Monge na orla do mar

I
Com a santidade de quem se deixou ficar
sobre um chão de cal apagada,
olha a amplidão do espaço à sua frente
num cabo lançado sobre o mar.

Permanece hirto como osso temporal
depois que o tempo passou. Presciência a sua,
imóvel, neste fundo brenhoso da noite.
Pergaminho enrugado onde lesse os sinais,

o mar fumega frases obscuras para o céu.
As gaivotas ouvem-se gritando em roda,
indo, esmoleres do escuro e das horas.
Mas nem o oceano revolto nem o céu baço

espelham verdades que lhe sirvam, hoje,
com o seu rosto de ave nocturna perscrutando
sobre um manto de basalto que lhe pesa
à imposição do Seu dono e Senhor.

Enquanto a brisa lhe cristaliza as faces,
espera que nessa fenda escura do espaço
um astro apareça e brilhe. Apoia a cabeça na mão -
pudesse e desejava para o sono a eternidade.
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Prémios e Movimentos

PEN Clube 1992

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