentes com seus deuses internos,
Infernos de si nos infernos do outro,
Cadafalsos em mãos estranhas,
Ardilosos sorrisos enfadonhos.
Onde estão os sentidos das coisas?
Sofismas de muitos ao ossos alheios,
Imaterialidade nos ombros cansados,
Arrastando-se na estrada caótica da vida,
Devorando-se nas esquinas da sobrevivência,
Tétrica promiscuidade de sentidos patéticos.
O que faz sentido na ilógica humanidade?
Nestas lunáticas inconsequentes corridas?
Aqui deixo a pena sobre a mesa,
Olhando a próxima página em branco,
Premissas invisíveis da existência,
Sob meus olhos cansados,
Antes do meu repouso noturno.

Perdão


Nossos corações vulneráveis se feriram, 
O sol se pôs entre nós antes do tempo, 
Deixe que eu carregue este fardo, 
Leve em meus braços até o perdão desejado,
Somos imprevisíveis apaixonados, 
Pétalas de uma única flor. 
Posso sentir o murmúrio em teus lábios, 
Gritando o meu nome chorando baixinho, 
O meu sofrimento ecoando ao teu, 
Imagem ofuscada do teu olhar penetrante, 
Quando nos beijamos a última vez, 
Envolvidos num sorriso pleno. 
Sonhos foram construídos neste amor, 
Enquanto tuas mãos tocavam meu rosto, 
Promessas de almas inseparáveis, 
Vivendo teus melhores dias em felicidade, 
Enganados pela ilusão da soberba. 
Precisamos desatar os nós do orgulho, 
Sentir a paixão que nos queima,
Vivermos a nossa vida indubitavelmente, 
Olharmos juntos o nascer do dia, 
Dissipar a noite de escuridão fustigante, 
Seguir de mãos dadas até o fim de nossas vidas.

Prestígio


Ergui as mãos ao céu, 
Queria abrir o horizonte, 
Como se abre uma janela, 
Numa linda manhã de sol, 
Pintar nele a tua face, 
Arte do teu olhar infindo. 

O teu sorriso canta aos meu olhos, 
Chega sem pressa ao meu coração, 
Tão sossegado quanto meu desejo, 
Dádiva do meu sonho enamorado, 
Presente ao meu contentamento. 

Teu querer ondula em meu peito, 
Divertido meneio grata sorte, 
Dançando de braços abertos, 
No imenso jardim da felicidade, 
Delícias do meu ser afagado. 

Adorável criatura meu ser intenta, 
Mansão solene terna morada, 
Rosa perfumada de farto aroma, 
Imitando a beleza imaculada, 
Âmago frenético de mim, 
Afetuoso deslumbre prometido. 

Sirlânio Jorge Dias Gomes

Bravura


Aonde vais audaz guerreiro, 
Não despreze os perigos, 
Já é noite neste coração, 
Siga depois da aurora, 
Na beleza da luz vivificante, 
Sentindo o brilho da vitória, 
Segurança de tua alma andante. 

Bravo é o teu destino, 
Amor cortês que te revela, 
Beija a nobreza os teus passos, 
Cortejando a morte feiticeira, 
Cavalgando entre os teus olhos, 
Encruzilhadas de tua galante coragem. 

Não temas as emboscadas tua fortaleza, 
Empunhe a espada e lute, 
Deixe que o olhar altivo te guie, 
Lisonjeira honra a inusitada morte, 
Galopando entre teu pávido espírito, 
Sorrindo ao teu funeral. 

Que seja digno o último ato, 
Garboso fim ao confidente silêncio, 
Levando nas mãos teu baluarte, 
Espólio luzente do intrépido amor, 
Porta do paraíso ao último combate, 
Obstinada vitória ao céu florescido. 

Sirlânio Jorge Dias Gomes













Imutabilidade


Convergem as nuances entre o riso e o choro, 
Dicotomia d'alma errante em sufrágios, 
Visionando a tragicomédia do espírito, 
Retalhos do tempo ao ambíguo pensamento, 
Contrapartida da vida ansiosa, 
Velejando no mar das preposições. 

Abruptamente a peregrinação acontece, 
Abstrai-se a mente existencial, 
Indagando seus dilemas interiores, 
Surreais labirintos emotivos, 
Advogando sonhos e pesadelos, 
Ao princípio da conturbada liberdade.  

