Faz rodar o pião redondo tudo em volta Atira a primavera e recupera o verão Terras e tempos tudo assume esse pião que rodopia e rouba o chão à folha solta Joga tudo no gesto ríspido de vida Reergue o braço a prumo arrisca nessa roda riscada entre parede e tronco a infância toda Tudo é redondo e torna ao ponto de partida O sol a sombra a cal os pássaros os pés o adro a pedra o frio os plátanos... Quem és? Voltas? rodas? regressas? rodopias? nada Mão do breve pião levanta ao céu a enxada e que esta vida extensa para sempre seja - será? - tão bem coberta que nem Deus a veja
Ruy Belo | "Obra Poética de Ruy Belo" - Vol. 1, págs. 117 e 118| Editorial Presença Lda., 1984