Carol Ortiz

Carol Ortiz

18 setembro Campinas, SP
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FANTASIA NO SÍTIO

Foi representada na abertura da I Semana de Letras de São José do Rio Pardo, Brasil.


(No sítio do Pica Pau Amarelo...)
Visconde de Sabugosa: Boa noite, senhoras e senhores, estou aqui para...para...para...Ih, esqueci o que ia falar...Que                                        horror! 

(Visconde fica parado e pensativo. Entra Emília)

Emília: Olá, Visconde, como vai? Como está a família?
Visconde: Oh, bem, obrigado!...Eu tenho família?

(Emília faz cara de surpresa e olha de uma forma confusa para o público)

Visconde: Quem é você, afinal de contas?
Emília: Sou eu, a Emília! Visconde, o que está acontecendo? 
Visconde (a beira do desespero): Eu não sei...eu não sei nada! Eu não sei mais nada!!! (berra)

(Emília dirige-se à platéia indignada)

Emília: Gente, e agora? O Visconde não sabe mais nada! Ele esqueceu tudo! Bem, acho que tenho a solução. Vamos procuraro Tatu Sabe Tudo. Foi ele quem descobriu a pílula falante. Ele tem o livro mágico que fará o Visconde lembrar de de tudo.

(Emília começa a procurar pelo cenário)

Emília: Seu Tatu? Seu Tatu?

(entra o Tatu com um livro na mão e Visconde continua caminhando pelo palco, desorientado)

Tatu: Oi Emília, trouxe o livro que me pediu!
Emília: Como eu uso?
Tatu: É fácil! Basta ler...Ah, mas tem parte mais difícil. É meio fácil e meio difícil
Emília: Qual é a parte difícil?
Tatu: Você vai ter que encontrar no mínimo 20 pessoas, humanas, para ajudá-la a entrar no livro.
Emília: 20 humanos!? E o que faço depois?
Tatu: Você tem que fazer todos repetirem a frase milenar mágica.
Emília: E qual é?
Tatu? "No fundo, do fundo prpfundo, está a lembrança de todo esse mundo". 
Emília (repetindo em voz baixa): " No fundo, do fundo, profundo, está a lembrança de todo esse mundo". É fácil! Agora só falta encontrar os humanos.
Tatu: Mas não é só isso, não! Esses humanos terão que vê-la como líder. Eles terão que ficar em pé, dar 3 reboladas, 3 pulos e 3 balançadas de cabeça. Faça comigo!

(Os dois ficam no meio do palco e fazerm todos os movimentos)

Emília: Ah, ótimo! Acho que aprendi! Obrigada, Seu Tatu Sabe Tudo. Agora vou procurar esses humanos.

(Seu Tatu sai lentamente)
(Emília procura pelas pessoas)
(Emília para e, com cara de surpresa, aponta para alguém na platéia)

Emília: Ei, senhor! (aponta alguém na platéia) O senhor de blusa (fala a cor). O senhor é humano?

(Emília conversa e improvisa com a pessoa escolhida)
(Emília percebe que está cercada por humanos)
(Emília dirige-se à platéia)

Emília: Nossa, quanta gente! Pessoal, preciso da ajuda de vocês! O Visconde (aponta para o Visconde que continua andando desorientado pelo palco) perdeu todas as suas lembranças. O Tatu Sabe Tudo me deu esse livro para poder resgatá-las. Para isso, entretanto, preciso da ajuda de vocês. Preciso que todos repitam comigo bem alto a frase: "No fundo do fundo profundo está a lembrança do mundo". Depois vocês deve dar 3 reboladas, 3 pulinhos e 3 balançadas de cabeça. Pode ser? Então vamos lá. Vamos ensaiar primeiro.

(Emília ensaia com os presentes, improvisando diálogos).

Emília: Vamos lá, agora é para valer: "No fundo do fundo profundo está a lembrança do mundo"

(Todos fazem os gestos e quando o silêncio volta ao normal, ela abraça o Visconde, abre o livro e começa a ler)

Emília (lendo o livro): Houve um tempo em que o tempo se perdeu. Há muitos e muitos anos, conta um livro que os homens falavam a mesma língua. Todos se entendiam e a comunicação era perfeita. Os homens iam para qualquer lugar sem se preocuparem em ser entendidos. Dizem, porém, que alguma coisa aconteceu...

Visconde (interrompendo a leitura): ...ah, me lembrei! É a história de uma torre. Como é o nome? Pastel? Rapunzel? Papel?

Emília: Babel! É a torre de Babel!
Visconde: Os homens começaram a construir uma enorme torre com o objetivo de chegarem no céu. Mas, algo deu errado e cada um começou a falar seu próprio idioma. Interessante, desde sempre a Linguística fez-se necessária...
Emília: Foi aí que começamos a falar Português?
Visconde: Não, Emília, ainda não. Leia mais um pouco. Não consigo me lembrar.

Emília:"...com o orgulho do homem, dividiu a população em línguas: o Latim e o Grego..." Visconde, antes não existia escrita?
Visconde: Exato! As línguas não eram escritas como são hoje. Algumas até tinham alguns símbolos, mas não um alfabeto. Interessante, estou me lembrando. Continue...
Emília: "O Latim apareceu na Península Ibérica. Foi uma língua muito importante para a civilização contemporânea porque, por meio dela, outros idiomas foram originados."
Visconde: E o nosso Português está enraizado nessa língua!
Emília: Mas por que em Portugal se fala diferente, Visconde?

Visconde: Porqueno Brasil, apesar de ter sido colonizado pelos portugueses, houve uma mistura de idiomas. Tínhamos, aqui, várias tribos indígenas que falavam sua própria língua. Tivemos, também, os holandeses na Bahia, alemães no sul, os italianos no centro-oeste, enfim, somos uma mistura de idiomas. É, mais ou menos, o que ocorre na Inglaterra e Estados Unidos.

Emília: Ué, por que? Não falam inglês nesses dois países?

Visconde: Mais ou menos. Na Inglaterra o inglês é britânico, visto que esse país compõe a Grã Bretanha. Os ingleses tiveram influência dos povos nórdicos. Aquelas histórias de vickings que você estudava na escola aconteceram lá. Já os americanos tiveram influência dos ingleses, que por sua vez também tiveram suas sinfluências, das línguas indígenas que lá existiam, dos mexicanos, dos europeus em geral e, com isso, depois de toda essa salada, o resultado foi o sotaque que as pessoas têm hoje.

Emília: Ah, entendi!

Visconde: Leia mais um pouco.

Emília: "O importante não é o número de línguas que são faladas, mas sim o fato de que somos seres à procura de comunicação para a compreensão de nós mesmos.

(Emília fecha o livro)

Visconde: Interessante, agora me lembro de tudo. Me lembro até de Monteiro Lobato!
Emília: Mas Visconde, existe uma língua certa?
Visconde: Não, Emília. Cada idioma tem a sua própria história, sua cultura, suas marcas. Ninguém é melhor que ninguém. Julgar alguém por causa de sua língua seria o mesmo que julgar você inferior à Narizinho porque ela não é boneca. Como já dizia um poeta: "Olhe de novo: não existe branco, amarelo, negro. Somos todos arco-íris".

Emília: Que lindo! Vamos comer bolo na casa da Dona Benta?
Visconde: Vamos

(Os dois saem. Emília retorna sozinha, dá uma piscada e agradece)

Emília: Pessoal, obrigada pela ajuda. Agora que o Visconde já se lembrou de tudo, vou brincar com o Rabicó.

(Fecham as cortinas)


ANO: 2005



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