zaramago

1985-10-02 Pombal
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Alguns Poemas

Sarjeta Mental

Putrefacções mentais desapareçam daqui!

Ostracismo que desejo cometer a essas

Almas a precisarem de limpeza,

Sem meios de evasão ideológica...

Como se tudo o que nos incomoda tivesse um

Certificado de aderência a nós próprios.

Como uma bola que se enrola cada vez mais e nos acaba por

Trucidar de incómodo e debilidade.

Estrangulam a vertente mais pura da mente.

Envenenam tudo o que as rodeia,

Provocando acessos de loucura incontrolada.

Bocados de visco peçonhento que se colam

A cada arco-íris mental.

Chove dentro de mim e não vejo o sol.

Há somente uma nuvem cinzenta que me esconde

Todas as outras cores.

A minha sensibilidade já não existe e,

Sentimentos, já não tenho.

Agora sou o verdadeiro produto dum pesadelo

Que não pode ter fim, enquanto

Cada um de nós ouvir o que os outros têm para dizer!

Há quanto tempo não sonho com claves de sol.

Há quanto tempo me esqueci o que são as palavras.

Vivo de imagens mórbidas e obscuras

De lugares que só existem em mim.

Dentro de mim.

Procuro na vastidão do meu ser um meio de fugir

À decantação que estou a sofrer.

Um polígono não concreto.

Uma ilusão limitante.

Um destino sem noção de si.

Atacam-me, decompõem-me.

Resumem-me a um pouco de qualquer coisa,

Inerte e inexpressiva. Algo.

A aurora só traz consigo menos tempo

Para fazer o que já está feito.

Construir o já construído.

O infinito existe mas não é o fim!

O início não existe. No entanto tudo começa.

Em cada um há um esgoto asfixiante que nos segrega

Um infeliz muco, e asqueroso.

Que nos impede de ver...

Liberta-te das coisas mas prende-te a ti... (e a mim).

É mais do que apatia psicomental.

A rede de vasos que te lubrifica perece.

Ser mais do que nada é ser um nada ainda maior

Que te suga os humores e te desumaniza.

Que absorve a existência de um sorvo.

Espalhando inutilidade por toda a parte!

Buscando e reflectindo nas trevas um rasto

De abstracção indefinida.

Necessito de uma limpeza visceral.

Algo que me impeça de espalhar este veneno

Por cada um que não se perceba.

Ilogicamente sublimo a minha alma de brumas sem espírito.

Afasto de mim essa aurora que insiste em persistir.

Uma aurora que já não quero ver.

Uma aurora que já nada significa...

A semente débil e raquítica não dará lugar a nada

A não ser a uma digestão atribulada.

O intelecto afasta-se vorazmente da verdade.

Sugando-a para longe de si, para longe de tudo.

Danificando a vertente mais lógica do equilíbrio,

Provocando atrozes acessos de fúria desenfreada

Contra aquilo que se limita a não significar.

Gela-me o único neurónio que não se coíbe de pensar.

Aquele que ainda percebe a diferença entre o Bem

E o Mal. Aquele que, sempre curioso, distingue

Na nossa cabeça, os excessos.

Não o censuro por ter suprimido todos os que

O rodeavam, mas algo o impediu de aguentar

Tais perversidades cometidas por quaisquer outros seus

Semelhantes. Compaixão?

Não conheço semelhante vocábulo. Distante de mim,

Distante de tudo. Já nada significa.

Uma leve aragem circula lá fora (sítio a que não quero

Voltar), leve, fria, rude.

Uma folha de cores indefinidas esvoaça lugubremente

Sem saber bem para onde ir, porque tudo deixou de

Fazer sentido. Porque dentro de mim já não há

Espaço para indecisões. Actos irreflectidos.

A indolência apoderou-se do meu organismo. O meu

Organismo apoderou-se da minha mente, enclausurando-a nesse

Vago e obscuro beco.

Criei uma rede de vicissitudes abstractas e irreais

Que não percebo apesar me pertencerem.

Como sei que tudo não passa de um exacerbação mental

Que me empurrou para um canto e me deixou entre a

Espada e a parede? Como sei que não estou a ser posto à

Prova por mim próprio no sentido de decidir se mereço

Ou não a hipótese que me é concedida de existir?

Sendo assim tenho que mudar a minha conduta

Para que tudo ganhe um sentido real e definido!

Mas... E os outros? Não é um copo de água que faz a diferença

No vasto e ocioso oceano, mas pode fazer a diferença

A alguém perdido no deserto, quente, sem água.

Os actos que tomamos por vezes,

Não dependem só da capacidade de raciocinar

Logicamente.

Haverá então uma ligação, subtilíssima,

Entre o exterior e o nosso íntimo!

Será necessário fortalecer as ligações daqueles

Que parecem ter perdido o rumo?...

...Ou fui eu que perdi?

Ensinar a pensar? Não!!

Ensinar a saber pensar (não que eu saiba)!

É possível então começar a ver essas impurezas

Ostracídicas perecerem dentro das cabeças.

É possível então seguir em frente, ver a água ganhar cor.

Ver o que nos rodeia ganhar vida.

Porque tudo o que nos havia parecido mórbido e doentio

Deixou de o ser.

Essas imagens, concepção única da nossa mente,

Deram lugar a um improviso em tudo arrojado,

Mas que não deixa de ser uma aproximação muito mais

Perspicaz da realidade.

E tudo ganha forma. E tudo regressa.

Tal como a necessidade de nos evadir-mos deste mundo.

Tão belo. Tão idílico. Tão bucólico.

E de novo sinto vontade de criar monstros na minha

Cabeça.


De novo deixo regressar os vícios mundanos


Que servem somente para me desgastar.

Para fortalecer os meus pontos fracos.

E sou novamente invadido por putrefacções mentais

Às quais já não resisto como o fizera

Algures durante a minha existência.

Estarei então demasiado fraco para lutar contra

Este ciclo, vicioso sem dúvida, ao qual me converto

Como se da verdade se tratasse.

Cataclismo interior. Inexpressividade.

Surjo então inerte no chão de nenhures.

Em dívida para comigo próprio, tão somente porque

Não fui capaz de aguentar a pressão que exerci sobre mim mesmo.

E acabo lugubremente sentado contra uma

Parede tão mórbida quanto eu, libertando

Um visco da minha boca, que significa apenas

Que já não me é concedida mais nenhuma

Hipótese.

Mas vivi!

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