O corpo adormece e amanhece, 
Ou quem sabe adormece enfim, 
Tocando a desconhecida sublimidade, 
Deixando atras de si a saudade, 
A certeza do dever cumprido, 
Acima de qualquer paradoxo juízo. 

O pássaro bateu as asas e voou, 
Ultrapassou as nuvens transcendentais, 
Pousando no infindo jardim, 
Transgredindo o absoluto silêncio, 
Sob as vibrações sobrenaturais, 
Guiado pelo enigmático amor. 

Ondular


Meu juízo flerta com a vida,
Mesmo sem saber se aqui estarei,
Ao amanhecer da minh'alma,
Exata ambiguidade do meu amor,
Nos sentimentos mais profundos,
Gritando aos sussurros do meu coração.

A ilusão felicitou o funeral do tempo,
Presenciando a fé em seus infortúnios,
Crendo no infinito amor,
Absolvição de uma vida inteira,
Esperança vigorosa da liberdade,
Entre os pedregulhos do caminho.

Não vou olhar o que se perdeu,
Seguirei sob os prantos da saudade,
Absorvendo o que valeu a pena,
Lutando contra as sombras,
Matreira provação aturdida,
Covil das mortais ilusões.

Exaltação



Flertei o amor ao teu desejo, 
Persuadi tua timidez deixando-a livre, 
Desabrochei teu botão em flor, 
Refrescando-a suavemente feito névoa, 
Dando-lhe meu manto para cobri-la, 
Aquecendo-a com meu carinho. 

Cantei aos teu ouvidos faltos, 
Emaranhei-me em teus cabelos, 
Envolvi-me em teu perfume, 
Carnal cortejar imaculado, 
Dando-me o céu antes da morte, 
Fenecendo-me sem ter morrido. 

Amei a fidelidade em teus braços, 
Vi-te anjo em meu éden, 
Colhi estrelas nos teus olhos, 
Rútilo fervor ao meu contento, 
Buscando-te solenemente, 
Entre os sentidos da felicidade. 

Recitei teus lábios com os meus, 
Balbuciei teu nome em mim, 
A cada batida do meu coração, 
Suspirando em teu deleitoso vale, 
Adocicado mel vertente loucura, 
Inelutável luxúria de todo rendido. 

Sirlânio Jorge Dias Gomes







Malevolente


Eis o homem abstrata criatura selvagem, 
Lançando ao sulco da terra suas tragédias, 
Empoleirado no arco do mundo feito fera, 
Admirando seu  estranho túmulo, 
Enrugando a obscura face enfermiça. 

Eis o homem replicando homens, 
A imagem e semelhança de seu caos, 
Decompondo-se entre os excrementos do século, 
De mãos dadas ao abismo da arrogância, 
Tratando-se feito irmão, de pútrido sangue. 

Eis o homem recriado pelo deus em si, 
Plantando na terra sementes de fogo, 
A queimar a razão entediada, 
Amando donzelas desfiguradas, 
Gerando filhos bastardos. 

Eis o homem forjando lacunas, 
Amando em seu coração disfórico, 
Escravo de suas mazelas, 
Sociopata caridoso ao seu zelo, 
Odioso benemérito aplaudido. 

Eis o homem, 
Rasgando o ventre que o gerou, 
Patético filho de dúbio amor, 
Estranho ao próprio bem maculado, 
Rastejando entre os vômitos da rebeldia.

Sirlânio Jorge Dias Gomes 









Trajeto


Confundi a lua com a noite, 
Tal era era sutileza do meu pensamento, 
Como um trem quase sem destino, 
Beijando as paisagens sem conhecê-las, 
Sem saber ao certo dos teus segredos, 
Amontoados em algum canto de tais paragens. 

Cada olhar deixava um tom de despedida, 
Imaginado os sonhos do coração desconhecido, 
Guardados nas casas a beira do caminho, 
Quase na velocidade do vento, 
Embriagado de visões taciturnas, 
Brindando a vida num cálice de amargura. 

Há muito do outro lado, 
Estradas e labirintos ociosos, 
Uma viagem de amor e ódio, 
Refeito sob as ondas do tempo, 
Malandragem da paixão incompreendida, 
Rindo-se entre as lacunas dos meus hiatos. 

