Nesta cidade aonde fomos jovens colhemos hoje na praça raios do último sol Qual criança que ousaria ainda nascer em nossos olhos? Entrar-nos-ia ainda hoje a rua em casa como quando eram possíveis todos os regressos? Extingue-se-nos já na boca a tarde Em que país ouvimos estes sons cair? Vai longe o tempo em que andávamos perto dos pássaros Prometiam os olhos futuras estrelas morriam-nos no rosto todos os poentes Agora só a noite virá estender um manto sobre a nossa agitação E a tua palavra há-de planar em nossa alma como qualquer folha de plátano na tarde Este céu passará e então teu riso descerá dos montes pelos rios até desaguar no nosso coração
Ruy Belo | "Obra Poética de Ruy Belo" - Vol. 1, págs. 53 e 54 | Editorial Presença Lda., 1984