Oh! lua morta de minha vida,
Os sonhos meus
Em vão te buscam, andas perdida
E eu ando em busca dos rastos teus...
Vago sem crenças, vagas sem norte
Cheia de brumas e enegrecida,
Ah! se morrestes p'ra minha vida!
Vive, consolo de minha morte!
Baixa, portanto, coração ermo
De lua fria
À plaga triste, plaga sombria
Dessa dor lenta que não tem termo.
Tu que tombaste no caos extremo
Da Noite imensa do meu Passado
Sabes, da angústia do torturado...
Ah! tu bem sabes porque é que eu gemo!
Instilo mágoas saudoso, e enquanto
Planto saudades n'um campo morto,
Ninguém ao menos dá-me um conforto,
Um só ao menos! E no entretanto
Ninguém me chora, ah! se eu tombar
Cedo na lida...
Oh! lua fria vem me chorar
Oh! lua morta de minha vida!
Paraíba, 1902
O Comércio, 21-III-1902
Publicado no livro Eu: poesias completas (1963). Poema integrante da série Poemas Esquecidos.
In: REIS, Zenir Campos. Augusto dos Anjos: poesia e prosa. São Paulo: Ática, 1977. p.212-213. (Ensaios, 32