Era uma tal obstinação a de meu amigo Rupertino que dedicou seu desinteresse a empresas sempre inúteis: explorou reinos explorados, fabricou milhões de buracos, abriu um clube de viúvas heróicas e vendia fumaça engarrafada.
Eu desde criança me fiz de Sancho contra meu sócio quixotesco: argumentei com força e prudência como uma tia protetora quando quis plantar laranjeiras nos tetos de Notre Dame. Logo, cansado de aturá-lo, eu o deixei em nova indústria: “Bote Ataúde”, “Lancha Sarcófago” para presuntos suicidas. Minha paciência não aguentou e abandonei sua vizinhança.
Quando meu amigo foi eleito Presidente de Costaragua me nomeou Generalissimo, a cargo de seu território: era sua ordem invadir as monarquias cafeeiras regidas por reis furiosos que ameaçavam sua existência.
Por fraqueza de caráter e amizade antiga e pueril aceitei aquele comando e com quarenta involuntários avancei sobre as fronteiras.
Ninguém sabe o que é morder o pó da derrota: entre Marfil e Costaragua derreteram de calor meus aguerridos combatentes e eu fiquei só, cercado por cinquenta reis raivosos.
Voltei arrependido das guerras, sem título de General. Busquei meu amigo quixoteiro: ninguém sabia onde estava.
Logo o encontrei no Canadá vendendo penas de pinguim (ave implume por excelência, o que não tinha importância para meu compadre obstinado).
No dia em que menos se espere pode aparecer em sua casa: acredite em tudo o que conta porque depois de tudo é ele o que sempre teve razão.