Luis Rodrigues

Luis Rodrigues

Uma vaca à procura do universo

19 agosto Ponta Delgada
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Pequenas coisas que me vão passando pela cabeça

No outro dia uma educadora de infância parou o carro no meio da ponte, 
saiu, chegou-se à amurada e saltou. Segundo parece causou 
engarrafamentos monstros. Não é preciso muito para atrapalhar o 
trânsito. Basta um carro parado.

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Morri quinta-feira ao fim da tarde
a autópsia foi clara 
causa da morte: saudades tuas

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Renasci junto a um oceano branco 
levado por dois braços de mar salgado 

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Não, não quero ser livre 
quero ser cativo de amores 
preso a paixões e tormentas tamanhas 
Não, não quero ter ideias 
só a paz de ver o mar 
e as coisas mudas a sorrir para mim 

Não, não quero ser contente 
quero a raiva de todo o mal 

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A vida é uma coisa engraçada que rola na minha mão. 
Das vezes que a consigo ver de fora é giro olhar para as coisas. E tudo 
parece estranhamente igual. O que é que eu tenho a ver com tudo isto? As
pessoas movem-se de um lado para outro, fazem coisas, mexem-se como se 
movidas por uma necessidade necessária. Para que o mundo não pare e 
continue a girar como antes. Quando a única finalidade que faz sentido é
sermos felizes. Quantas destas necessidades necessárias nos fazem felizes? 
Fecho os olhos. Devo representar a farsa de uma máquina, 
não porque acredite no que faz a máquina, mas porque a rosca não pode 
viver sem um parafuso. 

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Era interessante saber a largura dos dias 
e sabermos com antecedência se cabemos neles 
para não ficarmos com os pés de fora 

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Preciso de uma droga que me reduza a pena. A vida é-me demasiado grande. E os meus pés tão pequenos. Os olhos vazios. 
Ou eu me levantei ou o mundo encolheu. Estou a bater com a cabeça no tecto do mundo. 

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Sou normal, 
na maioria que sou em mim 
estou perfeitamente na média 

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Pássaros surdos loucos 
De amor encantados 

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Alguém escreveu sobre a mágica tarefa de viver, a mim ocorre a vã tarefa de viver 

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O corpo estava acompanhado. Mas ninguém se sente só com o corpo. 

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Alguém me perguntava com admiração. A beleza agride-te. 
Sim. A beleza deve ser violenta. 

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Pensamentos dum ouvido ao redor duma laranjeira 

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Hóstia babada de ranho 
Cona ungida de pano 

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Aos céus sobe a espada que nos mata 
e ficamos a vê-la subir ao alto 
tão do chão 
tão lentamente 

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O erasmo era feio e tinha mau gosto para chapéus.

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ademir domingos zanotelli
Meu Caro e fervoroso amigo meu. Poeta. texto muito é muito grandioso - principalmente por ser de um suicídio ... de uma educadora ... e como você descreve , aos céus sobe a espada que nos matam. Mas também tem uma claridade : a beleza é fundamental para toda criatura. assim dizem todos o poetas. abraços fraternais de seu sempre amigo.
19/outubro/2025

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