Quando mergulhaste na água Não sentiste como é fria Como é fria assim na noite Como é fria, como é fria? E ao teu medo que por certo Te acordou da nostalgia (Essa incrível nostalgia Dos que vivem no deserto...) Que te disse a Poesia?
Que te disse a Poesia Quando Vênus que luzia No céu tão perto (tão longe Da tua melancolia...) Brilhou na tua agonia De moribundo desperto?
Que te disse a Poesia Sobre o líquido deserto Ante o mar boquiaberto Incerto se te engolia Ou ao navio a rumo certo Que na noite se escondia?
Temeste a morte, poeta? Temeste a escarpa sombria Que sob a tua agonia Descia sem rumo certo? Como sentiste o deserto O deserto absoluto O oceano absoluto Imenso, sozinho, aberto?
Que te falou o Universo O infinito a descoberto? Que te disse o amor incerto Das ondas na ventania? Que frouxos de zombaria Não ouviste, ainda desperto Às estrelas que por certo Cochichavam luz macia?
Sentiste angústia, poeta Ou um espasmo de alegria Ao sentires que bulia Um peixe nadando perto? A tua carne não fremia À idéia da dança inerte Que teu corpo dançaria No pélago submerso?
Dançaste muito, poeta Entre os véus da água sombria Coberto pela redoma Da grande noite vazia? Que coisas viste, poeta?
De que segredos soubeste Suspenso na crista agreste Do imenso abismo sem meta?