Desejo mais além do arco-íris, 
Exatamente aquilo que de mim se esconde, 
Entre as paredes do meu quarto, 
Muro das minha lamentações noturnas, 
Redesenhando minh'alma a cada segundo, 
Contraponto da minha vida em flashbacks. 


Alienação


Inóspita solidão avassaladora, 
Sensível transgressão d'alma, 
Levando ao vazio o ser em desalinho, 
Igual a um pássaro de asas feridas, 
Que não pode voar sabendo voar, 
Pródiga vida em suas dilatações, 
Mananciais tempestuosos mortais. 

A existência é um grande piano, 
Cujos dedos que o tocam em seus tons, 
São as nossas predileções ansiosas, 
Vertendo no mar de aspirações, 
Sonhos e pesadelos incansáveis, 
Tediosos em suas corporizações, 
Substancioso véu da purificação. 

Revelam os labirintos seus desafios, 
Pensamentos  de facas afiadas, 
Suprimindo a estranha consciência, 
Alquebrada em seus dogmas enfadonhos, 
Temerosos contrastes do espírito, 
Deslizando pelas mãos cansadas, 
Observando a fria solidão enaltecida. 

Sirlânio Jorge Dias Gomes

Admiração


Este teu sutil olhar é pura poesia, 
Me enlouquece no êxtase dos teus braços, 
Metrificando meu desejo nesta roupa tão linda, 
Purificação dos meus sentimentos ao teu perfume, 
Surpresa do meu corpo em tua elegância, 
Tremor do meu mundo até as estrelas. 

Todo teu te farei feliz sendo minha, 
Sublime beleza de forma tão simples, 
Boca que desatina o meu juízo, 
Noturnal caminho dos meus olhos, 
Incrível sorte se aninha, 
Prova luxuriosa do meu destino. 

A tua beleza sustenta meus sonhos, 
Sorriso que me expressa ao expressar você, 
Sentidos de vários sentidos de um beijo, 
Leveza de almas ao nosso céu, 
Professa saudade de ausência ansiosa, 
Portentoso amor conquistado.

Perenidade



Naquele dia inesquecível, 
Colhi do teu jardim a flor do amor, 
Senti o perfume das pétalas cheias de orvalho, 
Deixei meus lábios repousarem gentilmente, 
Íntimo abrigo do meu ósculo embevecido, 
Acolhido ao desejo trêmulo dos teus laços. 

O teu colo poetizou-me em sua rima, 
Versejando aos meus ouvidos teus versos, 
Murmúrios rítmicos ao lóbulo ébrio de paixão, 
Condizente súplica ao solícito encanto, 
Música envolvente do teu ser, 
Afogueada fidelidade, glamoroso viço. 

Naquele inesquecível dia, 
Seduziu-me a felicidade jubilosa, 
Promessas finitas intérmina aliança, 
Inundando a alma de lealdade, 
Canção paradisíaca de dois seres, 
Formidável afeto ao afago sublime. 

Naquele dia, 
Naquele inesquecível dia, 
Soube que seria eterno o que sentia, 
Quando meus olhos deixou cair a última lágrima,
Estando de mãos dadas contigo em meu leito, 
O seu olhar não disse adeus, apenas até logo. 




Ambiguidade


Em algum lugar do deserto,
Erguem-se os olhos ao céu ,
Uma oração silenciosa fugidia,
Clamor de lágrimas fenecidas,
Sepultada na aridez da solidão,
Espalhado ao vento da miséria.

Naquela montanha sem vida,
Tombou o último dos heróis,
Defendendo seu lar dos invasores,
Assaltando suas riquezas sob o sol,
Regando a terra com o sangue dos bravos,
Com os corações cheio de ouro.

Cruzaram os oceanos a morte,
Riquezas de tons escarlate,
Levando em si a honra ultrajada,
Destruindo terras,
Jogando migalhas ao chão,
Para os cães sem alma.

Quantas nações desonrosas,
Prostituíram nossa liberdade,
Cravaram suas cruzes profanas,
Em solo sagrado dos proscritos,
Sangrando os ancestrais,
Na ambição desmedida dos homens.

De herança nos deixaram a pobreza,
Uma terra devastada chorosa,
Jardim de animais selvagens,
Vestidos de homens invisíveis,
Escárnio dos homens de lá,
Em suas missões de ódio.

