Pedro Cardoso

Poeta e jornalista. Frequentou o Seminário-Liceu de S. Nicolau, orientado por franciscanos, tal como aconteceu a muitos dos seus mais conhecidos contemporâneos. Foi funcionário aduaneiro e depois professor primário. Colaborou em vários jornais da época, sobretudo nos do arquipélago de que era nativo, e chegou mesmo a fundar um jornal, de que era o proprietário: Manduco. Assinou, não raro, alguma da sua colaboração jornalística com o pseudónimo de Afro, como aconteceu com as crónicas semanais que assinou, desde 1911, no jornal A Voz de Cabo Verde. Esse seu amor à África, que o autor deixou ainda expresso num poema como Ode à África, feito por ocasião do Congresso Pan-Africano de Bruxelas e Paris, em 1921, levou alguns a querer ver nele um precursor da corrente poética independentista das poesias africanas de expressão portuguesa e onde se inseria, para além dele o são-tomense Marcelo Veiga. Contudo, e pese embora a lúcida valorização que fez do crioulo, bem como a sua identificação com aquilo que mais lhe parecia genuíno na sua terra, Pedro Cardoso é um autor largamente marcado pela formação clássica, formação esta feita sobretudo em contacto com a larga e ampla erudição latina do Seminário de S. Nicolau. Integrado numa geração que não conhecia ainda os ímpetos renovadores do modernismo, modernismo este que só havia de aparecer no arquipélago com a revista Claridade em 1936, Pedro Cardoso haveria mesmo de sofrer da parte dos mais novos uma certa incompreensão, que se concretizou na polémica esboçada em 1934 no jornal O Eco de Cabo Verde a propósito da publicação nesse ano do livro de Pedro Cardoso Sonetos e Redondilhas. No prefácio desse seu livro, o autor combatia as veleidades do modernismo e dizia-se defensor de um certo ideal clássico em arte, o que levou Quirino Spencer de Salomão a socorrer-se, em réplica, da mais moderna poesia de então. Não se pense, contudo, que a sua poesia seja de um classicismo desfasado ou anacrónico, do tipo da que, mais tarde, José Osório de Oliveira haveria de menosprezar, já que ele e a sua geração, onde se contam homens como José Lopes ou Eugénio Tavares, foram os primeiros a olhar com interesse e devoção os valores mais genuínos de Cabo Verde. Pedro Cardoso chegou mesmo a escrever poesia em língua crioula, facto na altura inédito e que lhe dá, ao lado de Eugénio Tavares, um papel de indiscutivel relevo.