Na treva a alma se oculta
enquanto dura a trégua.
Ao longe, na luz, inculta,
a borboleta vem. Cego-a.
Por dentro as sinto,
alma e borboleta,
o corpo de sangue tinto,
as mãos de tinta preta.
Escondida uma, venérea,
tonta a outra agoniza:
ó vida, cinza funérea
de poesia, de mim campa lisa.
Nuno Júdice | "A partilha dos mitos", pág. 55 | Na regra do jogo, 1982