escrevo barco e uma quilha fende o vastíssimo mar e as árvores crescem dos espaços enevoados entre olhar e olhar movem-se animais presos à terra com suas plumagens de ferro e de orvalho de ouro quando a lua se eclipsa comunicando-lhes o cio e a nómada alegria de viver
penso outono ou inverno e o lume resinoso dos pinhais escorre sobre o rosto sobre o corpo em tímidos gestos eis o tempo do capricórnio reduzido ao esconderijo tatuado na asa mineral da ave em pleno vôo e digo nuvens relâmpago erva águas homem movimento do susto oceanos sal exaustos corpos transumantes paixões digo e surge irrompe escorre ergue-se move-se vive morre mas não julguem ser trabalho simples nomear arrumar e desordenar o mundo
para que não se apague esta trémula escrita preciso do sonho e do pesadelo da proximidade vertiginosa dos espelhos e de pernoitar no fundo de mim com as mãos sujas pelo árduo trabalho de construir os gestos exactos da alegria que por descuido deus abandonou ao cansaço no fim do sétimo dia