Paulo Jorge

Paulo Jorge

A poesia fatalista e decadentista é um exemplo sublime da exaltação da morte em todo o seu esplendor, e desde sempre eu retiro satisfação pessoal deste saborear tétrico da vida.

1970-07-17 Lisboa
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Alguns Poemas

O Homem e o Mundo




A complexidade da consciência à mercê da imaginação humana, do sonho ao pesadelo, fomenta toda a dialéctica metafísica inerente ao ser humano como pessoa una e indivisível.
O mundo é visto e sentido consoante as consciências dos biliões de Homens que dele fazem parte, cada um interpreta-o à sua maneira reproduzindo um quadro único e irrepetível do Universo.
Assim sendo, o Universo como entidade única é simples apesar do seu caminho para o infinito.
O Homem apesar da sua natureza finita, transcende e extrapola em todas as variações cognitivas possíveis de interacção com o Mundo, centralizando em si mesmo a razão de existência do próprio Cosmos.
Partindo do princípio de que o caminho para a resolução de problemas é geralmente o mais lógico e simples, questiono a excessiva verborreia existencialista que faz parte da vida do homem ao longo do seu trajecto efémero.
Em que acredita piamente que a luz que carrega é eterna, com a singularidade de tentar antropomorfizar a própria alma divina em quem confia.
Está assim também a própria essência do espírito a ser moldada tal e qual o Mundo à imagem de cada ser humano e a espalhar-se exponencialmente na retórica implícita das religiões.
O Homem existencialista livre de corpo, mente e espírito devia dominar toda a panóplia de entendimentos intrapessoais, e cada qual também à sua maneira, ou de forma pacífica e sóbria, ou tempestiva e pretensiosa.
O homem nasceu do acaso e não o acaso foi criado para que o Homem irrompesse. A causa efeito está nitidamente invertida. O Homem é filho do caos.
O Homem cria as leis, as penas a cumprir, define o Bem e o Mal, e é Ele próprio o juiz no dia do julgamento final.


Lx, 16-4-2006

A Longa Caminhada




Unir-me-ei a todos vós um dia,
A brisa trouxe a pestilência,
Fétida e nauseabunda,
Aos meus sonhos de menino,
Arruinando a minha inocência,
Que trucidada nas trevas jaz.


Unir-me-ei a todos vós um dia,
O tempo reclama em voz alta,
Em gritos lancinantes de dor,
Pela carne outrora emprestada,
E doravante mil vezes reclamada,
Os seus uivos ecoam trespassantes.


Unir-me-ei a todos vós um dia,
Lacaios do destino atroz,
Proscritos à minha simpatia,
Na última e longa caminhada,
A grande marcha da liberdade,
A caminho do abismo inviável.


Unir-me-ei a todos vós um dia,
Na podridão dos corpos exauridos,
Acompanhando vossas mentes vis,
Perniciosas almas esquecidas,
Perdidas errantes no vácuo denso,
Hoje e para todo o sempre.


Unir-me-ei a todos vós um dia,
Tal como lampejos de luz saboreamos,
Ao longo dos laivos de consciência,
Verdadeiras encarnações do Cosmos,
Que se reconheceram ao espelho,
Nas nossas próprias imagens mortas,
No reflexo incoerente das nossas vidas.


Unir-me-ei a todos vós um dia,
A beleza extrema das percepções sentidas,
Sensorialmente embriagadas de esplendor,
Alquimistas da moral etilizada e petulante,
De ética bacoca e presunçosa,
Enforcados em mimetismos sem fim,
Expiramos cativos em tédios virulentos.


Unir-me-ei a todos vós um dia,
Corpos desalmados correrão nus,
Repetidos e iguais todos juntos,
Largaremos os grilhões no caminho,
Tombaremos levemente nas valas,
Caídos de espíritos amortalhados,
Virão todos ininterruptamente ali finar.


Unir-me-ei a todos vós um dia,
Resignados sem esperança no destino,
Na linha de montagem inimaginável,
Onde os sonhos se extinguirão,
Preteridos ao esquecimento eterno,
Somos todos peças prescindíveis,
Oleamos a engrenagem da máquina.


A infernal máquina Universal,
Que nasceu infinitesimal,
Empolou exponencialmente,
E um dia implodirá em escuridão,
Em treva total e absoluta,
Anulando-se no zero,
Infinitamente vazio.

Lx, 10-6-2012
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http://www.lulu.com/shop/search.ep?type=&keyWords=paulo+gil&sitesearch=lulu.com&q=&x=8&y=9

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“ Poesia Eterna Parte I”
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A poesia fatalista e decadentista é um exemplo sublime da exaltação da morte em todo o seu esplendor, e desde sempre eu retiro satisfação pessoal deste saborear tétrico da vida.

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