Ontem e anteontem já passados arredondemos os olhos à volta daquela antiga realidade alfa ómega primeira e última que sempre diante na fronte trouxemos Circundemo-la de um colar de palavras sem pálpebras pobres pálidas de rosto roubadas às esquinas eivadas de arestas agrestes pontiagudas Percamos palavras como folhas perdem no Outono as árvores, varridos pelo contínuo apascentar de cuidados Já se vão areando as praias de amanhã desde ontem a morte morreu E vamos e banhemo-nos no mar que o anjo forte cúpula do tempo se sente vir anunciar e fechar
Ruy Belo | "Obra Poética de Ruy Belo" - Vol. 1, págs. 47 e 48 | Editorial Presença Lda., 1984