Aqui no meu quarto,
Percebo que nada mudou,
Tantas colônias modernas,
Hasteando suas bandeiras de vento,
Seguindo padrões suicidas,
Repleto de escravos globalizados.

A porta se fecha a quem de direito,
Morrendo nos mares desonrados,
Agarrados em cercas vazias,
Abraçados a muros políticos,
Sem o direito de ter direito,
Na terra de quem os roubou.

Seguem todos ao abate,
Pelo trabalho forçado assalariado,
Adulando uma falsa liberdade,
Enchendo o cofre dos deuses,
Jogando dados com a vida,
Como se vida também não tivesse.

sirlânio Jorge Dias Gomes







Epítome


Lá estava eu e a poesia declamando estrelas,
Os versos voejavam iguais as borboletas,
Beijando a primavera seduzidas pelo perfume,
Grato cintilar de beleza majestosa,
Idílico céu desenhando pássaros,
Imagem dos meus pensamentos.

O tempo é uma cotovia que me encanta,
Igual a ela faço meu ninho no chão,
Esperança da eternidade do corpo a murchar,
Brincando com o relógio matreiro,
Rodopiando a alma encabulada,
Jogando amarelinha distraída.

Peguei a mão do vento feito menino,
Subi correndo a montanha do destino,
E quando lá cheguei extenuado,
Sentei-me ,espreguiçando-me na beleza;
Magnífica paisagem se abriu aos meus olhos,
Sorri agradecido de felicidade.

Lá de cima pude ver a pequenez do mundo,
Cumprimentando a grandeza do meu espírito,
Borbulhando pedras pelo ar feito nuvens,
Brincando com o sentido das coisas,
Acenando a inocência tocando o infinito,
Saltitando entre os astros multicores.

Afinal o que é a vida?
Senão um livro de páginas simétricas!?
Aqui imerso e nem percebi a alvorada,
Vou me despedindo em meus versos brancos,
Pintando meus sonhos na ponta do meu nariz,
Direção do meu olhar alquebrado de sono.


Ressurgência


Desconhecia a saudade até você partir, 
Deixando atrás de si a dor do amor, 
Este inflamado desejo do teu beijo, 
Do teu corpo claustro da minha solidão, 
Procurando insistentemente teus lábios, 
Na memória, beleza da nossa intensidade. 

O teu perfume é a brisa que abrasa, 
Um sorriso irônico da tristeza penalizada, 
Ardor em meus olhos plangentes, 
Abraçando a tua imagem no espaço-tempo, 
Delicadeza ao meu despojado coração, 
Adormecido na estrada perdida da vaidade. 

Meu olhar juntou-se a chuva, 
Ansiosa esperança que assim te toque, 
Ambiciosa criação da minha ilusão, 
A buscar teu corpo além da serenidade, 
Universo mágico da utopia em meu peito, 
Guardião do teu calor nele acalentado. 

Tantas estações vivemos juntos, 
Restou-me a aridez da despedida, 
A última semente luta para sobreviver, 
Neste solo castigado sem a tua presença, 
Contemplando a morte inevitável em mim, 
De tudo que aqui ficou do teu encanto. 

Conheci, amei e deixei ir talvez sem querer, 
Deixarei em cada passo um pouco de ti, 
No final do caminho já com a alma lavada, 
Permitirei que alguém me ame, 
Cortejarei a felicidade a cada descoberta, 
Sutil vivacidade do recomeço. 

Epistêmico


A imperfeição é o lado bom desta vida,
Nas feições multicoloridas da alma,
Ilustrando o mundo em suas interpretações,
Chuvas de emoções de poetas anônimos,
Cantando no silêncio de si mesmos,
Os sentimentos invisíveis de ser humano.

Quantos rastros se perderam no caminho,
Sangrando abraçado aos seus sonhos,
Gritando o nome do sonhador emudecido,
Ao esquecimento do mundo em desalinho,
Na esperança que o universo imprima,
A grandeza de um bem interrompido.

O mar guarda os seus tesouros,
Joias seculares coros de inocentes,
Lançados aos oceano sem piedade,
Longe do berço dos seus ancestrais,
Junto a tantos que nele adormeceram,
No profundo cemitério das águas.

A terra se abre colhendo os seus filhos,
Irmãos profanando o próprio sangue,
Guerra de vaidades insanas esbraseadas,
Alimentado os cães famintos do coração,
Perdidos na escassez do amor,
Profanando a morte natural das coisas.

