Faz rodar o pião redondo tudo em volta Atira a primavera e recupera o verão Terras e tempos, tudo assume esse pião que rodopia e rouba o chão à folha solta
Rasga o espaço num gesto ríspido de vida reergue o braço a prumo, arrisca - nessa roda possível da maçã ao muro - a infância toda Tudo é redondo e torna ao ponto de partida
O sol a sombra a cal os pássaros os pés o adro a pedra o frio os plátanos... Quem és? Voltas? rodas? regressas? rodopias? - Nada
Mão do breve pião, levanta ao céu a enxada: coisa coberta pelo chão de alguma igreja talvez nem mesmo Deus passando a veja
Ruy Belo | "Obra Poética de Ruy Belo" - Vol. 1, págs. 120 e 121 | Editorial Presença Lda., 1984