manoelserrao1234

manoelserrao1234
Nasceu a 19 Abril 1960 (São Luis - Maranhão)
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TORTUOSA [Manoel Serrão]



ToRtA. 
AsSimÉtRicA.

       I
          n
             c
                l
                   i
                      n
                         a
                             d
                                A...
        A culpA dEsconstrói A verdAde,
                            E constrói  A desculpA.
                            É O desconstruir-do-mais-que-perfeito!


Comentário: A “Tortuosa” dialética do exterior e do interior do Ser esquartejado por
© DE João Batista do Lago:



Comentário de João Batista do Lago [“João Batista do lago, maranhense, pode ser considerado, atualmente, um dos mais completos poetas e cronistas do Brasil, haja vista a consciência plural e significativa de sua intuição cultural, fato que o faz passear entre musgos históricos gregos e o modernismo clariciano, espargindo o pensamento poético alemão, americano ou inglês, sem esquecer das taças saboreantes dos vinhos que enebriaram o cismar dos poetas franceses como BAUDELAIRE (Charles Baudelaire), MALLARMÉ (Stéphane Mallarmé), FRANÇOIS COPÉE (François Édouard Joaquim Copée) e MUSSET (Louis Alfred de Musset) – o poeta do amor. Como eu, o Maranhão e o Brasil também, creio, se orgulham de João Batista do Lago, uma das maiores expressões literárias do mundo moderno. Fato que, realmente não deixa a desejar se comparado a nenhum dos franceses acima citados”. Marconi Caldas Poeta, escritor e advogado São Luís – Maranhão – Brasil 2007].

A inserção do poema, ou do poeta, num determinado campo literário é algo complicado, posto que, quando o Poeta produz o faz a partir da sua - e somente sua - cosmovisão, ou ainda, da sua mundanidade ou mundidade representacional, ou mais especificamente, do seu universo holístico. Contudo, por mais que não queiramos, a literatura exige que encaixemos o texto num determinado discurso. Apesar disso, ouso aqui não intentar, para esta belíssima obra de Manoel Serrão, uma Escola Literária para, assim, fixá-lo nela.

"Tortuosa" é um poema que traduz uma carga de significados excepcional. Mas não só isto: o poema traz, em si, ainda, o conteúdo de seus significantes (também!). Ao inferir este pensamento quero, desde logo, chamar a atenção para o campo teleológico, ou seja, do argumento, conhecimento ou explicação que relaciona um fato com sua causa final. 

E o que é que se relacionam neste poema? Ouso responder: a dialética dos universos "externo" e "interno", que se traduzem e re-traduzem na concretude de entes que se digladiam na extensividade da dialética do sim e do não, aqui entendidos como a construção e a descontrução do discurso do poema-de-si. 

É muito interessante, e salutar, perscrutar este poema mínimo porque, de cara, ele nos revela e desvela uma questão fundante: não é preciso um trem de palavras para se atingir o fato com sua causa final. Neste caso, por exemplo, Manoel Serrão não precisou mais que dezoito palavras para atingir, belíssimamente, a causa final: a tortuosidade assimétrica da “verdade”. 

E essa constatação se torna efetiva na mesma proporção em que o sujeito que fala no poema se internaliza tanto no espaço externo quanto no espaço interno, dialetizando a verdade pelo viés da culpabilidade.

E de posse da "culpa", uma característica da essencialidade da "verdade", produz-se o processo da construção e da desconstrução do Ser e do não-ser: não é à-toa que a palavra "inclinada" vem grafada verticalmente.

Ora, isso nos sugere uma tipologia de torre (seria a Torre de Babel?) construída e desconstruída assimetricamente, isto é, há uma relação de correspondência desse corpo, seja na forma, seja na grandeza, assim como na localização entre as partes existentes de um lado e do outro de determinada linha, plano ou eixo.

"O exterior e o interior formam uma dialética de esquartejamento, e a geometria evidente dessa dialética nos cega tão logo a introduzimos em âmbitos metafóricos. Ela tem a nitidez crucial da dialética do sim e do não, que tudo decide. Fazemos dela, sem o percebermos, uma base de imagens que comandam todos os pensamentos do positivo e do negativo" - (BACHELARD, Gaston, in A POÉTICA DO ESPAÇO, P. 215).

Porventura, não é de fato um esquartejamento visceral dessa verdade "inclinada" se movimentando de um lado para o outro como se fosse um pêndulo sustentado por um fio metafórico ou a representação pessoal da mente do sujeito que fala no poema? É claro que sim!

Mas, quem é que está sendo esquartejado, construído e desconstruído, na verticalidade “inclinada”? É o “O” do último verso.

Eis, pois, aqui e agora, o Ser da construção e da desconstrução. E quem é esse “O”? É exatamente o Homem (homem/mulher), que se auto constrói e se auto desconstrói, numa tentativa desesperada de se fazer sentido, de se dar sentido como o Ser de significados e significantes.
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Curitiba – Paraná
11/fev./2009