De manhã quando acordo em Maputo o almoço é uma esperança. Mãe tenho fome marido tenho bicha e mil malárias me disputando a vontade.
De manhã quando acordo em Maputo o jantar é uma incerteza o serviço uma militância política do outro lado do sono incompleto e o chapa-cem um regulado impiedoso no quatro barra oitenta sem contra-argumento.
De manhã quando acordo em Maputo o vizinho já candongou o que me roubou a estomatologia não tem anestesia a chuva abriu dialecticamente mais um buraco na estrada e o conselho executivo continua desdentado de iniciativas.
De manhã quando acordo em Maputo Porra para a vizinha que estoirou a torneira do rés-do-chão Porra para o guarda que não ligou a bomba quando veio a água Porra para as cem gramas de carne apodrecidos no silêncio desenergetico de Komatipoort mais as ó eme sede de efes e o soldado que ainda não ouviu dizer que os passeios são lugares públicos e os fulanizados exploradores de outrora que se preparam para cuspir na tua campa, ó Mataca, as ordens de um Mouzinho boer.
De manhã quando me percorro em Maputo enfio ominosamente o cérebro numa competentissima paciência desembainho felinamente mais uma mentira diplomática e aguardo a lucidez companheira me leia nas acácias em sangue nos jacarandas estalando sob a sola epidérmica do povo que este é ainda o eco estridente do Chai até que Botha seja farmeiro e Mandela Presidente.
Então, com a raiva intacta resgatada à dor danço no coração um xigubo guerreiro e clandestinamente soletro a utopia invicta.
À noite quando me deito em Maputo não preciso de rezar. Já sou herói.