Carol Ortiz

Carol Ortiz

18 setembro Campinas, SP
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Alguns Poemas

MEMÓRIAS

Sã Paulo, 7 de maio de 1980

                                             Querido Rodrigo,
       A viagem foi bem. Um pouco cansativa, mas bem.
       Essa primeira semana foi empolgante. Após tantos anos, mudei a rotina. Nem acredito que passei tanto tempo de minha vida fazendo a mesma coisa.
       Você foi um amor em me mandar para cá.
       Embora sinta saudade de todos, estou muito bem aqui.
       Minha rotina ainda não está definida. Estou um pouco perdida, mas espero logo me acostumar.
       A única coisa que me incomoda é a falta do meu filho. Diga-lhe que o amo muito e logo irei revê-lo.
       Mando-lhe um abraço e agradeço mais uma vez.
          

                                                             Carinhosamente,
                                                                        Luísa

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São Paulo, 10 de abril de 1981.

                                           Querido Rodrigo,
          Faz quase um ano que aqui estou e sinto falta de você.
          À noite, quando a insônia vem, fico me lembrando de quando o conheci. Você veio se sentar à minha mesa e deixou meu ex-noivo exasperado! Queria tanto conversar mais com você naquele momento! Mas, enfim, tive que partir.
           No dia seguinte você me ligou e saimos: fomos ver borboletas. Deixei o Roberto imediatamente!
           Éramos tão felizes!
           Lembra-se do nosso primeiro beijo? Eu estava morrendo de medo. Foi tão engraçado!
           Um ano depois estávamos casados e dois anos após nascia nosso filho. Ele era tão lindo! Parecia tanto você!
           À propósito, como ele está? Sinto sua falta.
           Você foi muito generoso em me mandar para cá. Sei que precisava descansar e eu ando tão esquecida!
           Cuide bem do nosso garoto

                                                                    Carinhosamente,
                                                                               Luísa

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São Paulo, 28 de junho de 1981.

                                         Querido Rodrigo,
            A rotina está cada vez mais difícil e vazia. Faz mais de um ano que estou aqui e ainda sonho com você. Quando você e nosso menino virão me visitar?
            É difícil conter as lágrimas enquanto escrevo. Ando tão esquecida ultimamente! Cuidam de mim, mas ninguém me responde quando peço para te chamarem.
            Espero que também sinta saudade e que esteja cuidando do nosso anjinho.


                                                                  Carinhosamente,
                                                                               Luísa

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São Paulo, 12 de agosto de 1981.

                                          Querido Rodrigo,
         Que falta você me faz!
          Não vejo a hora de encontrá-lo.
         Semana que vem será dia de visitas e, finalmente, vou te encontrar.
         Estou ansiosa. Tão ansiosa como aquelas tardes em que corríamos até o riacho para molharmos os pés e falarmos sobre banalidades. Ah, meu querido!
         Até lá.


                                                                     Carinhosamente,
                                                                               Luísa

PS: diga ao nosso filho que o amo.


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               Aquele dia ela acordou cedo, tomou banho e se perfumou. Olhou no espelho e arrumou seus cabelos grisalhos tentando aparentar mais jovem. Vestiu-se. Estava usando seu melhor vestido. Calçou seus sapatinhos de crochê e juntou-se ao grupo, enquanto assoviava uma canção de Carlos Galhardo: "Eu sonhei que tu estavas tão linda..." Então, sentou-se para esperar.
               O dia estava começando e, aos poucos, o pátio ficou cheio de visitas.
               Ela estava lá, quieta e pensativa. Onde estaria ele? Por que o atraso? E seu filho?
               A tarde já chegava e ela ainda estava lá, parada, observando as crianças brincarem. Como lhe traziam lembranças do filho!
                Já estava escurecendo quando as pessoas começaram a se retirar. Ia fazer frio aquela noite. Estavam no outono.
                 A noite já estava alta quando uma enfermeira se aproximou daquela pobre e mirrada senhora:
                 "Vamos entrar, dona Luísa? Está muito frio aqui fora!"
                 Foi quando ela tirou de dentro do bolso do vestido as cartas que nunca foram enviadas e, entre elas, uma foto em branco e preto de uma jovem bonita, grávida, sorridente, ao lado de um rapaz.
                 Ficou olhando e lembrando de um tempo de imensa felicidade. Rodrigo era o marido que toda mulher deveria ter. Estavam tão felizes e apaixonados.
                 Um enfermeiro se aproximou:
                 "Está na hora de dormir."
                 Então ela foi, tristonha e quieta, deitar-se.
                 Do corredor vazio e comprido, ouvia-se conversa entre funcionários:
                 "Dona Luísa espera o marido e o filho todos anos. É triste. Ambos morreram em um acidente de carro."
                  "Nossa!"
                  Nisso, outro paciente chamou por elas. Então voltaaram à rotina e mais um dia se passou sem anormalidades naquela casa de repouso.


