Ai daquelas altivas marquesas nas páginas da história reclinadas Nunca cruzei na rua os olhos com os vossos à superfície do tempo Quem hoje isolará dos dias o vosso sorriso?
Não são vossas as mãos que abrem as janelas e deixam cair pássaros na rua dos panos que empregais para limpar o pó Não repetis o milenário gesto de vir pela manhã deixar o lixo à porta Vós que abríeis antes os lençóis da aurora como as tendas de salomão erguidas no planalto da nossa admiração vejo-vos em tardes rubras brilhar sobre um altivo mar de esquecimento Ai que foi feito de todas essas grandes marquesas?
Ruy Belo | "Obra Poética de Ruy Belo" - Vol. 1, págs. 51 e 52 | Editorial Presença Lda., 1984