Quando à noite no baile esplendoroso
Vais na onda da valsa arrebatada
Com a serena fronte reclinada
Sobre o peito feliz do par ditoso...
Mal sabes tu que existe um desditoso
Faminto de te ver, oh minha amada!
E que sente a sua alma angustiada
Longe da luz do teu olhar piedoso.
Mas quando a roxa aurora vem nascendo,
E a cotovia acorda o laranjal,
E os astros vão de todo esmorecendo;
Eu cuido ver-te, oh lírio divinal,
As minhas cartas ávida relendo
Seminua no leito virginal.
1869
Publicado no livro Miniaturas (1871).
In: CRESPO, Gonçalves. Obras completas. Pref. Afrânio Peixoto. Rio de Janeiro: Livros de Portugal, 194