Encontrei o segredo, a chave de vidro
das palavras que escrevo, e tenho medo.
Talvez nos campos imensos onde o lírio floresce,
na margem de rio que abriga, de manhã cedo,
os teus pés de ninfa, num engano de idade,
me tenhas visto à sombra de um rochedo,
e se os teus lábios, entreabertos num torpor
de romã, me tocaram num sonho bêbedo,
deles só lembro, imprecisos, fluxos
de incêndio numa hipótese de amor.
Nuno Júdice | "A partilha dos mitos", pág. 46 | Na Regra do Jogo, 1982