Já que me sinto muito digna
de me assentar à tua mesa,
não quero migalhas, não,
eu quero o pão inteiro.
Tu e eu, massa e fermento
em ávido silêncio:
casca e miolo,
o bolo
e o seu recheio
Vem.
Estende os lençóis sobre esta
mesa
com cheiro de suor e de
alfazema.
E vamos trabalhar a noite
e o seu levedo
com as mãos,
a boca,
o corpo aceso,
para que a aurora nos en-
tregue,
ainda quentes,
as últimas fatias de amor
amanhecente
com gosto de café, de leite
e de manteiga.
Poema integrante da série Oficina Passionária.
In: LAURITO, Ilka Brunhilde. Canteiro de obras. São Paulo: Edicon: J. Scortecci, 1985. (Aldebarã)