chegaram as máquinas para talhar a cidade que vem das águas cresce a obra do homem, ouve-se um lento grito d'espuma e suor na memória ficaram os sinais dos bosques ceifados, as dunas desfeitas e algumas casas abandonadas estenderam-se tubos prateados, onde escorre o negro líquido levantaram-se imensas chaminés, serpenteiam auto-estradas na paisagem irreconhecível do teu rosto
onde estarão as tâmaras maduras de tuas palmeiras? e o perfume intenso das flores debruçando-se ao sol ? que murmúrios terão as pedras do teu silêncio?
a memória é hoje uma ferida onde lateja a Pedra do Homem, hirta como uma sombra num sonho e as aves? frágeis quando aperta a tempestade...migraram como eu? aonde caminhas, doce Moura Encantada?
oiço o ciciar dos canaviais do sono, adivinho teu caminhar de beijos no rumor das águas tuas mãos de neve recolhem conchas, estrelas secretas, luas incendiadas...que o mar esconde na respiração das marés
estremecem-se nas mãos os insectos cortantes do medo, em meu peito doído ergue-se esta raiva dos mares-de-leva