Censuro-me ante a fluidez espantosa do tempo e a sabedoria absoluta dos homens. Tudo tão pronto, veloz, mecânico e inútil que tenho saudades da vagarosa e imperfeita infância com suas tardes ensolaradas, a magia dos rios, a beleza da luz da lua, o deslumbramento com os primeiros sons dos pássaros, a alegria da chuva em meu rosto, o encantamento diante da simplicidade ainda insólita da vida. Eu nada tinha, mas era tão rico e feliz como o êxtase da bola a dançar entre nossos pequeninos pés desnudos e roxos de terra. Não havia teses, filosofias, doutrinas, e as leis o pai que fazia com exemplos de retidão. As pessoas eram iguais e não me lembro de banquetes de lixo, nem de crianças com fome dormindo no chão. Conhecia apenas o amor incondicional e o sorriso da mãe ao beijar-me enquanto abrigava-me em seu colo. O mundo ainda não me doía. Ignorava a gramática absurda das coisas e a arrogância das pretensões humanas, e se ainda resisto à mediocridade das horas adultas é porque sobrevive em meu peito a poesia e as etéreas memórias do menino que um dia habitou em mim...
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