entrei no teu apartamento, aquele
ambiente sombrio
cujos móveis herdaram a poeira, solitários
não saía água das torneiras, a luz estava
cortada
e as janelas imensas não davam pra nada
entrei no teu apartamento, aquele
pedaço tão frio
cujos restos de pizza vagavam no assoalho
cujas cortinas do quarto não tinham
mais cor
e o banheiro jazia silencioso no corredor
entrei no teu apartamento, aquele buraco
vazio
onde uma cama restara sem colcha
ou lençol
onde um tapete esfiapado dormia sob
o chão
e o espelho atrás da porta refletia
a escuridão
entrei no teu apartamento, aquele espaço
servil
onde fios desencapados pendiam do teto
a umidade escorria e alagava a parede
e a memória, cansada, balançava na rede