Raimundo Correia

Raimundo Correia
Raymundo da Motta de Azevedo Corrêa foi um juiz e poeta brasileiro.
Parnasianismo
Nasceu a 13 Maio 1859 (Barra da Magunça, Maranhão, Brasil)
Morreu em 13 Setembro 1911 (Paris, França)
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Conselhos

Vogar mais não vale a pena,
Amarra o barco a esta bóia;
Não traves por outra Helena
Segunda guerra de Tróia.

Ouve um conselho de amigo:
Deixa de muito escolher;
Eu das mulheres só digo
O que ouço a todos dizer.

Dizem de Cora que, quando
Entra nos bailes, namora,
Valsa demais, e, valsando
A perna mostra, e... não cora;

Nem por ver, dessa maneira,
Que a perna que mostra, em vão,
Não é de osso e carne inteira,
Mas metade de... algodão.

De Pacífica, que à-toa
Sem razão se assanha e briga;
E de Modesta (perdoa)!
Que traz o rei na barriga...

Prudência — em nada é cordata;
Benigna — maus modos tem;
E ao noivo de Fortunata
A sorte grande não vem.

Os papalvos certos ficam
De que não são, nem metade
Do que seus nomes indicam,
Severa e Felicidade:

Aquela — vale um pagode;
E desta outra o vulgo diz,
Que é feliz, como se pode
Na desgraça ser feliz;

Plácida — é plácida e mansa,
Como onça ou como leoa;
E é, bem sabes, Esperança
O desespero em pessoa.

Inocência — de pecados
Está cheia, como vês;
Diferentes namorados
Tem Constância, em cada mês;

Muito avara é — Generosa;
Angélica — é muito ingrata;
E até, com língua maldosa,
Dizem que Branca é... mulata.

Rosa é bela? Embora o seja,
(Se nos espinhos não for)
Semelhante, há lá quem veja,
Mulher-rosa à rosa-flor?!

E pois, que inda em tempo chego
Com meus conselhos: — se queres
Ter na vida mais sossego,
Deixa em sossego as mulheres.

Ao pé da letra as não tomes,
Porque as mulheres estão,
Até com seus próprios nomes,
Em viva... contradição.


Poema integrante da série Poesias Avulsas.

In: CORREIA, Raimundo. Poesias completas. Org. pref. e notas Múcio Leão. São Paulo: Ed. Nacional, 1948. v.2, p.335-337