ANO: 1999



People say this story really happened in Boomtown

They had sex all night long.
So, at dawn, she left alone
“Take your money”- he said to humiliate
She slammed the door and cried.
There was no reason to live or die

Feeling hurt, heart was aching
Nobody could help her
Nobody was waiting
For another end
or another name
She couldn´t say it
She couldn´t blame

Then she went home and sat down at the same place
standing there, quiet, silent, thinking ...

“Positive! You´re gonna be mommy”
How can I endure all this?
Just another day in this matrix
I´ll have a baby among this trash
So dirty, a whore, a pustular body
A premature boy bawdy and shoddy

Then she went home and sat down at the same place
standing there, quiet, silent, thinking ...

Phone rang in the middle of night
A hoarse woman´s voice in this cast
“Another love? So fast!”

Ten years of illusion, threat and desperate
For nothing more than a baby
A filthy and stinky baby
And the pain of living in this darkness
She was definitely falling
In a hell, in a hole
Where the faces has no name
No life, no place

Then she went home and sat down at the same place
standing there, quiet, silent, thinking ...

No Money, no job, no ambition
She just wanted to survive, like an addiction
Her boy was nine and was always sick
A poor bastard named Nick
His wasted shoes and old yellow pants
Scary brown eyes and agony
He needed a soul transplant
To deal with the worst hypocrisy
No father, half mother, no hope, no charge
Nothing is easy, but always harder

Sweet mommy sees his lips
So shy in a fake smile
And then she decides
And startes walking
Under the sun, under the moon,
Over the moutains, around the cliffs
Laughing like a crazy
A bitch fucking crazy
Suddenly she stucks
And she sees him
In Boomtown , inside a big and fancy car
Surrounded by young and pretty ladies
Smelling like a thoroughbred
She didn´t cry, she didn’t think
She just looked in his eyes and shot
Shot, shot, shot
Silence!

Nobody said any word
Nobody did anything
He died
And now
She is the queen

Maybe this is true,
I really don´t know
some people say
Boomtown is a dystopian place
 

2020

DOCES SONHOS DE UMA GAROTINHA

Ela dormiu como há muito não fazia. Deitou-se levemente sobre as cobertas e encolheu-s num mundo só seu. Era tão bom ficar só e não precisar entender o mundo, sentir que tudo era seu e que nada lhe faltava. Era um vício.
         Fechou os olhos e sonhou. Como era bom, longe das gritarias e neuroses da vida, sentir um afago, um carinho, um vínculo que nunca antes existiu.
         Virou-se de lado. Estava entrando na zona proibida. Viu uma realidade que nunca tinha visto: pessoas lhe falavam coisas, um abraço apertado, uma imensidão de sentimentos bons preenchendo o vazio do dia a dia. Sentiu-se querida e superou seus medos. São tão egoístas as pessoas! Tudo bem, continuou sonhando.
         Agora entregava-se às sensações. Via-se distante de tudo o que sempre foi. Todo aquele sentimento de que estava sendo a mais, atrapalhando as outras existências, foi embora. Perdeu, por um instante, a mania de ferir-se. Perdeu o jeito de se machucar.
         Andou, de novo, por essa terra mágica e encontrou uma garotinha brincando, calada, sufocada pela mentira. Ficou distante, observando. Então sentou-se e pensou: será que estava sendo injusta em sentir tudo o que sentia? Seria ingratidão? Um medo a invadiu, medo de ir além. Era, no momento, uma traidora, insana.
        Uma lágrima percorreu seu rosto. Calou-se como era de costume. Tinha medo de magoar as pessoas. Então acordou e levantou-se,
         Tudo estava igual a antes: confusão, caos. Até quando iria continuar? Talvez até que a loucura ou o egoísmo absoluto chegasse.
         Teria solução?...Não, não pense besteiras, minha garotinha, não perca o único vínculo com a lucidez...
        Então saiu, aos saltos desnorteados, cantando uma canção.



1998
Nasci em Campinas, SP. Morei em muitos lugares e voltei para mesma cidade para envelhecer. Sou casada e mãe de cachorros e crianças que precisem de colo. Essas poesias foram escritas durante toda a minha vida e em épocas diferentes. Algumas foram publicadas em coletâneas e outras não. Para quem gosta e quer passar u tempo em contato com a literatura, boa leitura :)
Se quiserem se corresponder, e-mail: cacal.ortiz@hotmail.com (posso demorar para responder, mas sempre respondo). Acessem meu canal no youtube sobre livros:
 https://www.youtube.com/channel/UCOj_DssoWp0_1HO7VCXgRcA?view_as=subscriber
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diogoletriamoraes
Adoro suas poesias como adoro seus lábios, minha esposa amada.
19/fevereiro/2020

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