Vago
Se divago em meio ao campo vago
Vago, mas ainda sim lotado
E por ele vago
Carregando cestos de palavras vagas
Derramando rios de poesias vagas
Murmurando trechos daquilo que nunca vão ouvir
Trechos vagos, claro
E da inércia na qual me fruo
Sinto que esse é tempo de poemas rasos
É o tempo da poesia vaga
E do vago me corre a vaga
A vaga da desesperança
E vendo as coisas que um dia disse
Percebo que do fruir ainda sou criança
Novo ainda na dança vaga
E que de novo, mesmo com tanta andança
Careço de toda forma
A forma que tenho é disforme e se deforma
Deforma, reforma, deforma
Volta sempre à prima forma
E no seguir da norma
Norma que não entendo,
É, pois, vago pensar
Me jogo então
Nas vagas do meio
Do campo vago em que vago
Do circuito fechado que me pus a cruzar
Digo não te preocupes
Que nada há com que se preocupar
Se te digo que me mato
Morri nas palavras
Se te digo que me espanco
Minhas úlceras são verbos
Se te digo que me xingo
Meus xingamentos são subjetivos
Se te digo que não me importo
Importei-me há muito
Se te digo que me corroo
Já nem existo mais
E se existo
Minha existência é vaga
Tal como minha poesia