escrevo-te a sentir tudo isto e num instante de maior lucidez poderia ser o rio as cabras escondendo o delicado tilintar dos guizos nos sais de prata da fotografia poderia erguer-me como o castanheiro dos contos sussurrados junto ao fogo e deambular trémulo com as aves ou acompanhar a sulfúrica borboleta revelando-se na saliva dos lábios poderia imitar aquele pastor ou confundir-me com o sonho de cidade que a pouco e pouco morde a sua imobilidade
habito neste país de água por engano são-me necessárias imagens radiografias de ossos rostos desfocados mãos sobre corpos impressos no papel e nos espelhos repara nada mais possuo a não ser este recado que hoje segue manchado de finos bagos de romã repara como o coração de papel amareleceu no esquecimento de te amar