Levanta-te e caminha, hesitante palavra
sobre a aresta do mês onde até mesmo Deus
esquece e a crua luz sensivelmente lavra
através de caidos sucessivos véus
Sinal equivalente ao quente cais que canto
aqui na orla da manhã so prometida
a quem matou a morte e desconhece quanto
à morte se devia a ciência da vida
Já tudo o que se passou parece imaginado
e Ana Karenina tem no olhar ausente
a estrada que se perde a cada passo andando
Ó palavra impossivél cuja vizinhança
a outra, útil ou portátil, nao consente,
abre o poema, símil da lábil criança...
Ruy Belo | "Obra Poética de Ruy Belo" - Vol. 1, pág. 97 | Editorial Presença Lda., 1984