A imperfeição é o lado bom desta vida,
Espantosa deformidade da liberdade,
A esquartejar o livre arbítrio mutilado,
Atormentado pelo viés da violência,
Pacto malfazejo de demônios humanos,
A saquear a grandeza da afeição. 






Fundamento


Aqui em cima desta pedra,
Posso ver a copa das árvores feito um véu,
Vê-las se misturarem com as nuvens,
Magnífica pureza sob um olhar singular,
Entre os perigos guardados no silêncio,
Perfumado pelas flores desconhecidas.
Virtuosa beleza aflora entre as folhas,
Gratidão perene das criaturas,
Entonando seus mantras extasiantes,
Adorando a vida em seus pormenores,
Em cada canto da selvagem fortaleza,
Riqueza de números infinitos.
Uma imensidão de cores,
Colorindo o horizonte junto ao sol,
Prateando a terra a luz do luar,
Cintilando os tesouros da terra,
Primitivo tabernáculo de sabedoria,
Esperando que o homem o redescubra.

Sirlânio Jorge Dias Gomes

Loucura


Tantas poesias de amor, 
Ousadamente tento expressá-lo, 
Na vastidão de pensamentos, 
Intenções, gestos e gostos, 
Identidade de amores confessos. 

Olhares apaixonados são cartas de amor, 
Abraço invisível do desejo namorado, 
Ao tato do primeiro encontro, 
A luz da lua de uma noite perfeita, 
Ou do escaldante sol do meio-dia. 

Quem sabe na correria pausa do destino, 
Encontros afeitos de sonhos 
Talvez sob uma música, 
Alguma coisa sem sentido, 
Peripécias do anjo cupido, 
Flechando corações despercebidos. 

Muitas palavras num simples olhar, 
Aqui e ali majestosa emoção silenciosa, 
Fazendo o corpo tremer baixinho, 
Suave voragem perda do tino, 
Canção dos lábios ao precioso destino, 
Pérolas da razão e loucura. 

Tanto canta o amor em versos, 
Os poetas e os flibusteiros, 
Trovadores em seus trajes modernos, 
Em seus cavalos de ferro, 
Audazes amantes intrépidos, 
A garimpar ouro de tolo. 

São tantos amores desafetos, 
Que o amor chora lá fora, 
Entre paredes silenciosas, 
Flertando com a morte, 
Aos prantos pelo amargo fruto, 
Banquete dos desalmados.

Sirlãnio Jorge Dias Gomes






Deslealdade


Tantas vezes gritei teu nome por amor,
Desejando que ouvisse meu interior ferido,
Triste pela falta da atenção perdida,
Engolida pelo monstro da vaidade,
A esmagar meu carente coração,
Do primeiro olhar que se foi.

Nada entendia da vida vazia torturante,
Sangrei pela dor do menosprezo,
Um objeto cheio de repulsa,
Um dia chamado de meu amor,
No calor das emoções agora covardia,
A quem te deu a fidelidade por amiga.

Golpeou não só o corpo já cansado,
Mas também a alma suprimida,
Olhando o descaso levar embora a felicidade,
Esta nobre donzela escravizada,
Pelo horror da traição doída,
Arrancando pelos poros tantos sentimentos.

Seguirei por esta estrada tempestuosa,
Firme aos propósitos do triunfo,
Levando comigo os tesouros inseparáveis,
Boas e más lembranças do meu destino,
Esta semente lançada ao olho do furacão,
Pronta a germinar no lugar fértil do recomeço.

Finalidade


Há tanto barulho lá fora,
Meus ouvidos tremem,
Minh'alma chora,
Pés moucos vacilantes,
Pegadas cegas proferidas,
Labirintos escorregadios.

Acende o amor candeia silente,
Arquétipo coração aflora,
Enleios afetuosos pulsantes,
Transitando entre as emoções,
Feito um papel em branco,
Nas mãos do poeta.

Talvez mais tarde,
Quem sabe agora,
Eis a confissão,
Premissa dos lábios,
Velados sentimentos contidos,
Tácita afeição sussurrada.

Foi sem querer ir,
Voltou sem ter partido,
Ficou por ter ido,
Ousou simplesmente,
Ser o que é,
Murmurando amenidades.

