Carol Ortiz

Carol Ortiz

18 setembro Campinas, SP
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DOCES SONHOS DE UMA GAROTINHA

Ela dormiu como a muito tempo não fazia. Deitou-se levemente sobre as cobertas e acolheu-se num mundo só seu. Era tão bom ficar só e não precisar entender o mundo, sentir que tudo era só seu e que nada lhe faltava. Era uma vício.
        Fechou os olhos e sonhou. Como era bom, longe das gritarias e neuroses da vida, ver e sentir o que era carinho! Vínculos que jamais teve antes.
        Virou-se de lado. Estava entrando na zona proibida. Viu a realidade que nunca vira: pessoas lhe falavam coisas, um abraço apertado, uma imensidão de sentimentos bons preenchendo todo aquele vazio. Sentiu-se querida e superou seus traumas que antes ninguém dava atenção. São tão egoístas as pessoas! Tudo bem, continuou sonhando.
        Entregava-se, agora, às sensações. Via-se distante de tudo o que sempre foi. Todo aquele sentimento de que estava sendo a mais, de que estava atrapalhando, foi embora. Perdeu, por um instante, a mania de ferir-se. Perdeu o jeito de machucar-se.
        Andou, de novo, por essa terra mágica e encontrou uma criancinha: linda garotinha, sem traços dos antepassados, brincando calada, sufocada pela mentira. Ficou distante, observando. Então sentou e pensou "será que estava sendo injusta ao sentir tudo aquilo?" Então ficou com medo de ter ido além. Era, agora, uma traidora, uma louca, insana.
        Uma lágrima percorreu seu rosto. Calou-se, como era de costume. Tinha medo de magoar pessoas. Então, acordou e levantou-se.
        Tudo estava igual a antes: caos. Até quando iria continuar? Talvez até que a loucura ou egoísmo absoluto chegasse.
        Teria solução? ...Não, não pense besteiras, minha garotinha. Não perca o único vínculo concreto com a lucidez.


ANO: 1998
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