O menino que caiu da moldura do retrato
como quem tomba da varanda à rua
onde está?, em que lembrança sua
ou em que sepultura do passado,
sufocado, com a boca atafulhada ainda de sonhos?
O seu nome é agora menos um nome que uma doença rara
que te desfigurou a cara, uma doença sem nome e sem cura;
cabereis os dois na mesma sepultura?
Manuel António Pina | "Todas as palavras - poesia reunida 1974-2011", pág. 353 | Assírio & Alvim, 2012