Os olhos se exaltam,
Acariciando os pensamentos,
Ondas no mar do eu,
Modelando infinitamente,
Sonhos e medos,
Proposições do espírito.

Sirlânio Jorge Dias Gomes












Tenebrosidade


Meu corpo se confunde a nesga noite, 
Intensa solidão furor que me fere, 
Lúrida imagem que me exprimi, 
Ali na minha cela fria sepulcral, 
Imaginando a fímbria luz do paraíso, 
Enquanto os monstros da escuridão, 
Afugenta minh'alma dolorida, 
Vociferando ao meu eu perdido. 

O pesadelo sombreou minha face, 
Quando meu rosto ali adormecido, 
Vislumbrava o serafim de asas negras, 
Abrindo suas asas de fogo ao meu espanto, 
As correntes queimavam meu pulso, 
Eu me via sentado diante da minha loucura,
Preso aos meus medos mortais, 
Visionando a luz da liberdade. 

A imensidão do nada sussurrava meu nome, 
Alucinação da despedida ofegante, 
Sepultando meu irônico riso, 
Pranteado em lágrimas de sangue, 
Ao silêncio dos silêncios toque da morte, 
Cobrindo-me com seu lúgubre véu, 
Inclemente destino ao fim aguardado, 
Levando ao suplício o espírito nefasto. 

Vou flutuando entre as sombras, 
Sentindo o cheiro da podre humanidade, 
Desfeita em névoas da inexistência, 
Vendo as criaturas maquiavélicas, 
Delirando-se na escura energia dos boçais, 
Enlouquecidos em suas violadas ilusões, 
Arrastados ao mais profundo nada, 
Estendendo suas mãos etéreas ao inconcebível. 

Sirlânio Jorge Dias Gomes





Desdém


De repente... 
Levantei-me da cadeira, 
Inúmeros pensamentos aos olhos, 
Olhei pela janela da tarde ensolarada, 
Para muitos apenas um dia comum, 
Sem que o mundo pare para te ouvir. 

Após alguns instantes, 
Suspirei bem fundo, 
Um copo com água tragou minha sede, 
Figura sedenta do meu ser, 
Delineando entre a razão e a loucura, 
Flertando com a noite morosa. 

A tarde castigava a minha solidão, 
Açoitando-me com a cruel ausência, 
Daquela que um dia ousei chamar de amor, 
Que tampouco se importou em partir, 
Equívoco da vida em trágica epopeia, 
Gritando aos meus ouvidos ensanguentados. 

De repente, 
Nada fazia sentindo entre as horas, 
A fidelidade não foi suficiente, 
A ilusão estrada da tristeza, 
Enriqueceu-a com o ouro de tolo, 
Deslumbre tardio da falsa liberdade. 

Fui o que pude, 
Destreza do verdadeiro amor, 
Levando o que não me pertencia, 
Amanhã quem sabe estarei mais forte, 
Compreenda que as flores murcham, 
Mas a primavera tudo renova. 

Sirlânio Jorge Dias Gomes

Imprescindível


Há tantos poemas de amor, 
Que o amor enamorou-se, 
Há amor entre as estações, 
Sensações da alma em si, 
Declamando sentimentos, 
Expressões magníficas, 
Seduzindo os frágeis corações, 
Incapazes de se defender. 

Há amor para todos os lados, 
Todos os gostos e jeitos, 
Perfeitos imperfeitos trajes, 
Olhares infundidos de esperança, 
Revelando suas obras indubitáveis, 
Ao pleno destino enredado, 
Cantado sob os séculos, 
Modelando as emoções transitórias. 

Há um poeta para cada tipo de amor, 
E uma poetisa para cada amor de um poeta, 
Musa inconteste de inspirações infindáveis, 
Perfumando o infinito de palavras, 
Traduzindo o invisível em seus aromas, 
Absorvendo da natureza seus dilemas, 
Controversa roda da caótica suavidade, 
Em suas aparências dissimuladas. 

Há no mundo lágrimas de todos os tipos, 
Desabafos de todos os modos, 
Sepultados na memória de seus pares, 
Candelabros com suas luzes embaciadas, 
Caixas de segredos silenciosos, 
Conduzindo seus escravos cadenciados, 
A trocar afeições pelo caminho, 
Enquanto o tempo segue benevolente. 

