Helio Valim

Helio Valim

Alguém interessado em usar a poesia como uma crônica poética do cotidiano, com realismo e imaginação. Possuo mais de 30 anos no magistério superior tendo lecionado em Instituições de Ensino no Rio de Janeiro.

1959-10-03 Rio de Janeiro
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Alguns Poemas

O quadro (Miniconto)

Um quadro, o retrato de uma era, de um instante perdido, esquecido na memória de dedicado pintor, onde cada pincelada guarda delicadas emoções, sensações profundas, eternizadas sobre tela de refinado linho e, agora, envelhecido pelo tempo.

Preservada, em cores e tintas de outros tempos, a cena bucólica de um momento da rotina de bela e pacata comunidade. Um campo em plena primavera, colorido com as flores da estação, o sol se pondo entre as colinas no horizonte, envolto em nuvens cálidas. No plano principal um córrego correndo preguiçoso em seu leito rochoso.

Compondo com a paisagem, jovem casal trocando longas carícias, beijos e afagos, acentuados pelo carmim das tintas e pela intensidade dos traços. Desmedida paixão imortalizada em arte.

O tempo passou, o casal viveu o seu eterno amor, construiu sua vida em torno daquele lugar, viveu dias de alegrias e tristezas. A terra foi adquirida pela especulação e pela ganância exaurida e abandonada. Como parte de uma dívida foi incorporada à “massa falida”, por um banco.

A propriedade, além das terras, incluía um pequeno chalé, construído próximo ao córrego, agora abandonado, parte do cenário da bela paixão que perdurou por toda a vida daquele casal. Nele, além de móveis e lembranças, o quadro descansava, sobre a lareira, apesar de empoeirado, preservando a imagem daquele momento.

A propriedade foi a leilão, sendo arrematada em um lance vão. Então a incerteza pairou sobre o final dessa história de amor tão perene. O que aconteceria com o riacho, com a terra, com o chalé... O quadro... A história...

Um mês se passou... Um veículo atravessa a porteira. Descem duas pessoas... Os novos proprietários.
Uma nova história começa...

Os proprietários, um jovem casal de agrônomos, apaixonados, amantes da natureza, recuperam a propriedade: o solo usando insumos orgânicos, o córrego protegendo suas nascentes com vegetação nativa. Implantam métodos artesanais de irrigação e plantio, produzem e colhem sua primeira safra orgânica, que vendem à comunidade local.
Restauram o chalé e os móveis, onde passam a viver, inspirados pelo quadro dos eternos apaixonados.

Hoje, ao entardecer de qualquer primavera, os jovens proprietários podem ser vistos, trocando beijos apaixonados, observando o pôr do sol, entre as colinas distantes, embalados pela suave melodia, daquele córrego preguiçoso.

Paradoxo de Hermes (Miniconto)


Hermes (nome do Deus da mitologia grega que, entre outros atributos, era o “mensageiro”), jovem e inteligente, sem família ou amigos, não conseguia conter seus instintos, que permitiam o surgimento de seu lado obscuro, aflorando nas ruas da vida, no seu dia a dia em agonia.

Desorientado, desconectado do mundo real, armado pronto para tudo, vagava sem destino pelos becos da cidade. Precisando de dinheiro para seus vícios, buscava por uma  presa.

Ao passar por um beco percebeu a silhueta de um homem, bem vestido, aparentando possuir posses. Nesse momento, sem hesitar disparou a arma, atingindo-o. Percebendo que o senhor já não mais respirava, retirou seus pertences e fugiu.

Dias depois, foi capturado, julgado e condenado por latrocínio. Sendo primário e por estar drogado, fora da consciência, teve a pena reduzida, sendo encaminhado ao presídio.

No presídio, Hermes contou com ajuda e apoio adequado. Seu intelecto diferenciado é reconhecido, então ele consegue estudar e se forma em física. Ao término do cumprimento da sua pena, continuando os estudos, torna-se doutor em física quântica, especializando-se em dobras do espaço-tempo.

No futuro, mais velho, desenvolve um aparato que controla a antimatéria e permite observar o tempo passado. Aprimorando tal aparelho e consegue criar uma dobra no espaço-tempo e volta ao passado para avisar e impedir o crime que cometera e que tanto o atormentava.

Ao chegar naquele beco, nos minutos que antecederam ao momento fatídico, nota a chegada de seu “eu do passado”, mas antes que pudesse fazer algo é alvejado por ele.

Na iminência de morrer percebe que está preso no paradoxo, do mensageiro, que jamais conseguirá entregar a mensagem e interromper esse ciclo de eterno sofrer. Hermes intui, nesse momento, ser a fonte da sua salvação e, também, da sua perdição, mas jamais da sua paz.
Alguém interessado em usar a poesia como uma crônica poética do cotidiano, com realismo e imaginação. Possuo mais de 30 anos no magistério superior tendo lecionado em Instituições de Ensino no Rio de Janeiro. Sou mestre em Engenharia, pós-graduado em Metodologia do Ensino Superior e graduado em Engenharia Civil e Arquitetura.

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