simplexite

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1998-12-10 Brasil
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Alguns Poemas

O ciclo da árvore

É; talvez seja apenas coisa da minha cabeça. De forma alguma nego esta possibilidade já que minha imaginação me leva a lugares tão sombrios e divinos, na mesma escala e intensidade. Hoje coloco aqui a reflexão, e o reflexo do ciclo da árvore em nossas vidas.
Naquela estação, no meio de tanta gente, táxis, carros, ônibus e trem, se encontrava o lugar que inspirou essa história. Era um banco (havia dois), mas é apenas em um deles que me inspiro para este conto.
Os encontros nem sempre eram longos, pelo contrário, muitas das vezes sentávamos por minutos ali, outrora, sentávamos horas. A alternância de tempo era constante, mas uma coisa se mantinha: o tempo passara como um só. Os assuntos variavam de filosofia grega até paixões atuais. Havia dias que se estabelecia um monólogo de minha parte, onde todos escutavam o que tinha para dizer. Já foi recanto de choro, de sorrisos, de lástimas, até de xingamentos. Aquele banco não era fraco, já aguentou de tudo um pouco, até mesmo do mais pesado. Hoje entendo o porquê tivemos de terminar. Era apenas um banco.
Ele passou pelo último ano de graduação como um professor querido. E por ser tão ouvinte, tornara-se o maior sábio que conheço, pois sem dizer uma palavra sequer, ensinava a todos.
Em uma tarde de quinta-feira, encontrei-me com alguém especial no mesmo e me deparei com uma cena horrível: uma das árvores havia caído sobre o nosso precioso professor. Sentamos no outro (aquele do início da história), aquele sem relevância.
Na mesma tarde de quinta-feira, o relógio batia 18 horas. Jovens reluzentes dançavam em harmonia nas festividades de sua escola. A partir dali eu conseguia enxergar o início do fechamento deste ciclo. Como posso eu, alguém tão idealista, ficar triste com a felicidade dos outros? Para mim, ver exatamente o que eu vivi, sendo vivido por outros, me fez refletir naquilo que deixei de fazer. Após o término do festival, fomos ao lugar que me ouviria chorar novamente. Ao chegarmos lá me deparei com o banco. É; não tinha exatamente nada ali. A árvore caída fora tirada como um processo cirúrgico delicado, sem nenhuma folha no chão. Ali exclamei o aforismo, "este é o fim do meu velho ciclo". Entendi que seria a última vez que sentaria com aquele professor como aluno, que choraria como discípulo, que sorriria como amigo, gritaria como um namoro cruel e sentaria como apenas um banco. A caída da árvore e seu reerguer no mesmo dia, representava o fechamento e início de um novo ciclo. Hoje, posso escrever isso sem chorar, pois entendi seu significado.
Após tanta reflexão entendi realmente o que ali estava por nós. Não tínhamos apenas um professor, tínhamos dois. De tanto nos ouvir, a árvore juntou-se ao grupo sem ao menos ouvirmos a voz dela, mas de tanto se apegar a nós, ela simplesmente morreu na mesma época que nós. Hoje, não posso mais escrever isso sem chorar, pois entendi seu significado. A árvore talvez tenha nos ouvido mais do que o próprio banco, e nunca a notamos ali. Ela, mesmo nos escutando e estando por nós, nunca nem sequer olhamos para ela.
Indo para casa, após passar um longo tempo com meu recanto, encontra um vendedor de artesanatos na estação de metrô. Pergunto-lhe o significado de cada símbolo das pulseiras, até que ele me apresenta um. Aquele que me encantou e fez-se valer os quinze reais gastos. A pulseira que falo, é a da árvore da vida.

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