Lamento por essa onda
que vai morrendo
devagar
por entre outras ondas do mesmo mar
Lamento que de depois da vida
a vida agora toda ela
se escoa numa onda
rasgando minhas maresias
quando tombo todo eu
a teu estibordo
e de mansinho me banhes
com estrondos e silêncios
meu ávido rebordo
Lamento que destas margens
apaixonadas
a noite dure somente uma simples
hora, espantada
sôfrega
entre qualquer perênteses
que deixei escrito
nos dias repletos de tédio
em noites palmilhadas longamente
neste degredo cismado
onde de assédios teus
me farto num beijo
tantas vezes multiplicado
Lamento
se hoje nem asas tenho mais
que me ensinem de novo a voar
Que a lonjura dos meus dias
de ti se dispa toda em ondas
frenéticas
e somente fique entre nós
a vestimenta deste poema
recostado entre dois amantes
fiéis em servidão
feitos assim numa obra prima
em plena exaltação
Frederico de Castro