Junqueira Freire

Junqueira Freire
Luís José Junqueira Freire foi um poeta brasileiro. Sua obra lírica divide-se em religiosa, amorosa, filosófica, popular e alguma poesia social, de tom declamatório, precursora de Castro Alves. Participou da segunda geração romântica.
Romantismo
Nasceu a 31 Dezembro 1832 (Salvador, Bahia, Brasil)
Morreu em 24 Junho 1855 (Salvador, Bahia, Brasil)
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O Jesuíta

Era longe — bem longe: e eu vim primeiro
Cindindo as ondas desse mar profundo.
E por amor da Cruz vaguei sozinho
Nas ínvias matas desse novo mundo.

O tamoio gentil ervava as setas,
Quando pelos vergéis, tão seus, me via:
E co'os olhos fosfóricos ardendo
A taquara fatal a mim tendia.

E tendia a taquara, — mas ao ver-me
Quão sem temor e quão inerme estava,
Trocando em doce o seu olhar fogoso,
O arco e a seta pelo chão rojava.

De mim as tribos bárbaras, indômitas,
De mim o verbo do evangelho ouviram.
E ergui a cruz nos píncaros dos montes,
E após o verbo os povos me seguiram!

Eu disse às tribos: — Todas vós sois ricas,
— Que o ouro e a prata o solo vosso esmalta.
Sois ricas tribos, — mas não sois felizes,
Porque uma crença de um só Deus vos falta.

E eu dei às tribos uma crença doce,
Qual uma chuva de maná celeste:
E as tribos foram desde então felizes,
Qual flor pomposa que os jardins reveste.

E quando os reis da terra se esqueceram
Das tribos dadas a seu cetro forte,
Eu levantei-me, e disse aos reis da terra,
— O povo geme: Transmudai-lhe a sorte. —

Eternos templos eu ergui sozinho,
Eternos como a duração da terra.
E sozinho sagrei altares tantos
Ao Deus que aos ímpios c'o trovão aterra.

Eu dei às tribos uma crença doce,
Eu levantei alcáceres eternos.
Deram-me os homens proscrição e morte,
Deram-me em prêmio as fezes dos infernos.


Publicado no livro Inspirações do Claustro (1855).

In: GRANDES poetas românticos do Brasil. Pref. e notas biogr. Antônio Soares Amora. Introd. Frederico José da Silva Ramos. São Paulo: LEP, 1959. v.2, p.1