Tal como anjos em decúbito A conversar com o céu baixinho Existem cerca de cem túmulos Num lindo cemiteriozinho Que eu, a passeio, descobri Um dia em Sidi Bou Said.
Mal defendidos por uns muros Erguidos ao sabor da morte Eu nunca vi mortos tão puros Mortos assim com tanta sorte As lajes de cal como túnicas Brancas, e árabes; não púnicas.
Sim, porque cemiteriozinho Nunca se viu assim tão árabe Feito o beduíno que é sozinho Ante o deserto que lhe cabe E mudo em face do horizonte Sem uma sombra que o confronte.
Pequenos paralelepípedos Fendidos uns, conforme o sexo Eis suas lápides: antípodas Das que se vêem num cemitério De gente do nosso pigmento: Os nossos mortos de cimento.
Quem se deixar de tarde ali Isento de mágoa ou conflito A olhar o mar (sem Valéry!) Como um espelho de infinito E o céu como um anti-recôncavo: Como o convexo de um côncavo
Acabará (comigo deu-se!) Ouvindo os mortos cochicharem Alegremente, eles e Deus Mas não o nosso: o Deus dos árabes Que não fez Sidi Bou Said Para os prazeres de André Gide
Mas sim porque a vida segue E o tempo pára, e a morte é um canto Porque morrer é coisa alegre Para quem vive e sofre tanto Como no cemiteriozinho, ali Ao céu de Sidi Bou Said.
Sidi Bou Said, outubro de 1963 Florença, novembro de 1963