Sirlânio Jorge Dias Gomes

Jornada


Quando eu estiver dormindo,
Quero sentar no topo da lua,
Ficar lá como quem não quer nada,
Mas quer todas as coisas do mundo,
Mesmo que seja apenas de faz de conta.

Quando eu estiver sonhando,
Vou brincar de ser poeta,
Plantarei jardim de versos nos planetas,
Sairei correndo no rabo de um cometa,
Até a constelação mais próxima.

Quando eu acordar vou falar com as nuvens,
Pedi-las que guardem meu segredo,
Ser um astronauta não é fácil,
Ainda mais bêbado de ilusões,
Olhando lá de cima o mundo sem rimas.

Sirlânio Jorge Dias Gomes



Naturalidade


Há tanto entre nós, 
O olhar, desejos e sorrisos, 
Prelúdios exoráveis de ternura, 
Cantando aos nossos ouvidos, 
Música suave em nossas intenções, 
Singelas expressões de amor, 
Catalogando nossos sentidos. 

Há tanto sob nossa loucura, 
Felicidade gravada no tempo, 
Digitais da entrega embevecida, 
Feito asas sobrevoando o infinito, 
Desafiando os perigos da jornada, 
Libido de entonações adoradas, 
Beijando a beleza em teus poros. 

Fecho os olhos seguindo-te, 
Me jogo em teus braços sem medo, 
A escuridão da noite não me assusta, 
Apenas me fascina quando me tocas, 
Sigo o som da tua voz embriagante, 
Plena rendição nueza do meu querer, 
Prostrado diante de tua luxúria. 

Há tanto sob as palavras, 
Caindo sobre a folha branca imaginaria, 
Gotas de ilusões feito tinta, 
Escrevendo tudo que aqui não cabe, 
Mas que está lá de forma poética, 
Delirando seus versos brancos, 
Voz silenciosa da minha muda timidez. 

Sirlânio Jorge Dias gomes

Sofia


Não procure a lógica do amor,
Apenas ame o que tem de ser amado,
Esteja onde precisa estar,
A estrada é uma incógnita,
O ontem jamais voltará,
O olhar de segundos atrás,
Não é o mesmo de agora.

Beije,abraçe e viva,
Admire o melhor pôr do sol,
Sorrindo sem medo do riso,
Dos dias imprecisos da tua vida,
Esta passagem sem hora marcada,
De embarque incerto,
Simplesmente a tua espera.

Sonhos são mutáveis,
Fiel a essência que os criam,
Flertando com os pensamentos,
Além daquilo que pode dar certo,
Experiência a ser vivida,
No quintal de tua sobrevivência,
Sob os vendavais de tuas escolhas.

Quem poderá te julgar?
Ninguém é dono do teu juízo,
Mas voe com segurança,
Pise sobre a rocha firme,
Movediça é a areia do teu erro,
Que pode te imergir para sempre,
Lançando-te na escuridão.

Seja você diante do espelho,
Não queira ver dois eus,
Debatendo-se por liberdade,
Sangrando de modo invisível,
Cheios de espinhos da soberba,
Bebendo o próprio veneno,
Num dúplice labirinto.

Siga sem prender-se ao desnecessário,
O necessário não lhe aprisiona,
Mas te dá escolhas para continuar,
Dando-lhe a oportunidade de ser justo,
Sem fechar portas que não lhe cabe,
Abrindo-lhe os olhos ao verdadeiro,
Permitindo que simplesmente viva.


Sirlânio Jorge Dias Gomes

Autenticidade


Busco em mim o que está em ti, 
Acolho teus ouvidos atentos ao meu discurso, 
Beleza de dois sorrisos entreolhando-se, 
Enquanto nossos desejos dançam, 
Folheando as páginas de nossas almas, 
Na brisa leve antes da furiosa tempestade. 

Meus pensamentos confidenciam o teu beijo, 
Ondas em meu mar de amor, 
Esculpindo-te em meu coração, 
Ao som do vento da mutualidade, 
Música natural de tons sussurrantes, 
A conjugar nossas líricas flexões. 

Retenha a paixão nossas loucuras, 
Cante a madrugada nossas aventuras, 
Aurora benfazeja que nos revela, 
Madrigal sob a luz da felicidade, 
Encanto cortês da poética existência, 
Nupcia atemporal, espelho da eternidade.